Esta semana, vi uma postagem do pessoal da Nutrição Comportamental da USP e lembrei que há tempos queria falar sobre isso. Tenho até um e-book (Mindful eating) sobre o tema, mas acho que poucas vezes abordei o tema aqui.
Acho que não tem 1 dia no ano, que eu fico sem explicar para alguém sobre isso. Parece que na última década, o nutricionista invadiu o cérebro dos brasileiros rs. Uma mistura de terrorismo nutricional com ausência de cientificidade, combinado com radicalismos. Gatilho perfeito para transtornos alimentares.
Comida vai muito além de ser só alimento.
A comida tem um sabor (junção do gosto e do aroma), esse gosto e/ou aroma podem despertar sentimentos, memória afetiva, irritar, ou seja, acionar vários sentimentos.
Essa comida tem uma textura, que pode ser agradável, desagradável, repugnante ou "viciante".
A comida faz um som ao ser mastigada e brinco que o que faz croc, geralmente é hiperpalatável.
Ela tem aroma e que assim como o gosto, desperta emoções, faz a nossa boca salivar, ou não, né?
Comida é vontade, é apetite hedônico, pode ser comfort food, é calmante, as vezes eletrizante ou então horripilante.
Comer é um ato social, comemoramos comendo ou comemos para comemorar. Nos damos como recompensa. As vezes restringimos, como forma de punição.
Se a comida é um ato social, concluímos que comida é cultura, comida é geografia, história, motivo de guerras, de escravização.
Comida é ciência, é biologia, é bioquímica, é nutrição, é nutrologia, é digestão, é assimilação, é excreção.
Comida é ciência, é biologia, é bioquímica, é nutrição, é nutrologia, é digestão, é assimilação, é excreção.
Comida ativa circuitos neuronais, que podem reduzir a fome, acionar a saciedade, mudar o nosso gasto energético. Comida desencadeia uma cascata de reações intestinais, desde produção de sucos digestivos, a produção de peptídeos intestinais com ação sistêmica. Comida nutre bactérias, nutre nossos enterócitos (celulas intestinais), pode melhorar ou piorar a inflamação do nosso corpo. Comida serve de substrato para pararmos em pé. Comida vira ossos, músculo, órgãos, líquidos.
Sendo um ato social, comida fala de acesso, de disponibilidade, de poder aquisitivo e nos lembra que há pessoas em nosso país em situação de insegurança alimentar.
O oposto também existe, comida altamente palatável, ultra-processada, disponível em prateleiras a baixo custo, relaciona-se com a epidemia de obesidade. Uma doença guarda-chuva, que se desdobra em várias outras e que gera rombos aos cofres públicos. Ou seja, problema de saúde pública.
Comida muitas vezes nos remete à família. Nossa primeira fonte de comida? A mãe. Nosso paladar é muitas vezes moldados pelos gostos familiares, pela região onde crescemos, pelo que nasce ao nosso redor. Comida nos remete à família, te fazer querer pegar o carro e ir visitar sua mãe, para comer algo bem específico que só ela sabe fazer. Ou bolo de vó, churrasco de avô. Feijoada da tia, rabanada de natal.
Por fim, não menos importante, comida leva na sua composição nutrientes. É isso que a Nutrologia estuda, a inter-relação entre nutrientes e a saúde humana. É por isso que me procuram no consultório, para saber quais nutrientes ingerir. E a partir de agora eu mostrarei essa fatia de pizza, pra frisar que comida vai muito além de nutrientes. Que de nada adianta ingerir nutrientes não gostando do gosto. Ou seja, comida não visa apenas nos nutrir, mas também dar prazer.
Para finalizar, com vocês, Titãs.
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
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