Um antioxidante chamado sulforafano, encontrado no brócolis, pode oferecer uma nova opção para o tratamento do diabetes tipo 2, de acordo com um estudo publicado on-line em 14 de junho no periódico Science Translational Medicine.
"Identificamos uma substância denominada sulforafano com ação comprovada na redução da exacerbação da produção hepática de glicose, que é um mecanismo central do diabetes tipo 2", disse ao Medscape o primeiro autor do estudo, o Dr. Anders Rosengren, médico da Universidade de Gotemburgo (Göteborgs universitet) na Suécia.
O trabalho é o primeiro a demonstrar que o sulforafano tem como alvo o aumento da produção hepática de glicose no diabetes tipo 2.
Esta pesquisa é incomum na medida em que começou como uma pesquisa genética para identificar alguma substância que pudesse ser uma boa candidata, e os pesquisadores então realizaram vários testes em linhagens celulares e em animais, até chegar aos humanos.
"Muitos estudos proclamaram os benefícios de diferentes componentes alimentares, mas poucos investigaram o mecanismo deles", explicou o Dr. Rosengren.
O estudo utilizou extrato de brócolis muito concentrado, o que equivaleria a comer cerca de cinco quilos de brócolis por dia. Como é quase impossível comer essa quantidade de brócolis, o sulforafano precisa ser tomado como extrato ou concentrado. Estudos anteriores analisaram o extrato de brócolis no câncer e nas doenças inflamatórias, e constataram que ele tem poucos efeitos colaterais.
"Pensamos que o extrato de brócolis pode ser um acréscimo muito interessante aos tratamentos que já temos", disse o Dr. Rosengren. "Quando o administramos aos pacientes e dosamos a glicemia antes e 12 semanas após o tratamento, observamos melhora significativa da glicemia de jejum e da HbA1c em pacientes obesos com diabetes tipo 2 descompensada.
Os resultados são "muito instigantes", acrescentou, ressaltando, no entanto, que é necessário realizar mais estudos antes do extrato poder ser recomendado para os pacientes com diabetes.
De ratos a homens...
Os pesquisadores usaram dados de expressão gênica para identificar uma rede de 50 genes que participam da produção hepática exacerbada de glicose no diabetes tipo 2. A seguir, testaram 3.800 substâncias, e usaram modelos matemáticos para ver qual fazia a melhor modulação negativa dos genes com expressão exagerada. Assim o sulforafano foi identificado como o principal candidato.
Outros estudos mostraram que o sulforafano diminuiu a produção da glicose nas células hepáticas de ratos. Os pesquisadores então examinaram o sulforafano em ratos e camundongos com diabetes induzido por dieta, e descobriram que a substância evitou o surgimento da intolerância à glicose. Ela também melhorou a tolerância à glicose nos animais que já tinham intolerância à glicose, em grau similar ao proporcionado pela metformina.
Por fim, os pesquisadores testaram o sulforafano em um ensaio clínico randomizado e duplo-cego, controlado com placebo, em humanos com diabetes tipo 2.
Todos os participantes estavam tomando metformina – 60 tinham diabetes compensado enquanto 37 tinham diabetes descompensado (20 eram não obesos e 17 eram obesos). Os participantes foram randomizados para receber extrato de brócolis ou placebo durante 12 semanas.
No grupo do extrato de brócolis, os níveis de HbA1c diminuíram significativamente após 12 semanas (P = 0,004), enquanto o grupo do placebo não mostrou diferença em relação ao início do estudo (P = 0,5).
Os participantes que iniciaram o estudo com diabetes descompensado apresentaram redução significativa da glicemia de jejum com o extrato de brócolis em comparação com o placebo (P = 0,233). E, especificamente, nos pacientes obesos com diabetes descompensado que receberam extrato de brócolis, tanto a glicemia de jejum quanto a HbA1c diminuíram significativamente em comparação com o placebo (P = 0,036 e P = 0,034, respectivamente).
No entanto, o extrato de brócolis não demonstrou efeito nos participantes com diabetes compensado.
Alguns pacientes que receberam o extrato apresentaram desconforto gastrointestinal e flatulência. Mas estes sintomas desapareceram após os primeiros dias, e não houve diferença significativa de efeitos adversos entre o grupo do extrato de brócolis e o do placebo.
Qual é o potencial mecanismo?
O trabalho também identificou um possível mecanismo para os efeitos do sulforafano nesses pacientes – a modificação de um fator de transcrição chamado fator nuclear 2 (eritroide-2) (Nrf2, do inglês Nuclear factor (erythroid-derived 2)-like 2), que promove modificações hepáticas de modo a diminuir a expressão das principais enzimas envolvidas na produção de glicose.
Os pacientes obesos podem se beneficiar mais do extrato porque a produção hepática de glicose é particularmente exacerbada na obesidade, explicou o Dr. Rosengren.
"Mais estudos são necessários, no entanto, antes de que o extrato de brócolis possa ser recomendado para os pacientes", reiterou o pesquisador.
Dr. Rosengren e colaboradores planejam agora testar o extrato de brócolis nas pessoas com pré-diabetes para ver se ele pode ajudar a prevenir a doença.
Atualmente, os pesquisadores estão trabalhando com uma organização de fazendeiros suecos chamada Lantmännen para disponibilizar o extrato formulado como alimento funcional.
O estudo foi patrocinado pela Lunds Universitet. A Lantmännen forneceu o extrato de brócolis e o placebo para o estudo, e o Lantmännen Research Fund financiou parte do estudo. A Lantmännen informa não ter nenhuma influência nos procedimentos do estudo, na análise dos dados ou na interpretação de dados. Dr. Anders Rosengren informa não ter conflitos de interesse relacionados ao tema. Dois coautores são inventores de pedidos de patentes apresentados pela Lunds Universitet, que cobrem o uso do sulforafano para o tratamento da produção exacerbada de glicose hepática. Os direitos de uso desta patente foram concedidos para a Lantmännen.
Sci Transl Med. Publicado on-line em 24 de junho de 2017.
Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501327#vp_2
sábado, 8 de julho de 2017
Antioxidante no brócolis pode ajudar a combater o diabetes
Postado por
Dr. Frederico Lobo
às
19:14
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