quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre a polêmica do óleo de coco


A Polêmica do Óleo de Coco
Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) sobre o uso do óleo de coco para perda de peso.
Considerando que muitos nutricionistas e médicos estão prescrevendo óleo de côco para pacientes que querem emagrecer, alegando sua eficácia para tal propósito;
Considerando que não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de côco leve à perda de peso;
Considerando que o uso do óleo de côco pode ser deletério para os pacientes devido à sua elevada concentração de ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico;
A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde.
A SBEM e a ABESO também não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias. O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, é preferível para redução de risco cardiovascular.
Dr. Alexandre Hohl
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Dra. Cintia Cercato
Presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica


sábado, 22 de agosto de 2015

Óleo de Coco X Óleo de Canola - Desvendando mitos



Essa semana, um tema que dividiu opiniões, quando uma nutricionista estudiosa na área de ácidos graxos, foi ao programa bem-estar e deixou claro que o óleo de coco além de caro, pode ser inflamatório. Que o ideal seria optar pelo óleo de canola. Abominável foi a opinião de algumas pessoas, que sequer conhecem o currículo da nutricionista e acusam-na de trabalhar para a indústria. Como se prestar consultoria para a indústria de alimentos fosse crime. É abominável quando leigos e até mesmo profissionais da saúde saem do campo da ciência e partem para ataques pessoais.

Sou o princípio da moderação e da individualidade bioquímica.
Se você é saudável, não apresenta alterações nos níveis de colesterol ou triglicérides, nem risco cardiovascular aumentado: o consumo moderado de óleo de coco associado ao consumo de outros fontes de gorduras (colesterol, gorduras polinsaturadas e monoinsaturadas) é recomendado.
Se você tem dislipidemia, deseja emagrecer ou tem risco cardiovascular aumentado: evite as gorduras saturadas e dê preferência para as monoinsaturadas, polinsaturadas e colesterol.

Não existe vilão e nem mocinho quando se trata de nutrição. Ninguém morre do dia pra noite porque comeu banha de porco e ninguém vive até os 120 anos só porque consome azeite diariamente.

Os estudos na área são preliminares e poucos mostram desfechos conclusivos. Ainda temos muito o que estudar e observar desfechos, com número significativo de pacientes, por um tempo considerável.

Se me perguntarem: BASEADO em ciência, qual óleo mais saudável?  Dados do estudo europeu PREDIMED publicado em 2013 na revista médica New England Journal of Medicine apontam para um forte candidato: o azeite de oliva. Neste estudo, pacientes com alto risco cardiovascular que consumiram dieta mediterrânea associada a azeite de oliva apresentaram uma redução de problemas cardíacos e vasculares de cerca de 30 porcento. Ou seja, não estamos falando apenas de hipóteses, mas de desfechos. Em Medicina, isso serve para respaldar e determinar qual o melhor tratamento ou prevenção. E até agora, o azeite de oliva saiu na frente. Mas devemos deixar de consumir manteiga, peixes ricos em ômega 3, canola ? Compartilho da mesma opinião da nutricionista (que admiro muito) Dra. Sophie Deram. Ela postou essa semana em sua página no facebook (que por sinal indico que sigam):

"- Dra Sophie, você é contra o a favor do uso do óleo de coco, e o de canola? Nossa quanta vezes recebi esta pergunta esses dias!

Vou responder aqui:
Eu sou pró:
Saúde, bem-estar, relação tranquila com a comida, respeitando a fome, saciedade e vontade. Fazer as pazes com a comida e o corpo.
Eu dedico 90% de meu tempo a ajudar pessoas a retomar uma atitude tranquila com o comer, se recuperando de medo, exageros e as vezes transtornos alimentares, tudo isso tem como consequência um peso mais saudável.

Eu sou contra:
Terrorismo nutricional, achar que tem alimentos milagrosos que vão salvar o mundo e alimentos venenosos que vão de repente causar obesidade, diabetes ou infarto.
Alimento é alimento, pode comer de tudo um pouco!
Eu recomendo comer mais caseiro e mais natural, respeitando as suas vontades sem demonizar os alimentos processados que são alimentos também. O prazer de comer é essencial no processo de fazer as pazes com você e até foi mostrado que previne o excesso de peso!

Sobre gorduras, respeito as crenças dos meus pacientes e desmistifico os modismos e demonizações.
Eu sempre vou pelo lado mais natural e menos processado: azeite, manteiga e óleo de coco são mais naturais do que óleo de canola, mas não quer dizer que pode se entupir de óleo de coco porque dizem que emagrece! É uma gordura, tem que ser consumida com moderação e é muito cara por sinal.

Óleo de canola não é veneno (por favor!) mas também não indico como se fosse uma solução mágica contra as doenças cardiovasculares.

Eu pessoalmente como muito simples e cozinho frequentemente. As gorduras que uso mais em casa são azeite e manteiga.
Bon appétit!"


Abaixo o posicionamento do Conselho Federal de Nutricionistas, sobre o assunto, postado aqui:http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/

Saiba mais sobre óleos de coco e de canola

ÓLEO DE COCO

De acordo com a I Diretriz sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o coco e o óleo de coco, são importantes fontes naturais de gorduras saturadas, especialmente de ácido láurico. Em relação aos demais tipos de gorduras saturadas, o ácido láurico apresenta maior poder em elevar LDL-C, bem como HDL-C. Apesar de estudos mostrarem redução da relação LDL:HDL, aumento do HDL-C e redução da circunferência abdominal em grupos que utilizam óleo de coco, outros comprovam seu efeito hipercolesterolêmico – grupos tratados com óleo de coco apresentam aumento significativo da fração não HDL e triglicérides.

Diante disso, considerando a influência dos ácidos graxos ingeridos sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares e sobre as concentrações plasmáticas de lípides e lipoproteínas, e o preço para a aquisição desse tipo de produto, o óleo de coco, quando utilizado, deve seguir os princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer. A recomendação é de que seja usado em pequenas quantidades e em preparações culinárias, preferencialmente compostas por alimentos in natura ou minimamente processados, não sendo recomendado para tratamento da hipercolesterolemia.

REFERÊNCIAS
  1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular; ISSN-0066-782X. Volume 100, nº 1, supl.3, 2013;
  2. Turpeinen O, Karvonen MJ, Pekkarinen M, Miettinen M, Elosuo R, Paavilainen E. Dietary prevention of coronary heart disease: the Finnish Mental Hospital Study. Int J Epidemiol. 1979;8(2):99-118.
  3. Assunção ML, Ferreira HS, dos Santos AF, Cabral CR Jr, Florêncio TM. Effects of dietary coconut oil on the biochemical and anthropometric profiles of women presenting abdominal obesity. Lipids. 2009;44(7):593-601.
  4. 76. Lecker JL, Matthan NR, Billheimer JT, Rader DJ, Lichtenstein AH. Impact of dietary fat type within the context of altered cholesterol homeostasis on cholesterol and lipoprotein metabolism in the F1B hamster. Metabolism. 2010;59(10):1491-501

ÓLEO DE CANOLA

A canola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.) planta da família das crucíferas (como o repolho e as couves), pertence ao gênero Brassica. No Brasil cultiva-se apenas canola de primavera, da espécie Brassica napus L. var. oleifera, que foi desenvolvida por melhoramento genético convencional de colza. Segundo a Embrapa, na América do Sul ainda não se empregam variedades ou híbridos de canola transgênicos ou gerados por mutação, utilizando-se apenas variedades geradas através de melhoramento genético convencional. A maioria das sementes de canola empregadas no Brasil são importadas, e para que as sementes tenham sua entrada liberada nos portos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento exige laudo de análise para cada lote de 1000 kg.

O óleo de canola tem mostrado efeitos cardioprotetores devido ao conteúdo de ácidos graxos monoinsaturados, que promovem a regulação de lipídios plasmáticos, lipoproteínas e aumento da sensibilidade à insulina. Vale ressaltar que os efeitos saudáveis dos óleos comestíveis podem ser suscetíveis a alterações segundo o método culinário utilizado (frituras em profundidade ou superficiais) e em cocções de longo tempo, o que gera mudanças físico químicas que podem repercutir na saúde devido à produção de substâncias indesejáveis ou tóxicas (acroleína).

Estudos recentes evidenciam que o ômega-6, presente também nos óleos, quando consumido em excesso pode promover doenças inflamatórias.

Dessa forma, o nutricionista deve manter-se atualizado para as recomendações e diretrizes de condutas dietéticas a serem adotas.

REFERÊNCIAS
  1. Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Canola – aspectos nutricionais. Disponível em  . Acesso em 21 de agosto de 2015.
  2. Lawrence GD. Dietary Fats and Health: Dietary Recommendations in the Context of Scientific Evidence. Advances in Nutrition. 2013;4(3):294-302. doi:10.3945/an.113.003657.
  3. Lin L, Allemekinders H, Dansby A, et al. Evidence of health benefits of canola oil. Nutrition Reviews. 2013;71(6):370-385. doi:10.1111/nure.12033.
  4. Samuel Durán Agüero, Jairo Torres García; Julio Sanhueza Catalán. Aceites vegetales de uso frecuente en Sudamérica: características y propriedades. Nutr Hosp.32:11-19, 2015.
Fonte: Conselho Federal de Nutricionistas http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Nutrólogo x Nutricionista - As diferenças


Talvez essa seja uma das perguntas que mais ouço ao longo do meu dia, seja no consultório particular, seja no ambulatório de Nutrologia clínica que coordeno no SUS. Importante salientar que ainda não sou Nutrólogo. Somente após ser aprovado na prova de título de especialista, que será em 2016.

Muitos pacientes estão optando ir ao nutrólogo ao invés de ir ao nutricionista, apenas porque a maioria dos planos cobrem consultas ilimitadas com o nutrólogo, ou porque o mesmo prescreve medicações para emagrecer. Alguns ilusoriamente acreditam que médico entende mais de alimentos e dietas do que nutricionistas ou que nutricionistas entendem mais de doenças nutricionais que médicos nutrólogos titulados. O melhor caminho é ir em qual? Na minha opinião e baseado na minha prática clínica de quase 10 anos:
  1. Se você é um paciente saudável, não apresenta doenças e deseja um plano alimentar: vá a um nutricionista, tranquilamente. Ele será o profissional mais habilitado para atender suas necessidades.
  2. Mas se você apresenta sintomas ou alguma doença específicaprimeiro ao nutrólogo ou qualquer médico e posteriormente ao nutricionista para receber um plano alimentar. O nutrólogo pode até saber montar um plano alimentar, mas o profissional mais habilitado é o nutricionista. O importante é que se faça a investigação do sinal/sintoma e/ou diagnóstico correto da doença. Isso quem tem competência e dever por lei é o médico, baseado na Lei do Ato Médico e até mesmo na própria Lei que regulamenta a profissão de Nutricionista. 

Primeira diferença: A graduação

O nutrólogo é médico e o nutricionista é nutricionista. Graduações diferentes. A formação apesar de ser dentro da área da saúde e correlata à alimentação (no caso do médico que faz Nutrologia), possui enfoque diferente.

O médico estudou 6 anos para se formar em medicina, posteriormente fica de 3 a 5 anos se especializando. O nutricionista estuda 4 anos para formar (na maioria das particulares o curso dura 4 anos e nas Federais dura 5 anos em período integral). Posteriormente faz pós-graduações ou residência multiprofissional com duração média de 2 anos.

É importante ressaltar que na maioria das Universidades, até o momento (exceto USP, Unifesp, UFRJ, UERJ, UFTM, UFRGS) os acadêmicos de medicina não possuem nenhum módulo de nutrição. Apenas aulas sobre macro e micronutrientes. O pouco que vemos é em pediatria e nas cadeiras clínicas estudamos as orientações nutricionais  (bem superficiais) que devem ser dadas em algumas patologias:
Exemplo:
  1. dieta DASH na hipertensão arterial; 
  2. dieta sem irritantes gástricos nos portadores de dispepsia, 
  3. restrição de alimentos que favorecem o refluxo na Doença do refluxo gastroesofágico,
  4. restrição a alérgenos nas alergias alimentares
  5. restrição de proteína e potássio em nefropatas,
  6. restrição de sódio e água em portadores de insuficiência cardíaca,
  7. restrição de alimentos ricos em purinas, frutose e álcool em portadores de gota.
Resumindo: se vê muito pouco ou quase nada de nutrição durante a graduação de medicina. Porém esse panorama está mudando com o novo método de ensino adotado nas universidades, o Problem Based Learning (Aprendizado baseado em problemas - PBL). Com os inúmeros avanços na área da nutrição e dada sua importância na manutenção da saúde, os médicos tenderão a receber mais informações sobre o tema. Várias universidades ja estão colocando Nutrologia na sua grade anual e várias ja acrescentam módulo de abordagem nutricional nas disciplinas clínicas e cirurgicas. 

Exemplo: O médico nutrólogo faz 6 anos de graduação de medicina, 2 anos de residência de clínica médica (ou cirurgia) e 2 anos de residência de nutrologia.
Ou então o médico tem outra formação de base, como por exemplo endocrinologia. Ele fez 6 anos de graduação em medicina, 2 anos de residência em clínica médica, 2 anos de residência em endocrinologia, 2 anos de residência em nutrologia OU pós-graduação da ABRAN, com posterior aprovação na prova de título de nutrologia.

A Nutrologia é uma das áreas que mais tem atraído médicos na atualidade. Médicos de diversas áreas estão migrando para nutrologia ou complementando suas áreas com conhecimentos nutrológicos. Ainda são poucos nutrólogos titulados no Brasil. Segundo o último censo demográfico do CFM (2014), são cadastrados 1536 nutrólogos em todo o país.

Uma nutricionista clínica faz 5 anos de graduação em nutrição e depois 2 anos de pós-graduação em nutrição clínica. Ou então uma nutricionista com pós-graduação em hematologia. Ela faz 5 anos de graduação em nutrição e posteriormente residência multiprofissional em hematologia. Há nutricionistas que optam por fazer residência em oncologia, nefrologia, cardiologia. Outros optam por fazer pós de fitoterapia.

Se partirmos do pressuposto de tempo de estudo, obviamente e inquestionavelmente o nutricionista é o profissional mais habilitado para a PRESCRIÇÃO DE DIETA e orientações nutricionais.

Enquanto o médico é o mais habilitado para DIAGNOSTICAR e orientar sobre a fisiopatologia, prognóstico e como se dá o tratamento das doenças nutricionais.

Segunda diferença: as áreas de atuação

A Nutrologia é uma das especialidades dentro da medicina. Dividindo-se em 2 sub-especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina:
  1. Nutrologia pediátrica e 
  2. Nutrologia Parenteral e enteral. 
Porém a nutrologia pode adentrar em praticamente todas as especialidades médicas: nutrologia geriátrica, nutrologia cardiológica, nutrodermatologia, nutrologia em doenças infecto-parasitárias, nutrologia em ginecologia e obstetrícia.

Já o nutricionista é um profissional com formação generalista, humanista e crítica. É capacitado a atuar visando à segurança alimentar e à atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e nutrição se apresentem fundamentais. Sua atuação visa a promoção, manutenção e recuperação da saúde através da nutrição. Além disso é parte essencial no processo de prevenção de doenças (em nível coletivo ou individual). A nutrição possui as seguintes áreas de atuação estabelecidas de acordo com a Resolução CFN nº 380/2005.

I - Alimentação Coletiva que se subdivide em:
1) Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN)
2) Alimentação Escolar
3) Alimentação do Trabalhador

II - Nutrição Clínica: Compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições em Nutrição Clínica, prestar assistência dietética e promover educação nutricional a indivíduos, sadios ou enfermos, em nível hospitalar, ambulatorial, domiciliar e em consultórios de nutrição e dietética, visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde. Podendo o nutricionista clínico atuar em: 1) Hospitais, clínicas em geral, clínicas em hemodiálises, instituições de longa permanência para idosos e SPA; 2) Ambulatórios/consultórios; 3) Banco de leite humano (BLH); 4) Lactários/centrais de terapia nutricional; 5) Atendimento domiciliar.

III - Saúde Coletiva: Compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições na área de Saúde Coletiva, prestar assistência e educação nutricional a coletividades ou indivíduos sadios, ou enfermos, em instituições publicas ou privadas e em consultório de nutrição e dietética, através de ações, programas, pesquisas e eventos, direta ou indiretamente relacionados à alimentação e nutrição, visando à prevenção de doenças, promoção, manutenção e recuperação da saúde.

IV - Docência:

V - Atuação nas indústrias de alimentos:

VI - Nutrição Esportiva: necessita ser aprovado na prova de título de especialista.

VII - Marketing na Área de Alimentação e Nutrição:

VIII - Fitoterapia

Quando se fala em Terapia Nutricional em ambiente hospitalar, temos no Brasil o que se denomina: Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN). Ela é basicamente composta por:
  • Médico (sempre o chefe da equipe, de acordo com a resolução da ANVISA)
  • Nutricionista
  • Enfermeiro
  • Farmacêutico.
Cada membro da EMTN tem suas funções bem estabelecidas na resolução RCD N° 63, DE 6 DE JULHO DE 2000. A EMTN deve preferencialmente ser chefiada por um médico titulado em Nutrologia, com curso de pós-graduação na área, de no minimo 360h. Os cálculos da nutrição enteral são feitos por nutricionistas e geralmente os cálculos da parenteral são feitos por nutrólogos. Porém quem assina e prescreve no prontuário é o médico. Quem manipula é o farmacêutico e quem monitora a infusão é o enfermeiro. Ou seja, nutricionista não pode fazer cálculos de parenteral e prescrição, quando há médico nutrólogo na EMTN. 

Terceira diferença: o tipo de diagnóstico 

Legalmente o nutricionista fica restrito ao diagnóstico nutricional (de acordo com a Lei nº 8234 de 17/09/1991 que regulamenta a  nutrição), enquanto o médico ao diagnóstico nosológico (de doença) e instituição da terapêutica.  Ou seja, nutricionista não dá diagnóstico de doença

Quem determina se o tratamento de determinada doença será apenas dietético ou terá intervenção medicamentosa ou cirúrgica é o médico. 


Quarta diferença: solicitação de exames

Ambos os profissionais podem solicitar exames laboratoriais para elucidação diagnóstica.
Entretanto o nutricionista não podem solicitar exames de imagem, eletrocardiograma, teste ergométrico, monitorização ambulatorial da pressão arterial, holter, exames laboratoriais que necessitem de monitoração médica durante a realização, polissonografia.

Mas os nutricionistas possuem competência legal para solicitar exames laboratoriais?  A resposta é Sim. Ele podem solicitar os exames necessários ao diagnóstico nutricional, à prescrição dietética e ao acompanhamento da evolução nutricional. Isso está prescrito nas seguintes normatizações: Lei Federal 8.234/91, artigo 4º, inciso VIII, Resolução CFN nº 306/03, Resolução CFN nº 380/05 e Resolução CFN nº 417/08. Exames que geralmente nutricionistas solicitam: Hemograma, Uréia, Creatinina, Ácido úrico, Glicemia de jejum, Insulina, Perfil lipídico, Transaminases, Gama-GT, Proteínas totais e frações, Dosagem sérica ou urinária de vitaminas, minerais, marcadores inflamatórios que tenham correlação com nutrientes como a homocisteína.

Mas porque o meu plano de saúde não libera os exames solicitados pelo seu nutricionista? Ao que me foi orientado por duas operadoras de saúde, existe uma resolução do Conselho Federal de Medicina no qual proíbe médicos patologistas (geralmente os donos de laboratórios) de executarem solicitações de exames de não-médicos (isso incluiria nutricionistas, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas). Com isso o plano de saúde consegue legalmente vetar a solicitação de exames por parte dos nutricionistas. É errado? Sim. Mas legalmente o patologista tem amparo do CFM. E nessa brecha os planos de saúde aproveitam e economizam.

Enquanto a solicitação de exames por parte dos nutricionistas é limitada aos aspectos nutricionais, para o médico, ela é totalmente abrangente. Sendo importante salientar que quase sempre exames não-laboratoriais são cruciais para a conclusão de alguns diagnósticos.

Quinta diferença: o arsenal terapêutico 

O nutricionista tem como arsenal terapêutico:
  1. Orientações nutricionais com educação em saúde (um dos papéis mais nobres quando se fala em prevenção);
  2. Plano dietético;
  3. Prescrição de suplementos orais desde que respeitem as doses estabelecidas pela Agência nacional de vigilância sanitária (ANVISA). Os Níveis Máximos de Segurança de Vitaminas e ou Minerais estão dispostos no anexo da Portaria SVS MS 40/1999. 
  4. Prescrição de plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos: a prescrição de fitoterápicos e preparações magistrais, a partir de 2016, será uma atribuição exclusiva do nutricionista portador de título de especialista em Fitoterapia pela ASBRAN. Quem iniciou pós-graduação na área até Maio de 2015 poderá prescrever sem título, os demais apenas com prova de título de especialista.
É vedado ao nutricionista a prescrição de:
  1. Produto que use via de administração diversa do sistema digestório; PORTANTO nutricionista não pode prescrever NADA que seja de uso tópico (pele), nasal, ocular, endovenoso, intramuscular. É importante salientar isso pois temos vistos nutricionistas prescrevendo Citoneurim Intramuscular para correção de anemia megaloblastica, Noripurum endovenoso e Victoza; 
  2. Medicamentos ou produtos que incluam em sua fórmula medicamentos; SOMENTE médico e dentista podem prescrever medicamentos. A nutricionista que prescreve qualquer tipo de medicamento, seja ele uma simples dipirona ou um hormônio, está infringindo o código de ética médica e isso pode ser considerado exercício ilegal da profissão; 
  3. Medicamentos à base de vitaminas e minerais sujeitos a prescrição médica; Algumas doses de vitaminas e minerais deixam de ter efeito de suplementação e passam a ter ação medicamentosa como altas doses de Vitamina B12, Vitamina B6, Ácido fólico, Vitamina D3, Vitamina A. Nesse caso somente médicos podem prescrever. 
  4. Suplementos com quantidades de nutrientes superiores aos níveis máximos regulamentados pela Anvisa ou na falta destes o Tolerable Upper Intake Levels – UL;
  5. Prescrição de fitoterápicos que necessitem de receita médica conforme a Instrução Normativa nº 5, de 12 de dezembro de 2008 da ANVISA
  6. Produtos que não atendam às exigências para produção e comercialização regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (exemplo suplementos importados que não foram aprovados pela ANVISA, por exemplo DHEA, Melatonina etç).
médico nutrólogo tem além do arsenal citado acima:
  1. Prescrição de suplementos em doses mais altas ou exclusivos para prescrição médica;
  2. Prescrição de vitaminas, minerais e ácidos graxos em doses medicamentosas, que muitas vezes excedem as doses estabelecidas pela ANVISA. Exemplo: Citoneurim fornecendo 1mg de vitamina B12. Ácido fólico de 5mg prescrito na gestação. Ácido alfa-lipóico de 600mg prescrito para neuropatia diabética.
  3. Prescrição de: antibióticos, antiinflamatórios, analgésicos, antitérmicos, corticóides, hipoglicemiantes, anti-hipertensivos, antiarritmicos, antiulcerosos, psicotrópicos, medicações endovenosas, intramusculares, nasais ou tópicas.
  4. Prescrição de fitoterápicos que necessitem de receita médica conforme a Instrução Normativa nº 5, de 12 de dezembro de 2008 da ANVISA :
  • Arctostaphylos uva-ursi (uva-ursina)
  • Cimicifuga racemosa (cimicífuga)
  • Echinacea purpurea (equinácea)
  • Ginkgo biloba (ginkgo)
  • Hypericum perforatum (hipérico)
  • Piper methysticum (kava-kava)
  • Serenoa repens (saw palmeto)
  • Tanacetum parthenium (tanaceto)
  • Valeriana officinalis (valeriana)
Aqui faço um adendo a um tema recorrente e que frequentemente vejo na prática clínica. Nutricionistas que trabalham com médicos que prescrevem anabolizantes e estimulam o uso. A prescrição, sugestão ou incentivo de medicamentos do grupo terapêutico dos esteróides ou peptídeos anabolizantes, quando realizada por nutricionista, pode ser enquadrada como CRIME contra a saúde pública, crime de exercício ilegal da medicina e crime de tráfico ilícito de drogas. Conforme: artigos 278 e 282 do Código Penal Brasileiro; Lei nº 11.343/2006 que define drogas como “substâncias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”; Portaria SVS/MS nº 344/1998, que incluem os esteroides e anabolizantes na lista de drogas e entorpecentes; e Lei nº 9.965/2000, que restringe a venda de esteroides ou peptídeos anabolizantes e dá outras providências e estabelece que estes só devem ser prescritos por médicos ou odontólogos em situações especificas.

Sexta diferença: prescrição de dietas (diferença que gera polêmica)

O nutrólogo trata das doenças ligadas à ingestão alimentar (doenças nutricionais ou como a ABRAN prefere denominar, doenças nutroneurometabólicas). O diagnóstico destas doenças deve ser feito por médicos e tratadas por médicos. Só depois de um diagnóstico, o médico encaminhará o paciente ao nutricionista para solicitar o acompanhamento nutricional. É importante salientar que o paciente é livre para ir em quem quiser, entretanto o diagnóstico deve ser firmado antes.

O bom médico diagnostica e encaminha para o nutricionista montar o cardápio. É assim que eu prefiro trabalhar e tenho tido bons resultados. Tenho parceria com várias nutricionistas e trabalhamos de forma harmônica. Faço inquérito alimentar, solicito os exames necessários, detecto as deficiências nutricionais laboratoriais e só então encaminho para que eles com todo conhecimento do curso de Nutrição e pós-graduação em Nutrição clínica possam montar o plano alimentar conforme as diretrizes por mim sugeridas.

Faço avaliação por bioimpedância, calorimetria indireta, ergoespirometria, cineantropometria (em parceria com um profissional da educação física que trabalha comigo dentro do consultório). Faço o cálculo do volume calórico total de acordo com as particularidades do paciente. Calculo a necessidade de proteína por kilo de peso,  a quantidade de carboidratos, lipídios. De acordo com os achados laboratoriais, com anamnese e inquérito alimentar (recordatório de 7 dias que todos são obrigados a trazer antes do retorno), determino quais nutrientes a nutricionista deve ter mais atenção. Faço uma pequena redação com diretrizes e explicando minha conduta caso eu tenha feito alguma suplementação ou prescrição de medicamentos. Enfim, um tem liberdade para discutir com o outro e agregar benefícios para o paciente. Acredito que essa é a melhor forma de trabalhar.  Nem todos os médicos trabalham dessa maneira. Eu os respeito do mesmo jeito. Tenho colegas que preferem montar o plano alimentar e muitas vezes o paciente pede o plano alimentar.

Segundo parecer jurídico do Conselho Federal de Medicina (CFM), o médico está habilitado a prescrever dietas apenas em casos de doenças. Ou seja, quando envolve estética, é vetado a ele.

O Conselho Federal de Nutrição (CFN) não entende dessa forma e defende que a prescrição de dieta via oral seja atividade privativa da nutriçãoconforme a lei federal que regulamenta a profissão. Alega que uma resolução não pode transpor uma lei federal.

Essa discussão na minha humilde opinião, acabará no Supremo Tribunal de Federal (STF), já que há quase 1 século e meio, o primeiro item da prescrição médica é a dieta. Médicos vinham fazendo isso nos últimos 150 anos. A Nutrição surgiu assim como a fisioterapia, com a função de auxiliar a medicina e hoje caminha com as próprias pernas. Tornou-se uma grande ciência e que quando bem praticada pode mudar a vida dos pacientes, seja curando ou mudando o prognóstico de doenças.

Não nego (e jamais negarei) que o profissional mais habilitado para manejar alimentos e a prescrição deles sejam os colegas nutricionistas

Assim como reconheço que o profissional mais habilitado para diagnosticar e manejar doenças nutricionais seja o nutrólogo.

Mais habilitado e com abordagem mais complexa (pois o diagnóstico de doenças é algo complexo), visto que inúmeras doenças nutroneurometabólicas dependem de intervenção medicamentosa e como já citado acima, apenas o médico poderá prescrever a medicação.

Em Maio de 2015 mais um Conselho Regional foi questionado sobre a legalidade da prescrição de dietas. Abaixo a resposta do parecer.

EMENTA: a prescrição de dieta é atribuição não privativa do médico. Compete aos médicos e nutricionistas, possuindo cada profissional suas atribuições específicas.

CONSULTA: médico ginecologista solicita deste Conselho parecer sobre os seguintes questionamentos:

É permitido ao médico, sob o ponto de vista legal, a prescrição de dietas?

Como deve proceder o médico que recebe algum documento advertindo-o da ilegalidade da prescrição de dietas, vindo de outros Conselhos como o Conselho Regional de Nutrição?
Como deve proceder o médico que recebe algum documento ou intimação proveniente de autoridade legal como juiz, advertindo-o da ilegalidade da prescrição de dietas por médico?

FUNDAMENTAÇÃO:  Há mais de um lustro, o CFM, através da Resolução CFM nº 826/78 reconhece Especialidade de Nutrologia, em âmbito nacional.

Em toda a prática médica a nutrição tem papel preponderante, sendo indispensável que ele conheça bem a nutrologia, para praticá-la no benefício de seus pacientes, sendo esta uma prerrogativa do exercício da medicina. Outros profissionais da saúde, em ação multiprofissional, como os nutricionistas, atuam sob orientação do médico, e, neste caso em particular, colabora na elaboração de dieta personalizada ao paciente. O Conselho de Nutrição, em que pese a Lei 8.234/1991, que regulamenta a profissão do Nutricionista, caso negue ao médico esta prerrogativa de prescrição médica de dietas, pratica cerceamento do exercício profissional do médico, que ficaria impossibilitado de tratar grande parte dos seus pacientes.


De acordo com a citada Lei, são atividades dos nutricionistas: artigo 3º,  inciso VIII “assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de consultórios de nutrição e dietética, prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas para enfermos”, e artigo 4º,  inciso VII “prescrição  de  suplementos nutricionais, necessários à complementação da dieta”.
Portanto, a prescrição de dietas cabe aos dois profissionais − médicos e nutricionistas, cada, um, contudo, com suas atribuições especificas.
A responsabilidade da indicação e prescrição médica da terapia nutricional de paciente hospitalizado ou em regime ambulatorial, quer seja enteral ou parenteral, por se tratar de ato que envolve tanto o diagnóstico quanto o tratamento, e por isso ser ato de competência médica, é de responsabilidade do médico assistente. Ao nutricionista, cabe também a prescrição de dietas, sob orientação médica, e dentro de sua competência, a elaboração de cardápio personalizado.

O consulente não se refere a uma dieta específica, o que leva esta parecerista acrescentar que em casos de nutrição parenteral (NP), equipe mínima multiprofissional deve ser composta por um  médico  (coordenador  e  responsável  técnico), uma  nutricionista,  uma  enfermeira  e  um  farmacêutico.  Outros  profissionais  podem ser  acrescidos  conforme  a  necessidade e abrangência do Serviço de Nutrição Parenteral, tendo cada membro sua atribuição bem definida na Portaria nº 272/MS – SNVS/1998.


Destaco, as atribuições do médico e do nutricionista:

São atribuições do médico:

  • Estabelecer o acesso intravenoso central, para a administração da NP;
  • Proceder o acesso intravenoso central, assegurando sua correta localização;
  • Orientar o paciente, os familiares ou o responsável legal quanto aos riscos e benefícios do procedimento;
  • Participar do desenvolvimento técnico-científico relacionado ao procedimento;
  • Garantir os registros da evolução e dos procedimentos médicos.
São atribuições do nutricionista:
  • Avaliar os indicadores nutricionais subjetivos e objetivos, com base em protocolo preestabelecido, de forma a identificar o risco ou a deficiência nutricional e a evolução de cada paciente, até a alta nutricional estabelecida pela equipe multiprofissional de terapia nutricional;
  • Avaliar qualitativa e quantitativamente as necessidades de nutrientes baseadas na avaliação do estado nutricional do paciente;
  • Acompanhar a evolução nutricional dos pacientes em terapia nutricional, independente da via de administração;
  • Garantir o registro, claro e preciso, de informações relacionadas à evolução nutricional do paciente;
  • Participar e promover atividades de treinamento operacional e de educação continuada, garantindo a atualização dos seus colaboradores.

CONCLUSÃO: é permitido ao médico, sob o ponto de vista legal, a prescrição de dietas. Todavia esta atribuição não é privativa do médico.

É o parecer, SMJ.


Recife, 05 de maio de 2015.

Maria Luiza Bezerra Menezes

Consª Parecerista

Fonte: http://cremepe.org.br/2015/08/28/prescricao-medica/

----------

Recentemente o STF proferiu a seguinte decisão:

"DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Atividades privativas de nutricionista e livre exercício profissional

É constitucional a expressão “privativas”, contida no “caput” do art. 3º (1) da Lei 8.234/1991, que regulamenta a profissão de nutricionista, respeitado o âmbito de atuação profissional das demais profissões regulamentadas.

Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada contra o referido dispositivo legal.

O Tribunal afirmou que a Constituição, ao admitir que lei restrinja o exercício das profissões, especificando requisitos mínimos ao exercício de atividades técnicas, apresenta-se como exceção à regra geral da liberdade de exercício profissional. Essas restrições legais precisam ser proporcionais e necessárias e estão restritas às “qualificações profissionais” — formação técnico/científica indispensável para o bom desempenho da atividade.

O caso da profissão de nutricionista requer conhecimentos técnicos e científicos específicos para o desempenho de suas funções.

O Colegiado ressaltou que as atribuições dos profissionais de nível médio são essencialmente diversas daquelas atribuídas com exclusividade aos profissionais de nível superior.

A norma impugnada enumerou como privativas dos nutricionistas atividades eminentemente técnicas que não se confundem com aquelas desempenhadas por outros profissionais de nível médio.

Portanto, não há inconstitucionalidade na exigência de nível superior em nutrição para atividades eminentemente acadêmicas, a exemplo da direção, coordenação e supervisão de cursos de graduação; planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de estudos dietéticos; ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição; e ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins.

Por outro lado, as atividades de planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de serviços pertinentes à alimentação e nutrição, consultório de nutrição e dietética, e de assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e em consultório de nutrição não impedem nem prejudicam aquelas pertinentes a outras áreas de nível superior, notadamente referentes a bioquímicos e médicos nutrólogos.

Assim, é imperativo destacar que existem ressalvas com relação a outras categorias profissionais, tais como gastroenterologistas, nutrólogos, bioquímicos e demais profissões que, conquanto lidem com atividades correlatas, não têm seu exercício tolhido pela regulamentação da profissão de nutricionista.

Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade do vocábulo “privativas”, constante do art. 3º da referida lei. Pontuou que o art. 5º, XIII (2) da CF revela a liberdade no exercício de qualquer trabalho, ofício, ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

(1) Lei 8.234/1991: “Art. 3º São atividades privativas dos nutricionistas: I - direção, coordenação e supervisão de cursos de graduação em nutrição; II - planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de serviços de alimentação e nutrição; III - planejamento, coordenação, supervisão e avaliação de estudos dietéticos; IV - ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição; V - ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins; VI - auditoria, consultoria e assessoria em nutrição e dietética; VII - assistência e educação nutricional e coletividades ou indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e privadas e em consultório de nutrição e dietética; VIII - assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de consultórios de nutrição e dietética, prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas para enfermos”.
(2) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

ADI 803/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 28.9.2017. (ADI-803)"

Fonte: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo879.htm


Sétima diferença: o número de consultas pelos planos de saúde

Infelizmente os planos de saúde não são obrigados a cobrir consultas ilimitadas com nutricionistas. Sendo assim, conforme as normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o plano de saúde possui um teto MINIMO no número de consultas com nutricionistas. Totalizando em 12 consultas anuais, desde que sejam respeitados os seguintes critérios

"São obrigatórias 12 consultas/sessões com nutricionistas, quando preenchidos os seguintes critérios pelos pacientes:
a) Diagnóstico confirmado de diabetes
b) Duas consultas médicas especializadas nos últimos 12 meses (endocrinologista /ou oftalmologista e/ou cardiologista e/ou nefrologista);
c)1 EGC (Eletrocardiograma) nos últimos 12 meses;
d) 2 exames de hemoglobina glicosilada nos últimos 12 meses;"

Já com médicos nutrólogos, o número de consultas é ilimitado. Caso o paciente queira ir semanalmente ou quinzenalmente pode comparecer. A nutrologia é uma especialidade médica, a ANS obriga que os planos disponibilizem nutrólogos para os pacientes. Apesar de que a cada dia está mais difícil encontrar nutrólogos pelos planos de saúde.

Abrangência da nutrologia e o que o nutrólogo trata

A abrangência de atuação dos nutrólogos envolve:
  1. diagnosticar e tratar as doenças nutricionais (que incluem as doenças nutroneurometabólicas)
  2. Identificar possíveis “erros” alimentares, hábitos de vida ou estados orgânicos que estejam contribuindo para o quadro nutricional do paciente, já que as interrelações entre nutrientes-nutrientes, nutrientes-medicamentos e de mecanismos regulatórios orgânicos são complexas;
O nutrólogo pode atuar tanto em nível ambulatorial (consultório) quanto em nível hospitalar (pacientes em enfermaria ou na Unidade de terapia intensiva).

Podendo também atuar em nível de domicílio, no caso dos pacientes acamados.

Quando a atuação se dá no ambulatório denominamos de nutrologia clínica, enquanto dentro de hospitais, de hospitalar.

As principais doenças tratadas na nutrologia clínica/hospitalar são:
  1. Obesidade infanto-juvenil e no Obesidade do adulto;
  2. Desnutrição do adulto, da criança e do idoso;
  3. Acompanhamento pré e pós-cirurgia bariátrica;
  4. Dificuldade para ganho de massa magra (adolescentes, adultos e idosos);
  5. Sarcopenia (baixa quantidade de massa magra),
  6. Osteopenia e Osteoporose do idoso e em jovens;
  7. Anorexia nervosa;
  8. Bulimia nervosa;
  9. Vigorexia;
  10. Ortorexia;
  11. Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP),
  12. Síndrome do Comer Noturno;
  13. Aspectos nutricionais da ansiedade; depressão; insônia;
  14. Intolerância à glicose e Diabetes mellitus tipo 2;
  15. Dislipidemias: hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia;
  16. Síndrome metabólica;
  17. Esteatose hepática não-alcóolica (fígado gorduroso);
  18. Alergias alimentares;
  19. Intolerâncias alimentares (lactose, frutose);
  20. Anemias carenciais (Ferropriva, por deficiência de B12, ácido fólico, cobre, zinco, complexo B, vitamina A);
  21. Deficiência e excessos de macronutrientes e micronutrientes;
  22. Constipação intestinal (intestino preso);
  23. Diarréia crônica;
  24. Dispepsias correlacionadas à ingestão de alimentos específicos (má digestão);
  25. Distensão abdominal crônica (gases intestinais);
  26. Disbiose intestinal e Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO);
  27. Síndrome do intestino irritável;
  28. Fadiga crônica;
  29. Fibromialgia (aspectos nutrológicos);
  30. Acompanhamento nutricional pré-gestacional (preparo pré-gravidez), acompanhamento nutricional durante a gestação e amamentação;
  31. TPM (causas ligadas a nutrientes);
  32. Orientações nutrológicas para nefropata (insuficiencia renal aguda, doença renal crônica, cálculo renal),
  33. Orientações nutrológicas para hepatopatas (insuficiência hepática, encefalopatia hepática, esteatose hepática),
  34. Orientações nutrológicas para pneumopatas (Asma, enfisema, fibrose cistica, bronquite crônica, sindromes restritivas, cor pulmonale),
  35. Orientações nutrológicas para cardiopatas (infarto agudo, insuficiência coronariana, insuficiência cardíaca, valvulopatias, arritimias),
  36. Orientações nutrológicas para portadores de doenças autoimunes (artrite reumatóide, lúpus, hashimoto, psoríase, vitiligo);
  37. Infertilidade (aspectos nutrológicos).

Portanto, se você tem alguma dessas condições eu te oriento primeiro a procurar um nutrólogo para fechar o diagnóstico e determinar o tipo de terapêutica a ser utilizada. Mas por que ? O nutricionista não tem nem formação acadêmica e nem competência legal para diagnosticar doença, e sim  competência legal e acadêmica para o diagnóstico nutricional.


Posteriormente procurar um nutricionista de preferência com experiência em nutrição clínica, para que ele possa instituir uma abordagem nutricional para o seu caso e acompanhá-lo paralelamente com o nutrólogo. A abordagem multidisciplinar é de suma importância. Bons profissionais dialogam e buscam o melhor para o paciente. 

Exemplos de atuação do nutrólogo

Uma forma  simples de explicar a diferença é através de exemplos. Imaginemos um paciente:
Sexo masculino, 25 anos, 1,80 110kg. Com queixa de obesidade, irritabilidade, deita tarde, sonolência durante o dia, sensação de que o sono não foi reparador, cansaço, diminuição da libido, alta ingestão de álcool nos finais de semana, baixa ingestão de água, hábitos alimentares errôneos.
História familiar de doenças cardiovasculares e diabetes tipo II. Tem apresentado elevação da pressão arterial ocasionalmente e aumento da frequência cardíaca.

A primeira conduta seria verificar quais as possíveis patologias podem estar presentes. Além da solicitação de exames para verificar como está a pressão arterial e atividade eletrofisiológica cardíaca. Isso um nutricionista conseguiria fazer? Não.

Ou seja, o básico e essencial já estaria prejudicado caso o paciente recorresse primeiramente ao colega nutricionista. O risco cardiovascular desse paciente seria subestimado e isso poderia culminar em um desfecho desfavorável.

A questão do sono é de suma importância. A solicitação de uma polissonografia é crucial para determinar se o sono apresenta alterações como apnéia. Pois se o mesmo apresentar uma apnéia de moderada a grave, tanto a oscilação da pressão, quanto alteração na libido como irritabilidade podem ter uma justificativa. A apnéia deve ser corrigida. A pergunta é: o colega nutricionista vai intervir nisso? Ele sabe manejar isso? Não ! Ele pode indicar o uso de CPAP? Não.

Ele sabe manejar parcialmente a obesidade, dentro do biônimo dieta + atividade física.

Aí entram inúmeras perguntas:
  1. E se esse paciente não responde bem (como é o caso de uma grande parcela dos pacientes) apenas à dieta combinada com atividade física? 
  2. E se esse paciente apresenta associado ao quadro, episódios de compulsão alimentar e faz-se necessário um tratamento medicamentos? Ele vai conseguir intervir? Mais uma vez, a resposta é não.
  3. E se esse paciente tem como obesidade um efeito adverso de alguma medicação que ele ja faz uso? O nutricionista pode retirar? Não. 
  4. E se esse paciente por conta da obesidade vem apresentando Esteatose hepática e ela está evoluindo para esteatohepatite. O nutricionista saberá diagnosticar, ou melhor, ele pode diagnosticar ? Não. 
  5. E se essa apnéia do sono está levando a uma elevação dos níveis de cortisol no período noturno, além de uma diminuição da produção de testosterona decorrente de uma diminuição dos pulsos de LH. O nutricionista saberá diagnosticar sem a Polissonografia? Não. 
Vejam (antes que me crucifiquem nos comentários) que em nenhum momento retiro a importância crucial do colega nutricionista no tratamento. A correção dos hábitos alimentares assim como a educação em saúde são fundamentais, sendo pilares no tratamento. Mas até que se institua o tratamento, várias coisas devem ser investigadas. Não apenas a ponta do iceberg (sinais e sintomas), como muitos nutricionistas e nutrólogos exercem. Em momento nenhum desse texto eu fugi à legislação. O que me irrita é ver nutricionista querendo invadir a medicina (achando que pode diagnosticar doença, por mais que tenha feito pós-graduação em alguma área) e médico querendo invadir a nutrição (realizando o que é função privativa do nutricionista). Cada um no seu quadrado.

Se nutricionista quer diagnosticar e tratar doença, curse medicina. Se o médico quer passar dieta de forma adequada, mais aprofundada, com todos os cálculos, gradue-se em nutrição. 

Medicina nutricional se faz assim, com investigação minuciosa, compreensão das interrelações entre vias bioquímicas. Assim como nutrição clínica se faz com abordagem holística. Um profissional complementa o outro e quem ganha com isso é o paciente.


Autor: Dr. Frederico Lobo (CRM-GO 13192) Médico

Clique na imagem para ampliar

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Gordura acumulada na barriga tem relação com estresse

Bem interessante a reportagem sobre o assunto.

O Cortisol hoje a ciência sabe, que favorece a diferenciação do pré-adipócito em adipócito maduro. Além disso faz quebra de proteínas, piora a ação da insulina, aumenta a retenção de líquidos.

http://globotv.globo.com/rede-globo/bem-estar/v/gordura-acumulada-na-barriga-tem-relacao-com-estresse/3510867/

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Produção de copo de plástico gasta mais água do que lavar copo de vidro

A atitude de optar por copos de plástico no lugar dos de vidro, que tem se tornado comum em bares e restaurantes de São Paulo, não constitui uma contribuição verdadeira para se contornar a crise hídrica, como mostrou o SPTV nesta quarta-feira (11).  Devido aos cortes no abastecimento, moradores também aderiram à prática.

Mas para se se fazer um copinho o plástico precisa ser derretido, colocado em uma forma e resfriado. Esse processo exige bastante água. A maior parte dela é reutilizada. Mas, pelo menos, meio litro vai embora.
A produção de copo descartável chega a consumir 500 ml de água, enquanto a lavagem feita na pia utiliza 400 ml, como estimou a Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFSP) Itapetininga. A lavagem na máquina é ainda mais econômica e gasta apenas 100 ml por copo, isto é, apenas 20% do que é gasto para se produzir um copinho plástico.
Os copos mais procurados do mercado tem capacidade para 200 ml de plástico e custa R$ 0,02. O de 300 ml, que custa R$ 0,04, tem o tamanho mais parecido com o copo utilizado em casa. O copo de plástico mais firme, o cristal, custa R$ 0,16 centavos cada.

Para quem está passando pela falta de água para lavar louça, a compra pode ser a solução do momento. A longo prazo, pode contribuir para prejudicar ainda mais o abastecimento.
O Bom Dia São Paulo já mostrou estabelecimentos na Vila Mariana, na Zona Sul, e na Vila Madalena, bairro boêmio da Zona Oeste, já adotaram os copos de plásticos. Alguns consumidores não se acostumam e chegam até a levar o próprio copo de vidro para o momento do brinde.

Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/02/producao-de-copo-de-plastico-gasta-mais-agua-do-que-lavar-copo-de-vidro.html

Hortas caseiras melhoram a qualidade da alimentação e criam uma nova relação das pessoas com o que comem

Nunca se buscou tanto uma alimentação saudável como agora. O aumento da longevidade e o avanço da medicina trouxeram a esperança por mais dias de vida e “a receita” para alcançá-los. A ciência já juntou A mais B para dizer como a escolha do que comer pode ser definidora de mais saúde e qualidade de vida. A atenção ao que se come ganhou outra dimensão e hoje, para muita gente, é essencial saber como alhos e bugalhos foram plantados, tratados e colhidos, até chegar ao prato. É nesse contexto que as hortas caseiras vão ganhando espaço, mesmo quando ele é tão pequeno para plantar tudo o que se deseja. Nutricionistas defendem que faz toda a diferença comer o que se planta, e quem entende de horta deixa claro: “Sim, é possível comer a alface que você viu germinar”.

A fisioterapeuta Nádia Fadini Serpa se considera uma “espalhadora de hortas”. Por gostar de cozinhar, já ensaiava plantar os temperos que sempre saía para buscar no meio de suas preparações. Mas o diagnóstico de um câncer e a necessidade de melhorar a alimentação foram definidores para enfiar a mão na terra. Depois da sua horta, ela já montou uma para o prédio onde mora, uma na casa da mãe e outra para a sogra. E é com essa mesma boa vontade que compartilha suas dicas com o Bem Viver. A horta de Nádia é um sucesso, mesmo em um apartamento pequeno. Uma prova de que é possível para todo mundo.

HORTALIÇAS 

As hortas, claro, se adequam à quantidade de terra que se tem para oferecer. Cabe a quem planta e colhe escolher o mais apropriado à sua realidade e, claro, ao seu gosto. Uma das graças da horta é exatamente essa personalização: tem-se à mão o que mais se gosta. Pequenas hortas de ervas são as mais comuns, mas é possível ir além. Dá para plantar cenoura, embora as hortaliças folhosas sejam as de mais fácil cultivo. Aliás, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as hortaliças são aquele grupo de plantas de ciclo biológico curto, consistência tenra de folhas, não lenhosas e não cultivadas em áreas extensas, se comparadas a grandes culturas, como a soja. Popularmente, são conhecidas como verduras e legumes, sendo incluídas nesse grupo a batata, a batata-doce, o milho doce e verde, o melão, o morango e a melancia.

Preparamos um manual com dicas essenciais para quem quer começar. Anime-se! Sua comida vai ficar mais gostosa, e sua saúde, mais em dia.

FEIRA MODERNA

Para quem planeja ter uma horta em casa, a rede de alimentação saudável Salad lançou uma nova edição do Guia salad ou manual prático - Como fazer sua horta. O aplicativo para tablet e smartphone é gratuito e está disponível na App Store e Google Play. Com simplicidade, o objetivo é ensinar o usuário a criar e a manter uma horta orgânica em casa.

Marmita verde 
Além do ganho com a alimentação mais saudável, o cultivo de hortaliças e legumes é sustentável, pois diminui a emissão de poluentes com o transporte, por exemplo

Hortas em pequenos espaços vêm ganhando adeptos há muito tempo. O movimento, iniciado em grandes metrópoles mundiais, começou transformando lajes fora de atividade em telhados verdes. Em Londres, o hábito vem desde o fim dos anos 1980, com lotes vazios transformados em hortas comunitárias, com tarefas e produção compartilhadas. Mais recentemente, a disseminação de informação, a troca de experiência nas redes sociais e o comprometimento de alguns grupos com a oferta de oficinas gratuitas ampliaram o fenômeno, que ganhou ainda mais força com a moda das marmitas “repaginadas”. O mercado também está de olho na tendência: em Belo Horizonte, há imóveis de luxo com hortas planejadas para cada unidade. As pessoas descobriram que é possível ter mais do que um vasinho de manjericão na janela.

Segundo a doutora em botânica Marina Neiva Alvim, coordenadora do projeto Verde Comunitário, projeto de extensão do curso de biologia do Centro Universitário Izabela Hendrix, é possível manter um manejo agroecológico em uma horta caseira, sem uso de insumos químicos comuns na agricultura tradicional. “Escolhemos plantas que têm afinidade uma com a outra, aquelas que afastam pragas e, claro, o que mais se gosta de comer. O resultado são alimentos mais frescos e um maior acesso a nutrientes, porque o metabolismo da planta os destrói com o passar do tempo e o que compramos no supermercado não tem a mesma qualidade do que cultivamos”, explica. Para Marina, além do ganho com uma alimentação mais saudável, há um benefício indireto. “Quando plantamos o que comemos estamos diminuindo a emissão de poluentes com o transporte de alimentos”, diz.

As hortas caseiras são ainda uma ótima maneira de reciclar vasilhames. Segundo Marina, quase tudo dá para plantar em garrafas PET, colocadas de pé ou deitadas, em função do modo como cresce a raiz da planta. A única limitação é o sol: as hortaliças, em geral, precisam de três a cinco horas diárias de sol direto. O da manhã é o ideal, mas, se no seu apartamento ele só bate à tarde, também vai dar certo. No projeto Verde Comunitário, o plantio foi adaptado à realidade das moradias. “É possível plantar sem furar os vasos para a drenagem, já que isso sujaria as áreas e paredes dos apartamentos. Defendemos que quem planta aprenda a irrigar de forma a não encharcar o solo”, explica a especialista. A fisioterapeuta Nádia Serpa, de 36 anos, vê nesse cuidado uma forma de se envolver ainda mais com a produção do que se come.

MAIS VALOR 

Além de mais ricas em nutrientes, as hortaliças cultivadas pelo próprio consumidor aproximam o homem do seu alimento. Rosamara de Souza Gonçalves, coordenadora estadual da Fundação Mokiti Okada, que mantém o programa Horta em vasa e vida saudável, a vivência e o contato com a hortaliça é um dos objetivos. “Nossa filosofia é aproximar pessoas e natureza. Somos seres naturais e, quando plantamos nossa própria comida, nos aproximamos dessa essência”, defende. Fora o aspecto social. Nádia, por exemplo, se aproximou mais dos vizinhos do prédio desde que propôs fazer uma pequena horta de temperos na área comum. “Até o cheiro do lugar fica melhor”, comemora.

Oficinas gratuitas

Plantio em espaços alternativos
Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar de Belo Horizonte
Telefone: (31) 3277-4851/4779

Germinação e cultivo
Projeto Verde Comunitário, do Centro Universitário Izabela Hendrix
E-mail: verde.comunitario@izabelahendrix.edu.br

Programa Horta em casa e vida saudável
Fundação Mokiti Okada
E-mail: rosa_adv@yahoo.com.br

TRÊS PERGUNTAS PARA... Gabriela Kapim - nutricionista e apresentadora do programa Socorro, meu filho come mal

1) Qual é o consumo diário de hortaliças recomendado para uma alimentação saudável? Qual deve ser a quantidade, a qualidade e a variedade?

É importante comer de cinco a seis hortaliças e de três a quatro frutas por dia, preferencialmente orgânicos. Esse consumo deve ser o mais variado possível, quanto ao tipo, cor, consistência e forma de preparo. Uma hortaliça, por exemplo, pode ser comida crua, assada ou cozida.

2) É possível alcançar esse consumo exclusivamente por meio de uma horta caseira? Se for preciso recorrer a outra fonte, qual a orientação?

Dificilmente conseguimos tudo em uma horta própria, principalmente no caso das frutas. O ideal é que tudo seja orgânico, mas, se não for possível, é melhor comer sem ser orgânico do que deixar de comer esses alimentos.

3) Em função dos pequenos espaços disponíveis para cultivo, o que você indica para plantio, de forma a garantir um consumo variado e equilibrado em termos de nutrientes?

As verduras são mais fáceis de se cultivar em uma horta caseira do que os tubérculos, que precisam de mais profundidade. Se o espaço for pequeno e não der para investir em uma variedade, acho uma hortinha de temperos bem bacana. Ter ervas orgânicas e frescas já faz toda a diferença no sabor das preparações. Além disso, com mais temperos à disposição, dá para variar nas receitas e diminuir o sal. Mas é preciso ter atenção para fazer uma horta já com sementes orgânicas.

Hortas em pequenos espaços 

O desenvolvimento de uma planta está diretamente relacionado ao seu potencial genético, ao manejo da cultura e aos fatores ambientais. O sucesso de sua colheita, portanto, depende de cuidados com todos esses aspectos


MATERIAL NECESSÁRIO

A escolha do minicanteiro depende do espaço disponível e da adequação à hortaliça. Seja qual for, o ideal é ter 20cm de profundidade. Algumas opções:

• tambores de latão ou de plástico
• canteiros de madeira suspensos
• latas e vasilhames recicláveis
• jardineiras de alvenaria
• canos de PVC
• garrafas PET
• baldes
• pneus

LUMINOSIDADE E TEMPERATURA

A luz é, provavelmente, o fator ambiental mais importante para o crescimento e a floração das plantas. Em função de sua necessidade de luminosidade, elas são divididas em plantas de dias longos, que precisam de maior tempo de exposição (cebola e alho); plantas de dias curtos, que necessitam de menor exposição (hortaliças folhosas, pimentas e pimentões) e neutras, que se desenvolvem bem em qualquer condição (tomate e quiabo).

BOAS OPÇÕES

• Hortaliças com parte aérea comestível e ciclo de vida curto: coentro, cebolinha, salsa, alface, chicória, almeirão, rúcula e espinafre
• Condimentares: alecrim, hortelã, erva cidreira, manjericão, alfavaca
• Hortaliças fruto: pimentão, tomate e pimenta
• Tubérculos: embora possível, não é recomendado para pequenos espaços, por necessitarem de canteiros com maior profundidade

PLANTIO DIRETO X MUDAS

As sementes podem ser plantadas diretamente no canteiro no caso de hortas em pequenos espaços. Coloque até três sementes por cova, em uma profundidade de até 1,5cm, ou distribuídas em sulcos com profundidade máxima de 1cm. Quando as mudas apresentarem de três a quatro folhas definitivas, realize o desbaste ou raleio das hortaliças, arrancando as mais fracas e deixando as demais num espaçamento próximo ao recomendado. Tenha cuidado para não afetar as raízes, puxando as mais fracas lentamente pela base. Regue logo após o procedimento. Se preferir, faça a horta a partir de mudas, colocando as sementes em copos descartáveis, com substrato próprio para cultivo de mudas. Geralmente, as mudas devem ser transplantadas para o canteiro quando tiverem de três a quatro pares de folhas definitivas.

NUTRIENTES

A falta ou insuficiência de alguns nutrientes atrasa o desenvolvimento ou impossibilita a planta de completar o seu ciclo de vida. Podem ser divididos em macronutrientes, necessários em maior quantidade (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes, em menor quantidade (carbono, cobre, cloro, manganês, zinco, molibdênio e ferro). É preciso cuidar ainda do índice de acidez (se o pH do solo não estiver na faixa adequada, entre 5,5 e 6,5, a raiz não consegue absorver os nutrientes, sendo necessário acrescentar calcário); umidade; disponibilidade dos nutrientes; aeração e temperatura do solo (a faixa favorável à absorção está entre 20°C e 35°C).

PREPARO DO SOLO

1º) Colete terra de barranco, de 20cm a 30cm de profundidade (considerada solo pobre, com pH baixo e livre de sementes de ervas daninha). Peneire para separar as partículas mais finas dos torrões.

2º) Escolha o adubo orgânico (esterco de boi ou cama de frango, desde que bem curtidos, para evitar contaminação) e o adubo químico (granulado NPK 4-14-8, de preferência, ou termofosfatado).

3º) Para cada 50 litros de terra de barranco, acrescente 100 gramas de calcário ou cal hidratada; 34 litros de esterco de gado ou 17 litros de esterco de galinha; 200 gramas de NPI, 4-14-8 ou 200 gramas de adubo termofosfatado.

SOLO ADEQUADO

Um solo fértil deve ter uma quantidade razoável de matéria orgânica, reter água e ser permeável e apresentar os minerais essenciais para o cultivo. Caso contrário, é recomendado acrescentar adubos orgânicos (fezes de animais ou restos vegetais) ou químicos (compostos de nitrogênio, fósforo e potássio), ou misturá-lo a solos mais férteis e regá-lo frequentemente. O solo ideal para plantas é uma mistura do arenoso (menor quantidade) e argiloso (maior quantidade). No entanto, a maior parte dos utilizados para o cultivo de hortaliças são os chamados terra de barranco, terra virgem ou solo virgem, geralmente de coloração vermelha ou amarelada e de baixa fertilidade.

IRRIGAÇÃO

O bom controle da irrigação é essencial, com o cuidado de não encharcar o solo. Se ele estiver pouco arejado, a respiração e produção de energia das plantas será prejudicada. Hortaliças, plantas de ciclo curto, precisam de irrigação constante, que varia com sua idade. Na produção de mudas, ela deve ser diária, com pouca água e maior frequência três vezes por dia. Com o desenvolvimento das plantas, a irrigação deve ser diminuída em frequência e aumentada em volume: as jovens devem receber água uma vez ao dia, e as adultas, de três a quatro vezes por semana. Com clima ameno, a frequência de irrigação deve ser menor; com temperaturas elevadas, maior

ONDE CULTIVAR

O plantio de hortas em pequenos espaços é uma alternativa ao método tradicional para quem não tem disponibilidade de canteiros. O cultivo deve ser feito onde há sol em pelo menos um período do dia (cerca de cinco horas) e luminosidade para a fotossíntese. Desde que atenda esses quesitos, é possível plantar em corredores externos, sacadas e beirais, varandas, janelas, terraços, garagens e fundos de quintal.


As pragas mais comuns em hortaliças são larvas e lagartas; pulgões; percevejos; besouros; mosca-branca; cochonilhas; paquinhas, grilos, gafanhotos e formigas; tripes; cupins, ácaros, lesmas e caracóis. Já as doenças mais recorrentes são provocadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides. Para evitá-los, deve-se garantir que a terra não esteja contaminada. No caso de ataque de pragas e incidência de doenças, alguns produtos naturais ou de preparo caseiro podem auxiliar, como o óleo ou extrato de plantas como neem, fumo, pimenta, cebola, cravo-de-defunto e camomila, além das caldas de sabão neutro ou sulfocálcica. O cultivo de plantas repelentes em torno também ajuda, como coentro, cebolinha, cravo-de-defunto e camomila. Tanto defensivos químicos quanto naturais demandam cuidado na utilização e um período de carência para consumo: cinco dias


Fonte: http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2015/06/14/noticia_saudeplena,153756/hortas-caseiras-melhoram-a-qualidade-da-alimentacao-e-criam-uma-nova-r.shtml