O diabetes é uma condição de saúde crônica que tem impactado cada vez mais pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil, de acordo com a endocrinologista Dra Natália Jatene.
A doença é caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose (açúcar) no sangue, que ocorre devido a problemas na produção ou ação da insulina, um hormônio essencial para o metabolismo energético do organismo. A insulina é responsável por permitir que a glicose entre nas células, onde será usada como fonte de energia. Quando há um desequilíbrio nessa função, os níveis de glicose no sangue ficam altos, gerando uma série de complicações ao longo do tempo.
Incidência e Prevalência
A incidência e a prevalência do diabetes têm crescido de forma alarmante nos últimos anos. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), atualmente mais de 16 milhões de brasileiros vivem com essa condição, e estima-se que cerca de 8% da população adulta seja afetada pela doença. Esse aumento é atribuído principalmente a mudanças no estilo de vida, como sedentarismo, má alimentação e aumento da obesidade, que são fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
O diabetes é uma das principais causas de complicações como doenças cardiovasculares, amputações, cegueira e insuficiência renal. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com diabetes quadruplicou nas últimas décadas, com cerca de 422 milhões de adultos afetados globalmente. Isso mostra a necessidade urgente de medidas preventivas e de conscientização, além de um cuidado médico adequado para os que já convivem com a doença.
Sinais e Sintomas
Os sintomas podem variar dependendo do tipo da doença e da gravidade. No entanto, alguns sinais clássicos e iniciais podem indicar a presença da condição:
1. Poliúria (aumento da frequência urinária)
2. Polidipsia (sede excessiva):
3. Polifagia (fome excessiva):
4. Perda de peso inexplicável
5. Cansaço e fraqueza
6. Infecções frequentes
Além desses sinais, o diabetes tipo 2 pode ser assintomático em suas fases iniciais, o que torna o diagnóstico precoce mais difícil. Por isso, muitas vezes o diabetes tipo 2 só é descoberto quando surgem complicações mais graves, como problemas cardíacos, renais ou visão prejudicada.
Principais Tipos de Diabetes
Diabetes Tipo 1: É uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. A causa exata do diabetes tipo 1 não é conhecida, mas acredita-se que fatores genéticos e ambientais estejam envolvidos. Esse tipo é mais comum em crianças, adolescentes e jovens adultos, e os sintomas costumam aparecer rapidamente.
Diabetes Tipo 2: Este é o tipo mais comum, representando cerca de 90% dos casos. Ele ocorre devido à resistência à insulina, onde as células não respondem adequadamente ao hormônio, além de uma produção insuficiente de insulina. O tipo 2 está fortemente associado ao excesso de peso, sedentarismo e fatores genéticos.
Diabetes Gestacional: Esse tipo ocorre durante a gravidez e é caracterizado pela hiperglicemia (alta concentração de glicose no sangue) que surge pela primeira vez durante a gestação. Ele aumenta o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o bebê, e a mulher que teve diabetes gestacional tem mais chances de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro.
Outros Tipos de Diabetes: Há outros tipos menos comuns, que podem ser causados por condições genéticas, uso de medicamentos como corticosteroides, doenças do pâncreas e algumas síndromes endócrinas.
Fisiopatologia do Diabetes
A fisiopatologia do diabetes varia de acordo com o tipo. No diabetes tipo 1, o sistema imunológico destrói as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Com isso, há um déficit absoluto de insulina, o que impede o transporte da glicose para as células. No diabetes tipo 2, o problema é a resistência das células à insulina e uma secreção inadequada do hormônio pelo pâncreas. A insulina é produzida, mas as células do corpo não conseguem responder a ela adequadamente, o que resulta na permanência de glicose elevada no sangue.
No diabetes gestacional, acredita-se que os hormônios da placenta criem uma resistência temporária à insulina, comprometendo o controle da glicose durante a gravidez. O controle inadequado desses níveis pode trazer consequências graves tanto para a mãe quanto para o bebê, como macrossomia fetal (bebês muito grandes), hipertensão e risco de pré-eclâmpsia.
Diagnóstico do Diabetes
As novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) de 2024 introduziram mudanças importantes nos critérios diagnósticos do diabetes mellitus (DM) e pré-diabetes, destacando avanços para uma detecção mais precoce da condição:
Principais atualizações:
Incorporação do TTGO-1h:
A glicemia de 1 hora após a ingestão de 75 g de glicose no Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG, agora chamado TTGO) foi incluída nos critérios diagnósticos:
Diabetes: ≥ 209 mg/dL.
Pré-diabetes (hiperglicemia intermediária): 155-208 mg/dL.
Este critério é mais sensível e prático que o de 2 horas, permitindo diagnóstico precoce e intervenções mais eficazes.
Critérios diagnósticos revisados:
Glicemia de jejum: ≥ 126 mg/dL.
HbA1c: ≥ 6,5%.
Glicemia ao acaso com sintomas típicos: ≥ 200 mg/dL.
Glicemia após 2h no TTGO: ≥ 200 mg/dL.
Recomendações para rastreamento do Diabetes:
Indicado a partir dos 35 anos ou em indivíduos mais jovens com sobrepeso/obesidade e ao menos um fator de risco adicional (ex.: histórico familiar, hipertensão, dislipidemias, sedentarismo, SOP, entre outros).
Uso do questionário FINDRISC para avaliar o risco de diabetes tipo 2 em pessoas com menos de 35 anos, complementando a triagem.
Reforço na confirmação diagnóstica:
Exige-se a repetição de qualquer exame alterado, salvo em casos específicos (ex.: combinação de glicemia de jejum elevada e HbA1c ≥ 6,5%).
Essas mudanças visam ampliar a precisão e a praticidade no diagnóstico, além de permitir intervenções preventivas mais cedo, reduzindo riscos de complicações graves associadas a condição
Tratamento e Importância do Endocrinologista
O tratamento da doença varia conforme o tipo e a gravidade da condição. Para o diabetes tipo 1, a única opção de tratamento é a insulina, que pode ser administrada por injeções ou bombas de insulina. Já o diabetes tipo 2 pode ser tratado com mudanças no estilo de vida, medicamentos orais (como metformina) e, em alguns casos, com insulina ou outros injetáveis, caso o controle glicêmico não seja atingido com as medicações orais.
Nos últimos anos houve um grande avanço no tratamento da hiperglicemia , com medicamentos que trazem benefícios além do controle glicêmico como a redução do peso , mortalidade cardiovascular, impedir progressão de doença renal e também em tratar a doença gordurosa do fígado
O desconhecimento dos sintomas, e os inúmeros mitos e estigmas que envolvem a doença muitas vezes levam o paciente a não buscar atendimento especializado em tempo hábil de se prevenir as complicações
O médico endocrinologista é de fundamental importância no diagnóstico e acompanhamento da doença pois o tratamento requer monitorização contínua e a realização de exames periódicos para avaliar o controle glicêmico e a presença de complicações. O endocrinologista também orienta o paciente sobre a importância de aderir ao tratamento, manter uma alimentação saudável, praticar atividade física e realizar a automonitorização da glicose, especialmente para os que usam insulina.
A Importância do Estilo de Vida e Prevenção
Para prevenção as mudanças no estilo de vida são essenciais. Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais e grãos integrais, ajuda a manter o peso adequado e reduz o risco de resistência à insulina. A prática regular de atividade física, de preferência 150 minutos semanais de atividades aeróbicas, também é recomendada. Para aqueles com histórico familiar ou que apresentem fatores de risco, como obesidade ou hipertensão, a realização de exames periódicos pode ajudar a identificar precocemente a condição e prevenir complicações.
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