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sábado, 31 de janeiro de 2015

Melhorando a fertilidade com orientações nutrológicas



Um livro baseado num estudo de Harvard traz um pouco de esperança a muitos casais que querem e não conseguem ter um filho.

Parece simples. Um óvulo, um espermatozóide e a vida acontece. A barriga começa a crescer, uns tempos depois o bebé nasce. Mas os caminhos da concepção são misteriosos, sobretudo em tempo de «fast-life« e «fast-food». Estima-se que a infertilidade afecte dez por cento da população portuguesa. O cenário poderá piorar nos próximos anos, profetizam os especialistas na matéria, preocupados com o avanço da idade média das mulheres na primeira gravidez e com o estilo de vida acelerado e pouco saudável dos casais modernos.

Uma constelação de factores interfere no processo da formação do embrião – fisiologia, hormonas e ambiente uterino – mas quem diria que a alimentação também pode desempenhar um importante papel nesta dança de células e emoções?
Diriam as nossas avós, boas conhecedoras das regras da Natureza, mas poucos cientistas lhes deram ouvidos. Até agora.

Um novo livro, «The fertility diet» (A dieta da fertilidade), baseado num respeitado estudo conduzido pela universidade de Harvard – The Nurse’s Health Study – estabelece, pela primeira vez de forma sólida, uma relação entre o que se come e a maior ou menor probabilidade de gerar uma vida. A obra identifica os nutrientes essenciais à concepção, como o ferro e as proteínas de origem vegetal, e destaca aqueles que todas as mulheres devem evitar, como as gorduras trans (gordura artificial presente em muitos alimentos processados).

Qual a probabilidade de o plano dar certo? O livro não diz. Isto porque todas as conclusões são baseadas em respostas a inquéritos, não em resultados de testes efectuados a mulheres inférteis. Contudo, tem o mérito de falar da boa nutrição.

Num artigo publicado na Newsweek no final do ano passado, Jorge E. Chavarro e Walter C. Willet, coordenadores do estudo, não garantem que as mulheres que sigam a estratégia proposta em «The fertility diet» engravidem mais facilmente do que se forem sujeitas a uma fertilização in vitro ou a qualquer outro método de reprodução assistida. Mas destacam as vantagens de se acreditar no poder da alimentação: é uma opção «virtualmente grátis, acessível a todos, sem efeitos secundários e que estabelece as bases de uma gravidez e vida saudáveis».

 Insulina e ovulação regular

 Por que razão a alimentação afecta a fertilidade, Chavarro e Willet não sabem ao certo. As conclusões apresentadas estão assentes num importante estudo de oito anos que envolveu perto de 19 mil enfermeiras. Uma investigação de longo curso coordenada pela Universidade de Harvard que teve por objectivo avaliar os efeitos da dieta alimentar e outros factores no desenvolvimento de condições crónicas, como o cancro e a doença cardíaca.

«Encontrámos algumas associações estatísticas muito interessantes», afirmou Jorge E. Chavarro ao U.S News. «As mulheres que tomavam multivitaminas contendo ácido fólico, por exemplo, tinham maiores probabilidades de engravidar. O mesmo acontecia com as mulheres que ingeriam altas quantidades de ferro, mas proveniente da fruta, dos vegetais, do feijão ou de suplementos, não da carne vermelha. As gorduras trans, presentes nos donuts, nas margarinas e noutros alimentos processados parecem ter um efeito prejudicial na fertilidade», explicou o investigador.

Os autores de «The fertility diet» acreditam que a saúde reprodutiva poderá estar relacionada com a hormona da insulina e o funcionamento dos ovários. Mulheres com níveis salutares de insulina apresentam maiores probabilidades de ovular normalmente; ao contrário, mulheres com resistência à insulina ou diabetes têm tendência a sofrer de uma ovulação irregular.

E há mais: «Vários estudos, incluindo o nosso, demonstraram que as mulheres que praticam exercício moderado, 30 minutos por dia, são menos propensas a ter problemas de fertilidade e nós sabemos como o exercício melhora os níveis de insulina.»

Chavarro e Willet ressalvam que, por enquanto, as recomendações do livro agora editado destinam-se apenas a mulheres com dificuldades na ovulação. «Não funcionam nos casos em que a infertilidade é causada por impedimentos fisiológicos, como a obstrução das trompas de Falópio.» Nem nesses, nem nas situações de infertilidade masculina, já que o The Nurses’s Health Study não inclui dados sobre os parceiros das voluntárias.


Feijão e leite gordo

Todas as mulheres que participaram no estudo da Universidade de Harvard estavam a tentar engravidar, mas uma em seis relataram problemas em consegui-lo, muitas delas referindo dificuldades na ovulação (um problema relacionado com a maturação ou a libertação dos óvulos). Os investigadores olharam para os regimes alimentares destas voluntárias e das que engravidaram rapidamente, para a prática regular de exercício físico e para outros aspectos relacionados com estilo de vida e compararam os resultados. Várias diferenças-chave emergiram. Chavarro e Willet explicam, no artigo da Newsweek, que essas discrepâncias foram depois traduzidas em estratégias de aumento de fertilidade.

Assim, recomendam que as mulheres que estão a tentar engravidar devem: optar pelos hidratos de carbono de absorção lenta – cereais integrais, feijão, vegetais e frutas – em detrimento dos açúcares rápidos – pão branco, batatas e refrigerantes; banir as gorduras trans do regime alimentar; aumentar a ingestão de proteína vegetal; beber um copo de leite gordo por dia; manter o peso corporal dentro dos limites saudáveis (nem demais, nem de menos) e fazer exercício físico. Todas estas opções estavam fortemente associadas, estatisticamente, a uma maior facilidade em engravidar.

«A nutrição é um todo»

Apesar de haver boas e fortes evidências da influência da alimentação na capacidade reprodutiva, há que ter em mente, contudo, que a «nutrição não é a solução da infertilidade», afirma Manuela Nona, nutricionista da Maternidade Alfredo da Costa.

«Não existem ‘dietas da fertilidade’, existem sim comportamentos saudáveis que promovem a saúde em geral, logo melhoram a fertilidade», ressalva a especialista, preocupada com os possíveis exageros da leitura do estudo de Harvard. «Nenhum alimento por si só incentiva a fertilidade», adverte, acrescentando: «A nutrição é um todo, os nutrientes interagem entre si». Para Manuela Nona, o livro «The fertility diet» tem sobretudo o mérito de chamar a atenção para a importância de não agredir o organismo através da alimentação, sob pena de, entre muitas outras coisas, comprometer a fertilidade...

 Se quer engravidar

  1. Evite as gorduras trans, presentes nas margarinas, fritos de pacote, doces industrializados, produtos processados (como as bolachas) e fast-food;
  2. Aumente o consumo de proteína vegetal (feijão, avelãs) e diminua a ingestão de proteína animal (carne vermelha);
  3. Prefira os cereais integrais;
  4. Beba um copo de leite gordo (substituível por qualquer outro produto lácteo, incluindo gelado) por dia;
  5. Evite os refrigerantes. 


Fonte: «The fertility diet», McGraw-Hill


Nutrientes indispensáveis para fazer bebes

AMINOÁCIDOS: Necessários para a produção de óvulos. Presentes nos alimentos proteicos.

VITAMINA A: Importante antioxidante que protege as células da ação dos radicais livres. Essencial para produzir hormonas femininas. Encontra-se nos ovos, frutas, legumes amarelos, leite gordo e produtos lácteos, legumes de folha verde-escura e peixe gordo.

VITAMINAS DO COMPLEXO B: Essenciais à produção e equilíbrio das hormonas sexuais. Destaque para a importância da vitamina B6 – presente no melaço, levedura de cerveja, cereais integrais, nozes, arroz castanho, gema de ovo, peixe, aves, leguminosas e sementes -, fundamental para a formação das hormonas femininas e para o funcionamento adequado do estrogénio e da progesterona. Importantes são também a vitamina B12 (existente apenas nos alimentos de origem animal, como o borrego, as sardinhas e o salmão) e o folato (ácido fólico), associado à prevenção de defeitos do tubo neural no embrião.

VITAMINA C: Eficaz na protecção das lesões celulares. Os citrinos, as cerejas, os rebentos de alfafa, o melão, os bróculos, as ervilhas, as batatas e os espinafres são boas fontes deste nutriente.

VITAMINA E: Considerada a ‘vitamina da fertilidade’. Em associação com a vitamina C pode melhorar a ovulação. Presente no azeite, gérmen de trigo, vísceras, melaço, ovos, batata-doce, legumes de folha, cereais integrais e abacate.

FERRO: Nutriente essencial à fertilidade. Pode ser encontrado nas carnes magras, nos ovos, no peixe, nas aves, nas cerejas, na couve, nas sardinhas e nas sementes de abóbora e girassol. Cuidado que o café, o chá e o tabaco inibem a absorção de ferro.

MAGNÉSIO: A deficiência de magnésio provoca alterações ao nível do metabolismo celular. O peixe, a carne e o leite não contêm este mineral. É, por isso, importante consumir leguminosas, centeio, arroz castanho, bananas, figos, marisco e cereais integrais.

SELÊNIO: Mineral que pode ser encontrado no atum, no arenque, no gérmen de trigo e nas sementes de sésamo. A sua deficiência está associada à infertilidade feminina e a um risco aumentado de aborto.

MAGNÉSIO: Alguns estudos avançam a hipótese de a falta de magnésio poder levar a uma ovulação deficiente. Os alimentos ricos neste nutriente incluem legumes de folha verde, cenouras, gengibre, ananás, ovos, aveia e centeio. Pelo facto de competirem entre si pela absorção, fontes de magnésio e de ferro não devem ser ingeridas em conjunto.

ZINCO: Necessário para produzir óvulos de qualidade e manter o ciclo menstrual. Atenção que o ácido fólico e o ferro inibem a sua absorção. O consumo elevado de álcool e o uso rotineiro da pílula contribuem para um baixo nível de zinco no organismo. As carnes magras, o peixe, o marisco, a galinha, a salsa e os cogumelos são boas fontes deste mineral.

COENZIMA Q10: Importante para a produção de energia e melhoria do fluxo sanguíneo. Não é fácil obter, através da alimentação, quantidades suficientes deste nutriente, daí que ele deva ser consumido sob a forma de suplemento alimentar.

ÁCIDOS GORDOS ESSENCIAIS (AGE): Actuam como reguladores hormonais. As sementes de linhaça, os peixes gordos, as nozes e os legumes de folha verde são ricos em ómega-3.
O atum é a fonte mais rica, mas existe o risco de contaminação de mercúrio, pelo que as mulheres que estão a tentar engravidar não são aconselhadas a comer mais de duas doses semanais deste peixe. Por esta razão, há quem defenda que os AGE devam ser tomados sob a forma de suplementos alimentares, produtos facilmente testáveis e controláveis.

Fonte: «Fertilidade e concepção, o guia completo para engravidar», Zita West, Civilização

segunda-feira, 21 de março de 2011

As substâncias químicas prejudicam a ovulação, a produção de espermatozóides, a gestação e afetam a saúde do feto

Pode parecer comum, mas o que muitas pessoas não sabem é que o álcool, o cigarro e as drogas ilícitas prejudicam de forma direta a fertilidade masculina e feminina. Cada substância maléfica tem seus efeitos e prejuízos em particular. O álcool, por exemplo, além de interferir na fertilidade, age na sexualidade do homem e da mulher e ainda estimula o uso de outras substâncias químicas como o cigarro e as drogas em geral. A seguir, a explicação dos males de cada um.
Álcool

Na mulher, pode causar uma alteração no funcionamento normal do sistema regulador cerebral responsável pela produção dos hormônios femininos. Com isso, é possível haver falha da menstruação, aumento do hormônio prolactina (responsável, entre outras, pela produção de leite), diminuição da libido (desejo sexual), falha na ovulação e defeito de fase lútea (pós-ovulação) e, com isso, a infertilidade. Segundo estudos realizados por Hakim RB divulgados na publicação científica Fertility and Sterility, o consumo de álcool está correlacionado com até 50% à redução da fertilidade feminina.

A libido também pode ser afetada em homens que consomem grande quantidade de álcool. O pesquisador Gaur DS afirma que somente 12% dos homens alcoólatras apresentam contagem espermática normal. A produção dos espermatozóides, por exemplo, pode sofrer interferências de diversos fatores: alteração no sistema regulador cerebral que reduz a produção do hormônio testosterona; danos às células produtoras dos espermatozóides diretamente nos testículos, devido à atrofia por lesões vasculares, e modificações nas células do fígado que mudam suas funções e aumentam os níveis de estrogênio. A testosterona é o hormônio responsável pela produção de espermatozóides, com isso há uma queda no número e na qualidade deles. O consumo do álcool também tem sido relacionado com aneuploidias (alterações cromossômicas) em espermatozóides, de forma que a análise dos abortos são frequentemente modificadas.

O álcool está presente no sêmen pouco tempo após a sua ingestão, o que gera interferência direta com a concepção e a implantação. Os efeitos da substância parecem desaparecer nos meses seguintes a sua interrupção, porém, atualmente, alguns relatos revelam que seus efeitos são irreversíveis.

Na gestação, o álcool também é um vilão. Ainda se desconhece um nível seguro do consumo da bebida nesta fase, portanto, não é recomendado ingerir durante a gravidez. A substância talvez seja a mais perigosa, já que pode levar a várias complicações, dentre elas a mais séria: a Síndrome Alcóolico Fetal. Esta doença, que pode ocorrer em 30% a 40% dos filhos de mulheres alcoólatras é caracterizada por deficiência de crescimento, retardo mental, distúrbios de comportamento, além do aumento da incidência de problemas cardíacos e cerebrais após o nascimento. O álcool também é responsável pelo aumento no risco de aborto espontâneo em 2 a 3 vezes se consumido pela mulher e de 2 a 5 vezes se for consumido pelo homem. Além disso, pode aumentar o risco de parto prematuro e morte fetal.

Cigarro

Outra substância responsável por alterações hormonais, aumento da incidência de câncer e diminuição nas taxas de sucesso nos tratamentos de reprodução assistida. Nas mulheres, o cigarro pode causar alterações menstruais, devido a disfunções hormonais e lesões tubárias, o que aumenta a incidência de gestação ectópica (nas trompas). Pode reduzir a quantidade de estrogênio circulante e alterar a circulação sanguínea ovariana, o que contribui para a diminuição da qualidade e quantidade de óvulos e aumenta o risco de problemas genéticos nos embriões. Devido aos seus efeitos nos vasos sanguíneos, além de diminuir o aporte de sangue aos órgãos genitais está relacionado a uma menor taxa de implantação embrionária. O pesquisador Hakim RB divulgou na revista científica Fertility and Sterility que mulheres que nunca fumaram tiveram o dobro de sucesso na taxa de gestação comparadas às que fumaram, o que revela o impacto na infertilidade.

Nos homens o cigarro pode ser responsável por aumentar a quantidade de radicais livres no líquido seminal, levando a uma queda de qualidade e quantidade de espermatozóides, além de estar relacionado a alterações estruturais do gameta masculino. O estresse oxidativo (desequilíbrio do sistema biológico que danifica as células) pode estar relacionado à fragmentação do DNA do espermatozóide e ser causa de má qualidade dos pré-embriões. De acordo com estudos realizados por Gaur DS, apenas 6% dos homens tabagistas apresentam espermograma normal. Na gestação, o tabaco pode prejudicar o desenvolvimento fetal por comprometimento vascular na placenta, e aumentar a frequência de fetos com baixo peso, parto pré-termo e óbito intraútero.

Drogas Ilícitas

A maconha, a droga atualmente mais consumida, pode originar alterações hormonais nas mulheres e homens e, consequentemente, diminuir a fertilidade e as taxas de sucesso nos tratamentos de reprodução assistida. A droga está associada à diminuição da qualidade e quantidade de espermatozóides e óvulos. O uso da maconha durante a gravidez pode ter efeitos extremamente variáveis sobre o feto, dependendo da quantidade e frequência do consumo. Menor duração da gestação e crianças com baixo peso ao nascer são algumas de suas complicações.

Já a cocaína e o crack podem levar a diminuição da libido nas mulheres e nos homens, diminuição na produção hormonal com alteração no número e qualidade dos óvulos e espermatozóides, assim como elevar a taxa de fragmentação de DNA dos espermatozóides. Quando consumidos durante a gestação, estão associados aos recém-nascidos de baixo peso, malformações ou problemas neurológicos. Como o tabaco, mas em muito maior grau, a cocaína diminui o fluxo de sangue para o feto, que poderá ter restrição de crescimento no útero ou baixo peso ao nascer. Também é responsável pelo aumento da pressão na mãe ou nascimento prematuro por insuficiência placentária ou descolamento da placenta e ainda contrações uterinas precoces. Devido a sua ação direta no sistema vascular fetal pode causar malformações urogenitais, cardiovasculares e do sistema nervoso central.

A heroína na mulher está associada a distúrbios no ciclo menstrual e no homem à impotência. Aumenta o risco de aborto, parto prematuro, baixo peso fetal e morte do feto ao nascimento. Os filhos de mãe dependente desta droga poderão sofrer a síndrome da morte súbita, sintomas de abstinência logo após o nascimento e problemas durante seu desenvolvimento.

Os anabolizantes esteróides cursam na mulher com anovulação (falta de ovulação), além de impotência masculina e queda da testosterona com consequente diminuição no número de espermatozóides.

Pelo fato de as drogas ilícitas estarem relacionadas ao aumento do risco de doenças sexualmente transmissíveis, elas diminuem o sistema imunológico e causam infertilidade conjugal.

É de suma importância a interrupção do consumo de drogas aos casais que pretendem engravidar, pois estas substâncias demoram em média de três a seis meses para serem depuradas pelo organismo, portanto, podem resultar em infertilidade temporária ou permanente.

Recomenda-se a suspensão destas substâncias para que os casais aumentem suas chances de sucesso de uma gestação tranquila, mesmo com a necessidade da inseminação artificial ou da fertilização in vitro. É válido lembrar que a Fertivitro não recomenda o início de nenhum tratamento de reprodução assistida em pessoas que consomem álcool, cigarro ou drogas ilícitas.

Autora: Dra. Fernanda Coimbra Miyasato é ginecologista, especialista em Reprodução Assistida, da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana.

Fonte: http://fertivitro.wordpress.com/2011/03/14/alcool-e-drogas-interferem-na-fertilidade-do-homem-e-da-mulher/