domingo, 5 de março de 2017

“Ficou fácil culpar o glúten por todos os problemas do intestino”

Abaixo uma reportagem que a revista Saúde publicou. Há 5 anos venho falando a respeito disso. Desde 2012 percebi que vários dos pacientes que referiam ter sintomas quando ingeriam alimentos com glúten, não apresentavam reações ao consumir tabule (que leva trigo). Após esses anos, novos estudos sobre Sensibilidade Não-Celíaca ao Glúten (SNCG) foram surgindo e alguns autores começaram a postular que o problema talvez não seja o glúten em si.

A maioria dos pacientes que alegam ter SNCG referem sintomas geralmente quando ingerem farinha de trigo refinada, alguns com a integral. Isso nos leva a pensar que o problema possa estar durante o refino. Outro ponto interessante é: teoricamente a aveia não contém glúten, sendo que o glúten que pode ser encontrado nela, geralmente é por contaminação cruzada, já que ela é manipulada no mesmo maquinário em que o trigo. Na prática percebo que a grande maioria dos pacientes que referem ter SNCG nada apresentam quando ingerem aveia.

Vale a pena ler a reportagem. Acredito que novos estudos surgirão nesse área, na tentativa de eximir o glúten da fama de vilão.

att

Dr. Frederico Lobo
Médico - CRM-GO 13192

“Ficou fácil culpar o glúten por todos os problemas do intestino”

Na terceira e última entrevista de nossa série sobre o glúten, conversamos com o gastroenterologista Peter Gibson, professor da Universidade Monash, na Austrália. O pesquisador ficou conhecido ao publicar os primeiros experimentos sobre a existência da sensibilidade não celíaca ao glúten, nos anos de 2011 e 2013. Na entrevista, ele fala sobre a possibilidade de o problema não ser provocado pela proteína, mas por outras substâncias presentes no trigo.

A reportagem de capa da edição de fevereiro da revista SAÚDE é justamente sobre a polêmica que envolve a proteína presente em grãos como o trigo, o centeio e a cevada. Ela está disponível nas bancas de todo o país e em versão digital para compra e download no iba, na App Store e no Google Play.

Plantas como o trigo sofreram modificações genéticas que podem impactar a saúde humana?

As mais diferentes variedades de trigo foram desenvolvidas para suportar condições extremas, como a seca, e ainda assim promover aumento da produção. Isso levou a mudanças na composição do grão, como maiores quantidades de carboidrato, já que essa vantagem é utilizada pela própria planta para crescer diante de situações nada favoráveis. Além disso, o trigo com mais glúten faz um pão melhor. Logo, espécies com teores elevados dessa proteína foram privilegiadas na agricultura. Não se sabe, porém, se essa característica tem algum efeito na saúde do ser humano. As melhorias no plantio do trigo trouxeram grandes benefícios ao mundo, uma vez que ele é uma das maiores fontes de energia e nutrientes que temos. Mais do que isso, essas modificações contribuíram para melhorar a saúde das pessoas, pois ajudaram a combater a desnutrição.

A sensibilidade não celíaca pode estar relacionada a outros elementos além do glúten?

O trigo tem uma série de componentes e muitos deles estão relacionados à indução de sintomas. Ficou muito fácil culpar o glúten por todos os problemas do intestino. Carboidratos de difícil absorção, também presentes no trigo, podem desencadear a síndrome do intestino irritável. Mas há pessoas que são sensíveis ao glúten ou a outras proteínas presentes no trigo. Sem contar que existe uma série de alergias relacionadas ao grão que também precisam ser consideradas.

Esse campo de pesquisa sobre a sensibilidade não celíaca ainda é muito recente? Ou já temos confirmações sobre seus mecanismos?

Nós estamos conduzindo quatro grandes estudos. Neles, recrutamos voluntários que responderam bem a uma dieta sem glúten e reintroduzimos a proteína na alimentação em metade do grupo. Nas quatro pesquisas, nós encontramos uma porção de indivíduos que desenvolveu sintomas por causa do glúten, mas, em outra parte, os incômodos não estavam relacionados ao componente em si. O que podemos concluir é que efeitos induzidos pelo glúten especificamente são bastante incomuns. Os trabalhos atuais levam a entender que cerca de 90% dos pacientes com alimentação sem glúten se sentem bem por outros motivos, e não pela exclusão da proteína em si.

Como diagnosticar a sensibilidade não celíaca?

A única maneira seria realizar estudos controlados, em que nem os voluntários, nem os cientistas, saibam quem está ingerindo a proteína e quem não está. Mesmo se tivéssemos essa possibilidade, os resultados são de difícil interpretação, especialmente quando a resposta do indivíduo está relacionada a um fator psicológico. Por enquanto, não sabemos como realizar o diagnóstico. Quando entendermos o mecanismo fisiológico do problema, nós conseguiremos detectar a sensibilidade com precisão.

As estatísticas dizem que 1% da população tem doença celíaca e 5% manifesta a sensibilidade não celíaca. Porém, um terço das pessoas diz querer retirar o glúten da rotina. Como interpretar esse conflito estatístico?

Nós ainda não sabemos quantas pessoas realmente têm a sensibilidade não celíaca. Conhecemos, porém, os 15% da população com síndrome do intestino irritável. Inclusive, uma grande proporção deles desenvolvem sintomas relacionados à ingestão de determinados alimentos, mas nunca procuraram o médico para saber o que está acontecendo. Reduzir a ingestão de trigo pode ajudar pelo menos 70% das pessoas que fazem parte deste grupo. Não por causa do glúten, mas porque eles deixarão de consumir um importante exemplar dos carboidratos de difícil digestão, conhecidos pela sigla FODMAPs.

Fonte: http://saude.abril.com.br/alimentacao/ficou-facil-culpar-o-gluten-por-todos-os-problemas-do-intestino/

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