Lactentes com alergia à proteína do leite de vaca apresentam níveis inadequados de vitamina D?
Este estudo transversal envolveu 120 crianças de até dois anos, sendo um grupo de 59 lactentes com alergia à proteína do leite de vaca (APLV), e outro grupo de controle composto por 61 lactentes saudáveis, atendidos em ambulatórios de um hospital universitário da Universidade Federal de Pernambuco (UFP).
Os autores aplicaram um questionário e aferiram os níveis de vitamina D por meio do teste 25(OH)D, considerando inadequados os níveis menores que 30 ng/ml. Foi considerada deficiência quando o resultado foi inferior a 20 ng/ml, insuficiência quando entre 21-29 ng/ml e suficiência quando igual ou superior a 30 ng/ml.
Os lactentes com APLV, quando comparados com os saudáveis, apresentaram uma menor média do nível de vitamina D (30,93 X 35,29 ng/ml; p = 0041) e maior frequência de deficiência (20,3% X 8,2%; p = 0,049). Maior frequência de níveis inadequados de vitamina foi observada em crianças com APLV que estavam em aleitamento materno exclusivo/predominante (p = 0,002). A frequência de um status inadequado de deficiência de vitamina D foi semelhante entre os grupos (p = 0,972).
Os autores concluíram que menores níveis de vitamina D foram observados em lactentes com APLV, especialmente naqueles em aleitamento materno exclusivo/predominante, que configura esse como como um possível grupo de risco para deficiência dessa vitamina.
Destaque-se que nenhuma das crianças do estudo fazia uso de suplementação vitamínica, e apenas nove mães de crianças com APLV (15,3%) e quatro mães de crianças saudáveis (6,6%) relataram ter feito suplementação de vitamina D durante o período gestacional.
Ao analisar a relação da exposição solar com os níveis de vitamina D nessa pesquisa foi verificado que a exposição solar adequada não assegurou níveis suficientes de vitamina D.
Concluem também os autores que mesmo em regiões ensolaradas , principalmente em bebês em aleitamento materno exclusivo, se avalie a suplementação vitamínica de rotina.
O desenho do estudo não permitiu estabelecer a existência de uma relação causal entre deficiência de vitamina D e o surgimento da alergia.
O fato de as mães das crianças com APLV em aleitamento materno exclusivo fazerem dieta de exclusão de leite de vaca e derivados, sem suplementação de vitamina D, pode estar relacionado à deficiência.
As principais causas da deficiência de vitamina D são a ingestão usual abaixo dos níveis recomendados; exposição solar limitada; deficiência da conversão renal da vitamina D para a forma ativa, ou má absorção induzida por medicamentos como fenobarbital, hidantoína, carbamazepina, valproato, rifampicina, isoniazida e corticosteroides.
A APLV está entre os fatores de risco para alterações na mineralização óssea, que incluem também dietas deficientes em vitamina D, hábitos de vida inadequados, baixo peso, uso de corticosteroides, e vegetarianismo puro, entre outros.
Alguns estudos, como o presente, sugerem uma maior frequência de hipovitaminose D em crianças com APLV, apesar desse grupo não estar relacionado na recomendação de rastreioi para deficiência de vitamina D, o que valoriza ainda mais o trabalho apresentado.
Referência
Silva, C.M.; Silva, S.A.; Antunes, M.M.C.; Silva, G.A.P.; Sarinho, E.S.C.; Brandt, K.G. J Pediatr (Rio J). 2017;93(6):632-638.
Fonte: Medscape Brasil
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