A gota é uma doença inflamatória e metabólica que cursa com aumento do ácido
úrico (AU) no sangue (denominamos isso de hiperuricemia). A doença é resultante
da deposição de cristais de monourato de sódio nos tecidos e articulações,
ocasionando dor intensa e sinais inflamatórios nas articulações acometidas.
Nos homens com hiperuricemia, os níveis de AU no sangue estão acima de 7,0 mg/d e nas mulheres: acima de 6,5mg/dL. Mas é importante frisar que nem todo portador de hiperuricemia terá gota, ela pode ser apenas consequência de outras patologias (como por exemplo a obesidade). E nem todo portador de gota tem hiperuricemia.
A hiperuricemia primária pode usar
com 4 condições:
1.
Hiperuricemia sem sintomas
2.
Gota úrica
3.
Calculose renal
4.
Nefropatia intersticial
Mesmo nos pacientes assintomáticos, hoje já se sabe
que a elevação do AU pode favorecer um declínio da função renal. Além disso,
alguns autores consideram o aumento de AU como um fator de risco cardiovascular
independente. Tanto a deterioração da função renal quanto aumento do risco
cardiovascular ocorrem porque os níveis elevados promovem uma alteração na
parede dos vasos.
É comum também os níveis estarem aumentados
secundariamente:
1.
Nos quadros de resistência à ação da insulina,
diabetes e obesidade.
2.
Quando paciente ingere muito álcool, muita proteína
(miúdos, frutos do mar) ou muita frutose.
3.
Com a utilização de alguns diuréticos e Aspirina.
4.
Pacientes com insuficiência renal.
5.
Algumas doenças hematológicas.
6.
Na restrição alimentar, pois, o jejum inibe a excreção
do AU via trato urinário.
7.
Pós-cirurgia bariátrica.
O diagnóstico se dá principalmente pela dosagem de
ácido úrico no sangue.
Na fisiopatologia temos uma
hiperprodução de urato, associada a uma diminuição da excreção de AU. Há
séculos se propõem restrições alimentares para diminuir os níveis de ácido
úrico. As revisões mais atuais mostram que a dieta (restritiva) não é tão
eficaz nessa redução e mudanças no estilo de vida são prioritárias.
O tratamento objetiva reduzir os níveis de AU. Ao
contrário do que por quase 1 século foi propagado, a ingestão de carne magra,
seja branca ou vermelha, geralmente não promovem aumento dos níveis. Outros
fatores são muito mais importantes para redução dos níveis e o seu nutrólogo
poderá orientar melhor.
A ingestão adequada de água é essencial para o
tratamento por promove uma maior diurese. Nos casos em que os níveis (mesmo
assintomático) estão muito elevados é prudente se utilizar uma medicação
chamada Alpurinol ou Febuxostat.
A terapia nutrológica objetiva:
1.
Diminuir a quantidade de Purinas
(substâncias que levam a maior produção de AU) para menos de 400mg/dia,
2.
Aumentar a excreção (eliminação)
do AU.
Como a obesidade favorece muito a
elevação de AU, recomenda-se a perda de peso. Reduzir o consumo de frutose
industrializada. As carnes por muito
tempo foram consideradas vilãs para o AU. Na atualidade não há evidências que
consumidas nas porções habituais elas possam elevá-lo. As que mais possuem
purinas são: miúdos (fígado, rim, coração, moela). Carne vermelha pode ser
consumida diariamente (moderadamente), assim como pescados, frango e porco. O
nutrólogo saberá calcular a quantidade correta de proteína que você deverá
ingerir diariamente.
Um estudo Japonês em Maio de 2014
analisou a quantidade de purina em 270 alimentos e a repercussão deles nos
níveis séricos de AU. Os vegetais com maior teor de purina deveriam ser
consumidos em grande quantidade para gerar uma repercussão nos níveis séricos
de AU. Quem consome 100g de alga nori, salsa ou espinafre por exemplo? O
consumo de legumes é liberado assim como de cereais integrais e vegetais,
oleaginosas, ovos e lácteos,
O álcool é sabidamente um elevador
do AU e pode desencadear crises de gota. Portanto está liberado no máximo 1
dose/dia e apenas nos finas de semana (1 dose de álcool = 250 ml de cerveja,
125 ml de vinho ou 80 mL de destilados)
Alguns estudos mostram que alguns
alimentos e nutrientes podem favorecer a redução dos níveis de AU. O nutrólogo
é o profissional mais capacitado para fornecer orientações nutrológicas acerca
de hiperuricemia.
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