Três quartos dos pacientes com fibrilação atrial paroxística sintomática (FA) em um estudo com base em questionário identificaram pelo menos uma experiência aguda que acreditavam ser o gatilho de episódios individuais de arritmia. Os gatilhos possíveis mais relatados foram: consumo de álcool, ingestão de cafeína, exercícios e falta de sono.
Entre os cerca de 1.300 participantes da pesquisa, as mulheres e aqueles com história familiar de FA tiveram maior probabilidade de relatar que tinham esses gatilhos e que tinham múltiplos gatilhos. Aqueles com insuficiência cardíaca, além da FA paroxística sintomática estavam entre os pacientes com menor probabilidade de relatar que sua arritmia atrial tinha gatilhos.
Um dos objetivos da análise foi identificar possíveis fatores desencadeantes de FA que fossem modificáveis e pudessem contribuir para as discussões com os pacientes e, no caso de história familiar de FA, esclarecer as interações entre predisposição genética e promotores ambientais, observou o autor sênior Dr. Gregory M. Marcus, médico da University of California, em San Francisco.
"É um pouco insatisfatório", disse ele ao Medscape, que "parece haver um pouco de heterogeneidade em relação aos gatilhos percebidos, sugerindo que, por exemplo, uma recomendação para todos os pacientes pode não ser apropriada".
Por exemplo, ele observou, evitar a cafeína parece ser uma recomendação quase universal para pacientes com FA paroxística conhecida.
"Mas a realidade é que podem haver, sim, algumas pessoas para as quais a cafeína é um gatilho, mas certamente há muitas outras para as quais não é. A mesma coisa para o exercício. Não queremos desencorajar o exercício, mas certos tipos de exercício podem ser um gatilho importante para algumas pessoas", disse Dr. Gregory.
"Precisamos entender melhor essas relações mais idiossincráticas que podem ser mais relevantes para um determinado indivíduo."
A análise foi publicada em 14 de fevereiro no periódico Heart Rhythm, com o autor principal Dr. Christopher A. Groh, da University of California, em San Francisco.
Dos 1.295 pacientes com FA paroxística sintomática que responderam à pesquisa, 74% responderam ter experimentado pelo menos um dos gatilhos em uma lista fornecida. Entre esse grupo, os gatilhos percebidos mais prevalentes que ocorreram "sempre ou algumas vezes" foram:
- Consumo de álcool em 35%
- Consumo de cafeína em 28%
- Episódio de exercício em 23%
- Falta de sono em 21%
Os entrevistados também foram convidados a "anotar" gatilhos percebidos que não estavam na lista fornecida. De longe, o gatilho acrescentado mais comum, em 20% dos entrevistados, foi estresse ou ansiedade.
Os gatilhos restantes na lista fornecida, citados com menor frequência, incluíam não se exercitar, ingerir bebidas frias, comer alimentos frios, fazer uma refeição grande, uma dieta com alto teor de sódio, desidratação e deitar do lado esquerdo.
O Dr. Gregory disse que a lista de possíveis gatilhos avaliados pelos pacientes foi baseada no consenso de especialistas ou coletada por meio de pesquisa on-line e mídia social.
"Não há quase nenhum dado que mostre que a maioria desses fatores de fato provoca fibrilação atrial, então, atualmente a melhor evidência que temos é o que os pacientes estão nos dizendo".
Os participantes da pesquisa foram identificados por fazer parte do Health e Heart Study ou por serem assinantes da organização de defesa do paciente StopAfib.org.
Aqueles que relataram ter ou não desencadeantes para os episódios de FA foram estatisticamente semelhantes para comorbidades demográficas e cardiovasculares, exceto que os que relataram ter os gatilhos apresentavam probabilidade duas vezes maior de ter história familiar de FA (P = 0,008) e probabilidade 71% menor de ter insuficiência cardíaca (P = 0,001) na análise ajustada.
Coletivamente, os entrevistados relataram uma mediana de dois gatilhos separados. Grupos com maior probabilidade de relatar múltiplos desencadeantes incluíram mulheres, pacientes mais jovens, hispânicos, história familiar de FA ou apneia obstrutiva do sono.
Os resultados são consistentes com diferentes mecanismos que, se acredita, são relacionados à FA em vários pacientes, disse Dr. Gregory. Eles incluem alterações estruturais crônicas, como fibrose miocárdica ou aumento atrial, que acompanham a idade avançada e podem estar menos associadas a desencadeantes agudos.
Ou podem incluir propriedades mais dinâmicas e funcionais, como distúrbios de canal iônico, que pode estar presente na ausência de mudanças estruturais e pode ter maior probabilidade de reagir a fatores ambientais e comportamentais, disse ele.
Em outras palavras, os gatilhos parecem estar mais associados à FA isolada do que à FA com doença cardíaca estrutural.
"Faria sentido se houvesse um gatilho ambiental importante que provavelmente influenciaria algo dinâmico com um potencial efeito agudo e transitório nas propriedades elétricas do coração, em vez de um tipo de problema estrutural fixo indiferente a presença de álcool ou ausência de sono".
Dr. Gregory disse que a análise atual é parte da preparação para o estudo randomizado Individualized Studies of Triggers of Paroxysmal Atrial Fibrillation (I-STOP-AFib), cujo desfecho primário se baseia na pesquisa do Atrial Fibrillation Effect on Quality of Life (AFEQT).
O estudo planeja inscrever um número estimado de 478 pacientes com FA paroxística sintomática que tenham smartphones, designando-os aleatoriamente a um grupo de intervenção ou a grupos de controle, ambos exigindo o uso regular do monitor eletrocardiográfico Kardia Mobile (AliveCor).
O grupo de intervenção, mas não o grupo de controle, fará mudanças de estilo de vida personalizadas com base em um período anterior, no qual foram estudados a frequência de FA, os sintomas e a exposição a possíveis gatilhos.
Eles realizarão um monitoramento adicional para determinar se evitar possíveis gatilhos identificados tem um efeito sobre os episódios de FA.
"O objetivo é ser capaz de fornecer aos pacientes suas próprias informações sobre a probabilidade de que um gatilho percebido seja de fato um gatilho ou não", disse Dr. Gregory.
Dr. Gregory informou ter recebido financiamento de pesquisa da Medtronic e Jawbone; ter prestado consultoria para Johnson & Johnson e InCarda Therapeutics; e ter ações da InCarda. Dr. Christopher não informou conflitos de interesses relevantes. A declaração de conflitos de interesses dos demais autores consta no artigo.
Heart Rhythm. Publicado on-line em 14 de fevereiro de 2019. Abstract
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