segunda-feira, 30 de outubro de 2023

10 Receitas de geleias de frutas (versão sem açúcar)


Geleias de frutas são um tipo de preparação que pode ganhar diversos sabores e oferecer diferentes experiências ao nosso paladar. De azedinhas a mais docinhas, suaves, picantes ou até crocantes, são ótimos acompanhamentos para variar o seu pãozinho no café da manhã, a torrada no lanche da tarde ou ainda para comer com uma fatia de queijo.

Mas, as geleias têm saído do radar de opções de pessoas que buscam uma alimentação saudável e sabe por quê? Porque levam açúcar na composição. É claro, todos devemos ter atenção ao consumo de açúcar, mas se você não apresenta doenças que exigem a restrição desse alimento, as geleias podem fazer parte da sua alimentação, em pequenas quantidades e junto com os alimentos certos.

E existe uma outra alternativa, também é possível fazer uma geleia de frutas sem açúcar. Usando frutas menos ácidas, conseguimos fazer uma geleia saborosa e apenas com o açúcar dos ingredientes, mais especificamente das frutas. 

A nutricionista Beatriz Valverde ensinou no site do Nutritotal uma receita de geleia de maçã e logo abaixo fiz um compilado com outras receitas. 

Receita de geleia de maçã

Ingredientes
3 maçãs 9pode ser maçã verde)
1 xíc. (chá) de água filtrada
1 col. (sopa) de farinha de chia
2 col. (chá) de canela

Modo de preparo:
Lave as maçãs com casca, descasque e pique-as.
Em fogo médio, misture as maçãs com a água e a chia, até virar um creme homogêneo. A chia forma uma mucilagem que ajuda a deixar a consistência de geleia e não de purê.
Mexa em fogo baixo por 10 minutos até começar a ficar com consistência de geleia. Finalize com a canela.
Desligue o fogo e deixe esfriar.
Armazene a geleia em um recipiente de vidro em geladeira.

Dica para alcançar a consistência de geleia

Nem toda fruta é capaz de alcançar a consistência de geleia. Isso porque a capacidade de gelificação das frutas se dá em razão da presença de pectina, uma substância comum em frutas e vegetais, mas que pode não se apresentar em quantidade suficiente para a formação de géis na culinária. 

As frutas que mais possuem pectina são as frutas ácidas, mas a maçã é campeã na presença de pectina. 

Ainda assim, é possível obter a consistência de gel com outras frutas, para isso é preciso aquecer as frutas com açúcar (pode ser xylitol, eritritol ou até mesmo sucralose) e um líquido ácido, como o sumo do limão. 

Além disso, é possível acrescentar alguns ingredientes potenciais na formação de gel, como a linhaça e chia, goma-guar, pysslium. Na receita acima a Beatriz usou a chia. A presença dessas substâncias aumenta o valor nutricional por conter fibras, mas não aumenta o valor energético (calórico). Como sempre falo aqui no blog, as fibras é um dos nutrientes mais negligenciados na nossa dieta e devemos ter como meta consumir pelo menos 34g para homens e 28g para mulheres.

Dessa forma você conseguirá preparar uma geleia com outros sabores e uma preparação multiuso, que vai fazer com que a sua fruta dure mais do que na fruteira. 

Mas, reforçando, o consumo de geleias de frutas com adição de açúcar deve ser moderado (no maximo 10% do volume calórico diário) e preferencialmente com acompanhamentos ricos em fibras ou proteínas como pãezinhos e torradas integrais ou queijos.

Outras opções de geleias sem açúcar são:

Geleia diet de morango

Ingredientes:
1 caixa de morango
1 xícara e meia de adoçante em pó (sucralose, xylitol, eritritol, stevia)
2 colheres de sopa de suco de limão
1 pitada de sal
2 pitadas de pimenta-do-reino
2 pitadas de canela em pó
2 pitadas de cravo em pó
ou a versão com pimenta dedo de moça (1/2 pimenta dedo de moça grande, picada, sem as sementes)

Modo de preparo :
Lave e limpe os morangos. Corte os em 4 partes na panela, ou 6 se forem grandes demais.
Adicione os outros ingredientes, começando pelo adoçante.
Leve a fogo médio, mexendo sempre, até que comece a ferver.
Abaixe o fogo e deixe cozinhar ate que você perceba a redução. O ponto é como brigadeiro, passar a colher e ver o fundo da panela.
Depois de esfriar, pode ser usada no pão ou torrada, como uma geleia normal, ou adicionada ao iogurte natural, sorvetes de baunilha, ou outras sobremesas.

Geleia de amoras e morango com chia 

Ingredientes
1 xícara e meia de chá de amoras e morangos processados ⁣
1 xícara de chá de água
1 colher de sopa xylitol
1 colher de sopa de chia ⁣

Modo de preparo:
Coloque as frutas, a água e o xylitol em uma panela.
Leve ao fogo e espere ferver.
Adicione a chia e cozinhe por mais alguns minutos.
Desligue o fogo e guarde em um pote de vidro esterilizado e com tampa.

Geleia de damasco sem açúcar 

Ingredientes: 
200 gramas de damascos secos
150 ml de água
1 laranja ou 100ml de suco de maçã sem açúcar
ou a versão com pimenta dedo de moça (1/2 pimenta dedo de moça grande, picada, sem as sementes) ou pitada de pimenta rosa triturada

Modo de preparo:
Em uma vasilha, coloque os damascos, cubra com água, adicione o suco da laranja ou de maça e deixe de molho por quatro horas.
Transfira para um liquidificador e bata por alguns minutos.
Coloque em uma panela, adicione as raspas de laranja e mexa até atingir a consistência desejada.

Geleia de laranja com pimenta

Ingredientes:
600 ml de suco de laranja⁣
1 xícara de chá de xilitol
2 maçãs fuji raladas com a casca
1 colher de café de sal
3 pimentas-dedo-de-moça grandes, sem sementes e picadas em quadradinhos
3 dentes de alho inteiros
400 ml de água ⁣

Modo de preparo:
Em uma panela, coloque o suco de laranja, o xilitol, as maçãs raladas, o sal, as pimentas, o alho, metade da água, misture e leve ao fogo baixo. Mexa sem parar até reduzir.
Assim que ferver bem, adicione o restante da água, deixe ferver e reduzir novamente, mexendo sem parar. Desligue o fogo, retire os dentes de alho e despeje a geleia em um pote de vidro, esterilizado e tampe

Geleia de caqui com tâmaras e canela

Ingredientes:
3 caquis bem maduros
1 rama de canela em pau
6 tâmaras: deixar de molho por 1 hora
100 ml de água

Modo de preparo:
Comece batendo as tâmaras no liquidificador com a água em que elas ficaram de molho.
Descasque os caquis e corte em cubos.
Leve ao fogo as tâmaras batidas, o caqui e a canela em 180 ºC até o caqui ficar bem cozido e reduzir.
Caso necessário, acrescente água para chegar ao ponto.
Leve a geladeira e aproveite sua geleia. 

Geleia de pêra com gengibre

Ingredientes:
25 g de uva-passa branca
200 ml de água
Suco de 1/2 limão espremido
3 peras maduras
1 colher de sopa de gengibre descascado e ralado

Modo de preparo:
Coloque as uvas-passas na água e deixe de molho por 1 h.
Bata no processador ou mixer até obter uma pastinha.
Coloque em uma panela com o suco de limão.
Adicione as peras picadas e o gengibre.
Cozinhe em fogo médio, mexendo de vez em quando.
Quando reduzir e ficar em ponto de geleia desligue o fogo.
Transfira para um pote de vidro e guarde na geladeira por até 15 dias.

Geleia de maçã com anis-estrelado 

Ingredientes:
3 maçãs maduras (prefira as com a casca mais vermelha)
2 colheres de anis-estrelado (grosseiramente quebrados)
200ml de água
Pimenta-do-reino-branca a gosto (opcional)

Modo de preparo:
Higienize, descasque e rale as maçãs (no ralo grosso), em uma panela.
Acrescente o anis-estrelado, a água, a pimenta e deixe cozinhar em fogo médio, mexendo por vezes.
Assim que a maçã ficar bem cozida e a geleia reduzir, desligue o fogo e armazene em um recipiente esterilizado.

Geleia de Abacaxi

Ingredientes:
1 abacaxi médio, descascado, sem o miolo e picado
Adoçante em pó a gosto (stevia, xylitol, eritritol, sucralose)
½ envelope de gelatina em pó sem sabor, branca
1 xícara (chá) de água

Modo de preparo: 
Em uma panela, coloque o abacaxi com ¾ da água. Leve ao fogo e deixe cozinhar até amaciar, vá acrescentando o adoçante aos poucos. 
Misture a gelatina com o restante da água e deixe a gelatina hidratar. Coloque na panela e apague o fogo e deixe esfriar.

Geleia de Kiwi

Ingredientes:
8 kiwis
2 colheres (sopa) de adoçante da sua escolha
1 colher (sobremesa) de gelatina em pó sem sabor, branca
1 xícara (chá) de água

Modo de Preparo: 
Higienize e tire a casca da fruta.
Corte em pedaços.
No liquidificador, coloque a fruta picada, o adoçante, um pouco da água e bata.
Coloque a mistura em uma panela e leve-a ao fogo para cozinhar um pouco.
Misture a gelatina com o restante da água, coloque na panela mas não deixe ferver.
Retire do fogo e leve para gelar.

Referência

BREJNHOLT, Sarah M. Pectin. Food stabilisers, thickeners and gelling agents, p. 237-265, 2009.

Fonte: https://nutritotal.com.br/publico-geral/material/aprenda-uma-receita-de-geleia-de-frutas-saudavel/

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O intestino como sinalizador da nossa saúde

Você já ouviu dizer que o intestino é o nosso segundo cérebro? Se essa frase é uma novidade aos seus ouvidos, saiba que esse órgão é tão importante quanto aquele que guarda nossas memórias e conduz nossos movimentos. A saúde intestinal merece o mesmo cuidado ou até mais do que damos ao restante do corpo e você vai entender o porquê.

O intestino é muito mais do que responsável por formar as fezes que evacuamos todos os dias, ele é tão extenso que pode ser até 8x maior que a altura de uma pessoa, variando de 7 a 9 metros de comprimento. E com todo esse tamanho não dá para imaginar que ele só tem a missão de nos levar ao banheiro diariamente. 

Mais incrível que o seu tamanho é o papel que ele representa para a nossa saúde, como ele serve de alerta para dizer que tem algo que não está indo muito bem e como a alimentação é crucial para que ele funcione adequadamente. Então, conheça as principais atividades do intestino e o que podemos identificar através dele:

O que o intestino faz?

O corpo humano é contemplado por “dois” intestinos, o delgado e o grosso que recebem diferentes nomes para cada parte. O intestino delgado surge logo após o estômago e é responsável por uma etapa da digestão alimentar e pela absorção da maioria dos nutrientes presentes na comida, ou seja, gorduras, carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais. 

O intestino grosso é uma continuidade do delgado e faz a absorção da água, é ele quem forma a massa fecal e encaminha-a para a evacuação. No intestino grosso também concentram-se a maioria das bactérias intestinais que contribuem com a digestão, absorção de nutrientes e ainda com a imunidade, a chamada microbiota intestinal. 

O intestino tem uma íntima comunicação com o cérebro, nossas emoções e saúde como um todo, por isso, ele reflete bastante o nosso estado de saúde, constipa ou solta dependendo do que estamos comendo ou vivenciando. É um elemento e tanto dessa potente máquina que é o corpo humano!

Alertas do intestino

Falando em constipação e intestino solto, esses são alguns sintomas bem percebidos e que podem indicar alguns problemas na sua alimentação ou na saúde. Segundo a nutricionista Maria Cláudia do Ganep Consultório: 

“Constipação (obstipação, intestino “preso” ou “ressecado”) refere-se a uma condição em que a frequência de evacuações é baixa, com fezes endurecidas e secas. Isto geralmente decorre de absorção excessiva de água a partir das fezes, em virtude da passagem lenta do bolo fecal pelo cólon.”

O intestino solto, por sua vez, ocorre quando a passagem do bolo fecal é muito rápida, levando à formação de fezes em consistência líquida, prejudicando a absorção adequada de água e nutrientes. 

Ambos os episódios não considerados saudáveis, podem estar relacionados a uma dieta desequilibrada, ao estresse, a doenças digestivas ou condições mais complexas, relacionadas à saúde de outros órgãos.

E esses episódios podem ocorrer da primeira infância até à fase idosa da vida, então merecem uma observação atenta para identificar hábitos e alimentos que estejam causando prisão de ventre ou diarreia. Dos bebês aos velhinhos, Maria Cláudia recomenda:

“Oferecer mais frutas e legumes, pois são ricos em fibras ajudando a prevenir a constipação. Frutas, verduras, cereais e outros alimentos contendo fibras são os laxantes naturais do trato digestivo. Então, sugere-se o consumo de alimentos como laranja, mamão, melancia, mexerica, espinafre, lentilha, aveia e principalmente uma ingestão adequada de água.

A desidratação causa constipação intestinal porque o corpo tenta conservar água no sangue através da absorção da água das fezes. As fezes com menos água são mais difíceis de passar.“

Essa dificuldade de evacuar pode levar ao esforço e aumento da pressão no intestino, podendo causar o deslocamento das alças intestinais e provocar o surgimento de hérnias. Também pode ser sinal de diverticulose e favorecer o surgimento de hemorróidas. Enquanto as evacuações líquidas podem ser sinais de inflamação, virose, intoxicação alimentar, sensibilidade ou intolerância a determinados compostos da dieta, como lactose e glúten. 

Como melhorar a saúde intestinal?

Para melhorar a saúde intestinal o primeiro passo é a dieta, então, na presença de intestino preso ou solto, observe o que há na sua alimentação, se determinados alimentos causam mais sintomas do que outros e a frequência dos sintomas. Ajuste sua alimentação para uma dieta mais equilibrada, como a nutricionista Maria Cláudia indicou. 

No caso de intestino solto, as fibras não são tão indicadas, nesse momento, o ideal é repor os nutrientes perdidos com isotônicos e água de coco. O segundo passo é ir ao médico para investigar melhor o caso e fazer os devidos exames para resolver esse problema, caso a dieta não tenha solucionado. 

Lembre-se que nem a constipação, nem a evacuação líquida frequente é um bom sinal, por isso, precisamos identificar a causa e tomar os cuidados adequados. 

A saúde intestinal faz parte de um ciclo, se ela é afetada, há prejuízos à imunidade, seu corpo fica mais exposto a outras condições de saúde, há maior estresse e todo o corpo é prejudicado.

Referências

FARRÉ, Ricard et al. Intestinal permeability, inflammation and the role of nutrients. Nutrients, v. 12, n. 4, p. 1185, 2020.

FUNG, Thomas C. The microbiota-immune axis as a central mediator of gut-brain communication. Neurobiology of disease, v. 136, p. 104714, 2020.

YOO, Ji Youn et al. Gut microbiota and immune system interactions. Microorganisms, v. 8, n. 10, p. 1587, 2020.

domingo, 22 de outubro de 2023

Prova de título de Nutrologia 2023

É com imensa alegria que parabenizo os aprovados na última prova de título de Nutrologia, em especial os meus 3 afilhados aprovados:

  1. Dra. Camila Froehner
  2. Dra. Edite Magalhães
  3. Dr. Newton Lopes

Infelizmente 2 afilhados não foram aprovados, por menos de 3 pontos. Porém, em 2024 espero que passem.

Lista dos aprovados: https://abran.org.br/media/files/lista-de-aprovados-no-concurso-para-titulo-de-especialista-em-nutrologia.pdf

Aos que passaram, espero que honrem o título e exerçam a verdadeira Nutrologia.

Muitos colegas estão enviando mensagem,/e-mail/direct perguntando se farei mentoria para a prova de 2024, se venderei os flashcards e banco de questões. A resposta é: Não. A mentoria e os os materias são somente para os meus afilhados. Caso queira tentar entrar na seleção de afilhados acesse:. https://www.provadetitulodenutrologia.com.br/apadrinhamento-e-mentoria/

att

Dr. Frederico Lobo

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Reflexões sobre o dia do médico

 


A medicina pra mim, antes de ser uma profissão é uma arte. Eu enxergo de forma mágica a capacidade que nós médicos temos de obter informações do paciente, analisar, diagnosticar e então instituir um tratamento. É uma arte mesclada com ciência. 

Confesso que apesar de ser de uma família com mais de 35 médicos, pai médico, 5 irmãos da minha mãe médicos, não tive um grande fascínio pela Medicina durante a adolescência. Não me achava capaz de ser médico. Achava difícil, muita abnegação, queria algo mais fácil, prático e que me deixasse livre para ir e vir. 

Queria fazer acupuntura na China, fitoterapia, ser meio pajé. Mas o que tive para essa vida foi: ser médico e seguir a sina da família. Ou Karma rs.

No começo da faculdade, até o final do primeiro ano (2002), não era um aluno exemplar. Odiava anatomia, embriologia, histologia, mas era apaixonado por fisiologia (2003). Tudo que tinha que decorar eu sofria, tudo que tinha que entender e assimilar eu gostava. 

Pouco antes do meu pai falecer (2003) comecei a acompanhá-lo no ambulatório de reumatologia do Hospital Geral de Goiânia (HGG) e achava o máximo a forma que ele examinava e explicava para os pacientes a doença e o tratamento. Acabei apaixonando em ensinar paciente. Hoje vejo que amo mais ensinar que cuidar. Aprendo para ensinar e cuidar. 

Cuidar qualquer bom médico cuida, mas ensinar o paciente sobre o que o levou a adoecer, como é o processo de adoecimento, o que alivia ou piora a doença e o que ele tomará de providência para curar ou remediar: isso me faz vibrar. Educação em saúde é o que faz meus olhos brilharem. A empolgação que vou explicando as coisas demonstra o quanto gosto dessa parte da consulta. 

Se hoje alguém me perguntar qual a minha missão, sempre friso a seguinte sequência: Aprender, ensinar, cuidar. 

Quando ensinamos, amplificamos o nosso auxílio. Levamos conhecimento para as pessoas e elas espalham esse conhecimento e outras pessoas vão se beneficiar disso. É por isso que hoje, minha missão é cuidar dos meus afilhados na Nutrologia. Quanto mais eles repetem o que ensino, mais pessoas estou ajudando de forma indireta. Mais estou cumprindo minha missão.

E a Medicina teoricamente deveria ser isso, aprender, ensinar e cuidar. Infelizmente tem quem acredite que o médico moderno deva ter boa eloquência, fazer vídeos em redes sociais, "captar" clientes. Dou boas gargalhadas dos meus colegas que escolhem esse caminho, beiram o ridículo, mas cada um luta com as "armas" que tem e não há nada de errado nisso, desde que não se infrinja o código de ética médica. 

Eu honro meu pai, um baita médico reumatologista, escritor, preceptor, artista plástico, folclorista. 

Assim como ele sou médico e escritor. Sou médico e professor. Sou médico e cuidador. É isso que me faz feliz. É isso que me move. Mesmo com toda decadência que presenciamos na Medicina. Com toda escória de profissionais que fingem ser médicos e envergonham a classe.


Goiânia, 18 de Outubro de 2023

terça-feira, 17 de outubro de 2023

O tratamento da obesidade é para a vida toda? Por Carlos Eduardo Barra Couri

Você já fez ou conhece alguém que fez algum tratamento para emagrecer?

Certamente, sim. É um tratamento que envolve melhoria dos hábitos alimentares, exercícios físicos regulares, controle da qualidade do sono e, em alguns casos, medicamentos.
Mas por quanto tempo ele deve ser feito?
Meses? Semanas? Anos? Até a pessoa atingir o peso normal? Para sempre?

Em 2022, tive a oportunidade de ser curador de uma pesquisa com 654 médicos de todo o Brasil chamada Receita de Médico: o que pensa quem cuida de pessoas com obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Respondido em sua maioria por endocrinologistas, o questionário tinha uma pergunta específica:
"Por quanto tempo o tratamento medicamentoso da obesidade deveria ser
feito?"

E a resposta: apenas 46% dos médicos disseram que o tratamento é para a vida toda. 

E mais: 32% relataram interromper o tratamento após uma "boa perda de peso".
Mas será que temos evidências científicas para interromper o plano terapêutico?

Lembrando que ele engloba muito mais do que somente remédios - pressupõe também mudanças no estilo de vida.

Durante o Congresso Europeu de Diabetes 2023, recém-ocorrido em Hamburgo na Alemanha, tivemos acesso a novos e importantes dados a respeito. Estudos ali apresentados confirmam o caráter contínuo do tratamento da obesidade. Isso mesmo: o tratamento é contínuo!

O destaque do evento foi a apresentação do estudo SURMOUNT-4, que avaliou o efeito da tirzepatida - medicação recém-
aprovada para o tratamento do diabetes tipo 2 no Brasil, mas notável pelo impacto na perda de peso - em pessoas com obesidade e sobrepeso, porém sem diagnóstico de diabetes.

Trata-se de uma injeção subcutânea semanal, testada desta vez entre pessoas com 47 anos e 107 kg, em média. 

Cerca de 35% tinham pressão alta e 32% apresentavam alteração nos níveis de colesterol ou triglicérides. 

Todas 783 pessoas incluídas no trabalho utilizaram tirzepatida por nove meses, juntamente com exercícios regulares e alimentação saudável.

E qual o resultado? Uma perda média de peso de 21% (ou seja, 22 kg).

Concluída essa etapa, os cientistas selecionaram aleatoriamente metade dos voluntários, que continuaram usando tirzepatida por mais 13 meses. A outra metade fez o que muitos brasileiros fazem:
simplesmente parou de tomar a droga e manteve os hábitos saudáveis, uma vez que haviam perdido boa parte do peso corporal.

E qual foi o resultado 13 meses depois?

Aqueles que permaneceram tomando a tirzepatida apresentaram uma redução extra de 5% corporal, totalizando uma redução de 26% ao final de 22 meses. E aqueles que pararam o uso do medicamento reganharam metade do peso. Sim, voltaram a engordar!

A conclusão é algo semelhante à do estudo STEP-4, que utilizou o medicamento semaglutida subcutânea semanal na dose de 2,4 mg em pessoas com obesidade e sem diabetes. Veja: tanto a tirzepatida como a semaglutida são os remédios aprovados e comercializados com maior potencial de emagrecimento até o momento.

Assim, mesmo com medicamentos eficazes, a suspensão do tratamento médico se reverte em ganho de peso. Que mensagens ficam dessa história? A obesidade é uma condição crônica. E, como tal, necessita de tratamento crônico!

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Desmistificando o paladar infantil

 

Salgadinho, balas, pirulitos, hambúrguer, cachorro-quente, leite com achocolatado, brigadeiro… quando se fala nesse tipo de alimentação, muita gente costuma associá-la como comida de criança. Mas na realidade, esse conceito precisa ser repensado. Afinal, as preferências de sabores na infância são diferentes do que na vida adulta, e elas podem sim, optar por alimentos mais saudáveis no dia a dia.

A seguir, vou desmistificar algumas crenças sobre  o que é considerado comida de criança e como encontrar um equilíbrio entre as guloseimas e os ingredientes mais saudáveis:

Como funciona o paladar infantil?

O sentido do paladar se desenvolve por meio das papilas gustativas, que são órgãos sensoriais localizados na língua e que permitem a experimentação dos sabores. Estima-se que uma pessoa tenha, em média, aproximadamente 10.000 papilas gustativas, que são substituídas a cada duas semanas.

Essas papilas são desenvolvidas ainda na nona semana de gestação, juntamente da boca e da língua. Por isso, o líquido amniótico acaba sendo o primeiro gosto sentido pelo feto. Com isso, se a mãe consome alimentos mais doces, salgados e picantes, o bebê pode acabar tendo a mesma sensação desde aquele instante.

Depois do parto, as papilas ficam mais expostas e, consequentemente, sensíveis ao ambiente ao redor. Elas passam a sentir sabores como azedo e amargo, ainda que aversas a eles, e possuem uma preferência pelo doce e pelo umami, que é considerado o quinto gosto.

Estas preferências podem refletir em um impulso biológico para os alimentos que contenham maior densidade calórica e que possuam um alto teor de proteínas, essenciais para o adequado crescimento e desenvolvimento dos bebês.

Foi a partir desse fato que surgiu a crença comum de que existe algo chamado “paladar infantil”. É a ideia de que as crianças só gostam de certos tipos de alimentos, geralmente os doces e os pouco nutritivos, enquanto rejeitam os alimentos saudáveis e mais complexos. No entanto, essa percepção limitada do paladar infantil precisa ser derrubada.

Podemos entender o paladar infantil como uma tela em branco, pronta para ser pintada com uma variedade de sabores e texturas. Em vez de aceitar a ideia de que as crianças só gostam de determinados alimentos, devemos entender que o paladar infantil é, na verdade, um espectro amplo de gostos que se desenvolve conforme a exposição da criança a diversos alimentos.

Então o que deveria ser comida de criança?

As crianças são naturalmente curiosas e abertas a novas experiências. Quando expostas a uma variedade de alimentos desde cedo, elas têm a oportunidade de explorar diferentes sabores, aromas e texturas.

Introduzir uma gama diversificada de alimentos na alimentação das crianças não apenas amplia suas preferências, mas também nutre seus corpos em crescimento com os nutrientes essenciais de que precisam. Ao oferecer frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e laticínios, estamos proporcionando uma base saudável para o desenvolvimento do paladar da criança.

Enquanto a diversidade alimentar é fundamental, também é importante abordar o papel dos alimentos indulgentes na dieta das crianças. Doces, salgadinhos e outras guloseimas são parte integrante da cultura alimentar e podem oferecer prazer em ocasiões especiais.

No entanto, a chave está na moderação. Proibir completamente esses alimentos, pode criar uma mentalidade de privação, o que pode levar a comportamentos alimentares insalubres no futuro.

Como unir saúde, praticidade e o desejo das crianças na alimentação do dia-a-dia?

Quando pensamos em comida de criança, algumas coisas vêm à mente, como bisnaguinhas, nuggets, bolinhos, sucos de caixinha, etc. Para além da questão desses alimentos serem associados às crianças por conta do paladar infantil, que já desmistificamos, precisamos considerar a praticidade que esses alimentos, todos industrializados, proporcionam no dia-a-dia, principalmente pensando em lancheira.

Alimentos industrializados, não necessariamente são ruins. Eles são, sim, mais práticos e podem ser aliados das mães, desde que escolhidos corretamente.

Aqui vão alguns mitos e verdades para te ajudar na escolha desses alimentos:

1. É essencial ler os rótulos dos alimentos

Verdade. Ao escolher alimentos industrializados para crianças, é essencial ler os rótulos com cuidado. Evite produtos com uma longa lista de ingredientes desconhecidos ou aditivos artificiais. Opte por alimentos com ingredientes naturais e minimamente processados. Além disso, esteja atento ao teor de açúcar, sódio e gorduras saturadas.

2. Não há necessidade de evitar bebidas açucaradas

Mito. As bebidas açucaradas, incluindo refrigerantes e sucos industrializados, são frequentemente carregadas de açúcar. Opte por água, leite ou sucos naturais e sem adição de açúcar como alternativas mais saudáveis.

3. Para garantir mais nutrição, o ideal é oferecer lanches grandes

Mito. Ao procurar lanches embalados, escolha opções como pacotes pequenos de frutas secas, nozes ou biscoitos integrais. Estes oferecem nutrientes e são geralmente porções controladas, ajudando a evitar o excesso de consumo.

4. Uma boa educação alimentar deve ser participativa

Verdade. Incentivar as crianças a participar das escolhas alimentares pode ajudá-las a entender a importância de fazer escolhas saudáveis. Leve-as às compras e explique por que estão escolhendo determinados alimentos em vez de outros. Isso não apenas educa, mas também empodera as crianças a tomar decisões alimentares conscientes.

É fundamental entender que o paladar infantil é, na verdade, um mundo vasto de possibilidades. Ao encorajar as crianças a experimentar uma variedade de alimentos e ao mesmo tempo ensiná-las sobre moderação, estamos ajudando a cultivar hábitos alimentares saudáveis que durarão toda a vida.

Ao invés de restringir, devemos celebrar a diversidade do paladar infantil, proporcionando às crianças uma base sólida para uma vida inteira de escolhas alimentares conscientes e equilibradas.

Referências

Spill M. et al. What is the relationship between repeated exposure (timing, quantity, and frequency) to foods and early food acceptance? Repeated Exposure to Foods and Early Food Acceptance: A Systematic Review, 2019.

Healthy food for school-age children: the five food groups. Raising Children, 2021.

Taste Buds. Kids Health.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 156 p. : il.

Fonte: https://nutritotal.com.br/publico-geral/material/e-comida-de-crianca-conheca-os-mitos-e-verdades-sobre-alimentos-tipicamente-oferecidos-a-criancas/

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Resultados variados para metformina precoce no diabetes gestacional

O estudo EMERGE falha no desfecho primário, mas os resultados secundários sugerem benefício potencial

A administração precoce de metformina a mulheres com diabetes gestacional não conseguiu demonstrar um benefício estatisticamente significativo para o objetivo primário do ensaio EMERGE de fase III, mas os resultados secundários pareceram favorecer a intervenção.

Para o resultado composto primário do estudo – início da insulina ou nível de glicemia de jejum ≥5,1 mmol/L (91,9 mg/dL) nas semanas 32 ou 38 de gestação – nenhuma diferença significativa foi observada entre as mulheres que receberam metformina ou placebo em adição aos cuidados habituais (56,8% vs 63,7%; P = 0,13), Fidelma Dunne, PhD, da Universidade de Galway, na Irlanda, relatou aqui.

Mas “a metformina teve um impacto positivo em importantes resultados metabólicos maternos e neonatais pré-especificados”, disse ela ao apresentar as conclusões na reunião anual da Associação Europeia para o Estudo da Diabetes (EASD). O estudo também foi publicado simultaneamente no JAMA.

Além disso, Dunne explicou que quando o desfecho composto primário foi isolado até a semana 38, houve um risco menor no braço da metformina (41,8% vs 53,3%; P<0,001). E observar apenas o início da insulina também favoreceu a intervenção, com 38,4% das mulheres que tomaram metformina iniciando a insulina durante o estudo versus 51,1% daquelas designadas para placebo (RR 0,75, IC 95% 0,62-0,91, P=0,004).

Embora seja uma diferença modesta, a glicemia média em jejum foi menor para o grupo da metformina em ambos os momentos:

• Semana 32: 4,9 vs 5,0 mmol/L (88,2 vs 90,0 mg/dL, P=0,03)

• Semana 38: 4,5 vs 4,7 mmol/L (81,0 vs 84,6 mg/dL, P<0,001)

Cerca de um quarto das mulheres tratadas com metformina sofreram efeitos secundários gastrointestinais, enquanto apenas 4,1% do grupo placebo os sentiu. 

Antes do parto, o grupo tratado com metformina consumia em média 20,4 UI de insulina versus 24,2 UI do grupo placebo.

Os resultados maternos secundários que favoreceram o braço da metformina incluíram um tempo mais curto para o início da insulina, menor controle glicêmico capilar autorreferido e menor ganho de peso gestacional, enquanto não foram observadas diferenças para morbidade materna, parto prematuro ou tipo de parto.

“As descobertas deste estudo apoiam os benefícios da metformina no ganho de peso materno, o que foi relatado em ensaios clínicos anteriores”, escreveram os pesquisadores. “O menor ganho de peso no grupo da metformina provavelmente se deve ao menor uso de insulina e a um efeito direto da metformina na ingestão de alimentos”.

Os resultados neonatais secundários revelaram neonatos menores nascidos de mulheres no grupo da metformina, sem diferenças entre os grupos no que diz respeito à necessidade de cuidados intensivos neonatais, suporte respiratório para desconforto respiratório, fototerapia para icterícia ou resultados como anomalias congênitas importantes, hipoglicemia, ou a proporção com índices de Apgar de 5 minutos menores que 7.

“A metformina não foi associada a nenhum aumento nas morbidades maternas ou neonatais”, acrescentou Dunne. “Eu sinto que os benefícios da metformina na gravidez a curto prazo são consistentes e convincentes em termos de ganho de peso materno, controle glicêmico, peso ao nascer, hipoglicemia neonatal e grande para a idade gestacional”.

Dunne fez referência a um estudo de 2008 publicado no New England Journal of Medicine que descobriu que a metformina produziu resultados neonatais e maternos semelhantes aos da insulina quando administrada no diabetes gestacional (semanas 20 a 33), além da metformina estar associada a menos hipoglicemia. Ela acrescentou que se seguiram uma série de estudos abertos que analisaram o efeito da metformina no diabetes gestacional, mas nenhum incluiu um ensaio randomizado contra placebo, o que nos leva ao ensaio atual.

Este estudo em dois centros inscreveu participantes de um hospital terciário e de um hospital regional menor na Irlanda. Isso incluiu 510 indivíduos representando 535 gestações que foram diagnosticadas com diabetes gestacional de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde de 2013. As participantes foram acompanhadas durante 12 semanas após o parto.

A idade média era de 34 anos, cerca de 80% eram brancas e a mediana do IMC no início do estudo era de 30. A mediana da gestação na randomização foi na semana 27.

"EMERGE confirma que a metformina é uma opção de tratamento alternativa e segura, sem aumento de nascimentos prematuros ou resultados perinatais adversos. O cuidado, no entanto, deve continuar com a metformina", acrescentou Dunne em relação a bebês pequenos para a idade gestacional, especialmente para mulheres com nefropatia e hipertensão.

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By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Complicações da esteatose hepática respondem por 1/3 dos transplantes de fígado

Em outubro de 2021, o administrador Luiz Fernando Castro, 60, recebeu um diagnóstico inesperado: uma silenciosa cirrose no fígado havia evoluído para um câncer e era preciso um transplante do órgão.

À época, pesava 120 kg, estava hipertenso e era diabético. Anos antes, havia descoberto uma esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado), mas diz que não levou a condição muito a sério.

"Minha alimentação era completamente desregrada, comia sanduíches, salgadinhos, frituras, bebia dois litros de refrigerante por dia. Nunca fui sedentário, mas estava maltratando o meu organismo sem perceber."

Em outubro de 2022, após um ano na fila de espera do transplante, ele recebeu um novo fígado. Na mesma cirurgia, fez também uma bariátrica (redução de estômago). Hoje, um ano depois e com 76 kg, os níveis glicêmicos, de pressão arterial e de colesterol estão normais.

"Ganhei uma nova vida, uma nova chance. Se eu pudesse dar um conselho às pessoas eu diria: 'alimentem-se bem, cuidem-se'", diz ele, emocionado.

Casos como o de Castro têm se tornado cada vez mais comum. Nos principais centros transplantadores brasileiros, cerca de um terço das cirurgias já é decorrente de complicações da esteatose hepática. O acúmulo de gordura leva a uma inflamação do fígado que pode provocar cirrose e câncer.

Nos Estados Unidos, a cirrose causada por gordura no fígado ultrapassou o vírus da hepatite C no ranking das principais causas que levam a um transplante do órgão e hoje figura em segundo lugar, só perdendo para o álcool.

"Entre as mulheres já é a primeira causa. No homem é a segunda, vindo depois do álcool", diz o médico Henrique Sérgio Moraes Coelho, hepatologista do Hospital São Lucas Copacabana (Rio de Janeiro), ligados à rede Dasa. A instituição contabiliza 90 casos de transplantes decorrentes de complicações causadas pela esteatose hepática.

Segundo Coelho, pessoas acima de 60 anos, sedentárias, com uma longa história de obesidade, diabetes e hipertensão respondem pela maior parte desses casos. "É uma população que precisa ser bem avaliada antes do transplante por causa do risco cirúrgico."

Outro desafio é que de 20% a 30% das pessoas transplantadas devido a essa condição ganham peso depois do transplante e voltam a desenvolver quadros de esteatose hepática e, entre cinco e dez anos depois, têm risco de desenvolver uma cirrose novamente.

Por isso, um dos caminhos tem sido propor a cirurgia bariátrica associada ao transplante de fígado.

"Ainda é pouco frequente, mas já vem sendo mais utilizada. É um procedimento relativamente simples, que tira uma parte do estômago para tratar a obesidade do indivíduo que foi fazer um transplante de fígado", explica Ben-Hur Ferraz, diretor do Instituto do Fígado da rede Américas, do UnitedHealth Group.

Mas o que fazer para evitar que a pessoa atinja esse estágio tão dramático da doença? Para os especialistas, é preciso que tanto a população quanto os médicos não menosprezem a esteaose hepática, o início de todo esse processo.

O acúmulo de gordura no fígado não provoca sintomas, mas indica comportamentos de risco, por exemplo, dieta inadequada e sedentarismo, que levam ao sobrepeso e à obesidade.

Esses fatores de risco estão associados a um conjunto de outras condições que desregulam o organismo, como diabetes tipo 2, altos níveis de colesterol, de triglicérides e de hipertensão arterial (síndrome metabólica).

"A esteatose simples é um fígado gordo, que ainda não está sofrendo. Mas ela significa que alguma coisa de errado está acontecendo com o organismo. Então cuidar do que provocou aquela gordura é muito mais importante do que a condição [esteatose] em si", explica Luiz Eduardo Pinto da Fonseca, hepatologista do Centro do Aparelho Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

Se o problema não for enfrentado com medidas preventivas, com o tempo pode gerar uma inflamação, chamada de esteatohepatite não alcoólica, uma lesão progressiva que pode afetar entre 10% a 30% das pessoas com esteatose, explica Ben-Hur Ferraz, da rede Américas.

"Nos pacientes que fazem parte de grupos de risco, com sobrepeso, obesidade, diabetes, dislipidemias, essa taxa é ainda mais alta. Tudo vai depender do número de fatores de risco que aumentam as chances disso evoluir. Bebe ou não bebe, é obeso ou não é, é diabético ou não é, é sedentário ou não é", diz.

Segundo Fonseca, do Oswaldo Cruz, não é infrequente o paciente chegar ao consultório do hepatologista com uma doença hepática mais avançada porque a esteatose não foi valorizada por outros colegas médicos. "Eles dizem: 'puxa vida, mas eu já tinha um ultrassom mostrando esteatose a xis anos e nunca o médico pediu para eu me preocupar.'"

Em até 20% dos casos, o quadro pode evoluir para fibrose, cirrose hepática ou para um câncer de fígado. "Isso só vai acontecer se nada for feito. Se o paciente conseguir emagrecer, diminuir o risco metabólico, tratar adequadamente o diabetes e as dislipidemias, essa evolução pode ser barrada", explica Coelho, do São Lucas Copacabana.

Além dos fatores de risco modificáveis, já foi descrito um gene, PNPLA, associado a essa condição. "A pessoa com essa mutação tem maior risco de evoluir para cirrose e câncer. Mas precisa também dos outros fatores metabólicos [modificáveis]", explica o médico.

Segundo Ferraz, a doença já se tornou uma das principais causas de câncer primário de fígado, conhecido como hepatocarcinoma.

"Ele tem aparecido em pessoas que ainda não desenvolveram cirrose, mas que têm a esteatohepatite. É um tumor silencioso, mas que se diagnosticado com 1, 2, 3 cm, tem 98% de cura. Se for diagnosticado com 7 cm e envolvendo a veia aorta do fígado, a gente pode falar hoje em tratamento paliativo em 100% das vezes", diz Ben-Hur Ferraz.

Segundo os médicos, não há medicamentos comprovadamente eficazes para tratar a esteatose hepática. Existem algumas drogas em estudos e outras linhas de pesquisa avaliando o impacto do uso dos novos remédios contra a diabetes e a obesidade nesses casos.

Fonseca, do Oswaldo Cruz, alerta para a propagação de mensagens enganosas sobre supostos medicamentos, "gotinhas milagrosas", para o tratamento do acúmulo de gordura no fígado.

"Isso não existe. A pessoa tá vendendo pela internet uma panaceia. Fujam dessas coisas mágicas, gotinhas para o fígado, dietas malucas. Isso é criminoso. A gente pode dar remédios para tratar o que está provocando [a obesidade ou a diabetes, por exemplo], ou, se o fígado estiver muito ruim, as complicações da doença hepática."

Para Ben-Hur Ferraz, também é preciso que os médicos e pacientes assumam um compromisso nessa linha de cuidados da esteatose hepática. "Precisamos entender as dificuldades do paciente e ajudá-lo nessa mudança [de estilo de vida]. Não adianta só dizer: 'não pode, não pode, não pode'. O paciente precisa entender que se ele não fizer nada agora vai viver mal lá na frente"


A importância da rotina

O Sol nos ensina sobre constância. Todo dia, faça chuva ou faça ele, surge sempre ao leste, se põem ao oeste. Nosso máximo exemplo de constância. O Sol é o rei e no hinduísmo fala-se que o servo acorda sempre antes do rei, por isso, falam que devemos acordar antes do nascer do sol. 

Se no céu temos o sol, na terra temos os gatos, para representar a constância, a rotina. Recentemente adotei uma gata, que denominei Belinha. Como bom curioso que sou (para não dizer nerd) passei os últimos 2 anos estudando comportamento felino. A literatura é enfática em afirmar que gatos gostam de rotinas, logo, temos muito a aprender com gatos.

Acordam cedo, são crepusculares, ficam agitados no período do nascer do sol e no pôr-do-sol. Cedo se euforizam pois, há pássaros e presas saindo de seus ninhos/tocas quando o sol surge no leste. Ao final da tarde, após dormirem boa parte do dia, saem para caçar suas presas. Tem um faro aguçado, visão boa na penumbra. São exímios caçadores, como todo felino. Então por volta das 18:00 ficam eufóricos, querem se alimentar, locomover, brincar. Assim é Belinha. Por volta de 5:00 me acorda me me mostra que ela é a minha patroa. Tomo banho, vou à cozinha preparar a ração úmida, coloco capim de trigo e folha de milho de pipoca (afinal a microbiota é importante também para os animais). Depois espalho a ração seca nos compartimentos (comedouros lentos), afinal na natureza a comida não vem fácil, eles precisam caçar. 

Olhemos para a humanidade: quanto mais a comida está disponível, prática, rápido acesso, mais a obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis aumentam. 

Belinha bebe água em fontes de água corrente (tem 3 espalhadas pela casa), come ração úmica que mais parece uma sopa (e ela gosta), come ração seca de boa qualidade (coloco em comedouros tipo bolas que ela precisa girar para cair aos poucos os grãos de ração). 

Mas a razão desse post, não é para contar que minha gata Belinha é linda, dócil, carinhosa. É para contar que Belinha anda na linha. Belinha tem constância. Belinha respeita seus instintos e apesar de dormir muito (é da natureza dos felinos), ela tem rotina. Desperta, come, brinca, dorme. 

E o que rotina tem a ver com esse blog?

Rotina segundo os orientais (em especial no Ayurveda e Medicina tradicional chinesa) é uma das chaves para nosso sucesso em todos os âmbitos da vida. Na esfera espiritual, emocional e orgânica. A constância nos leva a nos aperfeiçoarmos e aquilo que antes era trabalhoso, um fardo, deixa de ser ou pelo menos ameniza. 

Quem me acompanha há mais de uma década aqui no blog, sempre falo sobre os pacientes portadores de doenças psiquiátricas. Que atendo todos os dias um paciente portador de algum transtorno psiquiátrico. Inclusive um dos meus focos na Nutrologia é a parte de Psiquiatria Nutricional. E esse post é sobre isso. A importância da rotina na prevenção e tratamento de enfermidades psiquiátricas. 

A ciência, ano após ano vem nos mostrando que a rotina (principalmente em doenças como o transtorno bipolar), pode ser uma ótima ferramenta para evitar ciclagens (de depressão para mania ou vice-versa).

Então se eu puder dar um simples conselho, você que tem transtorno de ansiedade generalizada, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, insônia: TENHA ROTINA. 

E o que compreenderia rotina?

Hora para dormir, hora para acordar.

Hora para se alimentar, hora para excretar. 

Hora para beber água, hora para eliminá-la.

Hora para cuidar da saúde espiritual, hora para zelar da saúde orgânica.

Constância na atenção à saúde mental, ou seja, se necessário: uso de medicações, psicoterapia, terapias integrativas complementares como meditação, orações, acupuntura, contato com a natureza. 

Rotinas salvam vidas. Olhemos para o sol, olhemos para os gatos e olhemos para dentro. Mas lembremos, que o tempero é a flexibilidade. Rotina com equilíbrio como diz uma paciente psicóloga. Rotina sem flexbilização em alguns momentos, acaba sendo obsessão e isso também é transtorno psiquiátrico. 

"Tenham rotina" Belinha, 2023

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416

#BoraComerSalada

Um dos textos mais visitados aqui do blog é justamente o sobre como aprender a gostar de salada. Tempos atrás falei com uma amiga e afilhada, Dr. Lia Bataglini, residente de Nutrologia da USP, sobre o interesse das pessoas no tema. 

Falei que muitos dos leitores pediam pra eu fazer vídeos sobre as saladas e expliquei que meu forte é escrever, não fazer vídeos. Então ela topou o desafio. Nos próximos 2 anos tentaremos publicar o e-book com 50 saladas, mas não na versão e-book e sim na forma de vídeos.

Para quem ainda não leu os posts publicados:

Introdução à salada: https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada.html

Princípios básicos da salada: https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada-post-1-principios.html

Salada 1: Berinjela com castanha do Pará (ou castanha do Brasil), uva-passa e hortelã: https://www.nutrologogoiania.com.br/salada-1-berinjela-com-castanha-do-para-ou-castanha-do-brasil-uva-passa-e-hortela

Salada 2: Salada de inverno de abacate com frango cítrico: http://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-2-salada-de-inverno-de-abacate.html?m=0

Salada 3: Salada de inverno de rucula: https://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-3-salada-de-inverno-de-rucula.html

Salada 4: Salada com legumes assados: https://www.ecologiamedica.net/2022/07/salada-4-salada-de-legumes-assados.html

Salada5: Salada de Picles de pepino com molho de alho: https://www.ecologiamedica.net/2023/04/salada-5-salada-de-picles-de-pepino-com.html

Salada 6: Salada vegana de lentilha crocante: https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-6-salada-vegana-de-lentilha.html

Salada 7: Salada cítrica de grão de bico: https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-7-salada-de-grao-de-bico-citrica.html

Salada 8: Salada de frango com molho pesto de abacate: https://www.ecologiamedica.net/2023/08/salada-8-salada-de-frango-com-molho-de.html

Agora bora para os vídeos?

 


 

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Ingestão de café e o risco de hipertensão em adultos: revisão sistemática e metanálise

A hipertensão está diretamente associada ao risco de doenças cardiovasculares. O número de pessoas com idade entre 30 e 79 anos com hipertensão aumentou de 648 milhões em 1990 para mais de 1,2 bilhão de pessoas em 2019, tornando-se um sério problema de saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda. Além disso, evidências sugerem que dietas de alta qualidade são responsáveis por um declínio de 22% no risco de doença cardiovascular, enquanto o consumo de carnes vermelhas e processadas, alta ingestão de sódio, baixa ingestão de potássio, obesidade, consumo de álcool, assim como as bebidas adoçadas com açúcar estão associadas a um aumento no risco de hipertensão.

O café é uma bebida consumida diariamente por grande parte da população mundial. Portanto, os efeitos da cafeína presente no café têm sido estudados nas últimas décadas por meio de diversos estudos observacionais e ensaios clínicos. A cafeína pode estimular a produção de adrenalina, que por sua vez tem diversos efeitos no sistema cardiovascular, como aumento da pressão arterial, disfunção endotelial, inflamação e diminuição da sensibilidade à insulina, que podem estar associados ao risco de doenças cardiovasculares.

Revisões anteriores indicaram que em pessoas saudáveis, o consumo habitual de café não está associado a um risco aumentado de hipertensão, especialmente quando a quantidade de café consumida era maior que 3 xícaras por dia em comparação com 1 xícara por dia. Revisões de estudos de coorte prospectivos demonstraram que o consumo de 1 a 3 xícaras de café por dia pode aumentar o risco de hipertensão. No entanto, os resultados desses estudos são controversos, devido a variações nos tipos de café e sua composição, estilo de vida e duração do estudo.

Atualmente, não há evidências científicas suficientes para confirmar que o consumo de café pode atuar no controle da hipertensão, especialmente em diferentes populações de diferentes regiões do mundo, como América, Europa e Ásia.

OBJETIVOS DO ESTUDO

Dadas essas divergências na literatura existente, esta é uma revisão sistemática atualizada e metanálise que incluiu novos estudos publicados sobre a relação entre café e risco de hipertensão com o objetivo de resumir as evidências atuais e explorar as fontes potenciais de heterogeneidade.

MÉTODOS

PubMed/Medline e Web of Science foram pesquisados para estudos observacionais até fevereiro de 2023. Estudos observacionais que avaliaram o risco de hipertensão na categoria mais alta de consumo de café em comparação com a ingestão mais baixa foram incluídos na meta-análise atual (registro número: CRD42022371494). O efeito combinado do café na hipertensão foi avaliado usando um modelo de efeitos aleatórios.

RESULTADOS

Vinte e cinco estudos, ou seja, treze estudos transversais e doze coortes foram identificados como elegíveis. A combinação de 13 estudos de coorte mostrou que um maior consumo de café estava associado a uma redução de 7% no risco de hipertensão (95% CI: 0,88, 0,97; I2: 22,3%), enquanto a combinação de 16 estudos transversais ilustrados maior redução do risco de hipertensão (RR = 0,79, IC 95%: 0,72, 0,87; I2 = 63,2%). Esses resultados variaram de acordo com as características dos estudos, como a região do estudo, o sexo dos participantes, a qualidade do estudo e o tamanho da amostra.

CONCLUSÕES

Uma associação inversa foi encontrada entre o consumo de café e o risco de hipertensão em estudos transversais e de coorte. No entanto, essa associação foi dependente das características dos estudos. Novos estudos considerando tais fatores são necessários para confirmar os resultados deste estudo.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Diagnóstico de diabetes na gestação pode trazer preocupação à saúde do bebê

O diagnóstico de diabetes gestacional pode vir como um choque para uma futura mãe. E agora? Não posso mais comer doce? Preciso me preocupar com a saúde do bebê?

Essa realidade pode se tornar cada vez mais frequente, uma vez que a prevalência de diabetes mellitus gestacional (DMG) tem crescido no país e no restante do mundo. De acordo com dados reunidos pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) para o ano de 2021, estima-se que de 16% a 18% dos nascidos vivos no Brasil são gerados por mulheres que tiveram alguma forma de hiperglicemia durante a gravidez.

Em todo o mundo, a prevalência varia de 3% a 25%. São esperados de 200 a 300 milhões de bebês nascidos anualmente de mães com algum tipo de hiperglicemia.

O diabetes mellitus gestacional é definido como hiperglicemia em graus variados, detectada pela primeira vez durante a gravidez, com nível glicêmico que não atinge os critérios diagnósticos para diabetes mellitus (acima de 92 miligramas por decilitro e abaixo de 126), segundo definição da Opas-OMS (Organização Pan-Americana para a Saúde ligado à Organização Mundial da Saúde).

Já o diagnóstico de diabetes mellitus durante a gestação é definido como paciente sem diagnóstico prévio de diabetes, com hiperglicemia (glicemia em jejum maior ou igual 126 mg/dL ou maior ou igual 200 mg/dL duas horas após consumo de 75 g de glicose) detectada na gravidez e com níveis glicêmicos que atingem os critérios da OMS para diabetes na ausência de gestação.

Por fim, há ainda aquelas mulheres que já tinham o diagnóstico de diabetes mellitus (tipo 1 ou tipo 2) e que engravidam, sendo assim casos de gestação em pacientes diabéticas. De acordo com os dados brasileiros compilados pela SBD, estes correspondem a aproximadamente 8% dos casos de diabetes gestacional no país.

Essa distinção é importante porque durante a gestação, o corpo da mulher produz hormônios que alteram naturalmente a produção de insulina, explica a médica Cristina Figueiredo Façanha, da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

"A mulher podia estar com a glicemia controlada antes da gestação, ela podia até comer um doce aqui, outro ali, subia um pouco o índice glicêmico, mas em geral estava tudo bem. Mas, quando ela engravida, os hormônios da gravidez levam ao desenvolvimento de uma intolerância à glicose."

Segundo a médica, a quantidade de insulina necessária para metabolizar a mesma quantidade de glicose é aumentada em seis vezes durante a gestação. Em resumo, seria como se antes da gestação após ingerir, por exemplo, 15 gramas de carboidrato (um pãozinho), ela precisasse de seis unidades de insulina produzidas pelo pâncreas para metabolizar a glicose. Com a gravidez, para a mesma quantidade de carboidratos, ela precisa produzir 36 unidades de insulina (seis vezes mais).

Em geral, a detecção de hiperglicemia pode ser feita no exame de rotina da gestante, ainda no primeiro trimestre, com o exame de glicemia em jejum. Se houver alguma alteração já no início da gestação, o médico pode indicar o tratamento, que pode ser dieta ou aplicação de insulina, considerado o tratamento eletivo para diabetes na gestação.

No entanto, se a taxa de açúcar no sangue for dentro do esperado (abaixo de 92mg/dL), a gestante faz um novo teste oral de tolerância à glicose entre a 20ª e 24ª semana de gestação para o diagnóstico definitivo de diabetes gestacional (glicemia igual ou maior a 200 mg/dL duas horas após consumo de 75 g de glicose). Isso porque, devido aos hormônios produzidos durante a gestação, o organismo apresenta um pico de glicemia a partir da 20ª semana.

Como essa mudança na tolerância ao açúcar é, em geral, assintomática, a mulher não descobre que está com a DMG se não for feito o exame específico. "E nós temos no SUS [Sistema Único de Saúde] apenas o teste de glicemia em jejum, não tem disponível o teste oral de tolerância à glicose. Por isso, é fundamental o rastreamento pré-natal", completa.

É importante o diagnóstico correto uma vez que a hiperglicemia durante a gravidez pode trazer complicações para a mãe e para o bebê, segundo a obstetra Natália Filaretti.

A médica acompanha a gestação da sua irmã, a empresária Isabella Filaretti, 33, que teve diagnóstico de diabetes gestacional no início da gravidez. "Fiquei muito assustada, principalmente com a necessidade de ter que aplicar insulina diariamente, pensando que a medicação poderia trazer algum risco ou afetar a minha bebê", disse.

Segundo Filaretti, as complicações que o bebê pode ter em decorrência da DMG são, no primeiro trimestre, risco de malformação do bebê, cardiopatia (alteração no coração) e risco de óbito fetal intrauterino. Já nos segundo e terceiro trimestre, os principais riscos são macrossomia fetal (bebê com peso ao nascer maior de 4 kg), por causa das alterações metabólicas ocorridas ainda no útero pela hiperglicemia. "E um risco de bebê muito grande é também um risco para a mãe, já que pode ter alguma dificuldade no parto", explica.

Outra preocupação da diabetes gestacional é que cerca de 7 em cada 10 mulheres com diagnóstico de diabetes durante a gravidez tornam-se diabéticas depois, afirma Façanha.

Isabella conta que sempre foi ativa e procurou se exercitar, mas há histórico de diabetes gestacional na família. "Minha avó teve diabetes na gestação e ficou diabética depois", conta ela, que está perto de entrar no trabalho de parto para dar à luz sua primeira filha, Manoela. "Felizmente, no meu caso eu consegui manter controlado, não precisei nem alterar a dosagem da insulina, e acho que não vou ter o risco pós-gestação."