- Os métodos de dosagem de testosterona disponíveis atualmente foram feitos para homens, que têm valores de testosterona 3 a 10 vezes superiores aos das mulheres. Esses métodos não conseguem dosar de forma confiável valores mais baixos, normais para as mulheres
- Em situações em que haja uma base fisiopatológica para o baixo nível de testosterona, como em mulheres ooforectomizadas, por exemplo, não há sintomas ou sinais clínicos característicos que possam ser atribuídos à diminuição da testosterona, como cansaço, redução de massa muscular ou libido prejudicada em relação às demais mulheres.
No entanto, devido a seus efeitos estimuladores, a testosterona vem sendo usada em homens e mulheres em doses farmacológicas, elevando os níveis séricos nas mulheres para além de 100 ng/dL, acima da faixa de referência (estes, sim, dosáveis, pois se aproximam dos masculinos), apesar de não haver qualquer recomendação nem estudos conclusivos acerca de benefícios e riscos a longo prazo.
Os objetivos dessa prática não aprovada são:
- Estéticos: aumento de massa muscular, com transformação de parte da gordura em músculos (efeito bem conhecido do doping atlético)
- Energéticos: redução de cansaço, maior capacidade de fazer exercícios
- Comportamentais: excitação, humor menos deprimido
- Sexuais: aumento de libido.
Esse uso, porém, envolve diversos riscos. Em uma revisão recente incluindo 35 estudos randomizados com 5.035 mulheres [2] que usaram doses ligeiramente suprafisiológicas, observou-se redução significativa de HDL-colesterol e aumento de LDL-colesterol, acne e hirsutismo.
Com níveis maiores foram descritos queda de cabelos e engrossamento da voz, geralmente irreversíveis.
A testosterona sabidamente aumenta a gordura visceral em mulheres, o que está associado a maior resistência insulínica e risco aumentado de diabetes. Além disso, há aumento do hematócrito, risco de policitemia e maior viscosidade sérica, retenção de líquidos e elevação da pressão arterial.
Outra preocupação é que a testosterona se aromatiza em estrógenos, o que pode estimular receptores na mama e no endométrio e potencialmente aumentar o risco de proliferação e câncer.
É também importante mencionar o impacto da testosterona no fígado e a susceptibilidade que determinados indivíduos podem ter a tumores hepáticos.
Portanto, não há estudos que garantam a segurança do uso de testosterona em mulheres, e não há dose segura.
Referências bibliográficas
- Wierman ME, Arlt W, Basson R et al. Androgen therapy in women: a reappraisal: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3489-510.
- Elraiyah T, Sonbol MB, Wang Z et al. Clinical review: The benefits and harms of systemic testosterone therapy in postmenopausal women with normal adrenal function: a systematic review and meta-analysis. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3543-50.
Sobre o autor: Ruth Clapauch é PhD em Biociências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Medicina (Endocrinologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Visitante da UERJ. Orientadora de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (FISCLINEX) da UERJ, grau 7 da Capes. Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Endocrine Society. Presidente da Comissão de Educação Médica Continuada e Vice-Presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM.
Fonte: http://genmedicina.com.br/2017/03/27/uso-de-testosterona-em-mulheres-dra-ruth-clapauch/
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