terça-feira, 26 de março de 2019

Alimentos ultraprocessados favorecem ganho de peso.

O cerco anda se fechando para os chamados alimentos ultraprocessados – aqueles que contêm vários ingredientes, levam pouco (ou nada) de origem natural e são feitos com um monte de aditivos “cosméticos”, como corantes e aromatizantes, além de substâncias só usadas na indústria. Não é de hoje que pesquisas indicam uma associação entre eles e problemas de saúde. Mas, por causa de diversas variáveis, os achados não permitiam cravar que se tratava de uma relação de causa e efeito. Até agora.

Um estudo liderado por Kevin Hall, pesquisador do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais, nos Estados Unidos, tem tudo para se tornar um divisor de águas nesse aspecto. Afinal, ele não se baseou naquilo que os voluntários relatavam ter comido – algo que depende da memória e da sinceridade das pessoas. No trabalho, a dieta dos participantes foi realmente controlada pelo cientista e sua equipe.

Os experts fizeram o seguinte: recrutaram 20 adultos com peso considerado saudável e os separaram em dois grupos. Enquanto um recebeu uma alimentação baseada em itens ultraprocessados (como congelados, salgadinhos, biscoitos, refrigerante e por aí vai), o outro se alimentou de comida in natura (sabe o prato de arroz, feijão, carne e salada? Entraria aqui).

Depois de duas semanas, os indivíduos trocaram de turma – assim, todo mundo experimentou os dois tipos de dieta. Vale dizer que a quantidade de alimento consumido ficava ao gosto de freguês.

Ao fim da intervenção, os investigadores notaram que, ao seguir a dieta ultraprocessada, os voluntários chegavam a consumir cerca de 500 calorias a mais por dia em relação ao grupo da comida de verdade. No fim das contas, isso resultou em uma ingestão de carboidratos e gorduras muito maior – mas não de proteínas.

Na balança, a diferença foi notória: o peso subiu mais ou menos um quilo. Lembre-se: falamos de apenas duas semanas de dieta.

Segundo o médico Carlos Monteiro, professor titular no Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), os alimentos ultraprocessados são desenhados para serem consumidos sem moderação.

“Isso se consegue com o acréscimo de grande quantidade de açúcar ou sal e gordura, além do uso intensivo de aromatizantes, corantes e outros aditivos que têm o propósito de deixar os produtos irresistíveis”, diz. “Como no caso do cigarro, o consumo moderado desses produtos não é comum”, completa.

Para ele, essa história precisa ser conhecida, já que há outra teoria sendo contada por aí: a de que uma caloria é uma caloria, independentemente de onde venha, e que basta ‘ter força de vontade e comer tudo com moderação’.

Pois, nessa pesquisa, ficou claro que não é tão simples assim. Afinal, ambas as dietas ofertavam o mesmo número de calorias e nutrientes – embora o voluntário pudesse optar por repetir a refeição. E o resultado demonstrou que as pessoas tendem a exagerar quando se trata de uma dieta ultraprocessada.

Até porque, além de superpalatável, esse tipo de dieta tende a saciar menos. É que os produtos têm alta densidade energética — ou seja, reúnem um monte de calorias em pequenas porções. “Quanto mais densa a dieta em energia, menor a saciedade por caloria consumida”, esclarece o pesquisador da USP.

Tranqueiras e risco de morte

Recentemente, outro trabalho deu o que falar. Após avaliar a dieta de 44 551 cidadãos de 45 anos ou mais, e realizar um acompanhamento entre 2009 e 2017, experts da Universidade Paris 13, na França, notaram que acrescentar só 10% de itens ultraprocessados no dia a dia já dispararia 14% a possibilidade de morrer por qualquer motivo.

Apesar de o trabalho não estabelecer a tal da relação de causa e efeito, Monteiro lembra que existem evidências de que comer tranqueira aumenta o risco de obesidade, hipertensão, problemas cardiovasculares e câncer.

E, como apontado pelo trabalho de Kevin Hall, maneirar nesses itens extremamente palatáveis não é a coisa mais fácil do mundo…

O que são, afinal, os alimentos ultraprocessados

Tanto na pesquisa americana como na francesa, os cientistas usaram a classificação chamada de NOVA como base para definir o que é um item ultraprocessado. Ela foi criada por Monteiro e sua equipe em 2009.

Os produtos que se encaixam nesse grupo tipicamente levam cinco ou mais ingredientes em sua fórmula. Mas não só: eles carregam aditivos conhecidos como cosméticos, já que têm como função alterar aroma, cor etc.

Esse recurso faz com que uma bolacha vendida como de amêndoa, por exemplo, às vezes nem tenha a oleaginosa em sua fórmula.
Outra característica comum é que esses itens apresentam ingredientes que sequer estão disponíveis para usarmos na cozinha de casa – só aparecem na indústria mesmo. É o caso de isolado proteico de soja, maltodextrina, caseína, soro de leite e tantos outros.

Segundo a classificação, a fabricação dos produtos envolve ainda processos que não possuem equivalentes domésticos, como extrusão e moldagem e pré-processamento por fritura.

O documento que descreve essa classificação traz um parágrafo que nos ajuda a entender mais sobre o tema: “O principal propósito do ultraprocessamento é o de criar produtos industriais prontos para comer, para beber ou para aquecer que sejam capazes de substituir tanto alimentos não processados ou minimamente processados que são naturalmente prontos para consumo, como frutas e castanhas, leite e água, quanto pratos, bebidas, sobremesas e preparações culinárias em geral”.

Na lista de produtos que atendem a essas características estão refrigerantes, pós para refrescos, salgadinhos de pacote, sorvetes, chocolates, biscoitos, bebidas com sabor de frutas, caldos com sabor (carne, frango e legumes), maionese e outros molhos prontos, macarrão instantâneo, além de pães de forma, cachorro-quente e hambúrguer.

Congelados, como tortas, pizzas, massas, empanados e hambúrgueres, entram aqui também. Que tal rever a participação deles na rotina?

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Fonte: https://saude.abril.com.br/alimentacao/alimentos-ultraprocessados-engordam-mesmo-e-pior-e-dificil-resistir/?utm_source=whatsapp

Caminhada matinal e interrupção do tempo sentado podem reduzir a pressão arterial por horas

Adultos de meia-idade e idosos com excesso de peso ou obesidade podem melhorar a própria pressão arterial (PA) e, consequentemente, a saúde cardiovascular, fazendo apenas uma caminhada vigorosa de meia hora pela manhã, porque o benefício é mantido por várias horas, sugere um pequeno estudo.

E, além da caminhada matinal, interrupções regulares do tempo sentado (isto é, intervalos de três minutos de caminhada moderada a cada meia hora) resultou em pressão arterial sistólica média ainda mais baixa durante as oito horas do teste – apenas nas mulheres.

O estudo com 67 adultos sedentários de 55 a 80 anos de idade foi publicado on-line em 20 de fevereiro no periódico Hypertension .

"Tradicionalmente, os efeitos na saúde do exercício e do sedentarismo foram estudados separadamente", disse o primeiro autor do estudo, Michael Wheeler, doutorando da University of Western Australia, em Perth, que trabalha no Baker Heart and Diabetes Institute, em Melbourne, em um comunicado da American Heart Association (AHA).

"Realizamos este estudo porque queríamos saber se existe um efeito combinado desses comportamentos na pressão arterial."

"Combinar o exercício com intervalos regulares no tempo sentado pode ser mais benéfico para reduzir a pressão arterial nas mulheres do que nos homens", escreveram os pesquisadores.

"Embora estudos de longo prazo sejam necessários para corroborar nossos resultados", concluíram, "esta linha de evidência pode embasar discussões clínicas e de saúde pública em torno de estratégias personalizadas para otimizar os alvos da PA em idosos com risco aumentado de doença cardiovascular".

Convidada a comentar, a porta-voz da AHA, Dra. Gina Price Lundberg, médica, diretora clínica do Emory Women's Heart Center e professora associada da Emory University School of Medicine, em Atlanta, alertou que este era um estudo muito pequeno, feito em condições muito controladas, com refeições padronizadas e caminhada em esteira em uma velocidade fixa.

No entanto, "eu acho que é mais um estudo que prova que o exercício é muito importante", disse ao Medscape.

"A maioria dos infartos ocorre em mulheres com mais de 60 anos e homens com mais de 50 anos", observou a Dra. Gina, "e é um grupo importante para se reduzir o risco". Dar uma caminhada todas as manhãs e depois fazer pausas no tempo sentado é "tão simples".

Não é necessário usar uma esteira, ela acrescentou. "Você pode se exercitar em casa, fora de casa, em qualquer lugar, simplesmente caminhe".

Alguns pacientes buscam soluções rápidas, dietas especiais ou novos medicamentos, acrescentou a Dra. Gina, mas este estudo reforça "a importância do exercício feito de maneira consistente, ainda que pouco, para a saúde geral".

Três situações

Não se sabe se a redução aguda da PA, causada pelo exercício, é atenuada por ficar muito tempo sentado ou intensificada por interrupções subsequentes no tempo sentado, escreveram Michael e colaboradores.

Para esta pesquisa, eles avaliaram dados de um estudo projetado para medir o desempenho cognitivo de pacientes de meia-idade ou idosos com sobrepeso ou obesos.

O estudo recrutou 67 pacientes sedentários (incluindo 35 mulheres) com média de idade de 67 anos e índice de massa corporal (IMC) médio de 31 kg/m².

Os pacientes tinham pressão arterial sistólica média de 125 mmHg e pressão diastólica média de 74 mmHg e 37% tinham hipertensão, definida como PA sistólica de pelo menos 130 mmHg ou PA diastólica de pelo menos 80 mmHg, de acordo com as diretrizes norte-americanas mais recentes.

Os participantes completaram três situações de atividade física de oito horas no laboratório de testes, separadas por seis dias. As três situações, começando às oito da manhã, foram:

Ficar sentado de forma ininterrupta por oito horas (condição sedentária)

Uma hora sentado, seguida de 30 minutos de caminhada na esteira com intensidade moderada, seguidos de seis horas e meia sentado

Uma hora sentado, seguida de 30 minutos de caminhada na esteira com intensidade moderada, seguidos de seis horas e meia sentado com interrupções a cada 30 minutos com caminhadas de intensidade leve na esteira por três minutos

Em cada situação, os pacientes receberam jantar na noite anterior e café da manhã e almoço padronizados no dia do teste.

No geral, quando caminharam por meia hora pela manhã e ficaram sentados, as pressões sistólicas e diastólicas médias de oito horas foram menores em 3,4 mmHg e 0,8 mmHg, respectivamente, do que na condição sedentária. E quando também interromperam o tempo sentado com breves intervalos para caminhada, suas pressões arteriais sistólica e diastólica foram menores em 5,1 mmHg e 1,1 mmHg, respectivamente, do que na condição sedentária (P < 0,05 para todos).

Uma avaliação pormenorizada mostrou que o benefício adicional da diminuição da pressão arterial sistólica foi observado apenas em mulheres.

Os pesquisadores observaram que com a farmacoterapia, uma redução de 10 mmHg na PA sistólica e uma queda de 5 mmHg na PA diastólica estão associadas a risco 22% menor de morte por doença coronariana e 41% menor de morte por acidente vascular cerebral (AVC).

O estudo também mostrou que após o exercício a epinefrina aumentou nos homens, mas diminuiu nas mulheres. As razões para isso não são conhecidas.

Um estudo muito maior com 1.600 pacientes com cerca de 60 anos, publicado em agosto de 2018, observou Michael, mostrou que o exercício estava associado a mudanças positivas nos biomarcadores de proteína C-reativa, interleucina 6 e leptina, com maiores benefícios entre as mulheres.

A pesquisa foi financiada por uma doação do National Health and Medical Research Council of Australia e parcialmente apoiada pelo Victorian Government's Operational Infrastructure Support Program. Os autores informaram não ter relações financeiras relevantes.

Hypertension. Publicado on-line em 20 de fevereiro de 2019. Abstract

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6503351?src=soc_fb_190326_mscpmrk_ptpost_neuro,tho_caminhada&faf=1

"A ciência não mata Deus', diz físico brasileiro Marcelo Gleiser

O prêmio Templeton, que recompensa a cada ano uma personalidade que explora "a dimensão espiritual da vida", foi concedido nesta terça-feira (19/3) ao físico teórico brasileiro Marcelo Gleiser, que se esforça para demonstrar que ciência e religião não são inimigas. 

O professor de Física e Astronomia, especializado em Cosmologia, nascido no Rio de Janeiro há 60 anos e que mora desde 1986 nos Estados Unidos, não acredita em Deus. Ele é agnóstico. 

"O ateísmo é inconsistente com o método científico", afirmou Gleiser à AFP na segunda-feira no Dartmouth College da Universidade de New Hampshire, onde é professor desde 1991. 

"O ateísmo é uma crença na não-crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual você não tem provas", acrescentou."Mantenho a mente aberta, porque entendo que o conhecimento humano é limitado", completa o cientista. 

O prêmio Templeton é financiado pela fundação do falecido John Templeton, um americano presbiteriano que fez fortuna em Wall Street. Dotado com 1,1 milhão de libras esterlinas (quase 1,5 milhão de dólares, 50% a mais que o Nobel), já foi recebido desde 1973 por Desmond Tutu, o Dalai Lama, filósofos, outros astrofísicos, Alexander Solzhenitsyn, entre outros. 

Com cinco livros em inglês e centenas de artigos em blogs e na imprensa dos Estados Unidos e do Brasil, Gleiser explica de que maneira ciência e religião estão direcionadas para responder perguntas muito similares sobre a origem do universo e da vida. 

"A primeira coisa que você lê na Bíblia é uma história da criação", afirma. Judeus, cristãos, muçulmanos: independentemente da religião, "todos querem saber como o mundo surgiu". 

Esta curiosidade fundamental, científica ou religiosa, leva, sem dúvida, a respostas diferentes. O método científico é feito de hipóteses refutáveis, o que não acontece com as religiões. 

"A ciência pode dar respostas a certas questões, até um certo ponto". O que são o tempo, a matéria, a energia? As respostas científicas são válidas apenas em um âmbito teórico. 

"Este é um problema conhecido na filosofia por muito tempo, chamado de problema de primeira causa: ficamos presos", afirma Gleiser, pai de cinco filhos. "Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério". 

"Arrogância" científica

Gleiser já escreveu sobre mudança climática, Einstein, furacões, buracos negros, a consciência... Seu credo é rastrear os vínculos entre a ciência e as humanidades, incluindo a filosofia. O que ele pensa dos que acreditam que a Terra foi criada em sete dias? 

"Eles consideram a ciência como o inimigo, porque têm um modo muito antiquado de pensar sobre ciência e religião, no qual todos os cientistas tentam matar Deus", disse. "A ciência não mata Deus", completa.

Gleiser lamenta que os "novos ateus" tenham ampliado a distância com a religião, especialmente o cientista britânico Richard Dawkins (que pediu a prisão do papa Bento XVI pelos casos de pedofilia na Igreja católica), ou o falecido jornalista Christopher Hitchens, que criticava a Madre Teresa (a primeira a receber o prêmio Templeton).

Para Gleiser, que cresceu na comunidade judaica do Rio de Janeiro, a religião não é apenas a crença em Deus: dá um senso de identidade e comunidade. "Ao menos metade da população do planeta é assim". 

"É extremamente arrogante para os cientistas descer de suas torres de marfim para fazer estas declarações sem compreender a importância social dos sistemas de crenças", opina. 

"Quando você ouve cientistas muito famosos fazendo declarações como ... a cosmologia explicou a origem do universo e de tudo, e nós não precisamos mais de Deus. Isso é um completo nonsense", acrescenta. "Porque nós não explicamos a origem do universo em absoluto", conclui.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2019/03/19/interna_ciencia_saude,743875/a-ciencia-nao-mata-deus-diz-fisico-brasileiro-marcelo-gleiser.shtml?fbclid=IwAR2y-XPc9xfmj29Wksxgq3jyWFyBSndFWQEl-_ZF0QBzGP-HcSD4U5cslik

Luta do Chile contra doces e gordura desperta interesse de outros países

País aumentou impostos sobre junk food, mudou embalagens e restringiu publicidade; Uruguai, Peru e Canadá podem replicar modelo...

Para ler a reportagem completa, acesse: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/03/luta-do-chile-contra-doces-e-gordura-faz-eco-em-outros-paises.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwaUma&fbclid=IwAR28GrtWk2dpmhFDSMCJ4icDRfrGUyMbLEmvzOIsbAVH6jsnavx795Db5tk 

Cuidadoras de pacientes com Alzheimer adoecem mais facilmente

Segundo o IBGE, a população brasileira era de aproximadamente 205 milhões de pessoas em 2016; destes, cerca de 30 milhões eram idosos. Seja por fatores genéticos ou pelo desgaste natural do tempo, muitos desses idosos desenvolvem problemas de saúde, sendo o Alzheimer uma das doenças mais recorrentes. Dados do Ministério da Saúde apontam que o mal atinge cerca de 30% da população com mais de 80 anos.

Com esse cenário e sabendo do grande número de mulheres idosas que exercem o papel de cuidadoras de doentes com Alzheimer, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP confirmaram, em estudo recente, que “cuidar de pessoas doentes pode deixar os cuidadores também doentes”.

A equipe analisou o dia a dia e a saúde de 62 mulheres idosas na mesma faixa etária. Destas, 31 eram parentes e cuidadoras de pacientes com Alzheimer e outras 31 não exerciam essa função e residiam na vizinhança. A comparação mostrou que as cuidadoras apresentaram 35,5% de sintomas de ansiedade e cerca de cinco vezes mais chance de terem depressão do que as idosas não cuidadoras.

Os resultados, conta a professora Nereida Kilza da Costa Lima, do Setor de Geriatria da FMRP, confirmam que “a sobrecarga emocional e física destas cuidadoras é imensa”. Antes do estudo, Nereida e sua equipe já conheciam o impacto negativo sofrido por aqueles que cuidam de idosos dementes, agora conseguiram quantificar esse impacto na população.

As idosas cuidadoras convivem diariamente com pessoas que, elas sabem, não terão melhora; em alguns casos, os pacientes até mesmo as agridem por não reconhecê-las. Segundo a professora, essa rotina gera um estresse muito alto.

Pelo estudo, verificaram que “a chance de diagnóstico de ansiedade foi 4,8 vezes maior” entre as cuidadoras. Os idosos com Alzheimer, dependendo do estágio da doença, necessitam de cuidados constantes, desde uma simples companhia até ajuda para se alimentar e cuidar da higiene pessoal.

A pesquisa mostrou que 90% das cuidadoras dedicam período integral aos pacientes; todas moram com eles. “Essa situação gera sobrecarga que vai além de seus poderes; para piorar, acabam realizando tudo sozinhas, sem apoio de outros familiares ou com dificuldade em aceitar ajuda de outras pessoas”, comenta a professora.

Níveis altos de colesterol também apareceram, agravando o quadro de saúde dessas cuidadoras. Acreditam os especialistas que sejam resultado de má alimentação e falta de tempo para cuidados com a própria saúde.

Segundo Nereida, os altos índices de depressão e ansiedade descobertos na pesquisa abrem uma nova visão para os profissionais da área da saúde, que, na maioria dos casos, durante os atendimentos, mantêm o foco nos doentes com Alzheimer, se esquecendo dos cuidadores.

Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/cuidadores-de-pacientes-com-alzheimer-adoecem-mais-facilmente/?fbclid=IwAR22tHS6gxJCgwEMRKFs-xDEX-T_Ekip5zZ2KHHujffne9PfDywlelUzi5g

Custo-efetividade de incentivos financeiros para melhorar a dieta e a saúde através do Medicare e Medicaid: um estudo de microsimulação

Abstrato

Incentivos econômicos por meio do seguro de saúde podem promover comportamentos mais saudáveis. Pouco se sabe sobre a saúde e os impactos econômicos da dieta incentivadora, um fator de risco importante para diabetes e doenças cardiovasculares (DCV), através do Medicare e do Medicaid.

Métodos e descobertas

Um modelo de microssimulação validado (CVD-PREDICT) previu casos de DCV e diabetes prevenidos, anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs), custos relacionados à saúde (cuidados formais, saúde informal e perda de produtividade) e taxas incrementais de custo-efetividade ( ICERs) de dois cenários políticos para adultos dentro do Medicare e Medicaid, comparados com um caso base de nenhuma nova intervenção: (1) subsídio de 30% em frutas e vegetais (“F & V”) e (2) subsídio de 30% em alimentos saudáveis, incluindo F & V, grãos integrais, nozes / sementes, frutos do mar e óleos vegetais (“incentivo à alimentação saudável”). Os insumos incluíam dados demográficos e dietéticos nacionais da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (NHANES) 2009-2014, efeitos de políticas e efeitos de dietas e doenças a partir de metanálises e custos de políticas e saúde de fontes estabelecidas. No geral, 82 milhões de adultos (35-80 anos) estavam no Medicare e / ou Medicaid. A idade média (DP) foi de 68,1 (11,4) anos, 56,2% eram do sexo feminino e 25,5% eram não brancos. 

Os impactos de saúde e custo foram simulados ao longo da vida dos atuais participantes do Medicare e do Medicaid (média de anos simulados = 18,3 anos). 

O incentivo de F & V foi estimado para evitar 1,93 milhões de eventos de DCV, ganhar 4,64 milhões de QALYs e economizar US $ 39,7 bilhões em custos formais de saúde. 

Para o incentivo à alimentação saudável, os ganhos correspondentes foram de 3,28 milhões de DCV e 0,12 milhão de casos de diabetes evitados, 8,40 milhões de QALYs ganhos e US $ 100,2 bilhões em custos formais de assistência médica salvos, respec- tivamente. 

Do ponto de vista da saúde, ambos os cenários foram custo-efetivos em cinco anos e além, com ICERs vitalícios de $ 18.184 / QALY (incentivo de F & V) e $ 13.194 / QALY ( inventivo à alimentação saudável). 

De uma perspectiva social, incluindo custos informais de assistência médica e produtividade perdida, os ICERs foram de US $ 14.576 / QALY e US $ 9.497 / QALY. 

Os resultados foram robustos nas análises de sensibilidade probabilística e em uma série de análises de sensibilidade e subgrupos unidirecionais, incluindo diferentes durações da intervenção (5, 10 e 20 anos e vida), níveis de subsídio alimentar (20%, 50%), seguro grupos (Medicare, Medicaid, e duplo-qualificável), e características do beneficiário dentro de cada grupo segurador (idade, raça / etnia, educação, renda e status do Programa de Auxiliar de Nutrição Suplementar [SNAP]). 

Estudos de simulação como este fornecem estimativas quantitativas de benefícios e incertezas, mas não podem provar diretamente os impactos na saúde e na economia.

Conclusões

Incentivos econômicos para alimentos mais saudáveis ​​através do Medicare e Medicaid podem gerar ganhos substanciais de saúde e ser altamente custo-efetivos.

Resumo do autor

Por que este estudo foi feito?

Em quase todas as nações, os gastos com saúde continuam a aumentar drasticamente, com as condições relacionadas à dieta sendo um fator importante.

• As prescrições de frutas e vegetais (F & V) e outros incentivos para uma alimentação mais saudável foram implementadas e propostas nos sistemas de saúde, mas não em escala.

• Assim, os impactos na saúde, os custos e a relação custo-eficácia das prescrições de alimentos saudáveis ​​nos cuidados de saúde não estão bem estabelecidos.

O que os pesquisadores fizeram e acharam?

• Como parte do Projeto de Revisão de Política de Alimentos e Eficácia da Intervenção (Food-PRICE) (www.food-price.org), estimamos os impactos na saúde e na economia de prescrições de alimentos saudáveis ​​no Medicare e no Medicaid, os dois maiores Estados Unidos. Estados federais programas de seguro de saúde, que juntos cobrem 1 em 3 cidadãos dos EUA.

• Utilizando dados nacionalmente representativos e um modelo de microssimulação validado (CVD-PREDICT), avaliamos dois cenários políticos para adultos no Medicare e Medicaid: (1) um subsídio de 30% em F & V (incentivo F & V) e (2) um subsídio de 30% vários alimentos saudáveis, incluindo F & V, grãos integrais, nozes / sementes, frutos do mar e óleos vegetais (incentivo à alimentação saudável).

• Ao longo da vida, o incentivo da F & V evitaria 1,93 milhão de eventos de doenças cardiovasculares (CVD) e 0,35 milhão de mortes por doença cardiovascular e economizaria US $ 40 bilhões em custos de saúde. O incentivo à alimentação saudável evitaria 3,28 milhões de casos de DCV, 0,62 milhões de mortes por DCV e 0,12 milhões de casos de diabetes e economizaria $ 100 bilhões em custos de saúde.

• Ambos os programas eram altamente rentáveis ​​do ponto de vista da saúde - com taxas de custo-efetividade incremental (ICERs) vitalícias de US $ 18.184 por ano de vida ajustado pela qualidade
QALY) para o incentivo de F & V e $ 13.194 / QALY para o incentivo de alimentos saudáveis ​​- e de uma perspectiva social (ICER: $ 14.576 / QALY e $ 9.497 / QALY, respectivamente).

• Os resultados foram consistentes entre os subgrupos dentro de cada grupo segurador, incluindo idade, raça / etnia, educação, renda e status de participação no Programa Suplementar de Auxílio Nutricional (SNAP).

O que essas descobertas significam?

Implementar prescrições de alimentos saudáveis ​​em grandes programas governamentais de saúde para promover uma alimentação mais saudável poderia gerar ganhos substanciais de saúde e ser altamente custo-efetivo.

• Nossas descobertas apóiam a implementação e avaliação de tais programas dentro dos sistemas de saúde públicos e privados.

• Nos EUA, um novo Programa de Prescrição de Produtos de US $ 25 milhões acabou de ser aprovado na Lei Agrícola de 2018, que fornecerá apoio financeiro para esses projetos-piloto nos próximos cinco anos.

Resumo do artigo, feito pelo Endocrinologista de Goiânia: Dr. Alberto Dias Filho


Prescrição de alimento subsidiado em vez de remédio ganha força

Médicos deveriam prescrever mais frutas e vegetais do que medicamentos. E os governos e companhias de seguro poderiam pensar seriamente em subsidiar esses produtos como forma de frear os milhões de casos de doenças crônicas e os custos gerados por elas.

 As conclusões vêm de um estudo da Universidade Tufts, publicado na revista médica PLOS Medicine. Segundo o trabalho, a prescrição ​poderia gerar uma economia anual de mais de US$ 100 bilhões e evitar até 3,28 milhões de infartos, derrames, entre outras condições médicas. 

Cerca de 70% das doenças nos EUA são crônicas e relacionadas ao estilo de vida. Elas consomem 86% dos custos anuais com saúde. E isso não é pouco. Nos últimos 50 anos, os gastos com saúde triplicaram, de 5% do PIB (Produto Interno Bruto), em 1960, para 17,9% em 2016, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).

O estudo usou modelos matemáticos para calcular o impacto da prescrição de alimentos saudáveis a adultos entre 35 e 80 anos inscritos no Medicare e/ou Medicaid (programas federais de saúde).

Foram criados dois cenários: um em que os programas cobririam o custo de 30% de frutas e vegetais e o outro em que subsidiariam 30% de frutas, legumes, frutos do mar, cereais integrais, óleos vegetais e outros alimentos saudáveis.

Os resultados mostraram que, no primeiro cenário, seriam evitados 1,93 milhão de eventos cardiovasculares e 350 mil de mortes. Também haveria uma redução de US$ 40 bilhões em custos de saúde.

No segundo cenário, com mais oferta de produtos, calcula-se 3,28 milhões de eventos cardiovasculares e 620 mil mortes a menos. E uma economia de US$ 100 bilhões ao sistema de saúde norte-americano.

"Ambos os cenários foram rentáveis ​​em cinco anos e altamente rentáveis ​​em dez, 20 anos e ao longo da vida", diz o estudo. Atualmente, 76% das consultas médicas tradicionais nos EUA resultam em uma receita de medicamento.

Uma série de outros estudos já demonstrou os inúmeros benefícios da alimentação saudável e o seu impacto no bem-estar mental e físico, em comparação com a junk food.

A prescrição de alimentos também tem sido defendida por indústrias de saúde e bem-estar. O Farm Bill de 2018 (legislação estadunidense, renovada a cada quatro anos, que consolida os programas de política agrícola), por exemplo, destinou US$ 25 milhões para o financiamento de projetos-piloto que avaliem o impacto da adoção de alimentos mais saudáveis em certos grupos populacionais.

A iniciativa vem depois de várias outras tentativas de se cobrir os custos de alimentos nutritivos. Em Nova York, por exemplo, foi testado um programa piloto de prescrição de alimentos em dois hospitais públicos que atendiam bairros de baixa renda. As famílias recebiam vales e reuniam-se rotineiramente com nutricionistas para discutir seus hábitos alimentares.

Na Califórnia, foi lançado em maio passado um programa piloto de US$ 6 milhões para dar refeições nutritivas a mil pacientes com diabetes tipo 2 e sem problemas cardíacos. O esforço é para manter pacientes com doenças crônicas em casa e fora de hospitais e casas de repouso. 

"A oferta de alimentos como abordagens de medicina estão ganhando força real", disse Dariush Mozaffarian, um dos autores do estudo e diretor da Escola Friedman de Ciência e Política de Nutrição da Universidade Tufts, à Science Magazine.

"Se os estudos-pilotos forem implementados e funcionarem, há uma chance muito real de que você possa, em um futuro próximo, ir ao médico, ele prescrever alimentos e uma companhia de seguros pagar uma parte deles."

Que assim seja.

Cláudia Collucci
Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

Prevenção de alergias - Atualização da Academia Americana de Pediatria - Por. Dr. Flávio Melo

Ontem, foram publicadas online, pela Academia Americana de Pediatria, orientações sobre alimentação da gestante, lactante e lactentes, no sentido da prevenção do desenvolvimento de alergias na infância.

Os pontos importantes:

🔹Não há evidências que restrições alimentares de alimentos alergênicos durante a gestação e lactação sejam preventivas para doença alérgica no bebê;

🔹O aleitamento materno exclusivo diminuiu a incidência de dermatite atópica nos primeiros dois anos de vida;

🔹A evidência científica sugere que qualquer duração de aleitamento além dos 4 meses é protetora para a síndrome do bebê chiador nos primeiros dois anos de vida;

🔹O aleitamento materno prolongado é protetor para o desenvolvimento de asma, mesmo após 5 anos de idade;

🔹Não há evidências que o uso de fórmulas parcialmente hidrolisadas ou extensamente hidrolisadas seja protetor para o desenvolvimento de alergias, mesmo naqueles com alto risco de desenvolvimento (essa é uma mudança importante);

🔹Não há evidência que postergar o início dos alimentos alergênicos previna doença alérgica;

🔹A introdução precoce de formas seguras da proteína do amendoim é protetora para o desenvolvimento da alergia ao amendoim;

🔹Para lactentes de alto risco (dermatite atópica severa e/ou história familiar de alergia), essa introdução deve ser orientada e 
acompanhada por pediatra e alergologista;

🔹Para os lactentes com dermatite atópica leve/moderada, a introdução pode ser feita ao redor de 6 meses e para os de baixo risco, entre 6 meses e 12 meses de idade, de acordo com a cultura alimentar e preferências da família.

Referência: Greer FR, Sicherer SH, Burks AW, AAP COMMITTEE ON NUTRITION, AAP SECTION ON ALLERGY AND IMMUNOLOGY. The Effects of Early Nutritional Interventions on the Development of Atopic Disease in Infants and Children:The Role of Maternal Dietary Restriction, Breastfeeding, Hydrolyzed Formulas, and Timing of Introduction of Allergenic Complementary Foods. Pediatrics. 2019;143(4):e20190281

Fonte: https://www.facebook.com/flaviopediatra/photos/a.466037873605554/1040813019461367/?type=3&theater

#BombaTôFora - “Os efeitos colaterais do uso de esteróides anabolizantes realmente ocorrem?


Slides da apresentação do Dr. Clayton Macedo ( @cldmacedo ), presidente da Comissão Temporária para o Estudo da Endocrinologia, Exercício e Esporte (CTEEE-SBEM). A aula aconteceu no dia 24/03/2019 no Simpósio Integrado de Endocrinologia do Exercício (SIEEX). 

Estamos vivendo um problema de saúde pública e há pessoas pagando caro por isso. Semanalmente recebo no consultório particular e também no SUS, pacientes "sequelados" após uso de Esteróides Androgênicos Anabolizantes (EAA).

Volto a repetir: Não existe indicação de reposição de hormônios em quem não tem deficiência. A prescrição por estética configura infração ética perante o Conselho Federal de Medicina e não encontra respaldo das maiores entidades de Endocrinologia do mundo. Razão disso? Não existe segurança para prescrição. Os resultados são heterogêneos. Alguns não apresentam efeitos colaterais a curto ou longo prazo, inúmeros outros apresentam. Portanto: ⠀Primum non nocere ou primum nil nocere, que é um termo latino da bioética que significa "primeiro, não prejudicar".

Att

Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 | RQE 11915











Jantar depois das 20 horas pode aumentar o risco de obesidade

A obesidade é um problema de saúde pública que vem aumentando em todo o mundo. 

Entre as causas da doença estão fatores, como genética, doenças endócrinas, excesso de alimentação, falta de atividade física e problemas para dormir. 

Outra possível causa para o excesso de peso é o horário das refeições, especialmente as realizadas à noite, indica estudo preliminar apresentado este final de semana durante a ENDO 2019, uma conferência médica realizada nos Estados Unidos. 

De acordo com os pesquisadores, indivíduos que jantam tarde estão em maior risco de apresentar níveis mais altos de gordura corporal e, consequentemente, maior Índice de Massa Corporal (IMC) – fator de risco para a obesidade.

A obesidade é um problema de saúde pública que vem aumentando em todo o mundo. Entre as causas da doença estão fatores, como genética, doenças endócrinas, excesso de alimentação, falta de atividade física e problemas para dormir. Outra possível causa para o excesso de peso é o horário das refeições, especialmente as realizadas à noite, indica estudo preliminar apresentado este final de semana durante a ENDO 2019, uma conferência médica realizada nos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, indivíduos que jantam tarde estão em maior risco de apresentar níveis mais altos de gordura corporal e, consequentemente, maior Índice de Massa Corporal (IMC) – fator de risco para a obesidade.

Estudos anteriores já haviam feito associação similar, destacando que a ingestão alimentar feita após as 20 horas pode aumentar a probabilidade de desenvolver obesidade.

O estudo

Para chegar a este resultado, a equipe da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, recrutou 31 pessoas (90% mulheres, com idade média de 36 anos) que estavam acima do peso ou obesas. Para avaliar o máximo de variáveis capazes de interferir nas descobertas, os pesquisadores recolheram informações sobre o sono, os níveis de atividade e a dieta dos participantes. Além disso, cada um dos voluntários recebeu equipamentos para monitorar o ciclo de sono e o tempo gasto em atividades físicas ou sedentárias. A ingestão alimentar foi monitorada através de um aplicativo de telefone que permitia aos participantes fotografar as refeições, o que ajudava a registrar os horários da alimentação. Os níveis de glicose no sangue também foram acompanhados.

Os dados coletados apontaram que os participantes se alimentaram ao longo de 11 horas (do acordar ao dormir), sendo a última refeição realizada por volta das 20 horas da noite. A partir dessas informações, os pesquisadores perceberam que aqueles que comiam no final do dia tinham IMC mais alto, assim como maiores níveis de gordura corporal. “Comer no final do dia, mais à noite, parece estar ligado ao armazenamento de mais gordura corporal devido a diferenças hormonais a esta hora do dia”, explicou Lona.

A equipe ainda descobriu que esses indivíduos tinham um média de sono de 7 horas por noite – o que pode descartar a ideia de que a falta de sono interfere no risco de apresentar excesso de peso (pelo menos nesses voluntários). Apesar dos resultados, os cientistas ressaltam que os achados são preliminares e, portanto, será necessário dar continuidade às investigações para entender os mecanismos que ligam o horário da refeição ao aumento do risco de obesidade.

Dados de 2018 do Ministério da Saúde indicam que 18,9% da população acima de 18 anos nas capitais brasileiras é obesa. O percentual é 60,2% maior do que o obtido na primeira vez que o trabalho foi realizado, em 2006, quando essa parcela era de 11,8%. Esses números preocupam já que estudo do ano passado publicado no periódico Cancer Epidemmiology indicou que o Brasil terá 640.000 casos de câncer em 2025 – e quase 30.000 deles vão estar associados à obesidade.

Para esses pesquisadores, o aumento da obesidade está associada a industrialização e o alto consumo de alimentos processados. “A industrialização de sistemas alimentares mudou profundamente as culturas alimentares tradicionais, que eram geralmente composta de alimentos frescos e minimamente processados”, escreveram no relatório. A sugestão para solucionar a questão, de acordo com eles, é adotar intervenções e políticas de saúde pública capazes de reduzir o problema a nível populacional.

Além disso, as novas descobertas apontam para outra possível solução: antecipar o horário do jantar e evitar ingerir muitas calorias antes de dormir.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Maioria dos pacientes com fibrilação atrial paroxística relata "gatilhos" como consumo de bebida alcoólica ou cafeína

Três quartos dos pacientes com fibrilação atrial paroxística sintomática (FA) em um estudo com base em questionário identificaram pelo menos uma experiência aguda que acreditavam ser o gatilho de episódios individuais de arritmia. Os gatilhos possíveis mais relatados foram: consumo de álcool, ingestão de cafeína, exercícios e falta de sono.

Entre os cerca de 1.300 participantes da pesquisa, as mulheres e aqueles com história familiar de FA tiveram maior probabilidade de relatar que tinham esses gatilhos e que tinham múltiplos gatilhos. Aqueles com insuficiência cardíaca, além da FA paroxística sintomática estavam entre os pacientes com menor probabilidade de relatar que sua arritmia atrial tinha gatilhos.

Um dos objetivos da análise foi identificar possíveis fatores desencadeantes de FA que fossem modificáveis e pudessem contribuir para as discussões com os pacientes e, no caso de história familiar de FA, esclarecer as interações entre predisposição genética e promotores ambientais, observou o autor sênior Dr. Gregory M. Marcus, médico da University of California, em San Francisco.

"É um pouco insatisfatório", disse ele ao Medscape, que "parece haver um pouco de heterogeneidade em relação aos gatilhos percebidos, sugerindo que, por exemplo, uma recomendação para todos os pacientes pode não ser apropriada".

Por exemplo, ele observou, evitar a cafeína parece ser uma recomendação quase universal para pacientes com FA paroxística conhecida.

"Mas a realidade é que podem haver, sim, algumas pessoas para as quais a cafeína é um gatilho, mas certamente há muitas outras para as quais não é. A mesma coisa para o exercício. Não queremos desencorajar o exercício, mas certos tipos de exercício podem ser um gatilho importante para algumas pessoas", disse Dr. Gregory.

"Precisamos entender melhor essas relações mais idiossincráticas que podem ser mais relevantes para um determinado indivíduo."

A análise foi publicada em 14 de fevereiro no periódico Heart Rhythm, com o autor principal Dr. Christopher A. Groh, da University of California, em San Francisco.

Dos 1.295 pacientes com FA paroxística sintomática que responderam à pesquisa, 74% responderam ter experimentado pelo menos um dos gatilhos em uma lista fornecida. Entre esse grupo, os gatilhos percebidos mais prevalentes que ocorreram "sempre ou algumas vezes" foram:
  • Consumo de álcool em 35%
  • Consumo de cafeína em 28%
  • Episódio de exercício em 23%
  • Falta de sono em 21%

Os entrevistados também foram convidados a "anotar" gatilhos percebidos que não estavam na lista fornecida. De longe, o gatilho acrescentado mais comum, em 20% dos entrevistados, foi estresse ou ansiedade.

Os gatilhos restantes na lista fornecida, citados com menor frequência, incluíam não se exercitar, ingerir bebidas frias, comer alimentos frios, fazer uma refeição grande, uma dieta com alto teor de sódio, desidratação e deitar do lado esquerdo.

O Dr. Gregory disse que a lista de possíveis gatilhos avaliados pelos pacientes foi baseada no consenso de especialistas ou coletada por meio de pesquisa on-line e mídia social.

"Não há quase nenhum dado que mostre que a maioria desses fatores de fato provoca fibrilação atrial, então, atualmente a melhor evidência que temos é o que os pacientes estão nos dizendo".

Os participantes da pesquisa foram identificados por fazer parte do Health e Heart Study ou por serem assinantes da organização de defesa do paciente StopAfib.org.


Aqueles que relataram ter ou não desencadeantes para os episódios de FA foram estatisticamente semelhantes para comorbidades demográficas e cardiovasculares, exceto que os que relataram ter os gatilhos apresentavam probabilidade duas vezes maior de ter história familiar de FA (P = 0,008) e probabilidade 71% menor de ter insuficiência cardíaca (P = 0,001) na análise ajustada.

Coletivamente, os entrevistados relataram uma mediana de dois gatilhos separados. Grupos com maior probabilidade de relatar múltiplos desencadeantes incluíram mulheres, pacientes mais jovens, hispânicos, história familiar de FA ou apneia obstrutiva do sono.

Os resultados são consistentes com diferentes mecanismos que, se acredita, são relacionados à FA em vários pacientes, disse Dr. Gregory. Eles incluem alterações estruturais crônicas, como fibrose miocárdica ou aumento atrial, que acompanham a idade avançada e podem estar menos associadas a desencadeantes agudos.

Ou podem incluir propriedades mais dinâmicas e funcionais, como distúrbios de canal iônico, que pode estar presente na ausência de mudanças estruturais e pode ter maior probabilidade de reagir a fatores ambientais e comportamentais, disse ele.

Em outras palavras, os gatilhos parecem estar mais associados à FA isolada do que à FA com doença cardíaca estrutural.

"Faria sentido se houvesse um gatilho ambiental importante que provavelmente influenciaria algo dinâmico com um potencial efeito agudo e transitório nas propriedades elétricas do coração, em vez de um tipo de problema estrutural fixo indiferente a presença de álcool ou ausência de sono".

Dr. Gregory disse que a análise atual é parte da preparação para o estudo randomizado Individualized Studies of Triggers of Paroxysmal Atrial Fibrillation (I-STOP-AFib), cujo desfecho primário se baseia na pesquisa do Atrial Fibrillation Effect on Quality of Life (AFEQT).

O estudo planeja inscrever um número estimado de 478 pacientes com FA paroxística sintomática que tenham smartphones, designando-os aleatoriamente a um grupo de intervenção ou a grupos de controle, ambos exigindo o uso regular do monitor eletrocardiográfico Kardia Mobile (AliveCor).

O grupo de intervenção, mas não o grupo de controle, fará mudanças de estilo de vida personalizadas com base em um período anterior, no qual foram estudados a frequência de FA, os sintomas e a exposição a possíveis gatilhos.

Eles realizarão um monitoramento adicional para determinar se evitar possíveis gatilhos identificados tem um efeito sobre os episódios de FA.

"O objetivo é ser capaz de fornecer aos pacientes suas próprias informações sobre a probabilidade de que um gatilho percebido seja de fato um gatilho ou não", disse Dr. Gregory.

Dr. Gregory informou ter recebido financiamento de pesquisa da Medtronic e Jawbone; ter prestado consultoria para Johnson & Johnson e InCarda Therapeutics; e ter ações da InCarda. Dr. Christopher não informou conflitos de interesses relevantes. A declaração de conflitos de interesses dos demais autores consta no artigo.

Heart Rhythm. Publicado on-line em 14 de fevereiro de 2019. Abstract

Mais evidências sobre toxinas ambientais e câncer de mama

Dois estudos trazem nova luz sobre o papel das toxinas ambientais e o risco de câncer de mama. Um estudo investigou os ftalatos, o outro examinou o diclorodifeniltricloroetano (DDT).

Os ftalatos são praticamente onipresentes, sendo encontrados em xampus, maquiagens, pisos de vinil, brinquedos, dispositivos médicos e no interior dos automóveis. Quase todo mundo nos Estados Unidos está exposto, principalmente por comer e beber alimentos e bebidas que entram em contato com os produtos que contêm essas substâncias químicas.

A exposição aos ftalatos tem sido implicada em uma série de doenças e quadros clínicos, inclusive a infertilidade masculina.

O novo estudo, descrito como o maior estudo sobre ftalatos e o câncer de mama após a menopausa, sugere que esses produtos químicos não têm nenhum efeito no risco de câncer de mama para as mulheres após a menopausa.

No entanto, seus resultados deixam em aberto a questão de uma possível relação entre a exposição ao ftalato e o câncer de mama antes da menopausa, de acordo com a primeira autora Dra. Katherine Reeves, Ph.D. da School of Public Health and Health Sciences na University of Massachusetts em Amherst.

"Não encontramos associação estatisticamente significativa entre a exposição aos ftalatos e o câncer de mama e, embora isto não exclua um efeito menor, acredito que descarte um efeito muito grande", disse a Dra. Katherine ao Medscape.

"Por exemplo, quando pensamos em tabagismo e câncer de pulmão, este realmente é um efeito forte, mas segundo nosso estudo é certamente improvável que a relação entre os ftalatos e o câncer de mama após a menopausa seja tão grande. No entanto, não podemos descartar um efeito menor no risco de câncer de mama", disse a pesquisadora.

Isso porque a exposição aos ftalatos muda todos os dias e essa substância é metabolizada muito rapidamente e excretada na urina em poucas horas, acrescentou a Dra. Katherine.

O estudo foi publicado on-line em 10 de dezembro no periódico Journal of the National Cancer Institute

Detalhes do estudo

No seu estudo de caso-controle aninhado, Dra. Katherine e equipe de pesquisa pegaram amostras congeladas de urina que tinham sido fornecidas há muitos anos por mulheres participando da Women's Health Initiative (WHI).

Os pesquisadores dosaram os níveis dos metabólitos do ftalato 13 e da creatinina na urina de 419 mulheres com diagnóstico de câncer de mama invasivo após o terceiro ano do Women's Health Initiative e na urina de 838 participantes saudáveis como grupo de controle. Foram avaliadas duas ou três amostras de urina de cada participante, obtidas no início do estudo, no 1º e no 3º ano do WHI.

A média de idade das pacientes e do grupo de controle foi de 62 anos. As pacientes do grupo de casos de câncer foram mais frequentemente obesas, fumantes atuais e menos ativas fisicamente do que as do grupo de controle.

"As mulheres tinham doado essas amostras em um momento no qual todas eram saudáveis. É importante reconhecer que os estudos anteriores foram retrospectivos, o que significa que dosaram a exposição aos ftalatos depois das mulheres terem o diagnóstico do câncer de mama. Esta não é a melhor estratégia para os ftalatos, porque a exposição aos ftalatos pode se dar por meio do equipamento médico e de medicamentos, então o que você está dosando pode refletir apenas o fato das pacientes terem sido diagnosticadas recentemente com câncer de mama e não algo que possa estar causando a doença", explicou a Dra. Katherine.

As concentrações dos biomarcadores de ftalato foram semelhantes entre as pacientes do grupo dos casos e as participantes do grupo de controle. Não houve associação entre esses biomarcadores e o aumento do risco de câncer de mama em geral, nem por subtipo da doença.

A razão de chances ajustada ou odds ratio (OR) para os diferentes biomarcadores de ftalato variou de 0,85 (intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,38 a 1,91) a 1,04 (IC 95%, de 0,92 a 1,17).

Resultados semelhantes foram encontrados em análises restritas aos subtipos da doença, a mulheres que não fizeram reposição hormonal após a menopausa, ao índice de massa corporal e aos casos diagnosticados em três, cinco ou 10 anos.

"Nossos resultados nulos persistiram, independentemente da técnica de análise utilizada e, por isso, concluímos que qualquer grande aumento do risco de câncer de mama associado a exposição aos ftalatos é improvável", disse a Dra. Katherine.

"Me parece que temos informações melhores do que a maioria dos estudos, porque nós fizemos duas ou três dosagens por participante. As dosagens que temos refletem uma exposição muito recente, de modo que estou bem confiante de que não existe um efeito muito grande dos ftalatos no câncer de mama após a menopausa, mas não podemos descartar um efeito menor. Também é importante reconhecer que só avaliamos as mulheres já depois da menopausa, de modo que os nossos resultados não se aplicam necessariamente às mulheres mais jovens", disse a pesquisadora.

"Além disso, dosamos a exposição aos ftalatos em um momento no qual as mulheres já haviam passado a menopausa, entre 50 e 79 anos de idade. Cada vez mais compreendemos que a principal janela do risco de câncer de mama pode ser muito preliminar, na adolescência ou antes da primeira gestação. Não conseguimos avaliar tudo isso neste estudo", disse a pesquisadora.

Continuando sua explanação, a Dra. Katherine disse que gostaria de estudar pacientes mais jovens para ver se a exposição precoce aos ftalatos influencia o risco de câncer de mama mais tardio.

"As dosagens de ftalato podem variar, portanto, se existir algum modo de obter mais dosagens urinárias durante um período, isso nos permitiria caracterizar melhor as mulheres mais expostas e as menos expostas, o que nos permitirá obter uma resposta melhor", disse a pesquisadora.

DDT onipresente e o câncer de mama

O segundo estudo investigou a exposição ao DDT, um inseticida orgânico que foi muito utilizado na agricultura. O DDT foi proibido nos Estados Unidos em 1972 e, posteriormente, foi proibido no mundo todo. No entanto, subsiste na cadeia alimentar e, por conseguinte, há populações continuamente expostas.

Este estudo, que também foi publicado no periódico Journal of the National Cancer Institute, verificou que a exposição ao DDT foi associada ao câncer de mama até os 54 anos de idade e que o risco dependia do momento da primeira exposição.

As mulheres expostas antes dos 14 anos de idade, sobretudo durante a primeira infância (do nascimento aos três anos de idade) e a infância, tiveram maior probabilidade de ter câncer de mama antes da menopausa. As que foram expostas após a infância tiveram maior risco de ter câncer mais tarde, entre 50 a 54 anos de idade.

"O momento da exposição é importante, e sabemos que, se as exposições nocivas ocorrerem quando o tecido mamário está mudando rapidamente, como durante a puberdade ou na primeira gestação, isso pode comprometer o desenvolvimento de mama de maneiras que podem resultar em câncer", disse ao Medscape a primeira autora, Dra. Barbara A. Cohn, Ph.D., do Public Health Institute's Child Health and Development Studies, em Berkeley, Califórnia.

"Nossos resultados sugerem que o DDT comprometa a mama com um efeito disruptivo endócrino, e que o tempo transcorrido entre a primeira exposição e o diagnóstico de câncer é de cerca de 40 anos", disse a Dra. Barbara.

Em um artigo publicado em 2007 no periódico Environmental Health Perspectives, Dra. Barbara e colaboradores descreveram o aumento de cinco vezes do risco de câncer de mama nas mulheres que tinham menos de 14 anos no momento em que foram expostas ao DDT.

Um estudo da Dra. Barbara e colaboradores publicado em 2015 no periódico Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism descreveu aumento do risco de câncer de mama entre as mulheres expostas ao DDT in utero.

No estudo em tela, os pesquisadores estenderam sua observação para as pacientes com câncer de mama diagnosticado logo após a menopausa (entre 50 e 54 anos de idade). Seu objetivo era determinar se a idade no momento do diagnóstico modifica a interação do DDT com a idade da exposição.

Os pesquisadores analisaram amostras de sangue armazenadas que haviam sido obtidas entre 1959 e 1967 durante a gestação, a cada trimestre e no início do puerpério.

Eles também usaram registros estaduais para identificar 153 casos de câncer de mama diagnosticados de 1970 a 2010 em mulheres entre 50 a 54 anos de idade. A seguir, os pesquisadores parearam cada paciente a 432 controles comparáveis sem câncer.

Os resultados mostraram que, para o câncer de mama logo após a menopausa, o DDT foi associado a quase o dobro do risco para todas as mulheres (OR para as mulheres entre 50 e 54 anos = 1,99; IC 95%, de 1,48 a 2,67).

Essa associação foi representada por mulheres expostas pela primeira vez ao DDT após a primeira infância (para as pacientes entre os 50 e 54 anos de idade expostas ao DDT pela primeira vez após a primeira infância, OR = 2,83; IC 95%, de 1,96 a 4,10; para as pacientes entre os 50 e 54 anos de idade expostas ao DDT pela primeira vez durante a primeira infância, OR = 0,56; IC 95%, de 0,26 a 1,19).

Contrariamente, para o câncer de mama antes da menopausa o DDT foi associado a risco entre as mulheres com menos de 50 anos cuja primeira exposição ocorreu durante a infância até a puberdade, mas não depois (OR = 3,70; IC 95% de 1,22 a 11,26).

Todas foram expostas, mas nem todas têm câncer
Praticamente todas foram expostas ao DDT, mas nem todas têm câncer, disse a Dra. Barbara. Perguntas importantes dizem respeito ao que está protegendo algumas pessoas e por que outras são vulneráveis aos efeitos deletérios dessa substância química.

"Algumas mulheres são expostas in utero, outras na primeira infância. Algumas não têm câncer. Se pudermos compreender como isso acontece, talvez o Santo Graal seja criar um marcador biológico de risco pretérito. Estamos trabalhando nesse sentido, tentando comparar a bioquímica sérica das mulheres que adoeceram à das mulheres sadias em relação à sua exposição ao DDT", disse Dra. Barbara.

"Todas as mulheres em nossa coorte foram expostas. Todas as pessoas no mundo foram expostas nos anos 60. Mas nem todos adoeceram. Estamos tentando entender qual é a resposta da mulher a essas substâncias químicas que a prejudica. Se pudermos encontrar um biomarcador assim, seria possível encontrar mulheres com esse biomarcador e talvez compreender como evitar que elas tenham câncer", disse a pesquisadora.

O estudo da Dra. Katherine Reeves e colaboradores foi subsidiado pelo National Institute of Environmental Health Sciences. O estudo da Dra. Barbara Conh e colaboradores foi subsidiado pelo National Institute of Environmental Health Sciences e pelo California Breast Cancer Research Program através do California Breast Cancer Research Program. Os autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

J Natl Cancer Inst. Publicado on-line em 10 de janeiro de 2019. Reeves et al, Abstract ; Cohn et al, Texto completo

Por que a maioria das pessoas não se importa com problemas ambientais?

As pessoas se importam com questões de sustentabilidade? Como educadora e engenheira ambiental, essa é uma pergunta recorrente em minha cabeça. E tenho certeza que se você está lendo este artigo, já se perguntou isso também.

Fazendo uma rápida busca por pesquisas realizadas sobre o tema, vemos indícios que sim, as pessoas se importam com questões relacionadas ao meio ambiente no Brasil.  

Uma pesquisa realizada em 2012 pelo Ministério do Meio Ambiente aponta, por exemplo, que 82% das pessoas discordam da seguinte frase: “O conforto que o progresso traz para as pessoas é mais importante do que preservar a natureza” e esse índice veio crescendo desde 1997, quando eram apenas 67%. 

Em 2018, o “meio ambiente e riquezas naturais” apareceu como maior orgulho nacional para o brasileiro em pesquisa realizada pelo IBOPE e WWF.

Porém, existe uma diferença clara entre o discurso e a prática. Falar que se importa é uma coisa, mas de fato ter uma mudança de comportamento é outra história. Somos um dos países com maiores índices de desmatamento, reciclamos menos de 5% dos nossos resíduos e elegemos governos com claro descaso por questões ambientais.

Se as pessoas dizem se importar, por que não agem e cobram devidamente?

O ser humano prioriza problemas imediatos: As mudanças climáticas, por exemplo, parecem algo muito distante do presente e acabam não representando uma ameaça factível para muitos.

Desconexão com a natureza: Cuidamos apenas daquilo que conhecemos e temos vínculo. Quanto mais distantes do meio natural, menos as pessoas se importam com sua preservação e conservação.

A população não tem conhecimento suficiente: Conhecimento é diferente de informação. Enquanto a informação está cada vez mais acessível, ainda não está claro para muitos os reais desafios, causas, consequências e possibilidades de soluções.

Muitos não sofrem ou percebem diretamente as consequências: O problema do plástico no oceano, por exemplo, despertou incômodo nas pessoas quando começaram a literalmente ver o lixo na praia e nas ruas de sua cidade.

É mais trabalhoso sair da zona de conforto: Como seres vivos otimizamos ao máximo nosso gasto de energia e por isso priorizamos aquilo que nos é mais fácil e cômodo.

Sistema baseado em crenças e valores insustentáveis: Ganância, individualismo, egoísmo, medo, impotência e desconexão ainda são valores presentes em nossa sociedade e base para nosso modo de vida, gerando crenças, comportamentos e culturas insustentáveis.

O desafio é complexo, mas um dos principais papéis da educação para sustentabilidade é, justamente, compreender as causas da distância entre o discurso e a prática e traçar estratégias para minimizá-las. Também é papel da educação para sustentabilidade aproximar as pessoas da natureza; facilitar práticas e soluções para que as pessoas se desafiem a sair de sua zona de conforto; fortalecer valores humanos como cooperação, respeito e solidariedade; levar a informação de maneira mais clara e convidativa; e gerar mais empatia e conexão entre aqueles que causam e os que hoje começam a sofrer as consequências.


Uso de Agrotóxicos Brasil x UE por Larissa Bombardi


No vídeo acima, a Dra. Larissa Bombardi, ministra uma aula sobre como o uso de agrotóxicos influencia na saúde pública, na população rural e o impacto ambiental que acarretam, comparando dados do Brasil e da União Européia.

•  Acesse o e-book Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões Com a União Européia: http://bit.ly/2Ef3tYj

Plantas tóxicas






Com 500 milhões de abelhas mortas em três meses, agricultura brasileira pode entrar em colapso



Albert Einstein previu no século passado que, se as abelhas desaparecessem da superfície da Terra, o homem teria apenas mais quatro anos de vida. A morte em grande escala desse animal, interpretada como apocalíptica na época, é hoje um alerta real. Desde o começo do século, casos de morte e sumiço de abelhas são registrados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, estudiosos destacam episódios alarmantes a partir de 2005.

Agora, o fenômeno parece chegar ao ápice. Nos últimos três meses, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores apenas em quatro estados brasileiros, segundo levantamento da Agência Pública e Repórter Brasil. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de Associações de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por universidades.

O principal causador, afirmam especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela reportagem, é o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides e de Fipronil, produto proibido na Europa há mais de uma década. Esses ingredientes ativos são inseticidas, fatais para insetos, como é o caso da abelha, e quando aplicados por pulverização aérea se espalham pelo ambiente.

As abelhas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor em flor, elas polinizam e promovem a reprodução de diversas espécies de plantas. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização deste inseto. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.

Em Cruz Alta, município de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, mais de 20% de todas as colmeias foram perdidas apenas entre o Natal de 2018 e o começo de fevereiro. Cerca de 100 milhões de abelhas apareceram mortas, segundo a Apicultores de Cruz Alta (Apicruz). “Apareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avião de manhã e à tarde as abelhas já começam a aparecer mortas”, relata o apicultor Salvador Gonçalves, presidente da Apicruz.

No Brasil, há mais de 300 espécies de abelhas nativas — entre elas Melipona scutellaris, Melipona quadrifasciata, Melipona fasciculata, Melipona rufiventris, Nannotrigona testaceicornis, Tetragonisca angustula. Em todo país, contando com as estrangeiras, há cerca de 1,6 mil espécies do inseto, segundo relatório do Ibama.

Cada espécie é mais propícia para polinização de determinadas culturas. Por exemplo, a Mamangaba, conhecida popularmente como abelhão, é a principal responsável pela polinização de maracujá. “O que aconteceria se esse inseto fosse extinto? Ou deixaríamos de consumir essas frutas, ou elas ficariam caríssimas, porque o trabalho de polinização para produzi-la teria que ser feito manualmente pelo ser humano”, explica Carmem Pires, pesquisadora da Embrapa e doutora em Ecologia de Insetos.

A estudiosa conta que até em lavouras que não são dependentes da ação direta dos polinizadores, a presença de abelhas aumenta a safra. “Na de soja, por exemplo, é identificado um aumento em 18% da produção. É importante destacar também o efeito em cadeia. As plantas precisam das abelhas para formar suas sementes e frutos, que são alimento de diversas aves, que por sua vez são a dieta alimentar de outros animais. A morte de abelhas afeta toda a cadeia alimentar”.

Agrotóxicos inimigos das abelhas

Os principais inimigos das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid e o Tiametoxam. A diferença para outros venenos é que ele tem a capacidade de se espalhar por todas as partes da planta. Por isso, costuma ser colocado na semente, e tudo acaba com vestígios: flores, ramos, raízes e até no néctar e pólen. Eles são usados em diversas culturas como de algodão, milho, soja, arroz e batata.

Além dos neonicotinoides, há casos de mortandade relacionados também ao uso de agrotóxicos à base de Fipronil, inseticida que age nas células nervosas dos insetos e, além de utilizado contra pragas em culturas como maçã, soja e girassol, é usado até mesmo em coleiras antipulgas de animais domésticos. Muitas vezes esse veneno é aplicado em pulverização aérea, o que o expõe diretamente às abelhas. Segundo pesquisa produzida pela Embrapa em 2004, 19% do agrotóxico manejado através do método de pulverização aérea é dispersado para áreas fora da região de aplicação.

Dentro da colmeia as abelhas vivem em sociedades organizadas, com papéis claros. Elas se dividem em castas — rainha, operárias e zangões. A primeira delas é a única fêmea fértil, é quem coloca os ovos —cerca de 2,5 mil por dia. Os zangões são os machos e têm como papel fecundar a rainha. Já as operárias são as fêmeas responsáveis por praticamente tudo dentro da colmeia: limpeza, coleta de néctar e pólen, alimentação das larvas (abelhas não adultas), elaboração do mel e defesa do lar. A depender do tamanho da caixa e das condições climáticas, uma única colmeia pode abrigar até 100 mil abelhas.

A morte dos polinizadores por contato com os agrotóxicos pode ocorrer de vários modos. O mais comum é quando a operária sai para a polinização. Muitas acabam morrendo na hora, outras ficam desorientadas e infectadas. A partir daquele momento elas tentam voltar a colmeia, mas muitas não resistem ao caminho. As que conseguem voltar acabam infectando toda colmeia — o enxame acaba morto em pouco mais de um dia.

Casos cada vez mais agudos

Não existem números oficiais de mortes de abelhas no país, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Porém, associações de apicultores e órgãos ligados à secretarias estaduais de Agricultura fazem levantamentos próprios.

Entre dezembro do ano passado e fevereiro de 2019, pelo menos 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas apenas nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, segundo apurou a reportagem. Mas o número pode ser muito maior, já que é impossível contabilizar as mortes de abelhas silvestres – aquelas que não são criadas por apicultores.

A maioria dos casos recentes ocorreu no Rio Grande do Sul, onde, segundo a Câmara Setorial de Apicultura da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do estado, foram 400 milhões de baixas desde dezembro do ano passado. O estado é o maior produtor apícola do país, com mais de 400 mil colmeias, de acordo com a Emater. A produção de mel supera 6 mil toneladas por safra, cerca de 15% do total brasileiro.

A Secretaria recebeu comunicados de óbitos em 10 municípios: Jaguari, Sant’Ana do Livramento, Alegrete, Santiago, Livramento, Bagé, Mata, Cruz Alta, Boa Vista do Cadeado, Santa Margarida. Isso significou mais de 1% das criações de abelhas dizimadas. “O estado tem cerca de 463 mil colmeias. Dessas, cerca de 5 mil foram completamente perdidas. O prejuízo está em torno de 150 toneladas de mel”, conta Aldo Machado dos Santos, coordenador da Câmara Setorial de Apicultura gaúcha.

Por meio de notícias da imprensa, investigações do Ministério Público e estudos científicos, a reportagem identificou casos de mortandade de abelhas em pelo menos dez estados brasileiros desde 2005: Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

O engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Aroni Sattler é especialista em sanidade das abelhas e trabalha na área desde 1973. Segundo ele, casos de mortes de enxames se tornaram mais recorrentes na última década. “Devido ao meu trabalho, sempre recebi amostras de abelhas para análises, e vim percebendo que cada vez mais não havia sinais de doenças nos insetos que explicassem mortandades tão agudas”, explica.

No ano passado, ele foi procurado pelo Bioensaios, um laboratório privado, para orientar um trabalho sobre coleta de amostras em casos de mortandade. Foram analisados 30 casos de grandes baixas em enxames no Rio Grande do Sul. Os resultados mostram que cerca de 80% ingeriram ou tiveram contato com Fipronil antes de sucumbir. “Pelos sinais clínicos e pelo histórico apresentado pelos apicultores, percebemos que os agricultores da região misturavam o Fipronil no tanque junto com dessecantes desde o preparo do solo, passando pela fase vegetativa do cultivo e depois na hora da colheita. Se trata de um inseticida, e as abelhas são um tipo de inseto, por isso o ingrediente é bastante tóxico para elas”, detalha.

O especialista aponta que, mesmo naquelas que não apresentaram vestígio dos agrotóxicos, pode ter ocorrido contato. “Nos outros 20% é notado que a coleta das amostras não foi feita adequadamente, ou foi feita em um período muito longo após a mortandade, o que dificulta a identificação dos tóxicos”.

Quem é o culpado?

Desde que começou a fazer análises de abelhas mortas, o engenheiro agrônomo Aroni Sattler emitiu 30 laudos para apicultores do Rio Grande do Sul que comprovam o contato dos insetos com pesticidas. A partir daí eles podem levar os casos à Justiça e buscar ressarcimento. O especialista alerta para um risco ainda maior, o das abelhas nativas silvestres, pois não há como enumerar quantas estão morrendo e nem denunciar quem aplicou o veneno. “O impacto do uso desses agrotóxicos atinge um raio de 3 a 5 quilômetros das lavouras. Tudo no entorno desaparece”, afirma.

Aroni Sattler destaca também que muitas vezes os desastres ocorrem por falta de informação. “Há casos de mortandade que acontecem porque os agricultores utilizam o agrotóxico de modo errado, ou até mesmo, por falta de conhecimento, eles acham que a abelha prejudica a lavoura e passam veneno”.

O coordenador da Câmara Setorial de Apicultura do Rio Grande do Sul, Aldo Machado, afirma que há necessidade de um trabalho de conscientização: “Precisamos de agrônomos nos campos, acompanhando essas aplicações, vendo se está sendo feito conforme a bula”.

Sobre realizar as denúncias, ele explica que o canal indicado são as defensorias agrícolas ligadas às secretarias estaduais ou municipais. Além disso, é aconselhável informar a Polícia Militar Ambiental e fazer um boletim de ocorrência na Polícia Civil. “O apicultor tem que vencer o medo e denunciar. Há dois anos, após um grande surto de casos no Rio Grande do Sul, fizemos um levantamento e só existiam dois registros de denúncia. Sabíamos que estava ocorrendo mais, mas sem denúncia não se torna oficial para o Governo”. Só em Cruz Alta, segundo a Associação dos Apicultores de Cruz Alta (Apicruz), 810 colmeias foram totalmente perdidas entre 2015 e 2016 – cerca de 50 milhões de abelhas. Porém, no último trimestre a Apicruz estima que o número de abelhas mortas ultrapasse 100 milhões no município.

Mas, mesmo em casos onde há um laudo que prove a relação das mortes com agrotóxicos, é difícil conseguir identificar um culpado, afirma Aldo Machado. “Em Cruz Alta, por exemplo, há diversos produtores de soja. Existe a dificuldade de provar quem colocou esse princípio ativo na lavoura. Em muitos casos, diversos produtores utilizam o agrotóxico, aí fica difícil encontrar um culpado para cada caso específico”, pontua.

De acordo com a Lei Federal 7.802/89, a Lei dos Agrotóxicos, quem deve fazer a fiscalização do uso são os órgãos estaduais. Portanto, todo problema decorrente do uso desses químicos deve ser informado às secretarias de Meio ambiente ou de Agricultura dos estados.

Há base legal para considerar a morte de abelha como crime ambiental. De acordo com o artigo 56 da Lei de Crimes Ambientais é crime “Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos”.

Porém, segundo o Ibama, há grande dificuldade para comprovar que a mortalidade se deu pelo uso em desacordo com as instruções autorizadas no registro. “Quando isso fica comprovado – uso onde não devia, na quantidade que não devia, na época que não devia, usando equipamento que não devia e causando a mortalidade – aí se enquadra no artigo e se trata de crime ambiental”, informa o Instituto, através da assessoria de imprensa.

Milhões de mortes também em São Paulo – e por agrotóxicos

Testes laboratoriais apontaram o contato com agrotóxico como causador da morte de abelhas também no estado de São Paulo, onde a produção de mel chega a 3,7 mil toneladas por safra – cerca de 10% do total nacional. Entre 2014 e 2017, uma pesquisa com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) realizou um mapeamento sobre os fatores que contribuem para a perda de enxames. Em 78 cidades, os pesquisadores contabilizaram 107 produtores que sofreram com perdas de colmeias. Em três anos eles relataram que cerca de 255 milhões de abelhas morreram.

O professor e pesquisador da Unesp Rio Claro Osmar Malaspina, um dos responsáveis pelo trabalho, diz que os casos em São Paulo vêm acontecendo desde 2005. “Eles se acentuam a partir de 2012, e até aquele momento os apicultores não sabiam como, mas todas as abelhas passavam a morrer do nada e em menos de 24 horas. A grande suspeita era de agrotóxicos, mas até aquele momento não tínhamos uma análise para provar isso”.

O projeto começou em 2013 com patrocínio de empresas produtoras de agrotóxicos. Batizado de Colmeia Viva, o projeto recebeu um telefone 0800 para denúncias. Quando uma abelha morria, o apicultor ligava e fazia a queixa. “Após a análise, entregamos um laudo para cada criador, que era público. E ele poderia usá-lo para entrar com ação na Justiça”, explica.

O relatório do mapeamento foi lançado no ano passado com conclusões voltadas para a criação de um plano de ação nacional para boas práticas de aplicações de agrotóxicos. O objetivo é manter uma relação produtiva entre a agricultura e a apicultura, sem que nenhuma das duas áreas saia enfraquecida.

A iniciativa contou com 222 atendimentos voltados a apicultores, das quais 107 originaram visitas ao campo. Em 88 ocorreram coletas de abelhas para análise focada na relação com a aplicação de agrotóxicos. Em 59 casos – cerca de 67% – o resultado foi positivo para resíduos de pesticidas. Em 27 casos, a hipótese é que a aplicação de tóxico tenha sido feita fora da lavoura onde a colmeia fica, e em 21 casos a suspeita é de uso incorreto dentro da própria residência (11 destes foram causados por produtos à base de neonicotinoides e 10 à base de Fipronil).

O grupo também fez um trabalho educativo com agricultores, ensinando modos de aplicação de pesticidas que diminuam o impacto em abelhas. “Nos últimos meses estamos percebendo uma queda nas ocorrências de mortandade, mas ainda temos que esperar mais alguns anos para fazer um novo estudo que confirme isso e nos mostre os motivos”, explica. Nos últimos dois meses as baixas em colmeias foram reduzidas para cerca de 25.

Reavaliação de agrotóxicos

Em decorrência dos casos de mortandade de abelhas, o Ibama deu início em 2012 à reavaliação de diversos ingredientes químicos usados em plantações. O primeiro está sendo o neonicotinoides Imidacloprid, o mais usado do grupo. Empresas declararam ao Ibama a comercialização de 1.934 toneladas de Imidacloprido só em 2010. Simultaneamente, o Instituto está reavaliando também os neonicotinoides Clotianidina e o Tiametoxam, e ao fim dos três processos iniciará os testes com o Fipronil.

Em 19 de julho de 2012 o Ibama chegou a proibir a pulverização aérea do ingrediente ativo Imidacloprid. O órgão determinou também que todos os produtos deveriam conter nas embalagens o seguinte aviso: “Este produto é tóxico para abelhas. A aplicação aérea NÃO É PERMITIDA. Não aplique este produto em época de floração, nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada visitação de abelhas na cultura. O descumprimento dessas determinações constitui crime ambiental, sujeito a penalidades”. Porém, o Ministério da Agricultura alegou que a aplicação aérea do Imidacloprid era imprescindível para determinadas culturas. Com isso, três meses depois, ficou autorizada a pulverização para culturas de arroz, cana-de-açúcar, soja, trigo e algodão.

Tendo em vista que os agrotóxicos mais nocivos às abelhas estão sendo reavaliados, passando agora pela Avaliação de Risco, o Ibama criou em 2015 um Grupo Técnico de Trabalho para discutir os procedimentos a serem adotados para proteger especificamente as abelhas. O grupo se reúne bimestralmente e conta com 13 participantes vindos do setor acadêmico, da Embrapa, da Indústria e também do Ministério do Meio Ambiente. Sua missão é propor uma avaliação obrigatória de risco de agrotóxicos para abelhas. Porém, não há previsão de quando isso ocorrerá.

Ministério Público Federal cobra respostas

Há procedimentos em curso sobre a morte de abelhas em cinco procuradorias estaduais, no Distrito Federal, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, segundo a Procuradoria-Geral da República. A Agência Pública teve acesso a documentos relativos a dois desses casos.

No Rio Grande do Sul, há uma ação civil pública tramitando na 9ª Vara Federal de Porto Alegre. A ação foi ajuizada em outubro de 2017 contra o Ibama, para obrigar a autarquia a concluir no prazo de seis meses o processo de reavaliação da substância Imidacloprid.

Porém, o Ibama afirma que terá dificuldade de concluir o processo administrativo nesse prazo. Segundo um memorando, o órgão está construindo diversos protocolos de testes, por se tratar de avaliações ainda inéditas no país. A equipe que realiza as reavaliações é composta por apenas cinco analistas ambientais: três biólogos, um químico e um zootecnista. Confira a publicação na íntegra aqui.

Em Mato Grosso do Sul, a Associação de Produtores de Mel de Dourados entrou com uma representação protocolada em março de 2018 pedindo investigação do MPF/MS. Na justificativa, a associação afirma que os apicultores estão perdendo sua renda e produção por causa das mortes de abelhas “pelo uso indiscriminado e abusivo de agrotóxico nas lavouras de cana de açúcar, soja, milho, arroz e outras culturas agrícolas”.

A representação deu origem a uma Notícia de Fato, uma demanda encaminhada aos órgãos para investigação, e agora o MPF de Mato Grosso do Sul avalia se vai instaurar ou não um procedimento próprio.

20 de maio é o Dia Mundial das Abelhas, data criada para lembrar a importância desses insetos para a produção de alimentos em escala global. Elas não são as únicas agentes polinizadoras — pássaros, morcegos, esquilos, besouros e diversos outros contribuem para a reprodução das plantas – mas o grande número e espécies de abelhas as colocam no papel principal.

Para defendê-las, a FAO/ONU, em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), elaborou o Código Internacional de Conduta para o Manejo de Pesticidas. A organização destaca, entretanto, que sem a diminuição do uso de agrotóxicos as abelhas continuarão em risco. “Não podemos continuar nos concentrando em aumentar a produção e a produtividade com base no uso generalizado de pesticidas e produtos químicos que ameaçam os cultivos e os polinizadores”, alertou o diretor-geral da agência da ONU, José Graziano da Silva.

A passos lentos, alguns países vão adotando leis para salvar os zangões, rainhas e operárias. O Fipronil já é proibido em toda a União Europeia há mais de uma década. Em 2004, ele foi banido da França após ações que denunciavam o impacto do veneno — naquele ano, cerca de 40% dos insetos criados nos apiários franceses foram encontrados mortos. Os neonicotinoides entraram em discussão logo depois. Em 2013 tiveram os registros congelados por dois anos, e em 2018 veio o banimento permanente.

Até os Estados Unidos caminham na mesma direção. Em 2013, um relatório do Departamento de Agricultura americano (USDA) mostrou que quase um terço das abelhas de colônias do país morreram durante o inverno de 2012/2013. No ano seguinte, o então presidente americano Barack Obama proibiu o uso de neonicotinoides em áreas de vida selvagem.