A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou o aspartame – um dos adoçantes artificiais mais populares do mundo e amplamente utilizado em medicamentos – como substância “possivelmente cancerígena”.
A OMS informou, no entanto, que a decisão não representa uma recomendação para substituir ou eliminar o edulcorante de seus usos atuais.
"O consumo ocasional de aspartame provavelmente não será associado a riscos à saúde para a maioria dos indivíduos”, disse o Dr. Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutrição para Saúde e Desenvolvimento da OMS. "Consumidores ocasionais não devem se preocupar em consumir alguns produtos, sejam bebidas, chicletes ou outros produtos que contenham esse adoçante.”
A mudança na classificação de risco da substância, divulgada oficialmente nesta sexta-feira (14), já havia sido antecipada em uma reportagem da Agência Reuters no fim de junho. O anúncio oficial foi retido para que a divulgação fosse realizada junto com outra avaliação do aspartame, realizada por um segundo painel, o Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA), que reúne a OMS e a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO).
Em uma revisão independente de estudos, os especialistas do JECFA consideraram que "as evidências de associação entre consumo de aspartame e câncer em humanos não é convincente”. A entidade decidiu, portanto, manter os limites aceitáveis de ingestão diária da substância em 40 mg por quilograma de peso corporal.
Na prática, isso significa, por exemplo, que um adulto de 70 kg precisaria consumir entre 9 e 14 latinhas de refrigerante dietético diariamente para ultrapassar a dose aceitável.
A decisão da IARC em declarar o aspartame como “potencialmente cancerígeno” – a terceira classificação mais elevada, em uma escala com quatro estágios – foi feita por 25 especialistas, tendo como base evidências científicas oriundas da revisão de artigos científicos com trabalhos in vivo e in vitro. Um resumo dos procedimentos e conclusões foi publicado, conjuntamente com o anúncio formal da mudança, no periódico The Lancet Oncology. [1]
Os especialistas consideraram haver “evidências limitadas” do potencial cancerígeno do aspartame em humanos, sobretudo para o carcinoma hepatocelular, um tipo de câncer de fígado. Representantes da IARC, no entanto, reconheceram que volume de dados ainda é pequeno, e pediram mais pesquisas sobre o potencial cancerígeno do aspartame. O anúncio acontece cerca de dois meses depois da publicação das novas diretrizes da OMS sobre o uso de adoçantes artificiais. [2]
Entre agências reguladoras e sociedades médicas do mundo todo, o anúncio da IARC sobre o potencial de carcinogenicidade do aspartame foram recebidos com cautela.
Entidade reguladora de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, a Food and Drugs Administration (FDA), fez críticas públicas pouco habituais à decisão da agência da OMS, e reiterou sua posição sobre a segurança do aspartame. Ao jornal The New York Times, a FDA afirmou que “discorda da conclusão da IARC de que esses estudos apoiam a classificação do aspartame como um possível carcinógeno para humanos”.
A Dra. Melanie Rodacki, vice-presidente do Departamento de Diabetes Mielitus da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), também pediu cautela quanto à nova classificação do aspartame por parte da IARC. “É importante que se saiba que a IARC não é uma agência de segurança alimentar. E ela tem sido muito criticada por fazer as avaliações sem considerar um ponto importante: a quantidade de exposição em um determinado período”, afirmou.
Destacando que as sociedades médicas ainda precisam ter acesso à integra do relatório da IARC para se pronunciarem com a devida propriedade, Dra. Melanie relembrou agência lista como possivelmente associados com o câncer o uso de telefone celular, o trabalho noturno e o consumo de carne vermelha.
“São situações que possivelmente têm a ver com outras atividades humanas. Por exemplo: alguém que trabalha à noite pode ter mais chances de comer mais alimentos ultraprocessados e de não ter hábitos tão saudáveis, de ser mais sedentário. Outras coisas estão envolvidas, não é uma relação causal”, completou.
“Essa é uma grande revisão de dados e temos de ficar atentos a isso. Não podemos ser displicentes e achar que os dados [de segurança do aspartame] não precisam ser revistos, mas também não podemos ser sensacionalistas e gerar pânico na população”, completou.
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