As infecções do trato urinário (ITUs) são o segundo tipo mais comum de infecções bacterianas em todo o mundo, atrás apenas da otite média aguda. Os picos de incidência de ITUs estão no início dos 20 anos e após os 85 anos. O risco ao longo da vida de adquirir uma ITU sintomática é de cerca de 12% em homens e 50% em mulheres, com uma taxa de recorrência após seis meses de cerca de 40%. Aproximadamente 20 a 30% das mulheres jovens terão ITUs recorrentes.
Embora a maioria dos pacientes tenha apenas uma gama variada de sintomas dolorosos e incômodos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relata que as ITUs contribuem com 13.000 mortes a cada ano. Dessa forma, a ITU é um problema de saúde significante que reduz a qualidade de vida de homens e mulheres.
Diante desse cenário, aumentou-se a busca e o interesse por métodos alternativos de prevenção e terapia, como por exemplo o uso da fruta cranberry (Vaccinium macrocarpon), planta nativa da América do Norte, conhecido como oxicoco no Brasil.
O cranberry vermelho é rico em vários grupos de flavonóides, particularmente proantocianidinas, antocianidinas e flavonóis, juntamente com ácidos fenólicos e benzoatos.
Estudos científicos sugerem que as proantocianidinas (PAC) do tipo A ajudam na prevenção de ITU, principalmente, em mulheres com histórico de recorrências, pois ela interfere na aderência da E. coli (responsável por 75-80% dos casos de ITU) às células que revestem o trato urinário e a bexiga, aumentando a probabilidade de serem eliminadas durante a micção, prevenindo assim a colonização bacteriana.
Metodologias de cultura de células também evidenciaram capacidade antiadesiva nos flavonóides presentes no cranberry e seus metabólitos em amostras de urina coletadas após o consumo de extratos de cranberry.
Embora o consumo de cranberries (Vaccinium macrocarpon) tenha sido amplamente recomendado para profilaxia de ITUs e alívio de sintomas, a atividade preventiva do cranberry nas ITUs tem sido debatida na literatura e numerosos estudos clínicos foram realizados, incluindo algumas meta-análises recentes. Vários estudos mostraram um efeito protetor do cranberry contra ITUs; no entanto, outros não encontraram efeitos significativos.
Essa controvérsia atual sobre os resultados conflitantes da eficácia clínica e de custo dos suplementos de cranberry tem sido atribuída a diferentes produtos e doses fabricados à base de cranberry, bem como à falta de protocolo sistemático para a seleção de sujeitos e ensaio clínico. Portanto, as evidências ainda são insuficientes para definir uma alegação formal de saúde. Além das diferenças na composição e nas doses dos produtos à base de cranberry usados nos estudos de intervenção, as diferenças entre os estudos foram atribuídas à diferente suscetibilidade das cepas UPEC aos efeitos preventivos do cranberry.
Atualmente, a suplementação de cranberry pode ser sugerida com segurança como terapia complementar em mulheres com ITUs recorrentes, mas a falta de custo-benefício para a suplementação de cranberry foi destacada.
Evidências emergentes mostram que a microbiota intestinal tem um papel fundamental na homeostase, regulando a saúde e a doença em locais distais em todo o corpo. Embora os perfis microbianos e os metabólitos microbianos do intestino e de outros órgãos possam influenciar a microbiota urinária, a relação entre esses organismos que metabolizam ativamente e a saúde urogenital ainda não foi completamente elucidada.
Agora é amplamente aceito que o trato urinário abriga uma rede microbiana complexa que é substancialmente diferente das populações intestinais. Qualquer desequilíbrio em comunidades bacterianas específicas provavelmente terá um efeito profundo na saúde urológica devido à sua produção metabólica e outras contribuições.
Autora: Dra. Edite Magalhães - Médica especialista em Clínica Médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351
Revisores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Dr. Leandro Houat - CRM-SC 27920 - RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de família e comunidade