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domingo, 27 de outubro de 2024

A concorrência tornará os medicamentos para obesidade melhores, mais baratos e mais acessíveis

A concorrência tornará os medicamentos para perda de peso melhores, mais baratos e mais acessíveis
Novo Nordisk e Eli Lilly enfrentam um número crescente de concorrentes

Entre os muitos novos participantes no mercado de medicamentos para perda de peso está a Hims & Hers, uma farmácia eletrônica americana mais conhecida por vender remédios para disfunção erétil e queda de cabelo. Desde maio, a empresa oferece sua própria versão do Wegovy, um popular injetável para emagrecimento, graças a uma peculiaridade da lei americana que permite que farmácias reproduzam alguns medicamentos de marca quando há escassez. Analistas esperam que a empresa arrecade cerca de US$ 145 milhões com seu medicamento para perda de peso este ano.

Nos últimos dois anos, as vendas em alta do Wegovy e de seu principal concorrente, o Zepbound, impulsionaram o valor de mercado combinado da Novo Nordisk e da Eli Lilly, as fabricantes desses medicamentos, de US$ 560 bilhões para US$ 1,3 trilhão. O hormônio GLP-1, que é a base de ambos os medicamentos, tem se mostrado altamente eficaz em ajudar os usuários a perder peso, a ponto de seus fabricantes terem dificuldades em atender à demanda.

Além disso, pesquisadores estão agora descobrindo que os benefícios desses medicamentos vão muito além da perda de peso, justamente quando os preços devem cair e formas mais convenientes estão em desenvolvimento. A Bloomberg Intelligence, uma empresa de pesquisa, prevê que os gastos globais com medicamentos para perda de peso aumentarão de US$ 15 bilhões neste ano para US$ 94 bilhões até 2030 (veja o gráfico 1). Com centenas de concorrentes de olho em um vasto mercado de usuários potenciais, os medicamentos contra obesidade estão se configurando como um dos maiores e mais disputados campos de batalha da história da indústria farmacêutica.

Até agora, seguradoras de saúde e governos têm sido relutantes em cobrir os custos do uso de GLP-1s para perda de peso (uma dose menor é prescrita para diabetes). Nos Estados Unidos, o maior mercado de longe para esses medicamentos, o Wegovy pode custar até US$ 17.500 por ano para aqueles que pagam do próprio bolso. Apenas metade dos pacientes com seguro privado tem cobertura para ele. O Medicare, o sistema de saúde pública do país para idosos, é proibido por lei de fornecer medicamentos contra a obesidade.

No entanto, à medida que crescem as evidências de que esses medicamentos para emagrecimento oferecem benefícios além dos cosméticos, seguradoras e governos podem começar a vê-los de forma diferente. Muitos dos 110 milhões de americanos obesos sofrem de condições relacionadas, que vão de doenças cardíacas à apneia do sono. Medicamentos para perda de peso poderiam ajudar. Há também indicações iniciais de que GLP-1s poderiam ser usados para tratar transtornos de uso de substâncias, doença de Alzheimer e várias outras condições. O Escritório de Orçamento do Congresso estima que, com esses novos usos, cerca de um quinto da população do Medicare, aproximadamente 16 milhões de pacientes, poderá ter acesso a esses medicamentos até 2026.

Ao mesmo tempo, a concorrência provavelmente tornará os medicamentos para perda de peso tanto melhores quanto mais baratos. Embora a Novo Nordisk e a Eli Lilly devam dominar o mercado por enquanto, concorrentes estão correndo para desenvolver alternativas, forçando a dupla a continuar inovando. A Citeline, uma empresa de pesquisa, estima que mais de 300 candidatos a medicamentos estão em desenvolvimento, muitos dos quais devem chegar ao mercado nos próximos anos (veja o gráfico 2). Patrik Jonsson, chefe da divisão da Eli Lilly responsável por medicamentos para perda de peso, afirma que o nível de competição é algo que ele nunca experimentou antes.

Uma área de concorrência é a facilidade de uso. A Amgen, uma grande empresa americana de biotecnologia, está desenvolvendo um medicamento que poderá ser injetado pelos pacientes talvez apenas uma vez por mês, em vez de uma vez por semana, como atualmente. Outra solução é eliminar a agulha por completo. Pílulas não só são mais simples de produzir, como também evitam a necessidade de armazenamento refrigerado, que é caro. Tanto a Eli Lilly quanto a Novo Nordisk devem lançar medicamentos orais de GLP-1 em 2026.

As farmacêuticas também estão competindo para produzir tratamentos mais eficazes, incluindo a experimentação com outros ingredientes ativos. Alguns candidatos a medicamentos buscam aumentar a porcentagem de perda de peso, chegando talvez a um quarto do peso corporal dos pacientes. Outros focam na redução dos efeitos colaterais, o que deve atrair mais pessoas ao tratamento. Cerca de um terço dos usuários de GLP-1 desiste em três meses, muitas vezes devido a náuseas, vômitos, perda muscular e outros efeitos desagradáveis. A Zealand Pharma, uma empresa de biotecnologia dinamarquesa que está desenvolvendo um medicamento para perda de peso que atua em outro hormônio, a amilina, afirma que ele pode oferecer benefícios de perda de peso semelhantes aos dos GLP-1, mas com menos desses problemas.

Toda essa competição deverá reduzir os preços. A Eli Lilly já cortou pela metade o preço de suas injeções. O banco de investimentos Jefferies estima que, até o final desta década, o custo anual dos medicamentos para perda de peso nos Estados Unidos cairá para cerca de US$ 3.000. Ainda assim, esses preços continuarão fora do alcance da vasta quantidade de pacientes em países pobres. Dos 1 bilhão de adultos obesos no mundo, mais de dois terços vivem em países em desenvolvimento, segundo a Federação Mundial da Obesidade, uma ONG. Empresas farmacêuticas da China e da Índia estão de olho nesses mercados.

Na China, quase metade de todos os adultos estão com sobrepeso ou obesidade, tornando o país um mercado potencial enorme para medicamentos para perda de peso. A semaglutida (ingrediente ativo do Wegovy) e a tirzepatida (ingrediente ativo do Zepbound) já foram aprovados para tratar a obesidade no país. A Eli Lilly e a Innovent, uma empresa chinesa de biotecnologia, estão desenvolvendo um medicamento chamado Mazdutide para esse mercado, que deverá estar disponível a partir do próximo ano por cerca de metade do preço do Zepbound nos EUA.

Os genéricos serão ainda mais importantes para ampliar o acesso a esses medicamentos nos países em desenvolvimento. A expiração de patentes ajudará: a semaglutida perderá sua proteção na China e na Índia em 2026, o que deve desencadear uma enxurrada de biossimilares (como são conhecidas as versões genéricas de medicamentos biológicos). Na China, oito biossimilares de medicamentos para perda de peso estão programados para entrar no mercado após 2026. 

Os fabricantes de medicamentos da Índia, que fornecem mais medicamentos genéricos do que qualquer outro país, também estão desenvolvendo suas próprias versões. O mercado de medicamentos para perda de peso não deverá “perder peso” tão cedo.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Tratamento medicamentoso para obesidade ainda é um privilégio

Tempos atrás fiz um texto falando sobre o tratamento de emagrecimento ideal. Obviamente recebi uma enxurrada de mensagens de leitores que falavam da baixa acessibilidade ao tratamento para boa parte da população. 

Infelizmente, existem diversos fatores que podem atrapalhar o acesso à medicação para emagrecimento em pacientes portadores de obesidade, incluindo:
  • Regulamentações governamentais: muitos países têm regulamentações rigorosas sobre o uso de medicamentos para emagrecimento, especialmente aqueles que têm sido associados a efeitos colaterais graves. Isso pode dificultar o acesso a esses medicamentos para pacientes que poderiam se beneficiar deles. Por outro lado, essa proibição visa proteger a saúde da população. Para algumas drogas como a sibutramina, alguns agências reguladoras entendem que os riscos não se sobressaem aos benefícios. A mesma coisa os noradrenérgicos (anfetaminas). Agrega-se a isso uma farmacofobia por parte de alguns profissionais que estão à frente dessas agências e ministérios. Algo complexo mas que tende a melhorar com as novas classes de medicamentos, como os análogos de glp1.
  • Custos alto: alguns medicamentos para emagrecimento podem ser bastante caros (podendo ultrapassar no Brasil os 2 mil reais mensais), e muitos pacientes portadores de obesidade podem não ter acesso a eles devido ao valor das medicações. Isso pode ser particularmente problemático para pacientes que não têm seguro de saúde ou que têm cobertura limitada. Na minha opinião é o principal fator limitador. Existe a ciência, existe aquilo que teoricamente seria o ideal baseado nas pesquisas, mas existe o mundo real. Em um país que o salário mínimo é R$ 1320,00, pagar R$960 em uma caixa de remédio é para uma parcela ínfima da população. 
  • Barreiras de acesso ao sistema de saúde: muitos pacientes obesos podem ter dificuldade em acessar o sistema único de saúde devido a barreiras como falta de transporte, falta de tempo ou incapacidade de pagar um plano de saúde. 
  • Estigma e discriminação: pacientes portadores de obesidade frequentemente enfrentam estigma e discriminação na sociedade e principalmente na área da saúde, o que pode dificultar o acesso a tratamentos e medicamentos apropriados para a obesidade. Tem um trabalho de 2017, publicado no Journal of the American Board of Family Medicine evidenciando que os pacientes portadores de obesidade levaram em média cerca de 6 anos para buscar tratamento para sua obesidade. Outro estudo de 2019 publicado no periódico Obesity descobriu que pacientes obesos levaram em média cerca de 4 anos para buscar tratamento para sua obesidade. Esses trabalhos mostram a importância de identificar e tratar a obesidade o mais precoce possível. Isso pode melhorar significativamente a saúde e a qualidade de vida desses pacientes. A obesidade é uma condição crônica e progressiva, e quanto mais tempo um paciente passa sem tratamento, maiores são os riscos de complicações de saúde associadas à obesidade. É importante que profissionais de saúde, familiares e amigos incentivem e apoiem as pessoas com obesidade a buscar tratamento o mais cedo possível, e que os sistemas de saúde estejam preparados para oferecer tratamentos eficazes e acessíveis para essa condição.
  • Contraindicações médicas: algumas medicações para emagrecimento são contraindicadas em certas condições médicas, o que pode restringir o uso dessas medicações em pacientes obesos com condições médicas pré-existentes. Principalmente medicações que tem que podem levar a efeitos colaterais como: piora da ansiedade, insônia, aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Infelizmente no tratamento da obesidade, as vezes "vestimos um santo e desvestimos outro". 
  • Falta de consciência sobre opções de tratamento: muitos pacientes obesos podem não estar cientes das opções de tratamento disponíveis para a obesidade, incluindo medicações para emagrecimento, cirurgia bariátrica, psicoterapia. Puro desconhecimento. 
  • Falta de prescrição médica: alguns médicos podem não estar familiarizados com as opções de medicação para emagrecimento ou podem ter reservas sobre prescrevê-las devido a preocupações com efeitos colaterais ou contraindicações médicas. Associa-se a isso a farmacofobia dos médicos e dos pacientes. Emagrecer só com foco e força de vontade acontece? Após atender quase 12 mil pacientes e estar a frente do maior ambulatório de Nutrologia do estado, afirmo sem pestanejar: É raríssimo. Mais raro ainda é a sustentação dessa perda de peso após 5 anos. O tratamento medicamentoso salva vidas e deve ser utilizado com mais ciência. 

Infelizmente, o acesso a medicamentos para emagrecimento ainda é um privilégio para aqueles que têm condições financeiras boas. Isso ocorre porque muitas das medicações para emagrecimento são caras e não são cobertas por muitos planos de saúde, o que significa que os pacientes precisam pagar por elas integralmente.

Autor: Dr. Frederico Lobo
Médico Nutrólogo
CRM-GO 13192 - RQE 11915
CRM-SC 32949 - RQE 22416