Em 2006 o Ministério da saúde iniciou uma pesquisa denominada Vigitel (Vigilância
de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico). Ocorre anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.
As entrevistas ocorrem via inquérito por telefone, realizado anualmente em amostras da população adulta (>18) residente em domicílios com linha de telefone fixo. Quais temas o Vigitel aborda?
- Tabagismo;
- Excesso de peso e obesidade;
- Consumo alimentar;
- Atividade física;
- Consumo de bebidas alcoólicas;
- Condução de veículo motorizado após consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas;
- Autoavaliação do estado de saúde;
- Prevenção de câncer;
- Morbidade referida.
No Vigitel de 2020, a prevalência de obesidade nas capitais ficou da seguinte maneira, conforme a figura abaixo.
Que a obesidade tem se tornado cada vez mais prevalente nas capitais brasileiras. Em 2020, foram registrados 21,5% dos adultos com obesidade, contra 20,3% em 2019. Manaus (24,9%), Cuiabá (24%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram a incidência de obesidade nas capitais. E o que preocupa a ciência é que até 2011, nenhuma capital tinha uma prevalência de obesidade acima de 20%, enquanto em 2020 o Vigitel levantou 16 capitais com prevalência de obesidade acima de 20%.
Quais fatores estão envolvidos ?
Há quem acredite que isso tenha piorado com a pandemia. Sim, estamos em uma pandemia há 2 anos mas a prevalência já vinha aumentando. A pandemia pode ter exacerbado o que já vinha piorando. E falar de fatores de riscos, gatilhos em obesidade é bem complexo.
Centenas de fatores podem estar relacionados mas na nossa reflexão hoje abordaremos temas pouco discutidos e que geram uma grande contribuição.
A poluição ambiental
O estresse crônico
A violência
O sedentarismo
A princípio esses gatilhos parecem desconectados, mas a medida que se analisa de forma "sociológica" percebemos uma inter-relação entre eles.
A poluição ambiental engloba tanto a poluição do ar (obviamente maior em capitais) quando poluição do solo, poluição sonora, poluição visual.
A poluição do ar está relacionada a piora de várias patologias (Alzheimer, doenças pulmonares, cardiovasculares, alérgicas) e também obesidade. Mecanismos ainda não bem elucidados mas acredita-se que seja por disrupção endócrina e/ou exacerbaçao da inflamação subclínica.
A poluição do solo inclui também a poluição da água. Metais tóxicos, poluentes orgânicos persistentes (POPs), disruptores endócrinos. Ou seja, substâncias que de forma direta ou indireta podem ocasionar doenças, exacerbar outras e com isso alterar a parte endócrina. Tema há décadas negligenciado no Brasil e que na Europa ganha cada vez mais força.
A poluição sonora assim como a poluição visual favorecem uma hiperativação do eixo pituitária-adrenal e com isso elevação crônica e persistente dos níveis de cortisol e noradrenalina. O que de forma indireta poderiam influenciar os adipócitos, desbalanço nos níveis de hormônios relacionados ao apetite (Grelina) e saciedade e gasto energético (leptina).
O estresse crônico pode ter inúmeros fatores causais:
Trânsito
Desigualdade social
Violência
Apreensão quanto ao futuro
Menor contato com a natureza
Menor tempo disponível para lazer
Alta carga de trabalho
Redução do número de horas de sono
Tudo isso interage e favorecem hiperativação do eixo pituitária-adrenal. Ou seja, elevação crônica do cortisol.
Combina-se a tudo isso, um maior sedentarismo, influenciado pela violência, distância entre pontos dentro das cidades, transporte público precário e/ou ineficaz, comodidade.
Os fatores acima ainda facilitam o consumo de alimentos ultraprocessados: cereja do bolo!
Ou seja, os fatores que vem favorecendo maior prevalência da obesidade nas capitais são inúmeros. Enquanto autoridades sanitárias não se atentarem a isso, veremos os índices subirem. Com consequente estrangulamento do sistema público/privado de saúde.
Autores:
Dr. Frederico Lobo - CRM 13192, RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Fontes:
https://www.endocrine.org/topics/edc/what-edcs-are/common-edcs/metabolic
https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/ipen-intro-edc-v1_9h-pt-print.pdf
https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/ipen-intro-edc-v1_9h-pt-print.pdf
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