sábado, 9 de fevereiro de 2013

"Desintoxicação é mudar a consciência sobre o que se come", diz médico alemão


Formado em medicina pela Freie Universitat de Berlim, o alemão Matthias Girke é especialista em diabetes e medicina interna --área dedicada à atenção integral do paciente, focalizada no diagnóstico e no tratamento não cirúrgico das doenças.

Fundador e diretor médico do Hospital Havelhoe, na capital da Alemanha, Girke faz parte da Sociedade Alemã de Médicos Antroposóficos, prática que busca tratar o homem em seus aspectos físicos, psíquicos e espirituais.

Ele, no entanto, não vê conflito entre as práticas convencionais e a antroposofia. "Não é 'alternativa'. A antroposofia faz as mesmas coisas que a medicina convencional, mas integra outros níveis no tratamento das pessoas", afirma.

Girke veio ao Brasil para um seminário médico na Associação Brasileira de Medicina Antroposófica organizado pela Weleda, marca de remédios e cosméticos naturais. Na ocasião, falou à Folha sobre a visão antroposófica das dietas de desintoxicação.

Folha - Como é um programa de desintoxicação do organismo segundo os princípios da antroposofia?

Matthias Girke - A antroposofia trabalha em quatro níveis. O primeiro é o físico, em que podem ser usados os mesmos recursos da medicina convencional; o segundo é o sistema imunológico, o uso dos recursos do próprio corpo para a cura; o terceiro é o nível da alma, ou o bem-estar psíquico; e o quarto é a biografia da pessoa, o que aconteceu com ela nos ciclos de desenvolvimento: do nascimento aos 21 anos, dos 22 anos aos 42 anos etc.

Então, é preciso analisar, no nível físico, quais são as reações de cada organismo em relação às toxinas presentes nos alimentos, no ar que respiramos etc. No nível imunológico, procurar reforçar os sistemas corporais que ajudam na eliminação dessas toxinas. Pode ser por meio da alimentação ou exercícios, por exemplo. No nível psíquico, a redução do estresse, que faz o próprio organismo produzir substâncias inflamatórias e tóxicas.

E no nível biográfico?

O ideal seria que, desde pequenas, as pessoas comessem alimentos sem corantes artificiais, agrotóxicos e outros produtos químicos. Mas, se não foi assim que ela cresceu, pode rever a educação alimentar que teve na vida e mudar seus conceitos. Desintoxicação é mudar a consciência sobre o que se come.

Há alimentos que ajudam o organismo a eliminar toxinas?

A associação entre um alimento e a desintoxicação é muito simplista. É possível reforçar os mecanismos do próprio corpo para eliminação de toxinas com alguns chás, como o de bétula, mas o principal é diminuir a ingestão de alguns alimentos.

Quais alimentos é preciso evitar?

Atualmente, há muita comida com alta concentração de fosfato: carnes vermelhas, embutidos, refrigerantes. É bom evitá-las para desintoxicar o organismo. Também é bom reduzir o consumo de alimentos enriquecidos com iodo e com flúor.

No Brasil, a água do abastecimento é fluoretada...

É mesmo? Não é assim na Alemanha. Bem, não dá para mudar o sistema de abastecimento de água, mas é possível mudar nossas escolhas alimentares. Isso já faz diferenç

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1222457-desintoxicacao-e-mudar-a-consciencia-sobre-o-que-se-come-diz-medico-alemao.shtml

Decisão do STJ afasta temor de que Código Florestal irá anistiar proprietários rurais


O entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afasta qualquer temor de que o novo Código Florestal pudesse anistiar proprietários rurais que desmataram áreas de preservação permamente, reserva legal ou áreas de uso restrito É a avaliação do procurador chefe nacional do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e integrante da Advocacia-Geral da União (AGU), Henrique Varejão de Andrade.

“A decisão do STJ não contradiz a lógica que foi concebida pelos diversos setores que construíram o novo Código Florestal”, disse. Segundo Varejão, está lógica prevê que as autuações aplicadas até 2008, quando foi publicado o decreto anterior à atual legislação, podem ser convertidas em serviços de melhoria de proteção e conservação ambiental.

A Segunda Turma do STJ, em julgamento do ano passado, decidiu que multas aplicadas a proprietários rurais que desrespeitaram o Código Florestal de 1965 não são automaticamente anuladas com a nova lei, de 2012. Os ministros entenderam que a multa aplicada não é anistiada, e sim revertida em outras obrigações administrativas que precisam ser cumpridas pelo proprietário. Entre elas, a inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR), a assinatura de termo de compromisso e a abertura de procedimento administrativo no programa de regularização ambiental.

“O MMA [Ministério do Meio Ambiente] deve publicar uma portaria criando o cadastro ambiental rural que vai ter informações sobre o que é e como estão as APPs [áreas de preservação permanente], reservas legais e áreas de uso restrito. Todas as situações de irregularidade vão ficar claras. O Executivo federal e estatual percisa criar programas de recuperação”, disse Varejão.

Com esta regra, segundo ele, os prorpietários que assinarem termos em que se comprometem a recuperar áreas podem ter o valor da multa substituído. “Enquanto eles estiverem cumprindo a obrigação, o auto da multa vai ser suspenso, e quando concluir a recuperação, o valor será extinto. Com isto, fica claro que o temor da anistia é infundado”, disse

Gilman Viana, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura do Brasil (CNA), a decisão do STJ, baseada em um processo de um produtor do Paraná que pedia anulação de uma multa, deve ainda ser considerada em um posicionamento nacional da Justiça. “A Procuradoria-Geral da República apresentou ação no STF [Supremo Tribunal Federal] defendendo que as multas não podem ser negociáveis, mas o pedido ainda não foi acolhido”, disse.

Para Viana, o cenário não mudou com a decisão do STJ, mas deixou uma interrogação. “A CNA entende que o texto do novo código ainda precisa avançar. É mais avançado que o código antigo, mas depois de aplicar regras vamos ter que examinar e aplicar novas exigências”, concluiu.

Hábito de comer fora de casa aumenta risco de excesso de peso e hipertensão


Entre os paulistanos, quem tem o hábito de comer fora de casa tem também maior risco de estar acima do peso. Essa é a conclusão de um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que também mostrou que a variedade de alimentos consumidos em restaurantes e lanchonetes, mais ricos em gordura, está associada a um maior índice de hipertensão.

O estudo se baseou em dados do Inquérito de Saúde de Base Populacional no Município de São Paulo (ISA-Capital), feito entre 2008 e 2009 e financiado pela Secretaria Municipal da Saúde. Foram 834 pessoas entrevistadas, entre adolescentes, adultos e idosos, das quais 32% afirmaram fazer pelo menos uma refeição fora de casa por dia.

Segundo os resultados da pesquisa, 59% dos frequentadores de restaurantes apresentam excesso de peso ou obesidade. Já na população geral adulta da cidade de São Paulo 47,9% se enquadra na categoria de excesso de peso, de acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2011. Ainda segundo o estudo, 26% dos que comem fora têm hipertensão. Na população geral, de acordo com a Vigitel, esse índice é de 22,5%.

As refeições mais frequentemente realizadas fora são as intermediárias, como o lanche da manhã ou o lanche da tarde: 45% dos que comem fora afirmaram ter consumido essas refeições em estabelecimentos comerciais; 30% consomem o almoço; 15% consomem o café da manhã e 10% consomem o jantar. A média de calorias consumidas fora de casa por refeição foi de 628 calorias.

Gordura

Segundo a autora do estudo, a nutricionista Bartira Gorgulho, o consumo de alimentos gordurosos é facilitado em restaurantes e lanchonetes. "De maneira geral, as pessoas comem mal independentemente do lugar. Observamos que, quando comem fora de casa, há um consumo maior de gordura. A oferta de gordura é maior e as pessoas procuram comer o que não têm tanta oportunidade de comer dentro de casa, como uma variedade maior de carnes e frituras", observa.

Bartira acrescenta que é perfeitamente possível ter uma alimentação saudável fora de casa sem gastar muito com isso. Restaurantes por quilo, por exemplo, geralmente oferecem várias opções de verduras e legumes.

Na opinião do médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), quem come fora de casa não costuma observar o tamanho das porções e, com isso, corre o risco de exagerar. Ele observa que pratos maiores oferecidos pelos restaurantes podem induzir as pessoas a pegar mais comida.

"A comida por quilo é uma grande invenção, mas é preciso refletir o que vai escolher", diz o nutrólogo. Um dos erros mais comuns, segundo ele, é servir-se de vários tipos de carboidratos - juntando num mesmo prato arroz, purê de batata e macarrão, por exemplo - ou vários tipos de proteína, como carne bovina, linguiça e frango. "Por outro lado, o espaço para salada geralmente é pequeno. As pessoas não dão muito esse direcionamento. É o erro mais comum", aponta Ribas Filho.

Para a nutricionista Ariana Fernandes, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), um dos motivos que elevam a quantidade de calorias das refeições feitas fora de casa é a falta de tempo. "Muitas vezes, as pessoas optam por um lanche rápido, que quase sempre é bem mais calórico que uma refeição balanceada."

Desafio diário

Para quem tem de comer fora todo dia, manter uma dieta balanceada é um desafio. A assistente de marketing Karla Ikeda, de 25 anos, conta que a alimentação diária acaba variando conforme a companhia que ela escolhe. "Às vezes, se saio com o pessoal que come besteira, acabo comendo também. Mas, sempre que posso, tento comer em restaurante por quilo", conta.

A estratégia para balancear o cardápio, segundo Karla, é preencher metade do prato com salada e a outra metade com arroz, carne e algum legume cozido.

O brasileiro come fora cada vez mais. A Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) aponta que, em 2003, os gastos com alimentação fora do domicílio entre a população urbana representava 25,7% dos gastos totais com alimentação. Em 2009, essa parcela subiu para 33,1%.

Fonte: http://www.medicando.com.br/conteudo/noticia/habito-de-comer-fora-de-casa-aumenta-risco-de-excesso-de-peso-e-hipertensao

Vitamina D e obesidade por Dr. Alexandre Ferreira



Vitamina D ajuda você a ter ossos fortes, limar gordura e peso, turbina seu coração e as defesas do organismo e mais…

Pesquisa no periódico internacional Clinical Nutrition, afirmou que um café da manhã farto em vitamina D e cálcio ajuda seu corpo a regular o gasto energético e o apetite nas 24 horas seguintes. Quando possui bom nível de vitamina D, o corpo libera mais leptina. Esse hormônio manda mensagens ao cérebro informando que você já está cheio, não precisa mais comer. A leptina é um regulador do apetite. Vitamina D em baixa no organismo significa menos leptina e pratos mais cheios. A deficiência do nutriente também está ligada à resistência à insulina, o que em geral leva à fome excessiva.

Se houver concentração de vitamina D satisfatória no seu organismo, você também tende a produzir e estocar menos gordura. Quando há deficiência de vitamina D, os níveis de paratormônio (PTH) e calcitrol se elevam. E isso é ruim. Faz seu organismo estocar gordura em vez de queimá-la. Pesquisas recentes apontam que níveis elevados de PTH aumentam em 40% os riscos de o homem ficar acima do peso. A vitamina D facilita sua convivência com a balança.

A Vitamina D ainda detona aquelas saliências estacionadas no seu abdome. Trabalhos da Universidade de Minnesota (EUA) e da Universidade Laval (Canadá) revelaram que vitamina D reduz as medidas da sua pança. O nutriente pode agir em parceria com o cálcio para reduzir a produção de cortisol, o hormônio do estresse que favorece a formação da gordura corporal.

Uma alimentação repleta de vitamina D e cálcio favorece perder 70% mais peso do que uma dieta com teor calórico igual, mas isenta de boas doses desses nutrientes.

A vitamina D atua como um hormônio acumulando múltiplas tarefas. Nos últimos 20 anos, foram descobertos receptores de vitamina D em mais de 40 diferentes tecidos do corpo, incluindo coração e músculos. Sendo assim, a deficiência de vitamina D pode estar relacionada a diversos males cardiovasculares, no sistema imunológico, nos ossos até alguns tipos de cânceres. Taxa de Vitamina D em ordem no organismo faz bem ao coração como exercícios físicos. Bateu pressão alta? O nutriente auxilia você a mantê-la sob medida salubre. Tem tendência genética a desenvolver diabetes? Estudos mostraram que vitamina D também pode ser parceira para evitar esse diagnóstico. Quer mais? Há. O nutriente entra no grupo dos agentes que defendem você contra o câncer de próstata. Até a perda de memória aumenta a lista dos males que podem ser prevenidos se você não deixar seu tanque de vitamina na seca.

Peixes

Invista nos tipos gordurosos: salmão, cavala, atum e sardinha, chegam a ter quatro vezes mais vitamina D que os chamados peixes magros: linguado, cação e robalo. Os “gordos” ainda oferecem altas quantidades de ômega 3, ácido graxo que age junto com a vitamina D na promoção da sua perda e na sua inibição do crescimento de células cancerígenas no corpo. Além disso, ao consumir peixes você também aproveita o benefício da proteína que favorece o controle do apetite.

Ovos

Assim como os peixes gordurosos, os ovos contêm vitamina D, ômega-3 e proteína. Numa dieta de baixa caloria, coma-os com gema já no café da manhã e aumente sua perda de peso em até 65%, indica estudo da Universidade de Saint Louis (Estados Unidos).

Sol na pele

A vitamina D está em diversos alimentos, mas é a exposição solar que dispara os efeitos dela no corpo. Porém, você não precisa passar horas se esturricando. Para evitar a deficiência de vitamina D, deve-se reservar de 10 a 15 min. De exposição solar, em horários em que a radiação não é intensa, antes de 10h e após 16h, no mínimo três vezes por semana. Basta expor braços e pernas ao sol (mas sem protetor solar).

Até mais!

Autor: Dr. Alexandre (CRM 108116) é graduado em Medicina pela Universidade do Oeste Paulista. Possui 4 especializações, sendo elas em: Clínica Médica, Endocrinologia, Nutrologia e Nutrição Esportiva. Autor de capítulos dos livros Abordagem Farmacológica no Diabetes, Emergências no Diabetes e, também coordenador do departamento de Endocrinologia do Hospital Geral do Pirajussara.

Fonte: http://www.educacaoemdiabetes.com.br/2013/01/16/como-a-vitamina-d-ajuda-emagrecer/

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dossiê virtual: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde





Nos últimos três anos o Brasil vem ocupando o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo.

Os impactos à saúde pública são amplos porque atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais como trabalhadores em diversos ramos de atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos nós que consumimos alimentos contaminados.

 Tais impactos são associados ao nosso atual modelo de desenvolvimento, voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação.

Nos recentes eventos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), como o I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental e o V Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, foram aprovadas moções sugerindo um maior envolvimento de nossa entidade com essas questões, principalmente as relacionadas aos agrotóxicos.

O Grupo técnico de Saúde e Ambiente da ABRASCO tem produzido várias reflexões sobre esse tema e, em sua oficina realizada no VIII Congresso Brasileiro de Epidemiologia, decidiu contribuir com a iniciativa de construir, junto com os GTs, Comissões e associados da ABRASCO, um Dossiê sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde no Brasil.

Esse Dossiê visa alertar, por meio de evidências científicas, as autoridades públicas nacionais, internacionais e a sociedade em geral para a construção de políticas públicas que possam proteger e promover a saúde humana e dos ecossistemas impactados pelos agrotóxicos.

Para fazer o download de cada um deles basta clicar:


Dossiê Parte 1 – Agrotóxicos, segurança alimentar e nutricional e saúde

Dossiê Parte 2 – Agrotóxicos, saúde, ambiente e sustentabilidade

Dossiê Parte 3 – Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes

Fonte: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio /Fiocruz

Existe uma associação entre mortalidade por câncer e uso de agrotóxicos? Uma contribuição ao debate


Is there an association between cancer mortality and agrotoxics use? A contribution to the debate
Paulo Fernandes Costa JobimI; Luciana Neves Nunes II; Roberto GiuglianiI,IV; Ivana Beatrice Manica da CruzIII
IPrograma de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos 2400, Bairro Santana. 90035-003 Porto Alegre RS. pjobim@uol.com.br
IIDepartamento de Estatística, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
IIIDepartamento de Morfologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Maria
IVDepartamento de Genética, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul



RESUMO
O uso crônico de agrotóxicos em regiões rurais no Estado do Rio Grande do Sul (RS) tem sido tentativamente relacionado a um possível aumento na incidência de câncer nos trabalhadores rurais. Foi realizado um estudo ecológico de série temporal (1979 a 2003) na microrregião (MI) de Ijuí, no Estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, com dados anuais do Sistema do Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde (DATASUS), para avaliar o comportamento do coeficiente de mortalidade por câncer, padronizado por idade e sexo. Utilizou-se um modelo de regressão linear simples e múltipla para estimar, respectivamente, as taxas de mortalidade e as diferenças entre as três regiões estudadas. A MI e o RS apresentam maior taxa média de mortalidade tanto em homens quanto em mulheres, sendo significativamente diferentes das observadas para o Brasil como um todo.
Palavras-chave: Agrotóxicos, Câncer, Agricultura, Medicina do trabalho, Riscos ocupacionais

ABSTRACT
The chronic use of agrotoxics in rural regions of Rio Grande do Sul State (RS) has been tentatively associated to a possible increase in the incidence of cancer in rural areas. A time-trend ecological study was performed in the micro region of Ijuí County (MI), in RS and Brazil, with data of the 1979 to 2003 period. Data was collected from the Mortality Information System, Brazilian Ministry of Health (DATASUS), to evaluate the cancer mortality rate, standardized by gender and age – corrected mortality ratios. Linear regression for mortality time-trend analysis and multiple regressions for mortality differences among three regions were calculated. The highest average mortality rate in men and also women were observed in RS and MI and they were significantly higher
Key words: Agrotoxics, Cancer, Agriculture, Occupational medicine, Occupational risks



Introdução
De acordo com a Organização das Nações Unidas, o número de pessoas, em 2025, dependentes de alimentos provenientes do meio rural no mundo será de 7,9 bilhões1. Esta necessidade crescente faz com que o processo de produção agrícola esteja sendo, cada vez mais, submetido a fortes mudanças tecnológicas e organizacionais, visando à produtividade2.
No Brasil, parte da agricultura passa por um processo contínuo de modernização, via incorporação de novas tecnologias, com a perspectiva de aumentar a competitividade no mercado internacional3. A “modernização agrícola”, se por um lado gera crescimento econômico, por outro tem riscos potenciais ao ambiente e à saúde humana. Entre esses riscos, se incluem efeitos prejudiciais associados ao uso massivo e crônico de agrotóxicos, como são chamadas as substâncias químicas que têm por finalidade controlar ou eliminar plantas e animais (conhecidos como pragas) prejudiciais à agricultura4.
A cultura do uso de agrotóxicos no Brasil começou partir da década de sessenta, quando o chamado Plano Nacional do Desenvolvimento (PND) adotado pelo governo obrigou os agricultores a comprar uma cota definida de agrotóxicos para que pudessem obter crédito rural. Com essa obrigatoriedade, a utilização de agrotóxicos aumentou de modo exponencial, contribuindo para a quase extinção de práticas alternativas e ecologicamente saudáveis de manejo de pragas5.
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população rural corresponde a quase 32 milhões de pessoas e a população rural economicamente ativa, a 12 milhões de pessoas6. Por ano, são produzidos no mundo 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos, sendo 39% de herbicidas, 33% de inseticidas, 22% de fungicidas e 6% de outros grupos químicos. No Brasil, a produção de agrotóxicos é de 250 mil toneladas por ano, sendo nosso país o oitavo consumidor de agrotóxicos do mundo7.
Cada vez mais casos de pessoas contaminadas diretamente por agrotóxicos no meio rural são relatados. Entretanto, moradores de áreas próximas e, eventualmente, pessoas do meio urbano também se encontram sob risco, devido à contaminação dos alimentos como carne, peixe, laticínios, frutas e vegetais, tornando assim a exposição crônica8. Desta forma, os riscos à saúde humana associados ao uso e à exposição crônica a agrotóxicos têm sido objeto de grande interesse científico.
Em termos populacionais, os efeitos crônicos podem ser tão prejudiciais quanto os agudos, uma vez que existem sugestões fortemente apoiadas por evidências que apontam consequências deletérias na fertilidade, na etiologia de danos neurológicos e possivelmente no aumento da suscetibilidade a neoplasias9. Assim, indivíduos que participam da produção industrial ou aplicação em larga escala destes compostos podem estar sujeitos a uma maior contaminação do que a população em geral.
O efeito crônico ocorre principalmente porque existem três principais vias de absorção de agrotóxicos (dérmica, digestiva e respiratória), o que aumenta a área biológica de exposição a estes agentes químicos. Adicionalmente, alguns pesticidas permanecem armazenados nos tecidos de organismos vegetais e animais, incluindo o homem, como é o caso dos agrotóxicos que usam organoclorados. Tais pesticidas são lipossolúveis e têm grande estabilidade, o que os torna geralmente resistentes à degradação biótica ou abiótica10.
Alguns estudos vêm demonstrando que tais agentes podem realmente estar relacionados com o desenvolvimento de morbidades crônico não-transmissíveis, como as neoplasias9,11,12.
Entretanto, sob o ponto de vista epidemiológico, a avaliação do potencial carcinogênico dos agrotóxicos com organoclorados e demais agrotóxicos com o câncer é extremamente complexa. As dificuldades são inúmeras, face à heterogeneidade dos compostos utilizados, à diversidade de métodos de aplicação e à ausência de dados adequados sobre a natureza da exposição. Além do que, o nível de exposição a agrotóxicos estimados em estudos epidemiológicos nem sempre representa a sua intensidade real. Como a abordagem quantitativa precisa é difícil de ser realizada, acabam sendo utilizadas medidas subjetivas como, por exemplo, tempo de exposição, área geográfica ou frequência de uso13.
Apesar de existirem áreas do território brasileiro que são fortemente voltadas a agricultura há mais de quarenta anos, o número de estudos que identifiquem ou acompanhem populações cronicamente expostas a defensivos agrícolas é muito incipiente. Uma vez que, demograficamente, o Brasil está envelhecendo e isto significa aumento de indivíduos idosos e de doenças crônico não-transmissíveis associadas, investigações relacionadas a fatores de risco e proteção destas doenças são de grande interesse para a saúde pública. A identificação de grupos suscetíveis, e seus fatores etiológicos principais, permite a criação de programas de saúde voltados a sua prevenção.
Neste sentido, o presente artigo tem como finalidade contribuir para o debate de quanto as áreas cronicamente expostas a agrotóxicos poderiam apresentar uma prevalência maior de neoplasias e se, com os dados governamentais hoje disponíveis, esta relação pode ser de fato sugerida. Para tanto, o trabalho utilizou como referência de área geográfica agrícola a Região Noroeste Colonial do Estado do Rio Grande do Sul, que historicamente concentra sua economia na produção da monocultura da soja.

Métodos
Um estudo ecológico foi conduzido comparando-se as taxas de mortalidade do Brasil, Rio Grande do Sul e da microrregião de Ijuí, que está localizada na Região Noroeste Colonial (RS). O período de análise foi de 1979 a 2003. As principais características demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas dos quinze municípios que compõe a MI são apresentadas na Tabela 1, incluindo a percentagem estimada de área geográfica que é utilizada no plantio de soja.


Em termos geográficos, a Região Noroeste Colonial é um extenso planalto, que se inclina, num plano, para o rio Uruguai, que, por sua vez, recorta o estado ao norte e ao oeste, na fronteira com a Argentina. Esta região concentra uma área extensa de plantio de soja. Considerando-se a produção média de 2001 a 2003, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja do Brasil, com 16,8% do total produzido, média semelhante a do período de 1998 a 2000, que era de 16,5%. Esta região produz soja intensivamente e outras culturas agrícolas, com destaque ao trigo e milho. A intensificação do modelo de monocultura baseado em métodos convencionais de cultivo que inclui o uso de agrotóxicos começou durante a década de setenta e se estende até os dias de hoje14.
Esta região foi escolhida porque, segundo resultados apresentados no Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul15, organizado e publicado pelo Governo do Estado, e disponível via Internet, além de ser produtora agrícola (Tabelas 1 e 2), em termos epidemiológicos, a mesma apresenta alta prevalência de neoplasias. Esta sugestão foi oriunda da análise da proporção de óbitos por neoplasias, baseada no ano de 2002, tendo como fonte de dados o DATASUS.

Os resultados mostraram que existem quatro áreas geográficas organizadas por Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS), que apresentam uma prevalência de morte por neoplasias mais alta que as demais regiões do estado (entre 20,1 a 23,2%): a 7ª CRS, cuja coordenação é localizada no município de Bagé, a 5ª CRS, no município de Caxias do Sul, a 6ª CRS, no município de Passo Fundo e a 17ª CRS, no município de Ijuí. Porque então se optou por estudar a microrregião de Ijuí como um possível local que apresente maior susceptibilidade a neoplasias associada ao uso crônico de agrotóxicos?
Responder esta questão é metodologicamente importante para o estudo uma vez que:
(1) A alta prevalência observada poderia ser consequência de uma proporção maior de indivíduos idosos na população em relação aos grupos etários mais jovens, causado principalmente pela migração continuada de adultos produtivos da região para outras, com maior oferta de emprego. Esta condição explicaria o maior número proporcional de mortes por neoplasias. Para minimizar este problema, o estudo realizou as análises comparativas entre o padrão de mortalidade por neoplasias da MI, do RS e do Brasil, utilizando a padronização dos dados etários baseada em uma população padronizada proposta pela Organização Mundial de Saúde (Word Health Organization (OMS) Standard Population), cujo referencial está baseado em Ahmad et al.16. Optou-se por eliminar o viés da idade em vez de se realizar uma análise multivariada incluindo a idade, pelo número populacional relativamente baixo da MI (Tabela 1), o que limitaria os testes estatísticos relacionados. Adicionalmente, uma comparação entre a distribuição etária da MI com a do RS e do Brasil, utilizando dados censitários do IBGE para 1996 e 2000 mostrou tendência similar;
(2) Outro possível efeito relacionado com uma taxa mais elevada de óbitos por neoplasia poderia ser o desenvolvimento regional. Dados epidemiológicos têm mostrado uma tendência de ocorrer aumento na prevalência da mortalidade por neoplasias em países altamente desenvolvidos, como é o caso do Japão17. Uma vez que o Rio Grande do Sul apresenta características similares a países desenvolvidos, estas regiões, incluindo a MI, poderiam apresentar esta tendência em relação a outras regiões do próprio estado e do país. A OMS, a fim de comparar os países quanto ao seu desenvolvimento, criou um índice conhecido Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)18. Baseado neste índice, a Fundação de Economia Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (FEE) organizou o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico para o Rio Grande do Sul (IDESE). Segundo a FEE, IDESE é um índice sintético, inspirado no IDH, que abrange um conjunto amplo de indicadores sociais e econômicos classificados em quatro blocos temáticos: Educação; Renda; Saneamento e Domicílios e Saúde. Ele tem por objetivo mensurar e acompanhar o nível de desenvolvimento do Estado, de seus municípios e Coredes, informando a sociedade e orientando os governos (municipais e estadual) nas suas políticas socioeconômicas.
O IDESE varia de zero a um e, assim como o IDH, permite que se classifique o Estado, os municípios ou os Coredes em três níveis de desenvolvimento: baixo (índices até 0,499), médio (entre 0,500 e 0,799) ou alto (maiores ou iguais que 0,800)19. Optou-se pelo uso do IDESE para responder a questão se a área apresentaria maior desenvolvimento do que outras regiões, uma vez que o IDH é usado para o estado como um todo. A comparação do IDESE da microrregião de Ijuí com a do estado (Tabela 3) e com as demais regiões mostrou que esta apresentou o índice mais baixo que as demais (Caxias = 0,801, Passo Fundo= 0.779 e Bagé=0,751), o que não corrobora esta hipótese;
(3) Diferenças étnicas inter-regionais, ou mesmo fortemente associadas a determinados grupos étnicos específicos, poderiam também influenciar a taxa de mortalidade por neoplasias. Esta condição parece ser improvável, uma vez que na MI, ainda que exista uma contribuição européia significativa em relação à indígena e africana, a mesma foi originada a partir de diferentes etnias. Isto porque as levas migratórias européias que povoaram o Rio Grande do Sul tenderam a formar, no final do século XVIII, os chamados “núcleos étnicos puros”, que dificultavam a integração estadual. Assim, com a intenção de misturar imigrantes de várias etnias, para não causar conflitos nas colônias, foram enviados para a MI diversos grupos étnicos. Neste período, historiadores chegaram a detectar dezenove idiomas entre italianos, alemães, poloneses, letos, austríacos, holandeses, suecos, espanhóis, libaneses, árabes, lituanos, rutenos, checos, finlandeses e até gregos. Apesar da predominância de alemães e italianos, a MI ainda hoje é conhecida como a Europa do Rio Grande do Sul. Apesar da resistência inicial à miscigenação, hoje a tendência de casamentos interétnicos é uma realidade20.
Caracterizada a área do estudo e resolvida às questões pertinentes relacionadas, a seguir foram coletados dados anuais de óbitos por câncer do Sistema do Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde (DATASUS)21, para o período entre 1979 e 2003, do Brasil, do estado do RS e MI. Foram calculadas as taxas de mortalidade por 100 mil habitantes por ano para cada região, separadas por sexo. Essas taxas foram padronizadas por faixas etárias, pelo método direto22, utilizando-se como referência os dados de população residente em cada região, sendo estes obtidos através de pesquisa do DATASUS, referentes ao Censo 2000. Foram utilizadas seis faixas etárias, sendo a primeira 20-29 anos e a última 60-79 anos. Para a análise estatística, foi utilizado modelo de regressão linear simples, a fim de estimar os coeficientes das taxas de mortalidade padronizadas em cada uma dos locais, separados por sexo. A fim de comparar as diferenças entre os três locais, utilizou-se um modelo de regressão linear múltipla, em que se considerou como variável dependente a taxa de mortalidade padronizada e como variáveis independentes, o tempo e os locais. O modelo utilizado teve a seguinte expressão:
Para todos os modelos, foram feitos diagnósticos através da análise de resíduos. Os dados obtidos foram tratados nos programas Microsoft Excel 2000 e SPSS 13.0. Para as análises estatísticas, o nível de significância utilizado foi de 5%. As análises foram realizadas separadamente por gênero. Não foram realizadas análises separadas segundo o tipo de neoplasia, por ser uma população pequena.
A seguir, buscou-se identificar indicadores de exposição e contaminação por agrotóxicos que poderiam influenciar os resultados obtidos. Para tanto, foram realizadas consultas nos bancos de dados de instituições governamentais como o IBGE, DATASUS e FEE sem que se encontrassem dados quantitativos sobre quantidade de defensivos comercializados nas regiões estudadas ao longo da série histórica. Adicionalmente, foram realizados contatos com a Secretaria de Agricultura, Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), sem que se conseguisse documentação apropriada para a coleta destas informações. Deste modo, optou-se por realizar um estudo indireto a partir de resultados e tabela de dados disponíveis no Censo Agropecuário do IBGE. A realização do Censo Agropecuário 1995-1996 teve como referência o período de 01.08.1995 a 31.07.1996 e as datas de 31.12.1995 e 31.07.1996. As seguintes informações foram utilizadas, nas quais a conceituação proposta pelo IBGE foi mantida:
(1) Área total – compreendeu a totalidade das terras que formavam cada município, considerada a situação existente na data do censo;
(2) Área de lavouras (temporárias e permanentes);
(3) Número de estabelecimentos que usavam agrotóxicos;
(4) Relação entre a população ocupada na atividade agrícola e população total das áreas investigadas;
(5) Quantidade de hectares para cada um dos principais tipos de culturas plantadas, (milho, soja e trigo), destacando a proporção da área plantada de soja em relação à área total.
Estes resultados foram expressos em hectares (ha). Os dados foram coletados para cada município, MI, RS e Brasil.

Resultados
Tabela 2 mostra os dados das populações masculinas, femininas e taxas médias de mortalidade padronizadas por idade para as áreas selecionadas: Brasil, RS e MI, sendo que nos dados do Brasil foram excluídos os dados do RS e nos dados do RS foram excluídos os dados da MI.
Na Figura 1, estão apresentados os dados das taxas de mortalidade por câncer para os homens. Pode-se perceber que o RS e MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizada em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Provavelmente porque a Região Sul exibe altos níveis de industrialização e sua população revela os melhores indicadores de qualidade de vida do país, sendo o RS o estado brasileiro com maior expectativa de vida (73,4 anos), superior à média brasileira de 69,0 anos. Os idosos (360 anos) representam aproximadamente 10% da população19. Já a MI tem as taxas de mortalidade abaixo das taxas do RS até metade da década de noventa, quando se torna semelhante, e a partir de 2000 passa a ter taxa mais alta que a do Rio Grande do Sul. Também pode ser observado que a tendência dos três locais é o aumento da taxa de mortalidade. Em todos os modelos de regressão simples ajustados, a variável tempo foi significativa (p<0 ajustes="" bastante="" bons="" coeficientes="" de="" determina="" foram="" o="" os="" quando="" se="" style="margin: 0px; padding: 0px;" sup="" verifica="">2
), sendo estes 0,973, 0,988 e 0,825, respectivamente, para Brasil, RS e MI. Na Figura 2, são apresentados os dados das taxas de mortalidade por câncer para as mulheres. Pode-se perceber que o RS e MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizada em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Já a MI tem as taxas de mortalidade abaixo das taxas do RS até o início da década de noventa (1992), quando rapidamente torna-se maior que a do RS. Também pode ser observado que a tendência dos três locais é o aumento da taxa de mortalidade. Em todos os modelos de regressão simples ajustados, a variável tempo foi significativa, sendo estes 0,976, 0,988 e 0,899, respectivamente, para Brasil, RS e MI.




Também foram ajustados dois modelos de regressão simples (para sexo masculino e sexo feminino), considerando como variável dependente a taxa de mortalidade padronizada e como variável independente o tempo. Tais modelos apresentaram R2 de 0,977 e 0,979, indicando bons ajustes. Para o sexo masculino, o modelo teve a expressão taxa=55,25+2,89 ano e para o sexo feminino, taxa=41,33+2,41 ano, sendo que “ano” foi significativo em ambos modelos (p<0 span="">
Nos modelos de regressão múltipla ajustados para sexo separadamente (Tabela 2), é possível se verificar que as interações tempo e local foram significativas.
A seguir, alguns indicadores indiretos de exposição e contaminação foram avaliados. Os resultados são descritos na Tabela 3. Como pode ser observado, cerca de 2/3 da área da MI é ocupada pela agricultura. No caso, Chiapetta chegou a apresentar mais de 80% da sua área destinada à produção agrícola. Estes valores foram extremamente elevados quando se compara esta área com o Rio Grande do Sul e o Brasil, do qual menos de 3% das suas áreas estão comprometidas com a agricultura. O número de estabelecimentos que afirmam utilizar defensivos agrícolas também pareceu ser relativamente grande. Em termos populacionais, 24% da população da MI está ocupada com atividades agrícolas, sendo que esta proporção cai para 14 a 11% no RS e Brasil. Dos três produtos principais que são cultivados, a soja aparece em destaque, sendo utilizado quase o dobro de hectares plantados por soja na MI em relação ao RS. Chama a atenção que 80% da área plantada de Coronel Barros está destinada à soja.

Discussão
Os resultados sugerem que existe maior prevalência de mortalidade por neoplasias na microrregião de Ijuí em comparação ao RS e Brasil. Na ordem em que os mesmos são apresentados, os homens têm uma mortalidade média por câncer maior do que as mulheres no Brasil, RS e MI. Considerando que este gênero possui uma exposição ocupacional maior do que a mulher no que diz respeito ao trabalho na agricultura (plantio, aplicação de defensivos, adubos, etc.), tal resultado seria esperado.
Pode-se perceber que o Rio Grande do Sul e a MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizadas, tanto em homens quanto em mulheres, em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de que a Região Sul exibe altos níveis de industrialização e sua população revela os melhores indicadores de qualidade de vida do país. O RS é o estado brasileiro com maior expectativa de vida (73,4 anos), superior à média brasileira de 69,0 anos. Os idosos (360 anos) representam aproximadamente 10% da população. Quanto às taxas de mortalidade da MI estarem abaixo das taxas do RS até metade da década de noventa e, a partir de 2000, passar a ter taxa mais alta que a do RS, pode estar associado ao aumento significativo na demanda de alimentos, fazendo com que a produção aumente também. Quando foram vistos separadamente os sexos, as interações tempo e local, o sexo masculino diferiu do Brasil quanto à taxa de mortalidade por câncer no RS e na MI pela semelhança demográfica epidemiológica do RS com países desenvolvidos.
É importante ressaltar que, neste estudo, o RS, apesar de partir de um patamar mais elevado, apresenta uma taxa média de mortalidade para homens e mulheres, respectivamente 47,7 e 38,2, sendo significativamente maior que os outros dois estados.
Apesar de serem indicativos leves, a comparação da área plantada, o número de estabelecimentos que usam defensivos e a proporção da população ocupada na agricultura, quando comparados entre a MI e as outras áreas, revelam uma situação na qual não se descarta uma possível influência da exposição/contaminação crônica aos defensivos agrícolas na maior prevalência de mortalidade de neoplasias observada. Neste caso, os resultados obtidos apontam para a necessidade da realização de estudos adicionais que aprofundem esta perspectiva e caracterizem os grupos com maior risco. Inicialmente, um estudo que mereceria ser conduzido é a comparação da morbimortalidade relacionada a intoxicações agudas por agrotóxicos entre todas as microrregiões do RS e o Brasil. É claro que tal estudo também apresenta limitações, mas serviria como um indicativo mais robusto da exposição aos agrotóxicos.
É importante comentar que o presente estudo é preliminar, uma vez que está calcado em um estudo ecológico, limitado a dados de grupo que não permitem análises mais aprofundadas de correlação. Entretanto, tais estudos geralmente são empregados para averiguar se existe uma indicação de associação entre causa e morbidade. Esta estratégia (a de se realizar inicialmente uma investigação ecológica) está condicionada à minimização dos esforços de tempo e recursos humanos, necessários para a realização de investigações com metodologias mais robustas. Por outro lado, trabalhar dentro da perspectiva de que somente tais estudos seriam cientificamente válidos acaba se tornando reducionista e impedindo o reconhecimento de grupos populacionais que podem estar sendo expostos a riscos crônicos e de interesse em saúde pública. Neste sentido, acredita-se que os resultados aqui descritos fornecem os subsídios iniciais para que investigações adicionais, mais aprofundadas e metodologicamente mais robustas, sejam posteriormente realizadas.
Um outro aspecto limitante do estudo diz respeito à própria condição etiológica do grupo de doenças conhecido como “neoplasias”. Neoplasias são morbidades multifatoriais, em que interações gene-ambiente estão presentes em maior ou menor grau, o que influi tanto no seu estabelecimento, quanto no tempo de duração pré-clínico e clínico. Esta heterogeneidade dificulta os estudos populacionais associativos por que indivíduos podem estar expostos a um agente carcinogênico em um dado período de tempo e esta morbidade se manifestar em diferentes períodos conforme o modo de vida e material genético da pessoa afetada. Neste sentido, estudos experimentais, principalmente que envolvem aspectos nutrigenômicos, do envelhecimento, da interação entre fatores protetores e ambientais, de desenvolvimento de marcadores diagnósticos de suscetibilidade, etc., estão cada vez mais sendo produzidos. Por outro lado, há também que se intensificar os estudos das variáveis ambientais, como é o caso da ação crônica de defensivos agrícolas, uma vez que, em nível de saúde pública, é o conjunto de evidências produzidas que permite o reconhecimento de grupos suscetíveis.

Conclusão
Apesar das limitações metodológicas relacionadas a estudos ecológicos, os resultados obtidos não descartam a influência de exposição de agrotóxicos como um fator contribuinte a maior taxa de mortalidade de neoplasias observadas na microrregião de Ijuí em relação ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. Estudos adicionais necessitam ser conduzidos para corroborar esta hipótese.

Colaboradores
PFC Jobim coordenou a confecção do artigo, buscando os dados para a análise, fazendo a revisão da literatura e colocando nos moldes para publicação, além de revisar. LN Nunes realizou as análises estatísticas e confecção dos resultados. R Giugliani auxiliou na revisão do artigo. IBM Cruz coordenou a confecção do artigo, revisando periodicamente o trabalho do primeiro autor e auxiliando na revisão.

Referências
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Ciência & Saúde Coletiva
versão impressa ISSN 1413-8123
Ciênc. saúde coletiva vol.15 no.1 Rio de Janeiro jan. 2010
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000100033

Os vegetarianos sofrem menos doenças cardíacas, revela um amplo estudo britânico



Ser vegetariano é melhor para saúde cardiovascular – Os vegetarianos sofrem menos doenças cardíacas, revela um amplo estudo britânico publicado esta quarta-feira, o que parece confirmar as conclusões de recentes pesquisas americanas que vinculam o consumo de carne vermelha a um risco maior de mortalidade.

No estudo britânico [Risk of hospitalization or death from ischemic heart disease among British vegetarians and nonvegetarians: results from the EPIC-Oxford cohort study] , publicado nos Estados Unidos, cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriram que as pessoas que seguem a dieta vegetariana têm reduzido em 32% o risco de hospitalização e morte por doenças cardiovasculares em comparação com as que consomem carne e peixe. Matéria da AFP, no Yahoo Notícias.

“Grande parte da diferença se deve provavelmente aos efeitos do colesterol e da pressão sanguínea”, geralmente mais altos nos consumidores de carne e peixe e “mostram o importante papel da dieta na prevenção de doenças cardíacas”, disse a doutora Francesca Crowe, da Universidade de Oxford, principal autora do trabalho.

Publicado na revista American Journal of Clinical Nutrition, este é o estudo mais amplo feito até agora no Reino Unido que compara a incidência de doenças cardiovasculares entre os vegetarianos e os não vegetarianos.

A análise se concentrou em 45.000 voluntários com idades entre 50 e 70 anos na Inglaterra e na Escócia, incluídos em um estudo sobre câncer e nutrição denominado “European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC)”.

Neste grupo, 34% eram vegetarianos, um número anormalmente alto para estudos deste tipo, o que permitiu aos cientistas fazer estimativas mais precisas sobre os fatores de risco cardiovascular em ambos os grupos.
Baixo índice de massa corporal e menos casos de diabetes

“Os resultados mostram claramente que o risco de doenças cardiovasculares é inferior em cerca de um terço dos vegetarianos”, disse o professor Tim Key, diretor adjunto da Unidade de Epidemiologia do Câncer da Universidade de Oxford e co-autor do estudo.

Os cientistas levaram em conta vários fatores para calcular o risco: idade, tabagismo e consumo de álcool, prática de atividade física, nível educacional e desenvolvimento socioeconômico.

Os participantes, recrutados ao longo da década de 1990, responderam a questionários detalhados sobre sua saúde e seu estilo de vida.

Durante o período de acompanhamento, que durou quase 12 anos, em média, os autores do estudo identificaram 1.235 casos de doenças cardiovasculares nos registros hospitalares, incluindo 169 óbitos.

Eles descobriram que os vegetarianos geralmente têm pressão arterial mais baixa e registram níveis de colesterol menores do que os não vegetarianos.

Os vegetarianos também apresentavam índices de massa corporal (IMC) menores e menos casos de diabetes, ambos resultado da dieta que seguiam.

Os vegetarianos não só se beneficiaram do impacto positivo de registrar menor índice de massa corporal, como também viam reduzido em 28% o risco de sofrer de doenças cardiovasculares.

Esta pesquisa confirma os resultados de um estudo com mais de 121 mil homens e mulheres americanos, publicado em março de 2012, na revista Archives of Internal Medicine, que mostrou uma forte relação entre o consumo diário de carne vermelha e um risco de mortalidade maior por todas as causas (12%), por doenças cardiovasculares (16%) e por câncer (10%).

Citando outro estudo americano de 2009, Crowe informou à AFP, no entanto, que o risco de desenvolver câncer é similar entre os vegetarianos e os não vegetarianos.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países desenvolvidos: provocam 65 mil mortes por ano só no Reino Unido e cerca de 600 mil nos Estados Unidos, ou seja, uma em cada quatro.

Risk of hospitalization or death from ischemic heart disease among British vegetarians and nonvegetarians: results from the EPIC-Oxford cohort study
Francesca L Crowe, Paul N Appleby, Ruth C Travis, and Timothy J Key
Am J Clin Nutr March 2013 ajcn.044073; First published online January 30, 2013. doi:10.3945/ajcn.112.044073

Abstract

Background: Few previous prospective studies have examined differences in incident ischemic heart disease (IHD) risk between vegetarians and nonvegetarians.
Objective: The objective was to examine the association of a vegetarian diet with risk of incident (nonfatal and fatal) IHD.
Design: A total of 44,561 men and women living in England and Scotland who were enrolled in the European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC)–Oxford study, of whom 34% consumed a vegetarian diet at baseline, were part of the analysis. Incident cases of IHD were identified through linkage with hospital records and death certificates. Serum lipids and blood pressure measurements were available for 1519 noncases, who were matched to IHD cases by sex and age. IHD risk by vegetarian status was estimated by using multivariate Cox proportional hazards models.
Results: After an average follow-up of 11.6 y, there were 1235 IHD cases (1066 hospital admissions and 169 deaths). Compared with nonvegetarians, vegetarians had a lower mean BMI [in kg/m2; −1.2 (95% CI: −1.3, −1.1)], non-HDL-cholesterol concentration [−0.45 (95% CI: −0.60, −0.30) mmol/L], and systolic blood pressure [−3.3 (95% CI: −5.9, −0.7) mm Hg]. Vegetarians had a 32% lower risk (HR: 0.68; 95% CI: 0.58, 0.81) of IHD than did nonvegetarians, which was only slightly attenuated after adjustment for BMI and did not differ materially by sex, age, BMI, smoking, or the presence of IHD risk factors.
Conclusion: Consuming a vegetarian diet was associated with lower IHD risk, a finding that is probably mediated by differences in non-HDL cholesterol, and systolic blood pressure.

Vazamento de óleo tóxico em Florianópolis põe saúde da população em risco


O vazamento do óleo ascarel de uma estação desativada da Central Elétrica de Santa Catarina (Celesc), no bairro Tapera, em Florianópolis, está sendo considerado gravíssimo pela Federação das Entidades Ecológicas Catarinenses. Segundo o coordenador geral, Gert Shinke, as autoridades estão minimizando o problema e é fundamental que a comunidade se ocupe em exigir um monitoramento contínuo sobre toda a área afetada por pelo menos cinco anos. Gert afirma que os laudos apresentados pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma), que apontam não haver contaminação pelo ascarel na baía, não podem ser considerados conclusivos. “Esse óleo leva certo tempo para se infiltrar e é quase certo que agora os laudos não apontarão nada. Os efeitos aparecem mais tarde, quando todo mundo já tiver esquecido o caso”.

O óleo ascarel pertence ao grupo de compostos orgânicos sintéticos conhecidos como PCBs. Eles não são biodegradáveis e tem efeito cumulativo nos tecidos vegetais e animais. Esse tipo de produto é usado em transformadores, desses usados pela Celesc, mas também podem ser usados em outros equipamentos. A preocupação da FEEC é justamente saber onde mais existe esse óleo e em que condições ele está acondicionado. No caso desses 12 mil litros que vazaram, é certo que estavam sem qualquer proteção e sem que se levasse em conta a periculosidade. “A sorte foi que o funcionário percebeu que havia algo errado e procurou os técnicos da universidade que trabalham ao lado do galpão da Celesc. Ainda assim, o produto vazou por mais de dois meses, e os efeitos disso podem ser muito perigosos para toda a cadeia de vida da região”.

Conforme o coordenador da FEEC a contaminação vai se dando muito lentamente e, depois, pode se alojar nos animais, nas plantas e consequentemente nas pessoas que comerem esses produtos. Também pode contaminar a água e todo o subsolo. “O problema é que esse produto é altamente tóxico e a ingestão de quantidades microscópicas já é um problema. Isso vai acumulando no organismo e pode gerar problemas por gerações”.

Está circulando pela internet um alerta da médica Vera Bridi sobre a necessidade da imediata interdição não apenas do consumo dos moluscos e peixes das baías, mas também a proibição de banhos. Segundo ela, o produto é altamente perigoso para a saúde humana. Outro médico, J. Paulo Mello, lembra um acidente com esse mesmo produto, acontecido no Japão, em 1968. Segundo ele, pouco tempo depois a população passou a apresentar o depois denominado “Mal de Yusho”, que tem como sintoma bronquite, entorpecimento dos membros e edema. Tudo isso foi atribuído à ingestão das PCBs contidas no óleo. Outro caso semelhante aconteceu nos Estados Unidos quando o produto foi detectado no lençol freático de uma cidade. O óleo havia sido enterrado Há anos e estava num aterro químico.

Esses fatos mostram o quanto a população está ameaçada, senão nesse momento, mas a longo prazo. Daí ser considerada uma irresponsabilidade a liberação da maricultura e a minimização dos efeitos. “O óleo vazou por muito tempo, e o recolhimento que foi feito não garante de forma alguma que ele não tenha penetrado na terra, no mangue e se espalhado pela baía. Os órgãos ambientais têm de ser pressionados pela população a apresentar laudos sistemáticos. Isso não pode ficar no esquecimento”, diz Gert.

Os médicos do sul da ilha também estão em alerta e convocam a população a ficar atenta. Segundo eles, os sintomas observados nas pessoas que sofreram o Mal de Yusho são fadiga, dor de cabeça, dores com inchaço, inibição do crescimento da dentição, anemia, problema sanguíneos, redução da condução nervosa, erupções na pele, despigmentação, dor nos olhos e infecção persistente nas vias respiratórias, entre outros. “Além disso, existe o risco de alterações genéticas. A coisa não é brincadeira”.

Mas, apesar de todo esse alerta, o juiz federal Marcelo Krás Borges já liberou a produção e ostras, mariscos e berbigões na região, baseado no laudo da Fatma de que não havia contaminação. Gert Shinke alerta para a chamada “guerra dos laudos” que pode acontecer visando proteger determinados interesses. “Nós já vimos isso quando da tentativa de Eike Batista em fazer um estaleiro por aqui. Havia laudos para todos os gostos. Nós temos é de exigir dos órgãos ambientais que haja a medição contínua e sistemática da contaminação”.

O vazamento de um produto altamente tóxico e contaminante coloca em questão a completa vulnerabilidade da população diante de produtos dessa natureza. Como esse óleo foi parar num galpão, sem qualquer proteção? Que outros galpões haverão por aí com produtos desse tipo, sem que se saiba? Como um produto tão perigoso, usado em equipamentos que estão por aí aos milhares (como os transformadores) não têm um programa de proteção para descontaminação em caso de acidente. Pelos estudos levantados, nenhuma das técnicas de descontaminação em caso de grandes vazamentos existe no Brasil. Há uma, sendo trabalhada num laboratório de Curitiba, mas ainda em testes, conforme estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente. Então, como as autoridades de Florianópolis vão proteger a população? Isso ainda é uma incógnita.


O certo é que as pessoas precisam agir e manter vigilância sobre as ações dos governantes. Outros laudos estão sendo feitos e precisam ser divulgados amplamente. É preciso que o governo estabeleça uma comunicação transparente, permitindo que a população acompanhe e se proteja. A FEEC promete manter-se alerta e acompanhando o caso. “Mas é fundamental que as pessoas estejam com a gente, cobrando. Sem um acompanhamento de longo prazo não podemos ficar”, finaliza Gert.

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/02/04/vazamento-de-oleo-toxico-em-florianopolis-poe-saude-da-populacao-em-risco/

O desperdício de comida equivale a um terço da produção tota


Em todo o mundo joga-se fora ou perde-se, por ano, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, o equivalente a um terço da produção total e a mais da metade da colheita de cereais. Num cenário em que a população do planeta deve saltar dos atuais 7 bilhões para 9 bilhões de habitantes até 2050, impõe-se a revisão urgente dos padrões de consumo e de produção alimentar. Assim, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) decidiram lançar uma campanha de conscientização para tentar reduzir o desperdício que se verifica, em maior ou menor grau, em todos os países.

Segundo a FAO, a perda total em nações ricas e em desenvolvimento é mais ou menos a mesma, variando de 630 milhões a 670 milhões de toneladas. Só o que é desperdiçado pelos consumidores dos países industrializados equivale à produção alimentar da África Subsaariana, algo em torno de 230 milhões de toneladas por ano.

A FAO faz uma distinção entre perda e desperdício de alimentos. A perda está ligada à fase da colheita e da produção, e se verifica muito mais em países em desenvolvimento, que enfrentam defasagem tecnológica e falta de investimento em infraestrutura, em transporte e em especialização de mão de obra. No Brasil, que está entre os dez países que mais perdem alimentos, 35% da produção agrícola fica pelo caminho. Já o desperdício é aquele observado tanto na comercialização quanto no consumo, quando o alimento ainda comestível é jogado no lixo. Trata-se, nesse caso, de um fenômeno mais comum nos países desenvolvidos. Dados da FAO mostram que os consumidores europeus e americanos se desfazem de algo entre 95 e 115 quilos per capita de comida por ano, enquanto no Sudeste Asiático, na África Subsaariana e na África Meridional esse volume não passa de 11 kg per capita.

A campanha da FAO e do Pnuma salienta que se dá importância excessiva à aparência dos alimentos, o que se traduz nas rigorosas normas aplicadas pelas grandes redes de supermercados, resultando no descarte de comida ainda própria para o consumo. Além disso, esse alimento descartado poderia ser entregue a organizações humanitárias ou entidades de caridade, e não simplesmente jogado no lixo.

No que diz respeito a questões de comportamento, a FAO mostra que o consumidor, nos países ricos e nos emergentes, muitas vezes compra mais alimentos do que realmente necessita, apenas para aproveitar promoções, ou então come mais do que precisa em restaurantes que oferecem comida à vontade a preço fixo. Além disso, o consumidor em geral não costuma fazer um cardápio semanal para conseguir planejar a compra dos alimentos, de modo que muitos produtos comprados por impulso acabam esquecidos na geladeira, perdem a validade e são jogados fora. No Brasil, as famílias desperdiçam, em média, 20% do que compram em uma semana.

A campanha aposta na reeducação, ao convidar o consumidor a planejar suas compras no supermercado, a não rejeitar frutas cuja aparência não seja perfeita, a entender que a data de validade dos alimentos industrializados é apenas uma sugestão do fabricante, a reaproveitar os alimentos e a pedir porções menores nos restaurantes, entre outras medidas. Além disso, a FAO pede que restaurantes e supermercados façam auditorias para verificar onde está o desperdício, que ofereçam descontos para produtos cujo prazo de validade esteja próximo de vencer, que reduzam a variedade do cardápio e que ofereçam porções menores.

É fato que não se mudam comportamentos arraigados somente pelo desejo bem-intencionado de algumas organizações internacionais. No entanto, há um argumento que pode ajudar a deslanchar esse processo: o prejuízo com o desperdício não se limita à questão alimentar. Ao se jogar comida fora, estão sendo perdidos também recursos naturais, força de trabalho e muito dinheiro investido para produzir esses alimentos. A FAO calcula que nada menos que US$ 1 trilhão por ano simplesmente vai para o lixo.

Pesquisa com resíduos de romã sugere sua potencialidade como aliado na prevenção da doença de Alzheimer


Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, uma pesquisa com resíduos de romã constatou sua potencialidade como aliado na prevenção da doença de Alzheimer. O trabalho foi realizado pela pesquisadora Maressa Caldeira Morzelle, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), sob a orientação da professora Jocelem Mastrodi Salgado.

Inúmeros estudos indicam que, entre pessoas que consomem frutas e verduras regularmente, é raro o diagnóstico de doenças degenerativas decorrentes da idade avançada. “Isso se deve ao fato de que a quantidade de antioxidante presente nesses alimentos é elevada”, comenta a autora do estudo.

De acordo com a pesquisa, em se tratando da romã, apenas na casca da fruta é possível encontrar mais antioxidante do que em seu suco e sua polpa. Os antioxidantes são essenciais para a prevenção contra os radicais livres que matam as células do nosso corpo, o que acarreta em doenças degenerativas em geral.

Sabendo disso, Maressa buscou alternativas que pudessem concentrar todo o extrato da casca em pó, para ser diluído como suco, ou adicionado a sucos de outros sabores, levando em consideração os desafios do processamento e armazenagem, e o fato de que a adição do composto bioativo não poderia afetar as propriedades sensoriais do produto final.

Ação antioxidante

A conclusão do trabalho foi bastante satisfatória em relação ao desempenho do extrato de casca de romã elaborados com etanol e água, que não teve sua atividade anticolinesterásica (inibição de enzimas associadas ao Alzheimer) e sua capacidade antioxidante afetada por esta forma de armazenamento. Observou-se também, resultados positivos em relação ao preparado em pó para refresco, que não teve suas características sensoriais alteradas.

“Desta forma, verifica-se o potencial para a indústria no emprego das microcápsulas a base do extrato casca de romã como um ingrediente a ser incorporado na dieta, sendo um aliado na prevenção da doença de Alzheimer”, conclui a pesquisadora.

O mau de Alzheimer, doença degenerativa e atualmente incurável, atinge na maioria dos casos, idosos com idade entre 60 e 70 anos. No Brasil cerca de 900 mil pessoas já foram diagnosticadas com a doença.

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/02/06/pesquisa-com-residuos-de-roma-sugere-sua-potencialidade-como-aliado-na-prevencao-da-doenca-de-alzheimer/