sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Água emagrece? Sim, não ou talvez ?

Repostando uma ótima postagem do pessoal do @cienciainforma da USP.


Para isso há apenas um mecanismo plausível,um balanço calórico negativo.

Para testar o efeito no consumo calórico um estudo avaliou, por 12 semanas, uma dieta hipocalórica associada, ou não, ao consumo de 500ml de água antes de cada refeição. Como resultado os autores observaram uma perda de peso corporal 2kg maior no grupo que consumiu a água. Uma possível explanação seria a significativa redução no consumo calórico observado nas refeições teste.

Esse efeito já foi observado por outros: com redução de quase 13% do consumo calórico e até uma menor sensação de fome e maior saciedade no grupo que tomou água antes da refeição. Outro método para seu efeio, seria reduzindo o consumo diário de bebidas calóricas.

Um estudo transversal realizado com adultos de baixa renda no México verificou que o consumo de água era indiretamente proporcional ao de bebidas açucaradas. Quanto mais água um indivíduo consumia, menor era o consumo de outras bebidas calóricas. A cada 100ml a mais de água consumida, o consumo de bebidas calóricas reduzia cerca de 20ml.

Talvez o fato seja que as pessoas utilizam essas bebidas rotineiramente para “matar a sede” e, aumentando-se o consumo de água, diminui-se a necessidade delas. Claro que a água por si só não emagrecerá ninguém diretamente, mas algumas evidência científicas apontam que talvez, indiretamente, ela possa influenciar positivamente o balanço energético, seja por meio de uma diminuição no consumo de bebidas calóricas, ou por uma redução na ingestão calórica na refeição seguinte.

Aqueles que já apresentam um bom consumo hídrico podem não se beneficiar, porém os achados recentes sugerem que há uma boa margem para a população brasileira melhorar seu consumo de água, o que poderá, além de outros benefícios, resultar em melhores respostas de emagrecimento, claro que em combinação a uma prática de atividade física e uma dieta apropriada.

Autora: Dra. Desire Coelho

#CienciaInForma #saúde #emagrecimento #behealthy #30tododia

sábado, 14 de novembro de 2015

Livro: Lavouras Transgênicas – Riscos e incertezas: Mais de 750 estudos desprezados pelos órgãos reguladores de OGMs


Cerca de 40 variedades de plantas transgênicas foram liberadas para cultivo comercial no Brasil em pouco mais de oito anos. A maior parte delas concentra-se em sementes de soja, milho e algodão resistentes a agrotóxicos e/ou a algumas pragas. Passado esse período e tendo esses produtos chegado ao consumo de massa por meio de óleos, derivados de milho e comida industrializada em geral, duas principais conclusões podem ser mencionadas.

A primeira está ligada ao fato de que não foram cumpridas as principais promessas fartamente anunciadas pelos promotores da tecnologia. Não houve redução do uso de agrotóxicos, nem vantagens para os consumidores, nem a criação de plantas mais nutritivas, saborosas ou resistentes a efeitos das mudanças climáticas.

A segunda conclusão refere-se à acesa polêmica que há mais de 20 anos faz dos entes reguladores dos organismos transgênicos espaços altamente controversos. Para além de questões ligadas a conflitos de interesses, a polêmica vem do fato de que esses órgãos apoiam-se em discurso supostamente científico para alegar a segurança presente e futura dessas novas plantas. No geral, pesquisadores que produziram evidências em contrário ou questionaram essa visão principista foram pessoal e profissionalmente atacados por pesquisadores e membros das comissões de biossegurança existentes Brasil afora alinhados ao mainstream do desenvolvimento biotecnológico.

Esta publicação, organizada ao longo dos 10 últimos anos pelo Grupo de Estudos sobre Agrobiodiversidade e agora publicada pelo Nead/MDA, reúne mais de 750 estudos desconsiderados pelos órgãos reguladores como CTNBio, Anvisa e Ibama. Mostra, assim, a relevância e pertinência da crítica apresentada por pesquisadores não alinhados ao mainstream e revelam que as decisões tomadas por essas comissões, ainda que técnicas e de biossegurança, não foram baseadas em boa ciência.

Elementos não faltam para uma ampla revisão das decisões já tomadas e para que se promovam ajustes profundos na forma como operam esses entes encarregados de avaliar os riscos dos organismos geneticamente modificados.

“Os elementos aqui expostos em cerca de 750 estudos validados por revistas científicas com conselho editorial mostram claramente que não há consenso na comunidade científica sobre o tema da transgenia e seus impactos”.

DOWNLOAD GRATUITO EMhttp://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/ceazinepdf/LAVOURAS_TRANSGENICAS_RISCOS_E_INCERTEZAS_MAIS_DE_750_ESTUDOS_DESPREZADOS_PELOS_ORGAOS_REGULADORES_DE_OGMS.pdf

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A volta da perigosa dieta do hormônio da gravidez

O método prevê a aplicação de injeções diárias de hCG (doses entre 125 UI e 500 UI), associado a um regime de 500 a 600 calorias, com restrição de carboidratos, frutas doces, gorduras, alimentos processados e exercícios, durante 40 dias.

A proximidade do verão inaugura uma corrida contra o tempo e contra a balança. O desejo? Que os quilos extras acumulados ao longo do ano inteiro sumam rapidamente e de forma indolor para a chegada da temporada dos corpos à mostra. O cenário é perfeito para que as fórmulas milagrosas ganhem espaço. É o caso da dieta hCG. Com a promessa de emagrecer até 15 quilos em um mês, sem causar fome ou falta de energia, o perigoso método está em alta entre as brasileiras. "Muitas pacientes chegam aos consultórios perguntando sobre a dieta. Isso é preocupante porque não há evidências que confirmem a eficácia para a perda de peso. Por outro lado, temos muitas provas sobre os riscos à saúde", diz Alexandre Hohl, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

O hCG -- ou gonadotrofina coriônica humana -- é um hormônio produzido naturalmente durante a gravidez. Na gestação, o composto serve para criar um ambiente favorável para o desenvolvimento fetal. Mulheres que não estão grávidas e homens, contudo, possuem taxas quase indetectáveis no corpo. Para emagrecer, as pessoas se submetem à aplicação de injeções diárias do hCG e seguem uma alimentação extremamente restritiva. O cardápio não permite o consumo de carboidratos, frutas, doces, gorduras e alimentos processados. Por 40 dias, a ingestão diária não deve passar de 600 calorias e os exercícios também são proibidos.

A indicação do hcG para a perda de peso é antiga. Na década de 50, o médico britânico Albert Simeons observou que havia uma associação entre a administração do hCG em pacientes obesos e a eliminação dos quilos extras. As evidências apontadas por Simeons, porém, foram consideradas fracas pela comunidade científica. Desde então, vários levantamentos foram realizados com o objetivo de comprovar a eficácia do tratamento. O problema é que nenhum estudo realizado até agora conseguiu provar que o hormônio é capaz de intensificar a perda de peso, distribuir melhor a gordura ou reduzir o apetite.

"Funciona como um efeito placebo. A aplicação do hCG e seu suposto efeito na perda de peso é vendido apenas como uma ilusão, com o intuito de criar um estímulo - perigoso - para essas pessoas que estão em uma dieta tão restritiva. O emagrecimento em si acontece pela restrição calórica. É obvio que alguém ingerindo apenas 500 calorias durante 30 ou 40 dias irá emagrecer", explica Hohl.
Por ser um tratamento off-label (não indicado em bula), a utilização do hormônio para o emagrecimento não é aprovada pela Anvisa e também não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. Por isso, faltam dados de quantas pessoas são adeptas ao regime. Atualmente, o uso do hCG como medicamento é aprovado apenas no tratamento de pessoas com infertilidade ou de meninos com criptotidismo (ausência do testículo na bolsa escrotal). "A aplicação do hCG em mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade serve para promover a maturação dos óvulos. Neste caso, sua ação é semelhante ao LH (hormônio luteinizante) e promove a ovulação. Nos homens, ele é utilizado em casos de atividade testicular ruim para estimular espermatogênese (formação de espermatozoides)", explica o médico Edson Borges, diretor clínico do Centro de Fertilização Assistida Fertility.

Além disso, a restrição calórica pode provocar anemia, perda de massa muscular e até mesmo desnutrição. De acordo com o endocrinologista, esses problemas podem aparecer em qualquer dieta restritiva quando não há acompanhamento de um médico ou falta de suplementação de vitaminas e sais minerais.

Por isso, quem quer emagrecer e manter o peso de uma forma saudável não deve acreditar em soluções rápidas e milagrosas. "As pessoas buscam fórmulas mágicas e frequentemente surgem dietas da moda com essa proposta, mas isso não existe. O caminho continua o mesmo: descobrir o que existe de errado com a pessoa e corrigir, por meio de reeducação alimentar e atividade física adequada", completou Hohl.


Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/a-volta-da-perigosa-dieta-do-hormonio-da-gravidez

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Orientações nutrológicas para distúrbios labirínticos

Os hábitos alimentares inadequados e a indisciplina alimentar demonstram ser as principais causas do aumento dos problemas metabólicos. Os sinais e sintomas da disfunção labiríntica parecem estar entre as primeiras queixas dos pacientes com diabetes latente ou diminuição da tolerância à glicose. Observa-se que, uma parcela significativa dos indivíduos atendidos em nossa população ambulatorial, com queixas de sintomas relacionados ao equilíbrio e audição, são  portadores de distúrbios no metabolismo dos carboidratos.

Ao longo dos anos, vêm-se observando que o tratamento dietético pode reduzir de forma acentuada, os sintomas da disfunção labiríntica. Com base nesta observação, buscamos revisar a literatura de forma a avaliar a relação entre o manejo dietético e o controle da função labiríntica. De forma geral, a literatura concorda com a nossa observação de que o tratamento dietético pode diminuir os sintomas da disfunção labiríntica, proporcionando o alívio para o paciente e melhorando a sua qualidade de vida.

As queixas vestibulares e auditivas têm, freqüentemente, sido associadas ao metabolismo anormal dos carboidratos e dos lipídios. Estima-se que a ocorrência dos distúrbios do metabolismo dos carboidratos, esteja entre 42% a 80% dos pacientes portadores de zumbidos e tonturas e, se percebe a nítida necessidade de demonstrar o impacto destes distúrbios sobre o funcionamento da orelha interna, pois nos parece evidente a melhora dos sintomas com a instituição da dieta.

LABIRINTOPATIA METABÓLICA

Diversas condições metabólicas afetam intensamente o funcionamento do ouvido interno. Estas são capazes de determinar o aparecimento de alterações labirínticas que, na maioria dos casos, são decorrentes de distúrbios no metabolismo de carboidratos (SILVA, 2000).

A condição metabólica mais freqüentemente relacionada à disfunção da orelha interna refere-se aos distúrbios na secreção da insulina, com ou sem hipoglicemia reativa concomitante.

As estruturas labirínticas apresentam atividade metabólica intensa, sendo altamente sensíveis aos níveis de oxigênio, glicose e ATP (Adenosina Trifosfato). O labirinto é particularmente sensível a pequenas variações nos níveis plasmáticos de glicose e insulina.  Tanto a hipoglicemia quanto a presença de altos níveis de insulina interferem na atividade enzimática responsável pelo potencial endococlear (BITTAR, 2004).

Nas labirintopatias ou afecções vestibulococleares, os sintomas mais freqüentes, em pacientes com hiperinsulinemia, são a vertigem típica, associada a sintomas auditivos, como tinnitus, sensação de plenitude auricular, disacusia e cefaléia, limitando a qualidade de vida do indivíduo. É notável que os antecedentes pessoais e familiares dos portadores de labirintopatia metabólica revelam hábitos de alimentação inadequados, sedentarismo e tendência familiar para doenças como diabetes, hipertensão arterial e distúrbios hormonais (SILVA, 2000). De acordo com Ganança (1995), dois terços dos casos ocorrem em pessoas do sexo feminino, na faixa etária compreendida entre os 35 e 55 anos (80% dos casos), com tendência à obesidade , queixa de crises vertiginosas, já tendo sido submetidas a diversos especialistas, apresentando melhora parcial no início, porém sem resultado a longo prazo.

É evidente que, nos distúrbios metabólicos sistêmicos, o labirinto é atingido precocemente, sinalizando a necessidade de intervenção. Em relação à orientação terapêutica, o distúrbio deve ser diagnosticado e corrigido. Na maioria das vezes a correção requer orientação alimentar.

A HIPERINSULINEMIA COMO FATOR DESENCADEANTE DA LABIRINTOPATIA

Os carboidratos constituem a fonte mais importante de energia do organismo sendo que o principal carboidrato é a glicose (CINGOLANI, 2004). Os carboidratos são ingeridos com a dieta, principalmente na forma de polissacarídeos (amido) e dissacarídeos (sacarose e lactose). Após a sua digestão, os carboidratos passam para a circulação como monossacarídeos. Os monossacarídeos glicose, frutose e galactose são absorvidos, através da mucosa intestinal, e chegam até o fígado através da veia porta (CINGOLANI, 2004). O fígado libera glicose na corrente sangüínea, onde seu nível é mantido por ações dos hormônios. A elevação dos níveis séricos de glicose estimula insulina, que retira glicose da corrente sangüínea para as células (LIPPINCOTT, 2004).

Dentre os distúrbios do metabolismo do açúcar aceitos atualmente como responsáveis por alterações labirínticas, estão as disfunções metabólicas da glicose, incluindo diabetes, hipoglicemia reativa e hiperinsulinemia (BITTAR, 2004). A secreção de insulina, que é constante, pode ser modificada de acordo com estímulos específicos que podem aumentar ou diminuir sua taxa secretória (DOUGLAS, 2002). Além dos neurotransmissores e hormônios, os nutrientes constituem-se estímulo para a secreção insulínica. Os níveis aumentados de insulina resultam na redução da oferta de oxigênio para as células, o que induz prejuízo à função auditiva (BITTAR, 2003).

A  insulina e, secundariamente, a glicose, seriam fundamentais na produção energética e ao adequado funcionamento da bomba de sódio e potássio. Ao nível celular e bioquímico isto se explica pela composição dos líquidos labirínticos: a endolinfa, é rica em potássio e pobre em sódio. A perilinfa, ao contrário, é rica em sódio e pobre em potássio (FERREIRA JÚNIOR, 2000).  Como os líquidos são separados por uma membrana permeável,  existe uma tendência às trocas dos líquidos gerando hipernatremia na endolinfa, deslocando água para este compartimento, provocando  vertigem, zumbido, hipoacusia e plenitude auricular (FERREIRA JÚNIOR, 2000).

Com o adequado fornecimento de energia,  obtida pela oxidação da glicose,  o sódio retorna à perilinfa em troca de potássio, evitando as alterações clínicas citadas. Portanto,  para manter o equilíbrio da bomba de sódio e potássio é necessário um aporte adequado de glicose e oxigênio, pois é através dessas duas substâncias que haverá a liberação de energia essencial para o funcionamento adequado do ouvido interno.

Do contrário, o aporte insuficiente de energia, gerado pela hiperinsulinemia, provoca a inativação da bomba de sódio e potássio o que, segundo Silva (2000), resulta também em  queixas relativas à intolerância a sons, dificuldade de concentração, tendência à obesidade, irritabilidade, sonolência matinal e migrânea.

OS ALIMENTOS NO CONTROLE DA INSULINEMIA

Quando nos alimentamos, o processo de absorção dos nutrientes ocorre de forma  gradual e contínua, aproximadamente 20 minutos após o início da refeição (POIAN, 2005). Após uma refeição, podem ser observados níveis plasmáticos de glicose alcançando o dobro dos níveis basais. Daí a importância de que a secreção de insulina ocorra também de forma gradual, acompanhando as oscilações dos níveis plasmáticos de glicose (POIAN, 2005).

O estímulo à secreção de insulina se dá por diversos fatores e qualquer desequilíbrio na concentração fisiológica de glicose plasmática pode determinar alterações e danos em vários tecidos/órgãos (POIAN, 2005).

O aumento na incidência de diabetes evidencia uma inabilidade gradual do pâncreas na produção de elevadas concentrações de insulina ao longo da vida.

Segundo Fukuda (2003), o consumo de sacarose tem sido exagerado nas últimas décadas e nosso organismo não teve o tempo necessário para adaptar-se às elevadas quantias ingeridas. O resultado dessa inadequação é a hiperinsulinemia com conseqüente hipoglicemia reativa e sintomas como cefaléia, sonolência, tonturas, etc (BITTAR, 2004).

A absorção de alimentos contendo carboidratos depende de sua complexidade estrutural, seu teor de fibras e sua apresentação. Isto resulta em graus variáveis de absorção da glicose neles contidos (COSTA, 2004).   A intervenção nutricional nos distúrbios do metabolismo dos carboidratos, prevê o controle tanto do índice glicêmico dos alimentos utilizados na dieta quanto da carga glicêmica presente em cada refeição. O índice glicêmico de um alimento está relacionado ao impacto de sua composição na glicemia (alto, moderado ou baixo) após a sua ingestão. Já a carga glicêmica está relacionada ao impacto resultante do volume ingerido (alto, médio ou baixo). Um alimento que apresenta alto índice glicêmico, não necessariamente vai representar alta carga glicêmica na refeição, se a quantidade ingerida estiver sob controle. Na prática clínica, observa-se que, uma dieta com baixa carga glicêmica reduz os lipídios sangüíneos em indivíduos hipertrigliceridêmicos; reduz a secreção de insulina e melhora o controle global da glicemia em pacientes diabéticos insulino-dependentes e não insulino-dependentes.

O incremento de alimentos ricos em fibras solúveis e o adequado fracionamento das refeições, também buscam retardar a taxa de liberação de nutrientes no organismo, com repercussão positiva no controle dos distúrbios metabólicos. Quanto maior o teor de fibras do alimento e o retardo do esvaziamento do estômago, menor será a elevação da glicose no sangue após sua ingestão.  Por outro lado, de acordo com Costa, 2004,   a “pré-digestão” dos alimentos (amassar, triturar, esmagar, ralar e o excessivo cozimento) pode facilitar e aumentar a absorção da glicose. Neste caso, a alteração do índice glicêmico, é dependente dos outros alimentos ingeridos na mesma refeição e do modo de preparo dos mesmos.

Além do controle da quantidade, da qualidade, da freqüência e da combinação dos alimentos, é fundamental que sejam excluídos dos hábitos alimentares e de vida o consumo de álcool, da cafeína e o uso do tabaco, por conterem substâncias estimulantes da liberação da insulina.

Shils  (2003) afirma que diferentes indivíduos podem ter respostas glicêmicas vastamente diferentes a um alimento, dependendo do seu estado de tolerância à glicose, idade e peso.  Uma das mais eficazes opções terapêuticas parece ser a utilização de dietas nutricionais adequadas a cada caso, para que o tratamento seja dirigido à causa do distúrbio.

A PARTICIPAÇÃO DA DIETA NO CONTROLE DA LABIRINTOPATIA METABÓLICA

A dieta é a principal arma no combate aos sintomas causados por alterações do metabolismo da glicose ou da insulina. Está bem estabelecido que 90% dos pacientes submetidos a orientações dietéticas têm alívio ou cura dos sintomas (BITTAR, 1998 apud Mangabeira-Albernaz (1984).
Na prática clínica,  observa-se  que, durante o tratamento, os indivíduos com distúrbio labiríntico e alterações na curva insulinêmica, têm os sintomas reduzidos, em diferentes graus de intensidade. Entre três e seis meses de acompanhamento os mesmos desaparecem, quase em sua totalidade.

Nota-se, também,  que os sintomas mais freqüentes e mais beneficiados com o uso da dieta são a cefaléia, a tontura, a sonolência e a plenitude auricular. Após a avaliação dos indivíduos, conclui-se que a maioria dos casos está relacionada a vícios nutricionais comuns.

Acredita-se que a intervenção nutricional precoce, em indivíduos que apresentam  distúrbios da audição e do equilíbrio de origem metabólica, pode ser eficaz na redução ou mesmo no desaparecimento dos sintomas, contribuindo para o alívio do paciente e para uma melhor qualidade de vida.   Um controle metabólico adequado pode retardar o aparecimento ou a progressão de complicações crônicas.

REFERÊNCIAS

BITTAR, R. S. M.; BOTTINO, M. A.; VENOSA, A.  et al. 2004. Vestibular impairment secondary to glucose metabolic disorders: reality or myth? Revista Brasileira de Otorrinolaringologia,  v.70, n.6, nov/dez. São Paulo. 801-6.

BITTAR, R. S. M.; BOTTINO, M. A.; ZERATI, F.E. et al. 2003. Prevalência das alterações metabólicas em pacientes portadores de queixas vestibulares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v.69, n.1 jan/fev. São Paulo.

BITTAR, R. S. M; SANCHEZ, T. G.; SANTORO, P.P  et al. 1998. O metabolismo da glicose e o ouvido interno. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia. V.2 Ed.1. São Paulo. 112-20.

CINGOLANI, G. C. 2004. Metabolismo dos carboidratos. In:  CINGOLANI, H. E.; HOUSSAY, A. B. Fisiologia humana de Houssay. 7. ed. Porto Alegre: Artmed. 508-16.

COSTA,  A. A; ALMEIDA NETO, J. S. 2004. Manual de diabetes: educação, alimentação, medicamentos, atividades físicas. 4. ed. São Paul Sarvier.

DOUGLAS, Carlos R.  2002. Tratado de fisiologia aplicada à nutrição. São Paul Robe Editorial.

LIPPINCOTT, W. & W. 2004. Nutriçã incrivelmente fácil. Rio de Janeir GUANABARA KOOGAN.

FERREIRA JÚNIOR, C. A.; GUIMARÃES, R. E. S.; BECKER, H. M. G et al. 2000. Avaliação metabólica do paciente com labirintopatia. Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia, São Paulo, v.4, n.1 jan/fev/mar.

FUKUDA, Y. 2003. Otorrinolaringologia. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar.  São Paul Manole.

GANANÇA, M. M.; FUKUDA, Y. 1995.  Labirintopatias vasculares e metabólicas. In: HUNGRIA H. Otorrinolaringologia. 7 ed.  393-401. Rio de Janeir GUANABARA KOOGAN. 393-401.

MANGABEIRA-ALBERNAZ, P. L. M. 1995. Doenças metabólicas da orelha interna. RBM. 2(1): São Paulo. 18-22.

POIAN,  A. T.; CARVALHO-ALVES P. C. 2005. Hormônios e metabolism integração e correlações clínicas. São Paul Atheneu.

SHILS, M. E et al. 2003.Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença.  9. ed. São Paul Manole.

SILVA, M. L. G et al. 2000. Labirintopatias de origem metabólica. In: SILVA M. L. G; MUNHOZ M. S. L; GANANÇA M. M; CAOVILLA, H. H. Quadros clínicos otoneurológicos mais comuns.  37-45. São Paul Atheneu.


Fonte: http://www.brasilclinicas.com.br/artigos/ler.aspx?artigoID=67

ORIENTAÇÕES NUTROLÓGICAS PARA LABIRINTOPATIAS

- Não permaneça mais de três horas sem se alimentar, sendo que deve-se evitar refeições apenas com carboidratos, portanto sempre acrescente algo que altere a carga glicêmica (gordura, proteína, fibras);
- Procure comer devagar e mastigar bem os alimentos;
- Coma frutas (com baixo índice glicêmico) e legumes e verduras pelo menos duas vezes ao dia;
- É recomendado a suspensão do consumo de álcool e cigarro;
- Beba no minimo 40ml/kg/dia de água:
- Faça atividades físicas e descubra a qual você se adapta mais, a prática de atividade física é crucial no tratamento, em especial musculação;
- Evite bebidas estimulantes como café, chá preto, chá verde e chocolates;
- Evite açúcares, trocando-o pelos adoçantes;
- Diminua o consumo de sal;
- Evite na medida do possível, de situações de estresse, aumentando o tempo de lazer;
- Substitua a fritura por alimentos assados;
- Consuma fontes de zinco, potássio, magnésio, complexo B e omega 3.

sábado, 3 de outubro de 2015

A contaminação das águas e a disseminação de doenças de proliferação hídrica

“Ainda coletamos ao redor de 50% do esgoto doméstico que produzimos nas cidades (no ambiente rural a situação é ainda mais grave) e tratamos menos de 30% disso antes de lançar aos rios esses dejetos”, comenta o virologista.


“As causas da contaminação da água no Brasil estão intrinsecamente ligadas a um processo de rápida e expressiva expansão dos centros urbanos, especialmente na segunda metade do século XX”, diz Fernando Spilki à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.

Segundo o pesquisador, a expansão urbana foi feita sem planejamento e os corpos d’água foram “considerados meros receptores e canais de escoamento de resíduos domésticos e industriais. Era forte a ideia (e ainda é) da máxima de que a ‘diluição é a solução’, quanto maior ou mais caudaloso um corpo hídrico, mais contaminação se poderia jogar nele. O irônico é que justamente desses mananciais é que advém a maior parte da água destinada ao consumo nas grandes cidades”, pontua.

Na entrevista a seguir, Spilki comenta que além da falta de tratamento do esgoto, as águas contaminadas são um potencial para o desenvolvimento de uma série de vírus causadores de doenças. “Há uma gama de doenças de veiculação hídrica (especialmente diarreias e hepatites) e de doenças indiretamente relacionadas ao manejo da água (Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela) das quais ainda não nos livramos, ou pelo contrário, que recém chegaram e já com grande impacto em saúde pública. Temos que mirar sim o futuro, mas sem esquecer que temos uma situação no Brasil que mescla doenças de uma população desenvolvida e mais idosa com outras típicas dos países em desenvolvimento”.

Fernando Spilki é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, com mestrado em Ciências Veterinárias pela UFRGS, na área de Virologia Animal, e doutorado em Genética e Biologia Molecular, área de Microbiologia, pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente leciona na Universidade Feevale.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Quais são as causas da contaminação das águas brasileiras? A água de todas as regiões brasileiras está contaminada?

Fernando Spilki – As causas da contaminação da água no Brasil estão intrinsecamente ligadas a um processo de rápida e expressiva expansão dos centros urbanos, especialmente na segunda metade do século XX. Essa expansão se deu de forma fragmentada, sem planejamento adequado. Justamente por isso, pela falta de planejamento, e por uma óptica que já podia ser considerada anacrônica mesmo para a época, os corpos d’água foram em muitos momentos considerados meros receptores e canais de escoamento de resíduos domésticos e industriais. Era forte a ideia (e ainda é) da máxima de que a “diluição é a solução”, quanto maior ou mais caudaloso um corpo hídrico, mais contaminação se poderia jogar nele. O irônico é que justamente desses mananciais é que advém a maior parte da água destinada ao consumo nas grandes cidades.

Outros determinantes históricos importantes foram a concepção dos militares de que governo e desenvolvimento estavam ligados a grandes obras de distribuição de água potável, sem considerar a necessária expansão na outra via de coleta e tratamento de esgoto e o foco do crescimento baseado na indústria e na revolução verde, em muitos casos a qualquer custo do ponto de vista ambiental. De alguns destes males não estamos livres até hoje, mesmo passadas décadas do processo de redemocratização. Ainda coletamos ao redor de 50% do esgoto doméstico que produzimos nas cidades (no ambiente rural a situação é ainda mais grave) e tratamos menos de 30% disso antes de lançar aos rios esses dejetos. Ainda que esforços tenham sido feitos pelas indústrias, muito em virtude da evolução dos processos de fiscalização, em todo o Brasil ainda são notificados em grande número problemas relacionados ao descarte inadequado de efluentes industriais. E ainda há a questão dos dejetos de produção animal e agrícola, que não são de modo algum negligenciáveis.

Quanto à segunda questão, os dados da Agência Nacional de Águas – ANA e de inúmeros pesquisadores mostram que lamentavelmente em todas as regiões pode-se sim observar problemas quanto à qualidade da água. Alguns problemas como a eutrofização (crescimento de algas que afeta a viabilidade dos corpos hídricos em sustentar a vida), a contaminação por diferentes microrganismos e poluentes químicos podem ser notadas em diversas regiões, praticamente onde quer que se busque.

IHU On-Line – O que a análise microbiológica da Baía de Guanabara revela sobre a qualidade da água da Baía?

Fernando Spilki – Essa análise que conduzimos junto à agência de notícias Associated Press não revela algo desconhecido, os problemas de qualidade da água no contexto da Baía da Guanabara são descritos de longa data, mas infelizmente parece que sempre temos de avisar sobre questões que vão sendo deixadas de lado. A própria presença de vírus causadores de doenças de veiculação hídrica na Lagoa Rodrigo de Freitas e nas praias mais frequentadas tem antecedentes. A Fiocruz produziu, num passado recente, excelentes estudos sobre o mesmo tema. Aquela situação nada mais é que o resultado dessas questões de um processo de crescimento dos grandes centros urbanos não acoplados a um plano de desenvolvimento que contemplasse a questão do esgoto doméstico. São hoje em torno de 13 milhões de pessoas que vivem naquele entorno, com um sistema de tratamento de esgoto muito aquém do ideal.

Não é uma questão exclusiva do Rio de Janeiro, está em todo o Brasil, mas é emblemático, pois trata-se de um cartão postal maravilhoso do país, com um povo alegre e hospitaleiro como poucos, daí o impacto que teve esse estudo, claro que associado à questão olímpica.

O que esperamos é que toda essa polêmica gerada tenha reflexos para depois e além da Olimpíada: que se repense o manejo do esgoto doméstico naquele ambiente e que seja de fato beneficiada a população residente no Rio de Janeiro. E tomara que toda essa discussão sirva também de alerta no resto do Brasil. Outra questão relevante é de trazer à tona a questão de parâmetros e medidas mais adequados ao século XXI para monitoramento da segurança e qualidade da água.


“Esses patógenos de veiculação hídrica podem causar conjuntivites, hepatites, doenças respiratórias e mesmo doenças ainda mais graves”

IHU On-Line – Quais são as principais doenças associadas à água contaminada e como essa questão é vista em termos de saúde pública?

Fernando Spilki – Quando pensamos em doenças de veiculação hídrica, o foco está principalmente relacionado às gastroenterites (vômito e diarreia). Essas doenças são uma das principais causas de atendimento de crianças nos serviços de saúde dos países em desenvolvimento, são especialmente importantes nessa faixa etária, bem como em idosos e imunossuprimidos e, para piorar o quadro, muitas vezes os adultos saudáveis transmitem esses agentes aos corpos d’água pelos dejetos sem apresentar qualquer sintoma, o que permite a perpetuação desse ciclo onde o sistema de saneamento básico for ineficiente. Nesse âmbito, diferentes microrganismos estão envolvidos com diarreia, mas os vírus sem dúvida têm grande importância, em parte por que não são monitorados e os atuais indicadores de qualidade microbiológica da água (coliformes fecais) não são capazes de apontar sua presença. Um copo d’água livre de coliformes fecais pode conter vírus, ou mesmo outras bactérias e protozoários.

Além das gastroenterites, esses patógenos de veiculação hídrica podem causar conjuntivites, hepatites, doenças respiratórias e mesmo doenças ainda mais graves.

IHU On-Line – O que são os vírus entéricos e como se dá a proliferação e contaminação deles pela água?

Fernando Spilki – São vírus com uma característica estrutural peculiar (ausência de envelope lipídico) que os torna muito resistentes no ambiente, desse modo evoluíram para essa via de transmissão fecal-oral e por se multiplicarem nas células do trato digestivo, chamados entéricos.

Um indivíduo sadio ou doente pode excretar bilhões de partículas desses vírus em uma defecação. Sem o devido tratamento do esgoto, mesmo que uma parte desses vírus seja destruída no caminho até os corpos hídricos, sobraram milhões de partículas virais capazes de contaminar a água e causar infecções em outros indivíduos. Imagine isso replicado para milhões de pessoas em uma bacia hidrográfica.

IHU On-Line – Em que consiste sua pesquisa sobre a detecção de vírus da Hepatite E em amostras de água? Quais são as principais constatações da pesquisa até o momento?

Fernando Spilki – A hepatite E é causada por um desses vírus entéricos. É uma doença muito especial, pois expressa bem algo contemporâneo em saúde: a necessidade de entender o processo de saúde como algo único, não podemos mais dissociar em muitos casos a saúde humana, animal e ambiental. Esse vírus da hepatite E causa infecções assintomáticas em suínos, pode ser transmitido aos seres humanos pela água contaminada pelos dejetos desses animais ou mesmo alimentos de origem suína não devidamente cozidos. Em pessoas pode causar desde infecções subclínicas (sem nenhum sinal visível) até hepatites graves. É uma doença emergente em nível mundial. Na nossa Bacia dos Sinos ainda não detectamos o vírus na água, mas em outras regiões do Rio Grande do Sul, onde há maior presença de atividade suinícola, detectamos o vírus de forma muito frequente em amostras de dejetos suínos e de efluentes de suinocultura.

IHU On-Line – Uma das suas pesquisas investigou quais doenças foram possivelmente transmitidas pela água na região da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Quais são as conclusões da pesquisa? Que doenças estão associadas à contaminação da água do Rio dos Sinos?

Fernando Spilki – Fizemos um enorme esforço de pesquisa em conjunto com a CORSAN, onde monitoramos durante 24 meses para vírus e centenas de outros parâmetros a água captada pela companhia no Sinos e afluentes para tratamento. Ao mesmo tempo acompanhamos os atendimentos notificados pelos órgãos de saúde para doenças de veiculação hídrica na nossa região. Pudemos observar que há um forte impacto da falta de tratamento adequado do esgoto na qualidade da água nessa bacia hidrográfica e que as doenças de veiculação hídrica sofrem variação ao longo do tempo conforme o ciclo hidrológico (mais ou menos chuva por exemplo), o que já foi observado em outros locais.

IHU On-Line – Quais são as principais dificuldades ou problemas dos sistemas de tratamento biológico de esgoto doméstico e água para consumo no sentido de tratar a água e torná-la potável e livre de vírus, por exemplo?

Fernando Spilki – Em primeiro lugar, antes de discutirmos a eficiência dos processos, devemos elevar de forma expressiva os índices de tratamento de esgoto instalados. Tomemos em conta que na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos ainda convivemos com uma taxa de tratamento de esgoto doméstico ínfima, da ordem de 4,5% de tudo que é produzido. Em um segundo momento, deveremos sim lidar com a adoção de tecnologias que levem a uma efetiva degradação de microrganismos mais resistentes, tais como vírus e protozoários, pois as estações de tratamento de água e esgoto convencionais usualmente não dão conta desta tarefa. Todo o sistema atual está baseado na resistência dos coliformes fecais aos processos de desinfecção, que infelizmente é muito mais baixa que a desses patógenos emergentes. Desse modo, o que é eficaz para os coliformes pode ser inócuo para esses outros agentes. Daí a necessidade de desenvolvermos novas soluções para degradação e remoção desses agentes em esgoto e água, sem perder a noção de que há a necessidade de essas novas tecnologias terem um custo baixo e serem de adoção fácil.


“Na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos ainda convivemos com uma taxa de tratamento de esgoto doméstico ínfima, da ordem de 4,5% de tudo que é produzido”

IHU On-Line – Por outro lado, quais são as dificuldades do sistema de saúde brasileiro no que se refere ao tratamento de doenças causadas pela água contaminada?

Fernando Spilki – Isso é de fato preocupante. Há todo um sistema de trabalho baseado na ideia de uma nova configuração da população, de seu envelhecimento e do aumento da frequência de doenças crônicas e um maior preparo dos sistemas de ensino, pesquisa e mesmo de atendimento para lidar com essas situações. Isso está sem dúvida correto, mas não podemos esquecer que não vencemos no Brasil a etapa de controlar e tratar as doenças transmissíveis. Há uma gama de doenças de veiculação hídrica (especialmente diarreias e hepatites) e de doenças indiretamente relacionadas ao manejo da água (Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela) das quais ainda não nos livramos, ou pelo contrário, que recém chegaram e já com grande impacto em saúde pública. Temos que mirar sim o futuro, mas sem esquecer que temos uma situação no Brasil que mescla doenças de uma população desenvolvida e mais idosa com outras típicas dos países em desenvolvimento.

IHU On-Line – Os padrões estipulados para a qualidade da água, pela resolução CONAMA 274 de 29 de novembro de 2000, são adequados ou precisariam ser revistos?

Fernando Spilki – Esta e outras portarias e regulamentações, incluindo a Portaria MS Nº 2914 de 2011, que versa sobre a água potável, ainda foram formuladas sob uma óptica de restrições técnicas e orçamentárias para a adoção de marcadores mais fidedignos de segurança para a saúde dos consumidores e do ambiente. Essas normativas estão mais adequadas às necessidades e capacidades instaladas de órgãos reguladores e das próprias concessionárias de produção de água e tratamento de esgoto. Não só no caso de vírus, mas também para outros microrganismos, poluentes orgânicos emergentes e outros parâmetros notavelmente importantes hoje, a adoção foi em muitos casos negligenciada, seja em virtude de custos, dificuldade na implantação de protocolos ou mesmo inabilidade ou morosidade dos sistemas de vigilância e produção em renovar suas abordagens.

Considero grande parte desse pensamento anacrônico; grande parte dessas metodologias especialmente de monitoramento teve custo muito reduzido nessa última década e há hoje muito mais pessoal treinado para execução dessas análises. Há sim que haver uma revisão constante desses parâmetros. Da parte da investigação científica, uma preocupação que devemos ter é buscar inovação no sentido de desenvolver protocolos mais simples, robustos e baratos, seja para monitoramento ou tratamento dessas novas ameaças presentes na água. Só assim lograremos um conjunto de parâmetros de qualidade da produção de água e tratamento de esgoto que esteja de fato focado nas pessoas e nos ecossistemas e não apenas nas limitações técnicas ou orçamentárias dos entes envolvidos.

Por Patricia Fachin para o portal Ecodebate

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2015/10/02/a-contaminacao-das-aguas-e-a-disseminacao-de-doencas-de-proliferacao-hidrica/

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Leite: Mitos

Está circulando no facebook e instagram, um vídeo do Dr. Paulo Gentil, ironizando os mitos do leite. https://www.facebook.com/drpaulogentil/videos/1054560121229855/
O vídeo mostra gato bebendo leite de outra espécie e um cachorro já adulto bebendo leite. Argumentos utilizados por alguns, com a finalidade de justificar o porquê do leite "não" ser um bom alimento.

Antes de repostar o post, quero deixar claro: Leite assim como inúmeros alimentos, é bom para alguns e prejudicial para outros. Se você tem intolerância à lactose,  MAS não tem intolerância ao leite de vaca, pode utilizar tranquilamente leite sem lactose, coalhada caseira, queijos gordos pois não terão quantidades significativas de lactose. SE você tem alergia à proteína do leite de vaca: Não use leite, nem derivados. Se você sente-se mal com leite mas não com os derivados, evite o leite mas consuma os derivados por conta do cálcio.

Fala-se muito que há outras fontes de cálcio. O que os estudos mostram é que o leite AINDA é a melhor fonte de cálcio que existe. E não me venham com esse papo fajuto de que é a indústria de laticínios que patrocina os estudos, pois são estudos independentes, de entidades sérias, pós-doutores que trabalham a favor da ciência e da verdade. Vegetais possuem cálcio? Sim. Mas um cálcio de baixa biodisponibilidade. A presença da lactose no leite, favorece a absorção do cálcio. A presença de fibras, fitatos e substâncias antinutricionais presente nos vegetais, dificultam a absorção do cálcio. Associa-se a isso a epidemia de deficiência de vitamina D. Portanto, os laticínios continuam sendo a melhor fonte de cálcio. A dosagem de cálcio (seja total ou ionizável) em nada auxilia para se conhecer o status do cálcio no osso. Apenas a densintometria óssea poderá auxiliar.

Abaixo o texto com as referências

Leite, por Dr. Paulo Gentil 

E assim, com um argumento falho e até certo ponto ridículo, começa a demonização do leite! Qualquer um que tenha criado gatos ou cachorros sabe que eles dificilmente dispensam leite, eles só não tomam mais porque não conseguem ordenhar!

A condenação do leite tem muito de terrorismo. Dados da World Allergy Organization revelam que apenas 0,25 a 4,9% da população do Planeta Terra seja alérgica ao leite. Por mais que a intolerância seja mais comum, a restrição deve ser feita com base em análises individuais ao invés de se criar um pânico generalizado!

Dizer que leite é veneno, ou mesmo que não faz bem algum, é disparate! Estudo desse ano do Journal of the American Geriatics Society revela que a ingestão de leite é associada com menor incidência de fragilidade em idosos. Antes disso, estudos publicados no American Journal of Clinical Nutrition associaram o consumo de laticínios com menor incidência de doenças cardiovasculares. Para galera da maromba, há artigos científicos mostrando efeitos positivos do consumo do leite em praticantes de musculação (e sem engrossar a pele).

E sem viajar com relação à pasteurização, pois isso é uma exigência para garantir a segurança do consumidor. Obviamente que corremos o risco de sermos vítimas da má fé dos que adulteram os produtos, mas isso não é culpa da vaca e sim da falta de caráter dos humanos! E falta de caráter é um problema, como no caso dos hormônios, que podem ter ótimas finalidades terapêuticas, mas estão sendo vendidos sob alegações falsas, induzindo consumidores a arriscarem sua saúde.

Laticínios são queridos por muito e fazem parte da rotina de muitos habitantes do Planeta Terra. Eles não fazem milagres, mas também não são venenos para todos! Chega de acreditar em discursos sensacionalistas. Se você seguir gurus de YouTube vai acabar ficando com medo de usar filtro solar, de tomar água mineral, comer glúten e até mesmo frutas... mas, olha que legal, vai se encher de hormônios e de Vitamina D, mesmo que não tenha deficiência! Tá sssserto!!

PS: não venham falar de lobby da indústria do leite, pois a indústria do terrorismo nutricional e do falso guruismo também é bem forte, e vem fazendo um belo trabalho criando medo para empurrar panaceias no povo!

(Paulo Gentil)

Oliveira Otto MC, Mozaffarian D, Kromhout D, Bertoni AG, Sibley CT, Jacobs DR Jr, Nettleton JA. Dietary intake of saturated fat by food source and incident cardiovascular disease: the Multi- thnic Study of Atherosclerosis. Am J Clin Nutr. 2012 Aug;96(2):397-404. doi: 10.3945/ajcn.112.037770. pub

Fiocchi A, Brozek J, Schunemann HJ, Bahna SL, von Berg A, Beyer K, et al. World Allergy Organization (WAO) Diagnosis and Rationale for Action against Cow's Milk Allergy (DRACMA) Guidelines. WAO Journal 2010; 3:57-61

Lana A, Rodriguez-Artalejo F, Lopez-Garcia . Dairy Consumption and Risk of Frailty in Older Adults: A Prospective Cohort Study. J Am Geriatr Soc. 2015 Aug 27. doi:
10.1111/jgs.13626. [ pub ahead of print]

Soedamah-Muthu SS, Ding L, Al-Delaimy WK, Hu FB, ngberink MF, Willett WC, Geleijnse JM. Milk and dairy consumption and incidence of cardiovascular diseases and all-cause mortality: dose-response meta-analysis of prospective cohort studies. Am J Clin Nutr. 2011 Jan;93(1):158-71.

Fonte: https://www.facebook.com/drpaulogentil/videos/1054560121229855/

O perigo do óleo de Canola é real?

Mensagens que circulam pela web alertam para o perigo mortal do consumo do óleo de Canola! Mas será que esse alerta é verdadeiro ou falso?

O texto não é novo, mas sempre volta a circular através das redes sociais e em blogs e sites. De acordo com o alerta, a Canola seria um produto transgênico, pertencente à mesma família da mostarda e é a fonte por trás do gás mostarda!

A descoberta ainda afirma que o consumo contínuo desse óleo acabaria por corroer o revestimento de proteção no cérebro, causando inúmeras doenças e que os altos níveis de ácido erúcico presentes no produto seria altamente mortal.

Será que esse alerta é verdadeiro ou falso?



Como já dissemos ali em cima, o texto alarmista não é novo! Circula pela web desde, pelo menos, o ano de 2001 e sempre volta a aparecer por aí. No alerta, o autor tenta de todas as formas mostrar que o óleo de canola é um veneno e, no entanto, até hoje não há nenhuma comprovação de que tais afirmações tenham algum fundamento.

Tanto aqui no Brasil quanto em diversos outros países a venda de óleo de canola é liberdado pelos órgãos reguladores como a ANVISA (aqui no Brasil) e a FDA (nos EUA). Aliás, em 2006, o FDA aprovou a alegação dos benefícios que o óleo de canola para o organismo em relação aos óleos tradicionais de milho e de semente de girassol.

É claro que fritura em excesso faz mal pra saúde (como tudo em exagero, né?), mas o óleo de canola não é esse vilão que pintam sobre ele.

As primeiras variedades de canola foram feitas nos anos 1970, através de cruzamentos e melhoramento de sementes. E isso foi muito antes da engenharia genética e, diferente do que é alegado por aí, o óleo de canola não é trangênico no sentido “satânico” que muitos têm medo até hoje.

Variação “boa” da colza

O site Canola Concil Of Canadá explica que a canola é uma variação da colza (Brassica napus), criada para produzir mais sementes e apresentar menores quantidades de ácido erúcico.

Ela é da mesma família da mostarda, mas isso não tem nada a ver com o gás mostarda (que é um gás tóxico e sintético, que só possui esse nome por apresentar uma cor semelhante à mostarda, mas que não é feito de mostarda. Entendeu?). Se fosse verdade o que o autor afirma, a mostarda também seria venenosa!

O doutor Carl Albrecht, chefe de pesquisa da da Associação do Câncer da África do Sul (CANSA), explica que a colza original já era utilizada há muito tempo como óleo combustível, mas como ela apresentava grandes quantidades de ácido erúcico, foram feitos vários melhoramentos genéticos para se desenvolver uma variedade com um pouco menos de 2% desse ácido em relação ao total de ácidos graxos, para que o óleo pudesse ser utilizado para consumo humano sem problemas.

Em 1978, todos os colzas canadenses produzidos para uso alimentar já continham ácido erúcico inferior a 2% e, foi em 1990 que os Estados Unidos começaram a consumir o óleo de canola, mas o FDA só permitiu que o produto fosse introduzido no país desde que os níveis de ácido erúcico presentes no óleo não ultrapassassem 1,0%.

O doutor Albrecht também explica que o óleo de colza é utilizado na Europa há muitos anos para cozinhar, na margarina e como alimentos para pássaros e se ele fosse tão terrivelmente tóxico, as pessoas teriam parado de usar óleo de colza e sementes há tempos. Além disso, não há nenhuma evidência de que o óleo de canola ou óleo de colza interfira na visão ou o no sistema nervoso central, como os textos alarmistas espalham por aí.

A CANSA também ressalta que foram feitos vários estudos com humanos saudáveis, que ​​foram alimentados com 75 gramas de óleo de canola, durante 21 dias, não havendo nenhuma queixa dos voluntários sobre quaisquer efeitos negativos de qualquer natureza!

Jogada de marketing

Diferente do que o boato alardeia, o nome “canola” vem de “CANadian Oil Low Acid” por apresentar baixos níveis de ácido erúcico. E, conforme explicado pelo blog Alimentando a Discussão, em 2014, a mudança do nome para Canola foi feita como parte de uma jogada de marketing, pois o nome da semente em inglês (rapeseed) poderia remeter a algo ligado a um crime (pois rape significa “estupro”, em inglês) e isso não pegava bem.

Aqui no brasil, a Embrapa explica que:

“O óleo de canola é um dos mais saudáveis, pois possui elevada quantidade de Ômega-3 (reduz triglicerídios e controla arteriosclerose), vitamina E (antioxidante que reduz radicais livres), gorduras mono-insaturadas (reduzem LDL) e o menor teor de gordura saturada (controle do colesterol) de todos os óleos vegetais. Médicos e nutricionistas indicam o óleo de canola como o de melhor composição de ácidos graxos para as pessoas interessadas em dietas saudáveis.”
Nesse link há vários estudos a respeito do óleo de canola que ajudam a desmentir esse boato alarmista!

Apelo à autoridade

Em 2007, um aluno da Universidade Federal de Lavras – MG – publicou esse mesmo texto falso sobre o “perigo da canola” no portal da instituição, dando uma certa credibilidade ao assunto, mas o artigo foi retirado do ar e a universidade se pronunciou a respeito, explicando que o texto foi publicado sem o conhecimento da instituição!

Fonte: http://www.e-farsas.com/o-perigo-do-oleo-de-canola-e-real.html

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Melhorando a concentração com os alimentos



Alguns nutrientes têm papel importante no funcionamento do cérebro e que podem ajudar tanto pessoas com TDAH quanto aquelas sem o diagnóstico, mas que sofrem com problemas de concentração. Mas lembre-se: nem todos respondem a modificações na dieta, e nem todos os especialistas recomendam a medida. Um profissional deve avaliar as necessidades de cada um!

Proteínas: Trabalhos feitos pelo neurocientista Richard Wurtman, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), mostram que as proteínas são a principal matéria-prima dos neurotransmissores que nos deixam mais alertas e motivados, como a dopamina e a noradrenalina. Com base nisso, muitos especialistas defendem que uma refeição ou lanche que inclua ao menos um tipo de alimento proteico, como ovo, carne ou leite, pode ser útil antes de assistir a uma aula, palestra ou executar uma tarefa que exija atenção. A nutricionista funcional Denise, no entanto, alerta que muita gente pode reagir negativamente ao leite e seus derivados.

Ferro: Um pequeno estudo publicado em 2004 no Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine mostrou que 84% dos jovens com TDAH possuem níveis baixos de ferro no sangue, em comparação com 18% dos que não possuem o diagnóstico. O trabalho também mostrou que os pacientes que receberam suplementação apresentaram melhora nos sintomas cognitivos. Alimentos como fígado, vitela, cordeiro, ovos, feijão, lentilha e ervilha são boas fontes de ferro.

Probióticos: Alguns especialistas, como o nutrólogo José Alves Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), e a nutricionista Denise , defendem que o uso de probióticos pode beneficiar pacientes com TDAH. A explicação é que um desequilíbrio nas bactérias que protegem o intestino pode levar à proliferação de fungos e outras substâncias que, em excesso, são tóxicas para o sistema imunológico, além de provocar hipoglicemia e outros sintomas que interferem no humor e na atenção. "Não é à toa que o intestino hoje é chamado de segundo cérebro", fala Denise. Alterações na sua flora podem ser causadas pelo uso de antibióticos, laxantes e antiácidos, e pelo excesso de proteínas mal digeridas, carboidratos refinados ou longos períodos de estresse.

Zinco: Além de importante para o sistema imunológico, esse mineral também ajuda a melhorar a resposta à dopamina. Um pequeno estudo publicado em 2004 no periódico BMC Psychiatry mostrou que crianças que utilizaram metilfenidato (princípio ativo da Ritalina®, um dos remédios mais conhecidos para TDAH) em conjunto com suplementos de zinco apresentaram melhora mais acentuada nos sintomas em relação àquelas que só tomaram o medicamento. Alimentos como ostras, nozes, castanhas, carne bovina e frango são ricos em zinco. Vale lembrar que o consumo excessivo desse mineral leva à perda de cobre e pode fazer mal à saúde

Magnésio: O magnésio está envolvido em diversos processos metabólicos e também na formação de neurônios e neurotransmissores, o que torna esse mineral fundamental na comunicação entre as células do cérebro. O magnésio também está presente em carnes, oleaginosas, lentilha, aveia e arroz integral.

Carboidratos complexos: Carboidratos simples, como o açúcar e as farinhas refinadas, provocam picos de açúcar no sangue, exigindo uma produção maior de insulina. Isso inclui certas substâncias que encontramos nos rótulos dos alimentos industrializados, como xarope de milho, dextrose e maltodextrina. Assim que o alimento é consumido, pode haver uma sensação de bem-estar e euforia. Mas logo em seguida, o nível de glicose cai bruscamente, provocando mal-estar, desatenção e até confusão mental em pessoas mais sensíveis. "Embora açúcar e farinha branca não provoquem TDAH, podem aumentar a glicose no sangue e sabemos que níveis estáveis de açúcar trazem benefícios ao cérebro", diz o nutrólogo José Alves Lara Neto. O ideal, portanto, é dar preferência aos cereais integrais, que evitam os picos de glicose e promovem saciedade por mais tempo.


Vitaminas do complexo B: Praticamente todas as vitaminas do complexo B são importantes para o sistema nervoso e para a atividade dos neurônios. A falta de vitamina B6, por exemplo, pode causar fadiga e irritabilidade, assim como baixos níveis de vitamina B12 podem causar depressão e outros problemas. As principais fontes de B12 são produtos de origem animal, como carnes, peixes, ovos e laticínios. Já a vitamina B6 também é encontrada em cereais integrais e leguminosas.

Ômega-3: Alguns estudos indicam que crianças com TDAH apresentam baixos índices de ômega-3 e que esse tipo de gordura "boa" poderia atuar na redução de sintomas. "A ingestão de ômega-3 é importante na formação do cérebro e melhora a concentração", afirma o nutrólogo José Alves Lara Neto. Esse ácido graxo, encontrado em abundância em peixes gordurosos e de água fria como o salmão, tem sido indicado também para outros problemas, como triglicérides alto. Para o TDAH, contudo, ainda são necessárias mais pesquisas: "Alguns resultados foram positivos e outros, negativos: precisamos de mais estudos antes de pedir que todos comprem esses suplementos", avisa a professora Maria Conceição.

Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br/guia/dieta-para-ter-mais-concentracao/3627/#

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Alimentos que auxiliam na prevenção de alguns tipos de câncer









sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Fadiga adrenal NÃO existe, por Dr. Flávio Cadegiani (Endocrinologista e Metabologista, doutorando em Adrenal pela UNIFESP)

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O termo fadiga adrenal tem apresentado crescente utilização na mídia, entre leigos e principalmente no meio médico. Contudo, essa condição jamais foi oficialmente reconhecida e comprovada por qualquer sociedade de endocrinologia. Em pesquisa no “Google” no dia 04/07/2014, a expressão fadiga+adrenal apresentou 114.000 resultados e adrenal+fatigue apresentou 2.370.000, mostrando a relevância destas terminologias na internet, principal fonte de busca de informações mundial hoje em dia.
Hoje, somente no Brasil, existem mais profissionais de saúde que recebem formação com a existência da doença através de “cursos” e “palestras”. Pelo contrário, são em bem menor número a quantidade de medicos da área que escutam que a doença não foi comprovada. Por isso, o numerous de ppacientes expostos a profissionais que farão o suposto diagnostic e tratamento é maior do que o número de pessoas que não serão avaliadas para a existência desta enfermidade não comprovada. De acordo com a prática da maioria dos médicos que conduzem casos de “fadiga adrenal”, a pesquisa da suposta enfermidade ocorre a partir de um questionário com indagações sobre o bem-estar global, incluindo questões sobre fadiga, bem-estar, qualidade de sono, disposição e humor. Aqueles que forem enquadrados como “suspeitos” para “fadiga adrenal” serão diagnosticados com cortisol sérico basal ou ritmo de cortisol salivar, ambos incaracterísticos de acordo com a Endocrinologia. Aqueles que estiverem com os valores abaixo dos considerados como mínimos (valores que diferem completamente da prática endocrinológica usual) são diagnosticados como portadores de “fadiga adrenal” e logo recebem tratamento com corticoterapia em doses “fisiológicas”. Existem algumas variações desse fluxograma, porém em geral respeita-se esta sequência.
Entre os argumentos sustentados pelos médicos que sustentam a teoria da existência desta doença (esta não reconhecida pelas sociedades de endocrinologia) está o fato de o paciente apresentar uma vasta e prolongada clínica antes de apresentar qualquer sinal bioquímico ou hormonal de depleção adrenal, e que respondem muito bem do ponto de vista clínico com a reposição.
Contudo, existem contra-argumentos muito lógicos. Primeiro, o início de corticoterapia, mesmo em baixas doses, desencadeia uma sensação temporária de bem-estar e de disposição em grande parte dos pacientes, com aparente melhora dos sintomas. Segundo, é bem estabelecido que mesmo em doses “fisiológicas”, a utilização de corticoterapia aumenta diversos riscos, como cardiovascular e de osteoporose.
Após uma ampla revisão acerca do assunto, que fora realizado da forma mais imparcial possível, várias conclusões foram tomadas.
Primeiro, embora muito utilizado na mídia leiga e nos chamarizes da internet, o termo “fadiga adrenal”, como ele é citado, foi pouquíssimo publicado. Além disso, a qualidade metodológica associado aos trabalhdos que utilizam esta expressão são de baixa qualidade. Também, nenhum dos artigos discorre ou cita a etiologia da chamada “fadiga adrenal”. Ou seja, nenhum trabalho de qualidade até agora. Lembrem-se, trabalho científico não significa evidência.
Embora amplamente utilizado na prática médica em vários locais do mundo, o questionário do Dr. Wilsom para diagnóstico de “fadiga adrenal” não teve absolutamente nenhum estudo para validação ou utilização como escore de fadiga, ao menos indexado. Por outro lado, o questionário SF-36 Vitality Scale, um escore bem validado e com real grau de correspondência com o grau de fadiga, foi o método utilizado por boa parte dos trabalhos que visaram correlacionar fadiga e alterações do cortisol.
Sabendo-se que o eixo corticotrófico pode estar seriamente comprometido como consequência de alguma doença ou alteração, é recomendado que se avaliem, diagnósticos diferenciais, entre eles os principais para “fadiga adrenal” são: (1) síndrome da apneia obstrutiva do sono, (2) insuficiência adrenal, (3) trabalho excessivo, (4) diagnósticos mentais, (5) inversão e irregularidade de turno no trabalho, (6) deficiências hormonais de outros eixos, (7) hepatopatias, (8) cardiopatias, (9) nefropatias, (10) DPOC, (11) doenças auto-imunes. Normalmente, estas doenças ou outros problemas justificam praticamente a quase totalidade dos casos.
A maior parte dos trabalhos foi excluída devido a falta de qualidade da metodologia e de caráter unicamente descritivos, sem referências de qualidade Dada a heterogenia e diversidade da qualidade e dos tipos de dados e das respostas, poucos dados são analisáveis - o cortisol ao acordar e 30min após foi um dos dados mais reproduzidos. O grande número de trabalhos que correlacionou fadiga e cortisol ao levantar e ao ritmo de cortisol salivar se deve ao fato de que estudos prévios iniciais foram utilizando ambos dados como marcadores. Um estudo somente realizou uma tentativa de validação. Contudo, é importante ressaltar que a atenuação do cortisol ao levantar, ou seja, o não aumento ou o aumento inadequado em relação ao esperado tende a ser uma consequência, e não causa, da fadiga.
A insuficiência adrenal absoluta pode ser avaliada como cortisol basal abaixo de 3,5mg/dL, na ausência de medicamentos orais, tópicos, nasais, oftalmológicos ou de quaquer outra espécie. A insuficiência adrenal pode ser de origem primária, cuja deficiência é na própria glândula adrenal, ou secundária, quando a deficiência adrenal decorre da baixa produção de ACTH (que estimula a liberação de cortisol) pela glândula hipófise. Contudo, a forma mais adequada de se avaliar reserva adrenal é por testes funcionais, bem estabelecidos e praticados por endocrinologistas. Para tais avaliações, pode-se realizar teste de cortrosino, um ACTH sintético, seja na dose usual (250mcg), seja o teste de baixa dose (1mcg),que avalia diretamente reserva adrenal. A falha da resposta ao teste da cortrosina pode denotar insuficiência adrenal primária relativa ou insuficiência adrenal central (hipofisária ou hipotalâmica). Para o teste de avaliação da funcionalidade do eixo HHA por completo, a avaliação padrão-ouro é o teste de tolerância a insulina, cujo objetivo é provocar hipoglicemia e criar uma situação de estresse onde um indivíduo saudável irá liberar invariavelmente uma certa quantidade de cortisol. A não liberação adequada demonstra, em algum grau, um comprometimento do eixo HHA. Outro potencial teste é com lipossacarídeos, que são pirógenos, que induzem hipertermia (febre), outra situação de estresse. Contudo, este teste é pouco realizado na prática. Estes testes descritos são as formas que as sociedades de Endocrinologia reconhecem para avaliação do eixo HHA.
Importante ressaltar que, mesmo numericamente grande, a maior parte dos estudos é exclusivamente descritiva, ou que não buscaram referências, ou fizeram revisões de outros estudos, e todos estes trabalhos não acrescentam em termos de evidência ou qualidade de informação acerca da suposta “fadiga adrenal”. Com isso, exclui-se muito do que verdadeiramente
Embora não tenham utilizado critérios adotados pela Endocrinologia, grande parte dos trabalhos mostrou correlações claras e significativas entre pessoas com maior fadiga e alterações da homeostase e do ritmo de cortisol. Independente do grau de validação dos exames realizados, o encontro da associação, direta ou inversa entre determinado exame e alguma alteração clínica, chama atenção para que o mesmo seja melhor investigado. Contudo, por não se tratar dos testes clássicos e bem estabelecidos de reserva adrenal, é possível que as alterações nos exames encontrados sejam consequência, e não causa do quadro de fadiga, pois os mesmos exames não foram correlacionados com verdadeiros testes que mostram a real reserva adrenal. Cabe ressaltas que diferentes populações, como doentes de diversas patologias, poderiam eventualmente ser sub-grupos que particularmente teriam as alterações descritas.
Existe uma importante lacuna em termos de qualidade de informação no que tange a estudos de diminuição de resposta do eixo HHA para indivíduos saudáveis, fadigados (ou burnout) e que não se encaixam em nenhuma doença, e também para doenças.
Observa-se que foram criados “novos critérios” que foram fracamente validados, pois não houve correlação com o padrão-ouro vigente e nem com histopatológico ou atividade/liberação direta de cortisol. Nenhum dos autores dos artigos revisados tem formação em Endocrinologia, o que resultou em ausência de trabalhos que eventualmente utilizariam os critérios padrão-ouro da Endocrinologia. A falta de comunicação ou de co-autoridade com a Endocrinologia poderia imprimir uma melhroa considerável na qualidade dos estudos e no poder dos achados, pois em se tratando de utilizar os critérios aceitos pelas sociedades de endocrinologia para diagnósticos do eixo corticotrófico, pouquíssimo se encontra. O “n”para o “cortisol ao levantar” é, sob o ponto de vista de validação, muito aquém do mínimo requerido.
O cortisol ao levantar (30 minutos após) apresentou um grau de validação ainda não 100%. O mais importante aqui é lembrar novamente que o cortisol ao levantar mais baixo pode representar uma consequência, e não ser causa, do burnout. Ele não expressa a reserva adrenal e por isso não pode ser definidor como fator ou causador, somente como marcador, o que implica em que o uso de hidrocortisona não corrigirá o problema (embora possa causar melhroa temporária devido a ação do próprio fármaco)
O cortisol urinário de 24h é o método que permite “enxergar” a liberação continuada em um período de 24h, porque a sua concentração é diretamente proporcional e linear com o cortisol sérico, e poderia ser um critério no futuro.
Antes de se avaliar a existência do diagnóstico de “fadiga adrenal”, importante separar diferentes grupos populacionais. Pelos estudos até agora realizados
Uma revisão sistemática de 2011 (Danhof-Pont et al) identificou 31 estudos e 38 marcadores, entre eles cortisóis salivares e plasmáticos, além do SDHEA, e não encontrou alteração potencial para nenhum deles. Uma revisão sobre pessoas “com burnout do trabalho” de Doornen LJ, de 2011, encontrou resultados inconsistentes sobre o cortisol.
Todos os estudos que estudaram o “perfil” de cortisol “foram para um caminho distinto” do caminho da Endocrinologia.
Usar cortisol ou qualquer dado apresentado pela maioria dos estudos não denota necessariamente uma alteração do eixo HHA como etiologia para total ou parte dos sintomas Portanto, não se pode concluir, e nem sugerir, que o uso de corticoterapia vá corrigir o fator contribuinte. É importante ter muito cuidado em avaliar "resposta terapêutica" com cortisol, pois a melhora ocorrerá pela ação decorrente do próprio fármaco (corticite a curto prazo aumenta disposição), sem que isso signifique uma real resposta a doença. Em suma, as alterações descritas acerca do cortisol podem tanto ser uma das gêneses dos problemas, por falhar aos estímulos gerados, como pode ser consequência a falta de estímulos para a ativação do eixo corticotrófico. Um exemplo claro de alteração do eixo HHA com oconsequência, e não causa de problemas, é a depressão maior, que torna o ciclo circadiano aberrante, com diminuição da queda esperada ao longo do dia. Portanto, é importante que se conheça a relação entre o eixo liberador de cortisol e os sintomas ou doença estudados, para que não se atribuam problemas às aleterações que na realidade são consequências, com odescrito na depressão maior.
Em conclusão, teorias acerca do eixo HHA na gênese de fadiga sempre tiveram um grande espaço na literatura. Contudo, poucos trabalhos pesquisaram e contraram de fato dados que aumentassem a robustez destas informações. A relação causa-efeito muitas vezes pode ser um viés confundidor que gera conclusões precipitadas.
A "fadiga adrenal" não foi comprovada, é improvável que exista da forma como é descrita, e se existir, deve ser devidamente avaliada com o que a endocrinologia oferece de critérios diagnósticos para reserva adrenal, e não por critérios "inventados". Alguns grupos, como pacientes expostos a quimioterapia e os fadigados por "overtraining" podem apresentar alterações, porém mais trabalhos são necessários. É um momento importante para que os "divulgadores" desviem seus esforços para realização de estudos de qualidade para demonstrar as suas afirmações. Em momento algum digo que não existe, porém digo sim que é necessário estudar. Mais estudo, menos divulgação, por enquanto, é apalavra de ordem.
E enquanto isso, se alguém desconfiar de insuficiência adrenal relativa, favor realizar os testes que avaliam esta alteração.
Autor principal: Dr. Flávio A. Cadegiani (endocrinologista e metabolista de Brasilia - DF - CRM/DF 16.219 / CREMESP 160.400) - É DOUTORANDO em Adrenal pela UNIFESP, sendo orientado por uma das maiores autoridades do mundo no tema, o Dr. Cláudio Elias Kater.
Colaboradores do post:
Dr. Ricardo Martins Borges (Nutrólogo de Ribeirão Preto - SP, mestre em medicina pela FMRP - USP) @clinicaricardoborges,
Dra. Tatiana Abrão (endocrinologista e nutróloga de Sorocaba - SP) @tatianaabrao,
Dra. Elza Daniel de Mello (pediatra, gastropediatra, nutróloga em Porto Alegre - RS, mestre e doutora em Ciências médicas - Pediatra pela UFRGS),
Dr. Frederico Lobo (Clínico geral de Goiânia - GO) @drfredericolobo,
Dr. Daniella Costa (nutróloga de Uberlândia - MG) @dradaniellacosta,
Dr. Reinaldo Nunes (endocrinologista e nutrólogo de Campos - RJ, mestre em endocrinologia pela UFRJ) @drreinaldonunes,
Dr. Mateus Severo (endocrinologista de Santa Maria - RS, Mestre em Ciências Médicas - Endocrinologia pela UFRGS e doutorando em Ciências médicas - Endocrinologia pela UFRGS) @drmateusendocrino,
Dr. Pedro Paulo Prudente (médico do esporte de Gramado - RS) @drpedropauloprudente,
Dra. Patricia Salles (endocrinologista de São Paulo - SP, mestranda em endocrinologia pela FMUSP), @endoclinicdoctors,
Dra. Camila Bandeira (endocrinologista de Manaus - AM) @endoclinicdoctors,
Dr. Walter Nobrega (clínico Geral do Rio de Janeiro - RJ) @drwalternobrega,
Dra. Deborah Carneiro (pediatra de Goiânia - GO) @dehcarneirolima,
Dr. Yuri Galeno (endocrinologista de Natal - RN) @dryuri_insyde,
Dra. Flávia Tortul (endocrinologista de Campo Grande - MS) @flaviatortul

Referências
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TEXTO 2

Estresse e fadiga: cuidado para não receber o diagnóstico de uma doença falsa

Entre os sintomas mais comuns nos dias de hoje estão a fadiga e o estresse. Quando percebe-se que os níveis de energia estão baixos, as pessoas buscam por respostas e soluções. Algumas procuram por uma “bala mágica” e acreditam que o complexo vitamínico correto será capaz de restabelecer o vigor. Outras querem saber se existem medicamentos ou estimulantes para tratar o quadro. A verdade é que a avaliação de sintomas vagos pode ser um verdadeiro desafio. Muitos de nós temos vidas movimentadas, que por vezes não nos permitem praticar exercícios ou mesmo dormir de forma adequada. A alimentação também acaba prejudicada pela falta de tempo e pela conveniência. A fadiga e o estresse podem fazer parte da vida, mas também podem ser sintomas de doenças mais graves. É justamente o fato de serem sintomas inespecíficos que tornam sua avaliação e tratamento, algumas vezes, não tão fáceis.

Para alguns defensores de “práticas alternativas”, esses sintomas vagos e inespecíficos foram agrupados em uma “doença inventada”, a “fadiga adrenal”. Contudo, não há até o momento qualquer evidência de que a “fadiga adrenal” exista como patologia. A Endocrine Society, uma das mais respeitadas organizações médicas do mundo, posicionou-se sobre o assunto recentemente:

“A fadiga adrenal não é uma condição médica real. Não existem fatos científicos para suportar a teoria que estresse físico, mental ou emocional esgotem as glândulas adrenais e causem sintomas.”
  
Palavras inequívocas! Mas a medicina baseada em evidências é ainda mais categórica em refutar uma doença falsa…

As adrenais são um par de glândulas localizadas uma sobre cada rim e produzem diversos hormônios, entre eles os hormônios do estresse adrenalina, noradrenalina e cortisol. Será que estas glândulas podem cansar se estimuladas em excesso? Mesmo na ausência de qualquer fato científico, o naturopata James Wilson cunhou o termo “fadiga adrenal” em um livro publicado em 1998. 

Dê uma olhada no questionário de Wilson abaixo. Você apresenta algum destes sintomas?

1- Cansado sem razão aparente.
 2- Dificuldade em acordar de manhã.
 3- Necessidade de café, refrigerantes tipo cola, doces ou salgadinhos para ter energia.
 4- Sentindo-se para baixo ou estressado.
 5- Fissurado em doces ou salgadinhos.
 6- Lutando para manter as tarefas de rotina.
 7- Não consegue se desenvencilhar do estresse e da doença.
 8- Não se diverte.
 9- Não tem vontade em manter relações sexuais.

Segundo Wilson, se você convive com qualquer um desses sintomas, você tem “fadiga adrenal”, a “doença falsa” mais prevalente no mundo, já que dificilmente alguém já não apresentou algum desses sintomas.

Porém, este questionário jamais foi validado, não existem provas nem literatura pertinente que possam embasá-lo. Uma busca detalhada na base de estudos médicos Pubmed com os termos “adrenal” AND “fatigue” retorna apenas um resultado relevante, que é uma revisão que não cita as fontes revisadas!

Doenças falsas são agrupamentos de diferentes sintomas dentro de condições sem nenhum embasamento científico. É da natureza do ser humano querer entender os padrões das doenças para propor tratamentos. Porém, definir um simples grupo de sintomas é o primeiro erro nesse processo de compreensão. Isto porque os sintomas precisam ser organizados de uma maneira racional para fazerem sentido dentro de uma síndrome clínica. No caso da “fadiga adrenal”, não existe esta explicação racional da progressão e gravidade dos diferentes sintomas, apenas um agrupamento simples. O segundo grande erro é usar uma lista desorganizada de sintomas para identificar pacientes com a doença. O terceiro erro é usar testes laboratoriais em sangue ou saliva, com suas diversas complicações metodológicas, para diagnosticar uma patologia que não é ao menos descrita de forma apropriada. Por fim, o pior de todos os erros é propor tratamento, seja ele qual for, para algo pobremente definido. Como saber se algo tão “amorfo” está melhorando ou piorando com um tratamento? Como saber se o próprio tratamento não está fazendo mal?

Enquanto a “fadiga adrenal” não existe, os sintomas que muitas pessoas apresentam são sim reais. Estes mesmos sintomas podem ser causados por doenças verdadeiras como apneia do sono, hipotireoidismo, diabetes, depressão, anemia, insuficiência adrenal, neoplasias, entre outras. Ao aceitar o diagnóstico de uma “doença falsa” perde-se tempo em realizar o diagnóstico correto de algo que pode ser potencialmente grave. Por fim, pode ser frustrante apresentar sintomas e após uma avaliação médica pormenorizada não se identificar uma causa. Mas esta situação é melhor do que ter a distração de tratar uma condição fictícia.

Fonte: http://www.drmateusendocrino.com.br/2015/12/13/estresse-e-fadiga-cuidado-para-nao-receber-o-diagnostico-de-uma-doenca-falsa/



quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre a polêmica do óleo de coco


A Polêmica do Óleo de Coco
Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) sobre o uso do óleo de coco para perda de peso.
Considerando que muitos nutricionistas e médicos estão prescrevendo óleo de côco para pacientes que querem emagrecer, alegando sua eficácia para tal propósito;
Considerando que não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de côco leve à perda de peso;
Considerando que o uso do óleo de côco pode ser deletério para os pacientes devido à sua elevada concentração de ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico;
A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde.
A SBEM e a ABESO também não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias. O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, é preferível para redução de risco cardiovascular.
Dr. Alexandre Hohl
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Dra. Cintia Cercato
Presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica


sábado, 22 de agosto de 2015

Óleo de Coco X Óleo de Canola - Desvendando mitos



Essa semana, um tema que dividiu opiniões, quando uma nutricionista estudiosa na área de ácidos graxos, foi ao programa bem-estar e deixou claro que o óleo de coco além de caro, pode ser inflamatório. Que o ideal seria optar pelo óleo de canola. Abominável foi a opinião de algumas pessoas, que sequer conhecem o currículo da nutricionista e acusam-na de trabalhar para a indústria. Como se prestar consultoria para a indústria de alimentos fosse crime. É abominável quando leigos e até mesmo profissionais da saúde saem do campo da ciência e partem para ataques pessoais.

Sou o princípio da moderação e da individualidade bioquímica.
Se você é saudável, não apresenta alterações nos níveis de colesterol ou triglicérides, nem risco cardiovascular aumentado: o consumo moderado de óleo de coco associado ao consumo de outros fontes de gorduras (colesterol, gorduras polinsaturadas e monoinsaturadas) é recomendado.
Se você tem dislipidemia, deseja emagrecer ou tem risco cardiovascular aumentado: evite as gorduras saturadas e dê preferência para as monoinsaturadas, polinsaturadas e colesterol.

Não existe vilão e nem mocinho quando se trata de nutrição. Ninguém morre do dia pra noite porque comeu banha de porco e ninguém vive até os 120 anos só porque consome azeite diariamente.

Os estudos na área são preliminares e poucos mostram desfechos conclusivos. Ainda temos muito o que estudar e observar desfechos, com número significativo de pacientes, por um tempo considerável.

Se me perguntarem: BASEADO em ciência, qual óleo mais saudável?  Dados do estudo europeu PREDIMED publicado em 2013 na revista médica New England Journal of Medicine apontam para um forte candidato: o azeite de oliva. Neste estudo, pacientes com alto risco cardiovascular que consumiram dieta mediterrânea associada a azeite de oliva apresentaram uma redução de problemas cardíacos e vasculares de cerca de 30 porcento. Ou seja, não estamos falando apenas de hipóteses, mas de desfechos. Em Medicina, isso serve para respaldar e determinar qual o melhor tratamento ou prevenção. E até agora, o azeite de oliva saiu na frente. Mas devemos deixar de consumir manteiga, peixes ricos em ômega 3, canola ? Compartilho da mesma opinião da nutricionista (que admiro muito) Dra. Sophie Deram. Ela postou essa semana em sua página no facebook (que por sinal indico que sigam):

"- Dra Sophie, você é contra o a favor do uso do óleo de coco, e o de canola? Nossa quanta vezes recebi esta pergunta esses dias!

Vou responder aqui:
Eu sou pró:
Saúde, bem-estar, relação tranquila com a comida, respeitando a fome, saciedade e vontade. Fazer as pazes com a comida e o corpo.
Eu dedico 90% de meu tempo a ajudar pessoas a retomar uma atitude tranquila com o comer, se recuperando de medo, exageros e as vezes transtornos alimentares, tudo isso tem como consequência um peso mais saudável.

Eu sou contra:
Terrorismo nutricional, achar que tem alimentos milagrosos que vão salvar o mundo e alimentos venenosos que vão de repente causar obesidade, diabetes ou infarto.
Alimento é alimento, pode comer de tudo um pouco!
Eu recomendo comer mais caseiro e mais natural, respeitando as suas vontades sem demonizar os alimentos processados que são alimentos também. O prazer de comer é essencial no processo de fazer as pazes com você e até foi mostrado que previne o excesso de peso!

Sobre gorduras, respeito as crenças dos meus pacientes e desmistifico os modismos e demonizações.
Eu sempre vou pelo lado mais natural e menos processado: azeite, manteiga e óleo de coco são mais naturais do que óleo de canola, mas não quer dizer que pode se entupir de óleo de coco porque dizem que emagrece! É uma gordura, tem que ser consumida com moderação e é muito cara por sinal.

Óleo de canola não é veneno (por favor!) mas também não indico como se fosse uma solução mágica contra as doenças cardiovasculares.

Eu pessoalmente como muito simples e cozinho frequentemente. As gorduras que uso mais em casa são azeite e manteiga.
Bon appétit!"


Abaixo o posicionamento do Conselho Federal de Nutricionistas, sobre o assunto, postado aqui:http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/

Saiba mais sobre óleos de coco e de canola

ÓLEO DE COCO

De acordo com a I Diretriz sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o coco e o óleo de coco, são importantes fontes naturais de gorduras saturadas, especialmente de ácido láurico. Em relação aos demais tipos de gorduras saturadas, o ácido láurico apresenta maior poder em elevar LDL-C, bem como HDL-C. Apesar de estudos mostrarem redução da relação LDL:HDL, aumento do HDL-C e redução da circunferência abdominal em grupos que utilizam óleo de coco, outros comprovam seu efeito hipercolesterolêmico – grupos tratados com óleo de coco apresentam aumento significativo da fração não HDL e triglicérides.

Diante disso, considerando a influência dos ácidos graxos ingeridos sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares e sobre as concentrações plasmáticas de lípides e lipoproteínas, e o preço para a aquisição desse tipo de produto, o óleo de coco, quando utilizado, deve seguir os princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer. A recomendação é de que seja usado em pequenas quantidades e em preparações culinárias, preferencialmente compostas por alimentos in natura ou minimamente processados, não sendo recomendado para tratamento da hipercolesterolemia.

REFERÊNCIAS
  1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular; ISSN-0066-782X. Volume 100, nº 1, supl.3, 2013;
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  4. 76. Lecker JL, Matthan NR, Billheimer JT, Rader DJ, Lichtenstein AH. Impact of dietary fat type within the context of altered cholesterol homeostasis on cholesterol and lipoprotein metabolism in the F1B hamster. Metabolism. 2010;59(10):1491-501

ÓLEO DE CANOLA

A canola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.) planta da família das crucíferas (como o repolho e as couves), pertence ao gênero Brassica. No Brasil cultiva-se apenas canola de primavera, da espécie Brassica napus L. var. oleifera, que foi desenvolvida por melhoramento genético convencional de colza. Segundo a Embrapa, na América do Sul ainda não se empregam variedades ou híbridos de canola transgênicos ou gerados por mutação, utilizando-se apenas variedades geradas através de melhoramento genético convencional. A maioria das sementes de canola empregadas no Brasil são importadas, e para que as sementes tenham sua entrada liberada nos portos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento exige laudo de análise para cada lote de 1000 kg.

O óleo de canola tem mostrado efeitos cardioprotetores devido ao conteúdo de ácidos graxos monoinsaturados, que promovem a regulação de lipídios plasmáticos, lipoproteínas e aumento da sensibilidade à insulina. Vale ressaltar que os efeitos saudáveis dos óleos comestíveis podem ser suscetíveis a alterações segundo o método culinário utilizado (frituras em profundidade ou superficiais) e em cocções de longo tempo, o que gera mudanças físico químicas que podem repercutir na saúde devido à produção de substâncias indesejáveis ou tóxicas (acroleína).

Estudos recentes evidenciam que o ômega-6, presente também nos óleos, quando consumido em excesso pode promover doenças inflamatórias.

Dessa forma, o nutricionista deve manter-se atualizado para as recomendações e diretrizes de condutas dietéticas a serem adotas.

REFERÊNCIAS
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  3. Lin L, Allemekinders H, Dansby A, et al. Evidence of health benefits of canola oil. Nutrition Reviews. 2013;71(6):370-385. doi:10.1111/nure.12033.
  4. Samuel Durán Agüero, Jairo Torres García; Julio Sanhueza Catalán. Aceites vegetales de uso frecuente en Sudamérica: características y propriedades. Nutr Hosp.32:11-19, 2015.
Fonte: Conselho Federal de Nutricionistas http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/