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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Será que existem alimentos que melhoram a memória?

Tema mais buscado da semana no Medscape foi: Alimentos que melhoram a memória

O final do ano e a chegada das férias costumam estar ligados a comida. Talvez isso explique por que o aumento do interesse nos recentes achados relacionados com a nutrição tenham se tornado o tema mais buscado da semana. Um estudo recente acrescentou a um crescente corpo de evidências sobre o impacto dos flavonóis na memória e na saúde do cérebro.




Os flavonóis são uma subclasse de flavonoides, que podem ser encontrados nos vegetais (como cebolas, couve, alface, tomate) e nas frutas (como maçãs, uvas, frutas do bosque), bem como em alguns chás e vinhos. Evidências já demonstraram que alguns componentes dos flavonóis reverteram marcas histológicas características da doença de Alzheimer em camundongos. Esta nova pesquisa mostra seu potencial benefício também para humanos. O estudo foi feito com cerca de 960 participantes (média de idade de 81 anos). A maioria era do sexo feminino (75%) e branca (98%). Ao longo de uma média de sete anos de acompanhamento, os participantes responderam a um questionário nutricional anual e fizeram testes cognitivos e de memória.

Para determinar o declínio cognitivo, os pesquisadores usaram uma pontuação global de cognição que resume 19 testes cognitivos. Após o ajuste por vários fatores, os pesquisadores encontraram uma diferença significativa no declínio cognitivo entre os que consumiam mais ou menos flavonol. 

O grupo com menor consumo de flavonol ingeriu cerca de 5 mg/dia, enquanto o grupo com maior consumo ingeriu uma média de 15 mg/dia. A quantidade média da ingestão de flavonol entre os adultos dos Estados Unidos é de cerca de 16 a 20 mg/dia. Os participantes com maior ingestão de kaempferol tiveram um declínio cognitivo 32% mais lento do que os participantes com menor ingestão. Aqueles com maior ingestão de quercetina tiveram uma taxa 30% mais lenta. Aqueles com maior ingestão de miricetina apresentaram uma taxa 31% mais lenta.

No lado oposto da conexão entre os alimentos e o cérebro, um estudo recente descobriu que uma alimentação rica em alimentos ultraprocessados aumenta o risco de demência. Os pesquisadores analisaram o consumo de alimentos ultraprocessados em mais de 70 mil pessoas sem demência ao início do estudo (média de idade de 61,6 anos). Em mais de 10 anos de acompanhamento, houve evolução para as seguintes doenças:
  • Demência: 518 participantes
  • Doença de Alzheimer: 287 participantes
  • Demência vascular: 119 participantes
  • Demência não especificada: 112 participantes

No grupo de menor consumo, os alimentos ultraprocessados representaram 9% da alimentação diária (média de 225 g/dia). No grupo de maior consumo, os produtos ultraprocessados representaram 28% da alimentação diária (814 g/dia). Em comparação aos que consumiram a menor quantidade de alimentos ultraprocessados, o risco de demência entre os que consumiram mais aumentou 50% (razão de risco de 1,51; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,16 a 1,96; p < 0,001). O risco de ter demência vascular mais que dobrou (razão de risco de 2,19; IC 95%, de 1,21 a 3,96; p < 0,01).

As bebidas foram os principais fatores de contribuição para o consumo de alimentos ultraprocessados, representando 34%, seguidas de produtos adoçados (21%), laticínios (17%) e salgadinhos (11%). Os pesquisadores determinaram que se uma pessoa substituir 10% dos alimentos ultraprocessados que habitualmente consome por alimentos não processados ou muito pouco processados, isso resultaria em um risco 19% menor de demência por qualquer causa (razão de risco de 0,81; IC 95%, de 0,74 a 0,89; p < 0,001) e em um risco 22% menor de demência vascular (razão de risco de 0,78; IC 95%, de 0,65 a 0,94; p < 0,01).

Talvez os oxicocos sejam bons substitutos, já que um estudo recente revelou que podem melhorar a memória e a função cerebral em adultos saudáveis de meia-idade e idosos, além de reduzir a lipoproteína de baixa densidade do colesterol.  

Os resultados de um estudo randomizado controlado por placebo com adultos entre 50 e 80 anos de idade mostraram que o consumo de oxicocos liofilizados e congelados — equivalente a uma xícara de oxicocos frescos — por 12 semanas foi associado à melhora da memória episódica. 

O aumento da perfusão regional foi observado no córtex entorrinal direito, na área dos núcleos accumbens e caudado dos pacientes que consumiram oxicoco. Isso foi acompanhado por uma melhora significativa da memória visual. 

No entanto, a intervenção com oxicocos não melhorou outros domínios neurocognitivos, como a memória de trabalho e o funcionamento executivo.

Mesmo algumas gorduras alimentares podem melhorar a função cognitiva dos idosos. Um estudo do início de 2022 descobriu que a ingestão alimentar de ácidos graxos poli-insaturados, particularmente o ômega 6, pode ser benéfica. A análise utilizou dados combinados dos ciclos de 2011-2012 e 2013-2014 da National Health and Nutrition Examination Survey dos EUA. 

Para avaliar a função cognitiva, os pesquisadores usaram a pontuação total e tardia do Consortium to Establish a Registry for Alzheimer's Disease, o teste de fluência animal e o teste de substituição de dígitos por símbolos.

O estudo foi feito com 2.253 adultos com 60 anos de idade ou mais (média de idade de 69,4 anos) e 51% brancos não hispânicos. Após o ajuste por vários fatores, a ingestão alimentar de ácidos graxos poli-insaturados e ácido graxo ômega 6 foi positivamente associada com o teste de substituição de dígitos por símbolos. 

A pontuação do teste de substituição de dígitos por símbolos aumentou cerca de 0,06 desvios padrão (cerca de 1 ponto) para cada desvio padrão de aumento dos ácidos graxos (8,8 g/dia para os ácidos graxos poli-insaturados e 7,9 g/dia para o ômega 6; os valores de p foram 0,02 para os ácidos graxos poli-insaturados e 0,01 para o ômega 6). A pontuação de fluência animal aumentou cerca de 0,05 desvio padrão (cerca de 0,3 pontos) a cada aumento de um desvio padrão (1,1 g/dia) da ingestão alimentar de ômega 3. Embora sejam necessárias mais pesquisas, os especialistas enfatizaram a importância de equilibrar a ingestão de gordura.

Com oxicocos, alimentos contendo flavonol e certas gorduras alimentares potencialmente ajudando, e alimentos ultraprocessados possivelmente prejudicando, o impacto da alimentação na cognição é de interesse para quem tenta retardar o declínio da cognição. À medida que mais evidências se tornarem disponíveis, quase certamente serão "ingeridas" rapidamente, como o foram essa semana.


quarta-feira, 23 de março de 2011

O excesso de informações confunde o cérebro e dificulta a memorização

O excesso de informações confunde o cérebro e dificulta a memorização, comprovaram pesquisadores das universidades Stanford e Yale, nos EUA.  "Descobrimos que a concorrência entre lembranças resulta em memória pior", disse à Folha o psicólogo Brice Kuhl, pesquisador de Yale e principal autor do trabalho.

Diariamente e o tempo todo, o cérebro é exposto a toneladas de informações. Umas são mais lembradas do que outras.  "Embora saibamos que a competição entre memórias é uma parte fundamental da memorização, há poucas provas de como o processo acontece no cérebro", escrevem os autores, no artigo publicado ontem na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences".

O estudo monitorou com ressonância magnética a atividade cerebral de voluntários, durante teste composto de várias rodadas.  No teste de memória, imagens e informações eram misturadas em placas e as pessoas deviam se lembrar do conteúdo separadamente.  Os pesquisadores descobriram que, quando a lembrança era clara, era como se a pessoa revivesse o momento em que a memória foi armazenada, com a ativação das mesmas áreas cerebrais. Mas, quando as informações foram misturadas, o cérebro também se confundiu e tentou reproduzir duas memórias. A pessoa teve dificuldade de se lembrar com clareza do conteúdo.

"É como se a memória estivesse borrada. Pode-se dizer que quando tentamos guardar duas coisas, não guardamos nenhuma delas direito", afirma Cláudio da Cunha, pesquisador de neurociência e farmacologia da Universidade Federal do Paraná.

Memória fotográfica

Para a bióloga e neurocientista, Valéria Catelli Costa, pesquisadora da USP, o maior achado do trabalho foi mostrar como as memórias são codificadas no cérebro, formando "desenhos".
A facilidade ou dificuldade de se lembrar de um acontecimento depende de como essa codificação foi feita.
"Quanto mais você associa dados a um fato, mais fácil fica de você se lembrar, e melhor é a codificação."

Segundo os autores, a codificação é influenciada por memórias antigas e analogias com eventos diferentes.
"Pode ser uma influência negativa ou positiva. A memória de um número de telefone velho torna mais difícil aprender um novo número", exemplifica Kuhl.  Mas, também, um especialista em vinhos só é especialista porque se lembra de conhecimentos anteriores.

"Selecionamos memórias úteis. Guardamos o que é requisitado em tarefas", diz o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp. Para ele, o processo de competição é positivo, porque nos torna capaz de separar o que é importante."Com a seleção conseguimos consolidar um aprendizado e reviver um acontecimento."

O problema é que nem sempre essa seleção é consciente. Para o pesquisador americano, não existem memórias mais fortes do que outras. Então, não adianta muito se esforçar para lembrar a data do aniversário de casamento, por exemplo.  "Queremos pensar que as memórias emocionais ou afetivas são mais fortes, mas nem sempre isso é verdade."


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/892225-lembretes-e-tecnologia-ajudam-a-ampliar-capacidade-de-memoria.shtml