quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Cientistas sugerem ligação entre poluição do ar e ocorrência de autismo


Pesquisa liga autismo à poluição atmosférica – Uma pesquisa [Traffic-Related Air Pollution, Particulate Matter, and Autism] realizada na Califórnia, Estados Unidos, sugere que o autismo está ligado à poluição gerada por veículos.
O estudo envolveu mais de 500 crianças e as descobertas foram apresentadas na revista especializada Archives of General Psychiatry.
Os pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia usaram dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos para calcular os níveis de poluição registrados nos endereços escolhidos para participar da pesquisa.
Os dados foram usados para comparar a exposição à poluição no útero e durante o primeiro ano de vida. Foram analisadas 279 crianças com autismo e 245 crianças sem o problema.
De acordo com os cientistas, as crianças que viviam nas casas expostas à uma quantidade maior de poluição “tinham três vezes mais chances de ter autismo, comparadas às crianças que moravam em casas com níveis mais baixos de exposição” à poluição.
Os pesquisadores da Califórnia alertam que esta constatação pode ter implicações mais amplas, pois a poluição do ar é “comum e pode ter efeitos neurológicos duradouros”.
Outras variantes
Outros pesquisadores questionaram como a poluição pode alterar o desenvolvimento do cérebro de uma criança e levar ao autismo.
“Me parece muito improvável que a associação (entre poluição do ar e autismo) seja causal”, afirmou Uta Frith, professora de desenvolvimento cognitivo do University College de Londres.
Para a professora, o estudo californiano não “nos fez avançar em nada, pois não apresenta um mecanismo convincente pelo qual os poluentes podem afetar o desenvolvimento do cérebro para resultar em autismo”.
Um dos problemas com estudos deste tipo é que é difícil analisar todos os aspectos da vida de uma pessoa que podem afetar a probabilidade de desenvolver autismo, como o histórico familiar, por exemplo.
Isto significa que o estudo não pode afirmar que o autismo é causado por poluição gerada por veículos, apenas que pode haver uma ligação entre as duas coisas.
Mas, para Sophia Xiang Sun, do centro de pesquisas em autismo da Universidade de Cambridge, diminuir a poluição seria uma boa ideia.
“Sabemos que a poluição do ar relacionada ao trânsito de veículos pode contribuir com muitas outras doenças e é biologicamente plausível que também tenha um papel no desenvolvimento do autismo”, afirmou.
“No entanto, existindo ou não uma associação potencial entre autismo e poluição do ar, a redução desta poluição relacionada ao trânsito seria boa para a saúde pública”, acrescentou.
Traffic-Related Air Pollution, Particulate Matter, and Autism ONLINE FIRST
Heather E. Volk, PhD, MPH; Fred Lurmann; Bryan Penfold; Irva Hertz-Picciotto, PhD; Rob McConnell, MD
Arch Gen Psychiatry. 2012;():1-7. doi:10.1001/jamapsychiatry.2013.266.
http://archpsyc.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1393589#Abstract
Matéria de James Gallagher, Repórter de ciência da BBC News,

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Estudo indica diminuição da concentração do sêmen e de sua morfologia em toda França


Uma queda “significativa” da concentração de espermatozóides no sêmen e da qualidade deste, entre 1989 e 2005, na França, foi confirmada por um novo e vasto estudo [Decline in semen concentration and morphology in a sample of 26 609 men close to general population between 1989 and 2005 in France ] realizado com mais de 26.600 homens.
“Até onde sabemos, trata-se do primeiro estudo que demonstra uma redução grave e geral da concentração do sêmen e de sua morfologia na escala de um país e durante um período importante”, indicam os autores, que publicam seus resultados nesta quarta-feira na revista europeia Human Reproduction. Matéria da AFP, no Yahoo Notícias, com informações adicionais do EcoDebate.
“Isto é uma advertência séria”, acrescentam, ressaltando que “a relação com o meio ambiente (com os perturbadores endócrinos, por exemplo) deve ser determinada”.
Esta pesquisa confirma outras anteriores, mais limitadas, que já mostravam uma diminuição similar na concentração e qualidade do sêmen.
“Este é o maior estudo realizado na França e provavelmente no mundo, se levarmos em conta que trabalhamos com uma amostra representativa da população geral”, disse à AFP a doutora Joelle Le Moal, epidemiologista do Instituto de Vigilância Sanitária francês.
No período de 17 anos (1989-2005) estudado, a diminuição é significativa e contínua (1,9% anual), o que leva a uma redução total de 32,2% na concentração espermática (milhões de espermatozóides por mililitro de sêmen).
Em um homem de 35 anos, nestes 17 anos, a contagem de espermatozóides passou de 73,6 milhões/ml para 49,9 milhões/ml em média.
Além disso, o estudo mostrou uma redução significativa de 33,4% na proporção de espermatozóides com forma normal no mesmo período.
Para formar o grupo de mais de 26.000 homens, os pesquisadores utilizaram a base de dados de usuários do programa de ajuda à procriação (APM) da associação especializada Fivnat, que coletou até 2005 os dados de 126 centros de APM.
As amostras de sêmen provêm dos casais com mulheres completamente estéreis (obstrução ou ausência das tropas de Falópio), o que significa que estes homens não foram selecionados com base em seu nível de fertilidade, o que os aproxima da população geral.
As concentrações de esperma fértil permanecem no padrão médio da OMS (mais de 15 milhões/ml), afirma a doutora Le Moal.
Mas, segundo alguns estudos, as concentrações abaixo de 55 milhões/ml influenciam negativamente no tempo necessário para procriar, embora isso, que reflete a fertilidade de um casal, também dependa de outros fatores, socioeconômicos e de comportamento (por exemplo, o momento das relações sexuais em relação ao período fértil), explicou.
Por último, esta diminuição da qualidade do esperma na realidade pode ser ainda mais importante pelo fato de a população estudada ter, a priori, menor tendência a fumar ou à obesidade, dois fatores conhecidos por afetar a qualidade do sêmen, segundo os pesquisadores.
Decline in semen concentration and morphology in a sample of 26 609 men close to general population between 1989 and 2005 in France
Hum. Reprod. (2012) doi: 10.1093/humrep/des415 First published online: December 4, 2012

Estudo indica que certas profissões representam maior risco de câncer de mama do que outras


Existe uma ligação entre o risco de câncer de mama e o ambiente de trabalho? Um estudo [Neural Breast cancer risk in relation to occupations with exposure to carcinogens and endocrine disruptors: a Canadian case-control study], publicado na revista open access Environmental Health, fornece evidências adicionais sobre este tema de pesquisa, anteriormente negligenciado, confirmando que certas profissões representam um maior risco de câncer de mama do que outras, particularmente aquelas que expõem a trabalhadora a agentes cancerígenos e desreguladores endócrinos.
O câncer de mama é o diagnóstico de câncer mais freqüente entre as mulheres em países industrializados e as taxas norte-americanas estão entre as mais altas do mundo. Desreguladores endócrinos químicos e substâncias cancerígenas, alguns dos quais ainda não oficialmente classificados como tal, estão presentes em muitos ambientes de trabalho e podem aumentar o risco de câncer de mama. Em seu estudo, James T Brophy e seus colegas buscaram caracterizar as possíveis ligações entre câncer de mama e ocupação, especialmente na agricultura e indústria.
O estudo foi realizado no sul de Ontário, no Canadá, e incluiu 1.006 casos de câncer de mama (reconhecidos pelo Regional Windsor Cancer Centre) com 1.147 controles da comunidade aleatoriamente selecionados e combinados. Por meio de entrevistas e pesquisas, a equipe coletou dados sobre histórias ocupacionais e reprodutivas dos participantes. Todos os trabalhos foram codificados por sua probabilidade de exposição a agentes cancerígenos e desreguladores endócrinos.
Os autores, neste grupo de participantes, identificaram que, em todos os setores, as mulheres em postos de trabalho com exposição a agentes cancerígenos potencialmente elevados e desreguladores endócrinos tiveram um risco mais elevado de câncer de mama. Os setores com maior risco foram agricultura, fabricação de plásticos automotivos, de conservas de alimentos e metalurgia.
É importante ressaltar que o risco de câncer de mama na pré-menopausa foi maior nos setores plásticos automotivos e indústrias de conservas de alimentos.
Os resultados também sugerem que as mulheres com menor nível socioeconômico tiveram um risco mais elevado de câncer de mama, o que pode resultar de exposições mais elevadas a desreguladores endócrinos químicos nas indústrias de baixa renda e na de produção agrícola.
Os resultados reforçam as hipóteses que ligam o risco de câncer de mama e exposições a substâncias cancerígenas e desreguladores endócrinos.
Para James T Brophy, coordenador do estudo, diz “Nossos resultados destacam a importância de estudos ocupacionais na identificação e quantificação de fatores de risco ambientais e ilustra o valor de pesquisar as histórias ocupacionais de pacientes com câncer. Evidências crescentes sugerem que nós precisamos reavaliar limites de exposição profissional, inclusive regulamentando novas regras de proteção ocupacional.”
Neural Breast cancer risk in relation to occupations with exposure to carcinogens and endocrine disruptors: a Canadian case-control study
James T Brophy, Margaret M Keith, Andrew Watterson, Robert Park, Michael Gilbertson, Eleanor Maticka-Tyndale, Matthias Beck, Hakam Abu-Zahra, Kenneth Schneider, Abraham Reinhartz, Robert DeMatteo and Isaac Luginaah
Environmental Health
Redação do EcoDebate com informações de Hilary Glover, BioMed Central
Fonte: EcoDebate

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os produtores rurais brasileiros estão usando mais agrotóxicos em suas lavouras


Uso de defensivos é intensificado no Brasil
Os produtores rurais brasileiros estão usando mais defensivos em suas lavouras. Apesar do expressivo crescimento da área cultivada com sementes transgênicas, tecnologia que promete reduzir o uso de químicos na produção agrícola, as vendas desses produtos aumentaram mais de 72% entre 2006 e 2012 – de 480,1 mil para 826,7 mil toneladas -, segundo dados do Sindag, sindicato que representa fabricantes de defensivos no país.
A reportagem é de Gerson Freitas Jr e publicada pelo jornal Valor, 30-07-2012.
No mesmo período, a área cultivada com grãos, fibras, café e cana-de-açúcar cresceu menos de 19%, de 68,8 milhões para 81,7 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso significa que o consumo médio de agrotóxicos, que era pouco superior a 7 quilos por hectare, em 2005, passou a 10,1 quilos em 2011 – um aumento de 43,2%.
Entre as principais classes de produtos, as vendas de fungicidas foram as que mais cresceram. Entre 2006 e 2011, o uso anual do produto destinado a combater doenças como a ferrugem da soja mais que triplicou, de 56 mil para 174 mil toneladas. As vendas de inseticidas avançaram quase 84%, de 93,1 mil para 170,9 mil toneladas. Já as entregas de herbicidas, químico usado no combate a ervas daninhas, alcançaram 403,6 mil toneladas – um aumento de 44% em relação às 279,2 mil toneladas registradas em 2006.
As vendas de defensivos movimentaram quase US$ 8,5 bilhões no Brasil em 2011 – o dobro do apurado em 2005. Trata-se do segundo maior mercado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
O expressivo aumento no uso dos defensivos aconteceu no mesmo período em que o cultivo de transgênicos deu seu grande salto no país. Desde 2005, ano em que o Brasil aprovou suaLei de Biossegurança, a área plantada com sementes geneticamente modificadas mais do que triplicou, de 9,4 milhões para 32 milhões de hectares. Só o cultivo do milho transgênico com a tecnologia BT - que protege as plantações dos ataques de lagartas e dispensa o uso de inseticidas para esse fim- saltou de zero para quase 10 milhões de hectares, de acordo com os últimos dados da consultoria Céleres.
Anderson Galvão, CEO da Céleres, afirma que não há contradição no aumento das vendas tanto de transgênicos quanto de agroquímicos. “Embora a biotecnologia pressuponha um menor uso de defensivos, a base inicial é muito baixa”, justifica. Ele pondera que, até meados da última década – anos de vacas magras na agricultura brasileira -, os produtores aplicavam menos químicos do que o necessário para combater as pragas nas lavouras devido à necessidade de cortar custos. Com o aumento da renda nos últimos anos, no entanto, os produtores puderam investir mais no trato das plantações. “Não fosse a biotecnologia, esse crescimento teria sido ainda maior”, garante. “O fato é que a intensidade tecnológica da produção está crescendo. O que tínhamos antes era um problema de subdosagem”, afirmaIvan Sampaio, gerente de informação do Sindag.
Narciso Barison Neto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), afirma que parte do aumento no uso de agrotóxicos deve-se à chegada da ferrugem asiática da soja na década passada. “O controle da doença exigiu um maior número de aplicações. E aí é indiferente se a soja é transgênica ou não, porque ainda não temos um produto que seja imune à ferrugem”, pondera.
De todo modo, os benefícios da biotecnologia em relação ao uso de agrotóxicos nas plantações ainda são marginais. De acordo com a Céleres, o plantio de sementes transgênicas poupou o uso de 4,9 mil toneladas de defensivos na safra 2010/11 – menos de 1,5% do volume total pulverizado. Desde a temporada 1996/97, quando os primeiros transgênicos chegaram ao Brasil, a economia acumulada não passou de 14,5 mil toneladas.
Céleres projeta, porém, que os ganhos serão mais expressivos na próxima década, com a consolidação da tecnologia e a chegada de novas variedades no país, como a soja resistente a insetos. Ao fim da safra 2020/21, o Brasil terá deixado de consumir pouco mais de 146 mil toneladas de defensivos, estima.
Milho e algodão, que respondem por aproximadamente 22% dos defensivos vendidos no país, são as culturas mais beneficiadas pela adoção da biotecnologia. Segundo a Céleres, na safra 2010/11, lavouras de milho transgênico do Paraná, resistentes a insetos e tolerante a herbicidas, demandaram 24,7% menos defensivos na safra de verão do que um plantio convencional (4,5 quilos ante 6,2 quilos por hectare). Em Mato Grosso, em plantios transgênicos de algodão (também resistentes a insetos e tolerantes a herbicidas), a economia foi de 2,8% (13,6 quilos ante 14 quilos por hectare), em média.
Contudo, as lavouras transgênicas de soja – cultura que demanda, sozinha, 48% de todos os agrotóxicos vendidos no país – são mais intensivas no uso de defensivos do que as que não adotam a tecnologia. No Paraná, por exemplo, as lavouras com a tecnologia Roundup Ready (RR), da Monsanto, consumiram, em média, 3,6 quilos de agroquímicos por hectare, alta de 16,2% em relação aos 3,1 quilos consumidos em lavouras convencionais. A vantagem para o produtor está no manejo: nas lavouras b, eles substituem vários herbicidas por um único produto, o glifosato, em dosagem maior.
Outros fatores colaboram para anular os potenciais efeitos positivos da biotecnologia sobre o uso de agrotóxicos, como o aumento da resistência de ervas daninhas ao glifosato e o surgimento de pragas secundárias. “As doenças fúngicas nunca foram uma preocupação grande nas lavouras de milho porque o foco sempre foi o controle da lagarta. Como esse problema foi resolvido com os transgênicos, agora os produtores terão se preocupar com elas. Logo, é provável que tenhamos um aumento nas vendas de fungicidas para milho nos próximos anos”, projeta Galvão.
Ecodebate, publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação

Após denúncias, Anvisa inicia auditoria de processos sobre agrotóxicos desde 2008

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sábado, 23 de fevereiro de 2013

O uso indiscriminado de agrotóxicos é uma afronta ao direito a uma alimentação saudável, artigo de Gilvander Luís Moreira


o início de 2012, ano em que a Campanha da Fraternidade2 foi sobre Saúde Pública, além de escrever alguns textos de apoio às lutas em defesa deste direito constitucional e para que ele se efetive de fato no chão da vida real, disponibilizei um vídeo de 2,5 minutos, no Youtube e em meu sítio www.gilvander.org.br , sob o título Feijão de Unaí está envenenado? Trata-se de uma entrevista com uma diretora de Escola Municipal da zona rural de Arinos, Noroeste de Minas. Na entrevista ela afirma que ao tentar cozinhar 30 quilos do Feijão Unaí para a merenda das crianças teve que jogar fora todo o feijão, porque ao abrir os saquinhos as cozinheiras sentiram o cheiro forte de veneno. Em outra ocasião lavaram o feijão, deixaram de molho de um dia para o outro, mas ao cozinhar, o mau cheiro fez as cozinheiras sentirem mal. Havia excesso de gosma acumulando na panela. Não foi possível dar o feijão para as cerca de 200 crianças da escola. A entrevistada noticiou também haver um grande número de pessoas com câncer na cidade de Arinos. Corre de boca em boca que o modo do cultivo e conservação de feijão de Unaí pode estar causando câncer em muita gente.
Por causa da divulgação do vídeo, a empresa proprietária do feijão Unaí processou os responsáveis do Google/Youtube e a minha pessoa, alegando danos morais. O juiz do Juizado Especial Cível da Comarca de Unaí, responsável pelo processo, ordenou prisão contra os diretores do Google/youtube, caso não seja retirado o vídeo da internet dentro de cinco dias, e a mim em caso de reinserção, sob o argumento de crime de desobediência.
Despacho do juiz: “Vista ao réu. Prazo de 0005 dias(s). Para comprovarem o cumprimento da ordem de exclusão do vídeo de pagina eletrônica do Youtube, no prazo de 05 dias, sob pena de prisão em flagrante dos representantes legais do Google neste país e do réu Gilvander pela prática do crime de desobediência, sem prejuízo da multa fixada.”
O prazo venceu dia 29 de outubro último e o vídeo continua no Youtube, emwww.gilvander.org.br e, após a divulgação do Manifesto contra o uso indiscriminado de agrotóxico e contra criminalização de frei Gilvander, várias outras pessoas baixaram o vídeo e o reinseriram em seus canais de comunicação. Outras pessoas estão assistindo ao vídeo.
No dia 28 de outubro de 2012, os/as advogados/as que estão me defendendo impetraram no TJMG um Habeas Corpus Preventivo com pedido liminar que foi distribuído para a 6ª Câmara Criminal, sob a relatoria da Desembargadora Márcia Milanez.
Ao final da manhã do dia 31 de outubro de 2012, a desembargadora indeferiu (negou) o pedido liminar e, portanto, negando o pedido de segurança, próprio do Habeas Corpus.
A fundamentação do Habeas Corpus era a de que eu estava sendo processado por ter postado na internet um vídeo que denuncia o uso abusivo de agrotóxicos no feijão vendido pela empresa TORREFAÇAO E MOAGEM CAFÉ DE UNAÍ LTDA. Que a referida empresa havia entrado com ação indenizatória por danos morais, com pedido de antecipação de tutela. Que o referido juiz da Comarca de Unaí em sede de liminar determinou que o Youtube retirasse o vídeo em 48 horas sob pena de multa de 200 reais por dia e determinou a mim, frei Gilvander, que não inserisse o vídeo novamente em qualquer site, sob pena multa no valor de 4 mil reais. Advogados da Google/Youtube apresentaram no processo várias páginas de defesa se recusando a retirar o vídeo por entender não haver nenhuma irregularidade. Em síntese, disseram que não há nada de ilícito no vídeo. Trata-se de uma reportagem, de informação a sociedade. Recordaram que o Google/Youtube regem-se pelas leis do país que prescreve direito a informação, direito de livre expressão. A empresa é que deve demonstrar que o feijão Unaí não está com excesso de agrotóxico, pois, por outro lado, várias pesquisas científicas e o Relatório da Subcomissão do Agrotóxico da Câmara Federal mostram que o uso indiscriminado de agrotóxico está causando câncer em muita gente.
Observe-se que o Juiz que prolatou a decisão afirmando que eu deveria ser preso em flagrante por crime de desobediência é incompetente, pois se trata de um juiz do Juizado Especial Cível, que só pode mandar prender em caso dedescumprimento de obrigação de pensão alimentícia ou depositário infiel. Mesmo que fosse o caso de crime por desobediência, prisão em flagrante por crime de desobediência é ato típico de matéria penal, ou seja, de competência material do Juizado Especial Criminal. O ato praticado pelo magistrado padece de nulidade absoluta e, segundo as/os advogadas/os que fazem a minha defesa, deve ser declarado nulo.
Além da incompetência absoluta do juiz em relação à matéria, mesmo que eu estivesse cometendo crime de desobediência, trata-se de um crime de pequeno potencial ofensivo nos termos do art. 61 da Lei 9099/95. Nesse caso, em sendo noticiada a prática delituosa, a autoridade policial lavraria Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO – nos termos do art. 69 da Lei 9099/95 e não haveria prisão, nem mesmo em flagrante.
A decisão do referido Juiz afronta ao princípio da não culpabilidade (Artigo 5º, Inciso LVII da CR), segundo o qual, a prisão é a exceção, a liberdade é a regra.
No caso também não estão presentes os requisitos que ensejariam um decreto de prisão preventiva nos termos do art. 312, que seria “necessária” para garantir a Ordem Pública e Ordem Econômica. A denúncia que fiz visa salvaguardar a ordem social da saúde pública. Ninguém pode ganhar dinheiro colocando em risco a saúde de outras pessoas.
Eu não descumpri nenhuma determinação judicial já que a mim foi determinado nãoreinserir o vídeo. Como o vídeo nunca foi excluído pela Google/Youtube, no caso eu não reinseri, portanto, não há desobediência.
No Habeas Corpus foi pedido, liminarmente, que fosse concedida a ordempreventivamente para assegurar a minha liberdade de ir e vir. Também foi pedido que fosse decretada a nulidade da decisão prolatada pelo Juiz de Unaí, por incompetência material absoluta e, por fim, que fosse concedida a ordem de habeas corpus preventivo, em definitivo, para deferir a revogação da prisão.
Não me sinto seguro em face da decisão da desembargadora que negou o pedido liminar do Habeas Corpus preventivo diante de tão clara ordem judicial. Por isto, outras medidas jurídicas estão sendo tomadas.
Agradeço, de coração, a dezenas de movimentos, entidades e pessoas que já assinaram o Manifesto contra o uso indiscriminado de agrotóxico e contra a criminalização de frei Gilvander. Já conversamos com a Defensoria Pública de Minas Gerais que tomará medidas necessárias à defesa do direito a alimentação saudável e que não se use de forma indiscriminada agrotóxicos. Esperamos que este fato fortaleça todas as iniciativas na defesa da saúde do povo brasileiro, contra os agrotóxicos (veneno) em nossa alimentação. Conclamamos as pessoas de boa vontade a se engajarem na Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida, se ainda não se engajaram.
A quem ainda não assistiu aos vídeos, sugiro que assista a partir dos links, abaixo:
1) Feijão de Unaí está envenenado?
Ou em www.gilvander.com.br (Galeria de vídeos)
2) Depoimento do Deputado Federal Padre João: Padre João reforça denúncias sobre grave contaminação do Feijão Unaí
3) Baixe e leia o livro AGROTÓXICOS NO BRASIL – Um guia para ação em defesa da vida, no link, abaixo:
4) Filme Documentário de Sílvio Tendler: O Veneno Esta na Mesa (Completo e Dublado)
Belo Horizonte, 05 de novembro de 2012.
1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas, bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais; conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos – CONEDH/MG; e-mail:gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis – facebook: Gilvander Moreira

2 Promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – teve como tema: Fraternidade e Saúde Pública.
Fonte: EcoDebate, 06/11/2012

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Especialistas do Inca, Anvisa e Fiocruz unem esforços para o combate aos agrotóxicos


Seminário Inca/Fiocruz: Agrotóxicos e Câncer

A troca de conhecimentos entre as áreas de saúde, meio ambiente e agricultura e a união de esforços de diferentes instituições para o enfrentamento do uso abusivo de agrotóxicos foram os principais ganhos do Seminário Agrotóxicos e Câncer, realizado nos dias 7 e 8 de novembro na sede do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Centro do Rio de Janeiro. Promovido pelo Inca e a Fiocruz – órgãos do Ministério da Saúde – e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – o evento contou com a participação de especialistas de órgãos de outras áreas, como os ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário.
No primeiro dia (7/11), pesquisadores da Anvisa, da Uerj, da Universidade Federal do Ceará, da Universidade Federal de Pelotas, da Fiocruz, do Inca e da organização Rede Ecológica discutiram a contribuição dos agrotóxicos nos casos de câncer no Brasil e os impactos da exposição aos agrotóxicos na população brasileira. O consumo consciente e as alternativas para o consumidor também foram pontos de pauta.
Na manhã do segundo dia (8/11), o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (VPAAPS/Fiocruz), Valcler Rangel, coordenou a mesa Regulação e monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos. Rangel ressaltou que o evento consolida a parceria da Fiocruz com o Inca, que participou de seminário sobre o mesmo tema em maio na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). “Esta sequência de iniciativas potencializam a geração de conhecimento e capilarizam conclusões, contribuindo para dar mais impacto sobre as políticas”, disse.
Rangel afirmou que a população espera uma atuação coordenada e potencializada pelas diversas áreas de conhecimento e lembrou que a Fiocruz está engajada na campanha de enfrentamento aos agrotóxicos.
Os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Trabalho, apesar de convidados, não enviaram representantes, o que frustrou a plateia, formada em grande parte por produtores rurais e membros de organizações da sociedade civil que promovem a agroecologia e a agricultura familiar. Profissionais de saúde do Inca, da Fiocruz e do Ministério Público Federal e Estadual também prestigiaram o evento.
Pimentão tóxico
Heloisa Rey Farza, da Gerência Geral de Toxicologia da Anvisa, abordou o Programa de Análise de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa (Para), que avalia amostras de produtos no mercado. O pimentão é o caso mais grave: 91,8% das amostras apresentam quantidade de agrotóxicos maior do que o permitido ou produtos proibidos para o pimentão. Segudo ela, o morango e o tomate variam de qualidade – quando a Anvisa divulga que está ruim, tende a melhorar, e depois volta a piorar. “As coisas não estão mudando muito. Saiu da boca do povo, o veneno volta”, lamentou.
Heloisa contou que quando o problema é muito grave, a Anvisa informa o Ministério da Agricultura e a Polícia Federal para que tomem providências. Supermercados são multados e tenta-se rastrear o produtor, para a implementação de coletas e análises fiscais. Também são publicadas novas normas técnicas e desenvolvidos programas locais de informação e formação, que, para Heloisa, são os principais fatores para mudanças. Ela recomenda a criação de foruns. “A sociedade precisa se mobilizar para chegar até o produtor. Ele não tem informação sobre agrotóxicos, pelo contrário, tem informação errônea, dada pelas indústrias que vendem os produtos”, disse.
Questionada pelo público sobre a razão de a Anvisa não evitar tamanha contaminação dos alimentos, ela explicou que o Ibama, o Mapa e a Anvisa são responsáveis pelos agrotóxicos. “A Anvisa cuida da saúde da população. O controle do uso do agrotóxicos é dever do Mapa”, esclareceu, acrescentando que o Ministério do Trabalho também deveria se preocupar com a saúde do trabalhador rural. “Cobrem do Mapa e do Ministério do Trabalho, e de nós o que nós temos que fazer”, finalizou.
A importância da educação no desafio da transição para a produção agroecológica foi destacada por Christianne Belinzoni, da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do desenvolvimento Agrário (MDA). Para ela, o desenvolvimento rural sustentável deve usar a tecnologia para melhorar a produção e a qualidade de vida.
“Precisamos formar mais técnicos para apoiar o produtor no campo. Ninguém quer produzir na base do veneno. Temos que brigar para que no currículo dos agronomos haja a disciplina agroecologia, em vez de obrigá-los a decorar princípio ativo de veneno”, disse. Ela também ressaltou a necessidade de se informar os consumidores. “O consumidor deve ser empoderado. A sociedade civil tem uma força muito grande”, opinou.
Representando o Departamento de Qualidade Ambiental da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Sergia de Souza Oliveira abordou os principais impactos dos agrotóxicos no meio ambiente. “Os agrotóxicos são persistentes no meio ambiente, acumulando-se em rios e mares, contaminando peixes e outras formas de vida e provocando efeitos adversos na saúde humana”, informou.
Entre os principais problemas a serem contidos ela citou o uso indevido de produtos químicos, a alta toxidade, a falha na proteção do trabalhador e a exposição direta e indireta do meio ambiente e da população. Ela admitiu ser necessário aperfeiçoar os mecanismos de controle e que há uma deficiência da informação. Segundo Sergia, qualquer um dos três setores – Saúde, Agricultura e Ambiente – pode vetar um produto.
“Nossa legislação é moderna, rigorosa e sintonizada com outros países. A política de agroecologia recém-sancionada é um grande avanço. Grandes e pequenos produtores usam agrotóxicos, mas podem utilizar a agroecologia. O questionamento sobre o modelo de produção agrícola deve ser feito permanentemente, de forma racional e madura”, disse.
Ela reconhece, entretanto, que não é simples mudar da produção convencional para a limpa e que a proibição gera um mercado ilegal paralelo difícil de ser enfrentado. “O enfrentamento do agrotóxico deve ser um trabalho multisetorial e multiparticipativo”, concluiu.
O diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (SVS/MS), Guilherme Franco Netto, apresentou dados que mostram que em cinco anos, de 2005 a 2010, o volume de agrotóxico mais que dobrou. De 8.500 áreas descritas como contaminadas, 30% são contaminadas com agrotóxicos. “A intoxicação por agrotóxicos é a segunda maior causa de intoxicações exógenas. A maioria delas – 53% – é causada por inceticidas”, revelou.
Ele adiantou que ainda este ano será lançada uma portaria que deslanchará o processo de implamentação de vigilância epidemiológica no SUS, incluindo ações de proteção e promoção da saúde, a investigação dos casos e surtos e a estruturação de um sistema para responder às emergências em saúde. Nove estados com maiores demandas serão priorizados (PR, SP, MG, MT, GO, RS, SC, BA, e MS) e receberão um milhão de reais por ano, durante três anos. A partir de 2013, os outros estados começarão a receber verbas de R$ 800 mil ou R$ 900 mil e até o fim de 2014 a portaria deverá estar implantada nas 27 Ufs. Em 2015, será feita a avaliação.
Vários participantes do seminário, preocupados com a continuidade do trabalho que vem sendo desenvolvido na Anvisa de proteção da saúde da população brasileira e de luta contra o uso abusivo de agrotóxicos, manifestaram solidariedade ao profissional Luis Cláudio Meirelles, coordenador da Gerência Geral de Toxicologia da Anvisa (GGTox), diante da recente notícia de sua exoneração do cargo.
Matéria de Marina Lemle, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/11/2012

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Diagnósticos de câncer de tireoide em hospital referência de SP aumentam dez vezes em 20 anos


O número de casos de pacientes com câncer de tireoide é dez vezes superior ao registrado há 20 anos no Hospital A.C.Camargo. Em 1992, a unidade, localizada na capital paulista, tratou 34 pacientes. Este ano, o número chegou a 350. O hospital é referência mundial em ensino, pesquisa e tratamento de câncer.
De acordo com José Magrin, cirurgião de cabeça e pescoço da unidade, as razões para o aumento ainda estão sendo estudadas. Para ele, o maior acesso a exames capazes de detectar precocemente o câncer da tireoide podem explicar esse crescimento. Além disso, o maior contato com irradiação pode ter ajudado a elevar a incidência desse tipo de câncer nos últimos anos. “Nós estamos mais expostos às irradiações presentes no nosso dia a dia”, disse.
Outro levantamento feito no estado de São Paulo, com 66 hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e cinco particulares ou filantrópicos, também mostrou que o número de casos da doença cresceu. Segundo a Fundação Oncocentro de São Paulo (FospOSP), em 2000, foram registrados 301 casos (238 mulheres e 63 homens) e, em 2010, o número saltou para 954 (763 mulheres e 191 homens).
A doença é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres. A pesquisa da Fosp revelou que, dos 1,2 mil casos registrados anualmente na capital paulista, mil foram diagnosticados em pessoas do sexo feminino. Segundo José Magrin, as causas da prevalência entre mulheres ainda estão sendo estudadas, mas há suspeitas de que isso possa estar relacionado ao tipo hormonal feminino.
Um dos sintomas da doença na mulher é o crescimento do nódulo da tireoide. “[Ele] cresce lentamente e é indolor, mas, às vezes, pode haver dor”, disse o médico. No caso de tumores mais agressivos, as pacientes se queixam de rouquidão ou mudança no timbre de voz que não desaparece com o tempo, dificuldade para respirar e para engolir e tosse consistente.
Magrin destacou a importância de prestar atenção a esses sinais, já que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, que chegam a 97% nesses casos. Para detectar o nódulo, é feito um ultrassom. Quando há suspeita da doença, o paciente é submetido a uma biópsia.
O tratamento do câncer de tireoide envolve a cirurgia de retirada do nódulo e uma complementação, feita pela ingestão de iodo radioativo. “A pessoa ingere e fica internada por dois dias e depois vai embora. Isso tem a finalidade de destruir possíveis células malignas da tireoide que restaram após a cirurgia”, disse o cirurgião.

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2012/10/25/diagnosticos-de-cancer-de-tireoide-em-hospital-referencia-de-sp-aumentam-dez-vezes-em-20-anos/

Pesticidas comuns diminuem sucesso de alimentação e ameaçam sobrevivência das abelhas


Pesticidas põem colônias de zangões em risco – Pesticidas agrícolas estão matando zangões e prejudicando a habilidade deles para se alimentar. Assim, colônias vitais para a polinização das plantas podem vir a não desempenhar as suas tarefas, mostrou um estudo divulgado neste domingo. Matéria da Reuters, em O Estado de S.Paulo, com informações adicionais do EcoDebate.
As Nações Unidas estimam que um terço de toda a alimentação baseada em vegetais depende da polinização das abelhas, e cientistas têm se mostrado perplexos pela redução do número de abelhas principalmente na América do Norte e na Europa, em anos recentes.
No estudo [A Common Pesticide Decreases Foraging Success and Survival in Honey Bees] divulgado neste domingo, cientistas britânicos afirmaram que expuseram colônias de 40 zangões, abelhas maiores do que as mais comuns, aos pesticidas neonicotinoide e piretroide durante quatro semanas, em níveis semelhantes aos que se dão nos campos.
Os neonicotinoides são produtos químicos semelhantes à nicotina usados para proteger uma série de culturas de gafanhotos, pulgões e outras pragas.
“A exposição aumenta a mortalidade, o que reduz o desenvolvimento e o sucesso da colônia”, escreveram os cientistas num artigo na revista científica Nature. Exposição a uma combinação de dois pesticidas “aumenta as chances da colônia fracassar”, de acordo com os pesquisadores da Universidade de Londres.
Um relatório das Nações Unidas de 2011 estimou que as abelhas e outros polinizadores, como besouros e pássaros, realizam um trabalho que valeria 153 bilhões de euros por ano.
“Acho que o declínio das abelhas é como um quebra-cabeças, com provavelmente um monte de peças para serem encaixadas. Essa é provavelmente uma peça muito importante”, afirmou à Reuters Richar Gill, autor principal da pesquisa.
PARASITAS
Num outro comentário, na Nature, Juliet Osborne, da universidade britânica de Exeter, disse que o estudo mostra a necessidade de se entender todos os fatores que podem contribuir para prejudicar as abelhas e suas colônias.
“Por exemplo, ainda não temos uma demonstração convincente dos efeitos relativos dos pesticidas nas colônias em comparação com os efeitos dos parasitas”, escreveu.
Richard Gill apoiou a recomendação da autoridade europeia de segurança alimentar por mais testes em diferentes espécies. De acordo com ele, estudos anteriores examinaram o impacto de pesticidas nas abelhas em si, e não nas colônias. Zangões formam colônias de algumas dúzias, enquanto outras abelhas formam colônias de milhares.
“Efeitos em uma abelha podem ter uma importante repercussão na colônia. Essa é a novidade do estudo”, declarou.

In Science Magazine

  • Technical Comments Comment on “A Common Pesticide Decreases Foraging Success and Survival in Honey Bees”
    • James E. Cresswell and
    • Helen M. Thompson
    Science 21 September 2012: 1453.
  • Response to Comment on “A Common Pesticide Decreases Foraging Success and Survival in Honey Bees”
    • Mickaël Henry,
    • Maxime Béguin,
    • Fabrice Requier,
    • Orianne Rollin,
    • Jean-François Odoux,
    • Pierrick Aupinel,
    • Jean Aptel,
    • Sylvie Tchamitchian,
    • and Axel Decourtye
    Science 21 September 2012: 1453.
  • Report Neonicotinoid Pesticide Reduces Bumble Bee Colony Growth and Queen Production
    • Penelope R. Whitehorn,
    • Stephanie O’Connor,
    • Felix L. Wackers,
    • and Dave Goulson
    Science 20 April 2012: 351-352.Published online 29 March 2012
  • News & Analysis Agriculture Field Research on Bees Raises Concern About Low-Dose Pesticides
    • Erik Stokstad
    Science 30 March 2012: 1555.
Fonte: EcoDebate, 22/10/2012

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Agroecologia: Alimentar o mundo sem pesticidas é possível, afirma cineasta francesa


Alimentar o planeta Terra sem pesticidas é possível, afirma a jornalista francesa Marie-Monique Robin, que após revelar em um filme o envolvimento do exército francês na Operação Condor e denunciar a multinacional Monsanto, defende em seu novo trabalho a agroecologia. Matéria de Anthony Lucas, da AFP, no Yahoo Notícias.
Com o documentário “Les Moissons du futur” (“As colheitas do futuro”), Morin encerra a trilogia sobre a contaminação alimentar que começou em 2008 com “O mundo segundo Monsanto”, sobre a gigante agroquímica americana Monsanto, e “Nosso veneno cotidiano” (2010).
“Após estes filmes, participei de dezenas de conferências nas quais me perguntavam: ‘mas é possível alimentar o mundo sem pesticidas?’”, conta Robin, autora de vários filmes sobre os direitos humanos na América Latina, entre eles “Esquadrões da morte, a escola francesa” (2003), no qual revelou um acordo de cooperação militar secreto entre Paris e Buenos Aires.
Em seu novo documentário, Robin explica que para tentar responder à pergunta sobre se pode resolver a crise alimentar global mediante a agroecologia, percorreu o planeta, do Japão ao México, passando por Quênia e Estados Unidos, reunindo-se com camponeses, agricultores, agrônomos e especialistas.
Seu veredicto é taxativo: não apenas é possível produzir alimentos em quantidade suficiente para que o mundo não passe fome, e também sem prejudicar o planeta, mas “se agora não se pode alimentar o mundo, a culpa é dos pesticidas…”, assegura Morin.
Diferentemente de seus dois filmes precedentes, “As colheitas do futuro” não é tanto uma investigação, mas uma reunião de testemunhos que foram recolhidos em uma versão filmada, que será lançada em DVD em meados de outubro, e um livro publicado pela editora La Découverte.
O trabalho de Morin também é a ilustração das conclusões de um relatório publicado em março de 2011 por Olivier De Schutter, relator especial das Nações Unidas pelo direito à alimentação.
Neste relatório, o especialista afirma que a agroecologia, método baseado na renovação dos solos eliminando os fertilizantes químicos, pode permitir melhoras nos rendimentos nas regiões mais pobres, além de estar melhor adaptado às mudanças climáticas.
A alternativa aos pesticidas é a agroecologia
“Os projetos agroecológicos demonstraram um aumento médio dos rendimentos de 80% em 57 países em desenvolvimento, com um aumento médio de 116% para todos os projetos africanos”, afirmava seu autor.
Marie-Monique Robin partiu para entrevistar agricultores e camponeses ecológicos do mundo inteiro, para examinar se a agricultura ecológica baseada em um manejo adequado do solo, um uso eficiente da água, a diversidade vegetal, é o caminho para sair da crise global e conseguir alimentar o planeta Terra.
Ela se interessou, por exemplo, pelo método agroflorestal, que consiste em plantar em meio aos cultivos árvores capazes de captar a água mais profundamente no solo, manter a qualidade do solo e lutar contra a erosão.
“Os estudos demonstram que os sistemas agrícolas mais produtivos são os que apresentam uma densidade importante de árvores”, comprovou a jornalista, que ressalta que o modelo agroindustrial não conseguiu alimentar o planeta.
Para apoiar sua tese de que a alternativa aos pesticidas é a agroecologia, Morin reuniu em seu filme dezenas de exemplos de como camponeses do mundo substituíram os inseticidas com técnicas aparentemente simples, que matam as ervas e os insetos daninhos sem prejudicar o solo nem provocar doenças.
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2012/10/11/agroecologia-alimentar-o-mundo-sem-pesticidas-e-possivel-afirma-cineasta-francesa/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Agrotóxicos e orgânicos: relação entre saúde, meio ambiente e economia


Nas últimas semanas, uma discussão sobre o cultivo de alimentos de maneira orgânica e da forma tradicional – com uso de agrotóxicos – tem promovido grande polêmica entre os especialistas do tema. Um recente estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, comparou o valor nutricional dos alimentos orgânicos aos cultivados pela agricultura convencional. A tão polêmica pesquisa afirma que os alimentos orgânicos não são mais nutritivos e nem ao menos mais saudáveis que os convencionais. As afirmações, porém, têm gerado inúmeras críticas por parte de pesquisadores brasileiros, que asseguram que os orgânicos são a melhor opção.
De acordo com o estudo, baseado em uma revisão de resultados de 237 pesquisas, realizadas desde 1960, sobre o valor nutricional e os riscos que causam à saúde, em termos nutricionais, ambos os cultivos de alimentos orgânicos e convencionais (cultivados com uso de agrotóxicos e pesticidas) são iguais, pois as características nutritivas não têm a ver com o tipo de manejo, e sim com características do solo. O estudo aponta ainda que o diferencial do alimento cultivado de maneira orgânica é, em teoria, não ser contaminado com agrotóxicos. A revisão que baseou o estudo não deixou de lado os riscos que a ingestão de alimentos cultivados com base na agricultura convencional pode trazer à saúde humana. Ele aponta que os orgânicos oferecem 30% menos riscos de intoxicação por agrotóxicos que os alimentos da agricultura tradicional.
Na área da saúde pública, as afirmações do estudo têm causado polêmica. Pesquisadores de diversas instituições discordam das afirmações citadas pela pesquisa e ressaltam que, principalmente em níveis nutricionais, os dois tipos de produção de alimentos podem até não possuir tamanha diferença. Entretanto, em relação à produção e ingestão dos agrotóxicos, eles são categóricos quando afirmam os malefícios trazidos à saúde humana a ao meio ambiente, além do modelo de agronegócio. O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Marcelo Firpo, em entrevista ao Canal Ibase, disse que a abordagem que a mídia deu sobre o estudo não destacou os benefícios dos orgânicos.
“Até os responsáveis pela pesquisa ressaltaram que os orgânicos são vantajosos por conterem menos resíduos químicos (quase cinco vezes menos) e estarem até 33% menos expostos a bactérias resistentes a antibióticos”. Marcelo Firpo lembrou também que o Sistema de Agricultura Orgânica leva em conta o respeito à natureza e as questões sociais em sua cadeia produtiva. “É importante associar os agrotóxicos ao modelo ambientalmente insustentável e socialmente injusto dos monocultivos dependentes químicos, que caracterizam o modelo do agronegócio brasileiro”, defendeu ele.
Entrando no âmbito do modelo do agronegócio, a Ensp promoveu um grande debate na abertura do ano letivo da Escola de 2012. O coordenador do Movimento dos Sem Terra, João Pedro Stédile, que esteve na Ensp também para divulgar a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida afirmou em sua palestra que a difusão do uso de agrotóxicos no Brasil não tem a ver com a necessidade agronômica. Está totalmente relacionada à etapa atual do capitalismo, à qual nossa sociedade está subordinada. Stédile citou que, nos últimos dez anos, o uso de venenos no Brasil cresceu muito e, há três anos, ficou ainda pior. Atualmente, o país é apontado como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
O coordenador destacou que o modelo agrícola baseado no uso de agrotóxicos produz um PIB anual de R$ 140 bilhões. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), anualmente são usados no mundo cerca de 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas. Este consumo se difere nas várias regiões do país, nas quais se misturam atividades agrícolas intensivas e tradicionais. Pesquisas realizadas pela instituição apontaram que os agrotóxicos têm sido mais usados nas Regiões Sudeste (cerca de 38%), Sul (31%) e Centro-Oeste (23%). Na Região Norte, o consumo de agrotóxicos é comparativamente muito pequeno (pouco mais de 1%), enquanto na Região Nordeste (em torno de 6%), uma grande quantidade concentra-se principalmente nas áreas de agricultura irrigada.
O coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Ensp, Josino Costa Moreira, foi entrevistado para falar sobre as polêmicas afirmações da pesquisa americana, sobre o uso dos agrotóxicos e suas relações prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, além de apontar os modelos econômicos de agricultura. A seguir, a entrevista.
Um polêmico estudo afirma que os alimentos orgânicos não são mais nutritivos e nem mesmo mais saudáveis que os convencionais. Segundo a pesquisa, existe pouca diferença em relação aos benefícios à saúde entre orgânicos e alimentos convencionais.  Uma crítica, de pesquisadores brasileiros, é que o estudo não teria considerado os efeitos da exposição prolongada a pesticidas e agrotóxicos na saúde. Que tipos de danos podem ser relacionados a esse consumo prolongado de alimentos contaminados?
Moreira:Penso que, neste comentário, estão incluídos conceitos bem distintos: um relativo à capacidade nutricional e outro à segurança dos alimentos. Quanto à capacidade nutricional, eu, embora não seja especialista no assunto, acredito que a afirmação esteja correta. Ou seja, não devem existir diferenças significativas entre produtos cultivados de maneira orgânica ou não. Quanto à segurança de fato, a existência de resíduos de substâncias não naturais (particularmente aquelas que têm propriedades biocidas) em qualquer alimento não é desejável.
Entretanto, a utilização do termo agrotóxicos – que representa uma família de mais de uma centena de substâncias diferentes, que possuem atividade biológica, mecanismo de ação e propriedades completamente diferenciadas –, generaliza muito o comentário e o enfraquece. Isso porque, em numerosos casos, inexiste comprovação válida em termos científicos, ou ainda essa comprovação é extremamente débil sobre os riscos que algumas dessas substâncias, mesmo em casos de exposição prolongada a seus resíduos, trazem à saúde. Discussões genéricas trazem o risco de nos envolvermos em discursos inflamados, mas sem qualquer base científica sólida.
Outro dado destacado na pesquisa é sobre o modo de produção de alimentos, tendo em vista que, em uma agricultura orgânica, se deve levar em conta o respeito à natureza e as questões sociais em sua cadeia produtiva. O que o senhor aponta como a principal diferença entre esses dois modelos: o modelo ambientalmente sustentável e o de monocultivos?
Moreira:A diferença fundamental perpassa muito mais os aspectos econômicos que aqueles relacionados à saúde ambiental. Sob este ponto de vista, interessa a produtividade e o menor custo de produção; quanto maior a produtividade e menor o custo, melhor. Políticas de aumento de produtividade agrícola, em geral, trazem em seu âmago o incentivo à monocultura e ao uso de agrotóxicos e fertilizantes.
Atualmente, muito se fala sobre a agricultura orgânica. Esse modo de produção é economicamente viável, de maneira que, em um determinado espaço de tempo, apenas se cultive alimentos orgânicos?
Moreira:A agricultura orgânica tem se mostrado economicamente viável, e essa viabilidade conta com um fator importante que é o preço dos alimentos produzidos por essa via, bem mais elevado que os demais, o que tem privilegiado as classes de maior poder de compra em detrimento das outras. Sobre a produção exclusivamente orgânica, eu creio que podemos caminhar para isso, mas ainda há um longo caminho a percorrer, envolvendo inclusive uma grande mudança de mentalidade.
A questão do uso dos agrotóxicos hoje é debatida tanto no meio acadêmico, por meio de pesquisas científicas, quanto nos movimentos sociais, como, por exemplo, na campanha Contra os agrotóxicos e pela vida, liderada pelo Movimento dos Sem Terra. Isso significa que a questão passou a ser uma discussão integrada na sociedade. O senhor acha que, atualmente, podemos começar a discutir de fato um modelo de desenvolvimento sustentável, que considere essa integração entre a saúde e o ambiente?
Moreira:O próprio conceito de saúde inclui, há muito tempo, o ambiente, o que mostra que a relação saúde-ambiente é indissociável. Não se pode falar de saúde sem considerar o ambiente. É óbvio que uma discussão do modelo de desenvolvimento e, principalmente, de sustentabilidade deve ter a participação de todas as camadas populares e requer a conscientização por parte delas, baseada em critérios válidos em termos científicos. A sustentabilidade jamais será obtida sem a participação de todos.
Reportagem de Tatiane Vargas, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 08/10/2012