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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Acolhendo o paciente portador de obesidade

Diariamente recebo reclamações de pacientes acerca da abordagem que alguns profissionais da saúde (em especial Endocrinologistas, Nutricionistas e Nutrólogos) tem para com o paciente portador de obesidade. Ao longo de quase 15 anos, percebi que a Medicina evoluiu muito pouco no quesito acolhimento. Pior ainda quando analisamos o quão gordofóbica é a abordagem da maioria dos profissionais.

O paciente portador de obesidade se torna um nicho altamente lucrativo para a indústria de dietas. As chances de sucesso terapêutico vão se reduzindo com o passar dos anos, à medida que ele tenta novas alternativas/dietas/medicações/intervenções e não alcança êxito, ele se sente fracassado e cada vez mais fragilizado. Essa sensação vem acompanhada de culpa e ao mesmo tempo de esperança, caso encontre outro método para acreditar. E assim a indústria da dieta gera bilhões ao redor do mundo. 

A grande verdade é que a maioria dos profissionais da saúde não gostam do paciente portador de obesidade. A obesidade é uma doença bastante completa e o paciente também é complexo. O culpam pela própria patologia. Sabem das dificuldades em se promover mudança de estilo de vida, alguns atée sabem da baixa adesão à maioria dos tratamentos. Não gostam do paciente portador de obesidade, mas adoram o lucro que esse paciente pode gerar. É cruel. 

Se eu fosse listar aqui as frases que eu e meu nutricionista ouvimos nos últimos 12 meses, esse texto teria 20 páginas. Relatos tristes e que botam em cheque a nossa fé na humanidade. Profissionais sem o mínimo de tato na abordagem ou compaixão pelo sofrimento alheio. Gente que vende ilusões e quando se deparam com as adversidades do tratamento da obesidade, tem prazer em culpar o paciente, alimentando um ciclo de tentativas e insucessos. Iatrogenia em cima de iatrogenia.

Quando isso mudará? Talvez quando a esfera psicológica for mais valorizada. Quando os profissionais realmente entenderem que obesidade é uma doença multifatorial, com forte componente genético e ambiental. Que o paciente necessita de uma abordagem multidisciplinar e ser visto de forma ampla. 

Porém, a maioria dos profissionais não querem estudar a parte comportamental, sequer encaminham para psicólogos. Quem dirá ouvir as demandas desses pacientes. Então o ciclo cruel se perpetua e alguém lucra com isso. E para alguém lucrar, faz-se necessário alguém perder algo. 

E quem perde quase sempre é o paciente. Perde a confiança em si mesmo e nos profissionais. Por fim acaba se culpando e ficando ainda mais fragilizado. Mas a esperança é a última que morre e em breve ele recorrerá a um novo tratamento. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 



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