Cerca de 11 milhões de substâncias químicas são capazes de desequilibrar o sistema endócrino de um organismo saudável, deixando sequelas, muitas vezes irreversíveis, como por exemplo, a infertilidade.
Entre essa “população” de desreguladores endócrinos, uma tem sido a vedete das investigações científicas em animais, em vários países. Trata-se de uma substância tóxica presente há mais de 100 anos na vida das pessoas de vários cantos do planeta e hoje faz parte do modo de vida da sociedade atual.
“O Bisfenol-A é encontrado no ar que respiramos, na água que ingerimos, e nos alimentos que consumimos, pois ele se desprende dos materiais que estão acondicionados em embalagens desenvolvidas à base de policarbonato(plástico), nos enlatados revestidos de Bisfenol-A para evitar ferrugem, no momento de lavar um utensílio com a bucha da pia, além de poder ser encontrado na salivação devido o contato com as resinas dentárias, feitas à base dessa substância. Sem contar com o contato por meio de outras formas de consumo.
Esse desregulador tem sido matéria de pesquisas, no Brasil ainda embrionárias, mas avançandas. Por isso, estamos atentos ao movimento no mundo que regulamenta a retirada dessa substância das embalagens. Várias indústrias já estão retirando-a das embalagens dos produtos.”, afirma Dra. Elaine Frade Costa, endocrinologista da SBEM-SP(Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo).
No Brasil, a discussão sobre o tema é embrionária por isso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo – SBEM-SP criou a Campanha Contra os Desreguladores Endócrinos, com slogan ”Diga não ao bisfenol-A, a vida não tem plano B” para fomentar a sociedade com informações com objetivo de prevenção. Como primeira ação realizou o Fórum SBEM-SP sobre Desreguladores Endócrinos Bioquímica, Bioética, Clínica e Cidadania na Sede do CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).
Para entender melhor sobre a complexidade em especial da ação do Bisfenol-A a reportagem do Blog ouviu uma das endocrinologistas integrantes do GTDE (Grupo de Trabalho dos Desreguladores Endócrinos da SBEM-SP), Dra. Elaine Frade Costa, para entender o porque essa substância é tão nociva à saúde.
Blog – Como o desregulador endócrino, Bisfenol-A, modifica o metabolismo?
Elaine – O Bisfenol-A, em específico, funciona como um hormônio, o estrogênio e, ao entrar na corrente sanguínea, age nos tecidos, provocando alterações. Essa substância tem similaridade com o hormônio feminino e pode exercer sua função, determinando puberdade precoce, câncer de mama e infertilidade. Em animais, o BPA também causou diabetes, obesidade, alterações no comportamento, hiperatividade , de acordo com pesquisas realizadas por diversas universidades no mundo.
Blog – De que forma acontece o contato com o Bisfenol-A?
Elaine – O contato acontece de várias formas, dentre elas, pela ingestão de alimentos e pelo contato com a pele. Isso acontece porque o Bisfenol-A desprende-se facilmente passando de uma embalagem, por exemplo, para um produto alimentício.
Blog – Existe alguma regulamentação, um limite de migração de Bisfenol-A das embalagens para os alimentos ?
Elaine – A ANVISA determina que a quantidade tolerada é de 0,6 mg/kg de alimento, ou seja, o alimento pode conter até 0,6 mg de BPA por kilo. De acordo com os especialistas, ingerimos cerca de 10 microgramas de BPA por dia. Mas se consumirmos essa quantidade em cada alimento, imagine quanto não consumimos se a maioria dos produtos possui essa substância.
Blog – Quais as consequências?
Elaine – Segundo estudos realizados fora do país em animais, a presença de Bisfenol-A foi associada a uma série de doenças, dentre elas: endometriose (doença que causa infertilidade), Câncer de mama e de próstata, déficit de atenção, de memória visual e motor, diabetes, diminuição da qualidade de esperma em adultos, fibromas uterinos, gestação ectópica, hiperatividade , etc.
Blog – Como evitar a contaminação?
Elaine – A mudança de hábito é fundamental para diminuir a presença de Bisfenol-A no organismo. À princípio, evitar embalagens alimentícias à base de plástico (policarbonato) e enlatados contendo o símbolo triângulo com os números 3 e 7. É preciso reforçar também que o plástico libera mais Bisfenol-A quando aquecido ou congelado. Ou seja, apresenta maior potencial de contaminação.
Blog – Quais são as outras ações que integram essa campanha?
Elaine – A SBEM-SP busca estreitar o relacionamento com o governo para impulsionar mudanças no consumo dessa substância na sociedade. Precisamos de uma regulamentação do consumo do Bisfenol-A, a fim de promover mudanças como estão fazendo outros países. Além disso, queremos impulsionar políticas de educação e gestão ambiental. Porém, nosso trabalho é árduo, até que se consiga modificar isso. Nosso segundo passo é investir em pesquisas para podermos dosar, no sangue, o Bisfenol-A e relacioná-lo com doenças. Por meio de dados mais concretos teremos como provar e investir para que se regularize a dose mais segura para o consumo ou simplesmente conseguir retirá-lo do mercado como fizeram outros países. Nesse caso, a indústria terá que substituir a substância e encontrar alternativas. Hoje, não existe legislação e, portanto, a maioria das embalagens não reforçam essa informação. É preciso esclarecer que, embora seja difícil comprovar a relação direta entre BPA e doenças em seres humanos pela impossibilidade de experimentação, os resultados em animais e as observações populacionais sugerem fortemente a existência de efeitos indesejáveis sobre o sistema endócrino. Desta forma, a substância deve ser retirada obedecendo-se o principio da precaução, até que sua inocuidade seja comprovada. É um direito previsto no Código de Defesa do Consumidor.
Fonte: http://sbemsp.org.br/bpa/?p=490
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Bisfenol-A como disruptor endócrino
Postado por
Dr. Frederico Lobo
às
13:57
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