Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Obesidade. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Obesidade. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 30 de março de 2018

A ignorância e o preconceito com os portadores de obesidade por parte de profissionais da área da saúde



Constantemente médicos presenciam profissionais da área da saúde fazendo alegações falaciosas sobre obesidade. A bola da vez está sendo uma medicação muito prescrita para tratamento do Diabetes e da Obesidade: Liraglutida (Saxenda, Victoza).

Após discussões em um grupo de Nutrólogos e Endocrinologistas que coordeno, percebemos o quanto leigos e até mesmo alguns profissionais da área da saúde são ignorantes no que tange ao tema: Obesidade.

Com o conhecimento atual disponível sobre o assunto, é inadmissível essa postura preconceituosa e ignorante, partindo principalmente de profissionais ditos da área da saúde. 

A combinação Atividade física + dieta ou o clássico "feche a boca e se exercite mais" ao longo das últimas duas décadas tem se mostrado um modelo falido para o tratamento da maioria dos portadores de obesidade. Só nega isso: 1) quem acredita piamente que isso funcione ou 2) quem não tem vivência prática em obesidade.

Atualmente, atendo semanalmente quase 90 pacientes portadores de obesidade. Ao final de um mês totalizo quase 360 pacientes. E não pense que seja obesidade grau I ou II, geralmente atendo só obesidade grau III, principalmente no ambulatório, no qual conto com o suporte de duas nutricionistas para atender os casos de sobrepeso, obesidade grau I e obesidade grau II.  O trabalho no ambulatório me mostra que no tratamento da obesidade é fundamental uma interdisciplinaridade. As chances do tratamento ter êxito é maior a medida que mais profissionais participam do processo. Lá tenho uma psicóloga e duas nutricionistas, porém o ideal seria que tivesse um profissional da educação física associado. 

Ao longo desses 5 anos de ambulatório, atendi quase 5 mil pacientesportadores de obesidade, em todos os graus e posso afirmar categoricamente que uma minoria, menos de 10% perde peso somente com atividade física e dieta. Isso corrobora com estudos muito bem conduzidos, patrocinados pelo governo americano mostrando que apenas 10% dos indivíduos com obesidade perdem 10% do peso e assim o mantém após 2 anos, apenas com modificações de estilo de vida (dieta e atividade física) puramente.

É importante deixar claro que a utilização desse combo e o fato dele apresentar uma baixa taxa de sucesso terapêutico, não o invalida (é o pilar), mas nos mostra que precisamos urgentemente buscar outras opções. E é isso tem que impulsionado os pacientes a procurarem cada vez mais nutrólogos e endocrinologistas, deixando de lado Nutricionistas (figura essencial no tratamento). Ouço isso todo dia no consultório, pacientes cansados de procurarem profissionais com visão limitada sobre o tratamento do portador de obesidade. Trabalho com profissionais excelentes, que enxergam a doença como deve ser vista mas o que vejo é um grande número de profissionais ainda sem uma visão global do quadro.

Pessoas de visão simplista e muitas vezes ignorante que sequer enxergam que a Obesidade é uma doença CRÔNICA, RECIDIVANTE, ALTÍSSIMO COMPONENTE GENÉTICO, ESTIGMATIZADA E SUB-TRATADA. Pra piorar a situação, há muitos profissionais ignorantes que estigmatizam o tratamento farmacológico antiobesidade, que graças às suas influencias digitais, tiram a oportunidade de pessoas que poderiam se beneficiar de tratamentos potencialmente úteis (mas não milagrosos, pois não é isso que eles se propõe). Com isso a obesidade perpetua-se.

Se obesidade fosse uma doença de fácil manejo não teríamos uma pandemia. Nunca se falou tanto sobre dieta e atividade física e mesmo assim os números crescem em progressão geométrica. Vejo diariamente alguns nutricionistas e profissionais da educação física olhando uma doença, por uma ótica apenas estética. Isso é um absurdo. Obesidade não é estética, obesidade é doença e assim deve ser tratada, com muita seriedade. Poucas doenças levam a tantas comorbidades associadas quanto á obesidade e isso reflete em qualidade de vida, expectativa de vida, direcionamento de gastos em saúde pública.

Inúmeros fatores comportamentais, genéticos, ambientais, emocionais favorecem o surgimento da obesidade ou agravamento da mesma. Os medicamentos, sejam eles quais forem, servem para aumentar a porcentagem de perda de peso e de número de indivíduos respondedores a estratégias de mudança de estilo de vida, e nunca uma em substituição à outra. 

O que me parece é uma briga mercadológica, na qual alguns nutricionistas e profissionais da educação física, por não terem o direito de prescreverem medicações e por saberem da eficácia das mesmas, tentam desmerecer ou satanizar o tratamento farmacológico antiobesidade. Assim o fazem com algumas inverdades:

MENTIRA 1: - Parou de tomar engorda tudo novamente. 
R: é doença crônica, se é doença crônica o tratamento é para toda a vida. O diabético toma hipoglicemiante por toda a vida, o hipertenso por toda a vida. Porque com o portador de obesidade seria diferente, ainda mais se tratando de uma doença muito mais complexa que diabetes e hipertensão. O que eu particularmente tento fazer é utilizar a medicação na fase de emagrecimento, mantê-la na fase de manutenção e depois iniciar o desmame. Consigo muitas vezes, porém outras vezes não. E entre escolher deixar o meu paciente recuperar todo o peso perdido e aumentar o risco de desenvolver outras doenças que pioram em decorrência da obesidade, opto por deixar meu paciente medicado.
Assim como tenho inúmeros pacientes que utilizaram a medicação em duas fases (fase de perda do peso e fase de manutenção) e depois seguiram a vida apenas com dieta, atividade física e psicoterapia.

MENTIRA 2: - São medicações que viciam.
R: Mais uma falácia e que mostra a ignorância sobre a farmacologia antiobesidade. Esse tipo de afirmação surgiu na década de 60 e 70 com os anorexígenos noradrenérgicos (popularmente chamados de anfetaminas = Anfepramona, Femproporex, Mazindol). Tais medicações tem um "poder de adição", entretanto hoje o nosso arsenal terapêutico (on-label e off-label) conta com medicações seguras e com baixíssimo poder de adição, exemplo:
- Sibutramina
- Orlistate
- Bupropiona com naltrexona
- Topiramato 
- Locarserina
- Liraglutida
- Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (Fluoxetina, Sertralina)

MENTIRA 3: - São medicações caras, sai mais barato pagar nutricionista e personal
R: Será caro mesmo? Somemos o valor de uma consulta mensal com nutricionista e acompanhamento 3 vezes por semana com personal trainner. Sai muito mais caro. Fora que as medicações permanecem caras até a patente vencer. Depois o preço despenca: ex. Sibutramina, Topiramato, Naltrexona com bupropiona. 

MENTIRA 4: - As medicações são repletas de efeitos colaterais e podem até matar
R: Na atualidade, para uma medicação ser aprovada ela passa por inúmeros ensaios clínicos que duram anos. A indústria farmacêutica sabe do prejuízo que é liberar uma medicação e mais a frente serem reportados inúmeros efeitos colaterais que não estavam na bula. Portanto, na atualidade o FDA (agência reguladora americana) exige um maior nível de segurança de tais medicações. Por exemplo, alguns não-médicos afirmam que a Liraglutida pode causar pancreatite, alterações renais e hipoglicemia. Afirmam até que que esses efeitos adversos são comuns. Na prática e inclusive na bula, tais complicações não são descritas como comuns. Mostrando claramente que esse tipo de afirmação falaciosa visa "desestabilizar' pacientes que estão em uso da medicação, criando atrito com os profissionais prescritores, no caso os médicos. Pondo ate mesmo em jogo a competência do médico. Muitas vezes tais afirmações, coloca-nos como charlatões à serviço da indústria farmacêutica, dando a entender que ganhamos alguma coisa pela prescrição das mesmas. Nem amostra grátis ganhamos, quem dirá comissão rs. Piada !

MENTIRA 5: - A perda de peso proporcionada é pequena, visto que, é um paciente  portador de obesidade que precisa perder muito peso.
R: Vamos à parte científica. Pois esse tipo de afirmação mostra apenas a ignorância de quem desconhece farmacologia, em especial a farmacoterapia antiobesidade. Para uma medicação ser aprovada pelo FDA, além de demonstrar segurança, deve também, em estudos clínicos: Atingir uma perda de peso maior do que 5% em relação ao grupo placebo (ou seja, que não usa a medicação), ou que ao menos 35% dos pacientes atinjam uma perda mínima de 5% do peso (ou que seja o dobro do grupo placebo).

As vezes para um paciente a medicação não é eficaz, mas para outro é altamente eficaz. Percebe-se isso em especial com a Sibutramina e Bupropiona com naltrexona. Ou seja, a reposta é heterogênea. Mas a medicação quando aprovada pelo FDA, ela passou pelo crivo de ensaios clínicos, mostrando efetividade mínima. Nos estudos alguns pacientes perdem muito pouco ou nada, alguns perdem pouco, outros perdem dentro da média esperada e outros perdem acima da média. Isso é medicina. 

Para a maioria das pessoas que buscam perda de peso, perdas ao redor de 5-10% do peso são pequenas e podem decepcionar à primeira vista, mas devemos levar alguns pontos em consideração. 

As afirmações abaixo foram retiradas de um texto desabafo do Dr. Bruno Halpern em seu facebook, após o tal profissional da educação física alegar que a perda de peso promovida pela Liraglutida era ínfima, não justificando o seu uso pelo custo-benefício. Considerações importantes feitas pelo Dr. Bruno Halpern: 

1 – A média de perda de peso com dieta e exercício, em estudos bem feitos, em que houve um controle enorme por parte dos profissionais de saúde para garantir adesão é ao redor de 3 kgs. Entre os respondedores, apenas 10% das pessoas conseguem perder ao menos 10% do peso e manter no longo prazo. Portanto, simplesmente dizer "é fácil, é só fazer dieta e exercício e prontonão se baseia em nenhum estudo de evidência e todo mundo que trata pacientes portadores de obesidade sabe disso. As afirmações são baseadas em meta-análises feitas sobre eficácia de atividade física e dieta no tratamento da obesidade. Nada do que foi afirmado acima é achismo e sim evidências encontradas em estudos científicos bem conduzidos. 

2 – O tratamento não é "só" medicação - todos esses estudos, tanto o grupo que toma a medicação, como o grupo placebo, fazem modificação de estilo de vida, portanto não é medicação versus dieta e exercício e sim uma soma. Assim, o grupo placebo muitas vezes perde sim um pouco de peso, fazendo com que, embora a diferença possa ser na casa de 5%, o grupo que tomou remédio perdeu mais evidentemente. 

3 – A "média" é um conceito falho, pois engloba pacientes que:
Não perderam absolutamente nada, 
Com pacientes que usaram a medicação por poucos dias e pararam (seja por efeito colateral, ou porque simplesmente abandonaram o tratamento, que é comum em obesidade, infelizmente), 
Com aqueles que conseguiram perdas maiores, que são chamados os respondedores. Os que não perdem nada, param o uso da medicação e tentam outras opções, reservando o uso a longo prazo àqueles que conseguem mantê-la.

Aqui vemos uma individualidade do tratamento. O arsenal farmacológico para tratamento da obesidade possui medicações com mecanismos de ação diferentes e que podem se enquadrar no perfil do paciente. O que serve para um, não serve para outro. Isso é muito comum no ambulatório que atuo.  Outro ponto interessante nos estudos é justamente essa heterogeneidade de participantes dos estudos. No resultado final se aloca todos que participaram e quantifica-se uma média de perda de peso. Vários pacientes perdem mais que 30% do peso inicial, assim como vários perdem 20% e outros apenas 5%.  

3 – Perdas de peso na casa dos 5-7% já são suficientes para melhorar muitos fatores de risco associados à obesidade como hipertensão, apnéia do sono, hipercolesterolemia. Cada kg de peso reduz o risco de desenvolvimento de diabetes em 17%. Perdas acima de 10% podem estar associadas a redução de mortalidade e acima de 15% são suficientes para causar redução importante de inflamação, que é um fator de risco enorme para doenças cardíacas, segundo Dr. Bruno Halpern. Ou seja, analisando os bons respondedores, podemos ter pacientes que se beneficiam muito, mesmo com perda ponderal considerada por alguns como ínfima. Na prática o que se vê no retorno dos pacientes, é que mesmo com perdas de 5% eles mostram contentamento com os resultados e relatam melhora em sintomas inespecíficos, tais como: melhora do sono, mais disposição, menos sonolência diurna, maior tolerabilidade aos exercícios, melhora do humor, redução de dores articulares, melhora da autoestima. Ou seja, externalizam isso quando questionados: - O que mudou na sua vida após esses kilos perdidos?

4 – Para o Dr. Bruno Halpern, uma outra maneira de analisar a eficácia das medicações é observando qual a chance de um paciente atingir um determinado porcentual de perda de peso com a medicação e dieta versus só a dieta. Temos muitas medicações, mas um número que vemos em algumas (como a liraglutida, que nos estudos sempre faz essa análise) é ao redor de 3. Ou seja, uma pessoa, engajando em um programa de perda de peso completo tem 3 vezes mais chance de atingir um resultado significativo com o remédio do que sem ele. Isso garante 100% de certeza? Não, longe disso. Mas pode modificar a vida de muitas pessoas.

Ou seja, medicações não são milagres, com objetivo de "secar" as pessoas para o verão. São opções com limitações, mas que podem ajudar muito a vida de pacientes que sofrem com obesidade, que é tão difícil de tratar e tão estigmatizada na sociedade. Dr. Bruno Halpern também afirma que a escolha da medicação leva em conta diversas características do paciente, assim como contraindicações. Nem todos podem usar todas as medicações, e é função de um profissional médico sério escolher as opções baseado em tudo isso, e saber reavaliar o paciente para trocar, se assim for necessário. 

MENTIRA 6: - Os médicos prescrevem medicações caras porque ganham comissão da indústria farmacêutica.
R: A indústria farmacêutica visa lucro, mas isso não implica que médicos sérios prescrevam medicações com esse intuito. Nós prescrevemos aquilo que a ciência nos mostra ter evidências e bom nível de segurança. Há médicos que são "speakers" de laboratórios? Sim, mas todos que conheço são éticos e estudiosos e por essa razão os laboratórios os chamam para falar sobre um produto. Claro que há os que tentam barganhar benefícios com os laboratórios, mas acredito ser  uma minoria. No caso da Liraglutida, a medicação custa em torno de 600 reais para 1 mês, na dose de 3mg, além disso o paciente deve comprar a caixa com as agulhas. O laboratório então oferece um programa de descontos, no qual o paciente liga e informa o CRM do médico prescritor, com isso o paciente consegue um desconto de 30% e o tratamento se torna mais acessível ao paciente. Sendo assim, não recebemos nenhum tipo de comissão para prescrever qualquer medicação que seja. A Novo Nordisk (fabricante da Liraglutida ) sequer nos fornece amostra grátis, o que seria muito bem-vindo, visto que poderíamos verificar a tolerância do paciente à medicação.

Portanto, diante de todos os fatos expostos a cima, médicos nutrólogos e endocrinologistas pedem para os demais profissionais da área da saúde:
- PAREM DE ESTIGMATIZAR AINDA MAIS A OBESIDADE, SATANIZAR O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO. VENHAM SOMAR AO TRATAMENTO, NÃO DIFICULTAR ALGO QUE JÁ É MUITO DIFÍCIL.  POR FIM, ESTUDEM E SAIAM DA IGNORÂNCIA. 

Referências:
  1. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/oby.21975
  2. http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1411892
  3. http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1603827
  4. http://bmjopen.bmj.com/content/3/1/e001986
  5. https://www.nature.com/articles/ijo2013225
  6. https://www.hindawi.com/journals/ije/2018/2637418/

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Opinião: onde estamos errando no diagnóstico da obesidade?

Muito interessante essa reflexão do Dr. Fabiano M. Serfaty, médico endocrinologista. Mas mais importante que o diagnóstico é sabermos onde estamos errando no tratamento da obesidade. Nunca tivemos um mundo falando tanto de dieta, fazendo tantas dietas... e mesmo assim a obesidade tem se tornado uma pandemia. 

Opinião: onde estamos errando no diagnóstico da obesidade? por Dr. Fabiano Serfaty

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é uma condição médica na qual se tem acúmulo de tecido adiposo em excesso, o que pode gerar impacto negativo na saúde do indivíduo, levando à redução da esperança de vida e ao aumento dos problemas de saúde[1].

A maneira mais utilizada para se avaliar e definir o grau de obesidade é por meio da avaliação do índice de massa corporal (IMC), embora este não seja sensível à composição e à distribuição de gordura[2,3,4]. O IMC é calculado pela divisão do peso em kg pela altura em metros elevada ao quadrado (kg/m²). As classificações para os níveis de IMC adotadas pela OMS e pelos National Institutes of Health (NIH) dos EUA para indivíduos caucasianos, hispânicos e negros são[1,5]:

Abaixo do peso: <18 div="" kg="" m2="">
Peso normal: ≥ 18,5 a 24,9 kg/m2
Sobrepeso: ≥25,0 a 29,9 kg/m2
Obesidade: ≥ 30 kg/m2
Obesidade Grau I: 30,0 a 34,9 kg/m2
Obesidade Grau II: 35,0 a 39,9 kg/m2
Obesidade Grau III: ≥40 kg/m2

Limitações da utilização IMC

O IMC apresenta importantes limitações, podendo superestimar o grau de obesidade em indivíduos com grande massa muscular[6]. Os idosos, por sua vez, tendem a ter menor densidade óssea, maior risco de sarcopenia e massa corporal magra reduzida, portanto, podem pesar menos que os adultos mais jovens da mesma altura. De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, no idoso, o IMC normal varia de > 22 a < 27 kg/m2. Além disso, existem variações na composição corporal entre diferentes grupos populacionais. Os negros, por exemplo, apresentam maior densidade corporal e massa magra em comparação com os brancos. Já em populações asiáticas, para que se tenha a redução do risco de eventos cardiovasculares é necessário que os níveis de IMC estejam no limite inferior da normalidade.

Por outro lado, a obesidade de peso normal, definida como a combinação de IMC normal e alto teor de gordura corporal, está associada ao aumento do risco de mortalidade por uma série de causas. Vários estudos demonstraram que o IMC não reflete, de fato, o conteúdo real de gordura corporal, causando erros no diagnóstico de sobrepeso ou obesidade[7,8].

O IMC é o melhor parâmetro?

Embora a obesidade, definida pelo IMC, influencie o risco cardiovascular, este parâmetro apresenta importante limitações na previsão da mortalidade cardiovascular. Nos últimos anos vários estudos demonstraram que outros índices de avaliação da adiposidade têm sido cada vez mais associados a um maior risco cardiometabólico dos pacientes. Devido à “epidemia” global da obesidade, o interesse na eficácia da utilização destes parâmetros está aumentando tanto para adultos quanto para crianças em muitos países e em diferentes grupos étnicos.

Circunferência abdominal

A circunferência abdominal é uma maneira de medir a obesidade abdominal, que fornece informações que o IMC não é capaz de fornecer. Segundo recomendações da OMS, a medida da circunferência deve ser aferida na região mais estreita do abdome ou no ponto médio entre o rebordo costal inferior e a crista ilíaca. Ela deve ser medida com uma fita flexível colocada em plano horizontal. Os pacientes com obesidade abdominal, também chamada de adiposidade central, obesidade visceral ou androide, apresentam maior risco de desenvolver diabetes, doenças cardíacas, câncer, apneia obstrutiva do sono, acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e doença hepática gordurosa não alcoólica[7,8,9].

Existe, de fato, uma variabilidade étnica nos valores da circunferência da cintura que preveem um risco cardiovascular aumentado. Por exemplo, os japoneses americanos e índios do sul da Ásia têm maior gordura total e gordura visceral, por isso podem apresentar maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 para o mesmo nível IMC que os brancos. Em mulheres asiáticas, uma circunferência da abdominal ≥80 cm e em homens asiáticos um valor ≥ 90 cm são considerados anormais.

O diagnóstico da obesidade abdominal é de extrema importância na estratificação de risco cardiovascular, por isso é de fundamental associar a medida da cintura abdominal ao IMC durante exame físico do médico. A técnica é simples e fácil de executar, além de ser de baixo custo, e de demostrar uma boa associação com a adiposidade visceral[8,9,10,11,12].

De acordo com o National Cholesterol Education Program (NCEP) /Adult Treatment Panel III (ATP-III), os valores de ponto de corte específicos para sexos associados ao aumento do risco cardiovascular são: ≥ 102 cm em homens e ≥ 88 cm em mulheres[13]. Pela International Diabetes Federation (IDF), a obesidade abdominal é utilizada como critério diagnóstico para síndrome metabólica de acordo com a seguinte classificação:

homens brancos de origem europeia e negros: ≥ 94 cm;
homens sul-asiáticos, ameríndios, chineses e japoneses: ≥ 90 cm;
mulheres brancas de origem europeia, negras, sul-asiáticas, ameríndias, chinesas e japonesas ≥ 80 cm.[13]

Relação cintura-quadril

A medição da relação cintura-quadril não oferece nenhuma vantagem sobre a circunferência da cintura sozinha, é frequentemente usada por clínicos, e atualmente não é recomendada como parte da avaliação rotineira da obesidade por American Heart Association (AHA)/American College of Cardiology (AC )/The Obesity Society (TOS). Atualmente, a OMS reconhece como ponto de corte para aumento de risco cardiovascular uma relação cintura-quadril > 0,8 em mulheres e > 0,9 em homens. Entretanto, estas estimativas são derivadas de populações predominantemente caucasianas, e por isso existem dúvidas sobre a aplicabilidade destes ponto de corte nestes valores em populações não caucasianas.

De fato, a circunferência da cintura e uma relação cintura quadril demonstraram em vários estudos serem melhores do que o IMC para identificar os indivíduos com maior risco de desenvolver doenças relacionadas a aterosclerose. Em qualquer nível de IMC, o risco de desenvolvimento de doença cardiovascular, tanto em homens quanto em mulheres, é diretamente proporcional ao aumento da gordura abdominal[14,15,16].

Relação cintura-estatura

Independentemente da idade e do sexo, a relação cintura-estatura é uma maneira simples de se avaliar o risco metabólico de um paciente. Um valor ≥ 0,5 é um indicador significativo de risco, podendo ser traduzido na mensagem “mantenha sua cintura em menos de metade da sua altura.”[17,18]. Alguns estudos classificam como pontos de corte:

Baixo risco: <0 div="">
Risco elevado:  ≥0,5 e <0 div="">
Risco muito elevado: ≥ 0,6.[17]

Em termos de custo e eficácia, a medição do IMC necessita de balanças para pesagem, assim como um estadiômetro para medir a altura. Já a relação cintura-estatura requer uma fita métrica e um estadiômetro. Tendo em vista que uma fita métrica é mais barata e mais portátil do que as balanças de pesagem, a relação cintura-estatura pode também apresentar um custo benefício melhor do que o IMC[17,18].

De acordo com uma extensa meta-análise publicada na Obesity Reviews compreendendo adultos de diversos grupos étnicos, a relação cintura-estatura é um parâmetro antropométrico clínico superior à circunferência abdominal e ao IMC para a detecção de fatores de risco cardiometabólicos, tanto no sexo masculino quanto no feminino[19].

Vários estudos prévios já demonstraram que a relação cintura-estatura é um parâmetro útil e confiável para avaliar a gordura abdominal, especialmente a visceral, que esta associada ao desenvolvimento de uma série de fatores de riscos cardiometabólicos[20,21,22,23,24,25,26,27,28,29].

Em uma outra recente meta-análise, que avaliou crianças e adolescentes, a relação cintura-estatura mostrou ser um bom preditor de risco cardiometabólico, sendo em alguns estudos melhor que o IMC e a medição da cintura abdominal. O autor desta meta-análise sugere, inclusive, o uso de rotina da relação cintura-estatura em vez do IMC e da cintura abdominal para a identificação mais simples e precoce das crianças e dos adolescentes com fatores de risco cardiovascular[30,31].

Devido a limitações claras do IMC, a relação cintura-estatura é considerada por muitos autores o melhor indicador clínico de risco para a saúde, pois pode ser usado na infância, na vida adulta, assim como em todo o mundo e em todos os grupos étnicos[17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,30,31]. É importante frisar que, geralmente, crianças menores de cinco anos não são contadas em estudos populacionais[17].

Como definir melhor a obesidade?

A estimativa da composição da gordura corporal vem sendo estudada em diversas populações ao redor do mundo, mas a precisão destas estatísticas ainda é prejudicada pela variedade dos diferentes métodos indiretos de avaliação da composição corporal[31]. Os limites padrões acima de 25% e 35% de gordura são utilizados classicamente como definição de obesidade em homens e mulheres, respectivamente[32].

A adiposidade visceral pode ser medida com precisão por tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), e com menor precisão por dupla absorciometria de raios-x de energia (DEXA).      Como exemplo desta mensuração, a TC define a obesidade visceral como > 130 cm2 [32,33].

Estudos de imagens realizados em grandes coortes, como o Framingham Heart Study e o Jackson Heart Study, demonstraram que o aumento da adiposidade visceral, associado ao excesso de deposição de gordura ectópica, estão significativamente ligados a um aumento significativo do desenvolvimento de anormalidades metabólicas e de doenças cardíacas, sendo esta relação independente da quantidade de tecido adiposo total ou subcutâneo presente[34,35].

A bioimpedância é mais utilizada na prática clínica e mede a água corporal, fornecendo uma medida validada da massa gorda corporal e da massa livre de gordura. O exame se baseia na altura, no peso e no sexo específico de cada paciente para, deste modo realizar a análise da composição corporal dele[36,37,38].

Além do IMC, outros índices antropométricos de avaliação da adiposidade têm sido cada vez mais associados a um maior risco cardiometabólico e precisam ser levados em consideração na prática clínica, assim como na avaliação e na estratificação de risco do paciente. Embora a pesagem hidrostática, a composição corporal por absorciometria com raios-X de dupla energia (DEXA), a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) proporcionem uma medida mais precisa da distribuição da gordura corporal, elas são geralmente reservadas como ferramentas de pesquisa devido ao custo adicional e ainda não estão disponíveis para uso em larga escala na prática clínica[39,40].

Ponto de vista

Definir a obesidade com base apenas na altura e no peso, por meio do IMC, é simplificar uma doença multifatorial e complexa, que precisa ser encarada com seriedade por todos os setores da sociedade. São necessários todos os esforços possíveis para o diagnóstico precoce e a elaboração de medidas públicas e individuais, que ajudem e tratem o paciente obeso, que sofre com tanto preconceito. É preciso agir ativamente e rapidamente para combater a “epidemia” global de obesidade com toda dedicação profissional possível, unindo forças, para realizar medidas públicas e também pessoais, avaliando, escutando, entendendo e individualizando cada paciente na sua essência.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] Ganho de peso gestacional em mulheres com obesidade e consideração da morbidade e mortalidade infantil na prática clínica

Wang et al estudaram retrospectivamente dados da vida real nos Estados Unidos em 15,8 milhões de nascimentos entre 2011 e 2015. 

Eles demonstraram aumento da morbidade e mortalidade infantil em ambos os extremos do ganho de peso gestacional (GWG), mesmo entre mulheres com obesidade.

Para cada índice de massa corporal antes da gravidez (IMC, calculado como peso em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados) categoria (baixo peso [<18,5], peso normal [18,5-24,9], sobrepeso [25,0-29,9] e classes de obesidade 1 [30,0-34,9], 2 [35,0-39,9] e 3 [≥40,0]), eles identificaram o limite inferior para GWG abaixo do qual o risco de mortalidade infantil no primeiro ano de vida começa a aumentar acima da população em geral.

Esse ponto de GWG foi considerado mais alto do que os limiares mais baixos do GWG recomendados pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS) para todas as categorias de IMC.

Notavelmente, a associação relativa de baixo GWG (ou seja, ganho de peso menor do que o recomendado) com mortalidade infantil foi muito menos óbvia entre mulheres com obesidade do que entre mulheres com peso normal.

Por exemplo, com a perda de peso gestacional, os odds ratios ajustados (aORs) foram 2,53 (IC 95%, 2,33-2,75) para mulheres com obesidade classe 1, 2,11 (IC 95%, 1,93-2,32) para mulheres com obesidade classe 2, e 1,58 (IC de 95%, 1,45-1,72) para mulheres com obesidade de classe 3, enquanto para mulheres com IMC normal, a aOR foi de 6,10 (IC de 95%, 5,48-6,78).

A mortalidade infantil é devastadora para as famílias e, felizmente, é um evento relativamente raro nos EUA, afetando 4,1, 4,7 e 5,8 por 1000 nascimentos em mulheres com obesidade classe 1, classe 2 e classe 3, respectivamente, em comparação com 2,8 por 1000 em mulheres com peso normal, sem consideração de GWG.

O aumento da mortalidade infantil com GWG mais pobre em mulheres com obesidade só pode ter se tornado detectado de forma confiável devido ao grande tamanho da amostra.

Assim, os autores concluíram que a manutenção e a perda de peso para gestantes com obesidade não devem ser recomendadas de rotina.

Essas descobertas constituem uma parte valiosa da resposta ao apelo por mais pesquisas do comitê NAS que escreveu as recomendações do GWG de 2009 para mulheres nos Estados Unidos, que tendia a abordar o aumento da obesidade limitando o GWG.

Com base em estudos observacionais de coorte populacional, o NAS recomendou uma meta de GWG estreita de 5,0 a 9,0 kg para todas as mulheres com obesidade para minimizar os riscos maternos e infantis, citando a falta de dados para sustentar recomendações mais granulares pela classe de obesidade.

No entanto, muitas mulheres com obesidade não conseguem atingir essa meta, com uma grande proporção exibindo GWG excessivo e uma proporção menor, porém apreciável, apresentando GWG inadequado.

A controvérsia persistiu sobre se o GWG deveria ser ainda mais restritivo com o aumento da gravidade da obesidade.

O LifeCycle Project meta-analisou 25 estudos de coorte ocidentais (N = 196670) e descobriu que perda de peso, nenhum ganho de peso ou GWG de até 4,0 kg e 6,0 kg para mulheres com obesidade classes 2 e 3, respectivamente, estavam associados ao  riscos mínimos, mas os autores reconheceram seu desempenho discriminativo de baixo a moderado.

Embora Wang e cols. usassem uma abordagem analítica semelhante ao LifeCycle Project, a discrepância nas conclusões do estudo deriva do foco em diferentes desfechos clínicos.

Ao contrário da mortalidade infantil, o LifeCycle usou nascimento prematuro e tamanho pequeno ou grande para a idade gestacional ao nascer, junto com complicações maternas de hipertensão gestacional, diabetes gestacional e parto cesáreo, para derivar as metas do GWG.

Enquanto isso, uma opinião amplamente difundida é que, entre as mulheres com obesidade com GWG inadequado, onde o crescimento fetal é apropriado, há poucas evidências para encorajar um maior ganho de peso em conformidade com as diretrizes do NAS.

Wang e cols. também consideraram os desfechos de morbidade infantil, incluindo infecção neonatal, dificuldade respiratória, convulsões e internações em unidades de terapia intensiva neonatal, mas seus achados pareciam ter implicações apenas para mulheres sem obesidade (IMC<30), onde um pequeno aumento de 1 kg  no limite inferior do GWG recomendado pelo NAS deve ser considerado.

Enquanto isso, os limiares superiores para GWG que foram associados a riscos aumentados para o bebê foram maiores do que as recomendações NAS; portanto, os limiares superiores são mais bem ditados pelos riscos de complicações maternas e adversidades de saúde maternas e / ou dos filhos em longo prazo.

Os mecanismos subjacentes ao aumento da morbidade e mortalidade infantil com GWG inadequado permanecem obscuros e não são abordados no estudo de Wang e cols. em qualquer profundidade.

Pode ser mediada por prematuridade, restrição de crescimento intrauterino ou equilíbrio energético interrompido, ou pode ser devido a fatores de confusão, como condições médicas maternas crônicas ou ingestão de medicamentos, ou a causa reversa caracterizada por adaptação materna prejudicada à gravidez como consequência de subótima  responsividade materna e comunicação de baixa qualidade de uma unidade fetal-placentária com defeito levando a GWG inadequado.  

Nenhuma análise de mediação foi realizada, e os defeitos do tubo neural foram a única condição fetal patológica explicitamente excluída em uma análise de sensibilidade para mostrar que não desempenhou um papel nos achados.

Para aplicabilidade clínica, devemos recorrer a ensaios clínicos randomizados em busca de pistas para saber se as mudanças no GWG que são realisticamente induzidas por meio de modificações no estilo de vida podem fazer diferença nos resultados infantis.

Os ensaios não têm consistentemente confirmado que (1) dietas mais saudáveis ​​e níveis apropriados de atividade física podem otimizar o GWG e (2) que alterações no GWG podem melhorar os resultados infantis.

Os estudos se concentraram no GWG excessivo ou nas diferenças médias no GWG, em vez de no GWG inadequado.

Na melhor das hipóteses, a magnitude da diferença do GWG entre os grupos de estudo experimental foi modesta (0,5-1 kg) e, às vezes, discordante com os resultados esperados para bebês em curto prazo, embora os efeitos de longo prazo sobre os filhos ainda estejam para surgir.

O ensaio clínico randomizado por cluster GeliS (N = 2.286) na Alemanha descobriu que uma intervenção no estilo de vida para mulheres com IMC pré-gestacional de 18,5 a 40 não alterou a ocorrência de GWG excessivo (aOR, 0,95 [IC 95%, 0,66-1,38]) ou complicações neonatais (aOR, 1,18 [IC 95%, 0,86-1,61]).

Entre os participantes com obesidade, a intervenção tendeu a aumentar o GWG em comparação com o grupo de controle (diferença média, 1,00 kg [IC 95%, -0,90 a 2,90  kg]).

O estudo UPBEAT do Reino Unido (N = 1555) relatou que as intervenções comportamentais para mulheres com obesidade não alteraram o risco de diabetes gestacional ou neonatos serem grandes para a idade gestacional, mas reduziram marginalmente o GWG (diferença média, −0,55 kg [IC 95%, -1,08 a -0,02 kg]) e aumentar a hipoglicemia neonatal (risco relativo, 2,22 [IC 95%, 1,13-4,36]), sem diferença em outros resultados neonatais.

O estudo SMART-GDM de Singapura (N = 340) testado em um programa de treinamento de estilo de vida baseado em aplicativo de smartphone na limitação de GWG em mulheres já diagnosticadas com diabetes gestacional.

Apesar das tendências de uma proporção maior de mulheres apresentando GWG excessivo (em 6,3% [IC 95%, -1,9% a 14,5%]) e superior GWG médio (0,58 kg [IC de 95%, -0,32 a 1,49 kg]) com a intervenção, os participantes tiveram níveis de glicose no sangue mais baixos (diferença média de -2,7 mg / dL [IC de 95%, -4,7 a -0,5 mg / dL] [para converter para milimoles por litro, multiplique por 0,0555]) e significativamente menos complicações neonatais (composto de trauma de nascimento, hipoglicemia, hiperbilirrubinemia, dificuldade respiratória, admissão na unidade neonatal e morte perinatal;  intervenção, 38,1% vs controle, 53,7%;  P = 0,006), atribuível a uma dieta mais saudável e níveis mais baixos de glicose, em vez de em virtude das diferenças de GWG.

Para desfechos raros, como mortalidade infantil, ensaios clínicos excepcionalmente grandes serão necessários para ter poder estatístico suficiente para mostrar se as mudanças no GWG induzidas pelo estilo de vida podem fazer diferença.

Na sequência do trabalho de Wang et al, aumentar o limiar inferior do GWG de 5 kg para 8 kg para mulheres com obesidade de classe 1 e para 6 kg para mulheres com obesidade de classe 2 ou classe 3 excederia até mesmo os limiares superiores de GWG sugeridos por  the LifeCycle Project.

Sem fortes evidências de que o baixo GWG é em si uma causa do aumento da morbidade e mortalidade infantil, mudar o limite inferior do GWG e reduzir ainda mais as metas para mulheres com obesidade ainda não deve ser recomendado e, mesmo se adotado, pode não mudar materialmente a prática clínica.

Os achados do estudo, no entanto, deixariam os médicos mais cientes dos possíveis danos do aumento da morbidade e mortalidade infantil associada ao GWG inadequado, que pode ocorrer independentemente do parto prematuro e da restrição de crescimento intra-uterino.

Para uma gravidez geral mais saudável e melhores resultados na prole, as mulheres com obesidade devem continuar a ser aconselhadas a perder peso antes da concepção e a evitar GWG excessivo.

Se elas demonstrarem perda de peso ou nenhum ganho de peso durante a gravidez, isso deve levar a uma revisão de sua condição médica geral e sua dieta e atividade física para garantir que estão ótimos, além de monitorar o crescimento fetal, a saúde fetal durante o trabalho de parto e o recém-nascido após o parto, conforme praticado atualmente.

“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

quarta-feira, 27 de julho de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Taxa de obesidade infantil agora excede 1 em cada 5 crianças, adolescentes

Tendências preocupantes desde 2011 em relação à idade, raça e etnia

A obesidade infantil e adolescente aumentou significativamente na última década, de acordo com dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES).

De 2011-2012 a 2017-2020, a obesidade juvenil aumentou de 17,7% para 21,5% - subindo em meninos de 18,1% para 21,4% (P=0,004), e em meninas de 17,2% para 21,6% (P=0,002), mostrou uma carta de pesquisa no JAMA Pediatrics.

Houve aumentos significativos na obesidade entre crianças de 2 a 5 anos de idade e adolescentes de 12 a 19 anos em particular, bem como em crianças identificadas como mexicanas, negras e brancas, relatou Amanda Staiano, PhD, da Pennington Biomedical Research  Center em Baton Rouge, Louisiana, e um colega.

"Por causa do aumento significativo da obesidade, há uma necessidade urgente de identificação de antecedentes e correlatos de adiposidade e risco cardiometabólico para prevenção precoce da obesidade", disseram os autores.

 A obesidade infantil tem uma associação estabelecida com comorbidades cardiometabólicas mais tarde na vida.

“A obesidade é uma doença crônica que envolverá vários check-ins e monitoramento do progresso ao longo da infância, adolescência e vida adulta”, disse Staiano ao MedPage Today.

"Os pacientes elegíveis devem ser considerados para medicamentos para perda de peso e encaminhados para programas abrangentes de cirurgia metabólica e bariátrica", continuou ela. "Os prestadores de cuidados de saúde pediátricos também devem ser defensores de ambientes saudáveis ​​- todos nós devemos contribuir para a criação de ambientes de alimentação e atividades mais saudáveis ​​para que nossos filhos prosperem".

Além da triagem de rotina para obesidade pediátrica, os médicos também devem aprimorar as entrevistas motivacionais "para que se sintam à vontade para falar sobre obesidade com os pais/cuidadores e o paciente e ajudar a família a identificar opções para o tratamento da obesidade", acrescentou ela em um e-mail.  

A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA atualmente tem uma recomendação B para triagem e intervenção comportamental para pacientes com obesidade pediátrica.  Diz-se que as intervenções mais eficazes compreendem pelo menos 26 horas de contato de tratamento multicomponente ao longo de vários meses a 1 ano.

Este estudo transversal utilizou dados do NHANES de 2011 a 2020.

Altura e peso foram coletados de 14.967 crianças e adolescentes de 2 a 19 anos (média de idade 9,81 anos, 50,9% meninos).

A obesidade foi definida como IMC igual ou acima do percentil 95 para cada idade com base no gráfico de crescimento do CDC.

Os autores do estudo notaram uma diminuição nas taxas de resposta do NHANES nos últimos anos, limitando o tamanho da amostra. Além disso, os testes em 2020 foram interrompidos precocemente devido à pandemia. Além disso, o tamanho da amostra e o número de casos de obesidade foram pequenos quando os dados foram estratificados por idade, raça e etnia.

Apesar dessas limitações, Staiano manteve a importância da ciência da implementação para obter programas de tratamento de estilo de vida e comportamento baseados em evidências na comunidade.

 "Provedores de saúde, seguradoras e famílias precisam trabalhar juntos para garantir o acesso às opções de tratamento. Mais pesquisas são necessárias sobre como adaptar esses programas para torná-los mais acessíveis e sustentáveis ​​para as famílias e como integrar medicamentos e, quando apropriado, cirurgia no tratamento de jovens com obesidade", ela pediu.

"'Esperar vigilante' não funciona - as crianças precisam de apoio agora para virar a maré em direção a corpos mais saudáveis", disse ela.

“Compartilhar é se importar”
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho 
twitter: @albertodiasf

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Uma nova era ": Como a semaglutida pode mudar o cenário do tratamento da obesidade

A prevalência de sobrepeso e obesidade continua a aumentar nos Estados Unidos e em todo o mundo a uma taxa alarmante.  Em 2025, os dados do NCD Risk Factor Collaboration sugerem que 18% dos homens e 21% das mulheres em todo o mundo terão obesidade.

Os tratamentos aprovados para a obesidade - particularmente a farmacoterapia - continuam subutilizados, de acordo com especialistas. As razões subjacentes à baixa aceitação de terapia médica para obesidade são complexas, variando de questões práticas de cobertura de seguro e custo a preocupações sobre segurança e eficácia, bem como estigma relacionado à doença continuado, mesmo entre os provedores.

Muitos de meus colegas não apreciam a regulação neuroendócrina em torno do peso ”, disse ao Endocrine Today Domenica M. Rubino, MD, diretor do Washington Center for Weight Management and Research em Arlington, Virginia.  “A obesidade, ainda, tem muito estigma. Aceitamos tratamento crônico para diabetes ou hipertensão. Com a obesidade, ninguém quer aceitar a medicação como um tratamento crônico. As pessoas querem acreditar que você prescreve um medicamento, a obesidade está "curada" e então você desiste do medicamento. Tratar a obesidade não é como tratar uma infecção ”.

Um novo agente está mudando essa conversa. Em junho, o FDA aprovou semaglutida 2,4 mg injetável uma vez por semana (Wegovy, Novo Nordisk) para controle crônico de peso em adultos com obesidade ou com sobrepeso e pelo menos uma condição relacionada ao peso.

O medicamento, uma versão em dose mais alta de semaglutida 1 mg injetável (Ozempic) para adultos com diabetes tipo 2, é o primeiro agente aprovado para controle crônico de peso em adultos com obesidade geral ou sobrepeso desde 2014.

Os dados do programa de ensaio clínico Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity (STEP), publicado no final de 2020 e início de 2021, foram saudados como uma mudança no jogo para o controle da obesidade. Aproximadamente 33% dos participantes que receberam 2,4 mg de semaglutida nos estudos perderam mais de 20% do peso corporal ao longo de 68 semanas - perda de peso que rivaliza com o que é tipicamente visto na cirurgia bariátrica.

“O que é mais empolgante sobre os dados da semaglutida é que este é o início de uma era potencialmente nova em como pensamos sobre o que a farmacoterapia pode fazer - e pode fazer com segurança - com a obtenção de uma perda de peso de maior volume”, Jamy D. Ard, MD  , professor de epidemiologia e prevenção e co-diretor do Centro de Controle de Peso da Wake Forest School of Medicine, disse ao Endocrine Today. “Sabemos que existem outros medicamentos em desenvolvimento com mecanismos de ação ou alvos moleculares semelhantes. Quando começarmos a falar sobre as opções para onde o tratamento pode evoluir, elas serão significativamente diferentes.

Isso abrirá possibilidades de que mais pessoas possam ter uma resposta ao tratamento bem-sucedida. ”

Os dados também mostram que os médicos têm uma nova oportunidade de controlar a obesidade e suas complicações médicas, incluindo diabetes tipo 2, de acordo com Ken Fujioka, MD, ex-diretor do Centro de Controle de Peso e diretor do Centro de Pesquisa Nutrição e Metabólica da Scripps Clinic San  Diego.

Com este medicamento, você tem o potencial não apenas de impedir que alguém desenvolva diabetes tipo 2, mas também de reduzir o risco de pré-diabetes ”, disse Fujioka ao Endocrine Today.  Quando alguém tem pré-diabetes, é aí que começam os problemas cardiovasculares. Você corre um risco maior de derrames e ataques cardíacos. Com este medicamento, você está levando alguns pacientes pré-diabéticos à normoglicemia. Você tira esse risco CV. Esse é um grande passo em frente na área de saúde”.

• Um 'impacto sofisticado'

 A semaglutida, um mimético da incretina que imita as funções dos hormônios incretínicos naturais no corpo, atua de quatro maneiras diferentes, de acordo com Fatima Cody Stanford, MD, MPH, MPA, MBA, FAAP, FACP, FAHA, FAMWA, FTOS, um médica para obesidade e cientista do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School.

A droga retarda o esvaziamento gástrico, melhorando a saciedade, de modo que a pessoa se sente saciada por mais tempo.

Também funciona como neurotransmissor, inibindo a via do neuropeptídeo Y, um dos peptídeos orexigênicos mais potentes encontrados no cérebro, enquanto estimula a via anorexigênica pró-opiomelanocortina (POMC).

Ao mesmo tempo, a semaglutida aumenta a secreção de insulina e diminui a secreção de glucagon, melhorando a resposta à glicose.

A semaglutida tem uma estrutura diferente de outro agonista do receptor de GLP-1, liraglutida 3 mg (Saxenda, Novo Nordisk), uma injeção uma vez ao dia aprovada pela FDA para controle de peso em 2014. 

Como agente semanal, a semaglutida prolonga a meia-vida em comparação com um  droga diária.

Todos os agonistas do receptor de GLP-1 funcionam de forma semelhante, embora novas evidências apontem para agonistas do receptor de GLP-1 visando diferentes áreas do cérebro, o que pode afetar a eficácia dos agentes individuais, bem como a sensibilidade de uma pessoa a um determinado agonista, disse Rubino.

“Estamos aprendendo que existem GLP-1s endógenos que são produzidos no cérebro se comunicando, neurônio a neurônio, em regiões que não apenas governam a fome, mas também as vias hedônicas e de recompensa”, disse Rubino. “Além disso, podem afetar o funcionamento executivo. Você está vendo um impacto sofisticado em várias vias. É por isso que há desenvolvimento de vários medicamentos que afetam essas vias;  portanto, os agonistas duplos e tri-agonistas que agora estão em desenvolvimento.”

• Avaliando os STEPs

Para os quatro estudos STEP de fase 3, os pesquisadores avaliaram semaglutida 2,4 mg em mais de 4.300 adultos com obesidade ou com sobrepeso com uma condição de comorbidade relacionada ao peso.  

Cada estudo teve os mesmos desfechos coprimários de alteração percentual no peso corporal e redução de peso de pelo menos 5% desde o início até 68 semanas em comparação com o placebo.

Os pesquisadores usaram a estimativa primária para avaliar os efeitos independentemente da descontinuação do tratamento ou das intervenções de resgate.

O programa de desenvolvimento clínico é um dos maiores programas de ensaio para o controle da obesidade.

“Tendo trabalhado nesse negócio por alguns anos, estou impressionado que eles pudessem montar tantos estudos diferentes, em todo o mundo, terminando em um cronograma apertado”, Steven B. Heymsfield, MD, FTOS, professor do departamento de  metabolismo e composição corporal no Pennington Biomedical Research Center, Louisiana State University, que anteriormente trabalhou no desenvolvimento de medicamentos na Merck, disse ao Endocrine Today.  

“Isso é não é trivial. Todos nós nessa indústria estamos impressionados com a forma como eles conseguiram isso. ”

O principal estudo STEP 1, publicado no The New England Journal of Medicine em fevereiro, incluiu 1.961 adultos sem diabetes que tinham obesidade ou excesso de peso com uma condição comórbida relacionada ao peso. Os pesquisadores designaram aleatoriamente os participantes semaglutida 2,4 mg ou placebo; ambos os grupos receberam intervenção no estilo de vida.

Os pesquisadores descobriram que a mudança média no peso corporal desde o início até a semana 68 foi de –14,9% para o grupo de semaglutida e –2,4% para o grupo de placebo, para uma diferença de tratamento estimada de –12,4 pontos percentuais (IC de 95%, –13,4 a –11,5)

Os participantes que receberam semaglutida perderam uma média de –15,3 kg vs. –2,6 kg no grupo de placebo, para uma diferença de tratamento estimada de –12,7 kg (IC de 95%, –13,7 a –11,7).

O STEP 2, publicado em março no The Lancet, incluiu 1.210 adultos com diagnóstico de diabetes tipo 2 com sobrepeso ou obesidade.

Às 68 semanas, a alteração estimada no peso corporal médio desde a linha de base foi de 9,6% com 2,4 mg de semaglutida vs. 3,4% com placebo, para uma diferença de tratamento estimada de 6,2 pontos percentuais (IC de 95%, 7,3 a 5,2).

Na semana 68, mais pacientes em semaglutida 2,4 mg alcançaram reduções de peso de pelo menos 5% vs. placebo (68,8% vs. 28,5%), para um OR de 4,88 (IC 95%, 3,58-6,64).

“Com esses hormônios gastrointestinais e seu impacto neuroendócrino quando direcionamos essas vias, podemos obter uma perda de peso significativa para a maioria das pessoas, melhorar suas comorbidades e ajudar as pessoas a começar a fazer melhorias em suas vidas”, disse Rubino. “Estamos iniciando um caminho que agora tem um futuro de terapias médicas cada vez melhores, para que possamos oferecer tratamentos de obesidade a mais pessoas. Não estamos substituindo a cirurgia bariátrica, mas muito mais pessoas podem ser tratadas. A semaglutida é outra ferramenta, e precisamos de muitas ferramentas, porque o cérebro de cada pessoa é um pouco diferente.”

O STEP 3, publicado no JAMA em fevereiro, avaliou o efeito da semaglutida 2,4 mg no peso corporal em 611 adultos com obesidade, mas sem diabetes, quando adicionado à terapia comportamental intensiva que consistia em 30 consultas de aconselhamento com uma dieta inicial de baixa caloria por 8 semanas.

Às 68 semanas, a semaglutida associada à terapia comportamental intensiva e uma dieta de baixa caloria resultou em reduções no peso corporal de 16% vs. 5,7% para o placebo (P <0,001).

 “Isso mostra que isso [intervenção] pode ser feito na atenção primária, porque a terapia comportamental intensiva não foi fundamental para alcançar a perda de peso”, disse Rubino. “Qualquer profissional de saúde que prescreve pode prescrever o medicamento e ajudar as pessoas.  Você não precisa ir a um centro especializado. Esses centros podem cuidar das pessoas mais complexas. ”

O STEP 4, publicado no JAMA em março, avaliou a perda ou manutenção de peso contínua entre 535 adultos com obesidade que continuaram a terapia com semaglutida além de 20 semanas vs. 268 participantes que foram trocados para o placebo em 20 semanas.

Após a randomização, a mudança de peso média estimada da semana 20 à semana 68 foi de –7,9% com semaglutida continuada vs. um aumento médio de 6,9% entre os participantes que mudaram para o placebo, para uma diferença de –14,8 pontos percentuais (IC de 95%, –16  a –13,5).

“Algumas coisas são importantes a serem observadas nesses estudos - uma é que a grande maioria das pessoas está experimentando o que chamamos de resposta ao tratamento clinicamente significativa, ou perda de peso de pelo menos 5%”, disse Ard.  

“Sabemos que isso leva a melhorias nos fatores de risco para complicações da obesidade e na qualidade de vida. Mas o mais empolgante com relação a essa droga é que a magnitude da resposta é maior. Isso significa que pode-se começar a descartar a noção de que é necessária uma intervenção intensa, suporte e experiência para obter essa resposta ao tratamento. Talvez não precisemos de todas essas coisas para que as pessoas tenham sucesso.  A farmacoterapia muda a biologia e quando você faz isso, as pessoas podem mudar para um estilo de vida que seja sustentável e pareça fácil de fazer.”

Posso pegar para meus pacientes?

Em um estudo publicado na Obesity em fevereiro de 2020, os pesquisadores usaram a Health Economics Medical Innovation Simulation, um modelo de simulação bem estabelecido, para quantificar o valor social de medicamentos anti-obesidade para adultos americanos em 2019. 

Quatro cenários com absorção diferencial entre os elegíveis  população (15% e 30%) foram modelados, com eficácia dos medicamentos atuais e de próxima geração. O valor social foi medido como qualidade de vida monetizada, ganhos de produtividade e economia em gastos médicos, subtraindo os custos dos medicamentos.

Para os 217 milhões de residentes dos Estados Unidos com pelo menos 25 anos, os medicamentos anti-obesidade geraram US $ 1,2 trilhão em valor social ao longo da vida em um cenário conservador de ingestão anual de 15% usando os tratamentos disponíveis atualmente. A introdução de tratamentos de próxima geração aumentou o valor social de US $ 1,9 trilhão para US $ 2,5 trilhões, dependendo da aceitação. O valor social foi maior para indivíduos mais jovens e para adultos negros e hispânicos em comparação com adultos brancos.

As políticas que promovem o acesso clínico mais amplo e o uso de medicamentos anti-obesidade devem ser levados em consideração para atingir as metas nacionais de redução da obesidade ”, escreveram os pesquisadores.

No entanto, a aprovação da semaglutida 2,4 mg apresenta dois obstáculos possíveis para atingir os adultos elegíveis, de acordo com especialistas - acesso e acessibilidade.

“Pessoas com obesidade podem colher muitos benefícios de um agente como a semaglutida”, disse Stanford ao Endocrine Today.  “Minha única preocupação é: posso conseguir para meus pacientes?  Às vezes, um novo medicamento é como um enfeite brilhante em uma prateleira, e isso pode ser ainda mais frustrante. Espero que as seguradoras tomem uma atitude ”.

 “O grande elefante na sala é o custo”, disse Fujioka. “Se a semaglutida não for coberta pelo seguro, não vejo pacientes usando isso. Você precisa de companhias de seguros para comprar e pagar por isso.  Infelizmente, [cobertura] varia de estado para estado e de empregador para empregador. ”

É provável que muitos pacientes também já tenham recebido a prescrição de vários agentes para outras doenças, disse Rubino, aumentando a carga da polifarmácia.

“É importante lembrar que a maioria das pessoas com obesidade geralmente tem de duas a três comorbidades, se não mais”, disse Rubino. “Muitas dessas comorbidades também requerem medicamentos. O objetivo do tratamento da obesidade é melhorar essas condições, mas enquanto você está no processo, eles estão gastando dinheiro em outros medicamentos. Existem barreiras econômicas, práticas e logísticas que precisam ser superadas. ”

Aprendendo com os que não responderam

A perda de peso alcançada com qualquer intervenção de controle de peso pode variar amplamente entre os indivíduos, disse Fujioka. No programa STEP geral, quase 10% dos participantes sem diabetes e mais de 30% dos participantes com diabetes tipo 2 experimentaram menos de 5% de perda de peso, apesar do uso de um potente agonista do receptor de GLP-1 mais intervenção no estilo de vida.

“A fisiopatologia da obesidade para todos é praticamente a mesma, mas as razões pelas quais alguém vai ganhar peso estão por toda parte”, disse Fujioka. “Alguém pode ter problemas para comer à noite ou ter problemas para dormir. Outro pode ter transtorno da compulsão alimentar periódica. Cerca de dois terços experimentam o aumento clássico da fome e não se sentem saciados ao comer. Esses pacientes se sairão muito bem com esta droga. Com a semaglutida, entre 75% e 85% respondem. Haverá de 15% a 20% de pessoas que simplesmente não respondem, porque estão ganhando peso por outros motivos. ”

Para essas pessoas, as intervenções individualizadas juntamente com a farmacoterapia certa são fundamentais, embora muitas vezes envolvam tentativa e erro, disse Stanford.

“Digo aos pacientes que, ao contrário das terapias contra o câncer, em que um médico dá uma meta, não temos esse nível de precisão”, disse Stanford. “Assim como o diabetes ou a hipertensão, há suposições envolvidas. Haverá respondentes acima da média e haverá não respondentes. Trata-se de encontrar a droga certa para você, e temos que descobrir o que é essa droga. ”

Stanford disse que provavelmente existem diferentes fenótipos e genótipos de obesidade sobre os quais os pesquisadores estão apenas começando a aprender mais, o que um dia poderá ajudar a determinar a resposta a uma terapia.

 “Para aqueles que não responderam ou tiveram uma resposta abaixo da média, o que sabemos sobre eles?”  Ard disse. “Temos que continuar a olhar para isso em populações de pacientes mais desafiadoras, como aqueles com problemas de saúde mental, que não foram incluídos nesses estudos, bem como diferenças raciais e étnicas na resposta ao tratamento. Há mais coisas que precisamos aprender. Dito isso, este é o início de uma nova era no que esperaremos como parte de nosso arsenal de tratamento da obesidade. ”


“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

quarta-feira, 27 de julho de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Tendências na prevalência de obesidade entre crianças e adolescentes de 2 a 19 anos nos EUA de 2011 a 2020

A obesidade entre os jovens é um grande problema de saúde pública nos EUA. A obesidade infantil está associada a comorbidades cardiometabólicas ao longo da vida.  Este estudo teve como objetivo examinar as mudanças na prevalência de obesidade entre os jovens dos EUA usando os dados representativos nacionalmente divulgados mais recentemente de 2011 a 2020.

Métodos

Este estudo transversal utilizou dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), uma pesquisa transversal que representa a população dos EUA, para 2011 a 2012, 2013 a 2014, 2015 a 2016 e 2017 a 2020. De 2017 a 2020.

O conjunto de dados de 2020 consistiu em dados de 2017 até a pandemia de COVID-19 em março de 2020 que encerrou a coleta de dados para o período de 2019 a 2020.

Combinando os resultados das operações de 2019 a março de 2020 e de 2017 a 2018, os dados mantiveram uma estimativa representativa nacionalmente.

A taxa de resposta foi de 69,5% em 2011 a 2012 e caiu para 46,9% em 2017 a 2020. O peso e a altura foram medidos usando técnicas e equipamentos padronizados. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado como peso em quilogramas dividido pela altura em metros ao quadrado. O Conselho de Revisão Institucional do Pennington Biomedical Research Center considerou este estudo como pesquisa com participantes não humanos. O estudo seguiu a diretriz de relatórios STROBE.

Os dados foram categorizados por faixa etária: 2 a 5 anos, 6 a 11 anos, 12 a 19 anos e 2 a 19 anos.  

Obesidade para crianças e adolescentes foi definida como IMC para idade igual ou superior ao percentil 95 com base no gráfico de crescimento do Centers for Disease Control and Prevention.

Os pais relataram raça, etnia e sexo da criança.

Estimamos a prevalência de obesidade e ICs de 95% usando pesos de exame NHANES para levar em conta o desenho amostral complexo e ajustado para raça e etnia em toda a análise da amostra.  

Tendências lineares em todos os anos foram testadas usando uma regressão linear ou logística.

A significância estatística foi P < .05.  

As análises estatísticas foram realizadas utilizando IBM SPSS Statistics for Windows, versão 25.0 (IBM Corp) e SAS, versão 9.4 (SAS Institute Inc).

Resultados

O estudo incluiu 14.967 crianças e adolescentes (média [DP] idade, 9,81 [5,07] anos; 7.613 [50,9%] meninos e 7.354 [49,1%] meninas).  

Entre os jovens de 2 a 19 anos, a prevalência de obesidade aumentou de 17,7% (IC 95%, 16,4%-19,0%) em 2011 a 2012 para 21,5% (IC 95%, 20,3%-22,6%) em 2017 a 2020 (Tabela e Figura).

No geral, a obesidade aumentou de 18,1% para 21,4% para meninos (P para tendência = .004) e 17,2% para 21,6% para meninas (P para tendência = .002) entre os períodos de 2011 a 2012 e 2017 a 2020 (Figura).

Conforme mostrado na Tabela, a prevalência de obesidade também aumentou significativamente em crianças de 2 a 5 anos e adolescentes de 12 a 19 anos, mas não em crianças de 6 a 11 anos.

Entre todos os participantes, houve tendências crescentes de obesidade de 2011 a 2012 para os períodos de 2017 a 2020 para mexicano-americanos (21,8% a 27,0%; P para tendência = .006), negros não hispânicos (19,5% a 23,8%;  P para tendência = .01) e não hispânicos brancos (15,0% a 18,4%; P para tendência = .03) indivíduos.

No entanto, não existiam tendências significativas para a obesidade para grupos de 2 a 5, 6 a 11 ou 12 a 19 anos para cada raça e etnia.

Discussão

Entre 2011 a 2012 e 2017 a 2020, a obesidade aumentou para crianças de 2 a 5 anos, adolescentes de 12 a 19 anos e crianças de 2 a 19 anos de todas as raças e etnias.

Uma limitação do estudo é a diminuição das taxas de resposta para NHANES.

Além disso, houve um pequeno tamanho amostral e baixos casos de obesidade quando estratificamos os dados entre diferentes idades, raças e etnias.

Devido ao aumento significativo da obesidade, há uma necessidade urgente de identificação de antecedentes e correlatos de adiposidade e risco cardiometabólico para prevenção precoce da obesidade.

“Compartilhar é se importar”
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho 
twitter: @albertodiasf

domingo, 6 de março de 2022

Obesidade e a gordofobia: percepções em 2022

Elaborada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a iniciativa é parte da campanha pelo Dia Mundial da Obesidade, de 4 a 10 de março de 2022. Mais de 3.5600 pessoas de todo o país responderam ao questionário divulgado pelos sites e mídias sociais das duas instituições.

“Conhecimento, cuidado e respeito”: este é o mote da campanha do Dia Mundial da Obesidade, dia 4 de março, para o ano de 2022. O foco é a ampliação do conhecimento sobre a obesidade, o caminho para a redução do preconceito e a melhoria no cuidado às pessoas.

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) têm agido há mais de 30 anos no combate à obesidade. E combater a obesidade não é combater a pessoa com obesidade. E sim tratar a doença
e respeitar quem convive com ela, acolhendo, ouvindo, estudando, andando junto. Foi o que nos levou a ABESO e SBEM a lançarem a  pesquisa “Obesidade e a Gordofobia 2022 - Percepções”. 

O levantamento feito por meio digital chega ao cerne da questão: o cuidado dispensado a pessoas acima do peso precisa ser revisto. Os sistemas de saúde, tanto público quanto privado, precisam se atentar para o impacto que o acolhimento dessas pessoas pode ter no resultado do tratamento. 

Abriram com a pesquisa, um espaço para escuta e para entenderem como podemos agir em busca de uma mudança que possa refletir em resultados concretos. Esperavam sim, um número maior de participação deste público, mas não na proporção que se apresentou na pesquisa. 

A excelente pesquisa da ABESO/SBEM deixou claro que nós profissionais da área da saúde, precisamos agir contra a gordofobia para tratar a obesidade sem estigmas. 

E, para isso, precisa-se investir em conhecimento (é inadmissível vermos profissionais da área da saúde falarem que obesidade é falta de atividade física e de "fechar a boca"), cuidado e respeito (acolhimento principalmente por parte de médicos). Algo que não se vê na prática. Falo isso, como médico que atua diretamente com obesidade em um ambulatório municipal de Nutrologia. Médico que convive diariamente com endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas. É assustador ver alguns posicionamentos de colegas, tamanha gordofobia e falta de compaixão pelo sofrimento alheio. 

Abaixo as projeções do Atlas de Obesidade 2022 da World Obesity, ou seja, os números são alarmantes e a pergunta que fica: 
  1. Toda esse população ficará a mercê de gordofobia praticada por profissionais da área da saúde.
  2. Parte dessa população ficará sem tratamento adequado devido um péssimo acolhimento por profissionais da saúde ?
Fonte: www.worldobesity.org 


Para acessar as conclusões da pesquisa clique aqui: https://campanhaobesidade.abeso.org.br/ebook_gordofobia.pdf

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Tratamento medicamentoso para obesidade ainda é um privilégio

Tempos atrás fiz um texto falando sobre o tratamento de emagrecimento ideal. Obviamente recebi uma enxurrada de mensagens de leitores que falavam da baixa acessibilidade ao tratamento para boa parte da população. 

Infelizmente, existem diversos fatores que podem atrapalhar o acesso à medicação para emagrecimento em pacientes portadores de obesidade, incluindo:
  • Regulamentações governamentais: muitos países têm regulamentações rigorosas sobre o uso de medicamentos para emagrecimento, especialmente aqueles que têm sido associados a efeitos colaterais graves. Isso pode dificultar o acesso a esses medicamentos para pacientes que poderiam se beneficiar deles. Por outro lado, essa proibição visa proteger a saúde da população. Para algumas drogas como a sibutramina, alguns agências reguladoras entendem que os riscos não se sobressaem aos benefícios. A mesma coisa os noradrenérgicos (anfetaminas). Agrega-se a isso uma farmacofobia por parte de alguns profissionais que estão à frente dessas agências e ministérios. Algo complexo mas que tende a melhorar com as novas classes de medicamentos, como os análogos de glp1.
  • Custos alto: alguns medicamentos para emagrecimento podem ser bastante caros (podendo ultrapassar no Brasil os 2 mil reais mensais), e muitos pacientes portadores de obesidade podem não ter acesso a eles devido ao valor das medicações. Isso pode ser particularmente problemático para pacientes que não têm seguro de saúde ou que têm cobertura limitada. Na minha opinião é o principal fator limitador. Existe a ciência, existe aquilo que teoricamente seria o ideal baseado nas pesquisas, mas existe o mundo real. Em um país que o salário mínimo é R$ 1320,00, pagar R$960 em uma caixa de remédio é para uma parcela ínfima da população. 
  • Barreiras de acesso ao sistema de saúde: muitos pacientes obesos podem ter dificuldade em acessar o sistema único de saúde devido a barreiras como falta de transporte, falta de tempo ou incapacidade de pagar um plano de saúde. 
  • Estigma e discriminação: pacientes portadores de obesidade frequentemente enfrentam estigma e discriminação na sociedade e principalmente na área da saúde, o que pode dificultar o acesso a tratamentos e medicamentos apropriados para a obesidade. Tem um trabalho de 2017, publicado no Journal of the American Board of Family Medicine evidenciando que os pacientes portadores de obesidade levaram em média cerca de 6 anos para buscar tratamento para sua obesidade. Outro estudo de 2019 publicado no periódico Obesity descobriu que pacientes obesos levaram em média cerca de 4 anos para buscar tratamento para sua obesidade. Esses trabalhos mostram a importância de identificar e tratar a obesidade o mais precoce possível. Isso pode melhorar significativamente a saúde e a qualidade de vida desses pacientes. A obesidade é uma condição crônica e progressiva, e quanto mais tempo um paciente passa sem tratamento, maiores são os riscos de complicações de saúde associadas à obesidade. É importante que profissionais de saúde, familiares e amigos incentivem e apoiem as pessoas com obesidade a buscar tratamento o mais cedo possível, e que os sistemas de saúde estejam preparados para oferecer tratamentos eficazes e acessíveis para essa condição.
  • Contraindicações médicas: algumas medicações para emagrecimento são contraindicadas em certas condições médicas, o que pode restringir o uso dessas medicações em pacientes obesos com condições médicas pré-existentes. Principalmente medicações que tem que podem levar a efeitos colaterais como: piora da ansiedade, insônia, aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Infelizmente no tratamento da obesidade, as vezes "vestimos um santo e desvestimos outro". 
  • Falta de consciência sobre opções de tratamento: muitos pacientes obesos podem não estar cientes das opções de tratamento disponíveis para a obesidade, incluindo medicações para emagrecimento, cirurgia bariátrica, psicoterapia. Puro desconhecimento. 
  • Falta de prescrição médica: alguns médicos podem não estar familiarizados com as opções de medicação para emagrecimento ou podem ter reservas sobre prescrevê-las devido a preocupações com efeitos colaterais ou contraindicações médicas. Associa-se a isso a farmacofobia dos médicos e dos pacientes. Emagrecer só com foco e força de vontade acontece? Após atender quase 12 mil pacientes e estar a frente do maior ambulatório de Nutrologia do estado, afirmo sem pestanejar: É raríssimo. Mais raro ainda é a sustentação dessa perda de peso após 5 anos. O tratamento medicamentoso salva vidas e deve ser utilizado com mais ciência. 

Infelizmente, o acesso a medicamentos para emagrecimento ainda é um privilégio para aqueles que têm condições financeiras boas. Isso ocorre porque muitas das medicações para emagrecimento são caras e não são cobertas por muitos planos de saúde, o que significa que os pacientes precisam pagar por elas integralmente.

Autor: Dr. Frederico Lobo
Médico Nutrólogo
CRM-GO 13192 - RQE 11915
CRM-SC 32949 - RQE 22416

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Epidemia de obesidade atinge populações da América Latina e do Caribe

As populações da América Latina e do Caribe estão sendo vítimas de uma epidemia de obesidade. Os dados são da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Ao mesmo tempo, aumenta também o número de pessoas que apresenta casos de má nutrição alimentar na região.  

“A obesidade afeta quase 25% da população e 60% dos habitantes têm sobrepeso na América Latina e no Caribe”, destaca o relatório “Perspectivas agrícolas 2019-2028”, redigido pelas duas instituições.

O documento aponta que o “triplo ônus da má nutrição, uma mescla de subalimentação, obesidade e falta de micronutrientes, cria um problema de saúde pública cada vez mais grave. E o fenômeno parece seguir avançando, especialmente para os setores mais pobres da população, as mulheres, as populações autóctones, as pessoas de ascendência africana e as crianças”.

Taxas comparáveis a países ricos

As taxas de sobrepeso e de obesidade na América Latina e no Caribe, claramente superiores ao nível médio mundial há mais de 40 anos, são comparáveis à dos países de alta renda.

Atualmente, a região fica na segunda posição na classificação mundial, atrás somente da América do Norte. Ao mesmo tempo, apesar do excedente na produção agrícola e alimentar na América Latina, a quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar aumentou pelo terceiro ano consecutivo.

No entanto, mais do que a disponibilidade dos alimentos, o custo para os consumidores pobres é o que explica a agravamento da situação, de acordo com os analistas.

“A América Latina e o Caribe vivem uma verdadeira epidemia de sobrepeso e obesidade. Contudo, diferentemente dos países desenvolvidos, é improvável que esses países tenham condições econômicas de lidar com as epidemias de doenças causadas pela obesidade, que provavelmente ocorrerão caso a enfermidade não seja fortemente e prontamente combatida”, destaca Flávio Cadegiani, mestre e doutor em Endocrinologia Clínica pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM).  

Ainda segundo o especialista, a América Latina passou a apresentar uma epidemia de obesidade quando deixou de priorizar a alimentação local e se rendeu às grandes redes de fast-food e de alimentos ultraprocessados. 

“Ao contrário do que inicialmente se imaginaria, a coexistência entre insegurança alimentar e obesidade não é necessariamente um paradoxo. Na verdade, é uma sequência natural do desenvolvimento humano. Na maior parte das populações, a alimentação farta e descontrolada é um ode ao acúmulo para pessoas que já viveram períodos de insegurança alimentar. Somente com a estabilização do provimento de comida por, ao menos, uma a duas gerações que a abundância e o entendimento cultural do pensamento de “quanto mais se comer melhor” passará a perder força. Aconteceu assim com os imigrantes europeus pós-guerra, que imigraram para a América (inclusive no Brasil). A cultura da obesidade como a beleza a ser atingida é um fator de atração que ainda tem força em determinadas populações da África, por exemplo”, analisa Cadegiani.

Recomendações
O documento aponta algumas iniciativas de políticas públicas como a limitação da publicidade de alimentos e bebidas processados, assim como rótulos nutricionais detalhados nas embalagens, medida implementada pelo Chile, o imposto sobre os alimentos vinculado à saúde no México e a lei sobre alimentação nas escolas no Brasil.

Na opinião de Cadegiani, primeiramente os médicos precisam entender que a obesidade trata-se de uma doença real, grave, de grande componente genético, metabólico. E que seus portadores não são pessoas mais fracas, pois a atração por alimentos mais calóricos é mais intensa e a facilidade de armazenamento é maior. Ou seja, não se trata de uma doença em que se falar para o paciente “fechar a boca” vai trazer qualquer efeito positivo.

“Devido à grande epidemia e à altíssima prevalência, não somente os médicos especialistas, mas todos os médicos, incluindo médicos de família, têm que saber lidar e tratar (inclusive do ponto de vista medicamentoso), e saber encaminhar, somente quando necessário, para cirurgia bariátrica. É necessário um treinamento médico maciço no Brasil e uma cobrança maior com uma abordagem mais proativa dos médicos para prevenir o aparecimento de mais de 200 doenças decorrentes da obesidade em milhões de pessoas”, enfatiza o especialista em Endocrinologia.

Uma abordagem mais consciente pode ajudar nesta difícil missão, principalmente, em relação aos pacientes. As informações sobre alimentação e estilo de vida saudável devem vir após a ampla conscientização do que é obesidade e do que ela pode causar, uma vez que os indivíduos precisam entender as razões de comer menos alimentos muito calóricos, ultraprocessados, e com grande teor de carboidratos refinados e de gorduras más.

“A mensagem de que ‘sim, nós entendemos o quanto é difícil comer saudável em face da ampla oferta de alimentos que trazem prazer instantâneo e aliviam sentimentos, mas estamos aqui para ajudar efetivamente’ precisa sempre estar junto às campanhas de conscientização sobre a obesidade. E, claro, oferecer caminhos efetivos e verdadeiramente acessíveis àqueles que necessitam de ajuda”, defende Cadegiani.

Autora: Úrsula Neves
Jornalista carioca. Diretora executiva do Digitais do Marketing, colunista de cultura e maternidade dos sites Cabine Cultural e Feminino e Além, respectivamente.

Referências: https://nacoesunidas.org/onu-ve-epidemia-de-obesidade-na-america-latina-e-caribe/