quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sozinho, exercício não emagrece, mas aumenta músculo e limita fome


Reportagem bem interessante publicada na folha de São Paulo. Corrobora com aquilo que ha anos falo para os meus pacientes obesos. Principalmente no SUS (ambulatório de Nutrologia que coordeno), onde muitos não possuem condição de pagar uma academia e acham que isso é fator limitante para o processo de emagrecimento.

Deixo claro que o efeito da atividade física é baixo na eliminação de gordura. PORÉM, ela tem um efeito quase medicamentoso promovendo:

  • Redução da pressão arterial
  • Aumento da taxa metabólica basal mesmo que pequeno
  • Aumento da massa magra
  • Aumento da densidade mineral óssea evitando osteoporose
  • Aumento da produção de beta-endorfinas com redução dos níveis de estresse e ansiedade
  • Melhora da produção de testosterona e GH
  • Redução dos níveis de cortisol
  • Melhora do sono
  • Redução do apetite (EM ALGUNS PACIENTES, pois outros referem o contrário)
  • Manutenção do peso eliminado

Smartphones sequestram a capacidade cognitiva



Ter um smartphone por perto reduz a capacidade cognitiva, mesmo quando o telefone está desligado, mostra uma nova pesquisa.

Uma equipe de pesquisadores liderada por Adrian Ward, PhD, professor-assistente da McCombs School of Business, da University of Texas, em Austin, realizou dois estudos nos quais cerca de 800 estudantes de graduação iniciaram uma tarefa cognitiva com seus smartphones colocados perto e à vista, perto e fora da visão ou em outra sala.

Os pesquisadores descobriram que a mera presença do smartphone afetou negativamente a capacidade cognitiva disponível, mesmo quando os participantes conseguiram manter a atenção, quando não estavam usando o celular e quando informaram não ter pensado no telefone. Estes efeitos cognitivos foram mais fortes nos participantes que disseram ter maior dependência do smartphone.
"Não que os participantes estivessem distraídos porque receberam notificações em seus celulares", disse o Dr. Ward em um comunicado à imprensa. "A simples presença do smartphone bastou para reduzir a capacidade cognitiva deles".

O estudo foi publicado on-line em 3 de abril no periódico Journal of the Association for Consumer Research.

Dreno cerebral

"A proliferação dos smartphones deu início a uma era de conectividade sem precedentes", escrevem os autores.

"À medida que as pessoas se voltam cada vez mais para as telas dos smartphones para gerenciar e melhorar a vida diária, devemos nos perguntar como a dependência desses dispositivos afeta a capacidade de pensar e de funcionar no mundo fora da tela", acrescentam os pesquisadores.

Eles também indicam que pesquisas anteriores se concentraram em como as interações dos consumidores com seus smartphones podem facilitar e interromper o desempenho fora da tela.
O presente estudo difere porque se concentra em uma "situação anteriormente inexplorada" (porém comum): quando os smartphones não estão sendo usados, mas estão meramente presentes.

Para investigar esta questão os pesquisadores realizaram dois experimentos relacionados.
No primeiro experimento testaram a "proposição de que a simples presença próprio smartphone reduz a capacidade cognitiva disponível, medida pelo desempenho em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC, do inglês Working Memory Capacity) e inteligência fluida", ambas construções de domínio geral, que são restringidas pela disponibilidade dos recursos atencionais e pela disponibilidade momentânea destes recursos".

Os participantes (N = 520; média de idade de 21,1 anos; desvio-padrão de 2,4) foram distribuídos aleatoriamente para um dos três grupos, diferenciados pela localização do celular.

O grupo "da outra sala" deixou todos os pertences, incluindo os celulares, na entrada, antes de ir para a sala de testes. Os participantes do grupo "da mesa" deixaram a maior parte dos pertences na entrada, mas levaram os celulares para a sala de testes, onde foram instruídos a colocá-los virados para baixo em um local designado nas mesas que ocupavam.

Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" levaram todos os pertences para a sala de testes e mantiveram os celulares no bolso ou na bolsa.

Os participantes completaram duas tarefas destinadas a medir a capacidade cognitiva disponível: uma tarefa de operação automática (OSpan, do inglês Automatic Operation Span Task) e um subconjunto de 10 itens das matrizes progressivas padronizadas de Raven (RSPM, do inglês Raven's Standard Progressive Matrices).

Os participantes também fizeram um teste que exigia um cálculo matemático e um questionário sobre as próprias experiências no laboratório, e a opinião deles sobre a conexão entre os smartphones e o desempenho.

As comparações pareadas revelaram que os participantes do grupo "da outra sala" apresentaram melhor desempenho do que aqueles do grupo "da mesa" (P = 0,002). Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" não apresentaram resultados significativamente diferentes daqueles do grupo "da mesa" (P = 0,09) ou "da outra sala" (P = 0,11).

Uma análise de contrastes planejada revelou uma tendência linear significativa no sentido mesa → bolso ou bolsa → outra sala, e nenhuma tendência quadrada, "sugerindo que, à medida que a visibilidade do smartphone aumenta, a capacidade cognitiva disponível diminui", escrevem os autores.

Os pesquisadores realizaram uma análise unidirecional ANOVA das respostas dos participantes à pergunta "ao realizar as tarefas de hoje, com que frequência você pensou no seu celular?", e não encontraram relação entre a localização do celular e os pensamentos relacionados com ele (P = 0,43). Na verdade, a frequência modal de pensar no celular informada pelos próprios participantes em cada grupo foi "nenhuma".

Diminuição da capacidade cognitiva

No segundo experimento os pesquisadores investigaram os efeitos da visibilidade do smartphone em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC) e uma medida comportamental de atenção sustentada com 275 alunos de graduação (média de idade de 21,3 anos, desvio-padrão de 2,6).
Os pesquisadores replicaram o projeto básico da primeira experiência, com várias exceções. Foram usadas as mesmas três localizações de celular e a experiência utilizou um modelo interparticipante de celular ligado ou desligado. Os participantes do grupo "da mesa" foram instruídos a colocar os próprios celulares virados para cima. Os participantes de todos os grupos foram instruídos a deixar os celulares "ligados" ou "desligados".

A seguir, os participantes fizeram duas medidas-chave dependentes: a tarefa OSpan e a tarefa fazer/não fazer dependendo da instrução, que serve como uma medida de atenção sustentada. Os participantes informavam então a dificuldade subjetiva de cada tarefa.

Os participantes também responderam a perguntas exploratórias sobre as próprias diferenças individuais de uso e conexão com seus smartphones.

Tal como na primeira experiência, as comparações pareadas revelaram que os participantes do grupo "da outra sala" tiveram um desempenho significativamente melhor na tarefa OSpan do que os do grupo "da mesa". Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" não apresentaram resultados significativamente diferentes dos resultados dos outros dois grupos. A análise de contrastes planejada foi igualmente similar.

"Os efeitos nulos do poder e da interação poder vs localização sugerem que a diminuição do desempenho não está relacionada com as notificações recebidas (ou à possibilidade de receber notificações), descartando esta explicação alternativa dos efeitos encontrados no primeiro experimento", comentam os autores.

Os pesquisadores descobriram que as diferenças individuais na dependência dos smartphones moderaram o comprometimento cognitivo. Os participantes que dependiam mais dos próprios smartphones apresentaram pior desempenho do que aqueles menos dependentes, mas apenas quando mantiveram os celulares no bolso ou na bolsa ou na mesa.

"Ironicamente, quanto mais os consumidores dependem de seus smartphones, mais eles parecem sofrer com a presença dos aparelhos – ou, em uma leitura mais otimista, mais eles podem se beneficiar da ausência deles", observam os pesquisadores.

"Vemos uma tendência linear que sugere que, à medida que o smartphone se torna mais visível, a capacidade cognitiva disponível dos participantes diminui", disse Ward.

"Sua mente consciente não está pensando em seu smartphone, mas esse processo – o processo de se exigir não pensar em algo – usa alguns de seus recursos cognitivos limitados. É um dreno cerebral".
Implicações "assustadoras"

Comentando o estudo para o Medscape, Larry Rosen, PhD, professor emérito de psicologia, California State University, em Dominguez Hills, disse que o estudo foi "muito bem feito e bem executado, mas também um tanto assustador".

"Nosso grupo monitorou estudantes estudando. Quando eles estudam, eles mantêm o telefone ao lado deles. E a norma – mesmo que o trabalho seja realmente importante e que eles saibam que estamos observando – é estudarem apenas 10 em 15 minutos, que é a capacidade máxima de prestar atenção e não ter o impulso de checar o celular", informou.

"As pessoas checam seus celulares, mesmo que o aparelho não vibre ou não recebam notificações, o que é um produto da nossa imersão neste mundo de smartphones", disse Rosen, que é autor do livro The Distracted Mind – em português,  A Mente Distraída – (MIT Press, 2016).

"Sabemos que esse comportamento aumenta a ansiedade e também diminui o poder do cérebro, criando dificuldades de processar informações", disse ele, "o que faz muito sentido quando a informação que você deveria estar assimilando está sendo distraída pelo dispositivo. Como você pode lembrar ou processar algo em profundidade se o faz apenas por alguns minutos"?

Ele disse que o estudo tem implicações importantes para os médicos. "Você precisa estar ciente de que qualquer mensagem que esteja transmitindo aos seus pacientes provavelmente não está sendo ouvida claramente, porque provavelmente você não permite que eles usem o celular durante a consulta, então o cérebro deles está, em parte, ausente. Você pode pedir a eles que reflitam, mas o que eles estão realmente pensando é: "já faz tempo que eu não checo meu Snapchat ".

Além disso, os médicos devem respeitar o próprio comportamento neste quesito, e não checar mensagens no meio de uma consulta. Se necessário, você e o paciente podem fazer uma pequena pausa para olhar o celular".

Os pesquisadores sugerem várias tácticas para refrear "o dreno cerebral", observando que, à luz das descobertas, colocar o celular virado para baixo ou virado para cima e desligado "é provavelmente inócuo". Em vez disso, "nossos dados sugerem pelo menos uma solução simples: a separação" – sobretudo "os períodos de separação definidos e protegidos".

Os pesquisadores concluem que seu estudo "contribui para a crescente discussão entre consumidores e profissionais de marketing sobre a influência da tecnologia nos consumidores – e dos consumidores na tecnologia – em um mundo a cada dia mais conectado".

O subsídio desta pesquisa foi fornecido pelo Atkinson Behavioral Lab. Os autores informaram não possuir nenhum conflito de interesses relativo ao tema.

Journal of the Association for Consumer Research. Publicado on-line em 04 de abril de 2016. Artigo

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501437?src=soc_fb_170816_mscpmrk_portpost_5901437_smartphonescapacidadcognitiva#vp_1

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Um terço dos casos de demência pode ser prevenível com modificações de estilo de vida

Mais de um terço dos casos de demência no mundo pode ser evitável ​​ao abordar nove fatores de estilo de vida que modificam o risco individual, de acordo com os resultados de um novo artigo detalhado da The Lancet Commission on Dementia Prevention, Intervention and Care (Comissão sobre prevenção, intervenção e tratamento da demência do Lancet).

O trabalho, apresentado na Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2017 e publicado simultaneamente no periódico The Lancet, foi compilado por 24 especialistas internacionais no campo da demência, que revisaram a literatura disponível na área e realizaram uma nova meta-análise que incluiu alguns fatores de risco não considerados nas análises semelhantes feitas anteriormente.

Os pesquisadores descobriram que nove fatores de estilo de vida são responsáveis ​​por 35% do fardo da demência. Esses fatores são: não completar o ensino secundário no início da vida; hipertensão; obesidade e perda de audição na meia idade; e tabagismo, depressão, inatividade física, isolamento social e diabetes na vida adulta.

"Consideramos apenas fatores de risco para os quais havia dados suficientes para tirar conclusões significativas, então provavelmente estamos subestimando a importância do estilo de vida, mas certamente podemos dizer que ele proporciona uma grande contribuição", disse a primeira autora, a Dra. Gill Livingston, do University College London(Reino Unido).

O relatório de longo alcance também aborda as intervenções e estratégias de tratamento para os pacientes com demência e comprometimento cognitivo.


"Nós apresentamos recomendações simples para os médicos sobre o que eles podem fazer em termos de tratamento", disse a professora Gill. "Descrevemos os caminhos terapêuticos mais baseados em evidências".

Dez mensagens fundamentais do relatório:

  1. O número de pessoas com demência está aumentando em todo o mundo, embora a incidência em alguns países tenha diminuído.
  2. Seja ambicioso em termos de prevenção. As recomendações englobam tratamento ativo da hipertensão; melhorar a educação infantil, exercício, engajamento social; reduzir o tabagismo e tratar a perda auditiva, a depressão, o diabetes e a obesidade.
  3. Tratar os sintomas cognitivos. Para otimizar a cognição, as pessoas com doença de Alzheimer ou demência com corpos de Lewy devem receber inibidores da colinesterase em todas as etapas, ou memantina na demência grave. Os inibidores da colinesterase não são eficazes no comprometimento cognitivo leve.
  4. Individualizar o tratamento da demência. O bom tratamento da demência deve ser adaptado às necessidades, preferências e prioridades individuais e culturais únicas, e deve incorporar o suporte para os familiares que cuidam do paciente.
  5. Cuide dos familiares que cuidam dos pacientes. Os familiares estão em alto risco de depressão. Deve-se disponibilizar intervenções eficazes para reduzir o risco de depressão e tratar os sintomas.
  6. Planeje o futuro. Pessoas com demência e as famílias delas valorizam as discussões sobre o futuro e as decisões sobre possíveis advogados para tomar decisões. Os médicos devem considerar a capacidade de tomar diferentes tipos de decisões no momento do diagnóstico.
  7. Proteja as pessoas com demência. Esses pacientes precisam de proteção contra a auto-negligência, a vulnerabilidade (incluindo a exploração), a administração financeira, a condução de veículos ou o uso de armas. A avaliação e o gerenciamento dos riscos em todas as fases da doença são essenciais, mas devem ser ponderados em relação ao direito da pessoa à autonomia.
  8. Tratar os sintomas neuropsiquiátricos, como agitação, humor deprimido ou psicose. O tratamento geralmente deve ser psicológico, social e ambiental, com a terapia farmacológica reservada para os pacientes com sintomas mais graves.
  9. Considere o fim da vida. Um terço das pessoas mais velhas morre com demência, por isso é essencial que os profissionais que trabalham no tratamento de pessoas no fim da vida considerem se os pacientes têm demência – eles podem não conseguir tomar decisões sobre o próprio tratamento ou expressar as próprias necessidades e desejos.
  10. As intervenções tecnológicas têm o potencial de melhorar a assistência, mas não devem substituir o contato social.
Ênfase no estilo de vida

"Esta é uma estimativa mais precisa dos riscos de demência associados aos fatores de estilo de vida do que o que tínhamos anteriormente, e incluímos mais fatores de risco do que foram considerados anteriormente", disse a Dra. Gill ao Medscape.

Por exemplo, disse ela, "eles incluíram isolamento social e audição, que não eram cobertos antes, e também examinamos todo o período da vida – quando essas coisas fazem a diferença. Essas duas coisas são inovadoras. Também pudemos ver como esses fatores de risco interagem uns com os outros quando vários deles ocorrem juntos"

Os autores consideraram todas as meta-análises já disponíveis, e onde não havia nenhuma disponível eles fizeram sua própria meta-análise, observou a Dra. Gill.

"Não havia nenhuma meta-análise sobre a audição, então fizemos uma, e descobrimos que a perda auditiva dobrou o risco de demência de nove a 17 anos depois". A Dra. Gill disse que o novo relatório seria influente na elaboração de futuras políticas internacionais de saúde pública. 

"Nossos resultados mostram que nunca é cedo demais ou nunca é tarde demais para realizar modificações de estilo de vida que farão a diferença".

Frisando que cerca de 47 milhões de pessoas vivem com demência em nível mundial, e que este número será praticamente triplicado para 131 milhões até 2050 – com o número de casos aumentando mais nos países de baixa e média renda – Dra. Gill disse: "Precisamos agir agora para começar a diminuir esses números. Abordar esses fatores de estilo de vida agora poderia transformar a futura sociedade".



Devido à falta de dados, o estudo não incluiu fatores alimentares, uso de álcool, deficiência visual, poluição do ar ou sono. "Portanto, a contribuição do estilo de vida é provavelmente um pouco mais
do que 35%, mas estamos apenas falando do que as evidências mostraram", disse a Dra. Gill.

Para colocar os 35% em perspectiva, o gene ApoE4 é responsável por 7%, observa o relatório. "Dito isto, aqueles com o gene ApoE4 são conhecidos por terem um risco adicional significativamente aumentado e, portanto, essas pessoas em particular devem fazer tudo o que estiver ao alcance delas para modificar esses fatores, o que irá reduzir os riscos", disse a Dra. Gill.

Outra descoberta interessante do relatório é que ser fluente em mais de um idioma não pareceu alterar de forma independente o risco. "Observamos, quando colocamos todos os dados juntos, que ser bilíngue não foi protetor, embora as pessoas geralmente pensem que seja", afirmou a Dra. Gill. 
"Provavelmente é a educação que acompanha isso que explica os achados descritos anteriormente".
Comentando o novo relatório para o Medscape, Maria Carrillo, psicóloga e PhD, diretora científica da Alzheimer Association, o chamou de "o apanhado geral mais abrangente dos dados sobre prevenção, intervenção e cuidados já realizado".

"Este trabalho reuniu todas as informações sobre as quais ouvimos falar nos últimos anos, disse Maria. "É importante perceber que podemos fazer algo sobre o fardo do Alzheimer agora".
As descobertas sobre fatores de estilo de vida nos dão "uma esperança incrível", acrescentou. "O que precisamos fazer agora é estabelecer o formato da receita para a combinação dos nove itens que foram considerados relevantes, quais dessas descobertas são as mais acionáveis, e a seguir, fazer as recomendações de saúde pública e nos certificar de que elas alcancem os grupos que mais precisam delas – aqueles com menos recursos socioeconômicos".

Ela disse que a Lancet Commission contribuiu com novas informações importantes sobre fatores de risco individuais. "Não tínhamos dados sólidos sobre a perda de audição antes, e eles confirmaram o risco do tabagismo – tem havido tanta discussão a esse respeito", observou. "Os pesquisadores também fazem uma recomendação global para o tratamento mais agressivo da hipertensão. Tudo isso é muito acionável ​​– obter um aparelho auditivo, parar de fumar, prestar mais atenção à pressão arterial".

Maria ressaltou que a elaboração da receita de recomendações de saúde pública mais específicas virá de novos estudos de intervenção iniciando atualmente em todo o mundo. Estes incluem o estudo randomizado FINGER US anunciado nesta semana, que está testando sistematicamente várias modificações de estilo de vida em uma grande população dos EUA.

Este estudo baseia-se no estudo anterior FINGER realizado na Finlândia, que mostrou que abordar vários fatores de risco simultaneamente pode ter benefícios cognitivos para as pessoas em risco de comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer.
Comparações com o relatório NAS

O relatório do Lancet vem apenas algumas semanas após o lançamento de um relatório norte-americano semelhante sobre o Alzheimer das US National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine (NAS), chamado "Preventing Cognitive Decline and Dementia: A Way Forward ".

Este relatório concluiu que "no momento, não há força suficiente de evidências para justificar o investimento em grande escala em atividades de saúde pública destinadas a prevenir a demência". No entanto, qualificou isso dizendo "alguns resultados podem ser vistos como potenciais benefícios adicionais para intervenções de saúde pública já identificadas". Estes são o melhor controle da pressão arterial para pessoas com hipertensão e o aumento da atividade física.

Então, por que a diferença nas recomendações dessas duas grandes revisões? Representantes dos dois grupos disseram ao Medscape que eles abordaram a questão de diferentes perspectivas, com o relatório do NAS se concentrando nas evidências de benefícios demonstrados em estudos de intervenção, enquanto o relatório do Lancet teve um foco mais amplo, e incluiu mais ênfase nos dados epidemiológicos.

O Dr. Lon Schneider, médico da Keck School of Medicine, da University of Southern California, em Los Angeles, e membro da equipe do The Lancet, disse: "nosso relatório foi provavelmente mais abrangente sobre as possibilidades de prevenção e, sim, provavelmente fomos mais agressivos em nossa interpretação sobre o que pode ser feito".

O Dr. Ron Petersen, médico da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, que fez parte do comitê do NAS, acrescentou: "estávamos mais focados nos estudos de intervenção, e demos maior importância aos ensaios clínicos randomizados e à própria doença de Alzheimer, enquanto este novo relatório do Lancetcolocou mais ênfase na prevenção com base em estudos epidemiológicos. Eles também adotaram uma visão mais ampla, abrangendo todas as deficiências cognitivas e demências – não apenas a doença de Alzheimer".

"As projeções deles são muito interessantes, mas são mais hipotéticas do que as nossas", acrescentou. "Não estamos em desacordo com eles, e recebemos este novo relatório de braços abertos – isto ajudará a impulsionar o financiamento de novas pesquisas e ações para enfrentar este enorme problema da deficiência cognitiva e da demência na população que envelhece em todo o mundo".
A The Lancet Commission fez parceria com University College London, Alzheimer's Society UK, Economic and Social Research Council e Alzheimer's Research UK. Essas organizações forneceram ajuda financeira e prática, mas não tiveram nenhum papel na redação do manuscrito.

Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2017. Resumos 19550, 19551, 19552 e 19553. Apresentado em 20 de julho de 2017.

Lancet. Publicado em 20 de julho de 2017. Resumo

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501438?src=soc_fb_share#vp_2


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Neurocientista do MIT tem uma receita infalível para o estresse

Para Tara Swart, a ciência provou que conviver durante muito tempo com incertezas reduz a produtividade

São Paulo — Em meio a qualquer crise, ninguém escapa à rotina de incertezas. Eis uma receita infalível para o estresse.  “A sensação de falta de controle faz o organismo produzir o hormônio cortisol em maior quantidade”, diz a psiquiatra britânica Tara Swart. “Quando esse cenário se prolonga, cria-se o chamado ‘modo de sobrevivência’.” Uma das consequências é a queda da capacidade de ter empatia e de ser criativo, dois efeitos nefastos para profissionais e empresas que, mais do que nunca, precisam ganhar produtividade.

Formada em medicina na Universidade de Oxford e doutora em neurociência, Tara trocou o trabalho em hospitais há quase dez anos para fundar uma consultoria especializada em atender companhias que passam por grandes mudanças e executivos submetidos a elevados níveis de pressão. Segundo ela, para desenvolver resiliência, é preciso entender e cuidar da saúde cerebral. Tara tem clientes como a empresa de tecnologia Google, a fabricante de bebidas SAB Miller e a companhia de mídia BBC. Nos dois cursos de extensão que leciona desde 2014 na faculdade de administração do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), promete ensinar a criar um padrão mental voltado para o crescimento e para a resiliência. De Londres, Tara deu a entrevista a seguir.

Exame – O que acontece quando as pessoas são submetidas a períodos prolongados de incertezas?

Tara – A sensação de falta de controle e as incertezas fazem o organismo produzir maior quantidade de cortisol, hormônio do estresse. Quando esse cenário se prolonga, o corpo tende a se retirar ao que é chamado de “modo de sobrevivência”. Isso significa que o cérebro responde ao  perigo percebido extraindo o sangue de todas as funções que não julga estritamente necessárias para a sobrevivência.

Exame – Quais as consequências dessa condição?

Tara – Entre as principais funções suprimidas  pelo cérebro nesse modo de sobrevivência estão as relacionadas à capacidade de regular as emoções, bem como ter empatia e pensar de forma criativa. Isso leva a um desempenho profissional mais fraco ou, na melhor das hipóteses, impede que as pessoas deem o melhor de si mesmas. Além disso, é comum ter aquela voz negativa em sua cabeça que diz coisas como “eu deveria ir embora do país”, “minha empresa vai quebrar”, “não confio em minha equipe ou em meu chefe”.

Exame – O que a ciência já descobriu a respeito de como manter o cérebro mais produtivo e ter um comportamento resiliente, mesmo em condições adversas?

Tara – A ciência provou que, para manter o cérebro em alto desempenho, só existe um caminho. É preciso prover descanso, combustível, hidratação, oxigenação e adotar um padrão de hábitos que chamo de simplificação. A primeira condição é ter um sono de qualidade que passe pelos diferentes ciclos de ondas cerebrais, e não do tipo que acorda várias vezes durante a noite. Caso contrário, isso vai afetar sua capacidade cognitiva no dia seguinte. Eis um aspecto comumente impactado em momentos de estresse. Combustível é muito importante para a tomada de decisão porque o cérebro usa de um quarto a um terço da energia oriunda do que você come. Cerca de 2 horas depois da digestão, ele já não consegue ter seu melhor desempenho. Há pesquisas sobre juízes tomando decisões mais severas em relação aos réus quanto mais distantes estavam do horário em que haviam feito uma refeição. Logo que se alimentavam, estavam mais abertos a ouvir e ponderar. Mas não vale qualquer combustível.

Certos alimentos são mais eficientes nesse sentido. Alguns exemplos são peixes gordurosos, como o salmão, ovos, abacate, nozes, sementes e bons óleos, como o de coco e o azeite de oliva. Hidratação, basicamente, é beber meio litro de água para cada 15 quilos de peso corporal. Quem sua muito, bebe café ou álcool precisa de mais água ainda. Ninguém dirige seu carro sem checar a água e o óleo. Mas muitos trabalham sem estar hidratados o suficiente, e isso não é bom, especialmente para quem é pago para usar o cérebro. Há ainda a oxigenação, o que significa não estar sedentário durante todo o dia. Num nível mais simples, pode-se caminhar para reuniões, entre salas ou ao lado de um colega enquanto conversam. Se tiver uma reunião ou uma decisão importante a fazer, caminhe antes ao redor da sala ou faça dez respirações profundas. E, finalmente, simplifique sua rotina. Nesse aspecto, refiro-me a duas coisas: praticar e manter a atenção plena e ter um regime de redução de escolhas.

Exame – Como essa filosofia minimalista pode ser aplicada à rotina de uma pessoa?

Tara – Ter uma rotina fixa pela manhã ajuda a economizar energia. Essa é a razão pela qual Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, usa a mesma roupa todos os dias.  Parece algo anedótico, quase caricato, mas tem uma função: preservar seu poder de decisão para o que realmente interessa ou fará a diferença naquele momento. Aos que têm filhos e trabalham, sugiro escolher suas roupas e a dos filhos na noite anterior, no momento em que o poder de seu cérebro está baixo, de qualquer forma. A atenção plena ao que é enfrentado no momento presente ajuda a lidar com as emoções e a preparar o cérebro para resolver múltiplas decisões difíceis. Cerca de 80% das pessoas bem-sucedidas têm algum tipo de prática regular de mindfullness, a aplicação da atenção plena, com exercícios inspirados na meditação. Muitos usam algum aplicativo para smartphones, como o Calm ou Headspace. Basta colocar os fones de ouvido, escutar o que a voz lhe fala e seguir as instruções.

Exame – Na prática, como as empresas podem ajudar as pessoas a lidar com as dificuldades do dia a dia e ainda gerenciar o próprio estresse?

Tara – Uma vez por ano eu coordeno um grande projeto de bem-estar em empresas que envolve exames de sangue para checar quão estressados os funcionários estão.  Com o uso de um equipamento medimos como anda a qualidade do sono das pessoas, sua resiliência, quanto estão fazendo de exercícios físicos. E fazemos com que elas percebam como o estresse afeta o comportamento delas. Isso é possível com uma experiência. Deixamos à disposição comidas e bebidas de todos os tipos durante uma semana. Então, conseguimos identificar tendências e relacionar, por exemplo, um grau mais alto de estresse ao costume de comer mais porcarias e beber mais álcool. Em seguida, verificamos o impacto dessa mudança de hábitos no comportamento e na capacidade de concentração e de tomada de decisão. Assim fica mais fácil mostrar a relação de causa e efeito entre os hábitos e a produtividade cerebral e provar que vale a pena tentar mudar alguns padrões.

Exame – O que mais é possível fazer, além de monitorar e tentar incentivar um comportamento mais saudável?

Tara – As companhias podem facilitar a escolha desse estilo de vida, colocando à disposição água de qualidade e alimentação saudável. Algumas empresas, como o Google, têm aulas de ioga e meditação guiada ou lugares onde os funcionários possam cochilar ou ficar em silêncio e dar um tempo dos equipamentos digitais em algum momento do expediente. As empresas também podem oferecer aos gestores treinamentos em noções de neurociência, como fez o banco britânico Standard Chartered e a companhia anglo-sul-africana de bebidas SAB Milller. Entender o funcionamento do cérebro afeta o estilo de gestão e a dinâmica como as equipes são conduzidas. São políticas e infraestrutura que têm de fazer parte da cultura das empresas.

Exame – Nos últimos anos, novos cursos e consultorias passaram a aplicar a neurociência aos negócios. Por que esse se tornou um assunto corporativo?

Tara – As pessoas precisam estar com a saúde cerebral em forma. Sobretudo na indústria do conhecimento. E a ciência avançou nesse sentido. O primeiro exame de ressonância magnética funcional, que  mostra a reação cerebral a variados estímulos e experiências, surgiu há 26 anos. E vem sendo aperfeiçoado rapidamente, principalmente nos últimos anos. Antes disso, tínhamos a psicologia. Agora, além de saber como as pessoas pensam e sentem, compreende-se o impacto de hormônios e neurotransmissores no comportamento.

Exame – Qual é a nova fronteira desse tipo de análise da neurociência nas empresas?

Tara – Algumas empresas começam a aplicá-la no recrutamento e na construção de equipes. De certa maneira, conhecer a neurociência ajuda a entender as diferentes formas de pensar das pessoas. Há cada vez mais evidências de que times com diversidade cognitiva têm melhor desempenho. Um estudo realizado por David Lewis, diretor da Escola de Negócios de Londres, e Alison Reynolds, da Escola de Negócios Ashridge, na Inglaterra, mostrou que times mais diversos no aspecto cognitivo terminaram uma determinada tarefa em 22 minutos, em média. Os demais, menos variados, levaram até 1 hora e ainda assim nem concluíram a mesma atividade. A explicação é que há tipos complementares. Pessoas com diferentes estilos de processar informações, como um detalhista e um generalista, trabalhando juntos tendem a resolver desafios mais rapidamente. Não é simples, no entanto, determinar o estilo de comportamento de uma pessoa e colocá-la numa caixa. Menos ainda dizer que ela sempre permanecerá da mesma maneira. É importante considerar que é possível mudar padrões de comportamento. O cérebro tem uma plasticidade muito grande — eis outra descoberta recente.