Viver em dieta não é moleza. Mesmo assim, podemos estimar que 4 a cada 10 leitores desta coluna tentaram perder peso nos últimos 5 anos. Entre 10 que conseguiram a proeza de reduzir o ponteiro da balança, 8 recuperaram os quilos perdidos no primeiro ano. E, pasmem, outros tantos tiveram um destino ainda pior.
Em 1983, "Dieting makes you fat" ("A dieta te faz engordar"), de Geoffrey Cannon e Hetty Einzig, prenunciava um aparente paradoxo: 1 a cada 3 pessoas que recorrem a dietas tende a ganhar mais peso no futuro do que perdeu inicialmente. Daí o provocativo título do best-seller.
Três décadas se passaram e o assunto continua quente.
A restrição de calorias ainda é componente central do tratamento de pessoas com sobrepeso e obesidade, não obstante sua taxa de sucesso bastante variável.
Em contrapartida, temos evidências suficientes para afirmar que indivíduos com peso normal que fazem dietas apresentam maior propensão a engordar ao longo da vida.
Essa constatação advém de diferentes tipos de estudos. Numa pesquisa com gêmeos, aqueles que reportavam praticar dietas restritivas durante a adolescência —em comparação aos que não tinham esse hábito— apresentaram maior risco de sobrepeso aos 25 anos de idade.
Atletas de elite que costumeiramente necessitam baixar peso para competir, tais como boxeadores e halterofilistas, tendem a exibir maior massa corporal do que seus pares envolvidos em modalidades que não demandam um rígido controle de peso.
Num dos mais clássicos estudos sobre dietas —o "Experimento de Fome em Minnesota"—, homens saudáveis foram submetidos a uma austera restrição calórica por 6 meses, que resultou na perda de 25% do peso corporal. Alguns participantes puderam se alimentar à vontade por 2 meses subsequentes. Os pesquisadores notaram que a sensação de fome dos voluntários alcançou patamares superiores aos do início do estudo, assim permanecendo por semanas, mesmo após a recuperação completa do peso perdido.
As explicações para esses resultados estão na origem da nossa espécie.
Nossos genes foram esculpidos ao longo de milhões de anos de evolução pelo martelo da imprevisibilidade alimentar. Isto nos forjou econômicos, poupadores. De tal sorte que uma queda abrupta do peso corporal —via restrição de calorias, por exemplo— desencadeia uma resposta fisiológica vigorosa, rumo à recuperação do peso perdido.
Quando perdemos peso, eliminamos gordura e músculo. E a baixa nos estoques de ambos os tecidos, interpretada pelo nosso cérebro como um risco à sobrevivência, aciona o sinal da fome. Isso explica, aliás, por que frequentemente sabotamos as dietas.
Ocorre que o botão da fome permanece ativado mesmo quando recuperamos toda a gordura inicialmente perdida.
A voracidade pela comida só alivia com a retomada da massa muscular, que se dá de modo mais lento do que a de gordura —muitas vezes, quando já estamos mais gordos do que antes da dieta.
Esse mecanismo —chamado de fat overshooting (algo como supercompensação de gordura)— ajuda a explicar por que dietas restritivas podem nos fazer engordar no futuro.
O ciclo de perda e ganho de peso (mais ganho do que perda, a rigor)— popularmente conhecido como efeito sanfona— está associado com maiores riscos cardiovasculares e de mortalidade, além de distúrbios de autoimagem, transtornos alimentares e de ansiedade.
Em que pese a onipresente pressão social pelo corpo magro, a tentativa de emagrecer pessoas com peso normal é clinicamente incoerente. E pode muito bem produzir o oposto do pretendido.
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