sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Estudo PURE e sua polêmica

Essa semana foi publicado em um dos mais antigos e renomados periódicos médicos (The Lancet) dois estudos. Um deles bastante polêmico, visto que profissionais que defendem ingestão de gordura em grandes proporções, usaram o mesmo para justificar suas condutas. De forma sensacionalista, e mostrando ignorância plena sobre epidemiologia, tais profissionais saíram alastrando pelas redes sociais que o tal estudo correlacionava ingestão de carboidrato com aumento da mortalidade cardiovascular e por outras causas.

Mas no mundo científico temos bons profissionais e pessoas que realmente sabem interpretar dados epidemiológicos. Vários colegas então prepararam posts sobre o tema e destrinchando o artigo. Mostrando para as pessoas que nada do que foi publicado é novidade. E o melhor, mostrando para seus leitores que esse tipo de profissional que demoniza um macronutriente em detrimento de outro na verdade está agindo de má fé aos olhos da ciência. Querendo mostrar que a dieta que ele aplica é superior as outras.

Então vamos às várias postagens. Ao final dos posts há o link para os dois estudos.

VISÃO 1: Dr. Guilherme Artioli - Professor, Doutor, pela USP. Pesquisador na área de nutrição esportiva.

Parece que esse estudo já está sendo distorcido para justificar algumas ideias e condutas... Publicado ontem, foram analisados ~135 mil adultos de 35-70 anos, de 18 países em 5 continentes, acompanhados por até 9 anos, totalizando ~5800 mortes e ~4800 eventos cardiovasculares. Algumas considerações:

- consumo maior de carboidratos (e, portanto, menor de gordura) foi associado com mortalidade total (28% maior risco) e por causas não-cardiovasculares (36% maior risco);

- maior consumo de carboidratos (e, portanto, menor de gordura) não foi associado mortalidade cardiovascular, tampouco com menor risco de eventos cardiovasculares;

- essa associação ocorreu quando se compara o quinto da população que mais consome carboidrato com o quinto que menos consome carboidrato (77% vs. 45% do total de energia consumida). No 3º quintil (consumo médio de 60% de CHO), já não há mais risco aumentado;

- a figura abaixo mostra com clareza que o aumento do risco de mortalidade começa a partir dos 60% de carboidratos;

- esses dados não dão nenhum suporte a dietas low-carb ou very low-carb. Esses dados apoiam a ideia de que reduzir o consumo de CHO pode ser benéfico para aqueles que consumem MUITO carboidratos em sua dieta;

- o consumo de carboidrato na população deste estudo foi bastante alto – bem acima do que muitos outros estudos costumam mostrar. Isso pode explicar a associação entre CHO e mortalidade;

- embora o estudo não tenha diferenciado a fonte de carboidrato (alimentos integrais e fontes de fibras vs. açúcares e CHO refinado/industrializado), me parece prudente que, caso necessário, qualquer redução de CHO comece pela redução dos industrializados, dos açúcares e dos refinados (e não de frutas, e etc). De qualquer modo, o estudo é populacional, e não dá subsídios para recomendações individuais. Aconselhar-se com um profissional ainda é o melhor a fazer;

- a principal mensagem do estudo está no contraponto feito às atuais recomendações POPULACIONAIS para consumo de gordura e gordura saturada. O estudo não viu aumento de risco com consumo de gordura total acima de 30%, e de gordura saturada acima de 10%, além de ter encontrado redução de risco com consumo de mono- e poli-insaturadas. Tema esse que, por sinal, a Fabiana Benatti tinha acabo de discutir no nosso blog do Ciência informa.

Abraços,

Dr. Guilherme Artioli

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VISÃO 2: Dr. Mateus Severo - Médico, endocrinologista, Doutor em Endocrinologia pela Universidade Federal de Santa Maria. Pesquisador.

O que é melhor para saúde: gordura ou carboidrato?

Sem sombra de dúvida, o melhor é ter bom senso! O assunto é polêmico e novas evidências chegam  a cada dia. No entanto, a leitura da literatura científica deve ser criteriosa. Ler apenas o título ou o resumo de um artigo não melhora em nada a assistência ao paciente. Além disso, pode contribuir para propagação de desinformação e do terrorismo nutricional. Dito isto, vamos dar uma olhada no estudo PURE, publicado no periódico médico The Lancet, em agosto de 2017.

O estudo PURE avaliou o quanto a composição da nossa alimentação é responsável por desfechos adversos como morte ou problemas cardiovasculares. Para fazer isso, os pesquisadores selecionaram pessoas entre 35 e 70 anos de idade em 18 países (incluindo o Brasil) e aplicaram questionários para saber o que essa turma comia. Mais de 130 mil indivíduos foram acompanhados por cerca de 7 anos. Após as devidas análises, os pesquisadores perceberam que o maior consumo de carboidratos aumentou o risco de morte por qualquer causa em 28%. Já o maior consumo de gordura, independente do tipo, se associou com um risco 23% menor de morrer por qualquer causa. Nem carboidratos nem gorduras foram culpados por problemas cardiovasculares. A exceção foi que o risco de acidente vascular encefálico, popularmente conhecido como “isquemia” ou “AVC”, foi menor nos indivíduos com maior consumo de gordura saturada. Olhando superficialmente, comer um monte de gordura e pouco carboidrato seria a melhor opção para saúde. Será mesmo?

Primeiramente, é importante definir o que foi o “maior consumo” tanto de gordura quanto de carboidratos. No caso dos carboidratos, a ingestão associada a aumento no risco de morte foi de 67,7% do total de calorias. No caso das gorduras, a ingestão máxima foi de 35,3%. Em outras palavras, a ingestão de carboidratos deletéria estava acima do considerado apropriado para as diretrizes (45 a 65%) e a ingestão de gordura estava dentro do considerado apropriado (20 a 35%). Ou seja, o abuso na ingestão de carboidratos pode ser parte do problema.

Quando falamos de carboidratos, falamos de açúcar, pães, massas, mas também falamos de cereais integrais, frutas e vegetais. O problema é que o estudo não faz essa diferenciação! Será que o aumento da mortalidade no grupo que consumiu mais carboidratos foi por que as pessoas comeram mais arroz integral, ou será que foi por que beberam mais refrigerante? Essa é uma informação essencial que não foi reportada. Além disso, muitas das fontes de carboidratos refinados são produtos processados, que muitas vezes costumam também conter sódio e gordura trans em excesso, dois vilões conhecidos. No entanto, esta informação também não é disponibilizada pelo estudo.
Assim como as fontes de carboidratos não são adequadamente reportadas, as de gordura também não são. Ao contrário do que possa parecer, o estudo não avaliou apenas óleos vegetais, banha ou manteiga. Avaliou a composição da dieta como um todo. Alimentos que consumimos diariamente, mesmo quando preparados sem óleo/azeite/banha, possuem gordura naturalmente (carne, peixe, queijo, castanhas, cereais, iogurte…) ou adicionada (diversos alimentos processados). Em outras palavras, podemos ter duas dietas com a mesma quantidade de gorduras e carboidratos, muito diferentes uma da outra, uma saudável e outra nem tanto.

Aliás, sabemos que nossa alimentação varia dia após dia, semana após semana, ano após ano. O estudo aplicava o questionário alimentar em intervalos de 3 anos. Será mesmo que todo paciente manteve exatamente o mesmo padrão durante todo este período? Será que alguns pacientes não modificaram suas dietas, para um consumo menor de gorduras justamente por terem um risco maior de problemas de saúde? Será que as pessoas que consumiam mais gordura não se permitiam a isso por serem mais saudáveis? São questões que os próprios autores do trabalho reconhecem não ter conseguido responder.

Por fim, este estudo definitivamente não dá respaldo a dietas com restrições extremas de carboidratos ou abusivas em gorduras (very low carb e cetogênicas), já que os participantes não comeram menos de 42% de carboidratos, nem mais do que 38% de gordura.
Em resumo, gorduras não são as vilãs que se pregava em outros tempos, desde que consumidas dentro de um padrão alimentar e de atividade física equilibrado. Já o consumo abusivo de carboidratos, especialmente refinados ou vindos de alimentos altamente processados, pode sim trazer prejuízos à saúde. Ou seja, como dito antes, o melhor é optar pelo bom senso!

Fonte:
1- Associations of fats and carbohydrate intake with cardiovascular disease and mortality in 18 countries from five continents (PURE): a prospective cohort study. August, 2017. The Lancet.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
www.facebook.com/drmateusendocrino

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VISÃO 3: Anne Karolina Paiva - Nutricionista clínica daqui de Goiânia

Sobre o novo assunto do momento: estudo do The Lancet. Já recebi inúmeros prints de posts de algumas pessoas que eu considero bem insanas... Eles estão comemorando algo que eu não consigo entender, visto que pelo jeito ninguém sabe ler estudo científico. Farei algumas considerações que achei importantes, por ora:

1- Quando ele fala em alto consumo de carboidrato, considera uma ingestão acima de 60% da energia diária vinda de carbo por dia. E não é novidade alguma saber que esse fato traz risco para a saúde, principalmente de indivíduos sedentários e daqueles que direcionam o seu consumo apenas para carboidratos simples. Então, me poupem. Ninguém precisa parar de comer farinha branca e nem pão francês. As pessoas precisam aprender sobre EQUILÍBRIO, MODERAÇÃO!

2- A partir desse estudo é possível criar hipóteses importantes para que outros estudos sejam feitos. E não pegar os achados dele como verdade incontestável e dizer que todo mundo que come carboidrato vai morrer antes que o resto. Não deixem ninguém vender dieta "low carb", "no carb", "paleo", "cetogênica" e outras como essas com o argumento desse estudo.

3- Inclusive os autores do mesmo estudo deixam bem claro que os resultados não oferecem suporte para dietas de baixíssimas concentrações de carboidratos, visto que eles são importantíssimos para a saúde.

4- Os achados de associação entre maior consumo de gorduras e menor risco cardiovascular ainda não é conclusivo. Até porque o que eles mostram como consumo maior de gorduras gira em torno de 35%, o que já era preconizado por alguns órgãos de saúde. O que foi visto é que não é uma boa ideia trocar o consumo de gorduras por carboidratos, por exemplo. Ou seja: é preciso equilíbrio entre todos os macronutrientes.

5- Vamos esperar um pouco mais para opinar sobre uma maior ingestão de gorduras saturadas (que eu acredito que, se mudar a recomendação, não vai ser para quantidades absurdas), até porque saber que gorduras mono e poliinsaturadas são ótimas para saúde não é novidade, né?

6- Pelo amor de Deus, vamos usar estudos importantes como esse para abrir a mente e não para vender charlatanismo e transtorno.

Anne Karolina Paiva

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VISÃO 4: Profissional da Educação física e Estudante de Medicina da UFRJ - Samir Khalil

O PURE, estudo que propôs avaliar a associação do consumo de #carboidratos e #lipídeos com as #doenças cardiovasculares e mortalidade sacudiu a área da #saúde e o mundo #fitness.
Farei apenas algumas observações aqui para Reflexão:

1) Mesmo com falhas e alguns equívocos, o estudo não é um ruim ao meu ver. Muito pior do que o estudo são as atitudes de certos profissionais que usaram desse #artigo com várias limitações de fácil percepção para justificar medidas nutricionais radicais que não são sustentadas por estudos de maior evidência, como estudos que utilizam modelos clínicos e revisões sistemáticas com meta-analise.

2) O estudo, mesmo não dizendo forma direta, mostra por meio de seus dados algo comprovadamente conhecido: Ingestão exagerada carboidratos traz riscos. Mas como saber o que é exagero? O #exagero é melhor analisado de forma comparativa, ou seja, fazendo uma análise do tipo: Percentual de energia do VET oriundo do consumo de carboidratos de forma bruta x Percentual de energia do VET oriundo do consumo de carboidratos encontrados nas Evidências de maior peso. Logo, devemos confrontar o valor bruto com os valores da Evidência para melhor avaliar o exagero e não apenas restringir a análise ao valor bruto em comparação aos outros #macronutrientes. Se comparar de modo "mais adequado", como o proposto, irá observar que o consumo elevado de #carbo, 77% da energia do VET, retrata um aumento de quase 50% em relação à maioria dos protocolos dietéticos, os quais preconizam valores entre 50 e 55% da energia do VET. Ou seja, um exagero em relação à Evidência e não um exagero cego como muitos analisam de forma equivocada.

3) O estudo não discriminou as fontes de carboidratos consumidas e sabemos que o consumo de carboidratos #refinados e muito processados aumentam o risco #cardiovascular. Assim, como o consumo de #industrializados é grande mundialmente, perdemos a precisão para essa análise.

4) Consumir 30 a 35% de gorduras não é sinônimo de alta Ingestão de #gorduras, inclusive está dentro de padrões bem aceitáveis.

Baseando nos dados e não em sua conclusão, esse artigo suporta melhor a ideia do #equilíbrio nutricional do que a do #radicalismo.

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VISÃO 5: Dr. Gustavo Duarte Pimental - Nutricionista e Doutor em Nutrição. Professor da Universidade Federal de Goiás. Pesquisador.

Um recente estudo publicado no The Lancet avaliou mais de 135 mil pessoas e mostrou que:

O MAIS ALTO consumo de carboidratos (77,2% das calorias totais provenientes dos carboidratos) foi associado com maior risco relativo de morte total quando comparado a BAIXA ingestão de carboidratos (46,6% das calorias totais provenientes dos carboidratos).

Meus comentários:

- Leiam o estudo inteiro antes de criticar!

- Veja que o risco foi aumentado apenas quando foi comparado os extremos de ingestão de carboidratos, ou seja, a mais baixa com a mais alta ingestão.

- Observe que consumir carboidratos na qtde de 45-55% (pode variar) não aumentará o seu risco de morte!

- É óbvio que a alta ingestão de carboidratos (principalmente dos refinados), tais como do açúcar que é adicionado nas preparações, doces, bombas de chocolate, etc aumentará sua chance de morte total ou por doença cardiovascular.

- Observe que em momento algum o estudo falou de low-carb.

- Sobre as gorduras, eu deixarei para falar em outro post!

Amanhã é o dia do nutricionista e sabe qual é a minha maior tristeza? Ver ex alunos e "profissionais" da área dizendo que comer qualquer qtde de carboidrato vai te matar.

- Parem de acreditar em "profissionais" que usam erroneamente as informações científicas, ou seja, parem de aplaudir aqueles que querem justificar o injustificável.

Fonte: Dehghan, et al. The Lancet. 2017.

http://www.thelancet.com/…/lan…/PIIS0140-6736(17)32252-3.pdf


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sozinho, exercício não emagrece, mas aumenta músculo e limita fome


Reportagem bem interessante publicada na folha de São Paulo. Corrobora com aquilo que ha anos falo para os meus pacientes obesos. Principalmente no SUS (ambulatório de Nutrologia que coordeno), onde muitos não possuem condição de pagar uma academia e acham que isso é fator limitante para o processo de emagrecimento.

Deixo claro que o efeito da atividade física é baixo na eliminação de gordura. PORÉM, ela tem um efeito quase medicamentoso promovendo:

  • Redução da pressão arterial
  • Aumento da taxa metabólica basal mesmo que pequeno
  • Aumento da massa magra
  • Aumento da densidade mineral óssea evitando osteoporose
  • Aumento da produção de beta-endorfinas com redução dos níveis de estresse e ansiedade
  • Melhora da produção de testosterona e GH
  • Redução dos níveis de cortisol
  • Melhora do sono
  • Redução do apetite (EM ALGUNS PACIENTES, pois outros referem o contrário)
  • Manutenção do peso eliminado

Smartphones sequestram a capacidade cognitiva



Ter um smartphone por perto reduz a capacidade cognitiva, mesmo quando o telefone está desligado, mostra uma nova pesquisa.

Uma equipe de pesquisadores liderada por Adrian Ward, PhD, professor-assistente da McCombs School of Business, da University of Texas, em Austin, realizou dois estudos nos quais cerca de 800 estudantes de graduação iniciaram uma tarefa cognitiva com seus smartphones colocados perto e à vista, perto e fora da visão ou em outra sala.

Os pesquisadores descobriram que a mera presença do smartphone afetou negativamente a capacidade cognitiva disponível, mesmo quando os participantes conseguiram manter a atenção, quando não estavam usando o celular e quando informaram não ter pensado no telefone. Estes efeitos cognitivos foram mais fortes nos participantes que disseram ter maior dependência do smartphone.
"Não que os participantes estivessem distraídos porque receberam notificações em seus celulares", disse o Dr. Ward em um comunicado à imprensa. "A simples presença do smartphone bastou para reduzir a capacidade cognitiva deles".

O estudo foi publicado on-line em 3 de abril no periódico Journal of the Association for Consumer Research.

Dreno cerebral

"A proliferação dos smartphones deu início a uma era de conectividade sem precedentes", escrevem os autores.

"À medida que as pessoas se voltam cada vez mais para as telas dos smartphones para gerenciar e melhorar a vida diária, devemos nos perguntar como a dependência desses dispositivos afeta a capacidade de pensar e de funcionar no mundo fora da tela", acrescentam os pesquisadores.

Eles também indicam que pesquisas anteriores se concentraram em como as interações dos consumidores com seus smartphones podem facilitar e interromper o desempenho fora da tela.
O presente estudo difere porque se concentra em uma "situação anteriormente inexplorada" (porém comum): quando os smartphones não estão sendo usados, mas estão meramente presentes.

Para investigar esta questão os pesquisadores realizaram dois experimentos relacionados.
No primeiro experimento testaram a "proposição de que a simples presença próprio smartphone reduz a capacidade cognitiva disponível, medida pelo desempenho em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC, do inglês Working Memory Capacity) e inteligência fluida", ambas construções de domínio geral, que são restringidas pela disponibilidade dos recursos atencionais e pela disponibilidade momentânea destes recursos".

Os participantes (N = 520; média de idade de 21,1 anos; desvio-padrão de 2,4) foram distribuídos aleatoriamente para um dos três grupos, diferenciados pela localização do celular.

O grupo "da outra sala" deixou todos os pertences, incluindo os celulares, na entrada, antes de ir para a sala de testes. Os participantes do grupo "da mesa" deixaram a maior parte dos pertences na entrada, mas levaram os celulares para a sala de testes, onde foram instruídos a colocá-los virados para baixo em um local designado nas mesas que ocupavam.

Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" levaram todos os pertences para a sala de testes e mantiveram os celulares no bolso ou na bolsa.

Os participantes completaram duas tarefas destinadas a medir a capacidade cognitiva disponível: uma tarefa de operação automática (OSpan, do inglês Automatic Operation Span Task) e um subconjunto de 10 itens das matrizes progressivas padronizadas de Raven (RSPM, do inglês Raven's Standard Progressive Matrices).

Os participantes também fizeram um teste que exigia um cálculo matemático e um questionário sobre as próprias experiências no laboratório, e a opinião deles sobre a conexão entre os smartphones e o desempenho.

As comparações pareadas revelaram que os participantes do grupo "da outra sala" apresentaram melhor desempenho do que aqueles do grupo "da mesa" (P = 0,002). Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" não apresentaram resultados significativamente diferentes daqueles do grupo "da mesa" (P = 0,09) ou "da outra sala" (P = 0,11).

Uma análise de contrastes planejada revelou uma tendência linear significativa no sentido mesa → bolso ou bolsa → outra sala, e nenhuma tendência quadrada, "sugerindo que, à medida que a visibilidade do smartphone aumenta, a capacidade cognitiva disponível diminui", escrevem os autores.

Os pesquisadores realizaram uma análise unidirecional ANOVA das respostas dos participantes à pergunta "ao realizar as tarefas de hoje, com que frequência você pensou no seu celular?", e não encontraram relação entre a localização do celular e os pensamentos relacionados com ele (P = 0,43). Na verdade, a frequência modal de pensar no celular informada pelos próprios participantes em cada grupo foi "nenhuma".

Diminuição da capacidade cognitiva

No segundo experimento os pesquisadores investigaram os efeitos da visibilidade do smartphone em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC) e uma medida comportamental de atenção sustentada com 275 alunos de graduação (média de idade de 21,3 anos, desvio-padrão de 2,6).
Os pesquisadores replicaram o projeto básico da primeira experiência, com várias exceções. Foram usadas as mesmas três localizações de celular e a experiência utilizou um modelo interparticipante de celular ligado ou desligado. Os participantes do grupo "da mesa" foram instruídos a colocar os próprios celulares virados para cima. Os participantes de todos os grupos foram instruídos a deixar os celulares "ligados" ou "desligados".

A seguir, os participantes fizeram duas medidas-chave dependentes: a tarefa OSpan e a tarefa fazer/não fazer dependendo da instrução, que serve como uma medida de atenção sustentada. Os participantes informavam então a dificuldade subjetiva de cada tarefa.

Os participantes também responderam a perguntas exploratórias sobre as próprias diferenças individuais de uso e conexão com seus smartphones.

Tal como na primeira experiência, as comparações pareadas revelaram que os participantes do grupo "da outra sala" tiveram um desempenho significativamente melhor na tarefa OSpan do que os do grupo "da mesa". Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" não apresentaram resultados significativamente diferentes dos resultados dos outros dois grupos. A análise de contrastes planejada foi igualmente similar.

"Os efeitos nulos do poder e da interação poder vs localização sugerem que a diminuição do desempenho não está relacionada com as notificações recebidas (ou à possibilidade de receber notificações), descartando esta explicação alternativa dos efeitos encontrados no primeiro experimento", comentam os autores.

Os pesquisadores descobriram que as diferenças individuais na dependência dos smartphones moderaram o comprometimento cognitivo. Os participantes que dependiam mais dos próprios smartphones apresentaram pior desempenho do que aqueles menos dependentes, mas apenas quando mantiveram os celulares no bolso ou na bolsa ou na mesa.

"Ironicamente, quanto mais os consumidores dependem de seus smartphones, mais eles parecem sofrer com a presença dos aparelhos – ou, em uma leitura mais otimista, mais eles podem se beneficiar da ausência deles", observam os pesquisadores.

"Vemos uma tendência linear que sugere que, à medida que o smartphone se torna mais visível, a capacidade cognitiva disponível dos participantes diminui", disse Ward.

"Sua mente consciente não está pensando em seu smartphone, mas esse processo – o processo de se exigir não pensar em algo – usa alguns de seus recursos cognitivos limitados. É um dreno cerebral".
Implicações "assustadoras"

Comentando o estudo para o Medscape, Larry Rosen, PhD, professor emérito de psicologia, California State University, em Dominguez Hills, disse que o estudo foi "muito bem feito e bem executado, mas também um tanto assustador".

"Nosso grupo monitorou estudantes estudando. Quando eles estudam, eles mantêm o telefone ao lado deles. E a norma – mesmo que o trabalho seja realmente importante e que eles saibam que estamos observando – é estudarem apenas 10 em 15 minutos, que é a capacidade máxima de prestar atenção e não ter o impulso de checar o celular", informou.

"As pessoas checam seus celulares, mesmo que o aparelho não vibre ou não recebam notificações, o que é um produto da nossa imersão neste mundo de smartphones", disse Rosen, que é autor do livro The Distracted Mind – em português,  A Mente Distraída – (MIT Press, 2016).

"Sabemos que esse comportamento aumenta a ansiedade e também diminui o poder do cérebro, criando dificuldades de processar informações", disse ele, "o que faz muito sentido quando a informação que você deveria estar assimilando está sendo distraída pelo dispositivo. Como você pode lembrar ou processar algo em profundidade se o faz apenas por alguns minutos"?

Ele disse que o estudo tem implicações importantes para os médicos. "Você precisa estar ciente de que qualquer mensagem que esteja transmitindo aos seus pacientes provavelmente não está sendo ouvida claramente, porque provavelmente você não permite que eles usem o celular durante a consulta, então o cérebro deles está, em parte, ausente. Você pode pedir a eles que reflitam, mas o que eles estão realmente pensando é: "já faz tempo que eu não checo meu Snapchat ".

Além disso, os médicos devem respeitar o próprio comportamento neste quesito, e não checar mensagens no meio de uma consulta. Se necessário, você e o paciente podem fazer uma pequena pausa para olhar o celular".

Os pesquisadores sugerem várias tácticas para refrear "o dreno cerebral", observando que, à luz das descobertas, colocar o celular virado para baixo ou virado para cima e desligado "é provavelmente inócuo". Em vez disso, "nossos dados sugerem pelo menos uma solução simples: a separação" – sobretudo "os períodos de separação definidos e protegidos".

Os pesquisadores concluem que seu estudo "contribui para a crescente discussão entre consumidores e profissionais de marketing sobre a influência da tecnologia nos consumidores – e dos consumidores na tecnologia – em um mundo a cada dia mais conectado".

O subsídio desta pesquisa foi fornecido pelo Atkinson Behavioral Lab. Os autores informaram não possuir nenhum conflito de interesses relativo ao tema.

Journal of the Association for Consumer Research. Publicado on-line em 04 de abril de 2016. Artigo

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501437?src=soc_fb_170816_mscpmrk_portpost_5901437_smartphonescapacidadcognitiva#vp_1

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Um terço dos casos de demência pode ser prevenível com modificações de estilo de vida

Mais de um terço dos casos de demência no mundo pode ser evitável ​​ao abordar nove fatores de estilo de vida que modificam o risco individual, de acordo com os resultados de um novo artigo detalhado da The Lancet Commission on Dementia Prevention, Intervention and Care (Comissão sobre prevenção, intervenção e tratamento da demência do Lancet).

O trabalho, apresentado na Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2017 e publicado simultaneamente no periódico The Lancet, foi compilado por 24 especialistas internacionais no campo da demência, que revisaram a literatura disponível na área e realizaram uma nova meta-análise que incluiu alguns fatores de risco não considerados nas análises semelhantes feitas anteriormente.

Os pesquisadores descobriram que nove fatores de estilo de vida são responsáveis ​​por 35% do fardo da demência. Esses fatores são: não completar o ensino secundário no início da vida; hipertensão; obesidade e perda de audição na meia idade; e tabagismo, depressão, inatividade física, isolamento social e diabetes na vida adulta.

"Consideramos apenas fatores de risco para os quais havia dados suficientes para tirar conclusões significativas, então provavelmente estamos subestimando a importância do estilo de vida, mas certamente podemos dizer que ele proporciona uma grande contribuição", disse a primeira autora, a Dra. Gill Livingston, do University College London(Reino Unido).

O relatório de longo alcance também aborda as intervenções e estratégias de tratamento para os pacientes com demência e comprometimento cognitivo.


"Nós apresentamos recomendações simples para os médicos sobre o que eles podem fazer em termos de tratamento", disse a professora Gill. "Descrevemos os caminhos terapêuticos mais baseados em evidências".

Dez mensagens fundamentais do relatório:

  1. O número de pessoas com demência está aumentando em todo o mundo, embora a incidência em alguns países tenha diminuído.
  2. Seja ambicioso em termos de prevenção. As recomendações englobam tratamento ativo da hipertensão; melhorar a educação infantil, exercício, engajamento social; reduzir o tabagismo e tratar a perda auditiva, a depressão, o diabetes e a obesidade.
  3. Tratar os sintomas cognitivos. Para otimizar a cognição, as pessoas com doença de Alzheimer ou demência com corpos de Lewy devem receber inibidores da colinesterase em todas as etapas, ou memantina na demência grave. Os inibidores da colinesterase não são eficazes no comprometimento cognitivo leve.
  4. Individualizar o tratamento da demência. O bom tratamento da demência deve ser adaptado às necessidades, preferências e prioridades individuais e culturais únicas, e deve incorporar o suporte para os familiares que cuidam do paciente.
  5. Cuide dos familiares que cuidam dos pacientes. Os familiares estão em alto risco de depressão. Deve-se disponibilizar intervenções eficazes para reduzir o risco de depressão e tratar os sintomas.
  6. Planeje o futuro. Pessoas com demência e as famílias delas valorizam as discussões sobre o futuro e as decisões sobre possíveis advogados para tomar decisões. Os médicos devem considerar a capacidade de tomar diferentes tipos de decisões no momento do diagnóstico.
  7. Proteja as pessoas com demência. Esses pacientes precisam de proteção contra a auto-negligência, a vulnerabilidade (incluindo a exploração), a administração financeira, a condução de veículos ou o uso de armas. A avaliação e o gerenciamento dos riscos em todas as fases da doença são essenciais, mas devem ser ponderados em relação ao direito da pessoa à autonomia.
  8. Tratar os sintomas neuropsiquiátricos, como agitação, humor deprimido ou psicose. O tratamento geralmente deve ser psicológico, social e ambiental, com a terapia farmacológica reservada para os pacientes com sintomas mais graves.
  9. Considere o fim da vida. Um terço das pessoas mais velhas morre com demência, por isso é essencial que os profissionais que trabalham no tratamento de pessoas no fim da vida considerem se os pacientes têm demência – eles podem não conseguir tomar decisões sobre o próprio tratamento ou expressar as próprias necessidades e desejos.
  10. As intervenções tecnológicas têm o potencial de melhorar a assistência, mas não devem substituir o contato social.
Ênfase no estilo de vida

"Esta é uma estimativa mais precisa dos riscos de demência associados aos fatores de estilo de vida do que o que tínhamos anteriormente, e incluímos mais fatores de risco do que foram considerados anteriormente", disse a Dra. Gill ao Medscape.

Por exemplo, disse ela, "eles incluíram isolamento social e audição, que não eram cobertos antes, e também examinamos todo o período da vida – quando essas coisas fazem a diferença. Essas duas coisas são inovadoras. Também pudemos ver como esses fatores de risco interagem uns com os outros quando vários deles ocorrem juntos"

Os autores consideraram todas as meta-análises já disponíveis, e onde não havia nenhuma disponível eles fizeram sua própria meta-análise, observou a Dra. Gill.

"Não havia nenhuma meta-análise sobre a audição, então fizemos uma, e descobrimos que a perda auditiva dobrou o risco de demência de nove a 17 anos depois". A Dra. Gill disse que o novo relatório seria influente na elaboração de futuras políticas internacionais de saúde pública. 

"Nossos resultados mostram que nunca é cedo demais ou nunca é tarde demais para realizar modificações de estilo de vida que farão a diferença".

Frisando que cerca de 47 milhões de pessoas vivem com demência em nível mundial, e que este número será praticamente triplicado para 131 milhões até 2050 – com o número de casos aumentando mais nos países de baixa e média renda – Dra. Gill disse: "Precisamos agir agora para começar a diminuir esses números. Abordar esses fatores de estilo de vida agora poderia transformar a futura sociedade".



Devido à falta de dados, o estudo não incluiu fatores alimentares, uso de álcool, deficiência visual, poluição do ar ou sono. "Portanto, a contribuição do estilo de vida é provavelmente um pouco mais
do que 35%, mas estamos apenas falando do que as evidências mostraram", disse a Dra. Gill.

Para colocar os 35% em perspectiva, o gene ApoE4 é responsável por 7%, observa o relatório. "Dito isto, aqueles com o gene ApoE4 são conhecidos por terem um risco adicional significativamente aumentado e, portanto, essas pessoas em particular devem fazer tudo o que estiver ao alcance delas para modificar esses fatores, o que irá reduzir os riscos", disse a Dra. Gill.

Outra descoberta interessante do relatório é que ser fluente em mais de um idioma não pareceu alterar de forma independente o risco. "Observamos, quando colocamos todos os dados juntos, que ser bilíngue não foi protetor, embora as pessoas geralmente pensem que seja", afirmou a Dra. Gill. 
"Provavelmente é a educação que acompanha isso que explica os achados descritos anteriormente".
Comentando o novo relatório para o Medscape, Maria Carrillo, psicóloga e PhD, diretora científica da Alzheimer Association, o chamou de "o apanhado geral mais abrangente dos dados sobre prevenção, intervenção e cuidados já realizado".

"Este trabalho reuniu todas as informações sobre as quais ouvimos falar nos últimos anos, disse Maria. "É importante perceber que podemos fazer algo sobre o fardo do Alzheimer agora".
As descobertas sobre fatores de estilo de vida nos dão "uma esperança incrível", acrescentou. "O que precisamos fazer agora é estabelecer o formato da receita para a combinação dos nove itens que foram considerados relevantes, quais dessas descobertas são as mais acionáveis, e a seguir, fazer as recomendações de saúde pública e nos certificar de que elas alcancem os grupos que mais precisam delas – aqueles com menos recursos socioeconômicos".

Ela disse que a Lancet Commission contribuiu com novas informações importantes sobre fatores de risco individuais. "Não tínhamos dados sólidos sobre a perda de audição antes, e eles confirmaram o risco do tabagismo – tem havido tanta discussão a esse respeito", observou. "Os pesquisadores também fazem uma recomendação global para o tratamento mais agressivo da hipertensão. Tudo isso é muito acionável ​​– obter um aparelho auditivo, parar de fumar, prestar mais atenção à pressão arterial".

Maria ressaltou que a elaboração da receita de recomendações de saúde pública mais específicas virá de novos estudos de intervenção iniciando atualmente em todo o mundo. Estes incluem o estudo randomizado FINGER US anunciado nesta semana, que está testando sistematicamente várias modificações de estilo de vida em uma grande população dos EUA.

Este estudo baseia-se no estudo anterior FINGER realizado na Finlândia, que mostrou que abordar vários fatores de risco simultaneamente pode ter benefícios cognitivos para as pessoas em risco de comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer.
Comparações com o relatório NAS

O relatório do Lancet vem apenas algumas semanas após o lançamento de um relatório norte-americano semelhante sobre o Alzheimer das US National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine (NAS), chamado "Preventing Cognitive Decline and Dementia: A Way Forward ".

Este relatório concluiu que "no momento, não há força suficiente de evidências para justificar o investimento em grande escala em atividades de saúde pública destinadas a prevenir a demência". No entanto, qualificou isso dizendo "alguns resultados podem ser vistos como potenciais benefícios adicionais para intervenções de saúde pública já identificadas". Estes são o melhor controle da pressão arterial para pessoas com hipertensão e o aumento da atividade física.

Então, por que a diferença nas recomendações dessas duas grandes revisões? Representantes dos dois grupos disseram ao Medscape que eles abordaram a questão de diferentes perspectivas, com o relatório do NAS se concentrando nas evidências de benefícios demonstrados em estudos de intervenção, enquanto o relatório do Lancet teve um foco mais amplo, e incluiu mais ênfase nos dados epidemiológicos.

O Dr. Lon Schneider, médico da Keck School of Medicine, da University of Southern California, em Los Angeles, e membro da equipe do The Lancet, disse: "nosso relatório foi provavelmente mais abrangente sobre as possibilidades de prevenção e, sim, provavelmente fomos mais agressivos em nossa interpretação sobre o que pode ser feito".

O Dr. Ron Petersen, médico da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, que fez parte do comitê do NAS, acrescentou: "estávamos mais focados nos estudos de intervenção, e demos maior importância aos ensaios clínicos randomizados e à própria doença de Alzheimer, enquanto este novo relatório do Lancetcolocou mais ênfase na prevenção com base em estudos epidemiológicos. Eles também adotaram uma visão mais ampla, abrangendo todas as deficiências cognitivas e demências – não apenas a doença de Alzheimer".

"As projeções deles são muito interessantes, mas são mais hipotéticas do que as nossas", acrescentou. "Não estamos em desacordo com eles, e recebemos este novo relatório de braços abertos – isto ajudará a impulsionar o financiamento de novas pesquisas e ações para enfrentar este enorme problema da deficiência cognitiva e da demência na população que envelhece em todo o mundo".
A The Lancet Commission fez parceria com University College London, Alzheimer's Society UK, Economic and Social Research Council e Alzheimer's Research UK. Essas organizações forneceram ajuda financeira e prática, mas não tiveram nenhum papel na redação do manuscrito.

Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2017. Resumos 19550, 19551, 19552 e 19553. Apresentado em 20 de julho de 2017.

Lancet. Publicado em 20 de julho de 2017. Resumo

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501438?src=soc_fb_share#vp_2


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Neurocientista do MIT tem uma receita infalível para o estresse

Para Tara Swart, a ciência provou que conviver durante muito tempo com incertezas reduz a produtividade

São Paulo — Em meio a qualquer crise, ninguém escapa à rotina de incertezas. Eis uma receita infalível para o estresse.  “A sensação de falta de controle faz o organismo produzir o hormônio cortisol em maior quantidade”, diz a psiquiatra britânica Tara Swart. “Quando esse cenário se prolonga, cria-se o chamado ‘modo de sobrevivência’.” Uma das consequências é a queda da capacidade de ter empatia e de ser criativo, dois efeitos nefastos para profissionais e empresas que, mais do que nunca, precisam ganhar produtividade.

Formada em medicina na Universidade de Oxford e doutora em neurociência, Tara trocou o trabalho em hospitais há quase dez anos para fundar uma consultoria especializada em atender companhias que passam por grandes mudanças e executivos submetidos a elevados níveis de pressão. Segundo ela, para desenvolver resiliência, é preciso entender e cuidar da saúde cerebral. Tara tem clientes como a empresa de tecnologia Google, a fabricante de bebidas SAB Miller e a companhia de mídia BBC. Nos dois cursos de extensão que leciona desde 2014 na faculdade de administração do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), promete ensinar a criar um padrão mental voltado para o crescimento e para a resiliência. De Londres, Tara deu a entrevista a seguir.

Exame – O que acontece quando as pessoas são submetidas a períodos prolongados de incertezas?

Tara – A sensação de falta de controle e as incertezas fazem o organismo produzir maior quantidade de cortisol, hormônio do estresse. Quando esse cenário se prolonga, o corpo tende a se retirar ao que é chamado de “modo de sobrevivência”. Isso significa que o cérebro responde ao  perigo percebido extraindo o sangue de todas as funções que não julga estritamente necessárias para a sobrevivência.

Exame – Quais as consequências dessa condição?

Tara – Entre as principais funções suprimidas  pelo cérebro nesse modo de sobrevivência estão as relacionadas à capacidade de regular as emoções, bem como ter empatia e pensar de forma criativa. Isso leva a um desempenho profissional mais fraco ou, na melhor das hipóteses, impede que as pessoas deem o melhor de si mesmas. Além disso, é comum ter aquela voz negativa em sua cabeça que diz coisas como “eu deveria ir embora do país”, “minha empresa vai quebrar”, “não confio em minha equipe ou em meu chefe”.

Exame – O que a ciência já descobriu a respeito de como manter o cérebro mais produtivo e ter um comportamento resiliente, mesmo em condições adversas?

Tara – A ciência provou que, para manter o cérebro em alto desempenho, só existe um caminho. É preciso prover descanso, combustível, hidratação, oxigenação e adotar um padrão de hábitos que chamo de simplificação. A primeira condição é ter um sono de qualidade que passe pelos diferentes ciclos de ondas cerebrais, e não do tipo que acorda várias vezes durante a noite. Caso contrário, isso vai afetar sua capacidade cognitiva no dia seguinte. Eis um aspecto comumente impactado em momentos de estresse. Combustível é muito importante para a tomada de decisão porque o cérebro usa de um quarto a um terço da energia oriunda do que você come. Cerca de 2 horas depois da digestão, ele já não consegue ter seu melhor desempenho. Há pesquisas sobre juízes tomando decisões mais severas em relação aos réus quanto mais distantes estavam do horário em que haviam feito uma refeição. Logo que se alimentavam, estavam mais abertos a ouvir e ponderar. Mas não vale qualquer combustível.

Certos alimentos são mais eficientes nesse sentido. Alguns exemplos são peixes gordurosos, como o salmão, ovos, abacate, nozes, sementes e bons óleos, como o de coco e o azeite de oliva. Hidratação, basicamente, é beber meio litro de água para cada 15 quilos de peso corporal. Quem sua muito, bebe café ou álcool precisa de mais água ainda. Ninguém dirige seu carro sem checar a água e o óleo. Mas muitos trabalham sem estar hidratados o suficiente, e isso não é bom, especialmente para quem é pago para usar o cérebro. Há ainda a oxigenação, o que significa não estar sedentário durante todo o dia. Num nível mais simples, pode-se caminhar para reuniões, entre salas ou ao lado de um colega enquanto conversam. Se tiver uma reunião ou uma decisão importante a fazer, caminhe antes ao redor da sala ou faça dez respirações profundas. E, finalmente, simplifique sua rotina. Nesse aspecto, refiro-me a duas coisas: praticar e manter a atenção plena e ter um regime de redução de escolhas.

Exame – Como essa filosofia minimalista pode ser aplicada à rotina de uma pessoa?

Tara – Ter uma rotina fixa pela manhã ajuda a economizar energia. Essa é a razão pela qual Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, usa a mesma roupa todos os dias.  Parece algo anedótico, quase caricato, mas tem uma função: preservar seu poder de decisão para o que realmente interessa ou fará a diferença naquele momento. Aos que têm filhos e trabalham, sugiro escolher suas roupas e a dos filhos na noite anterior, no momento em que o poder de seu cérebro está baixo, de qualquer forma. A atenção plena ao que é enfrentado no momento presente ajuda a lidar com as emoções e a preparar o cérebro para resolver múltiplas decisões difíceis. Cerca de 80% das pessoas bem-sucedidas têm algum tipo de prática regular de mindfullness, a aplicação da atenção plena, com exercícios inspirados na meditação. Muitos usam algum aplicativo para smartphones, como o Calm ou Headspace. Basta colocar os fones de ouvido, escutar o que a voz lhe fala e seguir as instruções.

Exame – Na prática, como as empresas podem ajudar as pessoas a lidar com as dificuldades do dia a dia e ainda gerenciar o próprio estresse?

Tara – Uma vez por ano eu coordeno um grande projeto de bem-estar em empresas que envolve exames de sangue para checar quão estressados os funcionários estão.  Com o uso de um equipamento medimos como anda a qualidade do sono das pessoas, sua resiliência, quanto estão fazendo de exercícios físicos. E fazemos com que elas percebam como o estresse afeta o comportamento delas. Isso é possível com uma experiência. Deixamos à disposição comidas e bebidas de todos os tipos durante uma semana. Então, conseguimos identificar tendências e relacionar, por exemplo, um grau mais alto de estresse ao costume de comer mais porcarias e beber mais álcool. Em seguida, verificamos o impacto dessa mudança de hábitos no comportamento e na capacidade de concentração e de tomada de decisão. Assim fica mais fácil mostrar a relação de causa e efeito entre os hábitos e a produtividade cerebral e provar que vale a pena tentar mudar alguns padrões.

Exame – O que mais é possível fazer, além de monitorar e tentar incentivar um comportamento mais saudável?

Tara – As companhias podem facilitar a escolha desse estilo de vida, colocando à disposição água de qualidade e alimentação saudável. Algumas empresas, como o Google, têm aulas de ioga e meditação guiada ou lugares onde os funcionários possam cochilar ou ficar em silêncio e dar um tempo dos equipamentos digitais em algum momento do expediente. As empresas também podem oferecer aos gestores treinamentos em noções de neurociência, como fez o banco britânico Standard Chartered e a companhia anglo-sul-africana de bebidas SAB Milller. Entender o funcionamento do cérebro afeta o estilo de gestão e a dinâmica como as equipes são conduzidas. São políticas e infraestrutura que têm de fazer parte da cultura das empresas.

Exame – Nos últimos anos, novos cursos e consultorias passaram a aplicar a neurociência aos negócios. Por que esse se tornou um assunto corporativo?

Tara – As pessoas precisam estar com a saúde cerebral em forma. Sobretudo na indústria do conhecimento. E a ciência avançou nesse sentido. O primeiro exame de ressonância magnética funcional, que  mostra a reação cerebral a variados estímulos e experiências, surgiu há 26 anos. E vem sendo aperfeiçoado rapidamente, principalmente nos últimos anos. Antes disso, tínhamos a psicologia. Agora, além de saber como as pessoas pensam e sentem, compreende-se o impacto de hormônios e neurotransmissores no comportamento.

Exame – Qual é a nova fronteira desse tipo de análise da neurociência nas empresas?

Tara – Algumas empresas começam a aplicá-la no recrutamento e na construção de equipes. De certa maneira, conhecer a neurociência ajuda a entender as diferentes formas de pensar das pessoas. Há cada vez mais evidências de que times com diversidade cognitiva têm melhor desempenho. Um estudo realizado por David Lewis, diretor da Escola de Negócios de Londres, e Alison Reynolds, da Escola de Negócios Ashridge, na Inglaterra, mostrou que times mais diversos no aspecto cognitivo terminaram uma determinada tarefa em 22 minutos, em média. Os demais, menos variados, levaram até 1 hora e ainda assim nem concluíram a mesma atividade. A explicação é que há tipos complementares. Pessoas com diferentes estilos de processar informações, como um detalhista e um generalista, trabalhando juntos tendem a resolver desafios mais rapidamente. Não é simples, no entanto, determinar o estilo de comportamento de uma pessoa e colocá-la numa caixa. Menos ainda dizer que ela sempre permanecerá da mesma maneira. É importante considerar que é possível mudar padrões de comportamento. O cérebro tem uma plasticidade muito grande — eis outra descoberta recente.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Nota de Esclarecimento da Sociedade Brasileira de Cardiologia - Colesterol e consumo de gorduras

Nota de Esclarecimento da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Considerando informações infundadas divulgadas nas últimas semanas que contrariam o conhecimento científico atual sobre o papel de algumas gorduras na saúde cardiovascular, o Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo comunicam oficialmente que:

1-Não há dúvidas sobre o papel do colesterol sanguíneo como fator de risco independente para doenças cardiovasculares, fato comprovado por estudos experimentais, epidemiológicos, genéticos e de intervenção. O adequado controle do colesterol é recomendado por diretrizes nacionais e internacionais de sociedades médicas, de nutrição, órgãos governamentais e a Organização Mundial da Saúde.
2-A dieta influencia nos valores do colesterol do sangue, sendo que a alimentação adequada faz parte de qualquer estratégia de prevenção das doenças cardiovasculares.
3-Padrões nutricionais em que há baixo consumo de açúcar, ausência de gorduras trans, baixo consumo de gorduras saturadas, consumo adequado de gorduras mono e polinsaturadas, grãos integrais, fibras, frutas, hortaliças e adequado consumo de sódio associam-se em estudos epidemiológicos e de intervenção com diminuição do risco de problemas cardiovasculares como infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais.
4-Alimentos que aumentam as concentrações do colesterol no sangue devem ser consumidos com parcimônia visando a prevenção da doença cardiovascular.
5-Até o momento não há evidência científica robusta que justifique a mudança nas recomendações vigentes sendo que enfatiza-se o consumo de quantidades adequadas de óleos de soja, canola e oliva para manutenção adequada dos valores do colesterol do sangue. Não se recomenda o consumo rotineiro da gordura do coco para prevenção da obesidade ou das doenças cardiovasculares.
6-À medida em que novas evidências de boa qualidade científica forem produzidas, as recomendações podem ser modificadas.

Dr. José Rocha Faria Neto
Presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia
Dr. Francisco Antonio Helfenstein Fonseca
Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Queda na contagem de espermatozoides em homens pode levar à extinção humana, aponta pesquisa

Link para a reportagemhttp://f5.folha.uol.com.br/voceviu/2017/07/queda-na-contagem-de-espermatozoides-em-homens-pode-levar-a-extincao-humana-aponta-pesquisa.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=fbfolha

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Desreguladores endócrinos: há motivo para medo?

sim

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Estilo de Vida Minimalista





O Minimalismo que venho estudando, praticando e falando aqui no blog, é na verdade um estilo de vida. Ele anda para o lado oposto do Consumismo.

O que acontece é que desde que nascemos, vivemos bombardeados de anúncios e ofertas de produtos que quase nunca precisamos. São necessidades criadas pelos comerciais que nos deixam inquietos e insatisfeitos. Quem nunca disse “Eu PRECISO desse sapato!” mesmo tendo uns 10 em casa.  Vivemos nesse ambiente sem perceber o quanto isso tudo nos frustra e intoxica.

O que eu percebo e provavelmente você também, é que hoje em dia temos tudo e ao mesmo tempo não estamos felizes com nada. O que chamo de “tudo” seria um lar (próprio, alugado, casa da mãe, sogra…um teto), um emprego, temos tecnologia cada vez mais accessível e barata, uma infinidade de opções de roupas e calçados para todos os gostos e condições financeiras, tratamentos estéticos, mesmo assim falta alguma coisa…aquele vazio existencial nunca foi tão grande.

O minimalismo dá uma sacudida nisso, ele vem te mostrar que seus objetos não podem te dominar. Eles não podem consumir o seu tempo tão precioso, eles não podem tomar a sua casa e seu espaço te deixando sufocado.

Seus objetos estão aqui para te servir, auxiliar nas tarefas diárias, te dar prazer e até mesmo te fazer feliz! É uma delicia abrir um livro novo e passar horas lendo e imaginando os cenários da estória que está sendo contada…mas você precisa de 300 deles encaixotados, mofando, ou enchendo armários e estantes?

[O minimalismo] É uma espécie de curadoria de momentos e coisas, apenas o melhor será parte da sua história.

Foi aí que o minimalismo me pegou, ele não te ensina a se privar de nada, ele te ensina a ficar rodeada apenas do melhor. É uma espécie de curadoria de momentos e coisas, apenas o melhor será parte da sua história.

Pra quem viveu por anos acumulando objetos desnecessários e até tóxicos (por trazerem memórias desagradáveis), o minimalismo vem como uma purificação. Ele te ajuda a se desfazer do que não é benéfico para ficar apenas o que é útil, bonito e te faz feliz.

Com ele você minimiza…


  • Compromissos, para que sobre tempo para a família, amigos e para você mesmo.
  • Pessoas tóxicas, que só te trazem mal-estar.
  • Alimentação rica em gordura e açúcar. Você percebe que uma alimentação mais saudável te dá mais disposição e saúde para colocar em prática seus planos.
  • Lixo, por não comprar coisas desnecessárias que serão eventualmente descartadas. Além disso, depois que eu diminuí o consumo de alimentos industrializados a quantidade de embalagens também foi reduzida.
  • Gastos, quando você passa a comprar apenas o necessário, sem desperdício, seu dinheiro até sobra! Sobra uns 50 reais…mas sobra hehe.


Ser minimalista é isso, você passa a ter menos coisas, que vão gerar menos problemas te dando mais tempo e mais liberdade. Essa tem sido uma experiência transformadora!

Fonte: https://minimeminimalismo.wordpress.com/2016/11/28/estilo-de-vida-minimalista/

sexta-feira, 14 de julho de 2017

USP testa estimulação cerebral contra obesidade

A terapia mais recomendada para a obesidade ainda é a mudança do estilo de vida. Mas para muitos, tanto a perda de peso como a sua manutenção são extremamente desafiadoras. Para essas pessoas, surge uma nova esperança: a estimulação transcraniana por corrente contínua, técnica de modulação não invasiva da atividade cerebral.

Essa técnica, que utiliza corrente elétrica contínua e de baixa intensidade, emitida diretamente na área cerebral de interesse por meio de pequenos eletrodos, já vem sendo utilizada em várias partes do mundo para tratar enfermidades neuropsiquiátricas e outras doenças, e agora começa a ser usada para o controle da obesidade.

Pesquisas de curta duração na Europa e Estados Unidos já indicaram a eficácia dessa técnica no controle do desejo de alimentos e do apetite. No Brasil, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP iniciou no mês de junho pesquisa para análise da efetividade desta técnica no controle da obesidade.

A novidade no Brasil, segundo o professor Miguel Alonso, diretor do laboratório Bariatric and Nutritional Neuroscience, Beth Israel Deaconess Medical Center, Harvard Medical School e parceiro dos pesquisadores brasileiros da FMRP,  é que o estudo será mais amplo e completo. “Será um passo mais adiante do que foi feito até agora, que é entender melhor o potencial da eficácia da estimulação para a perda de peso no contexto clínico da obesidade. Cerca de dez estudos estão sendo feitos em outras partes do mundo, mas todos de curta duração, com número de sessões muito limitado”, enfatiza Alonso.

Alonso visitou a FMRP em junho deste ano e informou que nos Estados Unidos, em um dos estudos já realizados, os voluntários perderam 1% de peso por semana. O que se recomenda para as dietas hipocalóricas é a redução de peso de 0,5 a 1 kg por semana.

Segundo as pesquisadoras responsáveis pelo estudo na FMRP, Priscila Giacomo Fassini e Vivian Marques Miguel Suen, a técnica afeta os mecanismos que ajudam a reduzir o desejo de alimentos e a ingestão alimentar. “Esta técnica melhora os processos cognitivos, que são chave para a autorregulação do comportamento alimentar.”

De fato, dizem, “o progresso dos participantes no estudo da FMRP será avaliado, usando tarefas informatizadas que medem funções executivas do cérebro, relacionadas com o comportamento alimentar”. A especialista Greta Magerowski, do grupo de Alonso, também esteve no Brasil para implementar essas novas metodologias.

Na FMRP, o presente estudo randomizado, duplo-cego e controlado (quando nem pesquisadores nem pacientes sabem quem está tendo o tratamento testado e quem está recebendo apenas placebo), tem como finalidade avaliar os efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua, isoladamente e em combinação com uma dieta hipocalórica no peso corporal. O objetivo é de auxiliar a perda de peso e evitar a recuperação de peso ao longo do tempo. “Esta proposta inovadora de pesquisa clínica exploratória utiliza uma intervenção biomédica que poderia transformar o paradigma para a perda de peso e a manutenção da perda de peso, oferecendo uma nova forma de tratar a obesidade.”

As pesquisadoras lembram que os resultados deste estudo devem levar a estudos maiores a longo prazo para avaliar essa intervenção de neuromodulação não invasiva.

A pesquisa na FMRP incluirá mulheres de 20 a 40 anos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35 kg/m2 e consistirá em uma sessão inicial de estimulação cerebral não invasiva. Na segunda fase, as participantes receberão um total de dez sessões de estimulação cerebral durante o período de duas semanas. Na terceira fase, será iniciada uma dieta hipocalórica individualizada associada a mais duas semanas de estimulação cerebral.

Colaboram com o estudo, o professor Júlio Sérgio Marchini, da FMRP, a pesquisadora Sai Krupa Das, da Tufts University, e os pesquisadores Miguel Alonso e Greta Magerowski, da Harvard Medical School, dos Estados Unidos.

A professora Vivian lembra que a obesidade é um problema global e, no Brasil, está crescendo, enquanto nos Estados Unidos está se mantendo, segundo o professor Alonso. “Necessitamos tratamentos para beneficiar os pacientes para esse grande problema de saúde pública”, lembram.

Mais informações: e-mail priscilafassini@usp.br

Fonte: http://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/usp-testa-estimulacao-cerebral-contra-obesidade/

Novo marcador indica risco de diabete mesmo com outros exames normais

O escore de lipoproteínas associadas à resistência insulínica (LPIR) é um marcador que pode detectar mais precocemente o risco de desenvolver diabete tipo 2, mesmo em pessoas que possuem peso, glicemia e colesterol normais. O resultado está em pesquisa com participação do clínico geral e cardiologista Paulo Henrique Harada, pós-doutorando do Hospital Universitário (HU) da USP, realizada na Harvard Medical School (Estados Unidos). Esse marcador melhorou a avaliação de risco de diabete tipo 2 em um grupo de 25 mil mulheres, mesmo já se considerando outros marcadores tradicionais.
Os marcadores clássicos do diabete tipo 2 são idade, índice de massa corpórea (IMC), glicemia, HDL colesterol, triglicérides e histórico familiar da doença. “Em conjunto, esses fatores têm um bom desempenho, mas ainda assim com margem de erro significativa”, afirma Harada. O valor agregado desse marcador na detecção do risco de diabete tipo 2 foi testado em 25 mil mulheres ao longo de 20 anos, que fazem parte do Women’s Health Study do Brigham and Women’s Hospital, vinculado à Harvard Medical School.O LPIR é um marcador composto baseado em seis partículas de colesterol (lipoproteínas). Estas são extremamente sensíveis à resistência insulínica, mecanismo ligado ao desenvolvimento de diabete tipo 2. “A partir desses números é feito um escore ponderado que vai de 0 a 100, onde maiores valores indicam maior risco de diabete tipo 2”, explica o médico.
O LPIR esteve associado com o risco de diabete durante esses 20 anos. “Foi possível classificar os pacientes como de alto risco (LPIR acima de 67), que têm 2,2 vezes o risco de desenvolver diabete daqueles de baixo risco (LPIR abaixo de 30)”, destaca o pesquisador. “Mesmo em pessoas que se supunha de risco baixo (IMC, glicose, HDL colesterol e triglicérides normais), a presença de LPIR alto esteve associado a maior risco de diabete.”

Risco

O médico ressalta que o diabete tipo 2 é uma doença que leva anos ou até décadas para se desenvolver. “Nos estágios iniciais, a resistência insulínica é compensada por uma maior atividade do pâncreas, o que não é detectado pelos parâmetros atuais de glicemia”, destaca. “O LPIR pode detectar o risco de desenvolver a doença no início dessa trajetória e alertar o indivíduo com bastante antecedência. Confiar apenas no aumento dos parâmetros de glicemia pode ser enganoso.” Nos pacientes com risco intermediário de desenvolver diabete pelo método tradicional, o uso do marcador reclassificou corretamente esse risco tanto para baixo como para cima. “Baseado em avaliação mais precisa, podemos agir de forma mais direcionada para orientações de dieta e atividade física.”
Segundo o pesquisador, os pré-diabéticos (estágio intermediário antes do diabete) já apresentam maior risco de infarto, derrame, problemas oftalmológicos, neurológicos e renais. O que demonstra as potenciais implicações da detecção de risco e prevenção precoce do diabete tipo 2. Mas faz uma ressalva: “Embora o método seja bastante promissor, ele ainda precisa ser validado por mais estudos para uso nos serviços de saúde”, observa. “Os parâmetros clássicos para a avaliação de risco de desenvolvimento de diabete continuam sendo a referência.”
Embora o método seja bastante promissor, ele ainda precisa ser validado por mais estudos para uso nos serviços de saúde. Parâmetros clássicos continuam referência.”
Esta pesquisa tem como grande força o longo tempo de acompanhamento de um grande número de mulheres. Mas o médico faz uma ressalva: “Esse trabalho envolveu apenas mulheres brancas, seria preciso avaliar o funcionamento do marcador em homens e em grupos de composição étnica mas diversificada”, diz. Apesar disso, os resultados são consistentes com outro grande estudo envolvendo homens/mulheres, brancos/negros/latinos/asiáticos.
Harada faz parte da equipe de pesquisadores do projeto Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil) no HU. O médico fez mestrado em saúde pública na TH Chan Harvard School of Public Health e integrou o grupo de pesquisa do Brigham and Women’s Hospital, ligado à Harvard Medical School, com bolsa da Fundação Lemann. As conclusões do trabalho são descritas em artigo da publicação científica Journal of Clinical Lipidology.

Louco por doces? Seu fígado pode ser o culpado

Você é uma pessoa muito gulosa e não pode ficar sem comer doces? A culpa disso pode ser de variações de um gene que se ativa no seu fígado.

Segundo o estudo conduzido pelo Novo Nordisk Foundation Center for Basic Metabolic Research, entidade sediada na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, "um hormônio chamado FGF21 que é secretado pelo fígado depois de comer doces pode determinar" quem é mais viciado nesses alimentos açucarados.

De acordo com a pesquisa, divulgada na revista científica "Cell Metabolism", quem possui certas variantes ou mutações do gene FGF21 acaba tendo uma chance maior de ser um grande consumidor de doces, como balas, chocolates e sorvetes, em relação a outras pessoas e tendo uma maior dificuldade de resistir à tentação de comer esses alimentos.

Neste estudo, descobriu-se que o gene FGF21 tem um papel importante na regulação da quantidade de doces que uma pessoa tende a comer, ou seja, de um certo modo, ele tem responsabilidade no "controle da gula por doces" de cada um. Os pesquisadores estudaram o DNA e os hábitos alimentares de 6,5 mil dinamarqueses que foram distribuídos em uma "escala de gula" em base na quantidade de doces que consumiam em média.

Os estudiosos também fizeram um teste clínico com uma pequena amostra destes voluntários para realizar a pesquisa. Nele, foi dada uma bebida muito adocicada (com a quantidade de açúcar de duas latas de Coca-Cola) a 51 pessoas, que haviam dito anteriormente que amavam muito ou odiavam comer doces.

Com isso, os pesquisadores fizeram uma medição dos níveis do FGF21 no sangue das pessoas, que estavam em um jejum de 12 horas, logo antes delas beberam o líquido e outras até cinco horas após a ingestão da bebida. A partir das medições chegou-se a conclusão de que as pessoas que não gostavam muito de doces tinham uma quantidade 50% maior do hormônio que os outros participantes.

No entanto, depois que elas consumiram a bebida açucarada, os níveis do FGF21 no sangue seguiram a mesma trajetória que o das outras pessoas até eles ficarem semelhantes. Sendo assim, a conclusão do estudo apontou que quem tem as variações no gene, que foram representadas no teste pelas pessoas com os níveis menores de FGF21 no sangue em jejum, tem uma probabilidade de estar no topo dos consumidores de doces 20% maior em relação aos outros participantes.

Fonte: http://mobile.opovo.com.br/noticias/saude/2017/05/louco-por-doces-seu-figado-pode-ser-o-culpado.html

terça-feira, 11 de julho de 2017

Interação entre medicações e os hormônios tireoidianos

É muito comum que pacientes submetidos à avaliação da tireoide estejam fazendo uso de diversos fármacos sendo que alguns deles, mesmo que usados para doenças não tireoidianas, podem interferir com a função da glândula, mesmo que o paciente não tenha disfunções tireoidianas prévias.

A tireoide necessita do comando do TSH (hormônio produzido por uma outra glândula chamada hipófise) para que produza e libere os hormônios tireoidianos (T4 e T3) que, por sua vez, circulam pelo nosso corpo ligados a um transportador (TBG – globulina ligadora de tiroxina). Em indivíduos normais, as concentrações dos hormônios tireoidianos e do TSH estão intimamente relacionadas e são controladas por um delicado sistema. Porém, algumas medicações podem afetar esse sistema de equilíbrio em diversos pontos, afetando a função dos hormônios, inibindo a produção dos hormônios tireoidianos ou do TSH, alterando a quantidade de transportadores dos hormônios no sangue e também por outros mecanismos ainda não esclarecidos. A interferência dessas medicações nesses processos pode ser um fator de confusão na interpretação dos exames laboratoriais, pois podem causar desde apenas uma alteração laboratorial sem significado clínico até quadros de disfunção tireoidiana evidente, levando a quadros de hipotireoidismo (quando a tireoide funciona menos do que o necessário) ou hipertireoidismo (quando a glândula funciona mais do que deveria).

Pacientes com doenças tireoidianas prévias subclínicas ou não diagnosticadas, portadores de bócio (aumento da glândula), nódulos e anticorpos anti-tireoidianos positivos estão sob maior risco de desenvolver alterações tireoidianas na presença de alguns fármacos.

Medicações que podem causar (ou piorar) o HIPOTIREOIDISMO

1. Pela inibição da produção dos hormônios tireoidianos e/ou sua liberação: lítio, talidomida, iodo e medicamentos contendo iodo, como amiodarona, contrastes radiológicos, alguns expectorantes, comprimidos de alga marinha, soluções de iodeto de potássio
2. Através de uma desregulação imunológica: interferon-alfa, interleucina-2, ipilimumab, alemtuzumab, pembrolizumab, nivolumab
3.Suprimindo a secreção de TSH pela hipófise:  dopamina
4. Provocando uma tireoidite destrutiva: sunitinib

Nos pacientes com hipotireoidismo em tratamento com levotiroxina, algumas medicações podem levar à redução da absorção ou ao aumento do metabolismo dos hormônios tireoidianos, fazendo com que ocorra uma piora do hipotireoidismo se a dose do hormônio não for ajustada. 

Entre os fármacos que reduzem a absorção da levotiroxina e podem exigir aumento da dose da medicação temos: colestiramina, colesevelam, hidróxido de alumínio, carbonato de cálcio, sulfato de ferro, raloxifeno, omeprazol, lansoprazol e similares, sevelamer e cromo. 

Já entre as drogas que podem aumentar o metabolismo dos hormônios temos: fenobarbital, a rifampicina, a fenitoína e a carbamazepina. A amiodarona diminuí a conversão periférica de T4 para T3, também fazendo com que possa ser necessário ajuste de dose da levotiroxina.

Medicações que podem causar HIPERTIREOIDISMO

1. Através do estímulo para produção e/ou liberação dos hormônios tireoidianos: iodo e medicações contendo iodo, como amiodarona, contrastes radiológicos, solução de povidine, alguns expectorantes, comprimidos de alga marinha, soluções de iodeto de potássio
2. Através de uma desregulação imunológica: interferon-alfa, interleucina-2, ipilimumab, alemtuzumab, pembrolizumab

Medicações que podem causar anormalidades nos EXAMES LABORATORIAIS, porém sem causar disfunções tireoidianas

Alguns fármacos podem aumentar ou diminuir as concentrações séricas da TBG (“a transportadora dos hormônios tireoidianos”), provocando alterações nas concentrações totais do T4 e do T3, mas não nas frações livres, sendo assim provocam apenas alterações laboratoriais porém sem sintomas clínicos

1.Medicações que reduzem a TBG: andrógenos, glicocorticoides, ácido nicotínico
2. Medicações que elevam a TBG sérica: anticoncepcionais orais, tamoxifeno, raloxifeno, metadona, heroína, mitotano. OBS: Mulheres com hipotireoidismo em uso de levotiroxina e anticoncepcional oral podem necessitar de ajuste de dose da levotiroxina

Outras medicações podem interferir na ligação dos hormônios ao transportador, na conversão dos hormônios na periferia, na depuração do T4 ou na supressão do TSH, mas, ainda assim, causam apenas alterações laboratoriais, sem alterações clinicas.

3. Medicações que diminuem a ligação do T4 à TBG: salicilatos, furosemida, heparina, alguns anti-inflamatórios
4. Medicações que aumentam a depuração do T4: fenitoína, carbamazepina, rifampicina, fenobarbital
5. Medicações que suprimem a secreção de TSH - dobutamina, glicocorticoides, octreotide
6. Medicações que alteram a conversão do T4 em T3: glicocorticoides, contraste radiológicos, propranolol

RESUMINDO: 
A tireoide pode ter sua função influenciada por vários medicamentos de uso frequente na prática clínica o que pode resultar tanto em disfunção da tireoide (com sintomas clínicos) ou apenas em anormalidades bioquímicas, que não resultam em disfunção tireoidiana clinicamente importante, mas podem ser mal interpretadas se o médico não estiver atento à possibilidade dessas interações e não reconhecer os pacientes que se enquadram no grupo de maior risco para desenvolver tireoidopatias.

Visto a importância das interações medicamentosas, sempre que você for consultar com um médico nunca se esqueça de levar o nome de TODAS as medicações que você está em uso pois isso pode fazer toda a diferença para que o médico interprete corretamente seus exames.


FONTE
UpToDate - Drug interactions with thyroid hormones

Fernanda M. Fleig
Médica Endocrinologista
CREMERS 33785 RQE 28970
https://www.facebook.com/fernanda.endocrinologista/
https://fernandaendocrino.wordpress.com/

Doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose hepática): o acúmulo de gordura no fígado

doença hepática gordurosa não alcoólica, popularmente conhecida como fígado gorduroso, vem ganhando cada vez mais destaque no rol das doenças metabólicas. Frequentemente é descoberta em exames de rotina. Após excluídas outras causas de doenças do fígado, o paciente recebe o diagnóstico de NAFLD (sigla em inglês para "doença hepática gordurosa não alcoólica") e surgem as primeiras dúvidas quanto ao prognóstico. O que esse acúmulo de gordura no fígado pode causar? Qual o risco de possíveis complicações? A seguir, conversaremos um pouco sobre a história natural desta doença.



A primeira preocupação com a esteatose hepática é a progressão para doença terminal, isto é, para cirrose. O risco é maior quanto maior for o grau de inflamação e de fibrose do fígado, isto é, se há de fato uma hepatite instalada ("esteato hepatite não alcoólica" ou NASH, em inglês). Estudos que avaliaram a progressão da doença através de biópsias observaram que cerca de 40% dos pacientes com NAFLD apresentam piora da inflamação e da fibrose no decorrer do tempo. Pacientes que apresentam apenas acúmulo de gordura no fígado costumam levar 13 anos para desenvolver fibrose avançada. Já os pacientes que já apresentam atividade inflamatória (NASH), este tempo reduz para apenas 4 anos.
Não é só a avaliação histológica através da biópsia que é levada em conta para avaliar a progressão da NAFLD. Como a biópsia é um exame invasivo e nem sempre disponível, alguns critérios clínicos são bastante úteis para melhor estratificação do risco. Aumentam o risco de progressão da doença de forma relevante: idade avançada, diagnóstico de diabetes, elevação das enzimas hepáticas (TGO/AST e TGP/ALT) acima de 2 vezes o limite superior da normalidade, índice de massa corporal maior ou igual a 28 kg/m2, aumento da circunferência abdominal, elevação dos triglicerídeos, redução do colesterol HDL e tabagismo ativo. Por outro lado, o uso de estatinas e o consumo regular de café parecem diminuir o risco de progressão da doença.
O consumo de álcool é tópico que gera debate, já que estudos mostram resultados conflitantes com relação ao consumo baixo ou moderado (duas doses de álcool por dia para homens e uma dose para mulheres). No entanto, o consumo acima deste patamar ou mesmo o consumo eventual de grandes quantidades (quatro doses de álcool) está associado com progressão mais rápida da doença.
Os pacientes com progressão para fibrose avançada ainda apresentam maior risco de câncer de fígado. Nos casos onde o diagnóstico é de cirrose, o risco fica em torno de 13% em 3 anos.
Por fim, quanto maior a atividade inflamatória e o grau de fibrose, maior parece ser o risco de eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico). O risco de morte por doenças cardiovasculares pode ser quase duas vezes maior em um paciente com esteatose hepática quando comparado a uma pessoa com o fígado saudável.
O apropriado conhecimento do comportamento da doença ajuda a traçar estratégias apropriadas e individualizadas de seguimento e de tratamento. Mas isso já é matéria para um próximo texto…

Fonte: Natural history and management of nonalcoholic fatty liver disease in adults – UpToDate Online


Fontehttp://blogdasbemrs.blogspot.com.br/

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991