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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Estratégias que podem te ajudar a ter mais adesão ao tratamento para emagrecer



Ao longo dos anos, percebemos que o tratamento da obesidade tende a ser fadado ao fracasso se alguns cuidados não forem tomados. 

Para exemplificar isso, a gente faz algumas perguntas:
1) Quantas pessoas no seu círculo social, que você viu perder uma quantidade considerável de gordura e sustentaram até hoje esse emagrecimento?
2) Quantos emagreceram somente com dieta e atividade física e sustentaram após 5 anos essa perda de peso?
3) Quantos perderam e foi por cirurgia bariátrica?
4) Quantos emagreceram e foi devido a uma combinação de dieta, atividade física e uso de medicação?

Menos de 10% dos pacientes conseguem perder peso somente com dieta e atividade física e sustentar essa perda de peso ao longo de 5 anos. 

Isso nos mostra o quanto a obesidade é uma doença CRÔNICA, COM FORTE COMPONENTE GENÉTICO E AMBIENTAL, COM VÁRIAS CAUSAS (MULTIFATORIAL), RECIDIVANTE e com inúmeros fatores que perpetuam o processo e favorecem o reganho de peso. 

Mas se há casos de sucesso, devemos olhá-los com mais atenção e analisar a razão do sucesso. E a prestação de contas é um dos determinantes desse sucesso.

Prestação de contas? Sim e nada tem a ver com contabilidade. Dividimos essa prestação de contas em 2 tipos: a interna e a externa. 

Prestação de contas: INTERNA

Nela agimos por nós mesmos. Ela diz respeito a formas objetivas que temos de avaliar o nosso resultado (emagrecimento). Há 3 formas de prestação de contas interna:

1) Vigilância: o paciente necessita se pesar ou fazer bioimpedância para avaliar de forma objetiva como está progredindo (há pacientes que geralmente pioram quanto se pesam, mas via de regra a maioria realmente precisa). 

Há uma vertente dentro da Nutrição comportamental que condena a pesagem, porém os estudos de Terapia cognitivo comportamental mostram justamente o contrário. A vigilância contínua promove melhores desfechos.

Mesmo que balança não represente a realidade exata do seu peso, em um período de 15 dias dá para se ter uma noção de como você está indo. Atenção aos períodos pré e pós-menstruais. Atenção também à constipação intestinal (intestino preso).

2) Rastreamento de calorias: caloria não é tudo, mas a estratificação (estimativa) da ingestão de calorias é fundamental no processo de emagrecimento. 

Não consideramos o rastreamento calórico (recordatório alimentar) uma estratégia universal, porém,  nossa prática clínica percebemos que auxilia bastante, principalmente para aquele paciente que "acha" que está seguindo o plano alimentar. 

Há trabalhos também que validam a utilização desses recordatórios alimentares, para fins de aumentar a adesão ao tratamento.

Algumas perguntas devem ser feitas durante análise do recordatório:

1º - Estimar o quanto você está ingerindo no dia e proporção dos macronutrientes.
2º - Determinar onde você está "errando" e as comorbidades associadas a esse "erro". Falo erro com aspas, pois, as vezes, errada foi a estratégia adotada pelo médico para o seu caso. Temos que normalizar que em tratamento de obesidade muitas vezes não acertamos de primeira o melhor tratamento. E/ou muitas vezes teremos que alternar as estratégias terapêuticas. 
  1. Está fazendo mais refeições livres além das ofertadas pelo nutricionista? 
  2. Como está o padrão alimentar?
  3. Está beliscando? 
  4. Está hiperfágico?
  5. Está tendo quantos episódios de compulsão alimentar por semana? Será que precisaremos entrar com medicação e/ou pedir uma avalição psiquiátrica?
  6. Está tendo episódios de compensação alimentar: tais como jejum, dietas restritivas, detox, vômitos, uso de laxantes ou diuréticos, exercícios físico extenuante na tentativa de compensar episódios de compulsão?
  7. Como está a sua relação com a comida? Está gerando mais ansiedade e favorecendo um comer transtornado?
  8. Está fazendo psicoterapia?
  9. Quais momentos do dia tende a ingerir mais calorias e com isso sabotar o que foi proposto?
  10. Há fome emocional? 
  11. Há apetite para algum alimento específico? 
  12. Qual o sentimento predominante nos momentos em que tem compulsão e/ou ingere aquilo que não estava dentro do programado com o Nutri.
3º - Mostrar o quanto você conseguiu reduzir de calorias se comparado ao que ingeria antes. Às vezes o paciente não está perdendo peso na balança e fica desanimado, mas quando se compara ao que ele era antes do tratamento, detectamos um grande avanço. Principalmente no que se trata de volume e qualidade das refeições. Por isso, o reconhecimento de avanços é importante.

3) Estabelecer metas de exercícios e cumprir essas metas, sendo realista. 

A gente orienta aos nossos pacientes que essas metas de início podem até não serem ambiciosas, mas o feito é melhor que o perfeito. E o feito por 20 minutos sempre será melhor que o nada feito. 

Prestação de contas: EXTERNA

É aquela prestação de contas na qual o outro vai te validar. O outro vai te analisar. O outro vai te falar se você teve ou não um bom resultado e/ou se está progredindo, estacionado o regredindo no processo.

a) Profissionais: Nutrólogo, Nutricionista, Endocrinologista: ter pessoas que olharão/acompanharão seu resultado. Os estudos mostram que esse tipo de prestação de conta aumenta as chances de sucesso em um processo de emagrecimento. 

Por isso, orientamos que no tratamento da obesidade as consultas devem ser mais periódicas com o nutricionista. O ideal é de 15 em 15 dias. Ter alguém fiscalizando a evolução geralmente promove melhores desfechos de acordo com alguns estudos. 

Se o paciente está indo bem, ele tende a ficar mais motivado e se ele está indo mal, a gente revisa a estratégia adotada. Como dissemos acima, as vezes erramos na estratégia escolhida. As vezes precisamos alternar as estratégias. 

b) Blog: há estudo mostrando que os pacientes que escreveram blog relatando o processo tem melhores resultados que aqueles não fizeram. Que tal escrever um blog e ali falar das suas dificuldades, colocar as fotos das suas refeições. Postar seu progresso. Há milhões de pessoas nesse barco e com certeza alguém gostará de te acompanhar. 

c) Grupos de whatsApp em que um estimula o outro: um adendo, abominamos grupos de desafios. Uma coisa é um grupo em que as pessoas possuem o mesmo objetivo (que é perder peso) e um estimula o outro. 

Outra coisa, bem nociva por sinal (iatrogênica na verdade), são grupos de competição (desafios), no qual a perda de peso é estimulada de forma errada, pois não leva em conta que as pessoas possuem individualidade biológica, histórias de vida diferentes, realidades financeiras diferentes, constituição familiar diferentes.

Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade