O Radioatividade desta terça-feira (12) convidou dois especialistas para nos ajudar com os motivos de a soja estar dando o que falar. O médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Dr. Durval Ribas Filho e a alergista, Dra. Ana Paula Castro, deram seus depoimentos. A soja é rica em chamadas isoflavonas, substâncias com estrutura química muito parecida a dos estrógenos, hormônios femininos. Elas acabariam sendo reconhecidas pelo organismo justamente como estrógenos e a ação desencadeada seria a mesma.
Entre as várias pesquisas já publicadas, a mais recente é uma revisão de estudos feita pela revista “Critical Reviews In Food Science”, que afirma que a ingestão de hormônios de origem vegetal podem prejudicar o sistema endócrino principalmente em bebês e crianças.
“A verdade é que até o momento os estudos não são consistentes”, afirma o nutrólogo. “A discussão realmente é importante, mas é sempre bom lembrar que ainda não existem estudos científicos que mostram diretamente essa relação”.
O médico lembra que existe uma mimetização; uma imitação das isoflavonas em relação aos hormônios femininos e destaca o uso das proteínas da soja para tratamentos de menopausa, melhora de cognição e redução de chances de alguns tipos de câncer e destaca: “o suco de soja em hipótese alguma estaria substituindo o leite das crianças”, apenas em casos de necessidade.
“É sempre bom lembrar que, para o suco de soja causar problemas, teríamos que ingerir mais de 3L do leite/suco de soja diariamente”, esclareceu Dr. Durval Ribas Filho.
Para a Dra. Ana Paula Castro, é importante diferenciar intolerância à lactose de alergia à proteína do leite de vaca e, a partir daí, saber se é necessário substituir o leite pelo suco de soja, principalmente na alimentação das crianças.
Atenção mamães, “se vocês têm filho com alergia à proteína do leite de vaca e a criança tem menos de 6 meses de idade e não pode receber aleitamento materno, ela não pode receber fórmula de soja. Se tiver acima de 6 meses sim, pode. Mas estamos falando de fórmula. Os suquinhos não são indicados para crianças com menos de 1 ano de idade”, destaca a alergista.
A verdade é que, no final, o melhor mesmo é fazer como tudo na vida: consumir, mas com moderação.
Fonte: http://blog.jovempan.uol.com.br/radioatividade/2016/01/12/suco-de-soja-e-um-problema-para-as-criancas/
Minhas considerações
Moderação. Há 5 mil anos os asiáticos utilizam as formas fermentadas sem problemas. Não há estudos epidemiológicos mostrando maior prevalência de puberdade precoce ou ginecomastia em asiáticos. Se lá, é o lugar do mundo onde mais consomem soja, seria esperado que lá também tivesse uma prevalência maior dessas doenças. A mesma coisa vale para veganos de todo mundo. A incidência de puberdade precoce em veganos é baixa.
Abaixo um texto do professor Dr. Ary Lopes Cardoso publicado no site da Nestle Nutrition
Embora o melhor alimento para o lactente seja o leite materno, ainda hoje as fórmulas infantis de proteína isolada de soja (FIPIS) continuam sendo muito utilizadas para alimentá-los em diversas situações clínicas, como alguns casos de alergia à (às) proteína (s) do leite de vaca, diarreia pós-infecciosa, intolerância à lactose, galactosemia e para os vegan, como substituto do leite materno.
O grão de soja tem em média uma composição bastante interessante – 30% de proteínas de alto valor biológico, 20% de lipídios em sua maior parte insaturados, 30% de carboidratos, e ainda vitaminas e minerais além de compostos bioativos, com destaque para as isoflavonas.
A soja é considerada um alimento funcional, ou seja, cujo consumo é seguro, nutricionalmente adequado para compor uma alimentação saudável e balanceada, proporcionando diversos benefícios à saúde.
Tem influência positiva no metabolismo lipídico e glicídico auxiliando na saúde cardiovascular, efeitos sobre o gerenciamento de peso, manutenção da massa óssea, ações sobre a cognição e ainda potenciais efeitos anticancerígenos. As recomendações e limites de segurança já são estabelecidos – 15 g de proteína de soja / dia para crianças saudáveis com mais de seis meses de idade.
Desde os anos 80 a indústria conseguiu aprimorar a composição dessas fórmulas. O surgimento das FIPIS permitiu que esses produtos passassem a respeitar as recomendações do Codex Alimentarius. Essas formulações ganharam então a chancela de serem nutricionalmente adequadas e seguras para o lactente.
As controvérsias ao seu uso, no entanto, não deixaram de existir. Alguns comentários a respeito das indicações e das eventuais restrições merecem ser feitos.
Muito recentemente tanto a Sociedade Europeia de Pediatria (ESPGHAN) como a Academia Americana de Pediatria (AAP) publicaram seus consensos a respeito do uso das FIPIS em lactentes.
Esses órgãos concordam que as FIPIS conseguem fornecer nutrição adequada para que o lactente tenha desenvolvimento normal, embora não sejam mais vantajosas que as fórmulas infantis à base de leite de vaca quando existe impossibilidade de receber o leite materno. Também concordam que as FIPIS não têm papel na prevenção de cólicas, regurgitações, e em algumas situações de alergias.
Em relação ao uso das FIPIS no manejo da gastroenterocolite aguda, os consensos vêm colocando em dúvida a vantagem do uso dessas fórmulas, preconizando nos casos mais graves as fórmulas infantis extensamente hidrolisadas ou as elementares.
Não é a experiência que temos nos muitos anos de uso das FIPIS manejando a nutrição em crianças com diarreia aguda ou persistente. Apenas um pequeno número de pacientes não tolera essas fórmulas infantis. São nutricionalmente adequadas e apresentam custo acessível, atendendo às características da população brasileira.
Vale ressaltar que os consensos médicos são apenas instrumentos de informação e não tutelares. O pequeno paciente merece um tratamento individualizado e livre e não globalizado e tutelado. Estas nossa observações estão de acordo com a opinião de outros médicos dotados de grande experiência, que recentemente publicaram um texto valioso para todo Pediatra que tenha espírito crítico de leitura científica (2).
A segurança das fórmulas infantis de soja ainda é muito comentada e debatida. A revisão que Vandenplas Y. e colaboradores (1) fizeram é extremamente importante na medida em que abrange mais de um século de referências bibliográficas. São revistos os estudos que avaliaram dados antropométricos, saúde óssea (conteúdo mineral ósseo), imunidade, cognição e funções endócrinas e reprodutivas. Os estudos são, em sua maioria, transversais, de caso controle, de coorte ou de seguimento clínico, sempre comparando lactentes que receberam fórmula de soja com aqueles que receberam outros leites (materno ou leite de vaca modificado). A análise se deteve sobre os estudos que pautaram por avaliar, entre outras coisas, a segurança do uso da fórmula infantil de soja.
Do ponto de vista de padrões antropométricos há semelhança entre as crianças alimentadas com fórmulas de soja e aquelas que receberam leite de vaca modificado ou leite materno.
A despeito dos altos níveis de fitato e de alumínio nas fórmulas de soja, não existem diferenças nos níveis de hemoglobina, proteínas séricas, concentrações de zinco e de cálcio e conteúdo de osso mineral nas crianças que recebem leite materno, fórmula de leite de vaca modificado e aqueles que recebem FIPIS.
Os níveis de genisteína e daidzeina são muito superiores nas crianças que recebem fórmulas infantis de soja. No entanto, não existem evidências de efeitos adversos negativos em funções endócrinas ou reprodutivas.
Os parâmetros imunológicos avaliados e os neurocognitivos foram semelhantes em todos os grupos.
Em conclusão, as fórmulas infantis modernas de soja são consideradas como opções seguras para alimentar lactentes e crianças que as necessitem.
O padrão de crescimento, saúde óssea e metabólica, as funções reprodutiva, endócrina, imunológica e neurológicas são semelhantes àquelas observadas em lactentes crianças alimentadas com fórmulas infantis à base de leite de vaca modificado ou leite materno.
Os achados epidemiológicos são insuficientes no fornecimento de dados baseados em evidências quanto à ocorrência e/ou incidência de eventos adversos com o uso de FIPIS.
Não custa lembrar que muitas das discussões a respeito das indicações do uso de FIPIS irão terminar quando houver maior conscientização da amamentação exclusiva até o sexto mês de vida
Referências
1 - Vandenplas Y, Castrellon PG, Rivas R, Gutiérrez CJ, Garcia LD, Jimenez JE, Anzo A, Hegar B, Alarcon P. Safety of soya-based infant formulas in children. Br J Nutr. 2014 Apr 28;111(8):1340-60.
2 – Barbieri D., Romaldini C. Fórmula de soja - de heroína a vilã? Análise crítica ao artigo. Pediatria Moderna – Maio 2013 – v. 49 no. 5
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Suco de soja é um problema para as crianças?
Postado por
Dr. Frederico Lobo
às
11:45
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