domingo, 18 de setembro de 2022

Pastéis de carne (Airfryer)


1 grama de gordura fornece 9 calorias. Ou seja, é por isso que alimentos feitos em imersão no óleo são bem mais calóricos que as versões assadas ou na airfryer. 

Antes que venham me criticar pelo uso de Airfryer, ainda não temos estudos robustos mostrando malefício do uso do aparelho. Os alimentos são preparados, como o próprio nome do aparelho diz, por uma circulação muito quente de ar, a circulação e a alta temperatura do ar permitem que o alimento cozinhe muito rapidamente. Os alimentos são cozidos ao extremo, por isso mudam de cor, formam uma crosta seca e ficam crocantes.

Qual o problema da airfryer então ? Postula-se que seja decorrente da formação de AGEs. Na verdade, independente se for na AirFryer ou no forno, os alimentos sofrem um grande processo de glicação, formando produtos tóxicos como AGEs (Advanced Glycation End- Products) e acrilamina, que são substâncias relacionadas ao desenvolvimento de doenças como as cardiovasculares, renais, diabetes, câncer. Mas há formas de se reduzir os AGEs, como acrescentar após a preparação, alimentos ricos em antioxidantes, como frutas cítricas, oleaginosas, vegetais, especiarias, temperos.

E os pasteis feitos na airfryer por não levarem óleo, são bem menos calóricos que a versão frita. 

É importante salientar, que toda vez que fazemos alguma receita na Airfryer é natural compararmos o resultado com o método tradicional de fritura por imersão em óleo. O fato é que dá pra deixar as preparações mais saudáveis sem abrir mão do sabor e eu vou te contar alguns segredos.
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Receita:
✔️Para o recheio usei o que já tinha pronto em casa, carne moída refogada com alho e cebola e molho de tomate;
✔️Para os pasteis ficarem sequinhos é preciso usar a massa de tamanho pequeno, assim inflam mais facilmente;
✔️Coloco um pouquinho de recheio e um pedaço pequeno de queijo fresco no centro da massa;
✔️Passo um pouco de água em toda borda da massa e viro formando uma meia lua:
✔️Aperto com um garfo para fechar bem;
✔️Pincelo azeite sobre a massa e levo para Airfryer por aproximadamente 08 minutos ou até ficarem dourados (viro eles na metade do tempo);
✔️Além do tamanho da massa, outra dica importante é colocar os pasteis de pouco a pouco na Airfryer (no máximo 05 unidades).
✔️Dá para variar o recheio colocando frango refogado desfiado, só queijo, tomate, lagarto desfiado...

Existe dieta anti-inflamatória ?


Quase que diariamente recebo pacientes encaminhados por outros colegas, para que eu ou meus nutricionistas prescrevam um dieta anti-inflamatória. Percebam que até médicos acham que existe essa dieta, quem dirá os leigos. Para piorar, vários profissionais da área da saúde propagam por aí a existência desse tipo de dieta. Mas afinal, existe ou não uma dieta anti-inflamatória? A dieta pode ser um antídoto para um processo inflamatório? É correto profissionais venderem essa ilusão? Esse post foi inspirado na postagem de um colega nutricionista (Felipe Almeida).

Vem comigo que desvendaremos este mistério.

Mas antes de explicar, sugiro que você me siga no instagram: @drfredericolobo para mais informações de qualidade em Nutrologia e Medicina. Lá, posto principalmente nos stories, informação de qualidade e no feed, junto com meus afilhados postamos sobre vários temas.

Primeiramente, o que vem a ser inflamação ?

A inflamação é uma resposta à infecção ou lesão de algum tecido (presente em órgãos) que ocorre para erradicar microrganismos ou agentes irritantes e para potenciar a reparação tecidual. 

Quando ativada de forma excessiva ou persistente, a inflamação pode causar o comprometimento de órgãos e sistemas, levando à descompensação, disfunção orgânica e morte. 

Atualmente, é reconhecido que a inflamação está implicada em diversas doenças, infecciosas ou não, destacando doenças causadas por protozoários e bactérias, a obesidade, a osteoartrose, doenças do sistema cardiovascular, neuropatias, doenças pulmonares, esclerose múltipla, cânceres e várias outras doenças.

Quem participa da inflamação ?

Aqui faço uma analogia com as forças armadas. No Brasil temos 3 forças armadas:
  • Marinha: que defende mares e rios
  • Exército: que defende a parte terrestre
  • Aeronáutica: que defende o nosso espaço aéreo.
Se temos algum agente agressor, que pode burlar a nossa segurança, as forças armadas entram em ação com seus integrantes. A mesma coisa é nosso sistema imunológico. Temos vários tipos de leucócitos (células brancas = exército): granulócitos: neutrófilos, eosinófilos, basófilos. E temos os agranulócitos mononucleares: linfócitos e monócitos. Temos ainda plaquetas e uma infinidade de substâncias que amplificam a inflamação, que são as citocinas inflamatórias (mediadores químicos = armas das forças armadas).

Esse agente agressor pode desencadear uma guerra curta (inflamação aguda), mas a guerra também pode durar anos (inflamação crônica)


Se a guerra for curta, geralmente ela gera menos estragos, mas se ela persiste por vários anos, os prejuízos são maiores. E percebam que o prejuízo ocorre em decorrência da guerra. Ou seja, os próprios guerrilheiros (nossas células de defesa) produzem substâncias mortais e que amplificam essa resposta inflamatória. Por exemplo, se o exército não está dando conta, ele manda sinais para chamar a Marinha pra ajudar. Se exército e marinha não dão conta, chamam a aeronáutica.

No vídeo abaixo o Dr. Drauzio Varella explica de forma didática a inflamação e a dieta.


E onde entra os anti-inflamatórios? Quem são os anti-inflamatórios? Por que precisamos de anti-inflamatórios?

Bem, como já dito, toda guerra tem repercussões e nosso corpo vive uma dualidade. Precisamos da inflamação para vencer o agente agressor. Mas também precisamos de substâncias que minimizem os estragos deixados pela guerra (inflamação). 

É aqui que entraria a dieta anti-inflamatória. Além disso, a guerra produz radicais livres (estresse oxidativo) e precisamos de substâncias que reduzam esse estresse, aqui entraria os alimentos ricos em antioxidantes ou uma dieta antioxidante.

Os anti-inflamatórios podem ser uma medicação: corticóide, anti-inflamatórios não-esteroidais. Mas vários alimentos possuem substâncias que agem nas células inflamatórias ou diminuindo as proteínas inflamatórias (citocinas). Outros alimentos possuem substâncias com ação não só anti-inflamatória mas também antioxidantes, ou seja, minimizando o estresse oxidativo.

Mas é preciso deixar claro, que cada substância com ação anti-inflamatória terá uma seletividade para um grupo de citocinas inflamatórias (mediadores inflamatórios) ou marcadores inflamatórios. Ou ainda, cada antioxidante, terá uma seletividade para um tipo de radical livre. 

E como saberemos se o corpo está com inflamação e precisa de substâncias anti-inflamatórias? Não existe uma única substância que mostra isso, mas sim uma combinação de várias.
 
Os marcadores inflamatórios são proteínas de baixo peso molecular com funções metabólicas  endócrinas, que participam  dos mecanismos de inflamação e da resposta imunológica do organismo para garantir a homeostase. Estes podem ser divididos em: citocinas pró e anti-inflamatórias; adipocinas; quimiocinas; marcadores de inflamação derivados de hepatócitos; marcadores de consequência da inflamação e enzimas. Por exemplo, temos algumas marcadores inflamatórios: 
  • Fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), 
  • Interleucina-6 (IL-6,) 
  • Proteína-C reativa (PCR), 
  • Interleucina 1-beta (IL-1-b), 
  • Fator nuclear kappa B (NF-κB),
  • Ferritina,
  • Velocidade de hemossedimentação (VHS),
  • Mucoproteínas,
  • Fibrinogênio,
  • inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI-1)
  • Interleucina 8 (IL-8)
E como a gente quantifica? Alguns a gente consegue dosar comumente em laboratórios, mas mesmo na vigência de um processo inflamatório algumas dessas substâncias podem estar normais. Entendem a complexidade? Outros só se solicitam em pesquisas. Além disso há uma infinidade de marcadores inflamatórios, citei apenas alguns.

Alguns trabalhos objetivam avaliar o consumo de alimentos interferindo em marcadores inflamatórios. Por exemplo, tem trabalho mostrando que alguns tipos de peixes aumentam substâncias pró-inflamatórias, ou seja, aumentam a inflamação. Ao passo que o consumo de pizza e de cerveja diminui a quantidade desses marcadores. E isso quem está falando não sou eu, é o trabalho. Foi um achado do estudo. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4958288/


Já outros trabalhos mostram que alguns compostos bioativos podem in vitro ter ação sobre a resposta inflamatória, diminuindo mediadores químicos (marcadores inflamatórios).


Outros trabalhos analisam a ação de compostos bioativos na melhora de sintomas em doenças (ex. curcumina na osteoartrose promovendo redução da dor). Enquanto outros trabalhos mostram uma ação anti-inflamatória de determinados polifenóis, reduzindo os marcadores inflamatórios em determinados pacientes. 

Sendo assim, a primeira coisa que devemos fazer como médico ou nutricionista é avaliar essa inflamação. 
  • Quais substâncias estão aumentadas? Dá para quantificar isso em exames laboratoriais?
  • Qual a intensidade desse aumento? É uma inflamação significativa ou uma inflamação crônica de baixo grau?
  • O que pode ser o agente agressor que está levando ao aumento destes marcadores? 
  • O agente agressor é algum alimento (no caso de alergias ou intolerâncias alimentares) ou é alguma disfunção no corpo (exemplo diabetes, obesidade, artrose, doença ateromatosa)? 
  • Dá para confiar que esse aumento é decorrente dos fatores identificados ou há outros interferentes?
  • Todos esses marcadores tem o mesmo peso ou alguns são mais importantes?
  • Qual o custo dessas dosagens? O Custo x benefício da dosagem? Quantificar o grau da inflamação mudará o desfecho?
  • Terei o mesmo benefício em todas as doenças ao diminuir esses marcadores, ou algumas doenças se diminuo 10% de uma PCR será a mesma coisa que diminuir 10% de TNF-alfa em outra doença?
  • A diminuição desses marcadores inflamatórios, citocinas e células inflamatórias vão realmente significar que o paciente melhorou a saúde?
  • Nosso metabolismo se reduz a substâncias inflamatórias e anti-inflamatórias?
  • Qual impacto da mudança no estilo de vida sobre os marcadores inflamatórios? Quem garante que a diminuição do marcador foi oriunda do uso de um composto bioativo e não da mudança do estilo de vida?
  • Estamos olhando a dosagem de substâncias no plasma, mas a inflamação pode estar acontecendo dentro da célula. Como quantificar isso?
  • Se for comprovado que um composto bioativo reduz um marcador inflamatório em ensaios clínicos, qual a dose a ser utilizada? 
  • E se quisermos utilizarmos alimentos in natura ao invés de suplementos sintéticos, qual a equivalência? 
  • Existirá superioridade de um alimento in natura (rico em um composto com "potencial anti-inflamatório" quando comparado à versão sintética (suplemento)?
Sendo assim, a função desse texto é mostrar que:
  • Não existe uma dieta anti-inflamatória bem estabelecida AINDA, pois, não há consenso científico sobre quais alimentos são realmente anti-inflamatórios e em quais marcadores inflamatórios eles agirão. A maioria dos estudos são in vitro. Obviamente temos trabalhos em humanos, como por exemplo as ações da curcumina e de outros polifenóis. Isso não quer dizer que uma alimentação rica em compostos bioativos com potencial anti-inflamatório não tenha aplicabilidade. O que quero deixar claro é que à luz da ciência atual, AINDA não se pode denominar uma dieta de anti-inflamatória. Motivo? Não existe consenso na literatura. Hoje a nutrição e a nutrologia consegue definir uma dieta low carb, uma dieta cetogênica, uma dieta high carb, dieta mediterrânea, dieta DASH, dieta low fodmap. E para a dieta anti-inflamatória? Qual o conceito? Dieta mediterrânea tem potencial antiinflamatório, dieta nórdica também, dieta de Okinawa também apresenta esse potencial. São dietas diferentes na sua composição, porém parecidas quando se trata do que não consumir. Ou seja, alimentos ricos em gordura saturada,carboidrato refinado, baixa ingestão de fibras. 
  • Há quem argumente que é uma "dieta composta por alimentos saudáveis". Mas o que são alimentos saudáveis? Quais são eles? Qual a quantidade deles? Toda dieta nutricionalmente equilibrada obrigatoriamente deveria ter esse tipo de alimento. Outros dirão que é uma dieta constituída por "alimentos que desinflamam". Desinflamam o que? Reduz quais marcadores? Por ação de quais compostos bioativos? Qual a quantidade mínima esses compostos para "desinflamar". Como quantificar que esse "desinflamar" veio da dieta e não da mudança de estilo de vida? Já outros falarão que é uma "dieta rica em curcumina, ômega 3 e outros compostos fenólicos". Mais uma vez, quanto de cada? Qual o desfecho disso? Terei menos risco ou melhor prognóstico com o acréscimo dessas substâncias? 
  • É importante pensar na importância de cada um desses marcadores, quais alimentos tem ação direta sobre eles e como eles se inter-relacionam com diversas doenças. Ou seja, é importante desvendarmos a fisiopatologia das doenças. 
  • As evidências de que incluir própolis, curcumina na dieta são baixíssimas. Há situações (ensaios clínicos) que mostram por exemplo melhora da dor em pacientes com artrose e que utilizam curcumina por um um período curto. Dá para utilizar? Sim, mas o efeito se perde. Então ortopedistas e reumatologistas trocam (rotacionam) por outras substâncias como colágeno UC-II, Harpagophytum procumbens entre outros. Já o própolis há poucos trabalhos na literatura mostrando capacidade de atuar como antiinflamatório. O Melhor trabalho que vi nos últimos tempos foi um publicado por nefrologistas mostrando a redução da albuminúria em pacientes diabéticos com doença renal. Qual a necessidade de acrescentar algo com potencial irritante gástrico na dieta de um paciente, logo no café da manhã? Tem evidência? Não vejo na literatura.  Ou seja, não sabemos a repercussão disso nos desfechos. Suplementar esses dois compostos bioativos seria a solução? Há trabalhos favoráveis e outros não. 
  • Na maioria das vezes uma dieta não é um antídoto para uma inflamação. Exceto em situação em que o agende agressor é um alimento (ex. doença celíaca, alergias específicas, intolerância histaminérgica, dieta low fodmap). Para redução dessa inflamação existe todo um arsenal terapêutico e que não necessariamente engloba somente a alimentação. 
Muitas vezes o paciente começa um tratamento, adota uma série de novos hábitos alimentares, passa a praticar atividade física, reduz a gordura visceral, passa a dormir melhor, tem maior ingestão de água, reduz exposição a toxinas (tabaco, álcool, drogas, poluição). E aí o nutricionista ou nutrólogo cai na cilada de acreditar que a redução de marcadores inflamatórios foi devido ao uso de algum suplementos ou inclusão de alimentos com "potencial" anti-inflamatório. Quando na verdade as mudanças por si só já promoveriam essa redução da inflamação. A própria perda de peso já favorece isso.

Dica prática para profissionais: médicos e nutricionistas:
  • Estudem antes de tudo a fisiopatologia das doenças e lembre que não é porque in vitro um fitoquímico reduziu algum marcador inflamatório, que nos ensaios clínicos isso ocorrerá.
  • Estudem imunologia antes de saírem por aí propagando mentiras. 
  • Estudem os nutrientes: macro, micro, fibras e alimentos funcionais. Pode ser que no futuro surjam mais evidências das ações "medicamentosas ou anti-inflamatórias" de uma série de substâncias e precisamos estar antenados com isso. Como por exemplo, a  excreção urinária de polifenóis tem despertado interesse como um biomarcador da ingestão de uma dieta com potencial ação anti-inflamatória. Estudos mostram que fatores de risco como tabagismo, consumo excessivo de álcool, estilo de vida sedentário e uma dieta não saudável podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e processos inflamatórios. No entanto, adotar uma alimentação saudável, rica em polifenóis encontrados em alimentos à base de plantas, pode contribuir para a prevenção dessas doenças. Nesse contexto, o Índice Inflamatório da Dieta (IID) foi proposto como uma forma de avaliar o potencial inflamatório da alimentação, classificando alimentos e nutrientes como pró ou anti-inflamatórios.

Este estudo buscou analisar a relação entre as concentrações de polifenóis excretados na urina e as mudanças no escore do IID, com a hipótese de que o potencial inflamatório da dieta está inversamente relacionado às concentrações de polifenóis. Acontece que existem inúmeros compostos bioativos com "potencial ação" anti-inflamatória in vitro e que não são polifenóis.

Investigou-se a associação entre as concentrações de polifenóis na urina e as mudanças na Síndrome Metabólica, sugerindo uma possível melhoria dessa condição com o aumento da ingestão de polifenóis. Porém, existe o viés de uma dieta com menos ultraprocessados, mais rica em alimentos in natura ou minimamente processados, maior ingestão de fibras, alterações na microbiota, além de perda de peso que obviamente promoverá melhora dos parâmetros relacionados à síndrome metabólica.

Avaliando os efeitos da Dieta Mediterrânea na prevenção primária de doenças cardiovasculares.

O estudo PREDIMED, foi realizado em forma de ensaio clínico randomizado, multicêntrico, controlado e em grupo, na Espanha, de 2003 a 2010, com o objetivo de avaliar os efeitos da Dieta Mediterrânea na prevenção primária de doenças cardiovasculares (DCVs).

A população do estudo incluiu 7.447 homens e mulheres, com fatores de risco para DCVs, como diabetes tipo 2, tabagismo, hipertensão, colesterol de lipoproteína de baixa densidade alto, colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) baixo, sobrepeso ou obesidade e história familiar de DCV prematura.

O acompanhamento foi realizado por 5 anos, e os participantes foram avaliados por excreção total de polifenóis, questionário de frequência alimentar (QFA), medidas antropométricas e exames de pressão arterial, glicose e perfil lipídico.
  • Avaliação dietética: QFA semiquantitativo e um questionário sobre adesão à dieta tradicional do Mediterrâneo e ingestão de energia e nutrientes (estimada por tabelas de composição de alimentos espanholas).
  • Avaliação do estilo de vida: questionário geral sobre estilo de vida, educação, histórico de doenças e uso de medicamentos e atividade física (avaliada por Questionário de Atividade Física de Lazer do Minnesota).
  • Avaliação antropométrica e clínica: peso, altura, IMC, pressão arterial sistólica e diastólica, amostras biológicas de plasma e urina (coletadas no início do estudo após um jejum de 12 horas), glicose no sangue, colesterol total, triglicerídeos e colesterol HDL.
  • Avaliação da excreção total de polifenóis: amostras de urina espontânea. A excreção total de polifenóis foi determinada utilizando o método de Folin-Ciocalteu com uma extração em fase sólida, removendo interferências urinárias (a PTE é expressa em mg de equivalente de ácido gálico – EAG – por grama de creatinina).
Índice Inflamatório da Dieta (IID)

O Índice Inflamatório da Dieta (IID) foi desenvolvido com base em dados da literatura sobre o efeito de 45 parâmetros dietéticos em 6 biomarcadores de inflamação, onde cada parâmetro recebeu uma pontuação de acordo com seu efeito: 
  • pró-inflamatório (+1), anti-inflamatório (1) ou nulo (0) nos biomarcadores.
A ingestão diária média global de cada parâmetro foi estimada a partir de um banco de dados, e a ingestão individual foi comparada com essa média para calcular um escore z. Os escores, por sua vez, foram centralizados e multiplicados pelo efeito inflamatório geral do alimento.

As variáveis dietéticas avaliadas incluíram energia total, macronutrientes, ácidos graxos, vitaminas, minerais e outros componentes alimentares.

Síndrome Metabólica (SM)

Participantes que preenchiam 3 ou mais dos seguintes critérios receberam o diagnóstico de SM:

  • Circunferência da cintura aumentada: Homens = >102cm | Mulheres = >88cm.
  • Concentrações elevadas de triglicerídeos: >150mg/dL | Tratamento medicamentoso para triglicerídeos elevados.
  • Baixo colesterol HDL: Homens = <40mg/dL | Mulheres = <50mg/dL.
  • Pressão arterial alta: Sistólica = >130mmHg | Diastólica = >85mmHg | Tratamento medicamentoso anti-hipertensivo.
  • Concentrações elevadas de glicose em jejum: >100mg/dL | Tratamento medicamentoso para glicose elevada.
Características gerais dos participantes

Dados demográficos e de saúde foram coletados para a realização do estudo. As principais condições de saúde observadas foram hipertensão e hipercolesterolemia, com tratamentos medicamentosos.

Além disso, cerca de 20% dos participantes eram fumantes, e observou-se uma maior prevalência de prática de atividade física em homens.

Em relação às concentrações de polifenóis na urina, foi constatado que as mulheres apresentaram uma excreção maior (média de 18,3mg EAG/g de creatinina), enquanto os homens apresentaram uma média de 5,7mg EAG/g de creatinina. As mudanças na excreção de polifenóis (PTE) foram semelhantes para homens e mulheres, com média de 7,9mg EAG/g de creatinina para mulheres e 7,7mg EAG/g de creatinina para homens.

Mudanças na ingestão dietética – Após 5 anos

Os resultados do estudo mostraram que na dieta menos inflamatória houve uma menor ingestão de proteínas, especialmente entre as mulheres e um maior consumo de gordura poli-insaturada, incluindo azeite extra virgem, vegetais, frutas, nozes e peixes.

As variáveis dietéticas analisadas diferiram significativamente tanto no início do estudo quanto após 5 anos de acompanhamento, embora não tenham sido encontradas diferenças significativas nas variáveis relacionadas a ácidos graxos monoinsaturados (MUFAs), consumo de álcool e chá entre os participantes.

Principais achados
  • Mulheres: aumento no potencial inflamatório da dieta inversamente associado às mudanças na PTE urinária; dietas mais inflamatórias apresentaram uma PTE menor em comparação com as menos inflamatórias, e a relação foi linear.
  • Homens: nenhuma relação significativa observada entre os grupos de mudança no escore IID e as mudanças na PTE urinária quando comparados os níveis de inflamação nas dietas.
Após 5 anos: aumento na PTE inversamente associado à reversão da SM, em todos os participantes.
Dieta rica em polifenóis como estratégia benéfica na promoção da saúde cardiovascular e metabólica
O estudo revelou uma relação positiva entre a dieta anti-inflamatória e os níveis de polifenóis na urina em mulheres, além de constatar que altos níveis de polifenóis podem estar associados a uma melhora na Síndrome Metabólica em adultos mais velhos com risco de doenças cardiovasculares.

A Dieta Mediterrânea, utilizada no estudo, rica em cereais, vegetais, frutas, nozes e azeite de oliva extravirgem, é conhecida por seu potencial anti-inflamatório devido aos polifenóis presentes em seus alimentos. Os polifenóis têm a capacidade de inibir enzimas pró-inflamatórias e estimular enzimas antioxidantes, contribuindo para seus efeitos benéficos.

No estudo, foi observada uma correlação significativa entre a ingestão de polifenóis e os níveis excretados na urina, e embora homens e mulheres tenham mostrado tendências semelhantes nas mudanças dietéticas ao longo do tempo, apenas as mulheres apresentaram uma associação entre uma dieta anti-inflamatória e níveis de polifenóis urinários.

Os achados ainda mostram os múltiplos benefícios para a saúde associados aos polifenóis, como a redução do risco de desenvolvimento de Síndrome Metabólica e melhora do dismetabolismo pós-prandial.

Em conclusão, o uso do PTE urinário como biomarcador da ingestão de polifenóis mostrou-se preciso e objetivo, ou seja, PTE urinário pode ser um indicador do consumo de uma dieta anti-inflamatória.

Mas eu quero fazer uma dieta antiinflamatória, posso? Qual a melhor?

Sim, se mesmo após todos os argumentos acima, você deseja fazer uma dieta com ação antiinflamatória você tem algumas opções para discutir com o seu nutricionista:
  1. Dieta DASH
  2. Dieta Mediterrânea
  3. Dieta Nórdica
  4. Dieta de Okinawa
Qualquer uma dessas dietas terão alimentos integrais, gorduras com ação mais antiinflamatória, ricas em vegetais. 

Fonte: Riveros, C. A.; Lopez, I. D.; Rimbau, A. T.; et al. Total urinary polyphenol excretion: a biomarker of an anti-inflammatory diet and metabolic syndrome status. The American Journal of Clinical Nutrition, vol. 117, Issue 4, 2023.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416

Cozinha, o coração da casa.

Quem é Carol Morais? 

É minha ex-sócia, amiga, confidente. Alguém que por 2 anos confiei os meus pacientes. Nos conhecemos via twitter em 2009 e rapidamente dividimos o mesmo consultório. Eu fazia a parte médica (nutrológica) e ela a parte nutricional. 

O que me espantava (e aos pacientes também) era a sagacidade e poder de transformar processos dolorosos em experiências saborosas. Não a toa, ganhou a fama de melhor nutricionista de Goiânia na época. Um misto de conhecimento nutricional atrelado à capacidade de ensinar um paciente a se permitir degustar novos sabores. Esse era o seu grande diferencial. 

Na mão da Carol, um café da manhã se tornava uma experiência gastronômica. Descoberta de alimentos, sabores, aromas, texturas. Pronto, um processo de reeducação alimentar deixava de ser monótono para se transformar em uma rotina de autocuidado, auto-amor. Então hoje, apesar da relutância inicial, vejo que a troca do jaleco pelo avental fez muito sentido no cumprimento de um propósito. Por isso, indico de olhos fechados o curso. 

Link para o curso Juntar na cozinha: https://carolmoraiscozinha.com.br/

Este curso é para quem:
  • Não consegue ter uma rotina
  • Quer uma alimentação mais saudável
  • Tem dificuldade de criar cardápios
  • Tá cansada de comer sempre o mesmo

O que você irá aprender:
  • Juntas da Cozinha é um treinamento sobre os princípios básicos da cozinha. Foi desenvolvido para você que deseja estruturar uma rotina de alimentação saudável adaptada ao seu estilo de vida de forma leve e eficiente.
  • No curso você vai desenvolver as habilidades necessárias para você economizar tempo, economizar dinheiro e comer gostoso de forma saudável todos os dias.
  • ESSENCIAL – MENOS É MAIS NA COZINHA: Utensílios, equipamentos e dispensa. Aprenda o que você realmente precisa ou não ter para a sua cozinha funcionar: Aqui você vai ver quais utensílios, equipamentos e ingredientes são essenciais e também o que é mito e o que é verdade do que você já ouviu por aí sobre cozinha e nutrição.
  • CARDÁPIO – COMO CONSTRUIR UM CARDÁPIO INTELIGENTE, FUNCIONAL, ECONÔMICO, FELIZ E GOSTOSO: Chega de sofrer na hora de decidir o que cozinhar. Aprenda a criar o seu próprio cardápio de forma inteligente, levando em conta os seus gostos e as suas necessidades.
  • ROTINA E PLANEJAMENTO: Pare de só se alimentar bem quando tem tempo. Aprenda como se organizar na cozinha e fora dela para que uma alimentação gostosa e saudável faça parte do seu dia a dia.
  • MÃO NA MASSA: RECEITAS E DICAS: Huuuuum! Essa é a hora mais gostosa. Vou dividir com você algumas das minhas receitas favoritas e te dar dicas valiosas na hora de mexer as panelas.

sábado, 17 de setembro de 2022

Sorbet refrescante


O sorbet é uma sobremesa refrescante, sem açúcar, sem conservantes, sem produtos químicos, sem lácteos e muito fácil de fazer. Basta bater a fruta congelada, exigindo um pouco de paciência.

Receita:
✔️Para todos os sabores vc vai precisar de banana. É ela que garante essa textura de sorvete;
✔️Corte a banana (pode ser qualquer uma) em rodelas e congele; Uma dica bacana é congelar os pedaços de banana separados em uma forma para que não grudem uns nos outros e facilite hora de bater.
✔️Faça o mesmo com as outras frutas (usei morangos, manga e amora). Você também pode usar polpa de açaí, maracujá, cajá manga, caqui, abacaxi, framboesa...
✔️Retire as frutas do congelador e aguarde uns 5 minutinhos em temperatura ambiente para amolecer um pouco;
✔️Coloque as rodelas de banana e as frutas de sua preferência e bata com ajuda de um mixer ou processador;
✔️Não tem uma proporção exata, depende de cada fruta. Utilizo uma banana para 5 morangos. Uma banana para duas fatias de manga...;
✔️Se ficar muito duro, é melhor esperar amolecer mais a fruta que colocar água;
✔️Assim que ficar homogêneo está pronto, consuma em seguida ou deixe no congelador. Ideal consumir no mesmo dia. Não precisa adoçar, quanto mais doce a fruta, melhor o resultado.

O que não é especialidade médica de acordo com o Conselho Federal de Medicina

Quase que diariamente alguém me pergunta sobre algumas "novas" especialidades médicas, tais como antiaging, age management, modulador hormonal, medicina antienvelhecimento, medicina funcional, medicina integrativa, medicina ortomolecular. A resposta é sempre a mesma: Isso não é especialidade médica, muito menos área de atuação. 

O Conselho Federal de Medicina (CFM) não reconhece nada disso como especialidade médica e inclusive a divulgação disso como especialidade médica consiste em infração ética, podendo o médico ser punido por isso, conforme a Resolução do CFM Nº 1.974/2011: Art. 3º É vedado ao médico:

a)  Anunciar, quando não especialista, que trata de sistemas orgânicos, órgãos ou doenças específicas, por induzir a confusão com divulgação de especialidade;

l) Fica expressamente vetado o anúncio de pós-graduação realizada para a capacitação pedagógica em especialidades médicas e suas áreas de atuação, mesmo que em instituições oficiais ou por estas credenciadas, exceto quando estiver relacionado à especialidade e área de atuação registrada no Conselho de Medicina.

Para saber se o médico é ou não especialista numa área basta entrar no seguinte link e digitar o nome do médico: https://portal.cfm.org.br/busca-medicos/

Se ele não possui possui registro no conselho federal de medicina, ele NÃO é especialista. Pode ter feito mil pós-graduações mas ele NÃO é especialista.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Pele in forma - Ciência na prática

 

Divulgando o curso do meu amigo Dr. Felipe Savioli. 
https://peleinforma.com.br/

Medicina esportiva e prática dermatológica: efeitos dos suplementos na pele

Para quem é o evento?
  • Para dermatologistas que não sabem tão bem como lidar com a procedência do uso de suplementos esportivos por parte do paciente – e desejam aprimorar seus diagnósticos;
  • Para nutrólogos ou médicos do esporte que querem dominar essa área tão pouco discutida entre os profissionais do meio, tornando-se atuantes diferenciados e mais completos.
Quem é Dr.ª Tatiana Gabbi?
Tatiana Gabbi é médica dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e chefe do ambulatório de Doenças das Unhas do HCFMUSP. É pós-graduada em Nutrologia pela Abran e formada em Medicina pela Universidade de São Paulo. Fez residência médica em Dermatologia no HCFMUSP. É também médica assistente do departamento de Dermatologia do HCFMUSP.

Quem é Dr. Fellipe Savioli?
Fellipe Savioli é nutrólogo e especialista em medicina esportiva, ortopedia e traumatologia – com subespecialidade em joelho. Possui grande experiência no manejo de perda de peso e na prescrição de dietas e suplementação nos diferentes esportes. Oferece um planejamento individualizado, com diferentes estratégias para o avanço contínuo do processo de mudança física do paciente. É professor de pós-graduação, lecionando nutrologia no Hospital Albert Einstein, também nutrologia no IPEMED e medicina do esporte na Univ. Phorte.

15 de Setembro - Dia do Nutrólogo




Parabéns a todos os Nutrólogos de verdade.

A todos os Nutrólogos éticos, transparentes com seus pacientes e que exercem a Medicina de forma digna e responsável.

A todos os Nutrólogos que não enxergam paciente como troféu e nem o expõem em redes sociais. Afinal, todo médico está cansado de saber que isso é infração ética. 

A todos os Nutrólogos que enxergam o paciente em sua totalidade mas nem por isso invadem outras especialidades. Querendo ser Endocrinologista, Ginecologista ou Urologista.

A todos os Nutrólogos que mesmo diante de uma campanha difamatória por parte de alguns profissionais da área da saúde lutam pela moralização da Nutrologia e buscam a cada dia mostrar a importância da especialidade.

Parabéns a todos que honram o título ou residência e vestem a camisa da especialidade. 

A todos que se orgulham de praticar essa especialidade linda.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

O que é o movimento Nutrologia Brasil ?


Criação do movimento Nutrologia Brasil (MNB) e nossos ideais

Fundado em 24/10/2014 pelo médico Nutrólogo Dr. Frederico Lobo, inicialmente era apenas um grupo de whatsApp que visava reunir alunos do Curso Nacional de Nutrologia (CNNUTRO) da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Com o passar dos anos o movimento vem crescendo e reunindo cada vez mais médicos com ideais parecidos:
  • Luta árdua e intensa pela moralização da especialidade, pois,  infelizmente nos deparamos com o preconceito que os demais médicos possuem com relação à Nutrologia;
  • Esclarecimento sobre práticas não reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela ABRAN, práticas estas que muitos médicos utilizam e induzem os pacientes a acreditarem que fazem parte da Nutrologia;
  • Divulgação da especialidade para profissionais da área da saúde e para leigos, com a finalidade de esclarecer o que é a real Nutrologia ensinada pela ABRAN;
  • Educação continuada através de aulas online, ministradas pelos próprios membros do movimento, a fim de trocar experiência clínica;
  • Necessidade de levar aos acadêmicos de Medicina a verdadeira Nutrologia, visto que a maioria das faculdades ainda não possuem o ensino da Nutrologia na grade;
  • Auxílio mútuo entre os membros, com o objetivo de fortalecer a especialidade;
  • Suporte às ligas acadêmicas de Nutrologia de todo o território Nacional.
Composição

No momento o movimento conta com 192 profissionais médicos, a maioria médicos titulados em Nutrologia, coordenadores de residências de Nutrologia, pós-graduações, professores e speakers, além de residentes de Nutrologia. 

Frentes de atuação

Contamos com 5 frentes de atuação:
  • Grupo Nutrologia Brasil (WhatsApp)
  • Grupo Nutrologia Brasil acad (WhatsApp)
  • Grupo NUTRO PDFs  (Telegram), para compartilhamento de artigos
  • Curso de Nutrologia para acadêmicos de Medicina - Online e com duração de 2 anos. 100% gratuito
  • Instagram: @nutrologiabrasil e @cursodenutrologia
  • Site: Movimento Nutrologia Brasil, no qual fazemos divulgação de eventos da área e listamos profissionais titulados que atuam em todo o território nacional.
O que defendemos

O que nós médicos do movimento Nutrologia Brasil defendemos:
1) O combate a práticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina: Exemplo Terapia antienvelhecimento, modulação hormonal;
2) A não prescrição de Dieta HCG para fins de emagrecimento, bem como de métodos sem validação científica. Entendemos que a obesidade deve ser tratada com respeito;
3) A não aprovação da prescrição de hormônios para fins estéticos ou para situações em que não há respaldo na literatura. O uso de hormônios deve ser feito somente quando há real déficit laboratorial;
4) A não prescrição de Implantes hormonais, assim como de soroterapia fora do contexto da terapia nutricional enteral e parenteral;
5) A não publicação de antes e depois de pacientes em redes sociais, já que na nossa visão o paciente não é troféu;
6) A solicitação racional e bem indicada de exames laboratoriais. Sem conchavos com laboratórios;
7) Manutenção dos princípios éticos e morais ensinados pelos pioneiros da Nutrologia no Brasil;
8) Que a responsável pela especialidade no Brasil é a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), é ela que nos representa e é a ela que levamos nossas demandas.

O que não endossamos

E considerando que, 

1) Segundo parecer recente da ABRAN: a prática de modulação hormonal não faz parte do rol de procedimentos Nutrológicos. http://abran.org.br/2018/03/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/
2) A própria ABRAN já se posicionou que algumas práticas não fazem parte do rol de procedimentos Nutrológicos: https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/
3) Segundo decisão recente do Tribunal Regional Federal 5: a justiça reconhece a resolução do Conselho Federal de Medicina que proíbe a Prática de Modulação hormonal: https://www.endocrino.org.br/terapias-hormonais-trf5-reconhece-resolucao-do-cfm/

Decidimos que:

1) Tais práticas não são endossadas pelo movimento Nutrologia Brasil e nem devem ser atreladas à prática nutrológica.

Filiação

Para o médico adentrar ao movimento Nutrologia Brasil ele deve:
1) Preferencialmente ser titulado ou ter feito residência de Nutrologia
2) Concordar com os ideais defendidos pelo movimento e não endossar as práticas que não concordamos
3) Ser indicado por no mínimo 5 profissionais que sejam membros do movimento.

Att

Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo e presidente do Movimento Nutrologia Brasil
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915
CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Selênio: o que é, onde encontrar, quais suas funções

O pessoal do NUTRITOTAL está fazendo uma série sobre os micronutrientes. Está bem completa e como sou leitor assíduo do conteúdo que eles publicam semanalmente, divulgarei. Aproveito para divulgar o site, que é riquíssimo em conteúdo de excelente qualidade.

Eles possuem o:
Ambos super bem elaborados, por uma equipe altamente qualificada. Então sugiro que conheçam: https://nutritotal.com.br/




Série sobre micronutrientes: Selênio

O selênio (Se) é um micronutriente essencial para a saúde humana. Descrito pela primeira vez em 1818 pelo químico sueco Jons Jacob Berzelius, o mineral tomou notoriedade a partir de 1979, quando foi descoberta uma enfermidade decorrente da sua deficiência (a doença de Keshan). Neste artigo, você irá entender quais as funções do selênio, suas recomendações nutricionais, fontes alimentares, e muito mais.

Os “tipos” de selênio 

Em primeiro lugar, precisamos entender as formas de apresentação do selênio. Através da alimentação ou suplementação, o mineral pode ser encontrado nas suas formas orgânicas ou inorgânicas.

As formas orgânicas do selênio são aquelas provenientes da alimentação. Podem ser:

  • Selenometionina: advindas de vegetais e cereais. Apresenta uma alta taxa de absorção, pois pode ser incorporado no lugar da metionina em tecidos como músculo, eritrócitos e albumina plasmática.
  • Selenocisteína: oriunda de carnes bovina, de ave e de peixe. Essa forma está presente nas selenoproteínas, responsáveis por exercer as principais funções biológicas relacionadas a este micronutriente.
  • Seleniometilselenocisteína: forma presente em vegetais cultivados em solos enriquecidos com selênio, com participação no pool para a síntese de selenoproteínas.
Já as formas inorgânicas são aqueles provenientes de suplementos, apresentadas sob duas formas:
  • Selenito: tende a ser preferida na suplementação direta aos animais. Sua absorção não ultrapassa 60%, mas pode aumentar na presença de glutationa reduzida (GSH).
  • Selenato: é a opção usual para ser adicionada aos fertilizantes. É absorvida de forma eficiente (90%)  por um processo de difusão passiva.
O metabolismo do selênio

A absorção do selênio ocorre principalmente na parte inferior do intestino delgado por meio de diferentes rotas e mecanismos, com uma eficiência de aproximadamente 70 a 90% em condições fisiológicas normais.

Os diferentes tipos deste mineral são reduzidos a seleneto de hidrogênio (H2Se). Após sua metabolização (que acontece principalmente no fígado), os compostos orgânicos podem seguir por dois caminhos distintos:

Seguem para a circulação, onde são acumulados em diferentes locais do corpo (fígado, rins, pâncreas, músculos esqueléticos, músculo cardíaco e sangue), ligado principalmente à glutationa peroxidase;
Ou são removidos no próprio fígado pela transulfuração do selênio, sendo que o “novo” selênio será utilizado para a síntese de selenoproteínas.
Por fim, a excreção de selênio ocorre na forma de produtos metilados, principalmente pela urina e fezes, de acordo com a ingestão do mineral. O selênio também pode ser eliminado do organismo por meio da perda de cabelos e células da pele.

Quais as funções deste mineral?

Os papéis do selênio estão diretamente relacionados às funções das selenoproteínas e de produtos do metabolismo do mineral. Suas principais funções são:

  1. Participar do metabolismo da tireoide;
  2. Atuar como antioxidante;
  3. Manutenção do sistema imunológico;
  4. Função neurológica;
  5. Promover a fertilidade masculina.
Metabolismo de tireoide

As iodotironina desiodinases (DIO) são uma família de selenoproteínas que ajudam a converter o hormônio da tireóide (T4) em sua forma ativa (T3). Deste modo, juntamente com o iodo, a ingestão adequada de selênio é de grande importância para prevenir as disfunções desta glândula. Outros micronutrientes, principalmente iodo, ferro, zinco e vitamina A são necessários para o funcionamento adequado da tireoide.

Função Antioxidante

A função antioxidante do selênio se dá principalmente através das selenoproteínas Glutationa Peroxidase (GPx), encontradas em todos os tecidos onde ocorrem processos oxidativos. Basicamente, essas enzimas atuam neutralizando a ação de espécies reativas de oxigênio (EROs) utilizando uma molécula de glutationa reduzida (GSH) como co­fator. Esse processo auxilia os seguintes mecanismos:

  • Proteção do estresse oxidativo no epitélio intestinal;
  • Manutenção da homeostase da mucosa;
  • Neutralização da ação oxidativa de ácidos graxos nas membranas celulares;
  • Redução de hidroperóxidos de colesterol e ésteres de colesterol nas membranas celulares e LDL-colesterol;
  • Bloqueio da peroxidação lipídica no metabolismo dos eicosanóides;
  • Entre outros.
  • Sistema imunológico
  • Diversas evidências mostram o papel do selênio na proteção do sistema imune, tal como na modulação da resposta inflamatória. A suplementação com selenito de sódio, por exemplo, foi capaz de reduzir a expressão gênica de TNF­α e da enzima COX­2 por meio da modulação das vias da MAP quinase e do NF­κB.
A função antioxidante descrita anteriormente também atua no sistema imunológico. Algumas selenoproteínas (como GPx e TXNRD1) são responsáveis por regular a produção de EROs e do estado redox em células imunes. Deste modo, tanto a deficiência quanto a superexpressão dessas substâncias desregulam as funções dessas células, podendo provocar a morte celular ou prejudicar o mecanismo oxidativo necessário às funções fagocíticas.

Em macrófagos periféricos, a selenoproteína S (SELENOS) pode ter papel anti apoptótico e atuar na redução do estresse do retículo endoplasmático.

Por fim, o selênio também se associa à plasticidade de macrófagos durante a resposta imune ocasionada por infecções parasitárias, tuberculose e infecção pelo vírus HIV.

Função neurológica

No cérebro, selenoproteínas como SELENOP e GPx são expressas em neurônios e/ou na glia.  Nestes locais, estas substâncias também são importantes na proteção contra o estresse oxidativo, uma vez que os danos causados por EROs são observados em diversas doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla…).

Já foi demonstrado, por exemplo, que a expressão de SELENOP cerebral aumenta com a idade, indicando a necessidade de proteção contra o estresse oxidativo nos neurônios.

Fertilidade masculina

O selênio exerce um papel importante na fertilidade masculina por ser necessário para biossíntese de testosterona e para o desenvolvimento dos espermatozoides.

Ademais, o estresse oxidativo nas células testiculares pode afetar a integridade e a motilidade do espermatozoide. Para combater essa situação, grande parte do selênio encontrado nos testículos é incorporado na selenoproteína GPx4, que exerce seu papel antioxidante e impede a infertilidade masculina.

Além disso, a GPx4 também exerce um papel estrutural para os espermatozoides maduros. Desse modo, a deficiência de selênio pode prejudicar não só a motilidade do esperma, mas também resultar em alterações morfológicas.

Recomendações nutricionais

A recomendação para Ingestão Dietética Diária (RDA) de selênio varia com a idade e a fase da vida. Na tabela abaixo, você encontra estes valores.



Fontes de selênio

A obtenção de selênio através da alimentação irá depender do solo em que o alimento foi cultivado. Áreas mais próximas de oceanos, por exemplo, possuem solos com concentração naturalmente maior deste mineral.

As fontes alimentares de selênio podem ser advindas de produtos de origem animal ou vegetal. Enquanto os produtos de origem animal possuem a forma de selenocisteína, os produtos de origem vegetal são ricos em selenometionina. Algumas fontes alimentares de selênio são:
  • Castanha-do-Pará;
  • Peixes;
  • Ovo;
  • Farinha de trigo integral;
  • Carne bovina.

Na tabela abaixo, você encontra a quantidade de selênio a cada 100 g de alimento. 

Tabela de composição de alimentos (TACO)

Deficiência de selênio

A deficiência em selênio ocorre quando a ingestão diária desse mineral é menor ou igual a 11 µg/dia. Apesar de não ser comum, as principais causas da deficiência são:
  • Uso de terapia de nutrição parenteral;
  • Problemas gastrointestinais (como a Doença de Crohn e a Síndrome do Intestino Curto);
  • Fenilcetonúria;
  • Indivíduos com hepatopatias, principalmente em decorrência de alcoolismo,  em indivíduos que substituem refeições por bebidas alcoólicas;
  • Baixa ingestão proteica;
  • Indivíduos de áreas com solo pobre em selênio.
Em casos graves, a deficiência de selênio pode causar enfermidades. Uma delas é a Doença de Keshan,  uma cardiomiopatia que acomete, principalmente, mulheres na idade fértil e crianças entre 2 e 10 anos. É caracterizada pelo aumento cardíaco, eletrocardiograma anormal, insuficiência cardíaca congestiva e necrose multifocal do miocárdio.

Outro problema advindo da deficiência grave é a Doença de Kaschin-Beck. Trata-se de uma osteoartrite caracterizada por atrofia, degeneração e necrose do tecido cartilaginoso, que pode resultar em deformação das articulações e nanismo. Esta doença acomete principalmente crianças entre 5 e 13 anos.

Para prevenir a deficiência, alguns estudos nacionais utilizam pontos de corte adotados para a população americana, sendo que os valores normais de selênio são:

Selênio plasmático: 60 a 120 µg/L;
Selênio eritrocitário: 90 a 190 µg/L.

Toxicidade

Assim como a deficiência, a toxicidade por selênio é rara. Contudo, ela pode ocorrer com intoxicação no ambiente de trabalho, inalação de aerossóis e consumo oral de selênio inorgânico.

Os sintomas incluem:
  • Hipotensão;
  • Estresse respiratório;
  • Disfunção gastrointestinal e neurológica;
  • Síndrome respiratória aguda;
  • Infarto do miocárdio;
  • Falência renal.
Além disso, algumas evidências recentes têm observado que o excesso de selênio no sangue está associado ao aumento do risco para diabetes tipo 2, síndrome metabólica, alterações no perfil lipídico, aumento de biomarcadores inflamatórios e aumento da mortalidade.

Por isso, existe um valor máximo de ingestão de selênio para prevenir os seus efeitos adversos, definido pelo Limite Superior Tolerável de Ingestão (UL):


Referências: 
CARDOSO, Marly Augusto; SCAGLIUSI, Fernanda Baeza. Nutrição e Dietética. 2ª edição, Guanabara Koogan, 2019.
COZZOLINO, Silvia M. Franciscato. Biodisponibilidade de nutrientes. 6ª edição, Editora Manole, 2020.


Dicas para quem passará em uma consulta com Nutrólogo

Você está procurando uma consulta com Nutrólogo, não é mesmo? Então tenho algumas dicas valiosas sobre como é a real e verdadeira prática Nutrológica ensinada pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Então aqui reuni algumas dicas...

Dica 1: Saiba se o profissional que você irá consultar é realmente *Nutrólogo*.  Como saber se o médico em questão é especialista? É bem simples, basta acessar: https://portal.cfm.org.br/busca-medicos/ e digitar o nome do médico e o estado onde ele atua. Se ele tem RQE (registro de qualificação de especialista) de Nutrologia, ele é Nutrólogo. Ou seja, ele só pode divulgar em redes sociais que é Nutrólogo se tiver o RQE, do contrário configura uma infração ética e propaganda enganosa.

Dica 2: Consulta Nutrológica é composta por: Anamnese, exame físico e explicação sobre as hipóteses diagnósticas e conduta.
A) Anamnese:  Nessa fase extrai-se dos pacientes a queixa principal, a história da doença/situação atual. Para posteriormente chegar a um diagnóstico e tomar a melhor conduta terapêutica.
B) Exame físico: Nessa fase geralmente afere-se a pressão arterial sanguínea, verifica-se a saturação de oxigênio, frequência cardíaca, frequência respiratória, verifica-se o enchimento capilar, grau de hidratação, o peso, quantifica-se a altura. Verifica-se a força muscular do paciente através de um aparelho chamado dinamômetro. Enfim, faz-se o exame físico completo na primeira consulta: ausculta pulmonar, cardíaca, examino o abdome palpando, percutindo, auscultando o mesmo. Examina-se as articulações, os edemas de membros inferiores, estalidos e crepitações nas articulações. Olha-se as mucosas, examina a língua, as unhas. Muita gente se contenta apenas com bioimpedância. Você está pagando por uma avaliação física, exija isso.
C) Explicação das hipóteses diagnósticas e solicitação de exames complementares caso sejam necessários. O médico pode solicitar desde exames simples de sangue até exames mais complexos como Ressonância nuclear magnética, Polissonografia, Calorimetria indireta. Aqui vale uma ressalva que me incomoda muito: Quem pratica a semiologia médica de forma tradicional, sabe que existe uma sequência lógica na consulta. Primeiramente escuta-se o paciente, depois examina-se. Só então solicitamos os exames que podem confirmar hipótese diagnóstica. Ou seja, o médico Nutrólogo deve ser capaz de formular as possíveis hipóteses de diagnóstico e solicitar se necessário os exames complementares que vão auxiliar a confirmar a suspeita.
D) Conduta: Nessa etapa pode ocorrer a prescrição de algo para agilizar o tratamento. Raramente faço isso, prefiro ver os exames e não tomar condutas às cegas. Nesta etapa envio para o e-mail do paciente alguns questionários nos quais tento obter mais informações para fechar o diagnóstico. Solicitando que ele preencha um recordatório alimentar para quantificar o quanto está ingerindo de calorias, proteínas, gorduras. Se a qualidade da alimentação é boa. 

Nesse texto explico como, na minha opinião, deve ser uma consulta nutrológica: https://nutrologojoinville.com.br/a-nutrologia/a-consulta-nutrologica/

Dica 3: Segundo a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) não fazem parte da Nutrologia:
Ozonioterapia, Prática Ortomolecular, Soroterapia da Beleza, Uso de hormônios para fins estéticos, Modulação hormonal, Medicina antienvelhecimento. O documento está no site da própria ABRAN: https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/

Dica 4: Tratamento nutrológico geralmente é um acompanhamento por toda a vida,  desconfie de tratamentos miraculosos e de difícil adesão (quantidades excessivas de medicações a serem tomadas, fórmulas com preços exorbitantes). Eles geralmente não são sustentáveis ao longo prazo. Ninguém quer ficar dependente de várias medicações por toda a vida.

Dica 5: Desconfie de tratamentos que são proibidos pelo Conselho Federal de Medicina, tais como terapia antienvelhecimento, modulação hormonal. Sendo que a própria ABRAN tem em seu site um parecer sobre Modulação Hormonal: https://abran.org.br/2018/03/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/

Dica 6: A prática de comercializar medicações/suplementos dentro do consultório é proibida. Está vetada no código de ética médica no capítulo VIII e artigo 69: “ Exercer simultaneamente a medicina e a farmácia ou obter vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela prescrição e/ou comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza, cuja compra decorra de influência direta em virtude de sua atividade profissional.” 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Tem diabetes e dificuldade no controle da glicemia ?

Você tem diabetes e está com dificuldades de controlar seu nível glicêmico?

Então veja algumas dicas que separamos para te auxiliar nesse processo:

➡️Associe sempre o consumo dos carboidratos com outros macronutrientes, como as proteínas e gorduras (tapioca ou pão integral associado com ovos, atum, frango desfiado OU frutas com oleaginosas/sementes, por exemplo). Essa estratégia reduz a velocidade de absorção dos carboidratos, reduzindo os "picos" de açúcar no sangue;

➡️Prefira sempre consumir carboidratos complexos que são mais ricos em fibras (arroz integral, pão integral, mandica, batatas, cará, inhame, leguminosas). As fibras também reduzem a velocidade de absorção do alimento, além de favorecerem uma melhor saciedade;

➡️Comece sua refeição pelos vegetais, mastigando-os muito bem e finalize depois pelo prato principal. Coloque pelo menos 300g de folhosos e vegetais divididos ao longo do dia;

➡️Faça a distribuição adequada da quantidade de carboidratos por refeição (prescrito pelo Nutricionista), evitando excessos concentrados no mesmo horário;

➡️Evite a utilização de açúcares e dê preferência aos adoçantes, caso precise adoçar alguma preparação. Stevia, xilitol, eritritol e sucralose, por exemplo, são algumas das opções;

➡️Controle sua ingestão calórica ao longo do dia. O superávit ("excesso") calórico, principalmente no paciente diabético com excesso de peso, pode dificultar significativamente no controle da glicemia;

O acompanhamento individualizado com Nutricionista é fundamental para controle do quadro do diabetes.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

sábado, 3 de setembro de 2022

Setembro amarelo - A importância da escuta especializada

 


Por quase 15 anos relutei adentrar esse tema. Perdi meu pai no dia 10 de setembro de 2003, ironicamente ele suicidou no dia mundial de prevenção do suicídio. Assunto espinhoso e que por muitos anos foi tabu pra mim. 

O setembro amarelo começou nos Estados Unidos, quando Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994. Era um jovem muito habilidoso e restaurou um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo. Por conta disso, ficou conhecido como "Mustang Mike". Seus pais e amigos não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte.

No dia do velório, foi feita uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas. Dentro deles tinha a mensagem "Se você precisar, peça ajuda.". A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio. Em consequência dessa triste história, foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio, o laço amarelo.

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organiza, em todo o país a campanha do setembro amarelo. Na qual durante todo o mês procuramos conscientizar as pessoas sobre o suicídio, bem como evitar o seu acontecimento. Falar sobre suicídio é importante.

Ao longo dos anos fui sabendo de várias histórias de médicos que, assim como meu pai suicidaram. Pai e mães de colegas médicos, amigos, profissionais da área da saúde, familiares, professores e alguns pacientes. Baseado nesse histórico, ao longo de quase toda minha vida profissional sempre questionei na consulta sobre ideação suicida. As vezes durante a consulta, as vezes no questionário pós-consulta. E pasmem, é muito prevalente. Uma boa parte das pessoas tiveram alguma vez na vida ideação suicida e isso não quer dizer que elas um dia suicidarão. Porém, atenção deve ser dada!

De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde - OMS em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 1 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas suicidam por dia no Brasil, o que significa que o suicídio mata mais brasileiros do que doenças como a AIDS e o câncer.

O assunto é envolto em tabus, por isso, a organização da campanha da ABP acredita que falar sobre o tema é uma forma de entender quem passa por situações que levem a ideias suicidas.

Com isso, podemos ajudá-las a partir do momento em que as ideações são identificadas. É por isso que “Falar é a melhor solução” é o slogan da campanha, cujos envolvidos na sua organização acreditam que conscientizando as pessoas poderemos prevenir 9 em cada 10 situações de atos suicidas.

Embora os números estejam diminuindo em todo o mundo, os países da América vão na contramão dessa tendência, com índices que não param de aumentar, segundo a OMS. Sabe-se que praticamente 100% de todos os casos de suicídio estavam relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Dessa forma, a maioria dos casos poderia ter sido evitada se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade. Pós-pandemia o cenário é ainda pior.

Falar importa?

Sim, falar importa, ouvir também, mas, quando falamos de ideação suicida devemos ter em mente que o mais adequado é uma escuta especializada. E o que seria isso? É a escuta feita por um profissional que entende do tema e que inclusive conhece técnicas para fazer o paciente falar e essa fala ser terapêutica. Competência técnica e científica.

Cansei de ver nos últimos anos pessoas totalmente despreparadas falando em redes sociais (no mês de setembro) que estavam abertas para conversar com quem estivesse em sofrimento psíquico. "Quem estiver mal me chame no direct para conversar", Isso é irresponsável. 

Os profissionais mais habilitados para isso são os psicólogos e psiquiatras. Eles tem estudo/formação na área, formas de manejar, técnicas para lidar com a prevenção do suicídio. Isso não quer dizer que essas pessoas não possam dar suporte, mas se realmente quer ajudar, oriente essa pessoa a ter um suporte especializado. Isso é o correto. O paciente com sofrimento psíquico precisa de escuta especializada. Saber ouvir também é uma arte.

Temos então vários entraves na prevenção do suicídio. O primeiro é que a maioria desses pacientes possuem alguma doença psiquiátrica de base e que na maioria das vezes não foi diagnosticada. Ou seja, devemos normalizar que se a pessoa apresenta algum sintoma psiquiátrico como rebaixamento do humor, oscilações, insônia, abuso de substância, ela obrigatoriamente deve buscar auxílio de um médico psiquiatra. Passou da hora de quebrarmos o estigma de que psiquiatra é "Médico de louco". É o médico que lida com a saúde mental, com o sofrimento psíquico. 

O segundo entrave consiste no fato de muitos brasileiros não conseguirem ter acesso a um médico psiquiatra. Ou seja, todas as esferas do governo precisam criar mais núcleos de saúde mental. Pelo menos nas cidades onde resido, é bastante difícil conseguir rapidamente vaga com psiquiatra no SUS e até mesmo por planos de saúde.  Caso não tenha a possibilidade de passar por um Médico Psiquiatra, uma avaliação psicológica torna-se uma boa estratégia.

Outro entrave é a pouca quantidade de serviços de psicologia ofertados pelo SUS. Lido com obesidade e a psicoterapia faz parte dos pilares no tratamento do portador de obesidade. Meus pacientes levam meses para conseguir acesso a um profissional na área. Se esse paciente que teve ideação suicida e está em sofrimento psíquico demora a ter acesso, pode ser que no meio do caminho ele suicide. Faz-se necessário um maior acesso a esses profissionais.

Essa dificuldade no acesso não ocorre somente no SUS. Por anos, os planos de saúde limitaram o número de consultas com psicólogos. A agência nacional de saúde suplementar (ANS) aprovou em 2022 o fim da limitação ao número de consultas e sessões com psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Agora, os planos de saúde terão que oferecer cobertura ilimitada para pacientes com qualquer doença ou condição de saúde listada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Acredito que isso auxiliará muito na prevenção do suicídio. 

Além desses entraves temos diversos outros fatores que podem impedir a detecção precoce e, consequentemente, a prevenção do suicídio. 

O estigma e o tabu relacionados ao assunto são aspectos importantes. Durante séculos de nossa história, por razões religiosas, morais e culturais o suicídio foi considerado um grande erro. Culpando aqueles que o querem  ou  que consumam o ato. O sofrimento psíquico do suicida em potencial é negligenciado. Ele não é acolhido e ouvido, pelo contrário, é recriminado. Como se ele tivesse culpa daquele anseio.

O suicídio é um fenômeno presente ao longo de toda a história da humanidade, em todas as culturas. É um comportamento com determinantes multifatoriais e resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. Sendo assim, deve ser considerado como o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do paciente, não podendo ser considerado de forma causal e simplista apenas a determinados acontecimentos pontuais da vida do sujeito. É a consequência final de um processo.

Pessoas que já tentaram suicídio tem de 5 a 6 vezes mais chance de tentar o ato novamente. A posvenção inclui as habilidades e estratégias para cuidar de si mesmo ou ajudar outra pessoa a se curar após a experiência de pensamentos suicidas, tentativas ou morte.

Fatores protetores: existem alguns fatores relacionados à vida de uma pessoa, que podem atuar como proteção para o suicídio.

  • Ausência de doença mental
  • Autoestima elevada
  • Bom suporte familiar
  • Capacidade de adaptação positiva
  • Capacidade de resolução de problemas
  • Estar empregado
  • Realização de pré-natal
  • Laços sociais bem estabelecidos com amigos e familiares
  • Relação terapêutica positiva
  • Frequência a atividades religiosas
  • Ter sentido existencial
  • Senso de responsabilidade com a família
  • Ter crianças em casa 

Fatores de risco: existem alguns fatores que aumentam o risco de suicídio: 


1) Abuso sexual na infância:

2) Maus tratos, abuso físico, pais divorciados, transtorno psiquiátrico familiar, entre outros fatores, podem aumentar o risco de suicídio. Na assistência ao adolescente, os médicos, os professores e os pais devem estar atentos para o abuso ou a dependência de substâncias associados à depressão, ao desempenho escolar pobre, aos conflitos familiares, à incerteza quanto à orientação sexual, à ideação suicida, ao sentimento de desesperança e à falta de apoio social. Um fator de risco adicional de adolescentes é o suicídio de figuras proeminentes ou de indivíduo que o adolescente conheça pessoalmente. Existe, também, o fenômeno dos suicidas em grupo ou comunidades semelhantes que emitem o estilo de vida.

3) Alta recente de internação psiquiátrica

4) Impulsividade/Agressividade

5) Isolamento Social: a pandemia favoreceu bastante o aumento do número de suicídios devido o isolamento social prolongado, mas fora da pandemia, a presença de comportamento antisocial é um fator de risco.

6) Suicídio na família: o risco de suicídio aumenta entre aqueles com história familiar de suicídio ou de tentativa de suicídio. Estudos de genética epidemiológica mostram que há componentes genéticos, assim como ambientais envolvidos. O risco de suicídio aumenta entre aqueles que foram casados com alguém que se suicidou.

7) Tentativa prévia: esse é o fator preditivo isolado mais importante. Pacientes que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente. 

8) Doenças mentais: sabemos que quase todos os suicidas tinham uma doença mental, muitas vezes não diagnosticada, frequentemente não tratada ou não tratada de forma adequada. Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas e transtornos de personalidade e esquizofrenia. Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja, quanto mais diagnósticos, maior o risco. o. Na figura abaixo temos os diagnósticos mais frequentemente associados ao suicídio.


9) Doenças clínicas não psiquiátricas e incapacitantes: diversas doenças são associadas ao suicídio de maneira independente de outros dois fatores de risco bem estabelecidos, como a depressão e o abuso de substâncias. As taxas de suicídio são maiores em pacientes com:
  • Câncer, HIV, doenças neurológicas, como esclerose múltipla, doença de Parkinson, doença de Huntington e epilepsia; doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico. doença pulmonar obstrutiva crônica, além de doenças reumatológicas, como o lúpus eritematoso sistêmico.
Os sintomas não responsivos ao tratamento e os primeiros meses após o diagnóstico também constituem situações de risco. Pacientes com doenças clínicas crônicas apresentam comorbidades com transtornos psiquiátricos, com taxas variando de 52% a 88%. Portanto, é necessário rastrear sintomas depressivos e comportamento suicida nesses pacientes, especialmente diante de problemas de adesão ao tratamento.

Toda pessoa tem alguns fatores protetivos e alguns fatores de risco para o suicídio. Sendo assim, na prevenção ao suicídio, várias medidas podem ser tomadas para aumentar os fatores de proteção e diminuir os de risco:
  • Aumentar contato com familiares e amigos
  • Buscar e seguir tratamento adequado para doença mental
  • Envolvimento em atividades religiosas ou espirituais
  • iniciar atividades prazerosas ou que tenham significado para a pessoa, como trabalho voluntário e/ou hobbies
  • Reduzir ou evitar o uso de álcool e outras drogas 
É super comum que em situações de crises, especialmente se a pessoa tem uma doença mental, surjam pensamentos de morte e mesmo de suicídio. No entanto, felizmente, a imensa maioria das pessoas que pensa em suicídio encontra melhores modos de lidar com os problemas e superá-los. Para isso, é essencial identificar o problema e buscar os diversos modos saudáveis e construtivos de enfrentá-lo.

Mitos sobre o suicídio 

Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento suicida.  O estigma resulta de um processo em que pessoas são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas. A tabela 1 ilustra os mitos sobre o comportamento suicida. O conhecimento pode contribuir para a desconstrução deste estigma em torno do comportamento suicida.

Caso precise de indicação de Psiquiatra e/ou Psicólogo, tenho uma lista aqui. Todos atendem presencial e online. 

Se chegou a esse texto por estar apresentando ideação suicida (nesse momento), sugiro ligar para o CVV – Centro de Valorização da Vida. O CVV é um serviço de apoio emocional gratuito e realizado por voluntários. Em 2017, foram cerca de 2 milhões de atendimentos. O modelo é sigiloso e não diretivo, ou seja, não há aconselhamento ou julgamento. Realizam suporte emocional e prevenção do suicídio, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (nº188), e-mail e chat. O serviço está disponível 24 horas por dia. Link: https://www.cvv.org.br/ 

Uma outra opção é procurar auxílio em algum pronto-socorro psiquiátrico. 


Fontes:
http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416