segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Já fez biomassa de banana verde?


Uma opção mais saudável para espessar molhos e cremes é a biomassa de banana verde. É usada também como substituta para farinha de trigo, não deixa cheiro nem gosto residual. Por ser muito rica em fibras, agrega valor nutricional às preparações.

Receita:
✔️Escolha 12 bananas (prata ou nanica) bem verdes e duras;
✔️Solte as bananas do cacho sem tirar os talos;
✔️Lave-as e reserve;
✔️Aqueça a água na panela de pressão, quando começar a ferver, adicione as bananas com a casca;
✔️Tampe a panela de pressão. Assim que pegar pressão, cozinhe por 10 minutos e desligue;
✔️Quando sair toda a pressão, pegue as bananas com ajuda de um pegador de macarrão ou pinça grande, transfira para uma tábua de corte e retire as cascas com cuidado para não queimar. (Fazer este processo com as bananas ainda quentes);
✔️Coloque as bananas sem a casca no liquidificador ou processador até formar um creme homogêneo. Se estiver muito duro, pode colocar um pouquinho da água do cozimento;
✔️Transfira para uma forma ou forminha de gelo e leve para geladeira até firmar. Eu prefiro fazer em forma. Unto com pouquinho de óleo, e depois de firme corto os pedaços como o da foto;
✔️Na geladeira dura cerca de 5 dias, congelada dura até 6 meses.
✔️Costumo cortar os pedaços em tamanho médio, armazeno em sacos plásticos e congelo. Assim fica mais fácil tirar só a porção que vai usar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

É caro emagrecer?


Há alguns meses conversei com colegas do movimento Nutrologia Brasil sobre um movimento paralelo chamado Nutrologia Para Todos (NPT). Com foco em desmistificar que a Nutrologia é elitizada e inacessível para a maioria das pessoas. 

A especialidade apesar de muitos terem interesse em deixá-la restrita à uma pequena parcela da população, deveria (pelo menos eticamente/moralmente falando) ser para todos, independente da classe social. Esbarramos em um grande percalço: preço de alimentos, suplementos e medicamentos. 

Infelizmente poucos ainda conseguem comprar uma variedade de alimentos in natura, de boa qualidade. Menos ainda são aqueles que conseguem ter acesso a suplementos e/ou medicamentos. E aí? Como ficaria o processo de emagrecimento de pessoas menos favorecidas economicamente?  Como eu faço no ambulatório de Obesidade no SUS? Quais estratégias que traçamos a fim de se alcançar um emagrecimento saudável, sustentável, não iatrogênico ?

Primeiramente, faz-se necessário esclarecer que uma das coisas que encarece o tratamento da obesidade é a multidisciplinaridade. A participação de uma equipe mínima composta por Médico, Nutricionista, Psicólogo, Profissional da Educação física gera obviamente melhor adesão e resultados. Mas na prática, para grande parte da população isso fica inacessível, até mesmo para a classe média. Existe um mundo ideal e temos o mundo real.


Alternativa 1: a básica
Passar em consulta com o médico para diagnóstico das comorbidades, bem como tratá-las. O Médico então direcionará para um nutricionista prescrever um plano alimentar. Isso consigo no SUS, já que temos uma equipe multidisciplinar. Pelo plano de saúde também consegue-se. 
Orientar a prática de exercício físico e atividade física. Mudança no estilo de vida. Se detectados fatores emocionais que fortemente influenciam no quadro, recomendar busca por psicoterapia. No SUS conseguimos, porém a psicoterapia não fica sendo semanal. Por planos de saúde também. 
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Alternativa 2: a intermediária
Passar em consulta com o médico para diagnóstico das comorbidades, bem como tratá-las ou encaminhar para outros colegas. Direcionamento para o nutricionista para o planejamento de plano alimentar e retornando no mesmo mensalmente.
Orientar mudança no estilo de vida. 
Recomendar que o paciente procure um profissional da Educação física (personal ou academia) para receber a prescrição de um treinamento personalizado. Praticando o exercício pelo menos 3 vezes na semana.
Indicar Psicoterapia, já que na maioria das vezes, os fatores emocionais interferem no processo de emagrecimento. Frisando a necessidade dessa terapia ser no mínimo quinzenal
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Alternativa 3: a ideal
Passar em consulta com o médico Nutrólogo ou Endocrinologista para diagnóstico das comorbidades, bem como tratá-las ou encaminhar para outros colegas. 
Iniciar acompanhamento quinzenal com Nutricionista, que adote um plano alimentar personalizado e que forneça estratégias nutricionais a fim de se alcançar sucesso no processo.
Orientar mudança no estilo de vida baseado nos pilares da chamada "Lifestyle Medicine", medicina do estilo de vida. Ou seja, técnicas da terapia cognitivo comportamental para aumentar a adesão do paciente ao tratamento e sustentar as mudanças no estilo de vida.
Recomendar que o paciente procure um profissional da Educação física (personal ou academia) para receber a prescrição de um treinamento personalizado. Praticando o exercício pelo menos 5 vezes na semana.
Indicar Psicoterapia, sendo que as sessões deverão ser realizadas semanalmente, afinal a fala pode ser terapêutica. Detectar gatilhos que impedem o sucesso no processo de emagrecimento, bem como implementar estratégias para evitá-los. 
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Alternativa 3: a utópica
Passar em consulta mensal com o médico Nutrólogo ou Endocrinologista para verificar a adesão ao tratamento, bem como os resultados alcançados.
Manter acompanhamento quinzenal com Nutricionista.
Orientar mudança no estilo de vida baseado nos pilares da chamada "Lifestyle Medicine".
Manter acompanhamento diário com profissional da Educação física (personal).
Manutenção da Psicoterapia, duas vezes na semana. 
Ter um profissional para preparar todas as refeições prescritas pelo nutricionista. Que essas refeições sejam palatáveis, saborosas, variadas, nutricionalmente equilibradas. 
Contar com apoio de profissionais que trabalhem com técnicas de Mindful eating e profissionais que ensinem técnicas de manejo de estresse.
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Tudo isso tem um custo e o fator custo faz muitos pacientes desistirem do tratamento. Infelizmente. 

Alimentação

Com a alta da inflação, alimentos mais protéicos estão custando cada vez mais caro e com isso a incorporação deles a uma dieta fica difícil. O preço de ultraprocessados é bem inferior e assim se tornam opção mais barata. O Governo não aumenta a tributação sobre ultraprocessados e nem reduz a que incide sobre alimentos in natura. 

Alternativas: sempre escolher alimentos in natura de produtores locais, respeitando a sazonalidade. Lembrar que alimentos protéicos devem ser incorporados ao café da manhã, almoço e jantar. Vegetais devem ser a base da nossa alimentação e se respeitarmos a sazonalidade, podemos adquirir alimentos com um preço reduzido. 

Prática de exercício físico

Se você não tem condições de pagar um personal, tente treinar em uma academia. Se também não tem condições de pagar uma academia nesse momento, opte por praticar exercícios em áreas públicas. Mas assegure-se que não está lesionando suas articulações. O Ideal é passar por um ortopedista antes, já que a obesidade pode gerar uma sobrecarga articular. Lembre-se, o efeito da prática de exercícios no emagrecimento é baixo. Mas promove saúde. Lembre-se também que tão importante quanto o exercício, é a atividade física que faz ao longo do dia. Portanto, mova-se. 

Psicoterapia

Os aspectos emocionais percebo que são os maiores sabotadores de um processo de emagrecimento. Por isso nas minhas aulas, coloco a psicoterapia como base no tratamento da obesidade. Esbarramos no fator custo. Temos no SUS? Sim, mas a fila é grande e geralmente são sessões mensais. Temos pelos planos de saúde? Sim e agora (2022) são sessões ilimitadas. Gosto de recomendar pelo menos semanal. Mas e se você não tem plano de saúde e não consegue pelo SUS? Há várias clínicas que tem serviço gratuito ou a preço social. Vale a pena procurar o Conselho Regional de Psicologia do seu estado e verificar.

Medicações antiobesidade

Infelizmente, ainda temos poucas medicações disponíveis para tratamento da obesidade no SUS. Na verdade depende de região para região. On-label (recomendação em bula) são poucas unidades federativas que disponibilizam Sibutramina e Orlistat. Por aqui, nenhuma dessas medicações estão disponíveis e aí sobram apenas antidepressivo que entram em tratamento off-label, exemplo Fluoxetina, Sertralina, Bupropiona ou anticonvulsivantes como o Topiramato. Porém, muitas vezes o SUS só libera a medicação para o tratamento on-label. Exemplo: bupropiona para cessar tabagismo. Topiramato para Enxaqueca... Ou seja, é complicado. Drogas mais modernas, como Semaglutida ou Liraglutida, acho que dificilmente serão incorporadas ao SUS, nos próximos anos. 

Discuta com o seu médico a opção que se adequa ao seu bolso. O paciente precisa ser transparente e informar o médico sobre limitações financeiras, para escolherem em comum acordo aquilo que poderá ser seguido. A relação precisa ser de confiança.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Acolhendo o paciente portador de obesidade

Diariamente recebo reclamações de pacientes acerca da abordagem que alguns profissionais da saúde (em especial Endocrinologistas, Nutricionistas e Nutrólogos) tem para com o paciente portador de obesidade. Ao longo de quase 15 anos, percebi que a Medicina evoluiu muito pouco no quesito acolhimento. Pior ainda quando analisamos o quão gordofóbica é a abordagem da maioria dos profissionais.

O paciente portador de obesidade se torna um nicho altamente lucrativo para a indústria de dietas. As chances de sucesso terapêutico vão se reduzindo com o passar dos anos, à medida que ele tenta novas alternativas/dietas/medicações/intervenções e não alcança êxito, ele se sente fracassado e cada vez mais fragilizado. Essa sensação vem acompanhada de culpa e ao mesmo tempo de esperança, caso encontre outro método para acreditar. E assim a indústria da dieta gera bilhões ao redor do mundo. 

A grande verdade é que a maioria dos profissionais da saúde não gostam do paciente portador de obesidade. A obesidade é uma doença bastante completa e o paciente também é complexo. O culpam pela própria patologia. Sabem das dificuldades em se promover mudança de estilo de vida, alguns atée sabem da baixa adesão à maioria dos tratamentos. Não gostam do paciente portador de obesidade, mas adoram o lucro que esse paciente pode gerar. É cruel. 

Se eu fosse listar aqui as frases que eu e meu nutricionista ouvimos nos últimos 12 meses, esse texto teria 20 páginas. Relatos tristes e que botam em cheque a nossa fé na humanidade. Profissionais sem o mínimo de tato na abordagem ou compaixão pelo sofrimento alheio. Gente que vende ilusões e quando se deparam com as adversidades do tratamento da obesidade, tem prazer em culpar o paciente, alimentando um ciclo de tentativas e insucessos. Iatrogenia em cima de iatrogenia.

Quando isso mudará? Talvez quando a esfera psicológica for mais valorizada. Quando os profissionais realmente entenderem que obesidade é uma doença multifatorial, com forte componente genético e ambiental. Que o paciente necessita de uma abordagem multidisciplinar e ser visto de forma ampla. 

Porém, a maioria dos profissionais não querem estudar a parte comportamental, sequer encaminham para psicólogos. Quem dirá ouvir as demandas desses pacientes. Então o ciclo cruel se perpetua e alguém lucra com isso. E para alguém lucrar, faz-se necessário alguém perder algo. 

E quem perde quase sempre é o paciente. Perde a confiança em si mesmo e nos profissionais. Por fim acaba se culpando e ficando ainda mais fragilizado. Mas a esperança é a última que morre e em breve ele recorrerá a um novo tratamento. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 



O que é melhor: pão de fermentação natural ou química ?

Entre o pão de fermentação natural e o de fermentação química, você sabe qual é a melhor opção?
Bom, em se tratando da composição nutricional geral (calorias, por exemplo), NÃO há diferenças significativas entre eles. Porém, em outros aspectos, o pão de fermentação natural é bem melhor, pois, normalmente:
➡️Gera uma resposta glicêmica melhor;
➡️Possui digestibilidade e absorção mais facilitada, o que é muito positivo, principalmente em pacientes com intolerâncias alimentares;
➡️Resulta em menor produção de gases intestinais;
➡️Sabor mais marcante do que o de fermentação química;
➡️Alguns pacientes também relatam ter menos sintomas gastroesofágicos (refluxo) e mais saciedade.

Logo, caso você tenha acesso ao pão de fermentação natural, ele pode sim ser uma ótima opção para seu cardápio.

OBS: isso não significa que o pão de fermentação química seja ruim.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Ressalvas sobre o café

O café é uma das bebidas mais queridas, consumidas e estudadas em todo o mundo. Nós, por exemplo, amamos um café bem quente e todos os dias bebemos pela manhã.

Mas a dúvida que vários pacientes que são amantes do café me perguntam, é se podem tomar o quanto quiserem da bebida. Bom, na nossa visão, nenhum alimento ou bebida deve ser consumido de forma livre e excessiva, visto que na Nutrição é preciso MODERAÇÃO em tudo.

Mas, sendo mais científico, diversos estudos já demonstraram que o consumo de 3 a 5 xícaras por dia de café não traz riscos à saúde e, nessa quantidade, está associado com um menor risco de doenças cardiovasculares e alguns tipos de cânceres. Lembrando também que doses maiores que 5 xícaras por dia não está associado a maiores benefícios para saúde, nem com maior risco de hipertensão arterial.
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Então, o que te orientamos sobre isso:
  • Beba café diariamente caso você goste, pois pode te trazer benefícios!
  • Não adicione açúcar e, caso faça o uso, reduza gradativamente. Parece impossível, mas é questão de costume. Vá reduzindo a quantidade de açucar ou as gotas de adoçante.
  • Evite ultrapassar 5-6 xícaras de café por dia.
  • Evite ingerir café após às 16-17 horas, mesmo que acredite ser "imune" ao seu efeito estimulante. Algumas pessoas são denominadas de metabolizadores rápidos do café e com isso os efeitos "aceleradores" do café são quase imperceptíveis. Há também os que são metabolizadores lentos e nesses os efeitos são mais proeminentes. Isso ocorre devido um polimorfismo genético. Há um teste genético para saber como você reage ao café.
  • Observe se a ingestão de maiores quantidades de café ao longo do dia não te deixe mais "ansioso (a)", aumenta a frequência cardíaca, frequência respiratória, aumenta o número de evacuações. 
  • Caso seja vegetariano, evite colocar o café próximo as suas grandes refeições. O Café é rico em taninos e isso leva a uma redução de todos os minerais divalentes: ferro, cálcio, magnésio, cobre, zinco. 
  • Se tiver gastrite ou refluxo gastresofágico, evite beber café até que faça o tratamento adequado. O Café pode relaxar o esfíncter esofágico inferior e com isso a comida pode "voltar" para o esôfago com mais facilidade. Além disso substâncias presentes no café podem agredir a mucosa do esôfago e estômago. 
Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Anais do Congresso Brasileiro de Nutrologia 2022



Hoje foi publicado os Anais do XXVI Congresso Brasileiro de Nutrologia (2022). Em Parceria com a Faculdade de Medicina de Olinda, enviamos 4 trabalhos e eles foram aceitos. Para acessar todos os trabalhos publicados clique aqui.







DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 EM PACIENTES DIABÉTICOS EM USO CRÔNICO DE METFORMINA: UMA REVISÃO DA LITERATURA 
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, INGRID HELLEN ANDRÉ BARRETO, FREDERICO LOBO, MARCIO JOSE DE SOUZA, MARIANA DINIZ DE SOUZA,
MARIA JULIA PIMENTEL DE ALBUQUERQUE, MICHELLE ALVES DE FARIAS, LUCAS LUCENA BEZERRA
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: A Metformina é a droga de primeira linha para o tratamento do Diabetes Mellitus tipo II (DM2), porém seu uso crônico pode interferir no metabolismo da vitamina B12, por um mecanismo cálcio dependente ainda não totalmente elucidado, acarretando a diminuição dos seus níveis séricos.
Objetivo: Revisar a literatura científica publicada sobre a deficiência de vitamina B12 em pacientes portadores de Diabetes Mellitus tipo II em uso crônico de Metformina, assim como compreender melhor seus desdobramentos e implicações na prática clínica. 
Metodologia: Foi realizada uma revisão da literatura de artigos publicados entre os anos de 2017 a 2022. As bases de dados utilizadas foram a plataforma PubMed e Scielo. A partir disso, foram selecionados 13 artigos, sendo 8 estudos transversais, 3 retrospectivos, 1 observacional e 1 caso-controle.
Resultados: Os estudos observacionais mais recentes vêm demonstrando uma relação entre o uso prolongado de Metformina e a deficiência de vitamina B12, sendo os seus níveis séricos diretamente relacionados a maior dose (> 1g/dia) e tempo prolongado de uso da medicação, principalmente após quatro anos. A prevalência encontrada foi de 21,4% a 40,5% e a maior variação estatística se deve a inclusão ou não de valores limítrofes de B12. O mecanismo pelo qual a metformina causa essa deficiência ainda não foi definido com exatidão, mas acredita-se que se deva ao bloqueio dos canais cálcio dependente necessários para a absorção da vitamina B12. Os sintomas clínicos mais observados foram neuropatia e anormalidades hematológicas como eritrócitos macrocíticos, neutrófilos hipersegmentados e bandas gigantes.
Conclusão: De acordo com os estudos selecionados, o uso crônico de Metformina causa redução nos níveis séricos de vitamina B12, podendo ocasionar desfechos clínicos negativos e graves. Logo, podemos inferir que os usuários devem ser rastreados regularmente a fim de que o médico se antecipe e trate precocemente essa condição clínica.


DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 EM USUÁRIOS CRÔNICOS DE INIBIDORES DE BOMBA DE PRÓTONS: UMA REVISÃO DA LITERATURA.
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, ALYCE ALCÂNTARA DE ANDRADE CABÚS, BIANCA SILVA FARIAS, STÉFANNY BERTLEY RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, FREDERICO LOBO, MARCIO JOSE DE SOUZA, MARIANA DINIZ DE SOUZA, MARIA JULIA PIMENTEL DE ALBUQUERQUE, LUCAS LUCENA BEZERRA
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: Os Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) são uma classe de medicamentos amplamente utilizada no mundo, entretanto seu uso prolongado pode influenciar o metabolismo da vitamina B12, acarretando, por exemplo, a sua deficiência, com implicações significativas para a prática clínica.
Objetivo: Proporcionar aos profissionais de saúde e população em geral os dados mais relevantes acerca da deficiência de vitamina B12 em usuários crônicos de inibidores da bomba de prótons (IBPs). Desse modo, esta revisão de literatura pretende abordar os estudos mais recentes sobre o tema, bem como as possíveis desdobramentos e consequências que o uso contínuo dessa classe de medicação pode acarretar no metabolismo da vitamina B12.
Metodologia: A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica, com fundamentação teórica baseada na análise e revisão da literatura já publicada, no período de 2018 a 2022. Os dados foram coletados nas bases PubMed e SCIELO.
Resultados: Estudos apontam que o uso prolongado dos IBPs pode acarretar deficiência de vitamina B12, uma vez que eles atuam bloqueando a secreção de ácido clorídrico no lúmen estomacal. Inibem, portanto, as enzimas H+/K+ATPase (bomba de prótons), localizadas nos canalículos das células parietais que por sua vez tem como função acidificar ainda mais o PH do estômago, preparando-o para o recebimento e absorção do alimento. Para que a vitamina B12 seja transportada ao Íleo e, ao final, seja absorvida, faz-se necessária sua separação da proteína animal carreadora, o que somente pode ocorrer com a presença da enzima pepsina – sintetizada apenas quando preservado o nível de acidez estomacal. Assim, considerando que os IBPs tornam menos ácido o ambiente estomacal, pode-se concluir que o seu uso prolongado pode deflagrar a não sintetização da pepsina, gerando a não separação da vitamina B12 da proteína animal, de modo a dificultar ou até impedir, a absorção dessa vitamina.
Conclusão: Desse modo, torna-se imprescindível um maior número de estudos que se debrucem sobre os mecanismos pelos quais o uso contínuo do inibidor da bomba de prótons pode levar à deficiência da vitamina B12, pois apesar dessa relação existir, ainda há a necessidade de melhor nível de evidência para a sua causa e efeitos

SÍNDROME PÓS-COVID-19 E SEUS FATORES DE RISCO: O QUE TEMOS DE NOVO?
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, ALYCE ALCÂNTARA DE ANDRADE CABÚS, BIANCA SILVA FARIAS, STÉFANNY BERTLEY RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, FREDERICO LOBO, MARCIO JOSE DE SOUZA, LUCAS LUCENA BEZERRA, MARIANA DINIZ DE SOUZA, MARIA JULIA PIMENTEL DE ALBUQUERQUE, MICHELLE ALVES DE FARIAS
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: A Covid-19 foi inicialmente considerada uma infecção aguda do sistema respiratório, porém atualmente sabe-se do possível comprometimento de vários órgãos e sistemas, com uma enorme gama de sintomas clínicos. Segundo dados preliminares de estudos observacionais, estima-se que aproximadamente 10% dos pacientes com quadros leves a moderados de Covid-19 apresentam sintomas prolongados, que duram 3 semanas ou mais. No grupo dos internados, especialmente em UTI, estes sintomas residuais podem chegar a 80%. Essa condição tem sido chamada de COVID “longa”, “pós-aguda” ou “Síndrome pós-COVID-19”.
Objetivo: Revisar a literatura acerca da síndrome pós-covid-19 para informar ao público médico a possibilidade do comprometimento de diversas áreas da saúde desse grupo de pacientes e incitar a continuação dos estudos para melhor elucidar os fatores de risco que desencadeiam a síndrome.
Metodologia: Foi realizada uma revisão de literatura apoiada em publicações na base de dados PubMed entre os anos de 2020 e 2022.
Resultados: A Síndrome pós-covid-19 se caracteriza pelo envolvimento musculoesquelético, pulmonar, digestivo e neurológico, independentemente da gravidade da fase aguda e da resposta humoral. Os sintomas mais reportados são: distúrbios do sono, diarreia, fadiga, artralgia, cefaleia, dispneia, anosmia, entre outros relacionados saúde mental. Aqueles que apresentaram fadiga e que estiveram internados em UTIs foram os que mais tiveram sua qualidade de vida comprometida. Estudos afirmam que a Síndrome pós-covid-19 se desenvolve em média entre 30-60% dos pacientes, principalmente entre as mulheres e no grupo que apresentou anosmia. Diante das evidências científicas, considerou-se que fatores de risco como sexo feminino e anosmia são contribuintes para seu desenvolvimento. Contudo, há a necessidade de descobrir outros fatores de risco desencadeantes e sua relação com o tempo de persistência dos sintomas.
Conclusão: A Síndrome pós-covid-19 possui diversas manifestações clínicas e sua evolução varia de acordo com inúmeros fatores associados ao indivíduo. Atenção especial deve ser dada as pacientes do sexo feminino e ao grupo que apresentou anosmia, além dos que tiveram quadros graves, com necessidade de internamento em UTI. Logo, podemos inferir que a Síndrome pós-covid-19 é um problema de saúde pública atual, com limitações referentes a dados científicos, necessitando de mais estudos que possam elucidar a sua abordagem.

A RELAÇÃO ENTRE TRANSTORNOS ALIMENTARES E PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPOS I E II
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, STEFANNY BERTLEY RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, BIANCA SILVA FARIAS, ALYCE ALCÂNTARA DE ANDRADE CABÚS, FREDERICO, INGRID HELLEN ANDRE BARRETO, MARCIO JOSE DE SOUZA
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: O Diabetes Mellitus é uma doença crônica que altera os níveis plasmáticos de glicose, gerando várias complicações clínicas, dentre elas a associação com transtornos alimentares. Há evidências da relação entre pacientes com Diabetes e comorbidades psiquiátricas, principalmente depressão e Transtornos Alimentares, podendo interferir no controle metabólico da doença. Objetivo: Apurar dados atualizados sobre a relação entre Diabetes Mellitus I e II e transtornos alimentares, abordando aspectos dessas doenças, principalmente a evolução clínica e o tratamento. Expor também a importância do diagnóstico precoce para fornecer uma intervenção médica adequada e eficaz.
Metodologia: A fundamentação teórica foi baseada em revisão de literatura através da análise de artigos publicados no período entre 2018 e 2022, coletados das bases Pubmed e Scielo. 
Resultados: A presente revisão bibliográfica demonstrou maior prevalência de Anorexia Nervosa e Bulimia nervosa em pacientes com Diabetes tipo I, o que podemos relacionar com a presença de Diabulimia. A Diabulimia é a redução ou omissão do uso de insulina por pacientes diabéticos tipo I, com o objetivo de perda de peso e questões estéticas. A redução ou a supressão da insulina acarreta hiperglicemia, poliúria e alterações metabólicas que produzem, como consequência, a redução do peso corporal. Embora essa condição possa ser letal e o índice de predominância no Diabetes tipo I seja alto, há uma falta de pesquisas sobre o tema. Já no Diabetes tipo II existe uma maior relação com o Transtorno de Compulsão Alimentar e a presença de obesidade associada.
Conclusão: O estudo desse tema se faz necessário devido a grande prevalência de Diabetes e suas complicações em nossa população, além do aumento de morbimortalidade associado a presença de transtornos alimentares. As limitações deste estudo estão relacionadas à incipiente produção científica sobre a temática, o que dificulta a discussão e a comparação dos resultados. Além disso, é necessário a capacitação dos profissionais de saúde sobre a correlação entre as patologias, ajudando tanto no diagnóstico precoce quanto no tratamento adequado.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

O que comemos em Outubro ?

Sempre alerto meus pacientes sobre a sazonalidade dos alimentos. A natureza é sábia e devemos incorporar à nossa alimentação, aquilo que as estações do ano vai nos fornecendo. Devemos aproveitar que a sazonalidade nos oferece alimentos mais baratos e com menos agrotóxicos. E no Cerrado o que podemos esperar? E em Santa Catarina? 

Frutas de outubro
Abacate
Acerola
Amora
Banana Maçã
Banana Prata
Banana Nanica
Caju
Cupuaçu
Figo
Framboesa
Graviola
Jabuticaba
Laranja Bahia
Laranja Lima
Maçã Fuji
Manga
Mamão formosa
Melão
Pitanga
Uva Thompsom

Vegetais de outubro
Abóbora
Abobrinha 
Alface lisa
Breinjela
Beterraba
Cenoura
Chicória
Chuchu
Couve
Couve-flor
Espinafre
Rúcula
Tomate caqui
Tomate cereja
Vagem

Tubérculos de outubro
Batata doce


Medicina e responsabilidade social



Há tempos quero falar sobre esse tema, porém, por se tratar de algo polêmico e que muitas vezes pode ser mal interpretado, relutei em escrever. 

Venho de uma família com 34 médicos, minha mãe tem 5 irmãos e 4 são médicos. Meu pai era médico reumatologista. Tenho tios, primos e até sobrinhos que já são médicos. Cresci nesse meio e ao longo dos anos fui observando a percepção sobre a Medicina mudando. 

Meu pai fez faculdade na UFRN, depois residência de clínica médica e reumatologia na UFRJ, na década de 70. A visão que ele tinha era de que a Medicina deveria ser um sacerdócio. A maioria dos meus tios cursaram Medicina na década de 80/90 e a visão de sacerdócio já começou a mudar, afinal, precisamos pagar as contas, ou seja, viver a vida, ou sobreviver.

Eu e minha geração de primos cursamos Medicina no começo dos anos 2000 (formei em janeiro de 2008). A visão de sacerdócio ficou para trás, na verdade, aqueles que assim enxergam a Medicina, são vistos como utópicos e até mesmo alienados. Minha geração é a a geração da Medicina baseada em evidência. Uma geração que começou a ver uma quantidade grande de médicos adentrando ao mercado. Além disso começamos a falar de judicialização médica. 

As próximas gerações ainda estamos analisando, mas o panorama não é nada agradável. Porém, só o tempo dirá. Serão médicos com outros ideais, ambições, outros valores. O quão negativo ou positivo isso será, só o tempo nos mostrará.

Mas o que TODAS essas gerações tem em comum? O objetivo final da Medicina é o bem-estar do paciente. É sanar ou aliviar o sintoma. É prevenir quando possível. E se tudo isso ocorre em prol do paciente, ele tem papel central na nossa formação.

Só somos médicos, porque um dia, alguém se dispôs a permitir que fizéssemos perguntas, examinássemos, sugeríssemos hipóteses diagnósticas para os nossos professores e por fim nossos mestres tomavam condutas. Para beneficiar o paciente.

Na maioria das vezes, na verdade, na grande maioria das vezes, esse paciente era/é alguém que depende do Sistema único de saúde. Alguém sem muitas posses, condições financeiras para pagar um plano de saúde. E aqui chego no ponto chave. Sem esse tipo de paciente, sequer teríamos formados. Gratidão a todos que passaram pelo meu caminho e em um momento difícil das suas vidas, permitiu que um pós-adolescente fizesse perguntas "sem nexo", examinasse seus corpos com alguns instrumentos  e depois repassasse aquilo para um professor diante de outros acadêmicos.

Aqui entra a questão da responsabilidade social. Tema espinhoso para os médicos da minha geração e que provavelmente será ignorado pelas próximas gerações. Aqui a questão é moral. A questão é o dever de gratidão a quem nos ajudou a estar aqui. 

Não tenho a intenção de querer falar que médicos devam doar parte do seu tempo para pessoas mais carentes. Cada um sabe onde o calo aperta. 

O intuito é despertar a seguinte pergunta: Eu seria o médico(a) que sou hoje se não fossem os pacientes do SUS? Como retribuir isso?

Anos atrás assisti à uma reportagem com o Senador Cristovam Buarque (DF) na qual ele falava que os médicos formados em universidades públicas deveriam ficar um período trabalhando no SUS, após formarem. Muitos abominam essa ideia mas é algo a se pensar.

Como retribuir aqueles que tanto nos deram?

Hoje, vou na contramão do que minha família defende e acho que TODO médico tem que ter a sua contribuição social, seja atendendo no SUS ou de forma filantrópica. Se os médicos valorizassem mais o SUS, provavelmente teríamos um SUS ainda melhor. Mas muitos preferem enxergar a Medicina como um comércio, focando apenas no lucro e esquecem da nossa responsabilidade social. 

Espero que as próximas gerações tenham um despertar na consciência e abram os horizontes para a forma de enxergar a Medicina. É inadmissível a Nutrologia ter menos de 1 dúzia de ambulatórios em TODO o território nacional. A Nutrologia é para todos e não apenas para uma pequena parcela da população.

No Centro-oeste há apenas 2 ambulatórios de Nutrologia, um em Brasília (uniceplac) coordenado pela Nutróloga Nádia Hubert e o de Aparecida de Goiânia, coordenado por mim. Não há o serviço de Nutrologia ambulatorial em Goiânia, nem em Campo Grande ou Cuiabá. No último Congresso Brasileiro de Nutrologia discutimos exatamente isso. Se existem mais de 1250 Nutrólogos no país, por que há poucos serviços de Nutrologia no SUS? A quem interessa ter poucos serviços de Nutrologia para atender a população ?

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Bolo de macaxeira (aipim/mandioca) com côco


Receita elaborada por uma grande amiga de longa data, a professora de Yoga Claudia Sabbag. Vale a pena se inscrever no canal dela. Sempre postando receitas com comida de verdade, nutritivas e saborosas.

Ingredientes:

4 xícaras de mandioca/macaxeira crua e ralada no ralo grosso
2 xícaras e meia de coco ralado no ralo grosso
100 ml de leite de coco
5 colheres de sopa de xilitol (pode substituir por açúcar se quiser)
Pitadas de canela, cravo moído e noz moscada
1 xícara cheia de queijo sem lactose
5 ovos
3 colheres de sopa de manteiga ghee
2 colheres de sopa de farinha de coco
1 pitada de sal
20 cotas de estévia
1 colher de sopa de fermento químico para bolo

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O efeito de uma dieta mediterrânea sobre os sintomas de depressão em homens jovens (o estudo “AMMEND: A Mediterranean Diet in MEN with Depression”): um estudo controlado randomizado.

 A depressão é um distúrbio de saúde mental comum que afeta cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Na Austrália, cerca de 1 milhão de adultos australianos têm depressão em um determinado ano, e o início precoce pode significar que os pacientes enfrentam graus variados de deficiência por muitos anos de suas vidas. A depressão pode apresentar-se de forma diferente em cada indivíduo; entretanto, as principais características incluem anedonia, humor deprimido e função cognitiva alterada. 

O fardo esmagador das doenças mentais afeta os jovens, com a transição da adolescência para a vida adulta apresentando muitos desafios, como transições significativas entre casa, educação e emprego.

Do ponto de vista do desenvolvimento, as idades de 18 a 24 anos foram descritas como idade adulta emergente, que é um estágio de desenvolvimento de transição entre o final da adolescência e a idade adulta. 

Observa-se um aumento acentuado nas taxas de depressão, com as taxas de doença mental atingindo o pico na idade adulta emergente. Infelizmente, os jovens do sexo masculino raramente procuram ajuda para a sua saúde mental, com apenas 13% dos jovens do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos a procurar ajuda profissional. 

No entanto, pesquisas mostram que a idade adulta emergente também oferece uma oportunidade para intervenções precoces no estilo de vida, como mudanças na dieta, porque muitos estão aprendendo a cozinhar e assumindo o controle de suas escolhas alimentares pela primeira vez. 

Além disso, a pesquisa mostra consistentemente que os homens tendem a apresentar dietas mais pobres quando comparados às mulheres, tornando os homens jovens de 18 a 25 anos com depressão particularmente precisando de apoio adicional. 

O tratamento padrão do transtorno depressivo maior inclui psicoterapias, como terapia cognitivo-comportamental e medicamentos antidepressivos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina. No entanto, cerca de 30% dos pacientes deprimidos não respondem adequadamente aos medicamentos antidepressivos. 

Recentemente, pesquisadores têm explorado o efeito que nutrientes específicos, certos alimentos e vários padrões alimentares têm sobre a saúde mental no campo emergente da psiquiatria nutricional. Atualmente, a dieta com maior evidência de exercer efeito positivo sobre os sintomas depressivos é a dieta mediterrânea (DM).

A DM é rica em frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, frutos do mar, nozes, sementes e azeite de oliva, enquanto é baixa em alimentos “rápidos” processados, carne vermelha e açúcar. Embora muitas evidências observacionais mostrem que aqueles que seguem uma DM têm um risco reduzido de desenvolver depressão, apenas alguns ensaios experimentais foram realizados, mostrando que uma DM também pode ajudar a tratar o transtorno depressivo maior (TDM) ativo. 

No entanto, esses 2 estudos foram realizados em adultos mais velhos, com idade média de 40 e 44, sem estudos até o momento explorando uma DM em adultos jovens com depressão clínica.

Intervenções voltadas para a prevenção ou tratamento precoce da depressão são urgentemente necessárias. Além disso, há pesquisas limitadas sobre o efeito de uma DM na qualidade de vida (QV) em pacientes com depressão, particularmente homens jovens. 

Os questionários de QV normalmente avaliam as experiências dos participantes de uma doença, como incapacidade, fadiga e dor, e também podem incluir perguntas sobre o bem-estar físico, social e emocional dos participantes. 

Portanto, examinar o impacto da dieta na QV pode fornecer informações adicionais sobre a eficácia das intervenções em vários domínios da saúde.

Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa foi determinar se o aconselhamento nutricional, com foco na DM, poderia melhorar a qualidade da dieta, os sintomas depressivos e a QV de jovens do sexo masculino com depressão. Executamos um estudo controlado randomizado (ECR) examinando o efeito de uma DM em comparação com a terapia de amizade para o tratamento da depressão em homens jovens com depressão clínica. 

Nós hipotetizamos que seguir a DM resultaria em melhora da qualidade da dieta, sintomas depressivos e QV no grupo MD na semana 12.

Métodos

Um estudo controlado randomizado, aberto, de 12 semanas, de grupos paralelos, foi conduzido para avaliar o efeito da intervenção com DM no tratamento da depressão moderada a grave em homens jovens (18-25 anos). A terapia de amizade foi escolhida para o grupo controle. As avaliações foram feitas na linha de base, na semana 6 e na semana 12. A adesão à DM foi medida com o Mediterranean Diet Adherence Score (MEDAS). O desfecho primário foi a Escala de Inventário de Depressão de Beck – versão II (BDI-II) e o desfecho secundário foi a qualidade de vida (QV).

Resultados

Um total de 72 participantes completaram o estudo. Após 12 semanas, os escores do MEDAS foram significativamente maiores no grupo DM em comparação com o grupo de amizade (diferença média: 7,8; ​​IC 95%: 7,23, 8,37; P <0,001). A mudança média na pontuação BDI-II foi significativamente maior no grupo DM em comparação com o grupo de amizade na semana 12 (diferença média: 14,4; IC 95%: 11,41, 17,39; P <0,001). A mudança média na pontuação de QV também foi significativamente maior no grupo DM em comparação com o grupo de amizade na semana 12 (diferença média: 12,7; IC 95%: 7,92, 17,48; P <0,001).

Conclusões

Nossos resultados demonstram que, em comparação com a amizade, uma intervenção DM leva a aumentos significativos no MEDAS, diminuições no escore BDI-II e aumentos nos escores de QV. Esses resultados destacam o importante papel da nutrição para o tratamento da depressão e devem informar os conselhos dados pelos médicos a essa população demográfica específica.

O estudo foi registrado no Registro de Ensaios Clínicos da Austrália e Nova Zelândia (ID do ensaio ACTRN12619001545156) e também foi registrado na Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos da OMS (Número de Ensaio Universal U1111-1242-5215). Am J Clin Nutr 2022;116:572-580.


[Conteúdo exclusivo para médicos] - Drogas hipoglicemiantes com benefícios cardiovasculares como modificadores de elementos críticos da história de vida humana

Resumo

A teoria da história de vida assume que todos os organismos estão sob pressão seletiva para colher recursos externos e alocá-los para maximizar a aptidão: apenas os organismos que fazem o melhor uso da energia obtêm os maiores benefícios da aptidão.

A troca de energia abrange quatro funções: manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos.

Os inovadores agentes anti-hiperglicêmicos agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2) diminuem o peso corporal e têm o potencial de combater a inflamação de baixo grau.

Essas atividades-chave poderiam religar dois componentes da teoria da história de vida operante na idade adulta — isto é, manutenção e defesa.

Nesta Visão Pessoal, postulamos que os benefícios desses medicamentos no sistema cardiovascular, além de seus efeitos hipoglicemiantes, poderiam ser mediados pela redução do custo de manutenção impulsionado pela obesidade e pelos esforços despendidos no combate à inflamação de baixo grau.

• Introdução

A teoria da história de vida é um campo da biologia que estuda a estratégia usada por um organismo para alocar sua energia para o crescimento, manutenção do corpo, defesa e reprodução.

Um princípio central da teoria da história de vida é o conceito de trade-offs – isto é, estratégias usadas para alocar energia quando características requerem mais energia do que a disponível.

Do ponto de vista evolutivo, a teoria assume que todos os organismos estão sob pressão seletiva para colher recursos do ambiente e alocá-los em funções biológicas para maximizar a aptidão.

Os organismos que fazem o melhor uso da energia ao longo da vida devem obter os maiores benefícios de condicionamento físico.

A troca de energia abrange as quatro funções biológicas, ou seja, manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos e predadores.

O investimento de muita energia em uma função diminui a energia disponível para as outras.

A história de vida rápida tem alta mortalidade extrínseca, vida curta, crescimento rápido, maturação precoce, tamanho pequeno da prole e envelhecimento rápido, enquanto a história de vida lenta tem baixa mortalidade extrínseca, vida longa, crescimento lento, maturação tardia, tamanho grande, tamanho grande da prole, e envelhecimento lento.  

Wells e colegas adaptaram a teoria da história de vida ao diabetes desenvolvendo um modelo no qual a capacidade metabólica, a carga metabólica e a homeostase desafiadora determinam a propensão e as complicações da doença.

A capacidade metabólica endógena inclui função pancreática e massa muscular e é fortemente influenciada pelo crescimento fetal e infantil.

A capacidade interage com a carga metabólica imposta por estímulos externos, a soma da adiposidade, carga glicêmica da dieta, sedentarismo, estresse psicossocial e todos os fatores patogenéticos críticos que contribuem para o risco de desenvolvimento de doenças e progressão para doenças cardiovasculares.

Ao longo do último meio século, as mudanças ambientais e o aumento da disponibilidade de alimentos aumentaram a carga metabólica.  

Assim, a prevalência de obesidade e diabetes aumentou rapidamente em todo o mundo e continua a crescer.  

Portanto, a ruptura do equilíbrio entre a capacidade metabólica e a carga metabólica gerará estresse ecológico e deterioração da homeostase com aumento do risco de mortalidade prematura que pode compensar a tendência de aumento da expectativa de vida em muitos países.

O diabetes tipo 2 está associado à redução substancial da expectativa de vida, principalmente devido ao excesso de mortalidade cardiovascular.

De acordo com o imprinting pré-natal sobre a capacidade metabólica, é provável que a propensão a desenvolver um risco aumentado de doença cardiovascular comece nas gerações anteriores.

Tanto a desnutrição quanto a supernutrição na gravidez ou obesidade materna estão ligadas ao risco cardiometabólico na prole.

Da mesma forma, os filhos de mães com diabetes pré-gestacional ou gestacional têm um perfil de risco de doença cardiovascular pior e uma taxa mais alta de doença cardiovascular de início precoce do que filhos de mães sem diabetes.

O mesmo ocorre em filhos de mães com histórico de doenças cardiovasculares ou complicações diabéticas.

Ao todo, essas observações indicam uma programação da chamada diabesidade e doenças cardiovasculares ao longo de gerações.

Em indivíduos com diabetes, o aumento da adiposidade e o desenvolvimento de distúrbios metabólicos levam à inflamação crônica de baixo grau: uma característica cardinal dos distúrbios metabólicos que levam ao gasto energético excessivo.

A manutenção a longo prazo de um estado inflamatório de baixo grau, sem um alvo para se defender (por exemplo, um agente infeccioso), pode ser vista como um desperdício de energia sem propósito que desequilibra a troca.

Tal resposta inflamatória, que deveria ser fisiologicamente, espacialmente e temporalmente limitada, torna-se ilimitada e não determinada causalmente, sendo vista como sem propósito.

Não exclui condições ecológicas como inatividade física, disbiose intestinal, dieta pouco saudável, isolamento social, estresse psicológico, sono perturbado e ritmos circadianos.

No entanto, a função principal da defesa (ou seja, combater e eliminar agentes externos) falha e fica sem propósito.

Devido ao efeito negativo da diabesidade e sua relação com o mecanismo da doença cardiovascular, a redução do peso corporal e o embotamento da inflamação são vistos como uma abordagem racional para melhorar o estado metabólico.

Desde 2015, duas classes de agentes redutores de glicose, agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2), demonstraram exercer proteção contra doenças cardiovasculares associadas a distúrbios metabólicos.

Nesta visão pessoal, hipotetizamos que os efeitos benéficos dos agonistas do receptor GLP-1 e dos inibidores de SGLT2 podem ser parcialmente mediados por sua capacidade de reequilibrar componentes da teoria da história de vida (figura).

Os mecanismos subjacentes à doença cardiovascular no diabetes

Em primatas não humanos e humanos, aqueles com maiores concentrações de glicose têm taxas de mortalidade mais altas do que aqueles com concentrações mais baixas de glicose em estágios posteriores da vida.

Além dessa associação epidemiológica, altas concentrações de glicose podem desencadear e sustentar vários mecanismos que levam a complicações relacionadas ao diabetes.

De acordo com a hipótese fisiopatológica unificadora clássica, a hiperglicemia causa (1) produção excessiva de espécies reativas de oxigênio com consequente ativação da poli (a ribose nuclear (ADP) polimerase) e acúmulo de intermediários glicolíticos; (2) ativação da proteína quinase C por diacilglicerol e subsequente translocação de NF-κB para o núcleo, sustentando a resposta inflamatória; (3) produção de produtos finais glicados avançados que interagem com receptores para produtos finais glicados avançados potencializando a inflamação; (4) ativação das vias de poliol e glucosamina, conduzindo a modificações adicionais das funções celulares.

A coexistência de hiperglicemia e excesso de gordura corporal, particularmente gordura visceral que é maciçamente infiltrada por células mielóides (adiposopatia), piora drasticamente a inflamação, resultando no estado bem documentado de inflamação crônica de baixo grau.

Por sua vez, a hiperglicemia e a inflamação de baixo grau levam a modificações epigenéticas, pelo menos em parte, alterando a expressão e a atividade das sirtuínas.

Sirtuin1, uma histona desacetilase classe III dependente de NAD+ com ação antioxidante e anti-inflamatória, previne a senescência endotelial e promove a biodisponibilidade de NO.  

Paralelamente, a toxicidade da glicose e dos lipídios prejudica a regeneração vascular; pessoas com diabetes têm mobilopatia da medula óssea, indicada pela diminuição das células-tronco hematopoiéticas ou células progenitoras e células progenitoras endoteliais disfuncionais, devido ao excesso de mielopoiese inflamatória no nicho da medula óssea.

Juntamente com a glicotoxicidade, a lipotoxicidade tem um papel prejudicial nas doenças cardiovasculares e no envelhecimento prematuro: foi relatado um risco aumentado de morte para as categorias mais altas e mais baixas de IMC entre homens e mulheres, em todos os grupos raciais e étnicos e em todas as idades.

A obesidade é uma doença multissistêmica que afeta a homeostase vascular em nível do organismo, inclusive no miocárdio.  

O insulto miocárdico na obesidade resulta da carga extra no coração devido ao alto volume sanguíneo e à hipertensão, levando ao aumento do volume sistólico do ventrículo esquerdo.

Vários estudos têm mostrado associação entre obesidade e alterações estruturais e funcionais do ventrículo esquerdo, como maior volume diastólico final do ventrículo esquerdo e hipertrofia concêntrica, eventualmente levando a uma disfunção contrátil miocárdica subclínica.

Além disso, em indivíduos com obesidade e diabetes, a gordura epicárdica aumenta, o que contribui para inflamação local e inflexibilidade metabólica.

O aumento da massa gorda e a inflamação de baixo grau podem atrapalhar o equilíbrio fisiológico entre as quatro funções essenciais da teoria da história de vida: manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos.

Devido a essa interrupção, o aumento da massa gorda e a inflamação de baixo grau podem contribuir para o risco de doenças cardiovasculares.

A superalimentação e a expansão da massa gorda corporal causam um aumento na taxa metabólica de repouso, no efeito térmico dos alimentos e no gasto energético relacionado à atividade.

Muitas pessoas são diagnosticadas com diabetes tipo 2 em seus anos pós-reprodutivos, quando o crescimento e a reprodução diminuem.

Além das implicações da diabesidade de início precoce para a aptidão reprodutiva, para a maioria dos pacientes com doença de início tardio, o trade-off envolve manutenção e defesa.

Ao mesmo tempo, a massa gorda expandida impõe um custo extra em energia e um perfil de risco cardiovascular mais grave devido a uma ativação sem propósito da imunidade inata.

Com o termo sem propósito, identificamos uma condição na qual o processo imune-inflamatório não é ativado para eliminar uma causa de doenças infecciosas, mas é inadequadamente engajado ou desregulado por pistas estéreis, causando a ruptura da homeostase e promovendo a patologia.

Os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 exercem vários efeitos no alvo e fora do alvo que explicam os benefícios cardiovasculares mostrados nos ensaios de resultados cardiovasculares (CVOTs).

Aqui, exploramos até que ponto os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem melhorar a relação entre manutenção e defesa, como uma estrutura geral para interpretar as estratégias atuais e futuras para reduzir a carga de doenças cardiovasculares em pessoas com doenças metabólicas.

• Resultados de CVOTs

Em pessoas com diabetes, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 reduzem a taxa de desfechos cardiovasculares e renais além de sua capacidade de diminuir as concentrações de glicose.

Os CVOTs mostraram que os pacientes aleatoriamente designados para receber um agonista do receptor GLP-1 tiveram um benefício cardiovascular substancial em comparação com aqueles que receberam placebo.  

Uma meta-análise de oito ensaios envolvendo 60 080 pacientes mostrou uma redução de 14% na redução do risco relativo em três pontos de eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM), uma redução no risco de morte por qualquer causa em 12% e 17% de redução no acidente vascular cerebral fatal e não fatal.

O benefício dos agonistas do receptor GLP-1 é observado nos diferentes estratos de risco de doença cardiovascular.

De acordo com uma meta-regressão, entre os agentes redutores de glicose, o MACE e a redução do risco de insuficiência cardíaca foram significativamente maiores quando os pacientes foram aleatoriamente designados para medicamentos capazes de reduzir o peso corporal.

Essa noção contrasta com o chamado paradoxo da obesidade, segundo o qual pessoas que vivem com sobrepeso ou obesidade e com doenças cardiovasculares podem ter um prognóstico melhor em comparação com pacientes magros (IMC < 25 kg/m2).

No entanto, a associação ecológica entre as mudanças no peso corporal induzidas pelos medicamentos experimentais testados em CVOTs e sua proteção contra doenças cardiovasculares apoia nossa hipótese (ou seja, o papel positivo de uma massa gorda diminuída na inflamação de baixo grau [defesa] e manutenção).

Em pacientes com diabetes tipo 2, uma análise incluindo seis ensaios com 57 553 participantes, aleatoriamente designados para inibidores de SGLT2 versus placebo, apresentou um risco relativo 12% menor de MACE.

Além disso, os inibidores de SGLT2 reduziram significativamente o risco de desfechos renais compostos em 36–41%.

Estudos do mundo real confirmaram amplamente esses benefícios relevantes dos inibidores de SGLT2 e agonistas do receptor de GLP-1.

Uma diminuição significativa nos desfechos cardíacos e renais foi observada em pacientes com doença renal crônica, independentemente da presença de diabetes.

Além disso, entre os pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida ou preservada, independentemente da presença de diabetes, os inibidores de SGLT2 reduziram a hospitalização por insuficiência cardíaca em aproximadamente 30% e reduziram a morte cardiovascular em 14%.  

Portanto, embora os benefícios dos agonistas do receptor de GLP-1 para pessoas sem diabetes ainda aguardem investigação, parece que a proteção conferida pelos inibidores de SGLT2 se estende além do diabetes a duas outras condições interconectadas, ou seja, insuficiência cardíaca e doença renal crônica.

Notavelmente, essas duas condições são cada vez mais reconhecidas como parte de um continuum cardio-renal-metabólico, pois estão intimamente ligadas à obesidade e ao dismetabolismo e apresentam inflamação de baixo grau.

Quaisquer que sejam os mecanismos em ação, a maioria dos pesquisadores concorda que os agonistas do receptor GLP-1 e os inibidores de SGLT2 diminuem o risco de doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 além de sua eficácia na redução da glicose.

Notavelmente, esses medicamentos beneficiam o peso corporal (melhorando a manutenção) e têm o potencial de reduzir a inflamação de baixo grau (melhorando a defesa), abordando assim dois componentes cruciais da história de vida.

• Manutenção

De acordo com a teoria da história de vida, a manutenção é necessária para garantir a homeostase corporal (ou seja, a manutenção ativa das características qualitativas e quantitativas do sistema dentro da faixa desejada).

A manutenção é vital para preservar características de saúde, como compartimentação espacial, consistência ao longo do tempo e uma resposta adequada ao estresse.

Em humanos, espera-se que o investimento em energia na manutenção somática varie de acordo com as necessidades ecológicas.

Um estilo de vida incongruente, que ocorre frequentemente em países industrializados de alta renda, favorece o alto investimento energético na manutenção somática, traduzindo-se em efeitos negativos na reprodução e longevidade.

Assim, comportamentos não saudáveis, como superalimentação e sedentarismo físico, podem aumentar o risco cardiovascular e reduzir a longevidade.

Como ocorre com a obesidade, a expansão do tecido adiposo impõe um custo de manutenção desproporcionalmente alto com efeitos prejudiciais ao estado de saúde.

Medicamentos que trazem benefícios para a perda de peso, como agonistas do receptor de GLP-1 e inibidores de SGLT2, podem reduzir o risco relacionado à obesidade por atuarem positivamente nesse elemento da história de vida.

Embora os mecanismos que induzem a perda de peso sejam diferentes entre as duas classes, dados do mundo real e de ensaios sugerem que, em média, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem atingir graus semelhantes de perda de peso.

Os agonistas do receptor GLP-1 são considerados os agentes redutores de glicose mais potentes, pois podem diminuir a HbA1c em 2%, juntamente com uma perda substancial de peso corporal.

A capacidade dos agonistas do receptor GLP-1 para induzir a perda de peso foi confirmada em diferentes espécies.

Embora parte do efeito sobre a saciedade possa ser mediado pela diminuição da motilidade gástrica, eles atuam principalmente nos circuitos de controle do apetite – ou seja, os sistemas de controle evoluíram para garantir recursos energéticos do ambiente.

Os agonistas do receptor GLP-1 ativam a sinalização de saciedade dentro do SNC e simultaneamente estimulam as vias de sinalização que reduzem a ingestão de alimentos.  

Estudos em roedores alimentados aos pares também sugerem que a administração de agonistas do receptor GLP-1 pode aumentar o gasto energético, embora esse efeito não tenha sido comprovado em humanos.

Os agonistas do receptor GLP-1 podem diminuir o gasto total de energia em humanos devido à perda de peso, reduzindo assim a quantidade de energia necessária para manter a massa corporal.

Um polipeptídeo insulinotrópico de glicose duplo e um agonista de GLP-1 (tirzepatide) podem representar uma abordagem mais potente para a perda de peso do que os agonistas do receptor de GLP-1 sozinhos.

O principal mecanismo de ação dos inibidores de SGLT2 é a inibição da reabsorção renal de glicose no túbulo contorcido proximal, causando glicosúria e perda calórica em torno de 400 kcal por dia.

A leitura clínica é uma melhora do controle glicêmico, pressão arterial e redução do peso corporal em uma média de 2-3 kg, possivelmente limitada pela ingestão alimentar compensatória.

Dada a sua capacidade de causar perda de peso, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem melhorar profundamente os programas de manutenção, modificando um dos elementos cruciais do trade-off da história de vida e, assim, melhorando os resultados.

Um ponto importante contra nossa hipótese é que a redução de MACE em CVOTs não parece ser mediada pela extensão da perda de peso, enquanto as análises de mediação identificam consistentemente a redução na HbA1c e albuminúria por agonistas do receptor GLP-1 como os principais contribuintes.

Em contraste, os biomarcadores relacionados aos glóbulos vermelhos parecem mediar a maior parte da proteção cardiorrenal pelos inibidores de SGLT2, com o peso corporal fornecendo uma contribuição menor.

No entanto, esses resultados foram obtidos por análises de mediação, que podem ser influenciadas pela estrutura das variáveis ​​consideradas, pelo óbito dos pacientes antes da avaliação do mediador e pela confusão pós-tratamento do efeito do mediador por outros mediadores, e são  intrinsecamente incapaz de definir relações de causa e efeito.

Estudos clínicos e experimentais ilustram que a perda de peso melhora substancialmente a secreção e ação da insulina, resultando em melhor controle glicêmico, e pode melhorar a albuminúria, possivelmente por atenuar a inflamação sistêmica.  

Mesmo uma pequena redução no peso tende a melhorar o resultado de indivíduos que vivem com obesidade, e espera-se que ajustar um mediador candidato a montante por seus efetores a jusante anule seu papel como mediador do resultado.

Portanto, as análises de mediação atuais não podem excluir firmemente uma contribuição causal da perda de peso na eficácia cardiovascular dos agonistas do receptor de GLP-1 e dos inibidores de SGLT2.

Em geral, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2, cada um com mecanismos e magnitudes diferentes, podem reduzir o peso corporal e a massa gorda, restringindo assim a carga do excesso de gordura no gasto e manutenção de energia.

Este efeito é de particular interesse na idade adulta, quando a atividade física tende a diminuir, pois a perda de peso corporal pode induzir os pacientes a aumentar sua atividade física, contribuindo para mecanismos de reparo e manutenção bem conhecidos.

O relatório de 2021 sobre o uso de agonistas do receptor GLP-1 em jovens (de 10 a <18 anos) com diabetes tipo 2 revela a possibilidade de que esses compostos também possam afetar o crescimento e a reprodução.

Finalmente, reconhecemos que não apenas a quantidade de gordura corporal, mas também sua composição e distribuição, podem influenciar a manutenção.

Tanto os agonistas do receptor GLP-1 quanto os inibidores de SGLT2 podem reduzir a gordura visceral, gerando benefícios cardiometabólicos previsíveis.

Um aumento da gordura não visceral, apesar de teoricamente alocar mais energia para manutenção, não produziria o mesmo efeito prejudicial e, se combinado com uma redução da inflamação (como pode ocorrer durante o tratamento com pioglitazona), pode ser parcialmente protetor.

• Defesa

A inflamação é uma resposta combinada à infecção ou lesão e é comumente ativada em perturbações da homeostase tecidual.

Assim, o sistema imune inato é um requisito fundamental para a sobrevivência.

A imunidade e o metabolismo são integrados e dependentes um do outro; nos casos de ruptura dessa interface, como ocorre no diabetes e na obesidade visceral, sobrevém a inflamação de baixo grau.

Essa condição tem uma dupla implicação: está associada ao comprometimento das respostas imunes inata e adaptativa, exacerbando reações imunes indesejadas e contribui para o risco cardiovascular.

Verificou-se que o tratamento com agonistas do receptor de GLP-1 reduz o fator de necrose tumoral-α, estresse oxidativo e inflamação nas células endoteliais.

Os agonistas do receptor GLP-1 podem remodular a resposta imune inata perturbada em pacientes com diabetes tipo 2, que não se limita apenas ao tecido adiposo, mas também se manifesta no cérebro, sistema cardiovascular, fígado, intestino e rins.

Os agonistas do receptor de GLP-1 foram sugeridos para beneficiar indivíduos expostos à infecção por SARS-CoV-2, normalizando a glicose plasmática, diminuindo a massa gorda e induzindo efeitos anti-inflamatórios e imunorreguladores em vários órgãos.

Os inibidores de SGLT2 podem exercer uma atividade anti-inflamatória proeminente.

Vários relatórios indicam que os inibidores de SGLT2 diminuem a inflamação em modelos celulares, um modelo cardíaco de roedores e evidências de modelos humanos e de roedores sugerem que os inibidores de SGLT2 podem melhorar a função renal reduzindo as armadilhas extracelulares de neutrófilos, modificando a microbiota intestinal e inibindo o inflamassoma.

Os inibidores de SGLT2 também demonstraram modificar a polarização dos macrófagos de M1 pró-inflamatório para M2 anti-inflamatório e estimular o gasto de energia de todo o corpo através da ativação de AMPK e aumento da expressão da proteína de desacoplamento 1 no tecido adiposo marrom e branco.

Os inibidores de SGLT2 parecem resgatar o reparo vascular em um modelo de diabetes de camundongos C57 e BL6, modulando o sistema hematopoiético e favorecendo o recrutamento local de células imunes inatas.

Notavelmente, o estresse hematopoiético está emergindo como um mediador dos efeitos da inflamação em defeitos ao longo da vida na manutenção e regeneração dos tecidos.

Uma atividade anti-inflamatória consistente de inibidores de SGLT2 também foi observada em humanos.  

A administração de inibidores de SGLT2 está associada a uma redução das concentrações circulantes do fator de diferenciação de crescimento-15 (um marcador de inflamação), molécula-1 de lesão renal (um marcador de lesão tubular) e resposta anti-inflamatória em leucócitos.

Os inibidores de SGLT2 também inibem o inflamassoma 3 contendo domínio de pirina e a subsequente liberação de IL-1β.

Em humanos, Paolisso e colegas encontraram concentrações de proteína C reativa significativamente mais baixas em usuários de inibidores de SGLT2 em comparação com não usuários, e Nishimiya e colegas encontraram um declínio consistente na proteína C reativa em humanos após 6 meses de tratamento com canagliflozina.

Em uma metanálise sistemática, Bray e colegas relataram uma diminuição consistente da proteína C reativa em pacientes com diabetes tipo 2.

Evidências iniciais suportam um efeito anti-inflamatório dos inibidores de SGLT2, mesmo em indivíduos sem diabetes, especialmente na presença de insuficiência cardíaca.

No contexto da história de vida, o aumento da concentração de corpos cetônicos observado durante a terapia com inibidores de SGLT2 pode ser teleologicamente importante: na presença de um trade-off alterado entre manutenção e defesa, corpos cetônicos originados de ácidos graxos podem ser vistos como um sinal de resgate.

A oxidação dos corpos cetônicos não só está associada a uma proporção vantajosa de ATP para oxigênio, mas também medeia a inibição do inflamassoma por inibidores de SGLT2 e imita a capacidade dos inibidores de SGLT2 de melhorar o reparo vascular.

Em conclusão, há evidências consistentes de que os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem ajudar a corrigir o componente de defesa, reduzindo o peso corporal e promovendo uma atividade anti-inflamatória.

• Conclusões

Nesta Visão Pessoal, descrevemos os efeitos positivos dos agonistas do receptor GLP-1 e dos inibidores de SGLT2 no sistema cardiovascular e sugerimos que eles podem ser responsáveis, pelo menos em parte, por um efeito benéfico em dois elementos básicos da vida biológica:  manutenção e defesa.

Embora as duas classes de medicamentos sejam diferentes, buscamos destacar sua capacidade de reequilibrar a história de vida, atuando no peso corporal e na inflamação, mas com modos de ação notavelmente diferentes.

Diabetes e obesidade têm um compromisso prejudicado entre esses dois componentes-chave da teoria da história de vida.

Os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem modificar positivamente a manutenção e a defesa, reduzindo o peso corporal e a inflamação de baixo grau.

Reconhecemos que os efeitos sobre o peso corporal e a inflamação por si só podem não explicar todo o seu espectro e extensão da proteção contra doenças cardiovasculares.  

No entanto, acreditamos que nossa interpretação tem dois pilares: (1) obesidade e inflamação de baixo grau são fatores de risco bem reconhecidos para doenças cardiovasculares; (2) a teoria da história de vida ajuda a entender como as estratégias de alocação de energia ao longo da vida podem modificar a trajetória da doença cardiovascular e como a doença cardiovascular pode ser potencialmente modificada com medicamentos hipoglicemiantes.  

Outras classes de medicamentos para diabetes têm efeitos especulativos e putativos sobre os componentes da teoria da história de vida (uma lista não exaustiva desses efeitos pode ser encontrada na tabela).

Essa estrutura não convencional pode ser fundamental para uma interpretação holística dos resultados associados ao uso de medicamentos para diabetes existentes e novos.


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II Consenso de recomendação do ácido docosaexaenoico (DHA) durante a gestação e a infância.

O DHA é parte da família dos ácidos graxos ômega-3. O ômega-3 junto com os ácidos graxos ômega-6 são as duas grandes famílias que compõem os ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs). Os principais elementos da família ômega-3 são os ácidos linoleico (ALA), os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e DHA. 

O ALA é um ácido graxo essencial, ou seja, não é sintetizado pelo nosso organismo, e precisa ser adquirido através da alimentação. E serve de substrato para a síntese endógena de EPA e DHA. Entretanto essa síntese não é suficiente para fornecer toda a necessidade desses ácidos graxos, o que nos leva a considerar o DHA como ácido graxo semi essencial. 

Os ácidos graxos ômega-3 exercem um importante papel em várias funções biológicas do organismo. Nas crianças, está envolvido com o desenvolvimento neurológico e da retina. Durante a gestação está associado a desfechos como peso ao nascer, prematuridade e diabetes gestacional. Além das outras associações no risco cardiovascular e doenças degenerativas neurológicas. 

As principais fontes de DHA e EPA são peixes de origem marinha e algas, como salmão, atum, sardinha e manjuba. Alimentos de consumo abaixo do necessário pela população brasileira em decorrência de inúmeros fatores entre eles falta de orientação, altas taxas dos produtos e dificuldades de acesso pela população distante do litoral. 

A importância dos ácidos graxos para nosso organismo e a dificuldade de obtê-lo através da dieta brasileira, nos leva muitas vezes a necessidade de suplementação. E nesse contexto, o atual consenso avalia a necessidade e recomendação de suplementação durante o período gestacional. 

Na saúde da mulher, sabe-se da importância de níveis adequados de DHA para o processo da reprodução e concepção. E durante a gestação são nutrientes importantes para o desenvolvimento neurológico fetal, uma vez que representa 80% de todos os ácidos graxos do sistema nervoso central e retina. 

A última revisão da Cochrane endossa a importância do DHA na gestação. Com 70 ensaios clínicos randomizados e 19.927 indivíduos, o aumento da ingesta de ômega 3 reduziu em 11% o risco de parto pré-termo antes de 37 semanas (RR 0,89, IC 95% 0,81 – 0,97) e em 42% o risco de parto pré-termo antes de 34 semanas (RR 0,58, IC 95% 0,44 – 0,77). Nessa mesma revisão, encontrou-se um aumento no risco de pós datismo acima de 42 semanas (RR 1,61, IC 95% 1,11 – 2,33) e não mostrou associação com outros desfechos obstétricos como morte perinatal, pré-eclâmpsia e diabetes mellitus gestacional. 

Diante das informações na literatura médica até o presente, a ABRAN sumariza as seguintes conclusões e recomendações.

Conclusões da ABRAN
  • Consumo de DHA durante a gestação aumenta a cognição na prole. 
  • A suplementação de DHA durante a gestação pode ter um efeito positivo sobre o desenvolvimento cognitivo e visual do feto. Entretanto, o uso em larga escala apresenta resultados conflitantes e o uso em populações de alto risco para deficiência parece mais plausível. 
  • A concentração de DHA no leite materno é dependente do status nutricional da nutriz. 
  • Uma dieta balanceada em ômega-3 parece ser benéfica na infertilidade feminina, apesar da necessidade de maiores evidências. 

Recomendações da ABRAN
Os profissionais de saúde deveriam investigar a ingestão de DHA de seus pacientes, estabelecendo o status nutricional desse nutriente e o risco de deficiência. 
A suplementação de 2 a 4 g de EPA + DHA deve ser considerada como parte do tratamento de dislipidemias com valores sanguíneos de triglicerídeos acima de 500 mg/dl. 
A orientação nutricional para consumo de ômega-3 é de 3 porções de 120 g por semana. Entretanto tomando cuidado com as fontes de ômega-3, pelo risco de contaminação de peixes com metais pesados. 
Recomenda-se a ingestão de 200 mg de DHA durante a gestação e lactação. Considerando o baixo consumo no Brasil, recomenda-se a suplementação de 200 mg a todas as gestantes e lactantes.