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quarta-feira, 31 de maio de 2023

Tirzepatida: o uso indiscriminado chama atenção de especialistas

Apesar de ainda não ter sido aprovada pela Anvisa, a tirzepatida (Mounjaro™) vem sendo indicada por médicos para perda ponderal no Brasil. “Alguns médicos estão orientando que seus pacientes comprem fora do Brasil, uma vez que o medicamento não está à venda no país, e há muitas pessoas já utilizando [o medicamento] por conta própria”, afirmou o endocrinologista e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Dr. Fábio Ferreira de Moura, segundo o qual, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) consideram divulgar em breve um comunicado oficial em defesa da regulação da prescrição deste e dos outros novos medicamentos que levam à rápida perda de peso, como a semaglutida.

"Devemos estar atentos à possibilidade de efeitos adversos inesperados da tirzepatida e de outros fármacos descobertos recentemente, especialmente diante do cenário de uso indiscriminado dessas substâncias”, acrescentou Dr. Fábio.

Primeira de uma nova classe terapêutica de agonistas duplos dos receptores de polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose e do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1, sigla do inglês), a tirzepatida foi formulada para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2, indicação para a qual foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos em 2022. No entanto, o seu potencial para perda ponderal mostrou-se significativo e, atualmente, a fabricante do fármaco (Eli Lilly) está conduzindo o segundo ensaio clínico global de fase 3 para avaliar a segurança e eficácia da tirzepatida para perda ponderal em pacientes com diabetes tipo 2. No Brasil, a Anvisa ainda não aprovou o uso do medicamento para nenhuma indicação ─ diabetes ou perda ponderal.

As redes sociais e os noticiários estão repletos de menções aos “medicamentos milagrosos” para a perda ponderal, referindo-se a esses fármacos. No entanto, além da ausência de ensaios clínicos comprovando a segurança e eficácia da tirzepatida para esse fim, vale ressaltar que o medicamento é contraindicado para pacientes com história ou quadro atual de pancreatite e neoplasia endócrina múltipla, especialmente carcinoma medular de tireoide, e os eventos adversos associados ao uso indiscriminado deste medicamento ainda são desconhecidos. Entre os que já se tem registro estão náuseas, vômitos, diarreia e aumento da chance de formação de cálculos biliares.

O Dr. Fábio reforçou que qualquer tratamento antiobesidade deve ter abordagem multidisciplinar, incluindo preparação psicológica, orientação e acompanhamento profissional para mudanças no estilo de vida, o que implica associar o uso do medicamento a alimentação equilibrada e saudável, prática regular de exercícios físicos e terapia cognitivo-comportamental.

Uso por crianças e adolescentes

Como a semaglutida foi aprovada nos EUA para tratamento de pacientes com obesidade a partir dos 12 anos de idade, o endocrinologista pediátrico Dr. Ricardo Fernando Arrais acredita que, a Anvisa também libere a tirzepatida para uso em crianças e adolescentes, desde que com cuidados redobrados e supervisão multiprofissional. De acordo com o Dr. Ricardo, desde a década de 1990 há um aumento progressivo de casos de diabetes mellitus tipo 2 e obesidade nessa população, e, quanto antes esses problemas forem identificados e tratados nas crianças e adolescentes, maior a eficácia da intervenção.

O Dr. Ricardo salientou que as diretrizes da American Academy Of Pediatrics (AAP) reforçam a importância de não prolongar demais o tratamento farmacológico. “Nossa tarefa é utilizar esses medicamentos pelo menor tempo possível, até que se consiga reverter ou estabilizar a doença com uma dose pequena [associadas a] mudanças efetivas de hábitos”, disse. “O tratamento deve ser abrangente e individualizado, envolvendo familiares; [também] são essenciais a proximidade e o contato permanente [dos médicos] com os pacientes”, acrescentou.    

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