sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A indústria do açúcar está matando você! Por Dr. Flavio Melo

Caros leitores,

O texto abaixo é de autoria de um amigo querido, o Dr. Flávio Melo. Apesar de discordar de alguns pontos, no geral a idéia é válida. Entendo a preocupação dele com relação ao maniqueísmo da indústria alimentícia, preocupação com a forma que ela conduz e dita a "ciência". Porém também não posso fechar os olhos para o lado comportamental da restrição ao consumo de açúcar e os seus impactos em alguns pacientes. Hoje li um texto bem interessante sobre o tema, de autoria da nutricionista Nathália Petry, que vale a pena ser lido:

Vamos direto ao ponto: se por um lado acredito que a restrição de qualquer nutriente é prejudicial pois favorece transtornos alimentares (principalmente compulsão alimentar e bulimia), de um outro lado enxergo a visão defendida pelo meu amigo.

A "vilanização" de alimentos não é algo saudável, já que a restrição a qualquer alimento pode alimentar um ciclo que favorece obesidade, sentimento de culpa, sensação de impotência, adoção de dietas mais restritivas. Com isso mais obesidade surge, já que a restrição não tem boa adesão a longo prazo. Entendem que é um ciclo? Que devemos focar em qualidade, quantidade e frequência no consumo de alimentos, nesse caso o açúcar. Mas quando se trata de uma população já doente ou predisposta a tentativa de inocentar o açúcar e carboidratos refinados podem falhar.

Vivemos uma epidemia de obesidade, síndrome metabólica, alterações metabólicas em magros como jamais foi vista na humanidade. A cada dia as crianças estão apresentando mais precocemente alterações metabólicas (Fígado gorduroso, resistência insulínica, hiperglicemia, hipertensão, hiperuricemia). Alterações estas muito improváveis para tal faixa etária. E o que mais assusta é que não são só crianças com obesidade que estão desenvolvendo isso. Cresce diariamente o número de crianças magras.

A gênese dessas alterações é multifatorial. Temos:
1) Padrão dietético: pobre em fibras, pobre em micronutrientes, rico em carboidratos refinados (e isso inclui açúcar).
2) Sedentarismo.
3) Polimorfismos genéticos que favorecem obesidade e transtornos metabólicos.
4) Poluentes ambientais que mimetizam nossos hormônios e que levam alterações metabólicas mesmo sem o consumo excessivo de açúcar (disruptores endócrinos), metais tóxicos, agrotóxicos.
5) Aspectos comportamentais: carência, solidão, insegurança, medo, sentimento de inferioridade, incompletude, ansiedade, depressão, transtorno bipolar.
6) Aspectos sociais: carga alta de trabalho, diminuição do tempo de lazer e tempo disponível para atividade física.

O fato é: como "liberar" só um pouquinho de açúcar diariamente para quem já apresenta alterações orgânicas que predispõe a diabetes e doenças metabólicas? Estamos sendo enganados pela indústria alimentícia com a idéia de que "um pouco pode" ou "não há correlação entre açúcar e obesidade/doenças metabólicas" ?

Essas são minhas considerações sobre o texto abaixo.

Dr. Frederico Lobo - Médico - CRM-GO 13192

A indústria do açúcar está matando você! Por Dr. Flavio Melo

Se você veio até aqui eu recomendaria que fosse até o final. Porque quero mostrar passo a passo a estratégia que a indústria alimentícia usa para enganar as pessoas e as empurrar para o abismo, de uma forma tão subliminar e sorrateira, que quando você perceber, já estará ostentando um stent no coração e uma caixa de remédios do tamanho de uma caixa de ferramentas.
Não é preciso ser nenhum especialista na área da saúde para enxergar que estamos vivendo uma epidemia crescente de obesidade, diabetes e todas as doenças correlatas no mundo inteiro e que o problema central é o que estamos comendo. E parece que escolher o que comer tem ficado cada vez mais difícil, porque cada dia pipoca na imprensa um estudo que nega o benefício de um alimento antes beatificado e outro que o recomenda como cura de todos os males.
Mas se tem algo que quase todos os profissionais de saúde e o público geral concordam é que estamos comendo açúcar, sal e gordura demais, nos alimentos ultraprocessados e que esse é um dos pontos centrais nessa epidemia de diabesidade, que é um termo novo e quase sempre indissociável.
Para a indústria alimentícia, o açúcar, o milho, o trigo e a soja são as minas de ouro inesgotáveis e o consumo de açúcar no mundo só cresce, ao mesmo tempo que aumenta a incidência de doenças cardíacas, diabetes e obesidade. Comemos cada vez mais açúcar, mas não porque estamos usando mais açúcar no café, chá ou na salada de frutas e sim porque o açúcar é adicionado e está escondido em cerca de 75% dos alimentos industrilizados e está em quantidades anormais em bebidas adoçadas e refrigerantes.
Não tem como fugir do açúcar, ele está sorrateiramente presente, em quantidades brutais, mesmo alimentos impensáveis, como molhos salgados, salsichas, bacon, bolachas, cereais e laticínios. A indústria descobriu maneiras de potencializar o consumo, através do que ficou conhecido como bliss point, que é a concentração otimizada de açúcar, sal e gordura no alimento industrializado, que estimula a sua palatabilidade ao ponto máximo. Não à toa, o marketing diz: é impossível comer um só!
Os problemas associados com essa estratégia fabril de alimentação e confinamento constante dos seres humanos, estão em todas as casas do mundo. Em praticamente todos os países, as taxas de sobrepeso, obesidade e diabetes estão crescendo de maneira exponencial e os custos dessas doenças no sistema de saúde só aumenta. Há especialistas que estimam a quebra do sistema de saúde americano em 2030, caso a população continue adoecendo no ritmo atual (75% com sobrepeso/obesidade e 30% diabéticos).
Se eu pegar os meus livros do tempo da faculdade, o diabetes tinha duas formas: o diabetes tipo 1, ou infanto juvenil, e o diabetes tipo 2, do adulto. Hoje, temos crianças de 6 anos de idade com diabetes tipo 2 e pela primeira vez na história recente do mundo, há possibilidade de que a atual geração viva menos que seus pais.
E não há dúvida que o chefe dessa quadrilha é o açúcar escondido. E que esse bandido vai te matar.

A reação ao redor do mundo.

A reação é crescente no mundo, não há mais como enfrentar o problema sem recomendar a diminuição do consumo do açúcar refinado/adicionado/escondido e dos alimentos ultraprocessados entupidos com ele, especialmente nas bebidas adoçadas, como refrigerantes, sucos e leites. Mas a influência da industria  e suas estratégias de publicidade e incentivo ao consumo são tão subliminares, que os países que estão tendo sucesso no combate à essa questão, só o conseguem banindo a publicidade infantil dos alimentos ultraprocessados e aumentando os impostos dos refrigerantes, a principal fonte de açúcar da dieta.
A industria bombardeia as crianças todos os dias.
A indústria convence cientistas de renome a participar de estudos de qualidade duvidosa e os faz espermer e escamotear números para enganar os jornalistas e impor suas manchetes. A imprensa é tomada pela informação duvidosa e quem a refuta, corre o risco de ser perseguido, como aconteceu na inglaterra com o cientista John Yudkin nos anos 70.
Essa semana, foi publicado um estudo em dos um periódicos médicos mais respeitados do mundo, o JAMA, jornal da associação americana de medicina, onde os autores conseguiram demonstrar, com acesso aos documentos internos da indústria do açúcar dos Estados Unidos, como sua influência oculta e seu financiamento da ciência, colocou sob o açúcar uma aura de anjo e tornou as gorduras as culpadas pelas doenças modernas.
No Brasil, nada disso é diferente e dia desses, me deparei no Facebook com uma postagem onde era exaltado o consumo “consciente” do açúcar. A luz vermelha acendeu em minha mente e já conhecendo as artimanhas da indústria, em pouco tempo já tinha desvendado o mistério da campanha Doce Equilíbrio.

O Raio-X do inimigo.

A partir de agora irei dissecar ponto a ponto a campanha e seu modo de fazer propaganda do demônio, para que ele pareça um anjo de candura e te empurre para o abismo do pré diabetes, depois diabetes, depois infarto e depois uma morte lenta, dolorosa e sofrida.
Matéria

PASSO 1

Use uma manchete que chame a atenção,  mesmo que  não corresponda aos verdadeiros dados da pesquisa. No final, vou mostrar porque essa manchete só serve para uma coisa: te enganar. A tática da indústria é espremer os dados, generalizar, para depois que for desmascarada, dizer que não é bem assim ou questionar a reputação de quem a contesta.
Matéria dois

PASSO 2

Use o nome de um prestigiado e sério instituto. A ver se há algum tipo de aporte financeiro à instituição, o que no mínimo já colocaria em questão os possíeis aspectos éticos e os conflitos de interesse do estudo e dos autores, que não estão claros.
Matéria 3

PASSO 3

 Já que não é possível diminuir a balança para um menor entrada de comida no seu corpo, a nova moda é colocar a culpa na sua falta de atividade física. Apesar da atividade física ser essencial para uma boa saúde, os estudos que avaliam o aumento dela, isoladamente, para perda de peso,  sem mudança alimentar, atestam sua falta de eficácia à longo prazo. Sem modificar a alimentação e consequentemente sem DIMINUIR o açúcar adicionado nos alimentos ultraprocessados na dieta, quase ninguém consegue recuperar a saúde e perder peso.
Parte 4

PASSO 4

 A afirmação do colega endocrinologista é perfeita, o sedentarismo pode ser considerado o novo tabagismo, porém, como coloquei anteriormente, querer colocar a culpa na sua preguiça, é esquecer que o açúcar adicionado, que está presente em 75% dos alimentos industrializados e CAUSA inatividade física, por alterações no centro executor/motor do cérebro, literalmente te prendendo no sofá, é ocultar o principal.
Você não consegue se exercitar porque é um desgraçado preguiçoso e sim porque a tua alimentação industrial te torna assim.
No final do texto, com os dados completos da pesquisa, mostrarei, matematicamente que a população do estudo é uma ínfima parte do conjunto da população brasileira, portanto o estudo não representa o indivíduo comum, como a manchete quer induzir você a concluir.
 Parte 5

PASSO 5

Obviamente, estamos carecas de saber que a obesidade é mutifatorial. Mas também é óbvio que estamos vivendo uma epidemia mundial de diabesidade e os estudos não patrocinados pela indústria, identificam no açúcar adicionado, consumido junto aos alimentos ultraprocessados, especialmente nas bebidas adoçadas, a causa de um ciclo vicioso de fome infinita (você sente isso), a desregulação metabólica e hormonal  basal, que leva à inflamação e resistência à insulina, ambas raízes das doenças metabólicas modernas.
Vou aqui entrar em alguns detalhes bioquímicos para você entender  que a afirmação acima que a sacarose não aumenta mais a glicemia do que outros carboidratos com quantidade equivalente é completamente irrelevante.
O açúcar refinado/adicionado/escondido tem calorias vazias, ou seja, não acrescenta absolutamente nada do ponto de vista nutricional para o indivíduo. Na verdade, açúcar não pode ser considerado comida, porque a definicação técnica de comida, segundo o dicionário Medical Free Dictionary, é: “um material que contém nutrientes essenciais, que são assimilados pelo organismo para produzir energia, estimular o crescimento e manter a vida”.
Acontece que para que o açúcar refinado/adicionado (sacarose tem uma molécula de glicose e uma de frutose ezero vitaminas ) produza energia, ele retira energia e nutrientes do organismo, tanto dos alimentos, quanto das reservas do próprio corpo. Para metabolização da glicose, o corpo necessita de vitaminas do complexo B, como a riboflavina, tiamina e niacina e além disso libera insulina em quantidades crescentes quanto maior o consumo, que além de causar acúmulo de gordura, causa fome. E fundamental, a glicose retira magnésio do corpo, pois o combustível celular, o ATP é uma molécula magnesiaa e para fazer o ATP com a glicose, o corpo necessita também de magnésio.
Para a metabolização da frutose no fígado é necessário o fosfato que é proveninente do ATP, a reserva de combustível das mitocôndrias. Então, para que a frutose gere energia, ela ocasiona um diminuição de energia celular. Além disso, o excesso de frutose, fato incontestável da alimentação com ultraprocessados e bebidas adoçadas, leva à estresse oxidativo, aumento do ácido úrico e inflamação, consequentemente dano à mitocôndria, nossa geradora de energia da célula, aos rins e aos vasos sanguíneos.
Resumindo: o açúcar adicionado/refinado só serve para te deixar um caco e você não consegue controlar o seu consumo.
Então, para um diabético, obviamente que a sacarose não aumenta a glicemia em quantidades equivalentes de glicose, simplesmente porque a sacarose tem frutose e glicose e a glicose é pura glicose! Mas a sacarose, pelo conteúdo de frutose, causa estresse metabólico e inflamação, aumenta a pressão arterial, o ácido úrico e como a própria indústria já propaga, é impossível comer uma só, você não consegue se controlar e com a queda de energia celular, o indivíduo precisa se reabastecer constantemente e o ciclo vicioso se fecha. Você não para de comer!
Parte 6

PASSO 6

Os dados da pesquisa tem um grau de evidência sofrível. Qualquer estudante secundarista poderia fazer esse estudo e este seria recusado por qualquer periódico sério do mundo. As pessoas sequer se lembram à noite do que comeram no café da manhã, imagine um questionário 24 horas depois. Além disso, como já disse, o problema não parece ser o açúcar do açucareiro, aquele que adoça o cafezinho e o chá, mas essencialmente o consumo do açúcar que está escondido nos alimentos processados e especialmente nos refrigerantes e bebidas adoçadas, e que você sequer tem noção que está consumindo.
Parte 7

PASSO 7

O Dr. Magnoni faz uma afirmação perfeita, se não estivéssemos lidando com um ingrediente que vicia! Isso, vicia! Colocar no rótulo da cerveja, beba com moderação, resolve? Será que dizer para o drogado, cheire cocaína com moderação, resolve? Com o açúcar vale a mesma máxima.
Vou traduzir aqui, ipsiliteris, a conclusão de um estudo publicado em Julho desse ano, em uma das mais prestigiadas revistas sobre diabetes do mundo, a Diabetes:
“Os achados de Jastreboff et al., que a glicose e frutose estimula o sistema estriatal mais em adolescentes com obesidade que em indivíduos magros, indicam que essas moléculas tem potencial adictivo e de habituação. Em vários casos a sacarose é consumida em bebidas adoçadas com açúcar que também contém cafeína (refrigerantes, cafezinho, por exemplo), uma droga que estimula o sistema nervoso central. Será de grande interesse descobrir se a cafeína adicionada com a glicose ou frutose, produz um efeito ainda mais profundo no sistema estriatal de adolescentes com obesidade.”
Como a maioria da população brasileira (63%), está acima de peso ou obesa, não precisa dizer onde vai dar esse papo da indústria de moderação com uma droga com potencial viciante como o açúcar. Não há como educar um drogado. A única maneira de evitar o consumo é fazer campanha CONTRA, TAXAR os alimentos que contém a substância para diminuição do consumo e impedir a publicidade infantil. Isso lembra você da campanha anti tabaco, não?
No começo, os especialistas isentões e os arautos da indústria diziam:
“Fume com moderação, fume com filtro, não deixe de aproveitar o charme do cigarro, ele é parte da nossa cultura.”
Deu no que deu. Com o açúcar, a mesma coisa.
Parte 7.1
Parece que ninguém toma refrigerante, suco de caixinha e leite com achocolatado, não? Será que havia uma pergunta específica sobre refrigerantes, já que esses são os principais responsáveis pelo consumo de açúcar na alimentação ocidental? Será que as pessoas beberiam refrigerantes se soubessem que há em uma lata toda a quantidade diária que uma criança, adolescente ou mulher deve consumir?
Parte 8

PASSO 8

Não é preciso ser nenhum gênio ou estudioso da saúde para saber que o açúcar faz parte da rotina do brasileiro. Ele está cada vez mais gordo, doente e diabético, hipertenso, com ácido úrico alto e colocando stents cada vez mais cedo exatamente por esse motivo. O açúcar e seus companheiros, sal e gordura trans, faz de você um glutão doente, para alegria de alguns mercadores da doença e lucros cada vez maiores da indústria da comida de mentira. E por último, você entendeu por tudo que eu escrevi, que não há possibilidade de controlar o consumo do açúcar refinado/adicionado consumindo açúcar. Você deve comer carboidratos, mas não precisa de forma alguma consumir açúcar.
Frequentemente, a frase mais usada pelos defensores do açúcar é que a glicose é o combustível essencial das células e eles te confundem porque a glicose, além de não necessitar ser provida pelo açúcar, pode ser produzida pelo organismo por diversas formas e não se constituiu em um nutriente essencial e indispensável da DIETA, mas sim das células.
Crianças com epilepsia de difícil controle são tratados com dieta cetogênica, que contém praticamentezero açúcar/glicose e além de não morrerem, muitos conseguem diminuir de forma significativa suas crises convulsivas, porque o seu cérebro usa o substrato da gordura para produzir corpos cetônicos, que fornecem 75% do combustível às células e as proteínas, através de um processo chamado gliconeogênese transformam aminoácidos em glicose. Os triglicerídeos, forma mais comum de armazenamento da gordura no organismo, também fornecem glicerol para as células.
De acordo com o  Conselho de Nutrição do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, o limite mínimo diário para ingestão de carboidratos compatível com a vida é aparentemente zero, desde que quantidades adequadas de proteínas e gorduras sejam consumidas. Resumo: qualquer um vive sem açúcar.
Não estou aqui pregando contra os carboidratos e dizendo que você não deve consumi-los. Populações do mundo com modo de vida não industrializado, como os Kitavas da Indonésia, consomem um dieta de alto carboidrato e não tem nenhuma das doenças modernas. Porém, estes não consomem açúcar adicionado/refinado e como você já entendeu, uma coisa é glicose, outra é frutose, outra é a presença destes na forma de sacarose ou isoladamente em alimentos inteiros, naturais, com fibras e vitaminas, como as frutas e outra é colocado em quantidades sobre humanas, na forma de xarope de milho de alta frutose em alimentos cheios de outros elementos nocivos e cujo consumo, você não consegue controlar.

E eles ainda insistiram em mais uma pesquisa furada…

Parte 09
Dificilmente alguém prestara atenção nisso, mas duas coisas me chamaram a atenção:
– A PESQUISA FOI ATRAVÉS DE UMA ENTREVISTA, OU SEJA, DO PONTO DE VISTA CIENTÍFICO E ESTATÍSTICO, TEM RELEVÂNCIA EXTREMAMENTE BAIXA.
– FAZENDO CONTAS BÁSICAS, VOCÊ ENTENDE QUE A MANCHETE FOI ENGANOSA. DOS 1.199 PACIENTES ENTREVISTADOS, 71% (851) CONSOMEM AÇÚCAR HABITUALMENTE, 30% (400) FAZEM ATIVIDADES FÍSICAS E DESTES, 67% (268) CONSOMEM AÇÚCAR. DOS 268 QUE CONSOMEM AÇÚCAR HABITUALMENTE E PRATICAM ATIVIDADE FÍSICA, 195 TEM O PESO NORMAL.
Então, do grupo estudado, somente 15%, consome açúcar habitualmente, pratica atividade física e tem peso normal. Se a pesquisa era para avaliar o efeito do consumo do açúcar em relação à indivíduos fisicamente ativos e com peso normal, esse grupo, no mínimo, deveria ter feito teste de tolerância à glicose, pois sabemos que independentemente do peso, o açúcar adicionado/refinado, em excesso, pode causar acúmulo de gordura abdominal (barriga de chope), inflamação e alterações metabólicas.
Além disso, vê-se que da população pesquisada, a grande maioria (1004), consome açúcar habitualmente, não se exercita e não está com peso normal, número até superior de indivíduos com sobrepeso e obesidade do que a população geral.  E na hora de fazer a manchete, além de não mencionar isso, dá a entender pra você que 73% da população geral consome açúcar e tem peso normal, mas na verdade é do grupo de pesquisados, que consomem açúcar habitualmente E fazem atividade física, tem peso normal, o que não necessariamente significa que tem saúde.
O pior é que pelo jeito a pesquisa não foi publicada em nenhum periódico de relevância, e não temos acesso aos dados completos, inclusive uma das informações mais importantes: qual o percentual da população do estudo que consome açúcar habitualmente e está acima do peso?
Porque aí, talvez a manchete mais honesta fosse: a maioria da população que consume açúcar habitualmente está acima do peso. E provavelmente, pelos dados relevantes da literatura, uma das coisas que precisamos orientar a população a fazer é diminuir o consumo dele e quem deve ser  primariamente responsável por isso é a indústria!
Resumindo, mágica com números para o interesse exclusivo de confundir, causando em você uma falsa sensação de segurança, induzindo a continuidade de consumo de algo que vicia e causa, na maioria das pessoas do mundo atual, comportamento de habituação, que está na maioria dos alimentos industriais e que você não consegue controlar a quantidade, enfim, te adoecendo e matando aos poucos.

Por fim, as duas cerejas do bolo…

parte 10
No site da campanha, tem uma opinião do especialista, onde o educador físico Márcio Atala, escreve o seguinte:“Temos que pensar que é possível consumir uma quantidade de açúcar, mesmo que acima da recomendada pela OMS, mas ainda fazer uma alimentação balanceada (é ou não é inacreditável?!) e ser uma pessoa saudável.”
Creio que não preciso comentar, por tudo o que já escrevi acima, você entende que essa afirmação é o mesmo que te convencer a pular de avião sem paraquedas pelo prazer de voar.
Mas aí, ficou a questão final: tudo tem cheiro de indústria, tem pegadas da industria, mas cadê a indústria do açúcar?
Aqui
Está lá, em um local quase imperceptível e inalcançável do site, sorrateiramente se escondendo, como o seu açúcar escondido, esperando que você caia na balela, para lentamente se adoecer e matar.
REFERÊNCIAS:
BRAY, GEORGE A. “IS SUGAR ADDICTIVE?.” DIABETES 65.7 (2016): 1797-1799.
BRINTON, ELIOT A. “THE TIME HAS COME TO FLAG AND REDUCE EXCESS FRUCTOSE INTAKE.” ATHEROSCLEROSIS (2016).
DINICOLANTONIO, JAMES J., AND AMY BERGER. “ADDED SUGARS DRIVE NUTRIENT AND ENERGY DEFICIT IN OBESITY: A NEW PARADIGM.” OPEN HEART 3.2 (2016): E000469.
JASTREBOFF, ANIA M., ET AL. “ALTERED BRAIN RESPONSE TO DRINKING GLUCOSE AND FRUCTOSE IN OBESE ADOLESCENTS.” DIABETES (2016): DB151216.
KEARNS CE, SCHMIDT LA, GLANTZ SA. SUGAR INDUSTRY AND CORONARY HEART DISEASE RESEARCH: A HISTORICAL ANALYSIS OF INTERNAL INDUSTRY DOCUMENTS. JAMA INTERN MED.PUBLISHED ONLINE SEPTEMBER 12, 2016.
LUSTIG, ROBERT H. “SICKENINGLY SWEET: DOES SUGAR CAUSE TYPE 2 DIABETES? YES.” CANADIAN JOURNAL OF DIABETES (2016).
MALIK, VASANTI S., ET AL. “SUGAR-SWEETENED BEVERAGES AND WEIGHT GAIN IN CHILDREN AND ADULTS: A SYSTEMATIC REVIEW AND META-ANALYSIS.” THE AMERICAN JOURNAL OF CLINICAL NUTRITION 98.4 (2013): 1084-1102.
PERLMUTTER, RICHARD. “LABELING SOLID FATS AND ADDED SUGARS AS EMPTY CALORIES.”JOURNAL OF THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION 111.2 (2011): 222-223.
REEDY, JILL, AND SUSAN M. KREBS-SMITH. “DIETARY SOURCES OF ENERGY, SOLID FATS, AND ADDED SUGARS AMONG CHILDREN AND ADOLESCENTS IN THE UNITED STATES.”JOURNAL OF THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION 110.10 (2010): 1477-1484.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. “GUIDELINE: SUGARS INTAKE FOR ADULTS AND CHILDREN.” (2015).
Autor: Dr. Flávio Melo - Médico pediatra, escritor e autor do site http://www.pediatradofuturo.com.br/.

Fonte: http://oindigesto.com/a-industria-do-acucar-esta-matando-voce/

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A indústria do açúcar fez todo mundo de bobo


traduzido do New York Times. Veja o original clicando aqui.

Documentos históricos recentemente revelados mostraram que a indústria do açúcar pagou cientistas na década de 60 para minimizar a relação entre consumo de açúcar e doenças do coração, além de dizer que a gordura era a culpada.

Documentos internos da indústria do açúcar, recentemente descobertos por um pesquisador da Universidade da Califórnia e publicados nesta segunda no JAMA, sugerem que cinco décadas de pesquisas sobre o papel da alimentação e doenças cardíacas – incluindo as recomendações nutricionais atuais – talvez tenham sido direcionadas em grande parte pela indústria do açúcar.

“Eles conseguiram desvirtuar a discussão sobre o açúcar por décadas”, disse Stanton Glantz, professor de Medicina na UCSF e autor do artigo no JAMA.

Documentos mostram que um grupo chamado “Sugar Research Foundation” (Fundação para Pesquisas sobre o Açúcar), conhecido atualmente como “Sugar Association” (Associação da Indústria do Açúcar), pagou três cientistas de Harvard o equivalente a 50 mil dólares (em moeda atual) para que publicassem uma revisão sobre o açúcar, gordura e doenças cardíacas em 1967.

Os estudos usados nesta revisão foram “selecionados” pelo grupo e o artigo, publicado no prestigioso New England Journal of Medicine, minimizou a relação entre consumo de açúcar e doenças do coração, colocando a luz no papel da gordura saturada.

Oss cientistas de Harvard e os executivos da indústria do açúcar os quais eles ajudaram não estão mais vivos. Um dos cientistas pagos, D. Mark Hegsted, que depois se tornou o diretor de Nutrição do Departamento de Agricultura dos EUA, onde em 1977 ajudou a escrever o precursor das diretrizes alimentares do governo.

Outro cientista foi Frederick J Stare, chefe do departamento de Nutrição de Harvard.

Em um pronunciamento em resposta ao artigo publicado no JAMA, a Associação da Indústria do Açúcar comentou que esta revisão dde 1967 foi publicada em uma época em que os periódicos médicos não pediam aos pesquisadores que divulgassem as fontes de recursos nem conflitos de interesse. O New England Journal of Medicine começou a pedir este tipo de informação em 1984.

A indústria também “deveria ter sido mais transparente nestas atividades de pesquisa”, diz o pronunciamento. Ainda assim, defendeu as pesquisas financiadas pela indústria como importantes no debate científico. Disse ainda que muitas décadas de pesquisa haviam concluído que o açúcar “não tem um papel especial em doenças do coração”.

A Associação ainda questionou as motivações por trás do artigo da JAMA. “Ainda mais preocupante é o uso crescente de artigos ‘caçadores de cliques’ se sobrepor á qualidade da pesquisa científica”, disseram. “Estamos desapontados em ver um periódico como o JAMA entrar nesta onda”.

Apesar da venda de influência revelada nos documentos datar de 50 anos atrás, as revelações são importantes porque o debate a respeito dos danos causados pelo açúcar e gordura saturada continuam ainda hoje, disse o Dr. Glantz.

Por muitas décadas, as autoridades de Saúde encorajaram os americanos a melhorar sua dieta através da redução dos níveis de gordura, o que levou muitas pessoas a consumir alimentos low fat cheios de açúcar. Alguns especialistas acreditam que isso levou à crise atual de obesidade.

“Foi muito esperto por parte da indústria do açúcar, pois estas revisões, ainda mais se publicadas em periódicos de respeito, tendem a direcionar a discussão científica”, comentou.

O Dr. Hegsted usou sua pesquisa para influenciar as diretrizes alimentares do Governo, que diziam que a gordura saturada era um fator para doenças cardíacas enquanto que o açúcar era mostrado como uma caloria vazia relacionado à cárie dos dentes.

Ainda hoje, os avisos contra a gordura saturada se mantém como uma pedra fundamental das diretrizes alimentares, apesar de recentemente a AHA (American Heart Association), WHO (World Health Organization) e outras autoridades no assunto começarem a colocar o açúcar como algo que aumenta o risco de doença cardiovascular.

Marion Nestle, professora de Nutrição, estudos sobre alimentos e saúde pública da Universidade de Nova Iorque, escreveu um editorial dizendo que os documentos evidenciavam que a indústria do açúcar encomendaram as pesquisas para “tirar a culpa do açúcar como um importante fator de risco.”

“Acho isso absurdo”, disse, “Não se vê por aí exemplos tão claros. A quantidade de dinheiro que receberam é atordoante”.

A Dra. Nestle comentou ainda que os esforços da indústria para influenciar a ciência da Nutrição continuam atualmente.

Ano passado, um artigo do New York Times revelou que a Coca Cola, maior produtora de bebidas açucaradas, havia repassado milhões de dólares em financiamento para pesquisadores que buscavam minimizar a relação entre tais bebidas e obesidade.

Em Junho, a Associated Press noticiou que os fabricantes de doces estavam bancando estudos que concluíam que crianças que comem doces tendem a pesar menos que as outras.

O artigo no JAMA se baseou em milhares de páginas de correspondências e outros documentos que Cristin E. Kearns, um pós-graduando da UCSF, descobriu nos arquivos de Harvard, Universidade de Illinois e outros.

Os documentos mostram que em 1964, John Hickson, um executivo da indústria do açúcar, discutiu um plano com seus pares para mudar a opinião pública “através de nossas pesquisas, informação e programas legislativos”.

Naquela época, os estudos haviam começado a apontar o relacionamento entre dietas de alto teor de açúcar e as altas taxas de doenças cardíacas no país.

Em paralelo, outros cientistas, incluindo o famoso médico de Minnesota, Ancel Keys, investigavam a teoria de que a gordura saturada e colesterol da dieta que apresentavam o maior risco.

Hickson propôs contrapor as descobertas alarmantes sobre o açúcar com pesquisas financiadas pela indústria. “Assim podemos publicar os dados e refutar nossos inimigos”, escreveu.

Em 1965, Hickson encomendou a revisão ao pesquisadores de Harvard, a fim de acabar com os estudos anti-açúcar. Foram pagos cerca de 6,5 mil dólares – o equivalente a 49 mil atualmente. Hickson selecionou os artigos a serem colocados na revisão e deixou claro que ele gostaria de ver resultados a favor da indústria.

Dr Hegsterd, de Harvard, tranquilizou os executivos. “Estamos bem por dentro de seus interesses”, escreveu, “e vamos satisfazê-los da melhor maneira possível.”

Enquanto trabalhavam na revisão, os pesquisadores compartilhavam os rascunhos iniciais com os executivos, que respondiam que estavam gostando do resultado. Os cientistas diziam que os dados condenando o açúcar eram fracos e davam muito mais importância aos dados implicando a gordura saturada.

“Pode ficar tranquilo que é isso que queríamos e esperamos ansiosamente para que saiam na imprensa”, Hickson disse.

Após a revisão ser publicada, o debate sobre açúcar e doenças cardíacas murchou, enquanto que dietas low fat tiveram o apoio de muitas autoridades da saúde, contou Dr. Glantz;

“Pelos padrões atuais, eles agiram muito mal”, completou.

Fonte: http://www.comidadeverdade.com.br/blog/index.php/2016/09/12/industria-do-acucar-fez-todo-mundo-de-bobo/


terça-feira, 6 de setembro de 2016

Verdade ou mito: Os alimentos perdem nutrientes ao serem aquecidos no microondas?

Fazer comida no micro-ondas é pior do que ferver ou fritar?

Basta uma busca rápida na internet para encontrar sites e blogs que garantem que o uso do microondas faz mal à saúde e resulta na perda de vitaminas e nutrientes dos alimentos.
Mas essa ideia de que o microondas é pior do que outras formas de cozinhar não tem base científica, explica o programa da BBC Trust Me, I’m a Doctor (em tradução livre, Confie em mim, sou médico).
O microondas cozinha os alimentos usando ondas de energia semelhantes às de rádio, porém mais curtas.

Seletivas, essas ondas afetam sobretudo a água e outras moléculas assimétricas eletricamente: carregadas positivamente em um extremo e negativamente no outro.

As microondas fazem com que essas moléculas vibrem e gerem calor, que rapidamente se estende às moléculas próximas para esquentar e cozinhar a comida.

Esse processo pode afetar as vitaminas e nutrientes dos alimentos, mas essas mudanças não são exclusivas do microondas, e sim resultado do processo de aquecimento.

Quando se esquenta a comida, algumas vitaminas - como a C - se decompõem, explica a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em seu site sobre medicina e saúde.
Mas isso acontece independentemente de se o alimento é esquentado em forno convencional, no fogão ou no microondas.

Uma forma de manter nutrientes é picar alimentos logo antes de cozinhar

As proteínas também se “desnaturalizam” (ou seja, se decompõe e às vezes perdem suas propriedades) quando são esquentadas, por qualquer meio.

Mas como os tempos de preparo são mais curtos, cozinhar com microondas de fato ajuda a preservar a vitamina C e outros nutrientes.

Cozinhar com água

Os nutrientes dos alimentos também se perdem quando a comida é cozida com água.
Diversos estudos científicos concluíram que ao ferver as verduras, boa parte de seus nutrientes se solta na água.

A vitamina C e muitas das vitaminas B, como a B6 e a B12, são mais vulneráveis porque são solúveis em água.

E normalmente essa água não é aproveitada, mas descartada – o que faz com que os nutrientes também se percam.
A perda de nutrientes durante a fervura é maior do que em outras técnicas, como o microondas, a fritura ou o vapor.

Ferver verduras faz com que nutrientes fiquem na água

Então a melhor forma de reter as vitaminas e os nutrientes dos alimentos ao cozinhá-los é usar tempos curtos, que limitem a exposição ao calor, e um método de cozinhar que use menos líquido.
Um artigo publicado em 2009 no Journal of Food Science concluiu, por exemplo, que o microondas mantém melhor os níveis de antioxidantes de alimentos como feijão, aspargos e cebola do que a fervura, o cozimento na panela de pressão ou o forno.

Mas se o que mais te preocupa é manter o valor nutritivo dos alimentos, o melhor é cozinhar no vapor. Além disso, há outros passos que você pode fazer para conservar ao máximo o valor nutritivo dos alimentos. Conselhos úteis para impedir a perda de nutrientes ao cozinhar:

  1. Descascar e cortar o alimento logo antes de preparar ou consumir
  2. Lavar de forma rápida antes de cozinhar
  3. Empregar formas de cozimento em que a água e o alimento entrem em contato o mínimo possível
  4. Esperar que a água ferva completamente para submergir o alimento, já que isso reduzirá o tempo de cozimento necessário
  5. Cozinhar hortaliças al dente e esfriá-las após cozinhar, para preservar suas vitaminas
  6. Aproveitar a água das verduras cozidas para fazer outros alimentos, como sopas
  7. Evitar armazenar frutas e hortaliças por muito tempo na geladeira
  8. Acrescentar vinagre ou suco de limão, que contribuem para a conservação das vitaminas e absorção de alguns minerais, como o ferro


Fonte: Fundação Espanhola de Dentistas e Nutricionistas e Associação para a Promoção do Consumo de Frutas e Hortaliças “5 al dia”, da Espanha

'Epidemia de câncer'? Alto índice de agricultores gaúchos doentes põe agrotóxicos em xeque


O agricultor Atílio Marques da Rosa, de 76 anos, andava de moto quando sentiu uma forte tontura e caiu na frente de casa em Braga, uma cidadezinha de menos de 4 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul. "A tontura reapareceu depois, e os exames mostraram o câncer", conta o filho Osmar Marques da Rosa, de 55 anos, que também é agricultor. Seu Atílio foi diagnosticado há um ano com um tumor na cabeça, localizado entre o cérebro e os olhos. Por causa da doença, já não trabalha em sua pequena propriedade, na qual produzia milho e mandioca.

Para ele, o câncer tem origem: o contato com agrotóxicos, produtos químicos usados para matar insetos ou plantas dos quais o Brasil é líder mundial em consumo desde 2009. "Meu pai acusa muito esse negócio de veneno. Ele nunca usou, mas as fazendas vizinhas sempre pulverizavam a soja com avião e tudo", diz Osmar.

O noroeste gaúcho, onde seu Atílio mora, é campeão nacional no uso de agrotóxicos, segundo um mapa do Laboratório de Geografia Agrária da USP, elaborado a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para especialistas que lidam com o problema localmente, não há dúvidas sobre a relação entre o veneno e a doença.

"Diversos estudos apontam a relação do uso de agrotóxicos com o câncer", diz o oncologista Fábio Franke, coordenador do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do Hospital de Caridade de Ijuí, que atende 120 municípios da região.

O glifosato é o agrotóxico mais usado no país, e fabricado pela Monsanto, que rechaça a relação do uso do produto com a doença.

A empresa diz tratar-se de "um dos herbicidas mais usados no mundo, por mais de 40 anos e em mais de 160 países", e que "nenhuma associação do glifosato com essas doenças é apoiada por testes de toxicologia, experimentação ou observações".

Já o Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal), que representa os fabricantes de agrotóxicos, encaminhou o questionamento da BBC Brasil para a Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal), que responde basicamente pelas mesmas empresas.

Em nota, a Andef afirma que "toda substância química, sintetizada em laboratório ou mesmo aquelas encontradas na natureza, pode ser considerada um agente tóxico" e que os riscos à saúde dependem "das condições de exposição, que incluem: a dose (quantidade de ingestão ou contato), o tempo, a frequência etc.".

Oncologista Fábio Franke vê relação direta entre agrotóxicos e câncer

Um dos principais problemas é que boa parte dos trabalhadores não segue as instruções técnicas para o manejo das substâncias.

"Nós sempre perguntamos se usam proteção, se usam equipamento. Mas atendemos principalmente pessoas carentes. Da renda deles não sobra para comprar máscaras, luvas, óculos. Eles ficam expostos", diz Emília Barcelos Nascimento, voluntária da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Ijuí.

Anderson Scheifler, assistente social da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer da cidade (Aapecan), corrobora: "Temos como relato de vida dessas pessoas um histórico de utilização excessiva de defensivos agrícolas e, na maioria das vezes, sem uso de proteção".

'Alarmante epidemia'

Um estudo realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) comparou o número de mortes por câncer da microrregião de Ijuí com as registradas no Estado e no país entre 1979 e 2003 e constatou que a taxa de mortalidade local supera tanto a gaúcha, que já é alta, como a nacional.

De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Rio Grande do Sul é o Estado com a maior taxa de mortalidade pela doença. Em 2013, foram 186,11 homens e 140,54 mulheres mortos para cada grupo de 100 mil habitantes de cada sexo.

O índice é bem superior ao registrado pelos segundos colocados, Paraná (137,60 homens) e Rio de Janeiro (118,89 mulheres).

O Estado também é líder na estimativa de novos casos de câncer neste ano, também elaborada pelo Inca - 588,45 homens e 451,89 mulheres para cada 100 mil pessoas de cada sexo.
Em 2014, 17,5 mil pessoas morreram de câncer em terras gaúchas - no país todo, foram 195 mil óbitos.


Especialistas ligam uso de agrotóxicos à alta incidência de câncer no RS

Anualmente, cerca de 3,6 mil novos pacientes são atendidos na unidade coordenada por Franke. Se incluídos os antigos, são 23 mil atendimentos. Destes, 22 mil são bancados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) - os cofres públicos desembolsam cerca de R$ 12 milhões por ano para os tratamentos.
Segundo o oncologista, a maioria dos doentes vem da área rural - mas o problema pode ser ainda maior, já que os malefícios dos agrotóxicos não ocorrem apenas por exposição direta pelo trabalho no campo, mas também via alimentação, contaminação da água e ar.

"Se esses números fossem de pacientes de dengue ou mesmo uma simples gripe, não tenho dúvida de que a situação seria tratada como a mais alarmante epidemia, com decreto de calamidade pública e tudo. Mas é câncer. Há um silêncio estranho em torno dessa realidade", afirma o promotor Nilton Kasctin do Santos, do Ministério Público da cidade de Catuípe.

"Milhares de pessoas estão morrendo de câncer por causa dos agrotóxicos", acrescenta ele, que atua no combate aos produtos.

Mas, segundo a Andef, "o setor de defensivos agrícolas apresenta o grau de regulamentação mais rígido do mundo".

Salto no consumo


Mais de 1,1 mil pessoas morreram por intoxicação com agrotóxico no país em 8 anos
A comercialização de agrotóxicos aumentou 155% em dez anos no Brasil, apontam os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), estudo elaborado pelo IBGE no ano passado - entre 2002 e 2012, o uso saltou de 2,7 quilos por hectare para 6,9 quilos por hectare.

O número é preocupante, especialmente porque 64,1% dos venenos aplicados em 2012 foram considerados como perigosos e 27,7% muito perigosos, aponta o IBGE.

O Inca é um dos órgãos que se posicionam oficialmente "contra as atuais práticas de uso de agrotóxicos no Brasil" e "ressalta seus riscos à saúde, em especial nas causas do câncer".
Como solução, recomenda o fim da pulverização aérea dos venenos, o fim da isenção fiscal para a comercialização dos produtos e o incentivo à agricultura orgânica, que não usa agrotóxico para o cultivo de alimentos.

Márcia Sarpa Campos Mello, pesquisadora do instituto e uma das autoras do "Dossiê Abrasco - Os impactos dos Agrotóxicos na Saúde", ressalta que o agrotóxico mais usado no Brasil é o glifosato - vendido com o nome de Roundup e fabricado pela Monsanto.

Segundo ela, o glifosato está relacionado aos cânceres de mama e próstata, além de linfoma e outras mutações genéticas.

"A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que 80% dos casos de câncer são atribuídos à exposição de agentes químicos. Se os agrotóxicos também são esses agentes, o que já está comprovado, temos que diminuir ou banir completamente esses produtos", defende.

A Monsanto, entretanto, rechaça a opinião. Procurada pela BBC Brasil, a empresa afirma que o registro do glifosato na União Européia foi renovado por 18 meses, em junho.

A renovação, porém, não passou sem polêmica. A intenção inicial era que a renovação fosse por 15 anos. França, Itália, Suécia e Países Baixos foram contra. Um dos motivos é a recente classificação da Agency for Research on Cancer (IARC), parte da Organização Mundial da Saúde, que classificou o glifosato como "provavelmente cancerígeno para humanos".


Fabricante afirma que glifosato é seguro para a saúde

Procurada, a Monsanto afirma que "todos os usos de produtos registrados à base de glifosato são seguros para a saúde e o meio ambiente, o que é comprovado por um dos maiores bancos de dados científicos já compilados sobre um produto agrícola".

Três vezes mais

Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o brasileiro consome até 12 litros de agrotóxico por ano.

A bióloga Francesca Werner Ferreira, da Aipan (Associação Ijuiense de Proteção ao Ambiente Natural) e professora da Unijuí (Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul), alerta que a situação é ainda pior no noroeste gaúcho, onde o volume consumido pode ser três vezes maior.

Ela conta que produtores da região têm abusado das substâncias para secar culturas fora de época da colheita e, assim, aumentar a produção. É o caso do trigo, que recebe doses extras de glifosato, 2,4-D, um dos componentes do "agente laranja", usado como arma química durante a Guerra do Vietnã, e paraquat.


A agricultura é uma das atividades mais importantes para a economia do noroeste gaúcho
Segundo o promotor Nilton Kasctin do Santos, este último causa necrose nos rins e morte das células do pulmão, que terminam em asfixia sem que haja a possibilidade de aplicação de oxigênio, pois isso potencializaria os efeitos da substância.

"Nada disso é invenção de palpiteiro, de ambientalista de esquerda ou de algum cientista maluco que nunca tomou sol. Também não é invenção de algum inimigo do agronegócio. Sabe quem diz tudo isso sobre o paraquat? O próprio fabricante. Está na bula, no rótulo", alerta o promotor.

No último ano, 52 pessoas morreram por intoxicação por paraquat em terras gaúchas, segundo o Centro de Informação Toxicológica do Estado.

No Brasil, 1.186 mortes foram causadas por intoxicação por agrotóxico de 2007 a 2014, segundo a coordenadora do Laboratório de Geografia Agrária da USP, Larissa Bombardi.

A estimativa é que para cada registro de intoxicação existam outros 50 casos não notificados, afirma ela. A pesquisa da professora aponta ainda que 300 bebês de zero a um ano de idade sofreram intoxicação no mesmo período.

A Syngenta, fabricante do paraquat, não se manifestou sobre os casos de intoxicação e afirmou endossar o posicionamento da Andef.

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37041324

Pesquisa indica que poluição pode danificar cérebro e contribuir para Alzheimer


É sabido que ambientes poluídos provocam dificuldades respiratórias, problemas cardíacos e até morte prematura. Agora, um novo estudo traz mais um motivo de alerta: partículas de compostos de ferro oriundas da poluição do trânsito podem chegar ao cérebro.
Amostras do cérebro de corpos de pessoas que viveram e morreram na Cidade do México - que é um dos lugares mais poluídos do mundo e onde uma grande nuvem cinzenta paira no ar - foram analisados em um laboratório da Universidade de Lancaster, na Inglaterra.
Pequenas demais para serem vistas a olho nu, nanopartículas de um óxido de ferro chamado magnetita foram encontradas nos tecidos cerebrais. As amostras do México foram comparadas com o mesmo tipo de material coletado em Manchester.

"Identificamos milhões de partículas de poluição no cérebro. Num grama de cérebro humano, haverá milhares de partículas. É um milhão de oportunidades para essas partículas provocarem danos nas células do cérebro", explica a professora Barbara Maher, da Universidade de Lancaster.
Magnetita pode ocorrer naturalmente no cérebro em pequenas quantidades, mas as partículas formadas ali têm um formato irregular distinto.
Já as partículas identificadas no estudo são bem mais numerosas e de formato diferente, arredondado e regular, características que somente poderiam ser criadas nas altas temperaturas de um motor de veículos ou sistema de freios.
"É uma descoberta. É toda uma nova área para ser investigada e entendida - se essas partículas de magnetita estão causando ou acelerando doenças neurodegenerativas."
Essas partículas são inaladas - as maiores são barradas no nariz, mas as menores vão parar nos pulmões e na corrente sanguínea. As minúsculas podem se conectar aos nervos e seguir direto para o cérebro, onde foram achadas nesse estudo.

Uma forte suspeita ainda não comprovada empiricamente é que essas partículas são capazes de quebrar conexões entre as células cerebrais, exatamente como acontece com doenças como o Alzheimer. Apesar de o estudo não provar que a poluição no cérebro automaticamente causa doenças, não está descartada essa possibilidade.
"Esse estudo mostra pela primeira vez que partículas da poluição podem parar no cérebro. Obviamente isso é muito importante, mas ainda não há evidência do papel delas no Alzeihmer. Isso é algo que não sabemos", diz Clare Walton, da organização Alzheimer Society.

"As causas da demência são complexas e até agora não houve pesquisas suficientes para dizer se viver em cidades ou áreas poluídas aumenta o risco da doença. "
Ela diz que formas práticas de reduzir os riscos de desenvolver demência incluem exercícios regulares, uma dieta saudável e evitar o fumo.

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37285555