A Associação Brasileira de Nutrologia lançou no final de setembro, durante o XVIII Congresso Brasileiro de Nutrologia, um consenso para padronizar as recomendações em relação ao consumo e à suplementação de DHA durante a gestação, lactação e infância. Os autores, um grupo de especialistas que vêm estudando o impacto de DHA ao longo dos últimos anos, apresentaram estudos e dados relevantes que norteiam a importância da ingestão deste nutriente no dia a dia das gestantes e das crianças.
O DHA (ácido docosahexaenoico) é o principal tipo de ômega-3 e traz benefícios para a saúde ao longo de toda a vida, que vão desde o desenvolvimento das estruturas do cérebro e da retina, a partir da gestação, até a prevenção do declínio cognitivo na fase adulta. Este nutriente pode ser obtido por meio da ingestão de peixes de águas profundas ou até mesmo por meio de suplementos. “Nossa intenção com este consenso, é mostrar a importância do consumo do DHA, que no Brasil, é extremamente baixo. Também queremos reforçar o impacto positivo que este nutriente tem durante todas as fases da vida.”, esclarece o Prof. Dr. Carlos Alberto Nogueira de Almeida – Coordenador do Consenso e Diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da ABRAN.
O Consenso apontou os benefícios do consumo de DHA em três diferentes momentos da vida: Gestação, lactação e infância. Para cada uma dessas fases, foram reunidas as mais recentes evidências com a opinião dos médicos, com o objetivo de apoiar a classe médica e de nutricionistas na hora de recomendar o consumo do nutriente. “Há alguns anos, pouco se sabia a respeito dos benefícios dos ômegas-3 para a saúde humana. Desta forma, reunimos as últimas descobertas em um grande material para mostrar aos especialistas o quão importante pode ser o consumo do DHA”, pontua o doutor Prof. Dr. Mario Cicero Falcão – Professor Colaborador da Disciplina de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP.
DHA e gestação
A dieta materna é extremamente importante para o desenvolvimento cognitivo dos bebês, uma vez que é a única fonte de ácidos graxos, responsáveis pela formação do cérebro e dos olhos. “O acúmulo desta gordura se dá principalmente no último trimestre da gravidez, e, portanto, durante esta fase, as futuras mamães devem ficar ainda mais atentas à alimentação”, relata o Dr. Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da ABRAN.
O consumo de DHA neste período é essencial na formação de todas as membranas celulares do sistema nervoso central, ajuda a prolongar gestações de alto risco, aumentar o peso do recém-nascido, comprimento e circunferência da cabeça ao nascimento, além de zelar da acuidade visual, coordenação mãos-olhos, atenção, resolução de problemas e processamento de informações[1].
Para a ingestão deste nutriente, o consenso recomenda uma suplementação de 200 mg por dia, independentemente se a fonte for por meio de peixes ou os suplementos de DHA. Existe também a preocupação do uso de peixes de maneira criteriosa, uma vez que existem riscos de contaminação com metais pesados, e também a possibilidade dos animais que foram criados em cativeiro apresentarem um baixo teor de DHA.
DHA durante a lactação e nos dois primeiros anos de vida
O cérebro tem seu crescimento extremamente acelerado na vida fetal e também nos primeiros anos de vida. O consenso aponta que existe uma forte correlação entre nutrição adequada e desenvolvimento cognitivo e visual nas crianças. Além disso, revela que o DHA junto com o ácido araquidônico, são os principais componentes lipídicos dos tecidos cerebrais e fundamentais para o desenvolvimento cerebral e visual dos pequenos[2].
O leite materno por muitos meses é o único alimento que a criança recebe, portanto é importante que haja uma boa suplementação da mãe para que o DHA seja passado para o filho. Para os lactentes menores de seis meses que não recebem o aleitamento materno, é recomendado que as fórmulas infantis prescritas contenham de 0.2 a 0.5% de seu total de lipídios sob a forma de DHA.
DHA na infância e desenvolvimento neurológico
Sabe-se que a fase entre o nascimento e o final do segundo ano de vida é considerada como a principal para o crescimento do cérebro. No entanto, deve-se considerar que muitas áreas continuam se desenvolvendo ao longo da infância ou ainda até o final da adolescência, como é o caso dos lobos frontais[3].
Os lobos frontais são responsáveis pela capacidade de compreender e analisar situações complexas, além de estabelecer quais as alternativas de decisão, como escolha e implementação das mais adequadas. Os lobos frontais têm alta concentração de ácidos graxos de cadeia longa, em particular o DHA, que é essencial para o desenvolvimento destas regiões. O nutriente contribui com 15% do total de ácidos graxos no córtex frontal humano[4].
Nesta fase, também é relevante considerar que o DHA é importante para a capacitação e o metabolismo da glicose e alguns de seus metabólitos bioativos protegem tecidos do estresse oxidativo[5]. Além disso, também tem papel em outras áreas como o desenvolvimento ósseo.
Quem são os autores/especialistas?
Prof. Dr. Carlos Alberto Nogueira de Almeida – Coordenador do Consenso
Doutor em Pediatria pela USP. Professor Titular da Universidade de Ribeirão Preto. Diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da ABRAN.
Prof. Dr. Ribas Durval Filho
Doutor pela FAMERP. Professor da FAMECA. Presidente da ABRAN.
Prof. Dr. Mario Cicero Falcão
Doutor em Pediatria pela USP. Professor Colaborador da Disciplina de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Médico Encarregado da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatal do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Profa. Dr. Elza Daniel de Mello
Doutora pela UFRGS, Professora Associada da Faculdade de Medicina da UFRGS, Chefe do Serviço de Nutrologia e Coordenadora da Comissão de Suporte Nutricional do HCPA. Membro dos departamentos científicos de Nutrologia da SBP e de Nutrologia Pediátrica da ABRAN.
Prof. Dr. Paulo Henrique Ferreira Bertolucci
Doutor em Neurologia pela UNIFESP. Professor Adjunto Livre Docente de Neurologia da UNIFESP
Para acessar o consenso na íntegra: http://abran.org.br/wp/wp-content/uploads/2014/10/2014-Consenso-DHA.pdf
terça-feira, 31 de março de 2015
Primeiro consenso aponta benefícios do DHA durante gestação, lactação e infância
Postado por
Dr. Frederico Lobo
às
19:43
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