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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Não acredite em fadiga adrenal


A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, via Departamento de Adrenal e Hipertensão e a Comissão de Campanhas da SBEM, dá início a campanha de Adrenal 2024, realizada nos dias 18 e 19 de junho. O tema deste ano é “Hormônios Adrenais: Fato ou Fake?” e contará com esclarecimentos sobre o assunto, no site e redes sociais da SBEM. Fadiga adrenal, exames, uso indiscriminado de deidroepiandrosterona (DHEA) e de glicocorticoides são os tópicos que serão abordados durante a campanha.

Além de imagens e esclarecimentos, está incluída a realização de uma live, no dia 19 de junho, às 18h30 no perfil da SBEM no Instagram com o Dr. Leonardo Vieira Neto (vice-presidente do Departamento de Adrenal e Hipertensão) e Dra. Flávia Amanda Costa Barbosa, diretora do Departamento.

A Fadiga Adrenal Não Existe

O Departamento enfatiza que não existe a expressão de “fadiga adrenal” (exaustão adrenal), difundida nas mídias sociais. NÃO é um diagnóstico ou condição médica reconhecida pela medicina moderna. Em outras palavras, a fadiga adrenal NÃO EXISTE! FADIGA ADRENAL É FAKE!

Por não se tratar de uma condição médica verdadeira, a suposta fadiga adrenal não deve ser tratada em nenhum momento com qualquer tipo de hormônio glicocorticoide, como cortisol, hidrocortisona, prednisona, prednisolona ou dexametasona, entre outros.

Cortisol

As glândulas suprarrenais produzem um hormônio chamado cortisol. Ele ajuda a preparar o corpo para as ações do dia a dia e na regulação do sistema imunológico.

Esse hormônio é produzido de maneira ritmada, tendo valores altos e baixos durante o dia. Por isso pode estar alto, normal ou baixo em apenas uma medida no sangue ou na saliva.

Exames e diagnóstico

Os sinais e sintomas erroneamente atribuídos à suposta fadiga adrenal, como cansaço, esgotamento mental, emocional, na verdade estão associados a outras  doenças e ao estilo de vida atual como sedentarismo, alimentação inadequada, obesidade, privação de sono e estresse psicológico.

A medida de cortisol no sangue só estará indicada quando há suspeita de falta desse hormônio, que é denominado de insuficiência adrenal, ou na suspeita de excesso, também chamada de Síndrome de Cushing, que não são doenças consideradas comuns.

A insuficiência adrenal afeta 1 a cada 10.000 pessoas, enquanto na Síndrome de Cushing, é de 1 a cada 20.000 pessoas no caso da insuficiência adrenal.

A medida do cortisol no sangue ou na urina não servem para verificar o nível de estresse.

Portanto, o cortisol, no sangue ou saliva, é um exame que não deve ser feito de rotina na avaliação de avaliação de check-up. Para diagnóstico de doenças da adrenal, exames muito específicos devem ser feitos pelo endocrinologista.

Uso indiscriminado de DHEA

A deidroepiandrosterona (DHEA) é um hormônio e não é um suplemento natural isento de riscos. Ela não serve como reposição para melhorar a massa muscular, a libido, a depressão, o envelhecimento, o fortalecimento do sistema imunológico, o humor e aumentar a energia.

Portanto, é fake que o DHEA é um suplemento que melhora o vigor físico e a libido.

Não há comprovação científica de que esse hormônio traga benefícios para o indivíduo e nem segurança para seu uso em meses ou anos.

O DHEA se transforma em outros hormônios pelo corpo, assim, seu uso pode predispor a efeitos colaterais. Em alguns estudos científicos, até 20-25% das mulheres em uso do hormônio apresentaram oleosidade na pele, espinhas, excesso de pelos e/ou queda de cabelo, associados ao aumento da testosterona (hormônio masculino). Já entre os homens, as pesquisas mostraram que houve uma tendência à elevação do estrogênio (hormônio feminino), podendo levar ao surgimento de mamas e sintomas depressivos.

Segundo as evidências atuais, a única condição médica, em que se justifica considerar um teste terapêutico sistêmico com DHEA, é a insuficiência adrenal crônica em mulheres. Nessa doença rara, as glândulas adrenais (suprarrenais) deixam de produzir seus hormônios corticais.

O risco do uso indiscriminado de corticóides

Os glicocorticoides, ou apenas corticoides, são substâncias “semelhantes” ao cortisol. Eles são muito usados na prática clínica por muitas especialidades médicas, mas também abusados de forma indiscriminada.

São prescritos como anti-inflamatórios e imunossupressores. Entre os mais comuns, estão a hidrocortisona, prednisona, prednisolona, dexametasona, metilprednisolona, budesonida, betametasona e outros.  Porém, quando usado em doses maiores, e por muito tempo, podem levar a atrofia das glândulas, e por fim a tão temida insuficiência adrenal (quando as adrenais não conseguem produzir o cortisol em quantidades adequadas às necessidades do organismo).

Por isso, todo paciente que usa corticoide de forma crônica, para qualquer doença (reumática, inflamatória, pulmonar, dermatológica ou outra), por qualquer via (oral, injetável, nasal, na pele) está sob risco de insuficiência adrenal, especialmente em situações de estresse ou na interrupção abrupta do medicamento. Nessas situações, o paciente pode apresentar a crise adrenal, podendo levar à morte caso não seja diagnosticada e tratada imediatamente.

Além da insuficiência adrenal e crise adrenal, há muitos outros riscos do uso crônico de corticoides, tais como: ganho de peso, diabetes, hipertensão, osteoporose, fraturas, perda muscular, doença cardiovascular (infarto) e cerebrovascular (derrame), trombose, depressão, psicose, úlceras pépticas, infecções, catarata, glaucoma, estrias etc.

A orientação é não usar corticoide sem recomendação médica, nem mesmo uma “pomadinha”. Também não se deve suspender abruptamente o medicamento se estiver usando por muito tempo doses mais altas.
 
Referências
  • Adrenal fatigue does not exist: a systematic review. BMC Endocr Disord. 2016 Aug 24;16(1):48. doi: 10.1186/s12902-016-0128-4
  • Endocrine Library https://www.endocrine.org/patient-engagement/endocrine-library/adrenal-fatigue
  • Endocrine News –https://endocrinenews.endocrine.org/myth-adrenal-fatigue/
  • Androgen therapy in women: a reappraisal: an Endocrine Society clinical practice guideline .J Clin Endocrinol Metab. 2014;99(10):3489-510.
  • Should Dehydroepiandrosterone Be Administered to Women? J Clin Endocrinol Metab 2022;17;107(6):1679-1685.
  • Long-term DHEA replacement in primary adrenal insufficiency: a randomized,        controlled trial. J Clin End Metab 2008;93(2):400-9.
  • Acute adrenal insufficiency after discontinuation of inhaled corticosteroid therapy.Lancet. 1992 Nov 21;340(8830):1289-90. doi: 10.1016/0140-6736(92)92991-n.
  • Adrenal Insufficiency in Corticosteroids Use: Systematic Review and Meta-Analysis J Clin Endocrinol Metab. 2015 Jun;100(6):2171-80. doi: 10.1210/jc.2015-1218.
  • Diagnóstico da insuficiência adrenal secundária . In : Guia prático em doenças adrenais e hipertensão endócrina – Departamento de Adrenal e Hipertensão da Sociedade Brasileira de Endocrinologia  Clannad Editora Científica, 2021.