sexta-feira, 20 de agosto de 2021

O mito da ingestão de triptofano e maiores níveis de serotonina.

Muito se vê na internet, que uma dieta rica em um aminoácido chamado Triptofano pode auxiliar a elevar os níveis de serotonina e com isso reduzir a ansiedade e promover bem-estar. Seria esse um mito ou uma verdade? Afinal é propagado por tantos profissionais. 

Bem, eu acreditava nisso e defendi isso por vários anos, até que um amigo, psiquiatra me deu uma aula sobre a produção de serotonina. Hoje afirmo categoricamente que a deficiência de triptofano é muito rara e que muito mais importante que o aminoácido para a síntese de serotonina, é a manutenção de bons níveis de co-fatores para a produção. 

Seria muito simples tratar pacientes com depressão ou ansiedade (condições com menor nível de serotonina cerebral) dando apenas L-triptofano. Não é o que se vê na prática quando se administra o aminoácido. Forma um pouco mais? Talvez, mas nada que seja significativo a ponto de tratar os sintomas psiquiátricos

E o que seriam os co-fatores?

Os co-fatores são vitaminas e minerais que agem de forma sinérgica para a produção da serotonina, assim como de outros neurotransmissores, como Gaba, Dopamina, Noradrenalina.

A produção de serotonina (5-HT) ocorre pela conversão do triptofano em 5-hidroxitriptofano. O 5-hidroxitriptofano (5-HTP) é, em seguida, descarboxilado em serotonina. O triptofano é um aminoácido essencial (não produzido pelo organismo) e tem de ser obtido na dieta. 

Alimentos comuns presentes no dia a dia contém triptofano e raramente haverá situações de insuficiência de aporte de triptofano através da comida. Alimentos como queijo, amendoim, frango, castanha de caju, ovo, ervilha, abacate, couve-flor, batata, banana, peixe (principalmente atum e salmão), pão e arroz integral, café, carne, feijão são fontes de triptofano.
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A quantidade de triptofano no sangue influencia a produção da serotonina e há uma relação entre maior ingestão de triptofano aumentando a concentração de serotonina cerebral. 

Porém,  essa serotonina se manterá reservada em vesículas no neurônio pré-sináptico e somente serão liberadas na fenda sináptica para o processo de ativação neuronal pós-sináptico no 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐜𝐞𝐫𝐭𝐨.

Elevação da síntese de serotonina não significa aumento da ativação das vias neuronais serotoninérgicas. Esta modulação não é realizada pela concentração de triptofano ou serotonina. 

Então, aumentar produção de serotonina, pelo aumento da ingestão de triptofano, não levará a um aumento da função neuronal de vias de serotonina imediatamente. 

Se todo alimento que possui triptofano promovesse bem-estar, ocorreria de maneira independente do paladar ou escolha individual. O bem-estar é aqui emocionalmente determinado na relação com a comida e não pelo triptofano.
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É importante lembrar que deficiência de serotonina cerebral só existirá em quadros desnutricionais severos ou lesões neurológicas específicas. 

Mas os déficits dos co-fatores pode alterar a produção ?

Sim, tanto déficit de B12, Ácido fólico (B9), Magnésio e Vitamina B6 podem influenciar a produção de serotonina. 

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