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terça-feira, 22 de agosto de 2023

Obesidade’ deveria mudar de nome?


A percepção pública de uma doença é uma questão essencial. Os “diabéticos” são agora chamados de “pessoas que vivem com diabetes”; uma “pessoa obesa” agora é um “indivíduo que vive com obesidade”.

Mas qual é a definição de obesidade? Refere-se a uma doença ou a um fator de risco? E será que o termo está tão contaminado com negatividade, culpa e preconceito que a única solução é descartá-lo e substituí-lo completamente? A sociedade (e a medicina) mudou significativamente desde quando a palavra latina obesitas foi adotada, em 1600.

Embora haja tanto em jogo quando se fala em “obesidade”, é incrível que o estigma persista apesar de os conceitos subjacentes terem evoluído tanto. Então, talvez seja mais uma questão de encontrar a opção “menos pior” do que perseguir uma solução impossível que sirva para todos?

Este é o desafio da Comissão de Definição e Diagnóstico da Obesidade Clínica do periódico The Lancet Diabetes & Endocrinology, que deve publicar seus achados iniciais nos próximos meses. A força-tarefa mundial tem 60 líderes no tratamento clínico da obesidade, entre eles representantes com experiência pessoal de obesidade. O líder do projeto é o Dr. Francesco Rubino, médico e chefe de cirurgia bariátrica e metabólica no King's College London, no Reino Unido.

“Dar um novo nome à ‘obesidade’ é muito importante”, afirmou o Dr. Francesco. “A palavra é tão estigmatizada, com tantos mal-entendidos e percepções errôneas, que há quem diga que a única solução é mudar o nome.”

Um possível novo nome foi proposto pela American Association of Clinical Endocrinology e pelo American College of Endocrinology em 2016, em uma tentativa de definir a doença com base na sua característica central de adiposidade: ABCD, sigla em inglês para adiposity-based chronic disease (cuja tradução em português pode ser doença crônica baseada na adiposidade).

O Dr. Francesco é favorável ao termo “ABCD”, mas com algumas ressalvas: “É bom do ponto de vista fisiológico, mas o problema é que seria mais bem compreendido por cientistas e médicos. Não sei o quanto o termo agradaria o público em geral. ‘ABCD’ ainda fica aquém de uma boa definição da doença.”

O médico acrescentou que a abordagem da comissão do periódico The Lancet é chamá-la de “obesidade clínica”. "A ‘obesidade’ em si não transmite necessariamente a mensagem de que você tem um distúrbio ou uma doença”, observou. “É como a diferença de significado entre depressão e depressão clínica, que comunicam duas coisas diferentes.”

Mas o que justifica qualquer renomeação é um maior esclarecimento da definição e do diagnóstico de obesidade. Em 1997, a Organização Mundial da Saúde reconheceu a obesidade como uma doença crônica; em 2013, a American Medical Association (AMA) fez o mesmo, acrescentando que merecia atenção médica; por outro lado, somente em 2021 a Comissão Europeia definiu a obesidade como uma “doença crônica com recidivas, que por sua vez atua como uma porta de entrada para uma série de outras doenças não transmissíveis”.

No entanto, 25 anos após o reconhecimento inicial da obesidade como uma doença, o conceito ainda está repleto de negatividade, seja de forma explícita ou implícita. Esse estigma denigre as pessoas com sobrepeso e obesidade, taxando-as de “preguiçosas, desleixadas, pouco inteligentes e pouco atraentes”.

O Dr. Francesco explicou que, em primeiro lugar, é importante estabelecer e definir os componentes e as características essenciais da doença obesidade. Isso é fundamental para melhorar o acesso ao tratamento clínico, reduzir a culpa pessoal e fomentar um ambiente de pesquisa mais favorável para nortear a tomada de decisões clínicas e políticas.

“Esta é a questão que está no centro da nossa comissão. Temos um problema com a definição atual de obesidade, e a forma como a avaliamos não nos permite definir com precisão quando a obesidade é uma doença”, explicou.

Os rótulos moldam a percepção pública da doença, e a ‘obesidade’ é um exemplo disso

Outra especialista que defende a necessidade de um nome que reflita melhor a definição – seja lá qual for – é a Dra. Margaret Steele, Ph.D., vinculada à School of Public Health da University College Cork, na Irlanda, que, de acordo com a página da universidade, tem um interesse especial em “‘Gordura’ como um fenômeno cultural, social e político”.

Ela acredita que os rótulos — inclusive “obesidade” — têm um papel fundamental na formação das percepções do público. Na era digital e repleta de informações em que vivemos, os limites da medicina e da sociedade se sobrepõem, sendo que a percepção pública está influenciando as decisões de natureza médica de uma forma sem precedentes, gerando controvérsia e divisão – o tratamento da obesidade é um exemplo.

Especificamente, a palavra “obesidade” é amplamente associada a conotações negativas, diz ela, e, portanto, acolhe o diálogo sobre sua redefinição e renomeação. Apesar do amplo apoio geral a um nome e uma definição que reflitam a adiposidade, devido ao seu papel fisiológico central nas complicações da obesidade, a Dra. Margaret acredita que os “efeitos no tecido adiposo são decorrentes de problemas cerebrais e do ambiente alimentar”, e ela deseja que mais atenção seja dada a esses aspectos.

Referindo-se à maioria das sociedades ocidentalizadas, ela descreve como as pessoas que cresceram em tempos de escassez de alimentos, antes que os alimentos processados se tornassem amplamente disponíveis, têm um perfil de paladar diferente daqueles que cresceram depois. “As pessoas que foram criadas na Irlanda dos anos 1940 e 1950 se lembram de ganhar uma laranja como presente no Natal, porque a ideia de que você poderia ter comida o ano todo – qualquer fruta ou vegetal que quisesse e quando quisesse – simplesmente não existia.”

Em comparação, as mudanças sociais que levaram a mais pressão financeira e de tempo nas décadas posteriores fizeram com que alimentos rápidos, com alto teor de gordura, alto teor de açúcar e processados se tornassem mais desejáveis, apontou ela. “A maioria das crianças agora reconhece o nome da empresa e até mesmo a marca específica de fast-food [de que gostam] antes de conhecer o alfabeto.”

O ambiente atual cultivou “uma reação física muito diferente aos alimentos, talvez um tipo diferente de resposta emocional”, acredita ela, destacando a relação estreita entre obesidade, sociedade, saúde mental e opções alimentares.

A Dra. Margaret quer estimular o diálogo sobre o termo usado para descrever os indivíduos convencionalmente descritos como “obesos” ou usando a palavra “obesidade”. “Estamos pensando em termos como, talvez, apetite crônico, ingestão crônica de alimentos ou desregulação da ingestão alimentar.”

Mudar a terminologia médica quando ela se torna obsoleta ou prejudicial não é novidade, argumentou ela em um artigo recente sobre o assunto publicado em  coautoria com o Dr. Francis Finucane, médico endocrinologista consultor dos Galway University Hospitals, na Irlanda.

“No século 20, os termos ‘débil mental’ e ‘mongol’ passaram a ser usados de forma pejorativa na cultura em geral e foram banidos do vocabulário médico”, apontou a Dra. Margaret. Ela acrescentou que mudar o termo “obesidade” pode facilitar a busca dos objetivos estratégicos da medicina clínica “sem causar polêmica desnecessária com aqueles que, dados seus objetivos e contextos pessoais, entendem o índice de massa corporal (IMC) ou peso corporal de maneira radicalmente diferente”.

Obesidade: doença, fator de risco ou ambos?

O Dr. Francesco ressaltou que, antes de qualquer renomeação, é preciso estabelecer e definir os componentes e as características essenciais da doença obesidade. “Esta questão está no centro de nossa comissão e não é uma conversa fácil de se ter.” Ele explicou ainda que o problema com a definição atual de obesidade, e a forma como ela é concebida, concentra-se em grande parte no fato de ela ainda ser considerada um fator de risco para outras doenças.

Segundo o Dr. Francesco, a doença é caracterizada por três fatores: o fenômeno de ter uma causa patogênica, que leva a alterações fisiopatológicas (dos órgãos) e causa manifestações clínicas.

Ele acrescentou que a obesidade é atualmente descrita pelo que pode causar – por exemplo, diabetes tipo 2, câncer ou hipertensão. “Cada uma dessas doenças tem suas próprias manifestações clínicas, mas a obesidade não. [Como doença], não temos uma definição das manifestações clínicas da obesidade além do excesso de adiposidade.”

“O uso do IMC não prediz excesso de adiposidade, nem determina uma doença aqui e agora. Não existe doença sem doença, que é a manifestação clínica e a percepção do paciente de que é uma doença”, explicou o Dr. Francesco, apontando que a comissão do periódico The Lancet está preenchendo essa lacuna de conhecimento ao perguntar: “Se a obesidade é uma doença, então como ela é definida?”.

O médico acrescentou que a circunferência da cintura provavelmente fornece uma medida melhor do que o IMC para indicar diretamente a distribuição anormal da adiposidade, que sabidamente está associada a desfechos cardiometabólicos ruins, “mas não diz se o paciente tem uma doença aqui e agora – apenas que corre o risco de apresentar doenças cardiovasculares no futuro. A maioria das pessoas com acúmulo de gordura abdominal é perfeitamente funcional e não se sente doente”.

Ele também explicou que persiste a confusão sobre se a obesidade – ou excesso de adiposidade – é um fator de risco ou um sintoma de outra doença. “A imagem está borrada e não sabemos como diferenciá-los. Temos apenas um nome, que se aplica a todas essas coisas, e temos um critério – IMC – para diagnosticá-lo!”

O Dr. Francesco acrescentou: “Então, o que define a obesidade? É o diabetes? Não, porque é outra doença. Você não define uma doença como outra doença. Ela tem que ser independente.”

Recentemente, a AMA recomendou que o IMC agora seja usado em conjunto com outras medidas válidas de risco, como, entre outras, gordura visceral, índice de adiposidade corporal, composição corporal, massa de gordura relativa, circunferência da cintura e fatores genéticos e metabólicos.


O Dr. Aayush Visaria, médico residente em medicina interna da Rutgers University, nos Estados Unidos, concorda que um novo nome possa ajudar a mudar a percepção pública da obesidade para melhor. Um estudo que ele apresentou na Endocrine Society Meeting de 2023 constatou que o IMC “subestima muito” a obesidade, conforme publicado pelo Medscape.

Ele concorda com o Dr. Francesco que o desafio está na falta de compreensão precisa dos mecanismos que levam à obesidade: “É multifatorial, não apenas apetite ou ingestão de alimentos. Colocar isso em uma expressão é difícil”.

No entanto, se um novo termo puder incorporar as várias facetas da doença, “no geral, reduzirá o estigma porque passaremos a pensar na obesidade como um processo patológico, não como algo pessoal relacionado à culpa”, disse o Dr. Aayush.

Mas ao mesmo tempo, ele expressou cautela em relação a possíveis conotações negativas associadas à classificação da obesidade como uma doença. A Dra. Margaret também refletiu sobre esse risco, destacando que medicalizar o tamanho corporal pode ser contraproducente ao alimentar o estigma do peso e a gordofobia.

“Medicalizar a obesidade pode desencorajar em vez de fortalecer, mas ao especificar mais claramente que estamos falando sobre um conjunto específico de doenças metabólicas inter-relacionadas, isso tornaria muito mais claro, e que... não se trata de tornar as pessoas magras, não é uma questão estética”, observou a Dra. Margaret.

A palavra ‘obesidade’ dificulta explicações sobre doenças

A Dra. Margaret explicou que seu objetivo é superar a ambiguidade em torno da palavra “obesidade” que dificulta as explicações sobre a obesidade como doença para o público em geral.

“Muita confusão e controvérsia poderiam ser evitadas se esclarecêssemos que quando os médicos dizem que a obesidade é uma doença, eles não querem dizer que ser ‘gordo’ é uma doença”.

No entanto, o tecido adiposo é um órgão endócrino ativo, produzindo hormônios que não funcionam tão bem em pessoas com obesidade, ela observou. “Esse novo conhecimento levou a melhores tratamentos, como medicamentos como semaglutida e tirzepatida. Esses medicamentos, como a cirurgia bariátrica, geralmente levam a uma perda ponderal significativa e a melhoras na saúde metabólica geral.”

O Dr. Francesco também expressou preocupação com a medicalização, conforme determinado pela definição e o diagnóstico e pela disponibilidade de tratamento medicamentoso que poderia levar ao tratamento excessivo. “Atualmente, quando todos com um IMC > 30 kg/m2 têm acesso a todos os tratamentos para obesidade existentes, temos observado escassez de medicamentos. Devemos priorizar esse tratamento.”

Em última análise, o diagnóstico da obesidade como doença precisa de um biomarcador antropométrico que forneça, em nível individual, a confiança de que uma pessoa tem uma doença hoje, ou pelo menos perto de 100% de probabilidade de evoluir com essa doença, afirmou o Dr. Francesco.

“Se usarmos o IMC, ou mesmo a circunferência da cintura, isso pode diagnosticar a doença; mas se a pessoa viver até os 90 anos, qual é o sentido de rotulá-la como doente?” apontou.

“Como médicos, temos que ser cautelosos. Dizemos que isso é uma doença, mas você deve pensar nas implicações para a pessoa que recebe o diagnóstico de uma doença crônica que é substancialmente incurável. Quando dizemos isso, precisamos para ter a certeza.”

A Dra. Margaret Steele e o Dr. Aayush Visaria informaram não ter conflitos de interesses. O Dr. Francesco Rubino informou que recebeu subsídios de pesquisa da Novo Nordisk, Medtronic e Johnson & Johnson. Também realizou trabalho remunerado de consultoria para a GI Dynamics e recebeu honorários por palestras da Medtronic, Novo Nordisk e Johnson & Johnson. É membro do comitê de monitoramento de segurança de dados da GT Metabolic Solutions e prestou consultoria científica não remunerada para a Keyron, Metadeq, GHP Scientific e ViBo Health.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

[Conteúdo exclusivo para médicos e Nutricionistas] - Tratamento dietético da obesidade

 


sábado, 12 de agosto de 2023

Perda de peso clinicamente significativa incomum para a maioria dos adultos com sobrepeso: somente 1 em 10 com sobrepeso ou obesidade atinge 5% ou mais de perda de peso a cada ano

A perda de peso clinicamente significativa não era muito comum em adultos americanos com sobrepeso ou obesidade, sugeriu um estudo de coorte.

Em uma amostra de quase 18,5 milhões de adultos ambulatoriais acompanhados por 3 a 14 anos, a probabilidade anual de atingir uma perda de peso clinicamente significativa - definida como 5% ou mais - entre aqueles com sobrepeso e obesidade foi baixa, em apenas um em 10, relatou Lyudmyla Kompaniyets, PhD, do Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde do CDC em Atlanta, e colegas.

Essa probabilidade aumentou com a categoria de índice de massa corporal (IMC) inicial, de uma em 12 pessoas com sobrepeso inicial (uma em 14 homens e uma em 11 mulheres) para uma em seis homens e mulheres com um IMC inicial de 45 ou superior, observaram em JAMA Network Open.

A probabilidade anual ajustada de reduzir o IMC para a categoria de peso saudável foi alcançada em um em 19 indivíduos com sobrepeso e um em 1.667 pessoas com IMC de 45 ou superior.

Essa probabilidade foi maior entre as mulheres do que entre os homens (uma em 1.201 vs uma em 2.870).

Durante o período do estudo, 33,4% das pessoas com sobrepeso e 41,8% das pessoas com obesidade alcançaram uma perda de peso clinicamente significativa, enquanto apenas 23,2% e 2,0% desses adultos reduziram o IMC para a categoria de peso saudável, respectivamente, disseram os autores.

“Dados os benefícios para a saúde da redução de peso clinicamente significativa em qualquer nível de excesso de peso, 5% ou mais de perda de peso pode ser uma meta razoável para os esforços de controle da obesidade”, escreveram eles. “Os médicos e os esforços de saúde pública podem se concentrar em mensagens e encaminhamentos para intervenções que apoiem adultos com excesso de peso a alcançar e manter uma perda de peso clinicamente significativa”.

Kompaniyets e sua equipe notaram que não ficaram necessariamente surpresos ao ver que as mulheres tiveram uma maior incidência de perda de peso em qualquer peso inicial do que os homens, pois isso é consistente com pesquisas anteriores. Não apenas as mulheres tentam perder peso com mais frequência do que os homens, mas a cirurgia metabólica é historicamente muito mais comum em mulheres. Da mesma forma, medicamentos para perda de peso, como os agonistas do receptor GLP-1, tendem a induzir maior perda de peso em mulheres.

No entanto, Kompaniyets e seus colegas apontaram que os dados neste estudo em particular refletem uma "população que procura atendimento médico com sobrepeso ou obesidade, independentemente da intenção de qualquer indivíduo de perder peso" e, portanto, as pessoas que estão tentando ativamente perder peso podem experimentar maior reduções de peso.

Os dados para este estudo vieram do banco de dados de registros médicos eletrônicos ambulatoriais IQVIA e incluíram 18.461.623 pacientes com idades entre 17 e 70 anos (idade média de 54 anos); 56,7% eram mulheres, 72,3% eram brancos e 7,7% eram negros.

Todos os pacientes tinham no mínimo 3 anos de dados de IMC e foram acompanhados de janeiro de 2009 a fevereiro de 2022.

A probabilidade anual de uma perda de peso de 5% ou mais foi ligeiramente menor entre mulheres negras versus mulheres brancas, e ligeiramente maior entre homens negros versus homens brancos após o sobrepeso inicial, mas menor após obesidade grave inicial.

Não havia dados disponíveis sobre fatores que influenciam a perda de peso, como envolvimento em comportamentos intensivos de saúde e intervenções no estilo de vida, nível de atividade física, acesso a alimentos saudáveis ​​ou nutritivos, dieta ou determinantes socioeconômicos da saúde, o que foi uma limitação do estudo, os autores observado. 

Eles também disseram que não conseguiram diferenciar entre perda de peso intencional e não intencional.

“Compartilhar é se importar”
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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Embaixador da Comunidade Médica de Endocrinologia - EndócrinoGram

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Doenças psiquiátricas e tempo após cirurgia bariátrica impactam no reganho de peso

A compulsão alimentar – ingestão descontrolada de grande quantidade de alimentos, sem apetite e quase sem mastigar, seguida por um sentimento de culpa e angústia – foi o transtorno psicológico mais associado ao reganho de peso em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, como mostra uma pesquisa de doutorado do Instituto de Psicologia (IP) da USP realizada em um hospital privado na cidade de João Pessoa (Paraíba).

O estudo envolveu 121 pacientes entre 18 e 65 anos, submetidos à cirurgia bariátrica no Centro de Tratamento Médico e Obesidade do Hospital Samaritano, na capital paraibana. Mais de 90% deles voltaram a engordar depois do procedimento cirúrgico, sendo que 16% apresentaram transtorno de compulsão alimentar leve e 6%, a forma grave. A coleta de dados foi obtida de forma on-line entre 2020 e 2022. A pesquisa ainda contou com uma revisão da literatura científica sobre o tema a partir de bases de dados nacionais e internacionais.

“A cirurgia bariátrica é considerada padrão ouro para o tratamento da obesidade mórbida, mas a recidiva de peso observada em alguns pacientes é preocupante sob o aspecto do desfecho em relação ao controle metabólico e nutricional”, explica ao Jornal da USP a autora do estudo, a enfermeira especialista no pós-cirúrgico de obesos mórbidos, Jogilmira Macedo Silva Mendes.

A obesidade é classificada de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), calculado a partir da divisão do peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros). Se o resultado for entre 25 e 29, a pessoa é considerada com sobrepeso; entre 30 e 34, é obesidade grau I; entre 35 e 39, é obesidade grau II; e igual ou superior a 40, é obesidade grau III. Os pacientes avaliados por Jogilmira Macedo haviam passado pelo procedimento cirúrgico há, pelo menos, três anos; sofriam de obesidade graus II e III (os tipos mais graves); e apresentavam reganho de peso de mais de 10% do valor perdido logo após a cirurgia.

O cálculo para o reganho de peso foi obtido por meio da diferença entre a maior perda alcançada pelo paciente após a cirurgia (denominado nadir) e o peso que ele voltou a ter (a recidiva). “É o momento ‘lua-de-mel’ pós-bariátrica, que corresponde a um período de mais ou menos 18 meses após a realização do procedimento cirúrgico, quando a pessoa perde mais peso, está mais motivada e disposta a seguir as recomendações médicas e nutricionais. Passado esse momento, o apetite, que estava reduzido, volta a crescer; o peso se estabiliza e depois passa a aumentar”, diz.

A pesquisa

Para avaliar os pacientes, Jogilmira Macedo utilizou questionários contendo perguntas relacionadas aos dados sociodemográficos e clínicos dos pacientes e três escalas – a de Compulsão Alimentar Periódica (Ecap), para avaliar a compulsão alimentar; a Ehad, para medir o nível de ansiedade e a depressão; e a Audit, para medir o consumo e provável dependência de álcool.

A Ecap é composta de 16 itens que avaliam a gravidade da compulsão alimentar dos pacientes levando em conta as manifestações comportamentais e os sentimentos e cognições envolvidos num episódio de compulsão alimentar. A classificação é feita de acordo com a pontuação obtida, sendo indivíduos com pontuação menor ou igual a 17 considerados sem compulsão; com pontuação entre 18 e 26, com compulsão moderada; e aqueles com pontuação maior ou igual a 27, com compulsão grave.

Também foram feitos cálculos porcentuais com o excesso de peso (EP) antes da cirurgia, da perda de excesso de peso (PEP) e do reganho de peso (RP), cruzando os dados referentes ao três momentos distintos: o peso pré-operatório (até 30 dias antes da cirurgia), o peso nadir (menor peso atingido pós-cirurgia) e o peso recidiva (peso recuperado em relação ao nadir).

Resultados

Feitas as correlações entre comorbidades psíquicas e reganho de peso, Jogilmira Macedo relata que, embora os pacientes apresentassem níveis variados de transtornos psíquicos (como ansiedade, depressão e alcoolismo), o que apresentou uma maior associação ao reganho de peso foi o transtorno de compulsão alimentar. De acordo com a escala Ecap, 16% tiveram a forma mais leve desse transtorno e 6% a forma grave. O porcentual de pessoas que voltaram a engordar após a cirurgia bariátrica (cálculo feito entre o menor peso atingido pelo paciente depois da cirurgia e a recidiva) foi de 92,4%.

A pesquisadora reforça a importância de um acompanhamento médico multidisciplinar dos pacientes antes, durante e após a cirurgia bariátrica, o que, em sua opinião, garantiria melhores resultados do procedimento.

“A cirurgia bariátrica controla a obesidade, mas não trata da dinâmica psíquica que leva a pessoa a usar a comida como mediadora para lidar com os seus conflitos. O corpo foi cuidado, mas as questões emocionais que levaram ao comportamento alimentar disfuncional podem persistir”, diz.

Tempo pós-cirúrgico e impacto na manutenção do peso
Para Leorides Severo Duarte Guerra, psicóloga e pós-doutoranda da Faculdade de Medicina (FMUSP), os transtornos psiquiátricos são comuns em pacientes com obesidade grave e podem afetar os resultados de perda de peso após a cirurgia bariátrica. No entanto, ela diz que a relação de longo prazo entre transtornos psiquiátricos e mudanças de peso ainda não está clara.

Em uma pesquisa que fez com 189 pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, a psicóloga investigou essa associação ao longo de um período de oito anos (2011 a 2019). Segundo a pesquisadora, neste estudo, o aumento de peso após a cirurgia não ficou associado à presença dos transtornos psiquiátricos. “Observamos que os transtornos psiquiátricos – incluindo depressão e compulsão alimentar – tiveram uma tendência a aumentar após a cirurgia bariátrica, porém, o tempo decorrido pós-cirúrgico teve maior impacto na manutenção do peso do que os transtornos psiquiátricos. O aumento de peso ocorreu ao longo do tempo, independentemente dos transtornos psiquiátricos”, relata.

A pesquisa com os pacientes do HC foi orientada pelo professor Wang Yana Pang, médico psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas da FMUSP, e supervisão do professor Francisco Lotufo Neto, do Instituto de Psicologia.

Comorbidades psiquiátricas

Sobre o resultado do estudo realizado com pacientes no hospital na Paraíba, a psicóloga diz que, apesar da compulsão alimentar ser frequente entre pacientes com reganho de peso, ela não responde sozinha pelo problema porque os transtornos psiquiátricos são comórbidos.

“A compulsão alimentar é uma condição complexa e multifatorial e pode incluir diversos fatores, como emocionais, biológicos, ambientais, sociais, padrões alimentares disfuncionais e dietas restritivas. Cada indivíduo pode ter uma combinação única de causas subjacentes à sua compulsão alimentar”, diz.

“O acompanhamento de longo prazo e o suporte são cruciais para otimizar os resultados de perda de peso e tratar as comorbidades psiquiátricas em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica”, reforça.

A tese de doutorado Aspectos psicológicos associados ao reganho e excesso de peso tardios em pessoas submetidas a cirurgia bariátrica teve orientação do professor Francisco Lotufo Neto, do Instituto de Psicologia da USP, e foi defendida em julho deste ano. Um artigo de revisão foi publicado na Research Society and Development. Outro artigo, sobre perfil clínico de pacientes bariátricos, foi submetido à revista ABCD Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva.

sábado, 5 de agosto de 2023

Aula sobre Obesidade: O baralho: Obesidade, cartas sobre a mesa

 


Esse baralho, elaborei em parceria com o meu nutricionista (Rodrigo Lamonier) e utilizamos na primeira consulta, dos pacientes portadores de obesidade. Espero que gostem das explicações sobre as cartas. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Preciso emagrecer: Nutrólogo ou Nutricionista qual devo procurar ?


Frequentemente amigos, colegas de profissão, seguidores e até familiares questionam: Preciso emagrecer, quem eu devo procurar primeiro? Nutrólogo ou Nutricionista? Por ser uma pergunta rotineira resolvi responder na forma de texto, assim facilito para todos e exponho a minha opinião.

Primeiramente devemos entender a diferença entre o Nutrólogo e Nutricionista. A compreensão da diferença já responde parte da pergunta, pois o âmbito de atuação é diferente, o tipo de diagnóstico é diferente e a abordagem terapêutica é diferente.

O  Nutrólogo é o médico que se especializou em Transtornos relacionados a Alimentação. Ou seja, doenças nutricionais, doenças que sofrem influência da alimentação. Precisou cursar 6 anos de Medicina, depois fazer residência de clínica médica ou cirúrgica por 2 anos e posteriormente 2 anos de residência de Nutrologia. Totalizando, no mínimo 10 anos de estudo. 6 de graduação e 4 de especialização. Pode ser que esse médico tenha feito a graduação em Medicina, posteriormente fez uma pós-graduação em Nutrologia  e comprovado o tempo de atuação na área, recebeu o aval para prestar a prova de título (geralmente 8 anos de formado, sendo 4 anos de atuação em Clínica Médica ou cirúrgica e 4 de atuação em Nutrologia). Uma vez aprovado na prova de título, ele pode se intitular Nutrólogo e tirar no conselho um número chamado Registro de Qualificação de Especialista (RQE), referente à Nutrologia. 

O foco do médico é no diagnóstico da situação (sinais/sintomas) relatada pelo paciente, escolha do tipo de tratamento (Clínico/cirúrgico), melhora do prognóstico, reabilitação e prevenção. Uma abordagem bem ampla. Mas gravem esse termo: "Diagnóstico". 

Na parte de tratamento, o nutrólogo pode prescrever nutrientes (alimentos, macronutrientes, vitaminas, minerais, fibras), pela via oral, enteral e se necessário por via parenteral (endovenosa ou intramuscular), além de medicamentos. 

Pode prescrever dieta? Sim, de acordo com o Conselho Federal de Medicina sim, de acordo com o Conselho Federal de Nutrição não. Isso é um tema polêmico e espinhoso, o qual já escrevi aqui. 

E o Nutricionista?

De acordo com o Conselho Federal de Nutrição (CFN), a Nutrição é definida como o conjunto de competências específicas resultante do aprofundamento da Ciência da Nutrição (Ciências Nutricionais) na dimensão biopsicossocial do indivíduo e da coletividade, que caracteriza o núcleo de exercício profissional de nutricionista em caráter não generalista. A nutrição consiste em uma ciência da saúde que estuda:
1) Os alimentos,
2) Os nutrientes presentes nos alimentos,
3) A ação dos alimentos na nossa saúde (o que o alimento faz com o nosso corpo),
4) O que o nosso corpo faz com os alimentos,
5) Interação entre nosso corpo e os nutrientes, bem como interação entre os alimentos,
6) Os processos pelos quais o organismo ingere, absorve, transporta, utiliza e elimina os nutrientes.

Muitos querem atuar na Nutrição no Brasil e ter a prerrogativa de prescrever um plano alimentar e/ou suplementos. Mas poucos querem sentar em uma cadeira de faculdade e estudar ao longo de no mínimo 4 anos, posteriormente fazer residência e/ou pós-graduações, mestrado, doutorado. Para se tornar Nutricionista, o indivíduo deve cursar uma faculdade (graduação) em Nutrição. No Brasil, o curso de graduação em Nutrição tem uma duração média de 4 anos, em período integral (nas Universidades Federais). Durante esse período, os futuros nutricionistas adquirem conhecimentos teóricos e práticos relacionados à ciência da nutrição, dietética, saúde, alimentação e outras áreas afins. O currículo inclui aulas teóricas, práticas em laboratórios, estágios e atividades complementares. Estudará matérias comuns ao ciclo básico da área da saúde (Anatomia, Histologia, Fisiologia, Bioquímica), posteriormente disciplinas do ciclo clínico.

É importante ressaltar que a duração do curso pode variar em algumas instituições de ensino, podendo ser um pouco mais curto (4 anos) ou mais longo (5 anos) dependendo da grade curricular específica adotada pela universidade. Após terminar a graduação, o Nutricionista pode fazer residência multiprofissional em diversas áreas, dentre as reconhecidas pelo CFN como especialidades da Nutrição.

I. Educação Alimentar e Nutricional
II. Gestão de Políticas Públicas e Programas em Alimentação e Nutrição;
III. Nutrição Clínica;
IV. Nutrição Clínica em Cardiologia;
V. Nutrição Clínica em Cuidados Paliativos;
VI. Nutrição Clínica em Endocrinologia e Metabologia;
VII. Nutrição Clínica em Gastroenterologia;
VIII. Nutrição Clínica em Gerontologia;
IX. Nutrição Clínica em Nefrologia;
X. Nutrição Clínica em Oncologia;
XI. Nutrição Clínica em Terapia Intensiva;
XII. Nutrição de Precisão;
XIII. Nutrição e Alimentos funcionais;
XIV. Nutrição e Fitoterapia;
XV. Nutrição em Alimentação Coletiva;
XVI. Nutrição em Alimentação Coletiva Hospitalar;
XVII. Nutrição em Alimentação Escolar;
XVIII. Nutrição em Atenção Primária e Saúde da Família e Comunidade;
XIX. Nutrição em Esportes e Exercício Físico;
XX. Nutrição em Estética;
XXI. Nutrição em Marketing;
XXII. Nutrição em Saúde Coletiva;
XXIII. Nutrição em Saúde da Mulher;
XXIV. Nutrição em Saúde de Povos e Comunidades Tradicionais;
XXV. Nutrição em Saúde Indígena;
XXVI. Nutrição em Saúde Mental;
XXVII. Nutrição em Transtornos Alimentares;
XXVIII. Nutrição em Vegetarianismo e Veganismo;
XXIX. Nutrição Materno-Infantil;
XXX. Nutrição na Produção de Refeições Comerciais;
XXXI. Nutrição na Produção e Tecnologia de Alimentos e Bebidas;
XXXII. Qualidade e Segurança dos Alimentos;
XXXIII. Segurança Alimentar e Nutricional; e
XXXIV. Terapia de Nutrição Parenteral e Enteral.

O nutricionista também pode fazer pós-graduação em alguma dessas áreas e posteriormente fazer a prova de título de especialista pela Associação Brasileira dos Nutricionistas (ASBRAN). Atuar em qualquer uma dessas áreas, já que diferente do CFM, o CFN não obriga que a pessoa tenha título de especialista para atuar.

Agora que entendemos a diferença entre o Nutricionista e o Nutrólogo, esmiuçarei a resposta para a pergunta: Qual devo procurar.

O Nutrólogo ele é responsável pelo diagnóstico nosológico, ou seja, diagnóstico da Doença. O Nutricionista dá o diagnóstico Nutricional, ou seja, ele não pode dar diagnóstico de doença de acordo com o Conselho Federal de Nutrição. O Diagnóstico de doença é uma prerrogativa médica. Mas por que? Pelo simples fato de que para se diagnosticar é preciso entender de inúmeras disciplinar que os Nutricionistas não possuem durante a graduação. Exemplo: 
1) Exames laboratoriais mais complexos
2) Holter, MAPA, Teste ergométrico, Cintilografia, Densitometria óssea, Ultrassonografia, Ressonância magnética, Raio X, Polissonografia e outras dezenas de exames.

Ora, se o paciente apresenta um sintoma ou sinal, este deve ser investigado a fim de que se faça um DIAGNÓSTICO correto. Quem faz essa investigação? O Médico. No caso de doenças nutricionais, o Nutrólogo. 

O primeiro passo é dar o diagnóstico, então o primeiro passo é passar pelo médico.

- Mas Dr. Frederico eu já fui ao médico e ele diagnosticou, não posso ir direto ao Nutricionista? 

Sim, você é livre, tem o direito constitucional de ir e vir. Ir ao nutricionista está dentro do seus direitos.
Ele fará uma anamnese, exame físico, as vezes solicitação alguns exames adicionais e instituirá um tratamento. Tratamento este que pode ser apenas com um plano dietético, mas que também pode incluir prescrição de suplementos alimentares, vitaminas, minerais, fibras, probióticos e até mesmo fitoterápicos. Aqui cabe um adendo, a prescrição feita por nutricionistas tem limites. Ou seja, doses mais elevadas de nutrientes (Ex. Doses altas de ferro, B12, Zinco, etç) exigem prescrição médica. Alguns fitoterápicos são de prescrição exclusiva de médicos:
  • Actaea racemosa L (Cimicífuga); 
  • Ginkgo biloba L. (Ginkgo)
  • Hypericum perforatum L. (Hipérico)
  • Piper methysticum G. Forst. (Kava-kava)
  • Valeriana officinalis L. (Valeriana) 
Ou seja, esses o nutricionista não pode prescrever. Além disso, diferente do médico nutrólogo, medicamentos alopáticos de nenhum tipo o nutricionista pode prescrever. Em relação à via: só pode prescrever por via oral ou enteral (sonda). A prescrição via parenteral é exclusiva de médicos. Ou seja, nutricionista não pode prescrever nada endovenoso ou intramuscular. 

- Mas Dr. Frederico eu já sei que estou acima do peso, já sei o meu IMC, sei que estou com quadro de obesidade grau II, não posso ir diretamente ao nutricionista?

Sim, lembra da constituição? Do seu direito de ir e vir? Sim, pode ir, mas não é o que recomendo e abaixo te explicarei os motivos. 

A obesidade é uma DOENÇA, incurável, crônica, com várias etiologias (multifatorial), vários fatores agravantes, com forte componente genético e que necessita de intervenção multidisciplinar. Se você focar somente no percentual de gordura corporal, deixará passar várias doenças que somente o médico é capaz de diagnosticar. Exemplo: Síndrome de Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS). Durante a consulta com o Nutrólogo, ele medirá a sua circunferência do pescoço, ele aplicará questionários que podem indicar privação de sono, avaliará exames que podem indicar que você esteja fazendo apnéia (ficando sem respirar), como por exemplo o MAPA ou HOLTER. E muitas vezes, se essa apnéia não for tratada, você terá muito mais dificuldade para perder gordura. Sentirá cansaço crônico pela privação de sono promovida pelos vários microdespertares no período do sono. A Apnéia associada a privação promoverá um aumento de substâncias como a Grelina, que promove aumento do apetite e predileção por carboidratos e gorduras. Se for homem, promoverá redução dos níveis de testosterona. Se existir resistência insulínica (o que provavelmente existe) terá maiores níveis de insulina e de glicemia. 

Entende a complexidade?

Além disso, temos que ser realistas quando se trata de obesidade (doença). A maioria dos pacientes não conseguirão perder peso e SUSTENTAR essa perda de peso apenas com mudança de estilo de vida (dieta e atividade física). Isso quem afirma não sou eu e sim inúmeros estudos. Cerca de 90% dos pacientes não conseguirão, 10% consegue e sustenta a perda de peso após 5 anos. 5% sustenta após 10 anos. Ou seja, altíssima taxa de falha, péssimo prognóstico. Quanto mais precoce a intervenção melhores os desfechos. Resumindo, na maioria das vezes o tratamento medicamentoso ou até cirúrgico se faz necessário. Reflita sobre quantas pessoas portadoras de obesidade você conheceu ao longo de toda a sua vida. Quantas conseguiram perder peso somente com dieta e atividade física e conseguiram sustentar essa perda de peso por 5, 10 ou mais anos? Estou a frente de um ambulatório de Nutrologia no SUS, mais de 8 mil pacientes atendidos e ao longo de quase 10 anos, afirmo categoricamente que é uma situação delicada, com altas taxas de falha, abandono do tratamento e desesperança, mesmo com profissionais capacitados. No consultório a situação não é diferente, mesmo os pacientes tendo melhores condições financeiras e disponibilidade de acesso a abordagem mais modernas (Fármacos de custo elevado, personal trainer, nutricionista, psicoterapia). 

Então, se eu pudesse te dar uma dica seria: Quer emagrecer? Procure um Médico, especialista na área (com RQE de Nutrlogia). Você merece um olhar amplo, uma abordagem mais ampla. O bom nutrólogo não exclui o Nutricionista do tratamento, muito menos o profissional da Educação física e principalmente o Psicólogo. Ele tem discernimento que a obesidade é uma Doença Crônica, incurável, com forte componente genético, multifatorial, de difícil tratamento e que os melhores resultados são alcançados através de uma intervenção multidisciplinar. 

- OK, eu irei ao médico, mas precisa ser mesmo o Nutrólogo? Não pode ser um Endócrino?

Isso é tema para um outro post. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416

sábado, 29 de julho de 2023

Potencial "anti-inflamatório" da dieta e a excreção urinária de polifenóis

A excreção urinária de polifenóis tem despertado interesse como um biomarcador da ingestão de uma dieta com potencial ação anti-inflamatória. Estudos mostram que fatores de risco como tabagismo, consumo excessivo de álcool, estilo de vida sedentário e uma dieta não saudável podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e processos inflamatórios. No entanto, adotar uma alimentação saudável, rica em polifenóis encontrados em alimentos à base de plantas, pode contribuir para a prevenção dessas doenças.

Nesse contexto, o Índice Inflamatório da Dieta (IID) foi proposto como uma forma de avaliar o potencial inflamatório da alimentação, classificando alimentos e nutrientes como pró ou anti-inflamatórios.

Este estudo buscou analisar a relação entre as concentrações de polifenóis excretados na urina e as mudanças no escore do IID, com a hipótese de que o potencial inflamatório da dieta está inversamente relacionado às concentrações de polifenóis. Acontece que existem inúmeros compostos bioativos com "potencial ação" anti-inflamatória in vitro e que não são polifenóis.

Investigou-se a associação entre as concentrações de polifenóis na urina e as mudanças na Síndrome Metabólica, sugerindo uma possível melhoria dessa condição com o aumento da ingestão de polifenóis. Porém, existe o viés de uma dieta com menos ultraprocessados, mais rica em alimentos in natura ou minimamente processados, maior ingestão de fibras, alterações na microbiota, além de perda de peso que obviamente promoverá melhora dos parâmetros relacionados à síndrome metabólica.

Avaliando os efeitos da Dieta Mediterrânea na prevenção primária de doenças cardiovasculares.

O estudo PREDIMED, foi realizado em forma de ensaio clínico randomizado, multicêntrico, controlado e em grupo, na Espanha, de 2003 a 2010, com o objetivo de avaliar os efeitos da Dieta Mediterrânea na prevenção primária de doenças cardiovasculares (DCVs).

A população do estudo incluiu 7.447 homens e mulheres, com fatores de risco para DCVs, como diabetes tipo 2, tabagismo, hipertensão, colesterol de lipoproteína de baixa densidade alto, colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) baixo, sobrepeso ou obesidade e história familiar de DCV prematura.

O acompanhamento foi realizado por 5 anos, e os participantes foram avaliados por excreção total de polifenóis, questionário de frequência alimentar (QFA), medidas antropométricas e exames de pressão arterial, glicose e perfil lipídico.
  • Avaliação dietética: QFA semiquantitativo e um questionário sobre adesão à dieta tradicional do Mediterrâneo e ingestão de energia e nutrientes (estimada por tabelas de composição de alimentos espanholas).
  • Avaliação do estilo de vida: questionário geral sobre estilo de vida, educação, histórico de doenças e uso de medicamentos e atividade física (avaliada por Questionário de Atividade Física de Lazer do Minnesota).
  • Avaliação antropométrica e clínica: peso, altura, IMC, pressão arterial sistólica e diastólica, amostras biológicas de plasma e urina (coletadas no início do estudo após um jejum de 12 horas), glicose no sangue, colesterol total, triglicerídeos e colesterol HDL.
  • Avaliação da excreção total de polifenóis: amostras de urina espontânea. A excreção total de polifenóis foi determinada utilizando o método de Folin-Ciocalteu com uma extração em fase sólida, removendo interferências urinárias (a PTE é expressa em mg de equivalente de ácido gálico – EAG – por grama de creatinina).
Índice Inflamatório da Dieta (IID)

O Índice Inflamatório da Dieta (IID) foi desenvolvido com base em dados da literatura sobre o efeito de 45 parâmetros dietéticos em 6 biomarcadores de inflamação, onde cada parâmetro recebeu uma pontuação de acordo com seu efeito: 
  • pró-inflamatório (+1), anti-inflamatório (1) ou nulo (0) nos biomarcadores.
A ingestão diária média global de cada parâmetro foi estimada a partir de um banco de dados, e a ingestão individual foi comparada com essa média para calcular um escore z. Os escores, por sua vez, foram centralizados e multiplicados pelo efeito inflamatório geral do alimento.

As variáveis dietéticas avaliadas incluíram energia total, macronutrientes, ácidos graxos, vitaminas, minerais e outros componentes alimentares.

Síndrome Metabólica (SM)

Participantes que preenchiam 3 ou mais dos seguintes critérios receberam o diagnóstico de SM:

  • Circunferência da cintura aumentada: Homens = >102cm | Mulheres = >88cm.
  • Concentrações elevadas de triglicerídeos: >150mg/dL | Tratamento medicamentoso para triglicerídeos elevados.
  • Baixo colesterol HDL: Homens = <40mg/dL | Mulheres = <50mg/dL.
  • Pressão arterial alta: Sistólica = >130mmHg | Diastólica = >85mmHg | Tratamento medicamentoso anti-hipertensivo.
  • Concentrações elevadas de glicose em jejum: >100mg/dL | Tratamento medicamentoso para glicose elevada.
Características gerais dos participantes

Dados demográficos e de saúde foram coletados para a realização do estudo. As principais condições de saúde observadas foram hipertensão e hipercolesterolemia, com tratamentos medicamentosos.

Além disso, cerca de 20% dos participantes eram fumantes, e observou-se uma maior prevalência de prática de atividade física em homens.

Em relação às concentrações de polifenóis na urina, foi constatado que as mulheres apresentaram uma excreção maior (média de 18,3mg EAG/g de creatinina), enquanto os homens apresentaram uma média de 5,7mg EAG/g de creatinina. As mudanças na excreção de polifenóis (PTE) foram semelhantes para homens e mulheres, com média de 7,9mg EAG/g de creatinina para mulheres e 7,7mg EAG/g de creatinina para homens.

Mudanças na ingestão dietética – Após 5 anos

Os resultados do estudo mostraram que na dieta menos inflamatória houve uma menor ingestão de proteínas, especialmente entre as mulheres e um maior consumo de gordura poli-insaturada, incluindo azeite extra virgem, vegetais, frutas, nozes e peixes.

As variáveis dietéticas analisadas diferiram significativamente tanto no início do estudo quanto após 5 anos de acompanhamento, embora não tenham sido encontradas diferenças significativas nas variáveis relacionadas a ácidos graxos monoinsaturados (MUFAs), consumo de álcool e chá entre os participantes.

Principais achados

  • Mulheres: aumento no potencial inflamatório da dieta inversamente associado às mudanças na PTE urinária; dietas mais inflamatórias apresentaram uma PTE menor em comparação com as menos inflamatórias, e a relação foi linear.
  • Homens: nenhuma relação significativa observada entre os grupos de mudança no escore IID e as mudanças na PTE urinária quando comparados os níveis de inflamação nas dietas.
Após 5 anos: aumento na PTE inversamente associado à reversão da SM, em todos os participantes.
Dieta rica em polifenóis como estratégia benéfica na promoção da saúde cardiovascular e metabólica
O estudo revelou uma relação positiva entre a dieta anti-inflamatória e os níveis de polifenóis na urina em mulheres, além de constatar que altos níveis de polifenóis podem estar associados a uma melhora na Síndrome Metabólica em adultos mais velhos com risco de doenças cardiovasculares.

A Dieta Mediterrânea, utilizada no estudo, rica em cereais, vegetais, frutas, nozes e azeite de oliva extravirgem, é conhecida por seu potencial anti-inflamatório devido aos polifenóis presentes em seus alimentos. Os polifenóis têm a capacidade de inibir enzimas pró-inflamatórias e estimular enzimas antioxidantes, contribuindo para seus efeitos benéficos.

No estudo, foi observada uma correlação significativa entre a ingestão de polifenóis e os níveis excretados na urina, e embora homens e mulheres tenham mostrado tendências semelhantes nas mudanças dietéticas ao longo do tempo, apenas as mulheres apresentaram uma associação entre uma dieta anti-inflamatória e níveis de polifenóis urinários.

Os achados ainda mostram os múltiplos benefícios para a saúde associados aos polifenóis, como a redução do risco de desenvolvimento de Síndrome Metabólica e melhora do dismetabolismo pós-prandial.

Em conclusão, o uso do PTE urinário como biomarcador da ingestão de polifenóis mostrou-se preciso e objetivo, ou seja, PTE urinário pode ser um indicador do consumo de uma dieta anti-inflamatória.

Referência:
  • Riveros, C. A.; Lopez, I. D.; Rimbau, A. T.; et al. Total urinary polyphenol excretion: a biomarker of an anti-inflammatory diet and metabolic syndrome status. The American Journal of Clinical Nutrition, vol. 117, Issue 4, 2023.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Será que existe relação entre obesidade e bactérias do intestino ?

Para ler o texto acesse: https://nutritotal.com.br/pro/existe-relaa-a-o-causal-entre-alteraa-a-o-da-microbiota-intestinal-e-obesidade/

domingo, 16 de julho de 2023

Higiene do sono

A qualidade do sono é sinônimo de qualidade de vida. Ano após ano surgem cada vez mais estudos mostrando a importância do sono na nossa homeostase, longevidade e qualidade de vida. 

O sono é um dos nosso pilares para ter uma boa vida. Portanto, se você apresenta algum sintoma relacionado sono, recomendamos fortemente que procure auxílio médico. De preferência um médico especialista em Medicina do sono. Inúmeras são as causas que podem levar a alterações no sono. 

Alguns estudos tem evidenciado que:
  • 23% dos adultos jovens têm uma qualidade ruim de sono;
  • 61% delas têm dificuldade em manter o sono, 
  • 7,7% têm dificuldade de iniciar o sono,
  • 2,2% despertam muito cedo;
  • 25% não têm sono reparador;
  • A prevalência da insônia entre mulheres é maior, tem início já na adolescência e se agrava na menopausa;
  • Sono não reparador está associado à obesidade, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardíacas, depressão, ansiedade, piora de doenças autoimunes e alteração na percepção da dor.


Medidas simples que podem te ajudar a ter melhor higiene do sono

1) Exposição a luz solar no período matutino
2) Reduzir uso de telas (luz azul) 2 a 3 horas antes de deitar.
3) Praticar regularmente atividade física, mas fique atento se a prática de atividade física após as 18:00 não te deixa muito desperto e atrapalha o sono. Yoga é uma atividade que vários pacientes relatam que ajuda no sono.
4) Manejo do estresse: faça psicoterapia, meditação, mindfulness, orações, mantras ou o que a sua crença permitir
5) Construa boas relações interpessoais e isso começa no lar. Conflitos em relacionamentos agravam insônia.
6) Procure auxílio de um nutricionista que entenda de sono e faça uma dieta balanceada, sem muita gordura e carboidratos no período próximo de deitar. Refeições pesadas atrapalham o sono. Ingestão de lácteos e alimentos protéicos (não volumosos) podem auxiliar em uma boa noite de sono. Nutrientes importantes: magnésio, ácido fólico, vitamina B12, Ferro, Vitamina B6 e vitamina D.
7) Consuma no período noturno: chás que podem ter ação sedativa: camomila, erva-cidreira, erva-doce, mulungu. 
8) Tome um banho morno antes de deitar.
9) Pingue algumas gotas de óleo de lavanda no travesseiro.
10) Acupuntura pode ser uma ótima terapia para auxiliar na higiene do sono.
11) A temperatura do quarto deve ser adequada. Temperatura acima de 15,5° e abaixo de 19.4°C demonstraram ser a melhor temperatura para indução do sono.
12) Estabeleça uma rotina: hora de deitar e hora de acordar.
13) Evite cafeína, álcool e nicotina (cigarro) perto do horário de dormir.
14) Evite cochilos de mais de 30 minutos ao longo do dia.

Fontes: 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351 


Texto que a minha afilhada Dra. Helena Bacha preparou com minha orientação.

Vamos falar sobre SONO? 😴

Você sabia que muitos dos problemas de sono podem ser resolvidos com a adoção de bons hábitos chamados de "higiene do sono"? 💤

O termo "higiene do sono" foi cunhado pelo cientista e especialista em medicina do sono, Peter Hauri. Peter Hauri introduziu o conceito de higiene do sono na década de 1970, quando percebeu a importância de adotar comportamentos e práticas saudáveis relacionadas ao sono para promover uma noite de descanso adequada. 🌙

O termo "higiene do sono" foi escolhido porque faz uma analogia direta com a higiene pessoal. Assim como cuidamos da nossa higiene diária para mantermos nosso corpo limpo e saudável, a higiene do sono refere-se às práticas e rotinas que contribuem para um sono saudável e reparador.

Através de estudos e pesquisas, a higiene do sono tem se consolidado como uma abordagem eficaz para melhorar a saúde e o bem-estar a longo prazo. 🧘🏻‍♀️

Não negligencie o seu sono!

Como anda seu sono por aí? Me conta nos comentários! ❣️

📚 Referências bibliográficas:
1. American Academy of Sleep Medicine. (2020) Healthy sleep habits. Disponível em: http://sleepeducation.org/healthy-sleep/healthy-sleep-habits/
2. National Sleep Foundation. (2006). Sleep hygiene tips. Disponível em: https://www.sleepfoundation.org/articles/sleep-hygiene
3. Watson, N. F., et al. (2015). Recommended amount of sleep for a healthy adult: A joint consensus statement of the American Academy of Sleep Medicine and Sleep Research Society. Sleep, 38(6), 843-844.
















sábado, 15 de julho de 2023

Será que a Berberina é um Ozempic natural?

Esqueça as afirmações do TikTok: “Ozempic Natural” não existe, dizem especialistas

Se acreditarmos nos influenciadores do TikTok, o composto à base de plantas chamado berberina pode ser um substituto para medicamentos populares para diabetes e perda de peso, como Ozempic e Wegovy.

O uso da berberina como suplemento tornou-se tão recorrente, na verdade, que foi apelidado de “Ozempic Natural” pelos usuários de mídia social. Alguns fabricantes estão pulando na tendência.

“A berberina se tornou minha nova melhor amiga porque tem me ajudado na perda de peso”, disse uma influenciadora, acrescentando que um dos fabricantes do suplemento de ervas está oferecendo a ela – e a alguns de seus telespectadores – o suprimento para um ano

Alguns especialistas médicos com quem a CNN conversou, no entanto, tinham preocupações sobre o uso deste suplemento não regulamentado.

Como um extrato de plantas como goldenseal, bérberis e várias papoulas, a berberina é considerada um suplemento dietético pela Food and Drug Administration, agência dos Estados Unidos semelhante à Anvisa, e, portanto, é regulamentada como alimento, não como medicamento.

“Esse é o problema com a berberina e todas essas substâncias à base de plantas – elas normalmente não são rigorosamente estudadas em grandes ensaios clínicos randomizados pelos quais submetemos drogas reais. Portanto, você deve ter muito cuidado”, disse a Dra. Caroline Apovian, professora de medicina na Harvard Medical School e codiretora do Centro de Controle de Peso e Bem-Estar do Brigham and Women’s Hospital em Boston.

“Quanto a ser o Ozempic da natureza, não há evidências que sugiram que isso seja verdade”, acrescentou Apovian, que foi o principal autor das diretrizes de prática clínica da Endocrine Society para o tratamento farmacológico da obesidade.

O efeito de perda de peso da berberina é significativo?

Isso não significa que a erva não tenha nenhum impacto nos sistemas metabólicos do corpo.

Uma meta-análise agrupada de vários pequenos estudos clínicos sobre o impacto da berberina nos fatores de risco cardiovascular, incluindo obesidade, encontrou um benefício de perda de peso muito pequeno, mas estatisticamente significativo.

“Mas a significância estatística não significa clinicamente significativo”, disse o Dr. Justin Ryder, pesquisador de obesidade pediátrica e professor associado de cirurgia e pediatria na Feinberg School of Medicine da Northwestern University, em Chicago.

“O que quero dizer com isso? Em média, entre os estudos, a resposta combinada foi de cerca de 0,25 redução no índice de massa corporal ou IMC em comparação com o placebo”, disse.

O índice de massa corporal é uma medida da gordura corporal de uma pessoa com base na altura e no peso.

“Para Ozempic e Wegovy, a diminuição do IMC em comparação com o placebo foi de 4,61 unidades de IMC, ou 18 vezes mais eficaz do que a berberina, acrescentou Ryder.

“Então, a berberina tem efeito? Os dados sugerem que sim. O efeito é significativo? Provavelmente não.”

História da berberina

Algumas das cerca de 500 espécies diferentes de plantas que pertencem ao gênio Berberis têm sido usadas há séculos no Ayurveda e na medicina tradicional chinesa para combater inflamações e curar feridas, curar constipação e hemorróidas e combater infecções do ouvido, olho, boca e aparelho digestivo.

“Faz parte do arsenal de ervas usadas pelos médicos naturopatas”, disse o Dr. Joshua Levitt, um médico naturopata em Hamden, Connecticut.

“Quando se trata de controle glicêmico e regulação do colesterol e outros lipídios e usos antimicrobianos, há algumas coisas legais a serem feitas com ervas e nutrientes.”

Na verdade, a biblioteca do imperador assírio Ashurbanipal tem tabuletas de argila que datam de 650 aC, afirmando que o fruto picante da planta bérberis era usado como agente purificador do sangue.

“Geralmente é usado em sua forma de extrato de planta inteira – folhas, raízes, casca, tudo transformado em uma tintura em pó ou algo assim”, disse Levitt.

Os cientistas conseguiram extrair a berberina como ingrediente ativo nessas plantas há mais de 100 anos, disse ele, e começaram a estudar o composto para problemas metabólicos como colesterol, diabetes e obesidade.

A berberina pode aumentar a produção natural do corpo de GLP-1, ou peptídeo 1 semelhante ao glucagon, um hormônio gastrointestinal usado no Ozempic e em outros novos medicamentos para perda de peso.

É assim que o composto “se encaixa nessa discussão. No entanto, em termos de benefícios de perda de peso, eles são modestos na melhor das hipóteses”, disse ele.

Possíveis efeitos colaterais da berberina

A berberina pode ter efeitos colaterais quando misturada com outros medicamentos, incluindo o medicamento metformina, frequentemente prescrito para pessoas com diabetes e síndrome do ovário policístico e, mais recentemente, para perda de peso.

“A metformina reduz o açúcar no sangue e a berberina reduz o açúcar no sangue”, disse Levitt.

“E se você tomar dois itens que reduzem o açúcar no sangue ao mesmo tempo, pode ter um problema como hipoglicemia excessiva, quando o açúcar no sangue cai.”

Além disso, a berberina é “diretamente antimicrobiana”, que era seu uso mais comum na medicina herbal histórica, Levitt disse: “Os efeitos antimicrobianos podem irritar o trato GI, a menos que uma pessoa tenha um crescimento excessivo de insetos ruins podem causar problemas digestivos”.

A berberina pode ser perigosa se tomada com ciclosporina, um medicamento imunossupressor usado para tratar a rejeição de órgãos pós-transplante, pois pode aumentar os efeitos desse medicamento e possíveis efeitos colaterais.

Outra interação conhecida é com medicamentos sedativos, pois a berberina pode causar sonolência adicional e respiração lenta, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina.

Além disso, a berberina não deve ser tomada durante a gravidez ou amamentação.

“A berberina pode atravessar a placenta e causar danos ao feto. Kernicterus, um tipo de dano cerebral, se desenvolveu em recém-nascidos expostos à berberina”, observa a Biblioteca Nacional de Medicina em seu site.

Por esses motivos, é importante consultar seu médico primeiro se estiver pensando em tomar berberina ou qualquer outro suplemento não regulamentado.

Apesar da pesquisa que investiga o impacto potencial da erva na diabetes, colesterol alto e doenças cardíacas, o FDA “ainda não aprovou a berberina para qualquer prescrição ou uso de medicamentos sem receita e enviou avisos de violação a empresas que fizeram reivindicações de medicamentos em seus sites”, de acordo com a American Chemical Society.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Novo medicamento para obesidade (Retatrutida) reduz até 24% do peso, mostra estudo

Na semana passada foi apresentado no Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA), um novo fármaco para tratamento da obesidade. A droga está em fase de teste, porém, até o momento mostrou resultados altamente promissores, comparado a perda ponderal igual cirurgia bariátrica, quando administrada a dose máxima. A  retatrutida ocasionou a perda de peso média de 24,2% após 48 semanas de uso semanal

Isso é um resultado inédito em um teste com menos de um ano de duração para tratar obesidade —o estudo é de fase 2, que testa eficácia, dosagem e segurança

Paralelamente estão conduzindo outros 2 trabalhos, com a Retatrutida e ambos mostraram redução da gordura no fígado e melhora significativa na glicemia de jejum e hemoglobina glicada no diabetes tipo 2. 

Qual o mecanismo de ação da Retatrutida?

Ela consiste em uma substância que se liga a três receptores hormonais: 
  1. O GLP1, que também é o foco de medicações já conhecidas à base de semaglutida; 
  2. O GIP, que é alvo da também promissora tirzepatida; 
  3. O glucagon, hormônio que atua na supressão do apetite e tem poder de reduzir a gordura no fígado.
Como a pesquisa foi feita?

A pesquisa  incluiu 338 adultos com IMCigual ou superior a 30 ou com IMC de 27 a menos que 30 que tinham pelo menos uma condição de saúde relacionada ao peso. 

De forma aleatória, eles foram divididos para receber diferentes doses de retatrutida subcutânea ou placebo ao longo de 48 semanas. 

Com 24 semanas de estudo, já foi possível notar redução de peso, que seguiu até o fim da pesquisa.

Resultados do estudo 

Após 48 semanas, a Retatrutida promoveu: 
  • -8,7% de peso no grupo que tomou 1 mg; 
  • -17,1% no grupo que tomou 4 mg (iniciando com dose de 2mg ou 4 mg); 
  • -22,8% do peso em pessoas que tomaram 8 mg (começando com dose de 2mg ou 4mg);
  • -22,8% do peso em pessoas que tomaram 8 mg (começando com dose de 2mg ou 4mg); 
  • -24,2% no grupo que tomou 12 mg. 
As reduções são notórias quando comparadas ao grupo placebo, que diminuiu 2,1% do peso corporal. Além disso, o composto teve efeito maior na perda de peso em pessoas com obesidade mais grave (IMC superior a 35) e em mulheres. Os efeitos colaterais mais comuns foram semelhantes aos provocados por medicamentos já conhecidos, com intensidade de leve a moderada: 
  • Náusea
  • Diarreia
  • Vômito
  • Constipação.
O artigo publicado no The New England Journal of Medicine, conclui que, em adultos com obesidade, a droga mostrou "reduções substanciais" no peso corporal ao longo de 48 semanas. Agora, estudos maiores são necessários para comprovar segurança, eficácia comparativa, riscos e benefícios da substância.

Aguardemos cenas dos próximos capítulos. Como citei acima, ainda está em fase de teste.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Número de diabéticos no mundo dobrará para 1,3 bilhão até 2050

Pesquisadores atribuem rápida taxa de crescimento a aumento de obesidade e mudanças demográficas

Todos os países do mundo verão as taxas de diabetes aumentarem nos próximos 30 anos se nenhuma ação for tomada, indica um novo estudo global.

Existem 529 milhões de pessoas no mundo com diabetes, segundo estudo liderado por pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington.

Pesquisadores projetaram que o número mais do que dobrará, para cerca de 1,3 bilhão de pessoas, até 2050.

A maioria dos casos é de diabetes tipo dois, a forma da doença ligada à obesidade e amplamente evitável, disseram os pesquisadores.

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Agonista Oral Diário do Receptor GLP-1 Orforglipron para Adultos portadores de Obesidade

A obesidade é um importante fator de risco para muitas das principais causas de doença e morte em todo o mundo. 

São necessários dados sobre a eficácia e segurança do agonista do receptor não peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) orforglipron como uma terapia oral uma vez ao dia para redução de peso em adultos com obesidade.

MÉTODOS

Neste estudo duplo-cego randomizado de fase 2, incluímos adultos com obesidade ou com sobrepeso mais pelo menos uma condição coexistente relacionada ao peso e sem diabetes. 

Os participantes foram aleatoriamente designados para receber orforglipron em uma das quatro doses (12, 24, 36 ou 45 mg) ou placebo uma vez ao dia por 36 semanas.

A alteração percentual da linha de base no peso corporal foi avaliada na semana 26 (ponto final primário) e na semana 36 (ponto final secundário).

RESULTADOS

Um total de 272 participantes foram randomizados. No início do estudo, o peso corporal médio era de 108,7 kg e o índice de massa corporal médio (o peso em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros) era de 37,9. 

Na semana 26, a alteração média desde a linha de base no peso corporal variou de -8,6% a -12,6% nas coortes de dose de orforglipron e foi de -2,0% no grupo placebo. 

Na semana 36, ​​a variação média variou de -9,4% a -14,7% com orforglipron e foi de -2,3% com placebo.

Uma redução de peso de pelo menos 10% na semana 36 ocorreu em 46 a 75% dos participantes que receberam orforglipron, em comparação com 9% que receberam placebo. 

O uso de orforglipron levou à melhora em todas as medidas pré-especificadas relacionadas ao peso e cardiometabólicas. 

Os eventos adversos mais comuns relatados com orforglipron foram eventos gastrointestinais, que foram leves a moderados, ocorreram principalmente durante o aumento da dose e levaram à descontinuação de orforglipron em 10 a 17% dos participantes em coortes de dose. 

O perfil de segurança do orforglipron foi consistente com o da classe de agonistas do receptor GLP-1.

CONCLUSÕES

Orforglipron oral diário, um agonista não peptídico do receptor GLP-1, foi associado à redução de peso.

Os eventos adversos relatados com orforglipron foram semelhantes aos dos agonistas injetáveis ​​dos receptores GLP-1. (Financiado por Eli Lilly; GZGI ClinicalTrials).

Introdução

A obesidade é uma condição crônica que impõe um fardo substancial aos pacientes, aos sistemas de saúde e à economia em geral, afetando mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.

As diretrizes clínicas agora recomendam o tratamento com medicamentos para controle de peso para pessoas com obesidade e para aquelas com sobrepeso e condições coexistentes relacionadas ao peso.

Os agonistas do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1) estão sendo cada vez mais usados ​​como um componente do tratamento da obesidade.

Os agonistas do receptor GLP-1 mimetizam o hormônio incretina GLP-1, que promove a redução de peso por diminuir o apetite e retardar o esvaziamento gástrico, levando a uma melhora no balanço energético. 

Ensaios de agonistas injetáveis ​​do receptor GLP-1 para controle de peso mostraram eficácia a longo prazo.

Apenas dois agonistas do receptor GLP-1 foram aprovados para controle de peso: liraglutida (3,0 mg uma vez ao dia) e semaglutida (2,4 mg uma vez por semana), ambos peptídeos em formulações injetáveis. 

Embora esses tratamentos sejam eficazes, a injeção tem sido associada a barreiras à aceitação e aceitabilidade pelos pacientes.

Uma formulação oral de semaglutida que usa um intensificador de absorção para permitir a absorção no estômago foi aprovada para o tratamento do diabetes tipo 2. 

Esta formulação oral uma vez ao dia é eficaz apenas quando tomada 30 minutos antes do café da manhã, e a dose aprovada (14 mg) é menos eficaz para redução de peso do que a dose aprovada de semaglutida injetável.

Doses mais altas de semaglutida oral (25 e 50 mg) estão em desenvolvimento para o tratamento da obesidade e diabetes tipo 2. 

Há uma necessidade de opções de tratamento oral que sejam fáceis de usar e tenham eficácia na redução de peso semelhante à dos agonistas injetáveis ​​do receptor de GLP-1 aprovados e atualmente disponíveis.

Orforglipron é um agonista do receptor GLP-1 não peptídico oral uma vez ao dia que está em desenvolvimento para controle de peso e tratamento de diabetes tipo 2.

O orforglipron é um potente agonista parcial do receptor GLP-1 que tem um efeito maior na sinalização do AMP cíclico (cAMP) do que no recrutamento de β-arrestina - um perfil farmacológico que pode oferecer menor dessensibilização do receptor do que os agonistas totais do receptor GLP-1. 

O perfil farmacocinético do orforglipron, com meia-vida de 29 a 49 horas, suporta a administração oral uma vez ao dia. 

Neste estudo, avaliamos a eficácia e segurança de orforglipron em adultos com obesidade ou com sobrepeso mais pelo menos uma condição coexistente relacionada ao peso e sem diabetes.

Discussão

Neste estudo de fase 2, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo de orforglipron, os participantes em todas as coortes de dose (12, 24, 36 e 45 mg) tiveram uma diminuição maior desde a linha de base no peso corporal do que aqueles no grupo placebo, tanto em 26 semanas (ponto final primário) quanto em 36 semanas (ponto final secundário).

As reduções no IMC e na circunferência da cintura também foram maiores com orforglipron do que com placebo. 

O orforglipron foi associado à eficácia na redução de peso e à segurança semelhante à dos agonistas dos receptores GLP-1 injetáveis ​​que foram aprovados para o controle do peso.

Dadas as opções de tratamento atualmente disponíveis para controle de peso, há uma necessidade não atendida de uma terapia oral baseada em incretina com eficácia semelhante à dos agonistas injetáveis ​​do receptor GLP-1. 

Essa terapia tem o potencial de aumentar a aceitação do tratamento, adesão ao tratamento, facilidade de uso e uso persistente.

A liraglutida (3,0 mg uma vez ao dia) e a semaglutida (2,4 mg uma vez por semana) são os únicos agonistas do receptor GLP-1 aprovados para controle de peso; ambos são injetáveis ​​à base de peptídeos.

Os estudos de fase 3 de liraglutida (estudo SCALE) e semaglutida (o estudo STEP 1) mostraram redução significativa de peso em 56 semanas e 68 semanas, respectivamente, com uma redução média de 9,2% com liraglutida e 16,9% com semaglutida.

Este estudo de fase 2 de orforglipron mostrou redução de peso variando de 8,6% a 12,6% em 26 semanas e variando de 9,4% a 14,7% em 36 semanas.

A semaglutida (3, 7 ou 14 mg uma vez ao dia) com o intensificador de permeação salcaprozato sódico (SNAC) é o único agonista do receptor oral de GLP-1 disponível e foi aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2, mas não para controle de peso. 

Para absorção suficiente, este medicamento deve ser tomado pelo menos 30 minutos antes da primeira ingestão de alimentos, bebidas ou outros medicamentos orais do dia e com não mais de 30 ml de água pura. 

No estudo PIONEER 1, o uso da dose mais alta de semaglutida oral (14 mg) levou a uma redução de peso de 2,3 kg após 26 semanas em pacientes com diabetes tipo 2.

Doses mais altas de semaglutida oral (25 e 50 mg) estão na fase 3 de desenvolvimento para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. 

Um comunicado de imprensa recente relatou que o uso de semaglutida oral levou à perda de peso semelhante à observada com semaglutida injetável entre pacientes com obesidade (no estudo STEP 1), com eventos adversos gastrointestinais semelhantes aos observados com a classe do agonista do receptor GLP-1 injetável; no entanto, as doses mais altas ainda requerem restrições estritas de alimentos e água e um intensificador de absorção. 

Danuglipron, um agonista oral do receptor de GLP-1 de pequena molécula, também está em desenvolvimento e foi associado a poucos eventos adversos em estudos de fase 1 e fase 2 envolvendo pacientes com diabetes tipo 2.

Para o orforglipron, o mecanismo de ativação do receptor GLP-1 pode contribuir para a eficácia do medicamento. 

A ação do orforglipron no receptor GLP-1 produz sinalização de cAMP semelhante à produzida pelo GLP-1 nativo, mas leva a baixa ativação da via β-arrestina, que regula a internalização do receptor. 

Este efeito de sinalização tendencioso também é uma característica da ação da tirzepatida no receptor GLP-1, e a tirzepatida demonstrou eficácia potente na redução da glicose e na redução de peso nos ensaios SURPASS e SURMOUNT.

Neste ensaio, o orforglipron produziu redução de peso em todas as doses avaliadas. 

Uma redução de peso de pelo menos 10% em 26 semanas ocorreu em até 71% dos participantes que receberam orforglipron. 

Apesar do período experimental relativamente curto, a perda de peso observada neste estudo foi semelhante à observada com agonistas injetáveis ​​do receptor GLP-1 que foram aprovados para controle de peso. 

Além disso, a perda de peso ainda não havia estabilizado em 36 semanas, o que sugere a possibilidade de perda de peso adicional com tratamento mais longo.

A magnitude da perda de peso observada neste estudo atende à meta atualmente recomendada para redução de peso, que deve resultar em melhora em muitas condições coexistentes associadas à obesidade. 

Mais estudos são necessários para estabelecer se os benefícios para a saúde observados com os agonistas injetáveis ​​dos receptores GLP-1 são compartilhados pelo orforglipron.

O perfil de segurança do orforglipron foi consistente com o da classe dos agonistas do receptor GLP-1 nos estudos de fase 2. 

Os eventos adversos mais comuns relatados com orforglipron foram eventos gastrointestinais leves a moderados. 

A coorte de dose de 24 mg teve a maior incidência de eventos gastrointestinais, possivelmente por causa da dose inicial mais alta (3 mg por 2 semanas) seguida pelo escalonamento rápido da dose (semanal) até atingir a dose de manutenção. 

Nesta coorte de dose, a incidência de náuseas e vômitos foi maior nas primeiras 2 semanas e depois diminuiu.

Embora os eventos gastrointestinais tenham ocorrido com incidência maior do que o desejado, eles nos permitiram encontrar as doses mais eficazes. 

O padrão de eventos gastrointestinais foi informativo, assim como a incidência (para náusea, 37 a 58% com orforglipron e 10% com placebo; para vômito, 14 a 32% com orforglipron e 6% com placebo). 

Esses achados sugerem que doses iniciais mais baixas e escalonamento de dose mais lento são indicados para reduzir eventos gastrointestinais e atingir a dose alvo; este é o conceito usado para agonistas injetáveis ​​do receptor GLP-1. 

No entanto, mesmo as doses de manutenção mais baixas avaliadas de orforglipron tiveram benefícios clinicamente relevantes em relação à redução de peso. 

Ajustes na dose inicial e no esquema de escalonamento de dose no programa de fase 3 estão planejados para a possível redução de eventos gastrointestinais.

Semelhante a outros agonistas do receptor de GLP-1, o orforglipron produziu melhorias na pressão sanguínea e nos níveis de lipídios circulantes. 

Quando anormais, esses níveis são fatores de risco cardiovascular, portanto, tais melhorias podem levar a benefícios cardiovasculares, que foram observados com a classe de agonistas do receptor GLP-1. 

Se esses efeitos de classe são compartilhados por orforglipron ainda precisa ser investigado. 

Orforglipron foi associado a aumentos de pulso consistentes, em magnitude e duração, com aqueles observados com outros agonistas do receptor GLP-1. 

Os aumentos do pulso resultaram no escrutínio dos agentes da classe, mas vários ensaios desses agentes que avaliaram os resultados cardiovasculares mostraram um benefício líquido geral, o que atenua as preocupações com relação aos efeitos a longo prazo desses aumentos do pulso.

As limitações deste estudo estão relacionadas às características do projeto de um estudo de fase 2, ou seja, o número relativamente pequeno de pessoas em cada grupo de estudo e a população de estudo homogênea, que foi incluída em apenas três países e incluiu uma alta porcentagem de mulheres e participantes brancos. 

Esses recursos podem limitar a generalização. Eventos gastrointestinais ocorreram com uma incidência maior do que o desejado devido à necessidade de exploração de esquemas alternativos de escalonamento de dose. 

Os pontos fortes deste estudo incluem o design randomizado, duplo-cego e controlado por placebo; a exploração do intervalo de dose; e os bons níveis de adesão e retenção dos participantes.

O orforglipron oral diário foi associado à redução de peso e benefícios relacionados que pareciam ser semelhantes aos resultados de eficácia observados com agonistas injetáveis ​​do receptor de GLP-1 que já foram aprovados para controle de peso.

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By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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