sábado, 23 de fevereiro de 2013

O uso indiscriminado de agrotóxicos é uma afronta ao direito a uma alimentação saudável, artigo de Gilvander Luís Moreira


o início de 2012, ano em que a Campanha da Fraternidade2 foi sobre Saúde Pública, além de escrever alguns textos de apoio às lutas em defesa deste direito constitucional e para que ele se efetive de fato no chão da vida real, disponibilizei um vídeo de 2,5 minutos, no Youtube e em meu sítio www.gilvander.org.br , sob o título Feijão de Unaí está envenenado? Trata-se de uma entrevista com uma diretora de Escola Municipal da zona rural de Arinos, Noroeste de Minas. Na entrevista ela afirma que ao tentar cozinhar 30 quilos do Feijão Unaí para a merenda das crianças teve que jogar fora todo o feijão, porque ao abrir os saquinhos as cozinheiras sentiram o cheiro forte de veneno. Em outra ocasião lavaram o feijão, deixaram de molho de um dia para o outro, mas ao cozinhar, o mau cheiro fez as cozinheiras sentirem mal. Havia excesso de gosma acumulando na panela. Não foi possível dar o feijão para as cerca de 200 crianças da escola. A entrevistada noticiou também haver um grande número de pessoas com câncer na cidade de Arinos. Corre de boca em boca que o modo do cultivo e conservação de feijão de Unaí pode estar causando câncer em muita gente.
Por causa da divulgação do vídeo, a empresa proprietária do feijão Unaí processou os responsáveis do Google/Youtube e a minha pessoa, alegando danos morais. O juiz do Juizado Especial Cível da Comarca de Unaí, responsável pelo processo, ordenou prisão contra os diretores do Google/youtube, caso não seja retirado o vídeo da internet dentro de cinco dias, e a mim em caso de reinserção, sob o argumento de crime de desobediência.
Despacho do juiz: “Vista ao réu. Prazo de 0005 dias(s). Para comprovarem o cumprimento da ordem de exclusão do vídeo de pagina eletrônica do Youtube, no prazo de 05 dias, sob pena de prisão em flagrante dos representantes legais do Google neste país e do réu Gilvander pela prática do crime de desobediência, sem prejuízo da multa fixada.”
O prazo venceu dia 29 de outubro último e o vídeo continua no Youtube, emwww.gilvander.org.br e, após a divulgação do Manifesto contra o uso indiscriminado de agrotóxico e contra criminalização de frei Gilvander, várias outras pessoas baixaram o vídeo e o reinseriram em seus canais de comunicação. Outras pessoas estão assistindo ao vídeo.
No dia 28 de outubro de 2012, os/as advogados/as que estão me defendendo impetraram no TJMG um Habeas Corpus Preventivo com pedido liminar que foi distribuído para a 6ª Câmara Criminal, sob a relatoria da Desembargadora Márcia Milanez.
Ao final da manhã do dia 31 de outubro de 2012, a desembargadora indeferiu (negou) o pedido liminar e, portanto, negando o pedido de segurança, próprio do Habeas Corpus.
A fundamentação do Habeas Corpus era a de que eu estava sendo processado por ter postado na internet um vídeo que denuncia o uso abusivo de agrotóxicos no feijão vendido pela empresa TORREFAÇAO E MOAGEM CAFÉ DE UNAÍ LTDA. Que a referida empresa havia entrado com ação indenizatória por danos morais, com pedido de antecipação de tutela. Que o referido juiz da Comarca de Unaí em sede de liminar determinou que o Youtube retirasse o vídeo em 48 horas sob pena de multa de 200 reais por dia e determinou a mim, frei Gilvander, que não inserisse o vídeo novamente em qualquer site, sob pena multa no valor de 4 mil reais. Advogados da Google/Youtube apresentaram no processo várias páginas de defesa se recusando a retirar o vídeo por entender não haver nenhuma irregularidade. Em síntese, disseram que não há nada de ilícito no vídeo. Trata-se de uma reportagem, de informação a sociedade. Recordaram que o Google/Youtube regem-se pelas leis do país que prescreve direito a informação, direito de livre expressão. A empresa é que deve demonstrar que o feijão Unaí não está com excesso de agrotóxico, pois, por outro lado, várias pesquisas científicas e o Relatório da Subcomissão do Agrotóxico da Câmara Federal mostram que o uso indiscriminado de agrotóxico está causando câncer em muita gente.
Observe-se que o Juiz que prolatou a decisão afirmando que eu deveria ser preso em flagrante por crime de desobediência é incompetente, pois se trata de um juiz do Juizado Especial Cível, que só pode mandar prender em caso dedescumprimento de obrigação de pensão alimentícia ou depositário infiel. Mesmo que fosse o caso de crime por desobediência, prisão em flagrante por crime de desobediência é ato típico de matéria penal, ou seja, de competência material do Juizado Especial Criminal. O ato praticado pelo magistrado padece de nulidade absoluta e, segundo as/os advogadas/os que fazem a minha defesa, deve ser declarado nulo.
Além da incompetência absoluta do juiz em relação à matéria, mesmo que eu estivesse cometendo crime de desobediência, trata-se de um crime de pequeno potencial ofensivo nos termos do art. 61 da Lei 9099/95. Nesse caso, em sendo noticiada a prática delituosa, a autoridade policial lavraria Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO – nos termos do art. 69 da Lei 9099/95 e não haveria prisão, nem mesmo em flagrante.
A decisão do referido Juiz afronta ao princípio da não culpabilidade (Artigo 5º, Inciso LVII da CR), segundo o qual, a prisão é a exceção, a liberdade é a regra.
No caso também não estão presentes os requisitos que ensejariam um decreto de prisão preventiva nos termos do art. 312, que seria “necessária” para garantir a Ordem Pública e Ordem Econômica. A denúncia que fiz visa salvaguardar a ordem social da saúde pública. Ninguém pode ganhar dinheiro colocando em risco a saúde de outras pessoas.
Eu não descumpri nenhuma determinação judicial já que a mim foi determinado nãoreinserir o vídeo. Como o vídeo nunca foi excluído pela Google/Youtube, no caso eu não reinseri, portanto, não há desobediência.
No Habeas Corpus foi pedido, liminarmente, que fosse concedida a ordempreventivamente para assegurar a minha liberdade de ir e vir. Também foi pedido que fosse decretada a nulidade da decisão prolatada pelo Juiz de Unaí, por incompetência material absoluta e, por fim, que fosse concedida a ordem de habeas corpus preventivo, em definitivo, para deferir a revogação da prisão.
Não me sinto seguro em face da decisão da desembargadora que negou o pedido liminar do Habeas Corpus preventivo diante de tão clara ordem judicial. Por isto, outras medidas jurídicas estão sendo tomadas.
Agradeço, de coração, a dezenas de movimentos, entidades e pessoas que já assinaram o Manifesto contra o uso indiscriminado de agrotóxico e contra a criminalização de frei Gilvander. Já conversamos com a Defensoria Pública de Minas Gerais que tomará medidas necessárias à defesa do direito a alimentação saudável e que não se use de forma indiscriminada agrotóxicos. Esperamos que este fato fortaleça todas as iniciativas na defesa da saúde do povo brasileiro, contra os agrotóxicos (veneno) em nossa alimentação. Conclamamos as pessoas de boa vontade a se engajarem na Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida, se ainda não se engajaram.
A quem ainda não assistiu aos vídeos, sugiro que assista a partir dos links, abaixo:
1) Feijão de Unaí está envenenado?
Ou em www.gilvander.com.br (Galeria de vídeos)
2) Depoimento do Deputado Federal Padre João: Padre João reforça denúncias sobre grave contaminação do Feijão Unaí
3) Baixe e leia o livro AGROTÓXICOS NO BRASIL – Um guia para ação em defesa da vida, no link, abaixo:
4) Filme Documentário de Sílvio Tendler: O Veneno Esta na Mesa (Completo e Dublado)
Belo Horizonte, 05 de novembro de 2012.
1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas, bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais; conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos – CONEDH/MG; e-mail:gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis – facebook: Gilvander Moreira

2 Promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – teve como tema: Fraternidade e Saúde Pública.
Fonte: EcoDebate, 06/11/2012

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Especialistas do Inca, Anvisa e Fiocruz unem esforços para o combate aos agrotóxicos


Seminário Inca/Fiocruz: Agrotóxicos e Câncer

A troca de conhecimentos entre as áreas de saúde, meio ambiente e agricultura e a união de esforços de diferentes instituições para o enfrentamento do uso abusivo de agrotóxicos foram os principais ganhos do Seminário Agrotóxicos e Câncer, realizado nos dias 7 e 8 de novembro na sede do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Centro do Rio de Janeiro. Promovido pelo Inca e a Fiocruz – órgãos do Ministério da Saúde – e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – o evento contou com a participação de especialistas de órgãos de outras áreas, como os ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário.
No primeiro dia (7/11), pesquisadores da Anvisa, da Uerj, da Universidade Federal do Ceará, da Universidade Federal de Pelotas, da Fiocruz, do Inca e da organização Rede Ecológica discutiram a contribuição dos agrotóxicos nos casos de câncer no Brasil e os impactos da exposição aos agrotóxicos na população brasileira. O consumo consciente e as alternativas para o consumidor também foram pontos de pauta.
Na manhã do segundo dia (8/11), o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (VPAAPS/Fiocruz), Valcler Rangel, coordenou a mesa Regulação e monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos. Rangel ressaltou que o evento consolida a parceria da Fiocruz com o Inca, que participou de seminário sobre o mesmo tema em maio na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). “Esta sequência de iniciativas potencializam a geração de conhecimento e capilarizam conclusões, contribuindo para dar mais impacto sobre as políticas”, disse.
Rangel afirmou que a população espera uma atuação coordenada e potencializada pelas diversas áreas de conhecimento e lembrou que a Fiocruz está engajada na campanha de enfrentamento aos agrotóxicos.
Os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Trabalho, apesar de convidados, não enviaram representantes, o que frustrou a plateia, formada em grande parte por produtores rurais e membros de organizações da sociedade civil que promovem a agroecologia e a agricultura familiar. Profissionais de saúde do Inca, da Fiocruz e do Ministério Público Federal e Estadual também prestigiaram o evento.
Pimentão tóxico
Heloisa Rey Farza, da Gerência Geral de Toxicologia da Anvisa, abordou o Programa de Análise de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa (Para), que avalia amostras de produtos no mercado. O pimentão é o caso mais grave: 91,8% das amostras apresentam quantidade de agrotóxicos maior do que o permitido ou produtos proibidos para o pimentão. Segudo ela, o morango e o tomate variam de qualidade – quando a Anvisa divulga que está ruim, tende a melhorar, e depois volta a piorar. “As coisas não estão mudando muito. Saiu da boca do povo, o veneno volta”, lamentou.
Heloisa contou que quando o problema é muito grave, a Anvisa informa o Ministério da Agricultura e a Polícia Federal para que tomem providências. Supermercados são multados e tenta-se rastrear o produtor, para a implementação de coletas e análises fiscais. Também são publicadas novas normas técnicas e desenvolvidos programas locais de informação e formação, que, para Heloisa, são os principais fatores para mudanças. Ela recomenda a criação de foruns. “A sociedade precisa se mobilizar para chegar até o produtor. Ele não tem informação sobre agrotóxicos, pelo contrário, tem informação errônea, dada pelas indústrias que vendem os produtos”, disse.
Questionada pelo público sobre a razão de a Anvisa não evitar tamanha contaminação dos alimentos, ela explicou que o Ibama, o Mapa e a Anvisa são responsáveis pelos agrotóxicos. “A Anvisa cuida da saúde da população. O controle do uso do agrotóxicos é dever do Mapa”, esclareceu, acrescentando que o Ministério do Trabalho também deveria se preocupar com a saúde do trabalhador rural. “Cobrem do Mapa e do Ministério do Trabalho, e de nós o que nós temos que fazer”, finalizou.
A importância da educação no desafio da transição para a produção agroecológica foi destacada por Christianne Belinzoni, da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do desenvolvimento Agrário (MDA). Para ela, o desenvolvimento rural sustentável deve usar a tecnologia para melhorar a produção e a qualidade de vida.
“Precisamos formar mais técnicos para apoiar o produtor no campo. Ninguém quer produzir na base do veneno. Temos que brigar para que no currículo dos agronomos haja a disciplina agroecologia, em vez de obrigá-los a decorar princípio ativo de veneno”, disse. Ela também ressaltou a necessidade de se informar os consumidores. “O consumidor deve ser empoderado. A sociedade civil tem uma força muito grande”, opinou.
Representando o Departamento de Qualidade Ambiental da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Sergia de Souza Oliveira abordou os principais impactos dos agrotóxicos no meio ambiente. “Os agrotóxicos são persistentes no meio ambiente, acumulando-se em rios e mares, contaminando peixes e outras formas de vida e provocando efeitos adversos na saúde humana”, informou.
Entre os principais problemas a serem contidos ela citou o uso indevido de produtos químicos, a alta toxidade, a falha na proteção do trabalhador e a exposição direta e indireta do meio ambiente e da população. Ela admitiu ser necessário aperfeiçoar os mecanismos de controle e que há uma deficiência da informação. Segundo Sergia, qualquer um dos três setores – Saúde, Agricultura e Ambiente – pode vetar um produto.
“Nossa legislação é moderna, rigorosa e sintonizada com outros países. A política de agroecologia recém-sancionada é um grande avanço. Grandes e pequenos produtores usam agrotóxicos, mas podem utilizar a agroecologia. O questionamento sobre o modelo de produção agrícola deve ser feito permanentemente, de forma racional e madura”, disse.
Ela reconhece, entretanto, que não é simples mudar da produção convencional para a limpa e que a proibição gera um mercado ilegal paralelo difícil de ser enfrentado. “O enfrentamento do agrotóxico deve ser um trabalho multisetorial e multiparticipativo”, concluiu.
O diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (SVS/MS), Guilherme Franco Netto, apresentou dados que mostram que em cinco anos, de 2005 a 2010, o volume de agrotóxico mais que dobrou. De 8.500 áreas descritas como contaminadas, 30% são contaminadas com agrotóxicos. “A intoxicação por agrotóxicos é a segunda maior causa de intoxicações exógenas. A maioria delas – 53% – é causada por inceticidas”, revelou.
Ele adiantou que ainda este ano será lançada uma portaria que deslanchará o processo de implamentação de vigilância epidemiológica no SUS, incluindo ações de proteção e promoção da saúde, a investigação dos casos e surtos e a estruturação de um sistema para responder às emergências em saúde. Nove estados com maiores demandas serão priorizados (PR, SP, MG, MT, GO, RS, SC, BA, e MS) e receberão um milhão de reais por ano, durante três anos. A partir de 2013, os outros estados começarão a receber verbas de R$ 800 mil ou R$ 900 mil e até o fim de 2014 a portaria deverá estar implantada nas 27 Ufs. Em 2015, será feita a avaliação.
Vários participantes do seminário, preocupados com a continuidade do trabalho que vem sendo desenvolvido na Anvisa de proteção da saúde da população brasileira e de luta contra o uso abusivo de agrotóxicos, manifestaram solidariedade ao profissional Luis Cláudio Meirelles, coordenador da Gerência Geral de Toxicologia da Anvisa (GGTox), diante da recente notícia de sua exoneração do cargo.
Matéria de Marina Lemle, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/11/2012

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Diagnósticos de câncer de tireoide em hospital referência de SP aumentam dez vezes em 20 anos


O número de casos de pacientes com câncer de tireoide é dez vezes superior ao registrado há 20 anos no Hospital A.C.Camargo. Em 1992, a unidade, localizada na capital paulista, tratou 34 pacientes. Este ano, o número chegou a 350. O hospital é referência mundial em ensino, pesquisa e tratamento de câncer.
De acordo com José Magrin, cirurgião de cabeça e pescoço da unidade, as razões para o aumento ainda estão sendo estudadas. Para ele, o maior acesso a exames capazes de detectar precocemente o câncer da tireoide podem explicar esse crescimento. Além disso, o maior contato com irradiação pode ter ajudado a elevar a incidência desse tipo de câncer nos últimos anos. “Nós estamos mais expostos às irradiações presentes no nosso dia a dia”, disse.
Outro levantamento feito no estado de São Paulo, com 66 hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e cinco particulares ou filantrópicos, também mostrou que o número de casos da doença cresceu. Segundo a Fundação Oncocentro de São Paulo (FospOSP), em 2000, foram registrados 301 casos (238 mulheres e 63 homens) e, em 2010, o número saltou para 954 (763 mulheres e 191 homens).
A doença é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres. A pesquisa da Fosp revelou que, dos 1,2 mil casos registrados anualmente na capital paulista, mil foram diagnosticados em pessoas do sexo feminino. Segundo José Magrin, as causas da prevalência entre mulheres ainda estão sendo estudadas, mas há suspeitas de que isso possa estar relacionado ao tipo hormonal feminino.
Um dos sintomas da doença na mulher é o crescimento do nódulo da tireoide. “[Ele] cresce lentamente e é indolor, mas, às vezes, pode haver dor”, disse o médico. No caso de tumores mais agressivos, as pacientes se queixam de rouquidão ou mudança no timbre de voz que não desaparece com o tempo, dificuldade para respirar e para engolir e tosse consistente.
Magrin destacou a importância de prestar atenção a esses sinais, já que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, que chegam a 97% nesses casos. Para detectar o nódulo, é feito um ultrassom. Quando há suspeita da doença, o paciente é submetido a uma biópsia.
O tratamento do câncer de tireoide envolve a cirurgia de retirada do nódulo e uma complementação, feita pela ingestão de iodo radioativo. “A pessoa ingere e fica internada por dois dias e depois vai embora. Isso tem a finalidade de destruir possíveis células malignas da tireoide que restaram após a cirurgia”, disse o cirurgião.

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2012/10/25/diagnosticos-de-cancer-de-tireoide-em-hospital-referencia-de-sp-aumentam-dez-vezes-em-20-anos/

Pesticidas comuns diminuem sucesso de alimentação e ameaçam sobrevivência das abelhas


Pesticidas põem colônias de zangões em risco – Pesticidas agrícolas estão matando zangões e prejudicando a habilidade deles para se alimentar. Assim, colônias vitais para a polinização das plantas podem vir a não desempenhar as suas tarefas, mostrou um estudo divulgado neste domingo. Matéria da Reuters, em O Estado de S.Paulo, com informações adicionais do EcoDebate.
As Nações Unidas estimam que um terço de toda a alimentação baseada em vegetais depende da polinização das abelhas, e cientistas têm se mostrado perplexos pela redução do número de abelhas principalmente na América do Norte e na Europa, em anos recentes.
No estudo [A Common Pesticide Decreases Foraging Success and Survival in Honey Bees] divulgado neste domingo, cientistas britânicos afirmaram que expuseram colônias de 40 zangões, abelhas maiores do que as mais comuns, aos pesticidas neonicotinoide e piretroide durante quatro semanas, em níveis semelhantes aos que se dão nos campos.
Os neonicotinoides são produtos químicos semelhantes à nicotina usados para proteger uma série de culturas de gafanhotos, pulgões e outras pragas.
“A exposição aumenta a mortalidade, o que reduz o desenvolvimento e o sucesso da colônia”, escreveram os cientistas num artigo na revista científica Nature. Exposição a uma combinação de dois pesticidas “aumenta as chances da colônia fracassar”, de acordo com os pesquisadores da Universidade de Londres.
Um relatório das Nações Unidas de 2011 estimou que as abelhas e outros polinizadores, como besouros e pássaros, realizam um trabalho que valeria 153 bilhões de euros por ano.
“Acho que o declínio das abelhas é como um quebra-cabeças, com provavelmente um monte de peças para serem encaixadas. Essa é provavelmente uma peça muito importante”, afirmou à Reuters Richar Gill, autor principal da pesquisa.
PARASITAS
Num outro comentário, na Nature, Juliet Osborne, da universidade britânica de Exeter, disse que o estudo mostra a necessidade de se entender todos os fatores que podem contribuir para prejudicar as abelhas e suas colônias.
“Por exemplo, ainda não temos uma demonstração convincente dos efeitos relativos dos pesticidas nas colônias em comparação com os efeitos dos parasitas”, escreveu.
Richard Gill apoiou a recomendação da autoridade europeia de segurança alimentar por mais testes em diferentes espécies. De acordo com ele, estudos anteriores examinaram o impacto de pesticidas nas abelhas em si, e não nas colônias. Zangões formam colônias de algumas dúzias, enquanto outras abelhas formam colônias de milhares.
“Efeitos em uma abelha podem ter uma importante repercussão na colônia. Essa é a novidade do estudo”, declarou.

In Science Magazine

  • Technical Comments Comment on “A Common Pesticide Decreases Foraging Success and Survival in Honey Bees”
    • James E. Cresswell and
    • Helen M. Thompson
    Science 21 September 2012: 1453.
  • Response to Comment on “A Common Pesticide Decreases Foraging Success and Survival in Honey Bees”
    • Mickaël Henry,
    • Maxime Béguin,
    • Fabrice Requier,
    • Orianne Rollin,
    • Jean-François Odoux,
    • Pierrick Aupinel,
    • Jean Aptel,
    • Sylvie Tchamitchian,
    • and Axel Decourtye
    Science 21 September 2012: 1453.
  • Report Neonicotinoid Pesticide Reduces Bumble Bee Colony Growth and Queen Production
    • Penelope R. Whitehorn,
    • Stephanie O’Connor,
    • Felix L. Wackers,
    • and Dave Goulson
    Science 20 April 2012: 351-352.Published online 29 March 2012
  • News & Analysis Agriculture Field Research on Bees Raises Concern About Low-Dose Pesticides
    • Erik Stokstad
    Science 30 March 2012: 1555.
Fonte: EcoDebate, 22/10/2012

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Agroecologia: Alimentar o mundo sem pesticidas é possível, afirma cineasta francesa


Alimentar o planeta Terra sem pesticidas é possível, afirma a jornalista francesa Marie-Monique Robin, que após revelar em um filme o envolvimento do exército francês na Operação Condor e denunciar a multinacional Monsanto, defende em seu novo trabalho a agroecologia. Matéria de Anthony Lucas, da AFP, no Yahoo Notícias.
Com o documentário “Les Moissons du futur” (“As colheitas do futuro”), Morin encerra a trilogia sobre a contaminação alimentar que começou em 2008 com “O mundo segundo Monsanto”, sobre a gigante agroquímica americana Monsanto, e “Nosso veneno cotidiano” (2010).
“Após estes filmes, participei de dezenas de conferências nas quais me perguntavam: ‘mas é possível alimentar o mundo sem pesticidas?’”, conta Robin, autora de vários filmes sobre os direitos humanos na América Latina, entre eles “Esquadrões da morte, a escola francesa” (2003), no qual revelou um acordo de cooperação militar secreto entre Paris e Buenos Aires.
Em seu novo documentário, Robin explica que para tentar responder à pergunta sobre se pode resolver a crise alimentar global mediante a agroecologia, percorreu o planeta, do Japão ao México, passando por Quênia e Estados Unidos, reunindo-se com camponeses, agricultores, agrônomos e especialistas.
Seu veredicto é taxativo: não apenas é possível produzir alimentos em quantidade suficiente para que o mundo não passe fome, e também sem prejudicar o planeta, mas “se agora não se pode alimentar o mundo, a culpa é dos pesticidas…”, assegura Morin.
Diferentemente de seus dois filmes precedentes, “As colheitas do futuro” não é tanto uma investigação, mas uma reunião de testemunhos que foram recolhidos em uma versão filmada, que será lançada em DVD em meados de outubro, e um livro publicado pela editora La Découverte.
O trabalho de Morin também é a ilustração das conclusões de um relatório publicado em março de 2011 por Olivier De Schutter, relator especial das Nações Unidas pelo direito à alimentação.
Neste relatório, o especialista afirma que a agroecologia, método baseado na renovação dos solos eliminando os fertilizantes químicos, pode permitir melhoras nos rendimentos nas regiões mais pobres, além de estar melhor adaptado às mudanças climáticas.
A alternativa aos pesticidas é a agroecologia
“Os projetos agroecológicos demonstraram um aumento médio dos rendimentos de 80% em 57 países em desenvolvimento, com um aumento médio de 116% para todos os projetos africanos”, afirmava seu autor.
Marie-Monique Robin partiu para entrevistar agricultores e camponeses ecológicos do mundo inteiro, para examinar se a agricultura ecológica baseada em um manejo adequado do solo, um uso eficiente da água, a diversidade vegetal, é o caminho para sair da crise global e conseguir alimentar o planeta Terra.
Ela se interessou, por exemplo, pelo método agroflorestal, que consiste em plantar em meio aos cultivos árvores capazes de captar a água mais profundamente no solo, manter a qualidade do solo e lutar contra a erosão.
“Os estudos demonstram que os sistemas agrícolas mais produtivos são os que apresentam uma densidade importante de árvores”, comprovou a jornalista, que ressalta que o modelo agroindustrial não conseguiu alimentar o planeta.
Para apoiar sua tese de que a alternativa aos pesticidas é a agroecologia, Morin reuniu em seu filme dezenas de exemplos de como camponeses do mundo substituíram os inseticidas com técnicas aparentemente simples, que matam as ervas e os insetos daninhos sem prejudicar o solo nem provocar doenças.
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2012/10/11/agroecologia-alimentar-o-mundo-sem-pesticidas-e-possivel-afirma-cineasta-francesa/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Agrotóxicos e orgânicos: relação entre saúde, meio ambiente e economia


Nas últimas semanas, uma discussão sobre o cultivo de alimentos de maneira orgânica e da forma tradicional – com uso de agrotóxicos – tem promovido grande polêmica entre os especialistas do tema. Um recente estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, comparou o valor nutricional dos alimentos orgânicos aos cultivados pela agricultura convencional. A tão polêmica pesquisa afirma que os alimentos orgânicos não são mais nutritivos e nem ao menos mais saudáveis que os convencionais. As afirmações, porém, têm gerado inúmeras críticas por parte de pesquisadores brasileiros, que asseguram que os orgânicos são a melhor opção.
De acordo com o estudo, baseado em uma revisão de resultados de 237 pesquisas, realizadas desde 1960, sobre o valor nutricional e os riscos que causam à saúde, em termos nutricionais, ambos os cultivos de alimentos orgânicos e convencionais (cultivados com uso de agrotóxicos e pesticidas) são iguais, pois as características nutritivas não têm a ver com o tipo de manejo, e sim com características do solo. O estudo aponta ainda que o diferencial do alimento cultivado de maneira orgânica é, em teoria, não ser contaminado com agrotóxicos. A revisão que baseou o estudo não deixou de lado os riscos que a ingestão de alimentos cultivados com base na agricultura convencional pode trazer à saúde humana. Ele aponta que os orgânicos oferecem 30% menos riscos de intoxicação por agrotóxicos que os alimentos da agricultura tradicional.
Na área da saúde pública, as afirmações do estudo têm causado polêmica. Pesquisadores de diversas instituições discordam das afirmações citadas pela pesquisa e ressaltam que, principalmente em níveis nutricionais, os dois tipos de produção de alimentos podem até não possuir tamanha diferença. Entretanto, em relação à produção e ingestão dos agrotóxicos, eles são categóricos quando afirmam os malefícios trazidos à saúde humana a ao meio ambiente, além do modelo de agronegócio. O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Marcelo Firpo, em entrevista ao Canal Ibase, disse que a abordagem que a mídia deu sobre o estudo não destacou os benefícios dos orgânicos.
“Até os responsáveis pela pesquisa ressaltaram que os orgânicos são vantajosos por conterem menos resíduos químicos (quase cinco vezes menos) e estarem até 33% menos expostos a bactérias resistentes a antibióticos”. Marcelo Firpo lembrou também que o Sistema de Agricultura Orgânica leva em conta o respeito à natureza e as questões sociais em sua cadeia produtiva. “É importante associar os agrotóxicos ao modelo ambientalmente insustentável e socialmente injusto dos monocultivos dependentes químicos, que caracterizam o modelo do agronegócio brasileiro”, defendeu ele.
Entrando no âmbito do modelo do agronegócio, a Ensp promoveu um grande debate na abertura do ano letivo da Escola de 2012. O coordenador do Movimento dos Sem Terra, João Pedro Stédile, que esteve na Ensp também para divulgar a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida afirmou em sua palestra que a difusão do uso de agrotóxicos no Brasil não tem a ver com a necessidade agronômica. Está totalmente relacionada à etapa atual do capitalismo, à qual nossa sociedade está subordinada. Stédile citou que, nos últimos dez anos, o uso de venenos no Brasil cresceu muito e, há três anos, ficou ainda pior. Atualmente, o país é apontado como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
O coordenador destacou que o modelo agrícola baseado no uso de agrotóxicos produz um PIB anual de R$ 140 bilhões. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), anualmente são usados no mundo cerca de 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas. Este consumo se difere nas várias regiões do país, nas quais se misturam atividades agrícolas intensivas e tradicionais. Pesquisas realizadas pela instituição apontaram que os agrotóxicos têm sido mais usados nas Regiões Sudeste (cerca de 38%), Sul (31%) e Centro-Oeste (23%). Na Região Norte, o consumo de agrotóxicos é comparativamente muito pequeno (pouco mais de 1%), enquanto na Região Nordeste (em torno de 6%), uma grande quantidade concentra-se principalmente nas áreas de agricultura irrigada.
O coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Ensp, Josino Costa Moreira, foi entrevistado para falar sobre as polêmicas afirmações da pesquisa americana, sobre o uso dos agrotóxicos e suas relações prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, além de apontar os modelos econômicos de agricultura. A seguir, a entrevista.
Um polêmico estudo afirma que os alimentos orgânicos não são mais nutritivos e nem mesmo mais saudáveis que os convencionais. Segundo a pesquisa, existe pouca diferença em relação aos benefícios à saúde entre orgânicos e alimentos convencionais.  Uma crítica, de pesquisadores brasileiros, é que o estudo não teria considerado os efeitos da exposição prolongada a pesticidas e agrotóxicos na saúde. Que tipos de danos podem ser relacionados a esse consumo prolongado de alimentos contaminados?
Moreira:Penso que, neste comentário, estão incluídos conceitos bem distintos: um relativo à capacidade nutricional e outro à segurança dos alimentos. Quanto à capacidade nutricional, eu, embora não seja especialista no assunto, acredito que a afirmação esteja correta. Ou seja, não devem existir diferenças significativas entre produtos cultivados de maneira orgânica ou não. Quanto à segurança de fato, a existência de resíduos de substâncias não naturais (particularmente aquelas que têm propriedades biocidas) em qualquer alimento não é desejável.
Entretanto, a utilização do termo agrotóxicos – que representa uma família de mais de uma centena de substâncias diferentes, que possuem atividade biológica, mecanismo de ação e propriedades completamente diferenciadas –, generaliza muito o comentário e o enfraquece. Isso porque, em numerosos casos, inexiste comprovação válida em termos científicos, ou ainda essa comprovação é extremamente débil sobre os riscos que algumas dessas substâncias, mesmo em casos de exposição prolongada a seus resíduos, trazem à saúde. Discussões genéricas trazem o risco de nos envolvermos em discursos inflamados, mas sem qualquer base científica sólida.
Outro dado destacado na pesquisa é sobre o modo de produção de alimentos, tendo em vista que, em uma agricultura orgânica, se deve levar em conta o respeito à natureza e as questões sociais em sua cadeia produtiva. O que o senhor aponta como a principal diferença entre esses dois modelos: o modelo ambientalmente sustentável e o de monocultivos?
Moreira:A diferença fundamental perpassa muito mais os aspectos econômicos que aqueles relacionados à saúde ambiental. Sob este ponto de vista, interessa a produtividade e o menor custo de produção; quanto maior a produtividade e menor o custo, melhor. Políticas de aumento de produtividade agrícola, em geral, trazem em seu âmago o incentivo à monocultura e ao uso de agrotóxicos e fertilizantes.
Atualmente, muito se fala sobre a agricultura orgânica. Esse modo de produção é economicamente viável, de maneira que, em um determinado espaço de tempo, apenas se cultive alimentos orgânicos?
Moreira:A agricultura orgânica tem se mostrado economicamente viável, e essa viabilidade conta com um fator importante que é o preço dos alimentos produzidos por essa via, bem mais elevado que os demais, o que tem privilegiado as classes de maior poder de compra em detrimento das outras. Sobre a produção exclusivamente orgânica, eu creio que podemos caminhar para isso, mas ainda há um longo caminho a percorrer, envolvendo inclusive uma grande mudança de mentalidade.
A questão do uso dos agrotóxicos hoje é debatida tanto no meio acadêmico, por meio de pesquisas científicas, quanto nos movimentos sociais, como, por exemplo, na campanha Contra os agrotóxicos e pela vida, liderada pelo Movimento dos Sem Terra. Isso significa que a questão passou a ser uma discussão integrada na sociedade. O senhor acha que, atualmente, podemos começar a discutir de fato um modelo de desenvolvimento sustentável, que considere essa integração entre a saúde e o ambiente?
Moreira:O próprio conceito de saúde inclui, há muito tempo, o ambiente, o que mostra que a relação saúde-ambiente é indissociável. Não se pode falar de saúde sem considerar o ambiente. É óbvio que uma discussão do modelo de desenvolvimento e, principalmente, de sustentabilidade deve ter a participação de todas as camadas populares e requer a conscientização por parte delas, baseada em critérios válidos em termos científicos. A sustentabilidade jamais será obtida sem a participação de todos.
Reportagem de Tatiane Vargas, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 08/10/2012

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Agrotóxicos e a poluição das águas


A utilização de agrotóxicos é a 2ª maior causa de contaminação dos rios no Brasil, perdendo apenas para o esgoto doméstico, segundo dados do IBGE. Considerando que a agricultura é o setor que mais consome água doce no Brasil, cerca de 70%, segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pode-se dizer que além de sérios problemas para a saúde, os agrotóxicos também se transformaram em um grave problema ambiental no país.
De acordo com o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Campinas, Mohamed Habib, “hoje o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo, embora não seja o maior produtor”. Atualmente o Brasil utiliza 19% de todo defensivo agrícola produzido no planeta, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Além disso, mais de 99% dos venenos aplicados na lavoura não atingem a praga alvo. Então, pode-se dizer que mais de 99% dos agrotóxicos vão para os rios, para o solo, para o ar e para a água subterrânea”, afirma Habib.
Para o especialista em instrumentação ambiental e hidrológica, Mauro Banderali, “Embora a disponibilidade de água no Brasil seja imensa, é preciso garantir sua qualidade para as gerações futuras. Por isso, ao detectar o aparecimento de resíduos de agrotóxicos nas reservas de água subterrânea e superficial, é necessário tomar medidas para evitar o agravamento do problema. Quando a água é contaminada por defensivos agrícolas, sua detecção e descontaminação é mais difícil e custosa. De modo geral, esses químicos raramente são analisados ou removidos das águas, tornando-se uma ameaça à saúde de todos que a ingerem, particularmente para substâncias cumulativas”.
Consequências para a vida aquática
A água poluída com agrotóxicos irá prejudicar diretamente a fauna e a flora aquática. “A contaminação das águas pelos agrotóxicos tem efeito direto nos seres vivos que vivem na água, a biota de um modo geral. Se o veneno que chega nas águas for o herbicida, o efeito é direto e pode, por exemplo, matar as plantas aquáticas. Se o rio for contaminado por um veneno que mata animais, pode ocorrer a morte de algumas espécies de peixes menores”, explica o professor.
Além dos efeitos diretos, o carregamento de agrotóxicos pelos rios e lagos, também traz alguns efeitos indiretos para a biota aquática e para a saúde humana. “Alguns peixes armazenam os agrotóxicos no tecido adiposo e por isso, não sofrem danos diretamente. No entanto, quando nós compramos esse peixe contaminado com veneno e o ingerimos, algumas pessoas podem passar mal e sofrer algum tipo de intoxicação (envenenamento). Tem muita gente que compra peixes pequenos para dar para seu gato de estimação e o animal chega até a morrer”, alerta Habib.
Os compostos orgânicos, ao entrar em contato com a água, provocam um aumento no número de microrganismos decompositores. De acordo com o especialista Mauro Banderali, “além de estarmos criando um ambiente de restrição da vida, ainda criamos uma armadilha para as populações que se utilizam desta água, em razão de inúmeros defensivos agrícolas utilizarem em sua formulação compostos orgânicos altamente estáveis e lipossolúveis, depositando-se preferencialmente nas gorduras dos animais. Por ingestão da água ou de animais que dela dependem, estamos acumulando estes defensivos em gorduras do corpo que jamais serão eliminadas em vida”.
Ao serem carregados pelas águas superficiais, os agrotóxicos passam a fazer parte do do ciclo natural da natureza. Segundo o professor da Unicamp, “quando se trata de água corrente, o veneno vai fazer parte de um ciclo e um dia vai chegar ao oceano. Ainda hoje, análises nas geleiras polares mostram que naquele gelo existe DDT, um veneno proibido há muitos anos. Isso é pra se ter uma ideia do processo: saiu da lavoura através da chuva, passou pelos rios e mar e através das correntes marítimas, chegou às geleiras”, comenta Mohamed Habib.
O Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) foi o primeiro veneno moderno, sintetizado em 1874 e utilizado como pesticida a partir de 1939. Após a Segunda Guerra Mundial, foi usado em larga escala para combater os mosquitos da malária. O DDT foi banido de vários países na década de 70, após estudos comprovarem sua relação com casos de câncer. No Brasil, seu uso foi proibido na agricultura em 1984, porém sua produção em larga escala, uso como medicamento e exportação foram permitidos até 2009 ,conforme lei federal nº. 11.936 de 14 de maio de 2009. De acordo com o professor Mohamed Habib, “alguns tipos de venenos como é o caso dos organoclorados, venenos utilizados antigamente por produtores rurais, apesar de serem proibidos, continuam sendo aplicados e usados ilegalmente”. Os organoclorados são os inseticidas que mais persistem no meio ambiente, chegando a permanecer por até 30 anos.
Segundo o especialista em instrumentação ambiental, Mauro Banderali, é preciso conhecer a qualidade das águas nas regiões influenciadas pela agricultura. “Uma das maneiras de avaliar os impactos dos defensivos agrícolas nos recursos hídricos consiste no monitoramento desses resíduos. Atualmente, já existem tecnologias que monitoram e mensuram parâmetros físico-químicos na água e são aplicados no monitoramento geral da sua qualidade, porém moléculas químicas específicas, se faz necessário o apoio de laboratórios especializados para sua detecção.
Problema brasileiro
Para Mohamed, o Brasil é um país sem conscientização do problema em relação aos demais. “Estamos falando de países com uma situação melhor que a nossa: Europa, América do Norte e alguns países asiáticos como o Japão. Esses países têm consumidores muito mais conscientes em relação à utilização de agrotóxicos que cobram essa postura de seus governos. Portanto, os governos também são mais conscientes, não formam lobbys como no Brasil. O setor industrial também é mais consciente, não é como o Brasil que faz de conta que não está acontecendo nada e continua abusando da utilização dos agrotóxicos”, comenta o professor.
Segundo Habib, a utilização de agrotóxicos hoje é uma prática condenada, “porque a ciência coloca à disposição vários outros métodos de produção. Basta investir. Basta a sociedade humana valorizar um pouco mais a vida, pois hoje estamos pagando muito caro pelas irresponsabilidades do passado”.
Ingestão de agrotóxicos e saúde
Pela água ou através do próprio consumo de alimentos, a ingestão de venenos agrícolas pode ocasionar diversos tipos de doenças, seja ela em grandes ou pequenas quantidades. Conforme explica o professor da Unicamp e engenheiro agrônomo, Mohamed Habib, “dependendo do tipo de veneno, os efeitos para a saúde humana são morte, envenenamento estomacal, problemas no sistema nervoso, convulsões, lesões nos rins e cânceres. Esse efeito pode ser agudo, imediato ou crônico, a curto, médio ou longo prazo. As consequências podem aparecer também nos filhos e netos dessa pessoa, principalmente quando se trata das doenças cancerígenas e tumores”.
Fonte: Redação Ag Solve, por Larissa Stracci

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Suplementos alimentares ‘emagrecedores’: Por trás da promessa de milagre, o pesadelo


Pessoas que consumiram produtos vetados no Brasil, como OxyElite Pro, Jack 3D e Lipo-6 Black, atestam as consequências nocivas à saúde que esses compostos provocam, como taquicardia, hipertensão e dependência. Em Recife, um jovem morreu. Matéria de Mariana Labossière e Adriana Bernardes, no Correio Braziliense, socializada pelo ClippingMP.
Um corpo perfeito em doses homeopáticas. Apenas alguns gramas para um dia inteiro de disposição. As promessas impressas nos rótulos de suplementos alimentares, como OxyElite Pro, Jack 3D e Lipo-6 Black, vetados no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), jogam para escanteio os riscos devastadores dessas substâncias. Os danos ao metabolismo são apenas um detalhe diante da perda irreparável de um ente querido. Por trás da obsessão por resultados estéticos, o Correio desvenda histórias de pessoas que sentiram na pele os efeitos colaterais do consumo (Leia depoimentos).
A secretária Adriana Martins, 42 anos, comprou o OxyElite na esperança de emagrecer. Foram 15 dias de uso, horas de malhação pesada e cinco quilos a menos. “Eu não ficava cansada. Em um sábado, passei a manhã toda me exercitando. Cheguei na academia às 7h e saí ao meio-dia”, relata. A sensação de atingir o objetivo, entretanto, mascarou os perigos do composto. “Os sinais estavam todos ali. Tinha fortes dores na nuca que se transformavam em dores de cabeça, além de taquicardia. A agitação acabava me deixando nervosa, mas só depois descobri que estava tomando uma verdadeira bomba”, acrescenta.
O sinal vermelho veio com uma alteração repentina da pressão. Adriana resolveu buscar um especialista. Ela descobriu que estava hipertensa. Nos seis meses seguintes, teve de ser acompanhada por um cardiologista e um endocrinologista. “Eu não tinha nenhum histórico, por isso, os médicos disseram que o problema foi desencadeado pelo OxyElite”, explica.
E essa não foi a única consequência. Após interromper o uso do composto, Adriana, que pesava 78 kg antes das cápsulas, viu a balança marcar 12 quilos a mais. “Ele causa esse efeito sanfona, pelo que me explicaram. Na hora da empolgação, você não pensa nisso. Fiquei com muito medo de ter problemas para o resto da vida. Confesso ter me arrependido”, expõe. Embora não tenha perdido o peso extra, depois de um longo tratamento, afirma ter voltado à vida normal.
Diante do susto, a secretária, mãe de três filhos, um deles adepto à suplementação, faz reuniões frequentes com a família. Segundo ela, o intuito é alertá-los sobre os malefícios de alguns produtos. “Eu nunca iria deixar um filho meu passar por algo parecido. Num primeiro momento, parece ser sonho, mas você acorda num pesadelo.”
Para a família Sampaio, a tragédia chegou primeiro que o alerta. “Antes de você ligar, estava olhando as fotos dele”. A voz carregada de saudades, do outro lado da linha, é de uma mãe. Em maio próximo, completam dois anos desde a morte do filho, que aconteceu em maio de 2011. Wilson Sampaio Júnior tinha 18 anos quando foi encontrado sem vida pelos pais dentro do banheiro de casa, em Recife (PE). O casal atribui o episódio ao consumo do Jack 3D, vendido ao rapaz por um instrutor de academia.
Gás
O professor de musculação Vitor Ferreira dos Santos, 29 anos, admite que o consumo dos produtos é arriscado. Ele diz já ter usado tanto o Jack 3D como o OxyElite Pro e o Lipo-6 Black. Todos eles antes do veto do órgão sanitário. Com o primeiro, conseguiu perder 2 quilos de gordura em duas semanas e, com o segundo, chegou ao limite da resistência. “Todos me deram mais gás para malhar, mas eu fazia acompanhamento. Era tudo certinho. Agora, a maioria das pessoas não sabe administrar o produto e acaba abusando na dosagem. Já vi pessoas tomando mais de seis cápsulas por dia. Não tem como não passar mal desse jeito”, pontua. “É perigoso porque todos aumentam o batimento cardíaco. Além disso, pode causar dependência”, completa. Santos afirma ter abandonado o consumo desses suplementos. Hoje, o profissional diz optar por produtos similares, inclusive de marcas nacionais.
A professora de dança Júlia Satiê, 29 anos, foi apresentada ao OxyElite pelo namorado. Para aguentar mais de 12 horas de serviço, começou a tomar o composto por conta própria. “Fiquei antenada, trabalhava sem cansaço. A minha parte sensorial também ficou muito aguçada. Em contrapartida, andava nervosa e ele me causou uma certa dependência psicológica, pois andava com o suplemento na bolsa, para ter segurança”, revelou. O uso frequente, no entanto, foi interrompido depois de uma aluna mencionar a possibilidade de o suplemento causar falência renal. “Fui pesquisar sobre o assunto e descobri que ele estava proibido. Tomei um susto. Fiquei com medo e hoje busco meios mais naturais de melhorar meu desempenho”, garante. Os depoimentos reforçam o perigo dos produtos, mostrado pelo Correio em uma série de reportagens sobre o assunto iniciada há uma semana.
Sonho destruído de um atleta
Wilsinho, como era carinhosamente chamado pela família, sonhava em ser jogador de futebol profissional. Durante 10 anos, batalhou pelo sonho. Chegou a jogar pelo juvenil do Sport Club, em Recife, e estava prestes a ingressar no time juniores do Santa Cruz. O esforço que durou uma década, no entanto, acabou em apenas uma mês de uso de suplementação. “Ficamos cego. Não acreditamos que algo recomendado por um pessoa em uma academia poderia fazer mal. Infelizmente, só percebemos tarde demais”, desabafou a mãe de Wilsinho, a funcionária pública Marcelle Sampaio, 42 anos. Desde a morte do filho, tanto ela quanto o pai do menino, o dentista Wilson Sampaio, 50, lutam em Pernambuco para que outros jovens não passem pela mesma situação.
Para Marcelle, o consumo de suplementos deve ser observado de perto pelos pais. Ela ressalta ainda a importância de um acompanhamento especializado por parte do nutricionista. “À época, ficamos preocupados, pois sabíamos o que meu filho estava fazendo, mas não tínhamos ideia do que poderia acontecer. O rótulo do produto ainda estava em inglês, não conseguíamos ler”, mencionou. “Os pais devem ir nas academias e verificar os profissionais que acompanham os filhos e também o suplemento que eles irão tomar. Às vezes, até o que é vendido na farmácia não está correto”, completou a mãe, que mora em Recife.
Indiciamento
O professor estagiário José Dorgival Cavalcanti Júnior foi indiciado pela Delegacia do Consumidor de Pernambuco por comercializar o Jack 3D. Além responder pela venda, ele poderá cumprir pena por crime contra a saúde pública e pegar até 15 anos de prisão. Por ora, está solto. Para Marcelle, a falta de tecnologia suficiente no Brasil impediu que fosse possível identificar a substância do suplemento alimentar no corpo do filho. Com isso, Cavalcanti acabou não respondendo por homicídio culposo — quando há intenção de matar. A mãe ainda tem esperança de que a comprovação aconteça em laboratório estrangeiro. “Quero provar para o Brasil todo que meu filho morreu por isso.” (ML)
Legislação
Por conta do caso de Wilson, uma lei sancionada em abril de 2012 determina que as academias do estado de Pernambuco exibam avisos sobre o risco do uso de suplementos alimentares sem consulta médica. No Distrito Federal, existe uma lei similar que trata sobre anabolizantes, mas ainda falta ser regulamentada.
Depoimentos
Lojas continuam oferecendo”
“A procura pelo OxyElite sempre foi grande na loja onde eu trabalho. Com a proibição, no entanto, as lojas continuaram oferecendo o suplemento alimentar, mas de forma camuflada. Com isso, os prejuízos foram incalculáveis, pois era grande a saída desse produto. Até hoje, as pessoas ligam querendo, perguntando se funciona, mas optamos por vender similares, que não têm as substâncias proibidas. Procurávamos indicar o OxyElite para pessoas com boa saúde. Sempre perguntávamos o histórico dela antes, pois claro que não iríamos vender para um hipertenso, mas isso não acontecia em todas as lojas.” Sócio-proprietário de uma loja de suplementos, que preferiu ter a identidade preservada
Tem efeitos colaterais”
“Consegui perder dois quilos em duas semanas, mas não achei legal. Foi muito rápido e temi os riscos. Além disso, tem todos os efeitos colaterais, o coração acelerado, dá gastrite também. Eu tomava uma cápsula apenas e meu intuito era perder peso, mas também malhava, fazia uma dieta. A gente sabe, entretanto, que nem todas as pessoas fazem isso. De toda forma, o OxyElite, assim como qualquer outra substância em excesso, faz mal.” Paulo Henrique Açunção Leal, 24 anos, professor de educação física
EcoDebate, 21/01/2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Na contramão das atitudes sustentáveis: a obsolescência programada, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira


Obsolescência programada é um conceito que preconiza diminuir a vida útil de um produto para “forçar” o consumo de versões mais recentes ou modernas, estimulando assim o consumismo, descartando, com isso, o conserto. Esse termo é originário do processo de “descartalização” criado a partir da década de 1930 por algumas economias capitalistas europeias no intuito de movimentar a “máquina econômica” com mais produção, uma vez que o estoque de produtos que se encontrava totalmente parado nas fábricas e, principalmente, nos portos, devido à Grande Depressão Econômica de 1929, fez travar o giro da economia.

O produto mais ilustrativo dessa prática (e dessa época) foi a lâmpada. Nos anos 1920, uma simples lâmpada durava mais de 2500 horas. Percebendo, nesse caso, que as vendas seriam bem menores dada a elevada durabilidade do produto, os fabricantes rapidamente trataram de dar uma vida útil bem baixa a esse produto. Pouco tempo depois, o ciclo de vida desse produto caia para menos de 1000 horas.

De acordo com o documentário The Lightbulb Conspiracy (A Conspiração da Lâmpada) dirigido por Cosima Dannoritzer, fabricantes de lâmpadas se reuniram para definir padrões de produção que aumentariam o consumo. Empresas de variados segmentos produtivos descartaram projetos cujo foco era a durabilidade; designers criaram (e ainda criam; vide os celulares e os notebooks, por exemplo) produtos que ficariam defasados em curto espaço de tempo e chips foram colocados em impressoras para contar o número de impressões, dimimuindo-as para pouco tempo. Aos poucos, além das lâmpadas e impressoras outros produtos foram ganhando essa mesma tendência; em especial, os eletroeletrônicos e suas múltiplas versões e a indústria de confecção que “força” uma nova moda e tendência (incluindo estilos e, principalmente, cores de roupas) a cada estação do ano.

Na verdade, a prática da obsolescência programada (proposital curta vida útil) se configura numa maquiavélica estratégia de mercado, tendo em vista que em alguns casos o conserto, propositadamente, é mais caro, o que inevitavelmente faz com que os consumidores não tenham alternativas, a não ser partir para uma nova compra. Isso nada mais é do que uma manipulação das indústrias em prol do ato de consumir. Em outras palavras, é andar na contramão das atitudes sustentáveis, enaltecendo assim um profundo desrespeito das indústrias para com os consumidores, com o planeta e com a natureza.

Na prática, alguns segmentos produtivos que ainda adotam esse procedimento incorrem na “necessidade” de forçar mais produção e, portanto, mais poluição, tanto no ato da produção quanto no descarte. É a economia que não quer parar de crescer, trazendo em seu rastro dilapidação ambiental. Essa prática nada recomendável embute um desajuste sobre a atividade econômica que resvala sobremaneira na capacidade do planeta em suportar produções em escalas cada vez mais alucinantes. Nesse pormenor, é importante lembrar que a humanidade já está consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor e é preciso que haja uma redução em até 40% nas emissões de gases de efeito estufa para que a temperatura não suba mais do que 2º C.

O forte apelo ao consumo se concentra basicamente nas mãos de 20% da humanidade que “engole” 80% de tudo o que é produzido no planeta, demandando recursos naturais que a natureza não é capaz de prover. Lamentavelmente, a obsolescência programada tem contribuído muito para isso.

Marcus Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é Economista e Professor. Mestre pela USP em Integração da América Latina. prof.marcuseduardo@bol.com.br

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/01/31/na-contramao-das-atitudes-sustentaveis-a-obsolescencia-programada-artigo-de-marcus-eduardo-de-oliveira/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Estudo indica responsabilidade parcial de pesticidas na queda da população de anfíbios


A queda importante na população mundial de rãs e sapos pode ser parcialmente atribuída ao uso de pesticidas, alertaram esta quinta-feira cientistas na Alemanha. Matéria da AFP, noYahoo Notícias.
Testes com fungicidas e inseticidas, quando usados nas proporções recomendadas, mataram 40% das rãs após sete dias e, em um caso, 100% dos anfíbios após apenas uma hora, afirmaram.
Os experimentos, realizados com apenas um pequeno número de animais, foram feitos por uma equipe chefiada por Carsten Bruehl, da Universidade de Coblenz-Landau, na Alemanha.
Eles capturaram 150 exemplares jovens de rã comum da Europa (“Rana temporaria”) e os expuseram a sete produtos agrícolas, com o objetivo de reproduzir em laboratório as condições encontradas no campo.
As rãs foram mantidas em grandes contêineres, com solo cultivado com cevada. O produto químico foi espargido uma vez, em uma quantidade que os cientistas dizem ser igual àquela que cairia em uma área similar de uma lavoura.
Foram aplicadas três tipos de doses: concentrações recomendadas, um décimo das concentrações recomendadas e 10 vezes as concentrações recomendadas.
A substância mais tóxica, segundo o estudo, foi o fungicida Headline, usada para evitar fungos em cultivos de soja e trigo. Na dose recomendada, ela matou todas as rãs usadas no teste no intervalo de uma hora.
Apenas 5 rãs foram usadas em cada experimento e os animais foram usados cuidadosamente, obedecendo a critérios éticos.
Em cada experimento, apenas três rãs foram inicialmente expostas à substância e se elas sobrevivessem por 24 horas, as outras duas eram incluídas no experimento. Se as três morressem antes de 24 horas, as outras duas não eram inseridas.
Segundo a respeitada “Lista Vermelha” da biodiversidade ameaçada, 41% das espécies de rãs e sapos estão em risco de extinção.
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que compila a lista, culpa a perda de hábitat, a poluição, incêndios, as mudanças climáticas, doenças e a superexploração da terra.
Mas o novo estudo, publicado na revista Scientific Reports, destacou que o dano colateral dos pesticidas não foi considerado.
Segundo a pesquisa, os anfíbios são especialmente vulneráveis a estes produtos químicos porque sua pele é altamente permeável.
“A toxicidade demonstrada é alarmante e um efeito negativo em larga escala da exposição terrestre a pesticidas nas populações de anfíbios parece provável”, alertou o artigo