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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Tireóide e alimentação: o que evitar e o que consumir para minimizar os efeitos de substâncias tóxicas para a tireóide.




Alimentar-se de forma equilibrada é importante para a manutenção de peso ideal e da saúde plena. 

O mesmo se aplica para as pessoas com algum distúrbio na tireoide, seja ele hipotireoidismo ou hipertireoidismo. De acordo com a Dra. Laura Ward, presidente do Departamento de Tireoide da SBEM (Gestão 2011-2012), embora certos alimentos, quando ingeridos em excesso e por longos períodos, possam interferir com o metabolismo da tireoide, sua proibição não é usual para quem tem problemas com a glândula. “Apenas em situações especiais, como antes da realização de alguns exames ou tratamentos específicos, é que uma dieta direcionada é orientada. No geral, o ideal é que se mantenha uma alimentação saudável e balanceada em todos os nutrientes”, afirma.

Mas antes de explicar mais sobre o tema, sugiro que você nos siga no instagram: @drfredericolobo e @rodrigolamoniernutri para mais informações de qualidade em Nutrologia/Nutrição. Lá, postamos principalmente nos stories, informação de qualidade.

Segundo a especialista, quem tem problemas na glândula deve ficar atento a excessos de determinados tipos de alimentos. “O ideal é que o paciente não coma sal em grande quantidade, já que o sal é iodado e o excesso de iodo pode piorar um distúrbio de tireoide latente (não manifestado clinicamente ainda) ou já em tratamento. Isso desregula totalmente o metabolismo do indivíduo”, alerta.

A endocrinologista chama atenção ainda para os alimentos que podem causar bócio, os chamados bociogênicos, ou que contenham isoflavonas em grande quantidade. “Alimentos como repolho, nabo, soja e couve podem ser consumidos uma ou duas vezes por semana, mas não todos os dias”, alerta Dra. Laura.

Atenção para a Soja

De acordo com Dra. Tânia Bachega, presidente da Comissão Nacional dos Desreguladores Endócrinos da SBEM, a partir da aprovação da rotulagem de alimentos com soja como protetores para doença coronariana pelo Food and Drug Administration (FDA), em 1999, o consumo destes produtos vem aumentando a cada dia. “Com o aumento no consumo de soja, cresceram as preocupações se este alimento poderia afetar o equilíbrio da função tireoidiana. Estudos in vitro demonstraram que os fitoestrógenos presentes na soja, além de diminuírem a ação periférica dos hormônios tireoidianos, também afetam a sua síntese por inibição da tireoperoxidase, uma enzima chave na síntese dos hormônios tireoidianos. Eles induzem ainda a proliferação dos tireócitos, predispondo ao hipotireoidismo e bócio”, explica. “É muito discutida a hipótese de que a ingestão da soja por indivíduos predispostos ao desenvolvimento de doença tireoidiana poderia desencadear ou acelerar a evolução para franco hipotireoidismo”, alerta.

Segundo dados de uma pesquisa, comentados pela especialista, em uma análise de mulheres com hipotireoidismo subclínico, observou-se que o consumo diário de 16 mg/dia de isoflavona, equivalente ao ingerido pelos vegetarianos, aumentou em três vezes o risco para o desenvolvimento de hipotireoidismo franco. “Este hipotireoidismo não foi reversível com a suspensão da ingestão de soja, sugerindo que as isoflavonas também possam atuar através da modulação do processo autoimune”, explica. “Outro aspecto importante que merece ser enfatizado é que os fitoestrógenos podem diminuir a absorção tanto do hormônio tireoidiano como do iodo, havendo a necessidade de um fino ajuste da dose da terapia com levotiroxina, especialmente nos portadores hipotireoidismo congênito”, reitera.

Em relação ao consumo ideal de soja, Dra. Tânia explica que não é possível determinar qual seria a dose isenta de efeitos nocivos: “Baseando-se no mecanismo de ação dos desreguladores endócrinos, doses pequenas podem alterar o funcionamento da tireoide, especialmente nos indivíduos de maior suscetibilidade: fetos, lactentes e adolescentes”, explica. Os fitoestrógenos podem também ser encontrados em outros alimentos como cevada, centeio, ervilha e algas.

Fonte: http://www.endocrino.org.br/alimentacao-e-tireoide/

Minhas considerações sobre o tema  (Dr. Frederico Lobo) e do meu Nutricionista (Rodrigo Lamonier) que por sinal é portador de Tireoidite de Hashimoto e por isso há anos estuda as erroneamente denominadas "Dieta para tireóide"
  1. Logo que um paciente portador de Hipotireoidismo chega ao nosso consultório (atendemos os pacientes juntos) utilizamos uma imagem para explicar a fisiologia da tireóide e de quais nutrientes a tireóide é dependente. Também deixamos claro que essa história de Dieta para tireóide é um mito. Não existe isso na nossa concepção e nem a luz das evidências científicas. O que existe de real é o paciente, ou seja, suas particularidades e resposta a diversos agentes.
  2. Tem aumentado o número de pacientes portadores de hipotireoidismo que relatam ser portadores de Sensibilidade não-celíaca ao glúten. Não há respaldo científico (estudos conclusivos) para a retirada do glúten nesses pacientes e novos estudos devem ser feitos. Na prática o que temos visto é que alguns desses pacientes (assim como os portadores de outras doença autoimunes) relatam melhora dos sintomas de hipotireoidismo após a retirada do glúten da dieta. Mas isso não é regra. Outra observação que tenho feito: 1) os níveis de Anti-TPO e Anti-tireoglobulina caem após a retirada de glúten em uma parcela de pacientes. 2) os níveis de TSH caem após a retirada do glúten e sobem após a reintrodução. Como salientei, NÃO há nenhum respaldo científico. É puramente observação empírica, já que os pacientes por conta própria cortam o glúten e só depois relatam para gente. É algo a ser estudado.  Na Clínica Medicare eu e o meu Nutricionista  elaboramos um esquema terapêutico para isso. Sempre objetivando que o paciente retorne o consumo de glúten caso não apresente sintomas. Retirar glúten quando não sensibilidade, na nossa opinião é iatrogenia. 
  3. Chá verde, linhaça, , mandioca, batata doce, inhame, cará, nabo, rabanete e crucíferas (repolho, brócolis, couve de bruxelas, couve, couve-flor, mostarda escura) e babaçu são alimentos que teoricamente podem alterar a cinética do Iodo na tireóide. Não há estudos conclusivos respaldando a retirada deles nos portadores de hipotireoidismo. O consumo algumas vezes semana pode ser uma alternativa. Ao longo dos anos elaboramos um esquema que tem funcionado e a pessoa não deixa de consumi-los semanalmente. O que muda é o modo de preparo, ou seja, se cozinhar reduz muito as substâncias que podem alterar a tireóide.
  4. Excesso de Iodo também pode ser deletério, portanto nada de suplementar Lugol. Quando se dá Lugol (solução composta por Iodeto e Iodo metalóide) os níveis de TSH se elevam e o endocrinologista perde o parâmetro do TSH. Além disso nos pacientes que não possuem processo autoimune (Hashimoto) pode ocorrer uma deflagração do processo. Já vi inúmeras vezes pacientes sem anticorpo elevado e que após utilização por conta própria de Lugol, tiveram os níveis aumentados. A utilização de Lugol não tem respaldo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e nem da Nutrologia. Tem vários posts sobre isso aqui no blog: http://www.ecologiamedica.net/2018/02/posicionamento-sobre-lugol-pela-sbem.html?m=0http://www.ecologiamedica.net/2017/01/coletanea-de-posts-sobre-lugol-e.html?m=0 | http://www.ecologiamedica.net/2014/09/devo-tomar-iodo.html?m=0
  5. A deficiência de Iodo pode levar ao hipotireoidismo e ao bócio endêmico. Existe uma política de saúde pública no Brasil, na qual há uma iodação do nosso sal de cozinha. Nas regiões próxima à faixa litorânea os alimentos possuem um maior teor de iodo. Quanto mais se adentra ao país, menor fica sendo o teor de iodo nos alimentos e mais baixa a ingestão das principais fontes. O iodo (pode ser encontrado na alimentação: algas marinhas, ovo, salmão, sardinha, truta, atum, linguado, pescada, bacalhau, cavala e arenque). A recomendação usual de iodo é de 100 a 150 microgramas ao dia (o que corresponde a 150g de pescada ou 150 g de salmão) para adultos. Esta concentração é adequada para manter a função normal da tireóide. Na gestação recomenda-se 175mcg de Iodo e é o que os multivitamínicos/multiminerais gestacionais apresentam.
  6. Selênio é um nutriente fundamental para a saúde tireoideana. Ele auxilia na conversão periférica do hormônio T4 (inativo) em hormônio ativo, o T3. As enzimas que fazem a conversão são chamadas de deiodinase (elas removem os átomos de iodo do T4 durante a conversão) são dependentes do selênio. Como o T3 é a forma ativa do hormônio da tireoide, e níveis baixos de T3 podem causar sintomas de hipotireoidismo, faz-se necessário otimizar a conversão. Entretanto faz-se necessário dosar os níveis sanguíneos de selênio, já que o excesso pode também ser deletério para a tireóide e inibir a captação de iodeto. Raríssimas vezes fazemos suplementação de selênio. Até porque alguns estudos mostram toxicidade, sendo assim é melhor optar pelas fontes alimentares. Lembrando que a toxicidade de selênio não é rara, visto que algumas pessoas acham que consumir 5 a 6 castanhas do pará por dia, várias vezes na semana não é inofensivo. É perigoso sim, tudo em excesso faz mal. Outros nutrientes que podem influenciar nas Deiodinase são: ferro, zinco, cobre, vitamina D e vitamina A
  7. Há estudo com ratos obesos mostrando que a suplementação de Zinco pode ser deletéria nesses casos (nos ratos obesos, mas não nos magros), pois diminuiria a atividade da Deiodinase-5. Assim como há estudos em humanos mostrando que a deficiência de zinco pode diminuir a atividade de Deiodinase-5. Na dúvida: coma carne e frutos do mar caso não seja vegetariano. 
  8. Dietas muito restritivas diminuem a conversão de T4 para T3. Portanto: alimente-se, nada de ficar muitas horas sem se alimentar. Existe um tempo aceitável nesses casos. E um trabalho publicado em 2020 mostrou que o Jejum intermitente de até 16 horas não reduziu a conversão periférica. Na nossa prática termos parcimônia ao indicar Jejum intermitente para pacientes com Hashimoto.
  9. Intoxicação por metais tóxicos, em especial Mercúrio, Chumbo e Níquel podem alterar a tireóide. O mercúrio faz um bloqueio na conversão do T4 para T3. Caso o médico julgue necessário, deve solicitar um mineralograma capilar. Alguns agrotóxicos levam na composição metais tóxicos, portanto estamos sujeitos à exposição. Além disso alguns agrotóxicos também promovem uma disrupção endócrina, com alterações dos eixos hormonais, dentre eles o tireoideano.
  10. Não negligencie o fator emocional, nível de estresse e qualidade de sono. Os três podem alterar a função tireoideana. Assim como o sedentarismo pode se forma indireta alterar a função tireoideana. 
  11. 11. Chlorella, spirulina e outras algas: são alguns dos alimentos que na internet propagam como benéficos para a tireóide. Não há respaldo para a utilização dos mesmos, nem contra-indicação. Nós não prescrevemos.
Autores:
Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Medico Nutrólogo
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional de Educação física