A crença popular de que ostras têm poderes afrodisíacos pode conter um certo grau de verdade. O estudo prospectivo LIFE (do inglês, Longitudinal Investigation of Fertility and the Environment) recrutou 501 casais que planejavam engravidar, e mostrou que os que consumiram duas ou mais porções de frutos do mar toda semana fizeram mais sexo e engravidaram mais rápido do que aqueles que comeram frutos do mar com menos frequência.
Após um ano, 92% dos casais com dieta rica em frutos do mar tinham concebido comparado com 79% dos casais com dietas que continham menos peixes e mariscos, de acordo com Audrey J. Gaskins, da Harvard T.H. Chan School of Public Health, em Boston (EUA), e colegas.
Além disso, a diminuição significativa do tempo para engravidar entre casais que comeram mais frutos do mar não parece ser completamente explicada pelo aumento da atividade sexual, segundo o artigo de Audrey e colegas, publicado on-line em 23 de maio no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.
Estudos prévios sugeriam que o maior consumo de frutos de mar poderia melhorar a quantidade e a qualidade do esperma, reduzir o risco de anovulação, beneficiar a ovulação e o funcionamento do ciclo menstrual, e melhorar a qualidade do embrião e o início do desenvolvimento dele.
“Observamos uma associação positiva entre o consumo de frutos do mar e a frequência de relação sexual (FRS), confirmando a crença popular nas propriedades afrodisíacas dos frutos do mar”, escrevem Audrey e colegas. “O consumo de frutos do mar pelos dois parceiros foi associado com maior frequência de relações sexuais e fecundidade.”
Os resultados mostraram que quando ambos parceiros comeram frutos do mar no mesmo dia, eles tiveram 39% mais chance de ter relações sexuais do que casais que não comeram frutos do mar no mesmo dia.
Além disso, casais que consumiram oito ou mais porções de peixe ou mariscos no mês tiveram taxas de fecundidade 61% maiores que casais que consumiram uma ou menos porções de frutos do mar no mesmo período. (A taxa de fecundidade foi 47% maior quando apenas o homem comeu esta quantidade de frutos do mar no mês, e 60% maior quando apenas a mulher o fez). Esta vantagem se estabilizou ao redor de 14 a 16 porções no mês.
Estes achados demonstram a necessidade de aconselhamento para os casais tentando engravidar sobre a importância da dieta na fertilidade, dizem os autores do estudo.
“Nossos resultados reforçam a importância da dieta não apenas para mulheres, mas para os homens durante o planejamento da gravidez, e sugerem que ambos devem incorporar frutos do mar em suas dietas para obter o máximo de benefício na fertilidade”, disse Audrey em um comunicado divulgado pela Endocrine Society.
Os pesquisadores lembram que frutos do mar são a fonte primária de ácidos-graxos ômega-3 de cadeia longa marinhos, que estão relacionados com marcadores de fecundidade tanto em homens quanto em mulheres. Contudo, peixes e mariscos podem conter substâncias tóxicas.
Nos Estados Unidos, cerca de 50% das grávidas, e as mulheres que estão tentando engravidar não comem as duas a três porções recomendadas de frutos do mar na semana, destacam os autores do estudo.
“Pesquisas futuras que avaliam especificamente o potencial de dano associado ao consumo de peixes predatórios são necessárias. Estes peixes tendem a conter maiores níveis de substâncias químicas e mercúrio existentes no ambiente”.
Em janeiro de 2017, a US Food and Drug Administration (FDA) e a Environmental Protection Agency (EPA) recomendaram o consumo de não mais do que três porções de frutos do mar por semana para grávidas e mulheres tentando engravidar. Estes guias, publicados para limitar a exposição fetal ao metil-mercúrio, podem não considerar o potencial benefício reprodutivo da ingestão de frutos do mar, dizem Audrey e colegas. O estudo atual preenche “esta lacuna”.
Neste estudo, 501 casais do Texas e de Michigan que estavam planejando uma gravidez e participaram do estudo LIFE 2005-2009 foram seguidos por 12 meses ou até a confirmação da gravidez. Os participantes registraram o consumo de porções de aproximadamente 115 g de peixe ou mariscos, incluindo atum enlatado, peixes, crustáceos e mariscos provenientes de fontes locais ou desconhecidas. Os participantes do estudo também preencheram um diário sobre a frequência de relações sexuais.
O estudo mostrou que o consumo de frutos do mar tanto por homens quanto por mulheres estava independentemente associado com a FRS, com uma associação um pouco mais forte para homens. Para os homens que comeram frutos do mar nove ou mais vezes por mês, a FRS foi 22,9% maior quando comparada à dos homens que comeram frutos do mar duas vezes ou menos no mês (p = 0,007).
Quando ambos parceiros comeram frutos do mar nove ou mais vezes por mês, a FRS aumentou em 21,9% quando comparada à de casais que comeram menos peixe.
Houve também uma diferença absoluta de 13% na incidência de infertilidade entre os casais que comeram frutos do mar com frequência e os que não comeram.
Este estudo teve o apoio do Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development e do National Institute of Environmental Health Sciences. Audrey J. Gaskins e os coautores do estudo declararam não possuir nenhum conflito de interesses relevante.
J Clin Endocrinol Metab. Publicado em 23 de maio de 2018
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