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quinta-feira, 16 de maio de 2024

16 de Maio - Dia mundial da conscientização da doença celíaca

Para explicarmos o que é a Doença Celíaca (DC), antes precisamos entender o que é o glúten?

Glúten é uma proteína de serve que está presente no trigo. Mas frequentemente esse termo é utilizado para denominar proteínas semelhantes que estão presentes na cevada (Hordeína), no centeio (secalina). Ele é formado por duas proteínas: a glutenina e gliadina. Sendo que a glutenina confere viscosidade e elasticidade, enquanto que a gliadina é responsável pela extensibilidade da massa do pão.

O que é a Doença celíaca?

Consiste em uma doença do intestino delgado (enteropatia) que acomete crianças e adultos geneticamente predispostos, fazendo com que esses não tolerem nada que contenha glúten.

É uma doença sistêmica, autoimune desencadeada pela ingestão do glúten. Caracteriza-se pela inflamação crônica na mucosa intestinal, podendo levar a uma atrofia das vilosidades intestinais e gerando uma má absorção intestinal de vários nutrientes, além de manifestações clínicas.

Resumindo, na DC ocorre a presença de:

  • Combinação de manifestações clínicas glúten-dependentes (sintomas e sinais)
  • Presença de anticorpos específicos para a DC:  anticorpo antitransglutaminase tecidual (TG2), anticorpo endomisial (EMA) e anticorpo contra as formas deamidadas de peptídeos gliadina
  • Marcadores genéticos: HLA -DQ2 e HLA -DQ8
  • Presença da enteropatia
Aspectos epidemiológicos

Estima-se que acometa 1% da população da população mundial.  De acordo com uma revisão sistemática e meta-análise publicada em 2018 DC é um problema de saúde pública global. Os seguintes dados são apontados:
  • A prevalência global dessa condição é de 1,4% com base em achados sorológicos e 0,7% com base em achados de biópsia (soroprevalência de 1,4%  e prevalência de  0,7% )
  • A prevalência global de DC varia com sexo, idade, e localização geográfica.
  • A prevalência global de DC tem aumentado ao longo do tempo, passando de 0,6% entre 1991 a 2000 para 0,8% entre 2001 e 2016.
Infelizmente, no Brasil ainda não temos um estudo multicêntrico que defina a prevalência da DC, mas estima-se com base na prevalência mundial que haja no Brasil hoje cerca de 2 milhões de celíacos, sendo que a grande maioria ainda não tem diagnóstico.



Fisiopatologia e fatores de risco

A fisiopatologia ainda não está muito bem estabelecida, mas sabe-se que fatores genéticos combinados a fatores ambientais favorecem o surgimento da DC.

Os fatores genéticos estão fortemente relacionados com o desenvolvimento da DC, que se trata de uma doença poligênica. A presença do HLA -DQ2 (alelos DQA1∗05/DQB1∗02) é identificada em 90 a 95% dos celíacos, e em 5 a 10% dos portadores da doença é identificada a presença do gene HLA -DQ8 (DQA1∗0301/DQB1∗0302). Embora a presença dos genes HLA -DQ2 e DQ8 para o desenvolvimento da DC seja fundamental, sua existência não é sinônimo de que um indivíduo desenvolverá, obrigatoriamente, a doença. Cerca de 30 a 40% da população mundial possui os genes HLA -DQ2 e DQ8; entretanto, apenas 2 a 3% desenvolvem a DC, o que indica que outros genes e fatores ambientais são necessários para que a doença se manifeste.

Fatores protetores (controversos):  
Amamentação e exposição ao glúten após os 4 meses durante a introdução alimentar

Fatores de risco
  • Ausência de aleitamento materno
  • Infecções gastrintestinais na infância
  • Modificações genéticas do trigo (controverso)
  • Processos industriais empregados para melhorar a qualidade dos alimentos, como a utilização de enzimas transglutaminase microbiana (mTG);
  • Padrões dietéticos ocidentais, que promovem o consumo de elevadas quantidades de glúten.

Existem algumas patologias que, recorrentemente, são associadas à DC; entre elas, citam-se:
  • Diabetes mellitus tipo 1 – 3 a 12%;
  • Síndrome de Down – 5 a 12%;
  • Doença autoimune da tireoide – > 7%;
  • Síndrome de Turner – 2 a 5%;
  • Síndrome de Williams – > 9 %;
  • Deficiência de imunoglobulina A (IgA) – 2 a 8%;
  • Doença autoimune do fígado – 12 a 13%.


O quadro clínico da DC

Manifestações clínicas podem ser divididas em:

Gastrintestinais:
  • Diarreia crônica;
  • Constipação crônica;
  • Dor abdominal;
  • Náuseas;
  • Vômitos;
  • Distensão abdominal.
Extra-intestinais:
  • Déficits de ganho de peso e altura;
  • Atraso na puberdade;
  • Anemia crônica;
  • Osteopenia ou osteoporose;
  • Defeitos no esmalte dentário;
  • Irritabilidade;
  • Fadiga crônica;
  • Neuropatia;
  • Atrite/artralgia;
  • Amenorreia;
  • Aumento nos níveis das enzimas hepáticas;
  • Abortamento de repetição
Classificação

Segundo as Definições de Oslo, a DC pode ser classificada de acordo com os sintomas identificados:
  • Clássica – quando os sintomas são caracterizados pela presença de mal absorção intestinal, com ocorrência de diarreia, esteatorreias, vômitos, distensão abdominal, flatulência, perda de peso e déficit de crescimento;
  • Não clássica – os sintomas são intestinais, porém não envolvem mal absorção, como no caso de pacientes que apresentam constipação e dor abdominal;
  • Subclínica – os sintomas são extraintestinais, como quando há presença de anemia ferropriva, de anormalidades nas funções do fígado, osteoporose etc;
  • Assintomática – nos casos em que há ausência de sintomas.


Diagnóstico

Pode ser dado pelo Nutrólogo, Gastroenterologista, Pediatra. 
Importante salientar que o nutricionista não dá diagnóstico nosológico (doença), mas terá papel crucial no tratamento.

A Biópsia (6 fragmentos) de intestino delgado, até o momento, é considerada o método padrão-ouro para o diagnóstico da DC. Porém, pode apresentar falsos negativos. 
+
A pesquisa de Auto-anticorpos:
  • Anti-transglutaminase tecidual (TG2) IgA: o que solicitamos para triar
  • Anticorpo endomisial (EMA) IgA,
  • Anticorpo contra as formas deamidadas de peptídeos gliadina IgA
É importante salientar que durante a pesquisa para fechar o diagnóstico o paciente deverá estar consumindo glúten, para evitar falsos negativos.



Tratamento

O tratamento consiste na remoção total dos alimentos com glúten:
“Remoção total? Nem um pouquinho?” Não, nem um pouquinho. É remoção total. 

Isso pode ser bastante difícil devido alguns fatores:
  • A contaminação (cruzada) dos alimentos com o glúten, que ocorre quando os alimentos sem glúten entram em contato com os que contêm
  • glúten no armazenamento ou na manipulação;
  • Elevado custo dos produtos sem glúten;
  • Restritas opções de produtos sem glúten.
A principal dúvida dos pacientes após o diagnóstico é: Quais são os alimentos permitidos para quem tem  doença celíaca?
  • Cereais: arroz, milho.
  • Farinhas: mandioca, arroz, milho, fubá, féculas.
  • Gorduras: óleos vegetais e animais, manteiga.
  • Frutas: todas, ao natural e sucos.
  • Laticínios: leite, manteiga, queijos e derivados.
  • Hortaliças, raízes e leguminosas.
  • Carnes e ovos: aves, suínos, bovinos, caprinos, miúdos, peixes, frutos do mar.
  • Sementes e oleaginosas
E como o Nutrólogo vai te auxiliar?

Na minha prática, inúmeras vezes dei o diagnostico de doença celíaca ao acaso. Pacientes que vieram consultar devido diarréia ou intolerâncias alimentares. Porém, como atraio pacientes celíacos (meu nutricionista é portador), nos últimos anos tenho solicitado a anti-tranglutaminase IgA para quase todos os pacientes com doença celíaca. E o que mais me assusta é a quantidade de pacientes que recebem o diagnóstico já tardiamente, ou seja, na vida adulta. 

No caso acima, falei de triagem, investigação de sintomas, mas uma vez já estabelecido o diagnóstico, como o Nutrólogo poderá ajudar um paciente celíaco? Para responder essa pergunta é preciso entender que essa enteropatia cursa com alteração na absorção de nutrientes, em especial de vitaminas e minerais. Portanto, faz-se necessário dosar alguns nutrientes específicos que comumente podem estar baixos nos celíacos. Além disso, esses pacientes podem apresentar outras doenças do trato digestivo ou doenças sistêmicas. Logo, deve-se investigar melhor esse paciente, acolher, ouvir atentamente as queixas. Fazer um recordatório alimentar e analisar se há risco nutricional.

Há ainda os riscos de uma dieta sem glúten não supervisionada. Ou seja, muitas vezes o paciente recebe o diagnóstico e por anos segue uma dieta que acredita ser adequada. Quando vem à consulta, detectamos vários déficits nutricionais. Esse é o principal papel do Nutrólogo na Doença celíaca. 

O Nutrólogo com bom senso, assim como o gastro, encaminhará esse paciente para um nutricionista elaborar um plano alimentar nutricionalmente equilibrado. No meu caso, todos meus pacientes encaminho para o Rodrigo Lamonier, já que ele é o Nutricionista que treinei, atende comigo e entende muito de doença celíaca, por ser portador. Ou seja, conhece todos os desafios que o paciente encontrará.

O Rodrigo Lamonier atende presencial e online. Para agendar com ele clique aqui.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416

Bibliografia:
  • FENACELBRA - https://www.fenacelbra.com.br/doenca-celiaca
  • Leonard MM, Sapone A, Catassi C, Fasano A. Celiac Disease and Nonceliac Gluten Sensitivity: A Review. JAMA. 2017 Aug 15;318(7):647-656. doi: 10.1001/jama.2017.9730. PMID: 28810029.
  • Nascimento AB, Fiates GMR. Doença celíaca e sensibilidade ao glúten não celíaca: da etiologia à abordagem nutricional. In: Associação Brasileira de Nutrição; Vaz EM, Fidelix MSP, Nascimento VMB, organizadores. PRONUTRI Programa de Atualização em Nutrição Clínica: Ciclo 3. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2014. p. 45-78. (Sistema de Educação Continuada a Distância; v. 3).
  • Naik RD, Seidner DL, Adams DW. Nutritional Consideration in Celiac Disease and Nonceliac Gluten Sensitivity. Gastroenterol Clin North Am. 2018 Mar;47(1):139-154. doi: 10.1016/j.gtc.2017.09.006. Epub 2017 Dec 7. PMID: 29413009.
 

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Crossfit ou academia, qual é o melhor para emagrecimento e hipertrofia?

 

Na verdade NÃO há uma modalidade melhor ou pior, já que são práticas bem diferentes e que, se bem indicadas e orientadas por profissionais capacitados, podem trazer múltiplos benefícios à saúde e composição corporal. Veja a seguir algumas das possíveis diferenças.

Com relação a hipertrofia, NÃO há bons trabalhos comparando qual das duas modalidades seria superior para esse fim. No entanto, devido ao enfoque do treinamento e os estímulos realizados, acredito que a musculação seja superior no quesito hipertrofia muscular, e o crossfit na melhora da aptidão cardiorrespiratória.

No gasto calórico das modalidades, pela dinâmica do crossfit, é provável que o gasto calórico da sua prática seja um pouco superior do que da musculação (pensando em treinos com duração semelhante e indivíduos com mesmo tempo de prática de exercícios).

No quesito lesões durante as práticas, os índices de lesões neuromusculares do CROSSFIT (com orientação profissional) NÃO se difere muito da modalidade de musculação quando também bem orientada. As lesões são mais comuns quando o indivíduo é destreinado e não é bem assistido por profissionais capacitados, podendo ocorrer em qualquer uma das modalidades.

Logo, o ideal é que você se movimente e inclua alguma prática de exercícios na sua rotina. O Crossfit pode ser mais interessante caso você goste de algo mais dinâmico e interativo. E a musculação é bem vinda para aqueles que desejam uma modalidade de menor impacto articular, mas com excelentes resultados.

Autor: Dr. Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Treinei hoje, em quanto tempo vou começar a ver resultado?


Você com certeza já ouviu a frase de que "a pressa é inimiga da perfeição" e, atualmente, a ansiedade e a vontade de se alcançar resultados rápidos são os grandes vilões da evolução clínica positiva das pessoas (com relação à saúde em geral e composição corporal).

A evolução decorrente da prática de exercícios físicos leva tempo, principalmente se o foco principal for a composição corporal (perda de gordura e ganho de massa muscular). E para ver resultados de forma mais nítida, é provável que no primeiro mês você já perceba uma melhora significativa na sua disposição, sono, mobilidade, força muscular e resistência relacionada ao desempenho aeróbio.

Já com relação à massa muscular e gordura corporal, visualmente, as mudanças são mais visíveis a partir ali do terceiro mês, em que o volume e a intensidade da prática de exercícios já estão evoluindo.

Mas tem um ponto extremamente importante, a prática de exercícios trará inúmeros benefícios relacionados a sua saúde como um todo, inclusive que citei um pouco mais acima. Porém, se você quiser ver realmente a mudança na sua composição corporal relacionada à gordura, tenha plena certeza que sua alimentação deverá estar nutricionalmente adequada e com um déficit calórico presente.

Autor: Dr. Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

[Conteúdo exclusivo para médicos e Nutricionistas] - Tratamento dietético da obesidade