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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O aumento da prevalência de obesidade nas capitais

Em 2006 o Ministério da saúde iniciou uma pesquisa denominada Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico). Ocorre anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. 

As entrevistas ocorrem via inquérito por telefone, realizado anualmente em amostras da população adulta (>18) residente em domicílios com linha de telefone fixo. Quais temas o Vigitel aborda? 

Os indicadores avaliados pelo Vigitel estão dispostos nos seguintes assuntos: 
  • Tabagismo;
  • Excesso de peso e obesidade;
  • Consumo alimentar;
  • Atividade física;
  • Consumo de bebidas alcoólicas;
  • Condução de veículo motorizado após consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas;
  • Autoavaliação do estado de saúde;
  • Prevenção de câncer;
  • Morbidade referida. 
A duração média para responder ao questionário é de 12 minutos. Importante destacar, também, que algumas perguntas realizadas não são diretamente sobre saúde, mas são muito importantes para serem relacionadas com a situação da saúde da população.

No Vigitel de 2020, a prevalência de obesidade nas capitais ficou da seguinte maneira, conforme a figura abaixo.


E o que isso nos fazer refletir ?

Que a obesidade tem se tornado cada vez mais prevalente nas capitais brasileiras. Em 2020, foram registrados 21,5% dos adultos com obesidade, contra 20,3% em 2019. Manaus (24,9%), Cuiabá (24%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram a incidência de obesidade nas capitais. E o que preocupa a ciência é que até 2011, nenhuma capital tinha uma prevalência de obesidade acima de 20%, enquanto em 2020 o Vigitel levantou 16 capitais com prevalência de obesidade acima de 20%. 

Quais fatores estão envolvidos ?

Há quem acredite que isso tenha piorado com a pandemia. Sim, estamos em uma pandemia há 2 anos mas a prevalência já vinha aumentando. A pandemia pode ter exacerbado o que já vinha piorando. E falar de fatores de riscos, gatilhos em obesidade é bem complexo.

Centenas de fatores podem estar relacionados mas na nossa reflexão hoje abordaremos temas pouco discutidos e que geram uma grande contribuição.

A poluição ambiental
O estresse crônico
A violência
O sedentarismo

A princípio esses gatilhos parecem desconectados, mas a medida que se analisa de forma "sociológica" percebemos uma inter-relação entre eles. 

A poluição ambiental engloba tanto a poluição do ar (obviamente maior em capitais) quando poluição do solo, poluição sonora, poluição visual. 

A poluição do ar está relacionada a piora de várias patologias (Alzheimer, doenças pulmonares, cardiovasculares, alérgicas) e também obesidade. Mecanismos ainda não bem elucidados mas acredita-se que seja por disrupção endócrina e/ou exacerbaçao da inflamação subclínica. 

A poluição do solo inclui também a poluição da água. Metais tóxicos, poluentes orgânicos persistentes (POPs), disruptores endócrinos. Ou seja, substâncias que de forma direta ou indireta podem ocasionar doenças, exacerbar outras e com isso alterar a parte endócrina. Tema há décadas negligenciado no Brasil e que na Europa ganha cada vez mais força. 
 
A poluição sonora assim como a poluição visual favorecem uma hiperativação do eixo pituitária-adrenal e com isso elevação crônica e persistente dos níveis de cortisol e noradrenalina. O que de forma indireta poderiam influenciar os adipócitos, desbalanço nos níveis de hormônios relacionados ao apetite (Grelina) e saciedade e gasto energético (leptina). 

O estresse crônico pode ter inúmeros fatores causais:
Trânsito
Desigualdade social
Violência
Apreensão quanto ao futuro
Menor contato com a natureza
Menor tempo disponível para lazer
Alta carga de trabalho
Redução do número de horas de sono

Tudo isso interage e favorecem hiperativação do eixo pituitária-adrenal. Ou seja, elevação crônica do cortisol. 

Combina-se a tudo isso, um maior sedentarismo, influenciado pela violência, distância entre pontos dentro das cidades, transporte público precário e/ou ineficaz, comodidade. 

Os fatores acima ainda facilitam o consumo de alimentos ultraprocessados: cereja do bolo!

Ou seja, os fatores que vem favorecendo maior prevalência da obesidade nas capitais são inúmeros. Enquanto autoridades sanitárias não se atentarem a isso, veremos os índices subirem. Com consequente estrangulamento do sistema público/privado de saúde. 

Autores:
Dr. Frederico Lobo - CRM 13192, RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.

Fontes:

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Pacientes que tomam medicamento experimental para obesidade perderam mais de 22 quilos, afirma fabricante

Os dados ainda não foram revisados ​​por pares ou publicados.  Mas especialistas disseram que a droga pode dar às pessoas com obesidade uma alternativa à cirurgia bariátrica.

Um medicamento experimental permitiu que pessoas obesas ou com sobrepeso perdessem cerca de 22,5% de seu peso corporal, cerca de 22 quilos em média, em um grande teste, anunciou o fabricante do medicamento na quinta-feira.

A empresa, Eli Lilly, ainda não enviou os dados para publicação em uma revista médica revisada por pares ou os apresentou em um ambiente público. Mas as alegações, no entanto, surpreenderam os especialistas médicos.

“Uau (e um duplo Uau!)” Dr. Sekar Kathiresan, executivo-chefe da Verve Therapeutics, uma empresa focada em medicamentos para doenças cardíacas, escreveu em um tweet. Drogas como a de Eli Lilly, ele acrescentou, “realmente vão revolucionar o tratamento da obesidade!!!”

Dr. Kathiresan não tem vínculos com a Eli Lilly ou com a droga.

Dr. Lee Kaplan, especialista em obesidade do Hospital Geral de Massachusetts, disse que o efeito da droga “parece ser significativamente melhor do que qualquer outro medicamento anti-obesidade atualmente disponível nos EUA”. Os resultados, acrescentou, são “muito impressionantes”.

Dr. Kaplan, que presta consultoria para uma dúzia de empresas farmacêuticas, incluindo a Eli Lilly, disse que não estava envolvido no novo teste ou no desenvolvimento desta droga.

 Em média, os participantes do estudo pesavam 105 quilos no início e tinham um índice de massa corporal, ou IMC.  — uma medida comumente usada de obesidade — de 38. (A obesidade é definida como um IMC de 30 e superior.)

No final do estudo, aqueles que tomaram as doses mais altas do medicamento Eli Lilly, chamado tirzepatide, pesavam cerca de 82 quilos e tinham um IMC. pouco abaixo de 30, em média.

Os resultados excedem em muito aqueles geralmente vistos em ensaios de medicamentos para perda de peso e geralmente são vistos apenas em pacientes cirúrgicos.

Alguns participantes do estudo perderam peso suficiente para cair na faixa normal, disse o Dr. Louis J. Aronne, diretor do programa abrangente de controle de peso do Weill Cornell Medical Center, que trabalhou com Eli Lilly como investigador principal do estudo.

A maioria das pessoas no estudo não se qualificou para a cirurgia bariátrica, que é reservada para pessoas com IMC. mais de 40, ou aqueles com um B.M.I. de 35 a 40 com apnéia do sono ou diabetes tipo 2.

O risco de desenvolver diabetes é muitas vezes maior para pessoas com obesidade do que para pessoas sem ela.

Uma porta-voz da Eli Lilly disse que a empresa não tem um cronograma público para buscar a aprovação do medicamento junto à Food and Drug Administration.

Como a obesidade é uma condição médica crônica, os pacientes precisariam tomar tirzepatide por toda a vida, como fazem com medicamentos para pressão arterial ou colesterol, por exemplo.

Dr. Robert F. Kushner, especialista em obesidade da Faculdade de Medicina Feinberg da Northwestern University e consultor pago da Novo Nordisk, disse que o novo medicamento, juntamente com um similar, mas menos eficaz, da Novo Nordisk, pode fechar a chamada lacuna de tratamento.

Dieta e exercício, combinados com medicamentos anteriores para obesidade, geralmente produzem uma perda de peso de cerca de 10% nos pacientes. Isso é suficiente para melhorar a saúde, mas não o suficiente para fazer uma grande diferença na vida das pessoas obesas.

O único outro tratamento é a cirurgia bariátrica, que pode resultar em perda de peso substancial. Mas muitas pessoas são inelegíveis ou simplesmente não querem a cirurgia.

Com a droga da Eli Lilly e a semaglutida da Novo Nordisk, que foi recentemente aprovada, “estamos realmente à beira de uma nova forma de tratamento”, disse Kushner.

Mas os preços podem ser uma barreira. As seguradoras geralmente não pagam por medicamentos para perda de peso. O medicamento da Novo Nordisk, cuja marca é Wegovy, tem um preço de tabela de US$ 1.349,02 por mês.

Especialistas temem que a tirzepatide, se aprovada, possa ter um preço na mesma faixa. Muitas pessoas que mais poderiam se beneficiar da perda de peso podem não ter condições de pagar esses medicamentos caros.

O estudo da Eli Lilly durou 72 semanas e envolveu 2.539 participantes. Muitos se qualificaram como obesos, enquanto outros estavam acima do peso, mas também apresentavam fatores de risco como pressão alta, níveis elevados de colesterol, doenças cardiovasculares ou apneia obstrutiva do sono.

Eles foram divididos em quatro grupos. Todos receberam aconselhamento dietético para reduzir a ingestão de calorias em cerca de 500 por dia.

Um grupo foi aleatoriamente designado para tomar um placebo, enquanto os outros três receberam doses de tirzepatide variando de 5 miligramas a 15 miligramas. Os pacientes se injetavam com a droga uma vez por semana.

Aqueles que tomaram a dose mais alta perderam mais peso, descobriram os pesquisadores. Os participantes que tomaram placebo perderam 2,4% de seu peso, uma média de 2,5 quilos, típico de um estudo de dieta.

A Dra. Nadia Ahmad, diretora médica sênior do programa de obesidade da Eli Lilly, disse que ver os resultados foi um momento emocionante para ela.

“Acho que nunca imaginei que poderíamos atingir esse grau de perda de peso com um remédio”, disse ela. “Só chegamos até aqui com a cirurgia.”

Durante décadas, as pessoas com sobrepeso ou obesidade foram informadas de que resolver o problema dependia delas. Dieta e exercício eram as prescrições, e simplesmente não funcionavam para muitas pessoas. A maioria tentou dieta após dieta, apenas para recuperar o peso perdido.

No ano passado, a situação começou a mudar quando a Novo Nordisk recebeu aprovação da Food and Drug Administration para comercializar a semaglutida. A droga pode provocar uma perda de peso de 15% a 17% em pessoas com obesidade.

Os medicamentos estão entre uma nova classe de drogas chamadas incretinas, que são hormônios naturais que retardam o esvaziamento do estômago, regulam a insulina e diminuem o apetite. Os efeitos colaterais incluem náuseas, vômitos e diarréia.  Mas a maioria dos pacientes tolera ou não se incomoda com esses efeitos.

As incretinas elevam o padrão para o tipo de perda de peso possível com drogas. Mas elas também  colocam questões difíceis sobre se a cirurgia bariátrica está se tornando uma relíquia do passado. Já existem novas versões de incretinas em desenvolvimento que podem ser ainda mais poderosas do que a droga Eli Lilly.

Mesmo sem elas, disse o Dr. Aronne, as reduções observadas com o medicamento Eli Lilly estão “quase na faixa da perda de peso cirúrgica”.

Alguns pacientes que fizeram cirurgia bariátrica descrevem resultados mistos. Sarah Bramblette, membro do conselho da Obesity Action Coalition, fez uma cirurgia bariátrica apenas para recuperar o peso.

Agora com 44 anos, ela pesava 226 quilos quando foi operada há 20 anos, o que lhe permitiu chegar a 115 quilos. Ao longo dos anos, porém, seu peso voltou para 222 quilos. Ela precisava de cirurgia cardíaca, mas era muito pesada para a mesa de operação. Dietas – e ela as tentou repetidamente – não ajudaram.

A semaglutida da Novo Nordisk permitiu que ela chegasse a 195 quilos. Agora, disse a Sra. Bramblette, ela gostaria de experimentar a droga Eli Lilly se ela estiver disponível.

"Confie em mim, eu não escolheria ser desse tamanho", disse Bramblette. "Eu preciso perder peso."


quinta-feira, 20 de junho de 2024

Paciente ativo e responsável



Cresci em uma família repleta de médicos. Pai médicos, tios, primos. Uma Medicina pautada em hierarquia. Manda quem pode (médico), obedece quem tem juízo (paciente). A figura do médico sempre foi colocada em um pedestal, endeusada, como se ele fosse o detentor supremo do conhecimento técnico científico da Medicina. 

Porém, a humanidade evolui. Com o advento da internet tivemos uma revolução da informação. Universalização do conhecimento e isso se por um lado foi péssimo por conta das fake news em saúde, por outro deu munição para os pacientes confrontarem médicos, questionarem o que antes era hierarquizado. Ou seja, se antes o médico "mandava" e o paciente "obedecia", hoje o paciente denominado Ativo e responsável, é portador de questionamentos sobre os seus sintomas, diagnóstico e tratamento. 

Mas onde quero chegar com esse papo? Na obesidade. 
Nenhuma outra doença, ao meu ver, precisa tanto de um paciente PAR. Mas na prática o que esses pacientes menos são é PAR. E o que seria um paciente PAR? Esse conceito muito difundido na Oncologia, também se enquadra na Nutrologia ou qualquer área que maneje doenças crônicas não transmissíveis. 

O paciente com postura PAR: assume a responsabilidade pelo seu tratamento e pela sua vida ou no mínimo, uma grande parte desse processo. Ele percebe que tem voz ativa, motivações e precisa agir para lutar contra a obesidade. 

Se a gente parte do pressuposto que a obesidade é uma Doença com 7 pontos primordiais:
  1. Crônica
  2. Recidivante
  3. Incurável
  4. Multifatorial na gênese
  5. Com forte componente genético, emocional
  6. Com necessidade de equipe multidisciplinar
  7. Abordagem nutricional, abordagem corporal (atividade física), medicamentosa e psicoterápica.
Entendemos que o paciente terá papel central no tratamento. Ou seja, ele precisa ser ativo e responsável. O papel do médico é dar as diretrizes, mas quem trilhará o caminho árduo será o paciente ativo e responsável. 

E por que estou falando sobre isso? Simplesmente, porque quando se trata de obesidade, a maioria dos pacientes querem ser emagrecidos. A última coisa que a maioria quer é ser ativo e responsável durante o processo. Infelizmente negligenciam a cronicidade da doença e a necessidade de vigilância eterna. Ou seja, muitos preferem negar que a doença é incurável e que precisa de tratamento dietético, medicamentoso, atividade física e muitas vezes acompanhamento psicoterápico. Esse é o paciente opostos, o passivo e irresponsável (PPI). 

Mas qual a finalidade de se ter uma postura PAR?
  • Estar mais informado sobre a própria doença (obesidade).
  • Ter um maior controle e participação nas escolhas e decisões. Qual abordagem dietética se enquadra mais na sua realidade financeira? Qual abordagem medicamentosa se encaixará melhor no seu padrão alimentar? 
  • Sentir-se mais seguro, confiante e preparado para enfrentar o tratamento e todas as decisões necessárias.
  • Saber lidar com as reais expectativas, principalmente na elaboração de metas a serem atingidas.
  • Assumir compromisso em seguir o que foi acordado: seja dieta, atividade física, uso de medicação. Check list de hábitos. 

E como posso ser um paciente mais PAR?

  • Diante do diagnóstico de obesidade, tenha calma e respire. Internalize que a obesidade é uma doença, que não tem cura, mas tem tratamento e controle. 
  • Essa doença impactará a sua vida e quanto mais precoce for a intervenção ( e duradoura), maiores as chances de sucesso. Durante um tempo, principalmente no primeiro ano, você sentirá que a vida perdeu o sentido, afinal fazer dieta não é legal. Principalmente para aqueles que possuem a comida como fonte central de prazeres. 
  • Leia sobre o tema, tenho um texto pautado em evidências científicas que ajuda os pacientes a terem um panorama melhor sobre a complexidade da obesidade: https://www.nutrologogoiania.com.br/doencas-e-a-nutrologia/obesidade/
  • Informe-se sobre todas as abordagens terapêuticas da obesidade, o texto acima pode te ajudar. Quanto mais você aprende sobre obesidade, mais você se sentirá confiante. Eduque-se, não tenha medo da informação, mas também não acredite em qualquer informação na internet. A maioria das informações em saúde que estão nas redes sociais, YouTube, sites não são informações confiáveis. Não é porque o médico tem muitos seguidores que ele é um bom médico. Podem ser seguidores comprados. Busque o currículo do médico que você escolheu para chamar de "seu". Primeiro veja se ele é realmente especialista, ou seja, se ele tem Registro de qualificação de especialista (RQE) em Nutrologia ou Endocrinologia. Segundo, veja se ele propaga tratamentos milagrosos ou questionados/proibidos pelo Conselho Federal de Medicina. Aqui uma lista de coisas que não fazem parte da Nutrologia e muita gente acha que faz: https://abran.org.br/imprensa/comunicado/comunicado-sobre-o-rol-de-procedimentos
  • Peça ao seu médico indicação de livros, sites, textos sobre o tema. Material que ele confia.
  • Antes das consultas anote todas as suas dúvidas no whatsApp. Questione o seu médico. Não tenha vergonha de perguntar, as vezes dúvidas que parecem bobas, podem ser determinantes no seu sucesso.
  • Solicite um número de telefone para que você possa ligar em casos de urgência.
  • Seja transparente com o médico sobre o seu estilo de vida, realidade financeira e principalmente sobre seus sintomas. Você deve contar ao médico sobre o seu histórico de doenças familiares, o médico deve examiná-lo e solicitar exames, de acordo com o seu caso. Se ele pediu determinado exame, faça. Ou seja, assuma a responsabilidade de agendar seus exames, consultas médicas e buscar os resultados. Não espere que façam isso por você. Mas, caso esteja fragilizado saiba que você pode pedir ajuda a alguém do seu círculo e não precisa passar por tudo isso sozinho.
  • Saiba que o planejamento semanal é um dos maiores determinantes do seu sucesso. Ou seja, tire um tempo para planejar as refeições.
  • Seja realista em relação ao tempo para obter resultados. Não se compare com outras pessoas, você é único e cada pessoa responde de uma forma à dieta e medicações. 
  • Crie o hábito de preencher Check list de hábitos, o bom médico que lida com obesidade sabe da importância desses check lists e recordatórios alimentares. 
  • O Médico/Nutricionista/Profissional da Ed. física/Psicólogo podem até dar as orientações, mas quem trilhará o caminho é você. Ou seja, se você acha que será emagrecido, melhor rever suas expectativas, você é o polo Ativo, você é o PAR. 

Autor: Dr. Frederico Lobo – Médico Nutrólogo – CRM-GO 13192 – RQE 11915 – CRM-SC 32949 – RQE 22416

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A obesidade e a hiperinsulinemia levam os adipócitos a ativar um programa do ciclo celular e a senescência

Resumo

A obesidade é considerada um fator importante para muitas doenças crônicas, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.

A expansão do tecido adiposo na obesidade é devida a um aumento tanto na diferenciação dos progenitores dos adipócitos quanto no tamanho das células dos adipócitos maduros.

Os adipócitos, no entanto, são considerados incapazes de se dividir ou entrar no ciclo celular.  

Demonstramos que os adipócitos humanos maduros inesperadamente exibem um gene e uma assinatura de proteína indicativa de um programa de ciclo celular ativo.

A progressão do ciclo celular dos adipócitos está associada à obesidade e hiperinsulinemia, com aumento concomitante do tamanho da célula, tamanho do núcleo e conteúdo de DNA nuclear.

A hiperinsulinemia crônica in vitro ou em humanos, entretanto, está associada à subseqüente saída do ciclo celular, levando a um perfil transcriptômico e secretor senescente prematuro nos adipócitos.  

A senescência prematura está rapidamente se tornando reconhecida como um importante mediador da disfunção tecidual induzida pelo estresse.

Ao demonstrar que os adipócitos podem ativar um programa do ciclo celular, definimos um mecanismo pelo qual os adipócitos humanos maduros senescem.

Mostramos ainda que, ao direcionar o programa do ciclo celular de adipócitos usando metformina, é possível influenciar a senescência dos adipócitos e a inflamação do tecido adiposo associada à obesidade.

• Principal

A obesidade está fortemente associada a uma infinidade de doenças metabólicas, incluindo resistência à insulina, diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia e aterosclerose.

Como tal, a obesidade é um dos maiores desafios de saúde que o mundo enfrenta hoje.

O tecido adiposo humano se expande predominantemente por meio da hipertrofia das células de gordura, com o aumento do tamanho dos adipócitos correlacionando-se fortemente com o índice de massa corporal (IMC) e os níveis de insulina circulante.

O volume de adipócitos humanos pode aumentar mais de 200 vezes durante sua vida. Ainda não está entendido, no entanto, como os adipócitos se adaptam a mudanças tão grandes de tamanho. Vários tipos de células no corpo humano usam a endoreplicação como um meio para acomodar grandes aumentos de tamanho.

Durante a endoreduplicação, células totalmente diferenciadas reentram no ciclo celular e sintetizam DNA, mas não se dividem, levando a células grandes com conteúdo de DNA aumentado, tamanho nuclear aumentado e / ou número nuclear.

Se tal mecanismo existe em adipócitos humanos não é conhecido.  

Demonstramos que os adipócitos humanos maduros, apesar de há muito serem considerados pós-mitóticos, são capazes de ativar um programa do ciclo celular em associação com obesidade e hiperinsulinemia, com aumento concomitante do tamanho celular e nuclear.

Além de seu papel no armazenamento de lipídios, os adipócitos também são secretores de adipocinas que têm um amplo impacto nas funções de todo o corpo.

Um padrão de secreção de adipócitos pró-inflamatórios é aumentado pela obesidade e consideravelmente pronunciado em grandes adipócitos;  no entanto, os mecanismos subjacentes que conectam a hipertrofia de adipócitos e a secreção pró-inflamatória permanecem pouco compreendidos.

Um programa celular que pode induzir um padrão secretor pró-inflamatório é a senescência prematura.

Em contraste com a senescência induzida pela idade, a senescência prematura é um bloqueio irreversível da progressão do ciclo celular induzido por estímulos estressantes, como forte ativação mitogênica, dano ao DNA ou disfunção mitocondrial.

A senescência prematura está emergindo rapidamente como um mecanismo patológico por trás de muitas doenças crônicas, com a depuração de células senescentes demonstrando melhorar a saúde metabólica.

Foi relatado que pré-adipócitos senescentes e células endoteliais contribuem para a patologia do tecido adiposo.

Embora observada em roedores, a natureza pós-mitótica presumida dos adipócitos os excluiu em grande parte da consideração como contribuintes para a patologia induzida pela senescência do tecido adiposo.

Aqui, identificamos um programa de ciclo celular ativo inesperado em adipócitos humanos maduros que, após estimulação mitogênica contínua (hiperinsulinemia crônica), resulta em um fenótipo senescente pró-inflamatório.

• Discussão

Um princípio central da biologia adiposa é que os adipócitos maduros são células pós-mitóticas, incapazes de reentrar no ciclo celular.

Na verdade, nenhuma evidência, incluindo nosso próprio estudo, apóia a noção de um processo mitótico proliferativo em adipócitos maduros.  

Mostramos, entretanto, que adipócitos humanos maduros são capazes de sintetizar DNA e passar pela fase S.

Em consonância com a hipertrofia dos adipócitos sendo o mecanismo predominante pelo qual a massa gorda aumenta, demonstramos que a progressão do ciclo celular se correlaciona com a obesidade e o estado hiperinsulinêmico e está associada a um aumento no tamanho celular e nuclear.

Além disso, demonstramos que os adipócitos humanos podem ser estimulados in vitro para progredir ao longo do ciclo celular, com um aumento concomitante no tamanho do núcleo e no conteúdo de DNA.

Os dados sólidos para a entrada no ciclo celular e a falta de evidência para mitose, sugerem um ciclo celular endoreplicativo, ao invés de mitótico.

A endoreplicação, também chamada de ciclo celular "pós-mitótico", está fortemente associada ao crescimento celular, com aumento do conteúdo genético e tamanho nuclear, características comuns de células endoreplicantes.

A capacidade dos adipócitos de ativar um programa do ciclo celular e endoreplicar pode conferir uma vantagem fisiológica a um tipo de célula que precisa passar por enormes aumentos de tamanho durante o desenvolvimento e ganho de peso.

A maioria dos outros tipos de células de mamíferos que sofrem hipertrofia celular ativa um programa endoreplicativo, com o aumento do conteúdo genético resultante pensado para permitir que as células aumentem e aumentem sua capacidade de produção de proteínas (hepatócitos e megacariócitos), transporte de nutrientes (células trofoblásticas gigantes e endosperma vegetal) ou armazenamento de nutrientes (corpo de gordura de Drosophila e células intestinais de C. elegans).

Os adipócitos podem ativar um programa endoreplicativo como parte de uma resposta celular normal, permitindo que se adaptem à obesidade e à hiperinsulinemia.

A estimulação mitogênica crônica, como hiperinsulinemia prolongada, entretanto, pode provocar uma resposta mais patológica.

A exposição contínua de adipócitos à hiperinsulinemia in vivo ou in vitro induziu a progressão do ciclo celular e iniciou um programa de células senescentes em adipócitos maduros.  

A senescência de adipócitos exibiu todas as características de senescência prematura, incluindo forte coloração SABG, perda de proteína HMGB1 nuclear, alta expressão de ciclina D1, aumento do tamanho celular e nuclear, expressão de p21 e p16 e uma resposta de dano contínuo ao DNA não resolvido visualizado por γ  Coloração -H2AX, embora não esteja associada à idade do participante.

Embora a senescência celular tenha sido tradicionalmente considerada um bloqueio irreversível para a progressão do ciclo celular em populações de células competentes para replicação, foi mais recentemente demonstrado que a exposição crônica à insulina induz a reentrada do ciclo celular e promove a senescência em células pós-mitóticas, incluindo hepatócitos, células beta e neurônios.

Nossos dados suportam um crescente corpo de evidências demonstrando que um sinal mitogênico prolongado, como a hiperinsulinemia crônica, mesmo em células não proliferativas, pode induzir a reentrada do ciclo celular, que, juntamente com o estresse celular, induz a senescência.

Identificamos a senescência de adipócitos e seu SASP pró-inflamatório associado como um novo contribuinte para a inflamação do tecido adiposo humano, que pode ser modulada in vitro pela manipulação da entrada e progressão do ciclo celular.  

Especulamos que uma eficiência de sinalização reduzida para alguns nódulos de sinalização de insulina pode facilitar uma maior intensidade de sinalização em vias de sinalização pró-mitogênica em vez de metabólica a jusante do receptor de insulina, sugerindo um mecanismo pelo qual a sinalização de insulina em indivíduos hiperinsulinêmicos pode provocar uma resposta senescente.

Com a obesidade causando ou exacerbando muitas doenças metabólicas e as taxas de obesidade continuando a aumentar em todo o mundo, é necessário um melhor entendimento da patogênese da doença e o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento.

O bloqueio da formação ou remoção de adipócitos senescentes pode ser uma estratégia terapêutica eficaz para o tratamento da obesidade, hiperinsulinemia e comorbidades associadas.

Estudos de transplante em camundongos demonstram que menos de 0,3% das células de senescência são necessárias para diminuir de forma robusta a função física e os resultados iniciais de um ensaio clínico em andamento mostram de forma encorajadora que o tratamento senolítico remove efetivamente as células senescentes do tecido adiposo humano.

Tomados em conjunto, mostramos como um aspecto não apreciado da biologia celular dos adipócitos, a capacidade dos adipócitos de ativar um programa do ciclo celular, contribui para a senescência celular e disfunção do tecido adiposo na obesidade e hiperinsulinemia e abre caminho para novas opções de tratamento.

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quinta-feira, 11 de maio de 2023

Fat Shame

 Fat Shame—Inside and Out
MaryAnn Dakkak, MD, MPH

Você sempre... sempre se parece com isso? O especialista em dor perguntou, acenando com as duas mãos em um círculo na frente do meu corpo. Eu sabia o que ele estava perguntando. Eu sempre fui tão gorda?

Eu vacilei. “Não, eu estive com esse peso apenas uma vez antes, mas geralmente vivo cerca de 10 a 13 quilos a menos do que isso confortavelmente.”

“Mas isso ainda não é aceitável”, disse ele.

“Eu sei,” eu disse.

Ele passou a me contar o que eu já sabia - a obesidade contribui para a inflamação e a dor. Minha mente foi para onde ouço as dúvidas de meus próprios pacientes, que a obesidade é a causa de todas as coisas más, todas as dores, todas as doenças. E foi além: por que ir ao médico se eles apenas apontam para o seu peso? É melhor ficar em casa e apenas lidar com isso.

Toda vez que vou a uma consulta médica, quero me desculpar pelo meu corpo. Minha obstetra é uma amiga da faculdade de medicina. Trabalhamos juntos por 7 anos. Nunca a ouvi mencionar o tamanho de alguém. Ela é estritamente imparcial. No entanto, toda vez que a vejo como paciente, luto contra o desejo de me desculpar por meu peso. Eu sei que ela não se importa, mas eu me importo com o meu tamanho para ela. Ainda não me livrei da culpa aprendida e do estigma contra as pessoas obesas.

Um mês antes da consulta com o especialista em dor, comecei a ter problemas para me vestir. Minha perna esquerda ficou difícil de levantar e tive dores no quadril. Meu filho de 10 anos começou a me ajudar a me vestir de manhã. Eu estava em uma conversa consistente com um anestesiologista e um neurologista, os quais esperavam que os sintomas desaparecessem com o tempo. Então, uma noite, desmaiei devido a fortes dores no quadril esquerdo. Fui ao pronto-socorro. Pedi repetidamente que examinassem minhas costas e minha perna. Ninguém me tocou. Como uma mãe pós-parto obesa que “é claro que tem dores nas costas”, simplesmente aceitei o diagnóstico. Eu internalizei o preconceito. No entanto, eu era mãe pela terceira vez e nunca havia sentido dor nas costas antes. Nunca tive dormência e formigamento. Mas mesmo assim, eu havia internalizado tanto o estigma em torno da obesidade que me questionei quando soube que essa dor não era normal. Não existe dor nas costas pós-parto “normal” que causa fraqueza e dormência em pacientes apenas porque são obesas.

Sem uma resposta da minha equipe médica ou do departamento de emergência, liguei para um amigo. Compartilhei minha experiência com outra mãe médica, uma amiga de anos, e ela veio imediatamente. Ela testou meus reflexos, notando que eu não tinha nenhum na perna esquerda. Ela finalmente conseguiu os cuidados médicos de que eu precisava no hospital onde ela trabalhava.

Foi uma equipe de amigos que cuidou de mim. Um colega de faculdade de medicina que imediatamente ligou para um cirurgião de coluna com quem treinou. Um amigo do ensino médio que era fisioterapeuta e sabia que eu tinha um limiar de dor incrivelmente alto. Um vizinho que sabia que eu trabalhava em todo o mundo e treinava para triatlos e era extremamente ativa apesar do meu corpo acima do peso. Todos eles me conheciam muito bem para apenas atribuir meus sintomas ao meu tamanho. Eles deram a força e as ferramentas para me ajudar a chegar onde estou agora - ainda obesa, mas sem dor crônica e de volta às caminhadas. Um de meus médicos deixou claro que um atraso maior na intervenção resultaria em uma incapacidade mais grave e permanente. Eu conecto diretamente minha obesidade e os atrasos nos cuidados médicos que encontrei.

Há alguns meses, após um ano de consultas para um programa intensivo de perda de peso, optei por uma gastrectomia vertical. Tomei essa decisão devagar, deliberadamente, como uma forma de aumentar minha funcionalidade física com minha perna esquerda, agora permanentemente mais fraca. Na semana anterior à cirurgia, tive uma sensação profunda e inquietante. Eu explorei e cheguei a isso: eu amava meu corpo do jeito que era, de todas as maneiras que tinha sido, e não queria que ninguém, inclusive eu, pensasse que estava fazendo uma cirurgia para perda de peso por causa de qualquer sentimento negativo sobre eu mesmo. Então, escrevi esta nota para mim, minha família e amigos:

Caro Corpo,

Você fez um ótimo trabalho. Você teve 3 bebês. Você viajou, caminhou e nadou por todo o mundo. Você trabalhou em campos de refugiados. Você mudou a vida das pessoas. Você tem um estômago forte e uma disposição forte. Você foi construído para sustentar. Você sofreu uma lesão na medula espinhal e se curou muito bem. Você está prestes a passar por algumas semanas difíceis para poder trabalhar ainda melhor e fazer mais coisas. Mas não é porque eu não te amo e não aprecio você por tudo que você me deu. Você é um corpo maravilhoso. E você ficará incrível depois e poderá fazer ainda mais!

Não vou postar fotos antes e depois. Não vou envergonhar meu corpo antes. Não glorificarei meu corpo depois. Meu corpo é incrível. Qualquer forma ou tamanho que seja.

À medida que os últimos 2 anos se desenrolaram, encontrei mais pacientes com obesidade em meu painel. Encontro mais pacientes com dor pós-lesão. Nunca tive como objetivo criar uma prática clínica em torno da obesidade, mas aqui estou. Uma paciente que teve um bebê no ano anterior disse: “Quero ser mais saudável para ele. Eu quero estar aqui para ele. Eu apenas sentei e ouvi. "Como é 'estar aqui para ele'?" Perguntei. Ela falou sobre se manter ativa. Ela falou sobre lutar para mover seu corpo. Ela aceitou um encaminhamento para uma clínica local de perda de peso e continuamos a trabalhar juntos para melhorar seu bem-estar geral. Especialmente com esse grupo de pacientes, eu ouço mais. Trabalho para eliminar o estigma e a dor que os pacientes experimentaram em nosso sistema de saúde. Eu me concentro na função e nos objetivos. Tento enquadrar a vergonha, o humor deprimido e a baixa autoestima como sintomas de estigma, não de obesidade.

Dois anos após minha visita ao pronto-socorro, continuo sendo uma médica obesa e levemente incapacitada. Minha perna esquerda sempre será mais fraca que a direita. No entanto, essa fraqueza me estimulou a me concentrar em minha função geral e, ao longo desse caminho, na perda de peso e em outros objetivos. Quanto tempo posso andar sem espasmos nas pernas? Posso pedalar um pouco mais? Me sinto forte (assim como me sentia em todos os meus tamanhos) e continuo construindo minha visão do meu corpo com base em sua funcionalidade e no que ele oferece a mim e à minha família.

Os dados sobre o estigma médico da obesidade são condenatórios. Uma pesquisa com estudantes de medicina publicada em 2018 relatou que 74% achavam que a obesidade resultava da ignorância e 28% achavam que as pessoas com obesidade eram preguiçosas. 

Pesquisas semelhantes com médicos ambulatoriais sugerem que cerca de metade tem vieses de obesidade e muitos se sentem despreparados para aconselhar e/ ou tratar a obesidade. Além disso, os pacientes com obesidade são mais propensos a atrasar ou adiar as consultas de saúde.

Enquanto continuo a trabalhar na função do meu corpo físico, outro papel que tenho é como educadora médica e membro do corpo docente. 

Criar e promover um currículo focado em entender e desarmar nossos vieses aprendidos são necessários para fornecer o melhor atendimento a todos os pacientes, independentemente do tamanho.


“Compartilhar é se importar”
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
twitter: @albertodiasf instagram: diasfilhoalberto

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Obesidade causa o encolhimento do cérebro, diz estudo

Pesquisadores americanos mostraram que a inflamação crônica causada pela obesidade no organismo pode ser responsáveis pela diminuição do tamanho do cérebro. Quanto maior sua cintura, menor seu cérebro. Esta é a conclusão de um grupo de pesquisadores da New York University School of Medicine, liderado por Antonio Convit. A literatura científica já provou que a obesidade está ligada à diabetes tipo 2, que é associada ao comprometimento cognitivo. O grupo desejava descobrir o impacto da obesidade sobre a estrutura física do cérebro. Com a ajuda da ressonância magnética, a equipe compararou o cérebro de 44 obesos com o de 19 pessoas magras da mesma idade e background semelhante.

Eles descobriram que os obesos têm mais água na amígdala, parte do cérebro envolvida no comportamento alimentar. Já o córtex orbitofrontal é menor em indivíduos obesos. Essa área do córtex é importante para controlar o impulso e também está envolvida com os hábitos alimentares. "Isso pode significar que existem neurônios a menos, ou que esses neurônios estão contraídos", diz Convit. A obesidade também está associada a um estado crônico de inflamação no organismo, inclusive no hipotálamo, estrutura chave para a alimentação. Isso poderia explicar a mudança no tamanho do cérebro.

Este é o primeiro estudo a relatar que a inflamação oriunda da obesidade pode diminuir a integridade de algumas estruturas cerebrais envolvidas no comportamento alimentar. O trabalho foi publicado no dia 8 de janeiro na New Scientist.

A obesidade atinge 400 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, pelo menos 3,5 milhões de pessoas estão em estado de obesidade mórbida.

Além das constatações de perdas neurológicas apontadas no estudo, a obesidade provoca uma série de outros problemas, como diabetes tipo 2, que prejudica a sensibilidade das pessoas à insulina, resultando no acúmulo de açúcar no sangue. A falta da insulina provoca perturbações na atividade da dopamina (neurotransmissor que desempenha um papel importante na sensação de amor e prazer), podendo causar outros distúrbios cerebrais, como a depressão, doença de Parkinson, esquizofrenia, défcit de atenção e hiperatividade.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI201587-15257,00-OBESIDADE+CAUSA+O+ENCOLHIMENTO+DO+CEREBRO.html

sábado, 23 de outubro de 2021

Vitamina D x Obesidade

 


Às vezes pode parecer até cansativo a quantia de coisas que descobrimos estar relacionadas à obesidade, sendo causas ou consequências do excesso de peso. São tantos fatores, que parece difícil manter todos sob controle. Mas conhecer cada variável relacionada à obesidade nos ajuda a entender melhor os mecanismos relacionados ao ganho de peso e a compreender o quanto essa é uma doença complexa e multifatorial, que merece cuidado e atenção especializada.

Por exemplo, sabia que a obesidade está duplamente relacionada à deficiência de vitamina D?

Pessoas obesas tendem a ter baixos níveis de vitamina D

Pessoas com excesso de peso tendem a ter baixos níveis de vitamina D circulantes, comparados a pessoas não obesas. Vários estudos já comprovaram isso. Isso ocorre porque a vitamina D é lipossolúvel, o que significa que ela pode ser captada pelo tecido adiposo (gordura). Essas células de gordura atuam como depósito de vitamina D e liberam-na de forma muito mais lenta no organismo, fazendo com que os níveis séricos circulantes da vitamina sejam menores.

Quanto maior o índice de massa corporal da pessoa (IMC), maior a quantia de vitamina D de que ela precisará.

Constatou-se que a vitamina D está tão ligada a fatores metabólicos, que hoje ela é chamada até mesmo de “hormônio”. Suas funções no organismo são várias, e baixos níveis de vitamina D geram efeitos como piora da imunidade, redução dos mecanismos anti-inflamatórios do organismo, aumento do risco de doenças cardiovasculares e de osteoporose, entre outras doenças. Além de promover um estado de cansaço e fadiga crônicos e contribuir para o surgimento de infecções recorrentes, sonolência, dor nos ossos e nas costas, depressão, dificuldade de cicatrização, perda óssea, queda de cabelo e dor muscular.

Deficiência de vitamina D contribui indiretamente com o ganho de peso

A deficiência dessa vitamina, como tantos fatores relacionados à obesidade, é uma via de mão dupla. Não só a obesidade leva aos baixos níveis da vitamina D, como a deficiência de vitamina D contribui indiretamente para o obesidade.

Isso ocorre porque os baixos níveis de vitamina D induzem a ativação de vários mecanismos inflamatórios, que produzem anormalmente substâncias pro-inflamatórias, chamadas de adipocinas. E essa desregulação inflamatória é o que leva ao desenvolvimento da obesidade.

Fontes de vitamina D

Como dito, pessoas obesas tendem a ter baixos níveis de vitamina D, por isso é importante que façam exames e acompanhamento dos seus níveis séricos dessa vitamina durante o tratamento para obesidade.

Além disso, a vitamina D pode ser adquirida de duas principais formas: pelo sol e pela alimentação. A absorção de luz solar pela nossa pele estimula a produção de vitamina D pelo organismo. Deve-se tomar quantidades suficientes de luz solar, com proteção e nos horários de luz menos intensa.

Além disso, é possível obter vitamina D através do consumo de certos alimentos como: salmão, ovo cozido, fígado de galinha, sardinha enlatada e óleo de fígado de bacalhau, dentro de uma dieta balanceada proposta pelo médico especialista.

Autor: Dr. Leônidas Silveira 
Médico Endocrinologista e Nutrólogo

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Existe paciente portador de obesidade saudável ?

Você já se perguntou se é possível ser “obeso e saudável?” Essa é uma afirmação comum. Mas que, infelizmente, não é bem verdade.

Essa ideia surgiu a partir de um estudo que afirmava que pessoas “metabolicamente compensadas”, sem doenças associadas à obesidade, poderiam ser considerados saudáveis. A partir disso, várias sugestões surgiram, como as que diziam que uma pessoa obesa que praticava atividade física poderia ser tão saudável quanto alguém dentro do peso.

Mas muitas controvérsias ajudaram a perceber que essa firmação, do ponto de vista da medicina e ciência, está errada.

Por que pessoas obesas não estão saudáveis?

A obesidade em si é uma doença crônica, por isso, dizer que alguém com obesidade está saudável é controverso.

Além disso, é preciso compreender que a ciência não afirma que magreza é sinônimo de saúde, mas o excesso de peso, por mais que não apresente sintomas em um primeiro momento, é um fator de risco à saúde de vários órgãos. Isso porque o tecido de gordura é como uma glândula inflamatória que gera um estado inflamatório subclínico crônico, que possui as pré-disposições necessárias ao desenvolvimento de várias doenças, como a resistência à insulina, alterações cardiovasculares e muitas outras.

Não apresentar nenhuma alteração nos exames de rotina mesmo estando obeso não quer dizer muita coisa. As doenças podem surgir futuramente como resultado de um processo cumulativo de exposição do organismo à obesidade.

E ainda, vale considerar que, se a pessoa for jovem ou tiver uma reserva metabólica funcional orgânica, o organismo dela consegue compensar as alterações provocadas pela obesidade. Mas, à medida que o tempo vai passando, e quanto mais tempo ela fica exposta à obesidade, mais a reserva funcional perde sua eficiência e assim ela passa apresentar as consequências à saúde acarretadas pelo excesso de peso.

O que fazer

Então, dizer que não existe obeso saudável é o mesmo que dizer que todo mundo precisa ser magro? Não! Definitivamente não é isso que a ciência diz.

O que precisamos é entender que não é a estética que está em jogo. Esteticamente falando, existem pessoas de todos os jeitos. Mas, do ponto de vista de saúde, cada pessoa que apresenta obesidade ou sobrepeso precisa ser avaliada e examinada individualmente por um especialista para que possa saber qual é o peso saudável de acordo com seu biotipo, sua condição corporal, genética e etc., e a partir disso tratar o excesso de peso de forma correta, através de orientações corretas e especializadas que têm por objetivo preservar sua saúde atual e prevenir riscos futuros, que virão, mesmo que ela não apresente nenhuma alteração no momento.

Mesmo sem ter diagnóstico de nenhuma doença como pressão alta, diabetes ou outra, pessoas com obesidade possuem 24% maior risco de morte prematura por problemas súbitos como infarto. Portanto, tratar a obesidade não é uma questão de competição para chegar ao peso ideal, é apenas o reconhecimento de uma condição prejudicial ao corpo, que necessita de atenção e tratamento.

Autor: 
Dr. Leônidas Silveira – CRM 52-86694-6
Médico especialista em Clínica Médica, Nutrologia, Endocrinologia e Metabologia.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Curso de Nutrologia para acadêmicos de Medicina (Programação, Inscrições)

Em 2025 voltaremos a ter o curso de Nutrologia para acadêmicos de Medicina. 

Abaixo a programação do curso de 2025. Serão cerca de 170 horas, duração de 2 anos, 100% EAD.
Público: Exclusivamente acadêmicos de Medicina do 4º ao 12º período.
Certificado: Presença em 75% das aulas. 
Valor: 3 caixas (12 leites cada caixa), destinadas ao meu grupo filantrópico (Filhos do Sr)
Aulas são via google meet, ao vivo. 
inscrições via e-mail: menutrologia@gmail.com (Enviar e-mail com Nome, Copia do comprovante de matrícula)
Para assistir algumas das aulas do último curso acesse: https://www.youtube.com/@DrFredericoLobo/videos
  1. Introdução à Nutrologia 
  2. Aspectos éticos da prática Nutrológica
  3. Nutrologia como especialidade médica
  4. Associação Brasileira de Nutrologia - O que é?
  5. Experiência como residente ou especializando em serviços de Nutrologia reconhecidos pela ABRAN
  6. Aula de experiência (USP-RP); Aula de experiência (USP);  Aula de experiência (Felicio Rocho); Aula de experiência IPSEMG); Aula de experiência (SSA); Aula de experiência (IAMSPE)
  7. Perspectivas profissionais da Nutrologia
  8. Aspectos éticos da prática Nutrológica
  9. Nutrologia e perícia judicial
  10. Digestão e absorção dos nutrientes, Produção de energia
  11. Necessidades energéticas e nutricionais básicas
  12. Anamnese nutrológica
  13. Avaliação do estado Nutrológico
  14. Exame físico em Nutrologia
  15. Métodos de avaliação corporal
  16. Laboratório em Nutrologia
  17. Nutrientes em Nutrologia: noções básicas para diagnóstico, prescrição
  18. Macronutrientes
  19. Metabolismo de Carboidratos
  20. Metabolismo de proteínas
  21. Metabolismo de lipídios
  22. B1
  23. B2
  24. B3
  25. B5
  26. B6
  27. B7
  28. B12
  29. Ácido fólico
  30. Vitamina C
  31. Vitamina A
  32. Vitamina D
  33. Vitamina E
  34. Vitamina K
  35. Ferro
  36. Cálcio
  37. Magnésio
  38. Fósforo
  39. Potássio
  40. Zinco
  41. Cobre
  42. Selênio
  43. Iodo, Boro, Cromo, Manganês
  44. Alumínio
  45. Sinais e sintomas de déficit nutricional
  46. Fibras alimentares
  47. Interação droga com nutrientes
  48. Prebióticos e Probióticos
  49. Crononutrição
  50. Manual de redes sociais para o acadêmico de medicina
  51. Introdução à Nutrologia hospitalar
  52. Triagem nutricional, risco nutricional
  53. Fisiopatologia do doente crítico
  54. Dispositivos para terapia nutricional
  55. Nutrição enteral: indicações contraindicações, 
  56. TNE complicações 
  57. Nutrição parenteral: indicações contraindicações,
  58. TNP complicações 
  59. Grandes queimados
  60. Colelitíase, Colecistite, e Colestase
  61. Insuficiência intestinal e Falência intestinal
  62. Fístulas digestivas
  63. A importância da EMTN
  64. HEART-M - Preabilitação cirúrgica 
  65. Nutroterapia no paciente cirúrgico 
  66. Diabetes mellitus tipo 2
  67. Diabetes mellitus tipo 1
  68. Diabetes gestacional
  69. Diabetes Mody e LADA
  70. Tratamento com hipoglicemiantes: oral
  71. Análogos de GLP1
  72. Insulinoterapia
  73. Tratamento nutricional no DM2
  74. Tratamento Nutricional no DM1: contagem de carboidratos
  75. Atividade fisica e DM
  76. Síndrome metabólica 
  77. Esteatose hepática 
  78. Nutroterapia nas doenças cardiológicas: HAS
  79. Nutroterapia nas doenças cardiológicas: Aterosclerose e ICC
  80. Comunicação médica
  81. Acolhimento do portador de obesidade
  82. Conceito e epidemiologia da obesidade
  83. Diagnóstico, Classificação 
  84. Complicações da obesidade
  85. Fisiopatologia da obesidade
  86. Tratamento dietético da obesidade
  87. Atividade física na obesidade
  88. Tratamento medicamentoso da obesidade
  89. Tratamento cirúrgico da obesidade
  90. Cirurgia bariátrica: o essencial para o médico generalista
  91. Terapias heterodoxas no tratamento da obesidade e suplementos sem evidência científica
  92. Gordofobia médica e abordagem comportamental da obesidade
  93. Dislipidemias: Hipercolesterolemia
  94. Dislipidemias: Hipertrigliceridemia
  95. Nutroterapia em TPM
  96. Nutroterapia na Menopausa
  97. Nutroterapia na gestação
  98. Hiperandrogenismo e Nutrologia
  99. Contraceptivos e composição corporal
  100. Lipedema e Nutrologia
  101. Endometriose e Nutroterapia
  102. Desnutrição
  103. Sarcopenia
  104. Caquexia
  105. Nutroterapia em Oncologia
  106. Magreza excessiva constitucional e perda de peso involuntária
  107. Nutroterapia em Hepatopatias
  108. DRC e Nutroterapia
  109. Litíase renal e Nutroterapia
  110. Gota e Hiperuricemia a abordagem Nutrológica
  111. Alteração em fâneros e pele - Aspectos Nutrológicos
  112. Fisiologia do trato digestivo
  113. Disbiose intestinal, SIBO, SIFO, IMO, LIBO
  114. Nutroterapia nas patologias do esôfago
  115. Nutroterapia em gastrite 
  116. Nutroterapia em Diarréia aguda e crônica
  117. Nutroterapia em constipação intestinal
  118. Nutroterapia em Síndrome do intestino irritável
  119. Síndrome do intestino curto
  120. Intolerâncias alimentares
  121. Intolerância histaminérgica e Síndrome de ativação mastocitária
  122. Hipermobilidade articular e Nutrologia e Síndrome de Ehlers Danlos
  123. Doença celíaca, Sensibilidade não celíaca ao glúten, Alergia ao trigo
  124. Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa e nutroterapia
  125. Pancreatite aguda e nutroterapia
  126. Pancreatite crônica e nutroterapia
  127. Doenças anoretais e nutroterapia
  128. Alergias alimentares
  129. Jejum intermitente
  130. Dietas da moda
  131. Cetose e dieta cetogênica
  132. Dieta Low carb
  133. Mitos em Nutrologia
  134. Edulcorantes em Nutrologia
  135. Guia alimentar da população brasileira
  136. Nutrologia e fisiatria
  137. Psiquiatria Nutricional, neurotransmissores e estilo de vida
  138. Introdução aos Transtornos alimentares
  139. Anorexia
  140. Bulimia
  141. Transtorno de compulsão alimentar
  142. Ortorexia, vigorexia e TARE
  143. Síndrome do comer noturno
  144. Alimentos funcionais e compostos bioativos - Parte 1
  145. Alimentos funcionais e compostos bioativos - Parte 2
  146. Fitoterapia em Nutrologia
  147. Os nutracêuticos com mais evidência em Nutrologia 
  148. Reducitarianismo,Vegetarianismo e veganismo
  149. Nutroterapia em geriatria - particularidades na nutrição do idoso
  150. Nutroterapia na Osteopenia e osteoporose
  151. Nutroterapia na Doença de Alzheimer 
  152. Nutroterapia na Doença de Parkinson
  153. Nutroterapia na Esclerose múltipla 
  154. Nutroterapia em enxaqueca
  155. Nutrologia comportamental
  156. Nutrologia na ESF 
  157. Anemias carenciais
  158. Hiperferritinemia e hemocromatose
  159. Programação fetal e Alimentação nos primeiros 1000 dias
  160. Anemia na infância
  161. A criança que não come e seletividade alimentar
  162. APLV na infância 
  163. Intolerância à lactose na infancia
  164. Baixa estatura
  165. Baixo peso na infancia
  166. Fórmulas infantis e aleitamento materno
  167. Obesidade infantil - Diagnóstico e tratamento
  168. Síndrome metabólica na infância e adolescência 
  169. Epidemiologia em Nutrologia
  170. Como ler artigos em Nutrologia
  171. Nutrologia esportiva - Noções básicas
  172. Cafeína, Whey proteín,  Creatina
  173. Beta-alanina, Bicarbonato, HMB
  174. REDs
  175. Músculo como órgão endócrino
  176. Hipertrofia muscular em Nutrologia 
  177. Colágeno e músculo 
  178. Risco do uso de EAAs na Nutrologia 
  179. Ergoespirometria - aplicabilidade
  180. Nutroterapia no maratonista
  181. Nutroterapia no futebol, natação e lutas
  182. Exercício em jejum 
  183. Publicidade e redes sociais em Nutrologia
  184. Nutrologia e aspectos Jurídico

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

The Lancet: o controle da obesidade é urgente, mostra série de quatro artigos sobre a doença

Quero destacar deste artigo este parágrafo: “Uma premissa importante é que o aumento do peso corporal dos indivíduos é o resultado de uma resposta normal, de pessoas normais, para um ambiente anormal, segundo relatado pelo periódico The Lancet.” É preciso com urgência pensarmos no ambiente que favorece o ganho de peso, até quando aceitaremos propagandas como a da gigante Coca Cola relacionando o produto com um estilo de vida saudável?!

Quando a população perceberá que é necessário ter uma alimentação adequada com produtos mais naturais para se ter uma vida com qualidade?

The Lancet: o controle da obesidade é urgente, mostra série de quatro artigos sobre a doença

Uma série de quatro artigos sobre a pandemia1 global de obesidade foi publicada no The Lancet. O primeiro artigo resume seus condutores, o segundo fala sobre o ônus econômico e para a saúde, o terceiro desvenda a fisiologia por trás do controle de peso e sua manutenção, e o quarto conclui que a ciência fala sobre os tipos de ações necessárias para mudar nosso ambiente obesogênico e reverter o atual “tsunami” de fatores de risco para doenças  crônicas nas gerações futuras.

Os últimos dados do Centers for Disease Control and Prevention para a população dos EUA, lançados em julho de 2010, são alarmantes:
  • 12 estados têm taxas de obesidade superior a 30% e nenhum tem taxa inferior a 20%.
Já que estes valores dependem de auto-relatos sobre altura e peso, eles tendem a ser subestimados.

No primeiro artigo da série, Boyd Swinburn e colaboradores dizem que:
  • 1,46 bilhões de adultos
  • 170 milhões de crianças em todo o mundo estavam com sobrepeso ou eram obesas em 2008.

Se continuarmos sem intervenções bem sucedidas, as projeções para 2030, no segundo artigo da série, estimam:
  • Mais 65 milhões de adultos obesos só nos EUA,
  • Mais 11 milhões apenas no Reino Unido 
  • 6 a 8,5 milhões de pessoas com diabetes,
  • 5,7 a 7,3 milhões com doenças cardíacas e derrames,
  • 492.000 com câncer.
Os custos adicionais projetados para tratar essas doenças evitáveis é de 48 a 66 bilhões de dólares ao ano nos EUA, e 1,9 a 2 bilhões de libras ao ano no Reino Unido. Como os sistemas de saúde em todo o mundo já lutam para conter os custos, sem prevenção e controle dos fatores de risco para a obesidade  estes sistemas serão sobrecarregados ao ponto de ruptura.

No entanto, as reações dos governos até o momento são inadequadas e dependem da regulação da indústria de alimentos e de bebidas. Mas argumenta-se que cabe ao indivíduo fazer suas escolhas de maneira adequada. Ao contrário do tabaco, alimentos e bebidas devem ser consumidos e uma interferência do Estado poderia ser considerada uma intromissão demasiada na vida do cidadão.

O Governo do Reino Unido, em particular, deixou claro que apenas acordos voluntários com empresas de alimentos e bebidas estão na agenda, e muitos dos comitês de saúde pública são compostos de um grande número desses representantes da indústria. O artigo questiona se esses acordos voluntários funcionam, pois todas as indicações até agora são de que eles não cumprem o seu objetivo.

Uma premissa importante é que o aumento do peso corporal dos indivíduos é o resultado de uma resposta normal, de pessoas normais, para um ambiente anormal, segundo relatado pelo periódico The Lancet. A série de artigos sobre a obesidade deixa resumidamente cinco mensagens importantes sobre a complexa questão da obesidade e como ela deve ser abordada:

  • A epidemia de obesidade não será revertida sem liderança do governo.
  • Trabalhando esta questão como estamos, os custos serão dispendiosos em termos de saúde da população, despesas com cuidados de saúde e perda de produtividade.
  • As suposições atuais sobre a velocidade e a sustentabilidade da perda de peso estão erradas.
  • Precisamos monitorar com precisão e avaliar tanto os dados básicos do peso corporal da população, quanto os resultados de intervenção para esta patologia.
  • Uma abordagem sistemática é necessária, com o envolvimento de vários setores.
Fonte: The Lancet - NEWS.MED.BR, 2011. The Lancet: o controle da obesidade é urgente, mostra série de quatro artigos sobre a doença. Disponível em: http://www.news.med.br/p/saude/232070/the+lancet+o+controle+da+obesidade.htm

quarta-feira, 2 de março de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Reavaliação do tecido adiposo humano

Introdução

O tecido adiposo é um órgão subestimado e incompreendido.  

Capaz de mais do que dobrar em massa e depois retornar à linha de base, o tecido adiposo branco (WAT) continua a desempenhar um papel essencial no desenvolvimento dos seres humanos.

O WAT armazena eficientemente energia suficiente para nos libertar da busca constante de comida, permitindo que dediquemos nossos esforços físicos e mentais para a construção da civilização.

O tecido adiposo marrom (BAT) consome glicose e triglicerídeos, gerando calor.

Um órgão projetado para a termogênese sem tremores, o BAT permitiu que os mamíferos prosperassem na atual era Cenozóica.  

Uma vez considerada fisiologicamente irrelevante em humanos adultos, a ativação a longo prazo do BAT foi hipotetizada para contribuir para amplos benefícios à saúde em tecidos tão diversos quanto os sistemas gastrointestinal, cardiovascular e musculoesquelético.  

Destacando os desenvolvimentos dos últimos 5 a 10 anos, esta revisão discute as duas principais facetas do tecido adiposo humano: seus papéis funcionais relacionados ao armazenamento de triglicerídeos, bem como seu excesso na obesidade, e seus papéis fisiológicos complementares e de longo alcance no sistema endócrino.

• Estrutura e distribuição de depósitos de tecido adiposo

Muitas pessoas estão confiantes de que sabem o que é a gordura: um apêndice corporal indesejado que se esforçam para reduzir ao longo de suas vidas.

Para aqueles que lutam para perder peso, a gordura é muitas vezes uma fonte de sofrimento, não de maravilha.  

Entre os profissionais médicos, ela foi desconsiderada na medida em que a gordura tem merecido pouca atenção nos currículos e nem figura nos atlas de anatomia.

Felizmente, as últimas três décadas testemunharam uma revolução em nossa compreensão e perspectiva sobre esse tecido.

A gordura não é uma entidade; é uma coleção de depósitos de tecido adiposo relacionados, mas diferentes, anatômicos e funcionais.

Derivado principalmente do mesoderma, o WAT humano começa a se desenvolver no segundo trimestre da gravidez e, ao nascimento, os depósitos viscerais e subcutâneos estão bem estabelecidos.

O BAT surge pela primeira vez durante o final do segundo trimestre e protege os recém-nascidos do frio à medida que desenvolvem a capacidade de tremer.

Em adultos magros, todo o depósito de WAT varia de 20 a 30 kg em mulheres (30 a 40% da massa corporal total) e 10 a 20 kg em homens (15 a 25% da massa corporal total).

A massa gorda pode ser estimada rapidamente e em muitas pessoas com o uso de métodos de baixo custo, como pinças de dobras cutâneas, circunferência da cintura ou índice de massa corporal (IMC).

As avaliações são mais precisas com análise de bioimpedância e absorciometria de raios X de dupla energia, e cálculos muito precisos podem ser realizados por meio de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM).

As quantidades relativas e a distribuição de BAT em humanos adultos são previsivelmente influenciadas pela escala alométrica.  

Camundongos adultos, um modelo comum para estudos de fisiologia de vertebrados, pesam de 20 a 50 g, e o BAT é de 2 a 5% de sua massa corporal.

Os seres humanos são três ordens de grandeza maiores, então nossa menor proporção de área de superfície para volume e maior isolamento do músculo e do WAT reduzem a necessidade de termogênese do BAT.  

A distribuição do BAT humano adulto também é muito mais restrita, encontrada apenas em certos depósitos anatômicos no pescoço, ombros, tórax posterior e abdome.  

Uma característica unificadora é que esses depósitos drenam diretamente para a circulação sistêmica e podem levar a uma distribuição mais rápida de sangue aquecido para o resto do corpo.

A quantificação do BAT ativo é um desafio e depende de imagens não invasivas de corpo inteiro com o uso de tomografia por emissão de pósitrons – TC ou RM.

A massa de BAT máxima detectável em humanos parece ser de aproximadamente 1 kg, e em adultos de 20 a 50 anos de idade, varia de 50 a 500 g, ou 0,1 a 0,5% da massa corporal total e 0,2 a 3,0% do adiposo total.  

A quantidade de BAT também varia de acordo com o sexo, e tem associação inversa com idade e IMC.

Conforme discutido abaixo, quanto mais massa de BAT pode ser aumentada em humanos e se uma proporção maior pode afetar o equilíbrio energético ou a saúde metabólica ainda precisam ser determinados.



O tecido adiposo desempenha um papel central na distribuição de energia.

Todos os alimentos consumidos pelos mamíferos consistem em apenas três macronutrientes: carboidratos, proteínas e gorduras.

Embora as refeições individuais possam ter proporções muito variadas desses três combustíveis, o corpo humano é capaz de flexibilidade metabólica, que é a capacidade das mitocôndrias de alterar sua preferência de substrato por gordura em comparação com a oxidação de carboidratos.

Pesquisas recentes mostraram que mitocôndrias disfuncionais levam à resistência à insulina no músculo esquelético, não por causa da flexibilidade prejudicada em resposta à disponibilidade de substrato, mas por causa de uma diminuição geral na oxidação do substrato.

Portanto, a superalimentação de qualquer um dos macronutrientes – carboidratos, proteínas ou gorduras – acaba levando a um balanço energético positivo e ganho de peso.  

A contribuição da composição de macronutrientes para o gasto energético e o desenvolvimento de obesidade e doenças metabólicas é uma área de debate ativo.

A função primária do WAT é armazenar energia na forma de triglicerídeos, mas existem diferenças fisiológicas substanciais e clinicamente relevantes entre os vários depósitos de WAT.

Os riscos metabólicos para a saúde são, portanto, devidos tanto à localização do excesso de armazenamento de triglicerídeos quanto à massa gorda total do corpo.  

O WAT é comumente separado em gordura visceral e gordura subcutânea, que conferem efeitos metabólicos negativos e neutros ou positivos, respectivamente.

A gordura visceral pode ser dividida em várias regiões distintas com diferentes riscos metabólicos.

As localizações dos depósitos WAT e BAT são mostradas na Figura 1.

Com base na anatomia microscópica e na fisiologia celular, é mais apropriado referir-se à gordura como tecido adiposo, pois é composto por vários tipos celulares distintos.  

Existem os próprios adipócitos, mas também a fração vascular do estroma – fibroblastos, sangue e vasos sanguíneos, macrófagos e outras células imunes e tecido nervoso.  

Formas relativamente recentes de tecnologia envolvendo sequenciamento de RNA de célula única e de núcleo único, que estão se tornando parte integrante do mapeamento de tecidos e sua complexidade, identificaram vários subtipos de células que desempenham papéis críticos na regulação da adipogênese, termogênese e comunicação interorgânica.

Além disso, as várias proteínas e proteoglicanos na matriz extracelular desempenham um papel ativo na função de WAT e BAT.

Muitas características dos depósitos de tecido adiposo, como localização, tamanho e comportamento metabólico, são influenciadas pela origem genética e pelo sexo.

Além disso, o tecido adiposo é um órgão dinâmico.

A crença amplamente difundida de que os humanos nascem com todas as células de gordura que jamais terão, que são capazes apenas de aumentar ou diminuir, agora é entendida como incorreta.

O uso inovador da marcação isotópica permitiu aos pesquisadores medir a nova adipogênese.

Esses estudos mostraram que a adipogênese continua ao longo da vida, com uma taxa média de renovação de 8% ao ano, indicando uma reposição completa dos adipócitos no organismo a cada 15 anos.

Para perspectiva, essa taxa é semelhante à dos osteócitos e mais rápida do que a renovação de muitos cardiomiócitos.

As células precursoras de adipócitos, conhecidas como pré-adipócitos, estão presentes na fração vascular do estroma e no tecido perivascular, que são capazes de autorrenovação.

O crescimento dos adipócitos vem tanto da hipertrofia, o aumento do tamanho das células, quanto da hiperplasia, o aumento do número de células.

O equilíbrio entre hipertrofia, hiperplasia, fibrose e lipólise no WAT visceral e subcutâneo está associado a diferentes riscos de progressão para disfunção fisiológica.

A diversidade e capacidade recém-descobertas levaram ao reconhecimento de que o tecido adiposo de mamíferos é um órgão “policromático”.

Além dos brancos e marrons, existem distintos adipócitos termogênicos, denominados “beige/brite”, que possuem características de adipócitos brancos e marrons, e adipócitos rosa no tecido mamário, bem como gordura na medula óssea e na derme, cada um com  um papel fisiológico distinto.

• Função e Comunicação

O WAT tem três funções macroscópicas comumente compreendidas e relacionadas.

Ele armazena calorias dos alimentos, cria uma camada de isolamento térmico e fornece proteção mecânica, o que é importante para resistir a infecções e lesões.

A insulina é o principal fator de absorção e armazenamento de combustível, sendo o tecido adiposo responsável por 5% da captação de glicose mediada por insulina em adultos magros e 20% naqueles obesos.


Até três décadas atrás, esses papéis fisiológicos eram tudo o que a maioria das pessoas considerava quando pensava em WAT, mas as descobertas de hormônios derivados de adipócitos brancos, como leptina e adiponectina, deixaram claro que WAT também é um órgão endócrino.

Além desses hormônios, os adipócitos e os outros tipos de células residentes produzem dezenas de outras adipocinas que afetam a fisiologia local e distante, como fator de necrose tumoral pró-inflamatório α (TNF-α), proteína quimiotática de monócitos 1 e o hormônio sexual estrogênio.

O WAT como órgão mesodérmico comunica seu estado funcional nos níveis autócrino, parácrino e endócrino.

Por exemplo, a gravidez requer um suprimento suficiente de energia a longo prazo, e o TAB (WAT) é essencial para o bom funcionamento do sistema reprodutivo, que inclui a secreção de hormônios reguladores e sexuais e a lactação.

Muito pouco WAT (TAB) como visto na anorexia nervosa e lipodistrofias, interrompe a menstruação.  

Demasiado WAT leva à puberdade precoce.

O WAT também usa sinalização interorgânica para coordenar o armazenamento e o consumo de nutrientes com o fígado e o músculo esquelético.

A descoberta da leptina há três décadas anunciou uma nova era na medicina da obesidade, mas não como originalmente previsto.

A leptina não induz saciedade, mas níveis baixos de leptina sinalizam baixos estoques de energia e fome.  

Pessoas com obesidade têm resistência à leptina, de modo que a administração exógena não leva à supressão do apetite ou perda de peso, exceto em pessoas com deficiência congênita de leptina, o que é extremamente raro.

Vários estudos sobre os efeitos da leptina levaram a novos insights sobre o controle da ingestão de alimentos pelo hipotálamo e outras regiões do cérebro.

A adiponectina regula o metabolismo da glicose e dos lipídios e promove um perfil metabólico antiaterogênico, antiinflamatório e sensibilizador da insulina.

Os avanços na compreensão do tecido adiposo como um órgão endócrino têm sido apoiados pela identificação de espécies não sinalizadoras de peptídeos que têm efeitos locais e sistêmicos.

Lipídios bioativos, como o ácido 12,13-dihidroxi-9Z-octadecenóico (12,13-diHOME) e o ácido 12-hidroxieicosapentaenóico (12-HEPE) são liberados pelo BAT e estimulam a captação de glicose e ácidos graxos no BAT e no músculo, apoiando assim  termogênese.

O BAT também libera microRNAs exossomais que podem regular a expressão gênica em outros tecidos, como o fígado.

O WAT e, mais recentemente, o BAT foram identificados como componentes integrais e reguláveis ​​do metabolismo das lipoproteínas e dos ácidos biliares.

As lipoproteínas ricas em triglicerídeos, na forma de quilomícrons de uma refeição, e a lipoproteína de muito baixa densidade derivada do fígado entregam suas cargas lipídicas ao WAT e BAT.  

Estudos em roedores mostraram que a ativação prolongada do BAT leva a alterações na homeostase do colesterol hepático, no metabolismo dos ácidos biliares e na composição do microbioma.

Mais de uma década após a descoberta do BAT como um tecido funcional em humanos adultos, há evidências nascentes sugerindo que a ativação do BAT também pode diminuir o risco de aterosclerose e impulsionar o consumo de glicose e lipídios pelo músculo esquelético.

Tanto o WAT quanto o BAT participam da imunomodulação, supressão e ativação do sistema imunológico, e cada tecido libera seu perfil distinto de mediadores do sistema complemento.

A obesidade leva a citocinas pró-inflamatórias derivadas de WAT, como TNF-α, interleucina-1β, interleucina-6 e interferon-γ.

Esses compostos ativam e recrutam macrófagos, que podem aumentar de menos de 10% a quase 40% do número total de células no tecido adiposo.

As células dendríticas e as células B se unem para induzir a expansão das células T CD4 e CD8.

Uma consequência importante da resultante resistência à insulina dos adipócitos e ativação dos macrófagos é o aumento da liberação de ácidos graxos, que, em última análise, conduz a gliconeogênese hepática e a hiperglicemia.

Em contraste, o BAT é particularmente resistente à inflamação induzida pela obesidade e, em modelos de roedores, descobriu-se que o BAT expressa altos níveis de ligante 1 de morte programada, que reduz a ativação das células T e pode melhorar a sensibilidade à insulina.

• Obesidade como complicação de muito Tecido Adiposo Branco WAT

As pandemias de sobrepeso e obesidade afetam mais de 70% da população dos EUA e devem aumentar sua prevalência nos próximos 30 anos.

Paralelamente, houve um aumento de condições relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2, puberdade precoce, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer.

Ainda mais preocupante é a observação de que as taxas de obesidade estão aumentando muito mais rapidamente entre crianças do que entre adultos e que crianças obesas são mais propensas a se tornarem adultos obesos com alto risco de complicações graves de saúde (Figura 3).

Respostas adequadas às sequelas clínicas e sociais dessas tendências exigem uma compreensão mais precisa dos efeitos específicos dos diferentes depósitos de WAT e BAT.  

As avaliações atuais em populações adultas e pediátricas geralmente usam o IMC exclusivamente, o que, no mínimo, requer ajustes para idade, sexo e origens genéticas e étnicas.

O IMC não pode fornecer informações sobre a distribuição de WAT ou as predisposições de depósitos específicos para sua fisiopatologia distinta ou a probabilidade de uma resposta a terapias direcionadas.

No futuro, será particularmente importante realizar grandes estudos de tendências epidemiológicas que vão além do IMC e incorporem outras estimativas da distribuição dos depósitos de WAT, incluindo a circunferência da cintura, a fim de entender melhor o papel da distribuição de WAT na doença metabólica relacionada à obesidade.  

Embora seja correto atribuir o aumento das taxas de obesidade ao armazenamento excessivo de triglicerídeos no WAT, esse quadro é muito simplista e impede o desenvolvimento de estratégias de tratamento.

Desde o início da pandemia de obesidade na década de 1970, as principais causas contribuintes e sua influência individual permanecem desconhecidas.

Os papéis do tamanho das porções, classes específicas de alimentos, ingredientes específicos e mudanças nos padrões de atividade estão sendo investigados.

Concomitantemente, é útil conceituar a obesidade como uma doença do cérebro que se manifesta como excesso de TAB (WAT) e TAB disfuncional.  

Estudos mostraram os ciclos perniciosos que aceleram o desenvolvimento da obesidade quando a pessoa começa a ganhar peso.

A região hipotalâmica do cérebro é de interesse crescente porque integra vários sinais fisiológicos do corpo, os transmite para diferentes regiões do cérebro e coordena a regulação de diversos processos, incluindo temperatura corporal e alimentação.  

Estudos em roedores mapearam as vias neuronais que interpretam os sinais da alimentação e do próprio TAB em relação à sua massa e, em seguida, integram esses sinais em mensagens homeostáticas e hedônicas, que interpretam a disponibilidade de estoques de energia e o significado emocional de alimentos específicos, respectivamente.

Além do WAT, a obesidade também interrompe a capacidade do hipotálamo de estimular o gasto de energia do BAT.

A obesidade não pode ser vista simplesmente como uma falha de força de vontade.

Em vez disso, é uma interação complexa entre centenas de genes, demandas socioeconômicas e tomada de decisão pessoal que, em última análise, leva a um aumento de longo prazo na ingestão calórica média em relação ao gasto de energia.

As conexões entre a obesidade, suas complicações metabólicas e influências genéticas tornaram-se mais estabelecidas por meio de estudos de associação genômica.  

Esses estudos populacionais globais em larga escala identificaram novos loci genéticos no sistema nervoso central, indicando um componente potencialmente genético de aspectos do estilo de vida, bem como resistência à insulina, ligando a obesidade central à desregulação metabólica e, em última análise, ao risco de doença cardiovascular.

No entanto, é fundamental apreciar a distinção entre a hereditariedade da obesidade e o efeito de qualquer gene.

As influências genéticas na obesidade são substanciais, até 70% com base em estudos envolvendo populações de origem predominantemente européia, mas esse forte efeito não deve ser mal interpretado como significando que existe um único “gene da gordura”.

Atualmente, apenas 20% de toda a variação fenotípica na obesidade pode ser explicada pelos milhares de loci identificados até agora.  

Adicionando mais complexidade é o efeito da epigenética – mudanças hereditárias, mas reversíveis na função do gene que não envolvem o próprio código de DNA.

A obesidade e até mesmo os componentes dietéticos podem ter efeitos fenotípicos profundos.  

Esforços estão agora sendo focados em como os mecanismos pelos quais os genes e as vias fisiológicas associadas afetam os desequilíbrios energéticos de curto e longo prazo e as complicações de saúde subsequentes.

Como o excesso de tecido adiposo leva à doença? Como nenhuma outra célula, os adipócitos brancos são adeptos do aumento e podem inchar de um diâmetro de 30 a 40 μm a mais de 100 μm, um aumento de volume por um fator de mais de 10. 

Começando no início da idade adulta, os adultos magros dos EUA gastam o  próximas décadas desafiando seus adipócitos ganhando em média 0,5 kg (1,1 lb) por ano, com aumentos de peso ainda maiores entre os com sobrepeso e obesos, colocando uma enorme demanda nos depósitos de WAT para armazenar triglicerídeos na quinta e sexta décadas de vida.

A localização anatômica e a genética determinam em grande parte o aumento proporcional no tamanho e número de adipócitos e as respostas fisiológicas.

Por exemplo, pessoas cujos depósitos subcutâneos mantêm adipócitos menores têm menos complicações metabólicas.

Além disso, em pessoas geneticamente predispostas à lipólise mediada por catecolaminas prejudicada, os adipócitos brancos tornam-se muito grandes, uma situação exacerbada pela incapacidade genética de recrutar novos adipócitos.

À medida que a obesidade progride, a diferenciação dos pré-adipócitos torna-se disfuncional, levando à redução da sinalização da insulina, captação de glicose e liberação de adiponectina pelos adipócitos maduros.

Em última análise, o crescimento e a expansão hipertrófica do WAT restringem a capacidade do oxigênio de se difundir dos capilares para os adipócitos.

Essa hipóxia constitui um alerta vermelho biológico para as células, alterando a expressão de mais de 1.000 genes e desencadeando uma série de respostas interconectadas que acabam levando à resistência local tanto à insulina quanto à sinalização adrenérgica, aumento da inflamação e dano celular.

A falha do tecido adiposo em continuar se expandindo leva ao transbordamento e subsequente deposição de triglicerídeos por todo o corpo, com acúmulo ectópico no fígado e no músculo esquelético.

A extensão dessa lipotoxicidade é um importante determinante do desenvolvimento de desregulação metabólica, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Esse meio leva à disfunção do sistema imunológico e acredita-se que contribua para o aumento da morbidade e mortalidade por doenças infecciosas, atualmente destacadas pelos preocupantes relatórios epidemiológicos sobre pessoas com obesidade e doença por coronavírus 2019. 

A obesidade também está associada a um risco aumentado de muitos tipos de câncer, incluindo câncer de mama, útero, ovário, esôfago, estômago, cólon ou reto, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim, tireóide e meninges, bem como mieloma múltiplo, mas os mecanismos precisos ainda não são claros.

Três agentes causadores identificados até agora são hiperinsulinemia, fatores liberados durante a inflamação crônica e aumento da produção de estrogênio.

Dada a extensão dos distúrbios, a questão que surge é se o excesso de triglicerídeos armazenados é sempre benigno.

Foi postulado um fenótipo obeso metabolicamente saudável, que tem sido associado a vários aspectos da função dos adipócitos, como a liberação de adipocinas específicas.  

Se as pessoas obesas que são metabolicamente saudáveis ​​estão, no entanto, em um caminho inexorável para a doença metabólica ainda não foi determinado.

• Tratamentos para sobrepeso e obesidade

Existem três maneiras de alcançar um balanço energético negativo líquido: reduzir o consumo de alimentos, reduzir a absorção de nutrientes e aumentar o gasto energético.

Todos os três finalmente convergem para o objetivo comum de reduzir o teor de triglicerídeos WAT.

A farmacoterapia voltada para essas diferentes vias tem sido extensivamente revisada.

Vários tratamentos atualmente aprovados pela Food and Drug Administration para o tratamento da obesidade envolvem diretamente os tecidos adiposos.

Por exemplo, os agonistas do receptor do peptídeo 1 do tipo glucagon, como a liraglutida, causam perda de peso por meio da inibição do apetite e são ainda mais eficazes com o exercício, mas seus efeitos benéficos também podem ser mediados pela estimulação da lipólise do WAT e da termogênese do BAT.

Potenciais novas terapias com foco no tecido adiposo incluem bimagrumab, um inibidor do receptor de activina tipo II, que reduz a massa de WAT enquanto aumenta o crescimento do músculo esquelético.

A abordagem mais eficaz para a perda de peso que também resulta em melhorias metabólicas é a cirurgia bariátrica.

Embora essas operações reduzam as complicações da obesidade por meio de múltiplos mecanismos, grande parte da eficácia se deve à profunda perda de massa de WAT.

Os estudos atuais estão determinando os mecanismos pelos quais a perda de peso é alcançada, os efeitos adversos a longo prazo e a durabilidade das várias intervenções cirúrgicas.

Há também a abordagem direta de remover o tecido adiposo, mas, como sugerido acima, a ressecção do depósito de tecido adiposo errado pode piorar o efeito metabólico.

A lipoaspiração não cosmética de gordura subcutânea não leva a perda de peso a longo prazo ou melhora da saúde.

Além disso, é essencial reter pelo menos um mínimo de tecido adiposo.  

As síndromes lipodistróficas associadas à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e os medicamentos usados ​​para tratá-la, bem como síndromes genéticas mais raras, mostraram que muito pouco WAT leva a disfunção metabólica lipotóxica e disfunção reprodutiva por deficiência de leptina.

Em certas circunstâncias, é até benéfico aumentar a massa de tecido adiposo.

As tiazolidinedionas são medicamentos que tratam o diabetes ativando o receptor nuclear PPAR-γ (receptor γ ativado por proliferador de peroxissoma) e aumentando o número de adipócitos menores e mais responsivos à insulina que podem armazenar triglicerídeos com mais segurança.

Ao induzir hiperplasia em vez de hipertrofia, as tiazolidinedionas levam a uma melhora paradoxal no perfil metabólico do paciente enquanto aumentam a massa de adipócitos.

A ativação do BAT a longo prazo poderia ajudar a tratar a obesidade ou doenças metabólicas relacionadas?  

Em roedores, a resposta é inequivocamente sim, mas em humanos, a resposta ainda não foi determinada.

Como já discutido, os humanos têm proporcionalmente menos BAT do que mamíferos menores, mas os humanos contemporâneos podem ter ainda menos BAT do que o necessário para atender às suas necessidades fisiológicas e metabólicas.

A massa de BAT diminui drasticamente com o aumento da temperatura ambiente, e o envelhecimento também parece induzir a atrofia de BAT, aumentando a possibilidade de que humanos contemporâneos que criam um ambiente termoneutro estejam diminuindo artificialmente sua massa de BAT e sua contribuição para o equilíbrio energético e a saúde metabólica.

Mesmo a limitada BAT presente em adultos parece ter um efeito clínico substancial, porque estudos retrospectivos e prospectivos mostram uma associação inversa entre a atividade da BAT e o IMC.  

Além disso, um estudo recente mostrou que pessoas com BAT tinham níveis mais saudáveis ​​de glicose no sangue, triglicerídeos e lipoproteínas de alta densidade do que pessoas sem BAT.

Aqueles com BAT apresentaram menor prevalência de doenças cardiometabólicas, como diabetes tipo 2, dislipidemia, doença arterial coronariana, doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão.

Ensaios clínicos são necessários para determinar os resultados da ativação do BAT a longo prazo, uma vez que estudos em roedores sugerem que a ativação do BAT pode levar à ingestão alimentar compensatória ou, o contrário, à supressão do apetite.

Os estudos clínicos prospectivos iniciais mostraram que o tratamento a longo prazo com agonistas dos receptores β3-adrenérgicos aumenta a massa do BAT e o escurecimento do WAT e está associado a melhorias na sensibilidade à insulina e fatores de risco cardiometabólicos.

• Conclusões

A abordagem mais arriscada do tecido adiposo humano é descartar sua importância.

O WAT está no centro da pandemia de obesidade e sua resposta ao excesso de calorias afeta todos os sistemas orgânicos, com efeitos profundos na morbidade e mortalidade em todo o mundo.

A última década, e particularmente os últimos 5 anos, viu um crescimento explosivo em nossa compreensão do tecido adiposo, com trabalhos que reconhecem o WAT e o BAT humanos como órgãos que possuem diversidade anatômica, funcional e genética.

No futuro, a gordura será idealmente apreciada pelo que é, um tecido policromático, tão relevante e influente quanto outros órgãos para a manutenção da saúde humana.

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