domingo, 7 de agosto de 2016

Semanal Mundial da Amamentação por Dr. Flávio Melo

Meu amigo Flávio Melo (pediatra) do site http://www.pediatradofuturo.com.br fez ao longo dessa semana vários posts sobre amamentação. Excelente material e de leitura obrigatória para as mamães que estão amamentando, as grávidas ou qualquer mulher que anseia por esse momento sublime.

Amamentação – parte 1 – produção do leite materno

O leite materno é o alimento essencial e mais importante para o bebê.  Por mais que o ambiente, o hospital (se for o caso) ou as pessoas tentem te fazer pensar que a amamentação é algo difícil e extraordinário, na verdade é um ato natural e instintivo para você e o bebê.
Claro que entender o processo de produção pode ajudar. Então, de uma forma simplificada, quero que você saiba o passo a passo.
O passo a passo da produção de leite materno
1- Os hormônios da gravidez – estrógeno e progesterona – preparam os seios para o que virá depois: acontece o aumento das mamas, da sensibilidade e a dilatação dos vasos sanguíneos.
2- Após o nascimento começa a ação de outros dois hormônios secretados pela glândula hipófise. Um deles estimula a produção, chamado prolactina, e o outro estimula a ejeção do leite, chamado ocitocina.
3- A produção do leite é sob demanda, ou seja, quanto mais o menino mama, mais a mama produz.
4- Até mesmo mulheres que adotam, com ajuda profissional, podem conseguir produzir leite e amamentar.
E quando a “fábrica” está devagar, o que fazer?
1- Como você já viu acima, a amamentação tem que ser sob livre demanda.
2- Melhorar a pega do bebê. Clique aqui para ver algumas mini aulas gravadas pela fonoaudióloga Isa Crivellaro.
3- Verificar se ele não tem anquiloglossia (língua presa).
4- Amamentar à noite.
5- Ofereça o seio mesmo quando o bebê não demonstre fome.
6- Ofereça sempre os dois seios em cada mamada, mas não fique trocando de seio a cada instante. Espere esvaziar um para oferecer o outro.
7- Retirar o leite (ordenhar) pode aumentar a produção e caso seja suficiente, você pode e deve doar. Os prematuros agradecem!
8- Nada de complemento.
9- Compressas mornas nos seios (nada de bolsa térmica) ou massageá-los embaixo do chuveiro pode ajudar.
10- Relaxe, aproveite o momento único. Não foque nos problemas, foque no amor que você transmite para esse ser maravilhoso, gestado por você e que agora você tem nos braços.
11- Durma bem, na medida do possível.
12- Beba muita água, entre 3 a 4 litros de água por dia. O leite materno é 87% água!
13- Remédios para produzir leite? Só com avaliação médica!
14- Anticoncepcionais? Só com avaliação médica.
15- Se está com dor, por algum motivo, ela sozinha pode ser a causa da baixa produção e precisa de tratamento.

Fonte: http://www.pediatradofuturo.com.br/amamentacao-parte-1-producao-do-leite-materno/

Amamentação – Parte 2 – Qual a composição do leite materno e como melhorar

O leite materno (LM) é mais do que um alimento completo: é um alimento “vivo”. Transforma-se e se adapta às necessidades do bebê nas diferentes fases do crescimento.
A composição do leite materno muda de acordo com o tempo e pode mudar de acordo com a alimentação da mãe. Por isso é tão importante não fazer restrições alimentares desnecessárias durante a lactação, sem a ajuda do seu pediatra e da nutricionista.
As fases do leite materno
1 – Colostro
É o leite produzido nos primeiros 5 a 7 dias após o parto. É rico em componentes imunogênicos e proteínas, como a imunoglobulina A secretora, a lactoferrina, leucócitos (por isso chamo de alimento vivo) e fatores de desenvolvimento/crescimento. Sua função essencial é prover proteção ao bebê, por isso a quantidade de lactose não é tão grande.
2 – Leite de transição
Após a primeira semana, ocorre o aumento da produção do leite e gradativamente aumenta a quantidade de lactose, para prover as necessidades do bebê em crescimento rápido.
3 – Leite Maduro
Ao redor do final do primeiro mês, o leite já está com sua composição e produção estabilizadas, o bebê já está adaptado ao aleitamento, o leite materno já está maduro.
Qual a composição do leite materno?
Em média, 100 ml tem 67 calorias. A mãe produz cerca de 750 ml de leite maduro por dia e gasta cerca de 500-600 calorias para esse fim.
Em termos de macronutrientes (média), carboidratos (lactose e oligossacarídeos) representam 55% do total, gorduras (palmítico e oléico, linoléico e linolênico, DHA e ARA) 37,5% e proteínas (80% de proteínas do soro e 20% de caseína) 7,5%.
Já em termos de micronutrientes, a depender da alimentação da mãe, há níveis variáveis de vitamina A, B1,B2,B6,B12, D e Iodo.
É muito importante que a lactante consuma ou suplemente quantidades adequadas de vitamina D, pois normalmente tem pouco no leite materno (o bebê também deve ser suplementado).
Componentes Imunogênicos
Esses são talvez os componentes mais importantes, pois determinam uma série de estímulos positivos para a flora intestinal e auxiliam na modulação da resposta imunológica, tão importante para evitar doençasalérgicas, metabólicas e inflamatórias no futuro.
Há desde células do sistema imunológico, como macrófagos, linfócitos T até as recentemente descobertas células tronco, cuja função e importância ainda é investigada.
Também estão presentes as chamadas citocinas e quimocinas, que ao entrarem em contato com o sistema imunológico intestinal do bebê, funcionam como moduladores da resposta e maturadores. Protegem e preparam para os inúmeros contatos com elementos estranhos que acontecem no início da vida.
Os elementos mais recentemente estudados foram os oligossacarídeos do leite materno (HMOs), que são carboidratos que estimulam e nutrem as bactérias da flora intestinal. São os nossos primeiros e importantíssimos pre-bióticos.
Antes se pensava que o LM era estéril, mas recentemente se descobriu que existe uma microbiota/flora, que muda de acordo com as características maternas e ao longo do período da lactação. Ou seja, até no leite materno tem Vitamina S.
Fatores de crescimento
Além de tudo exposto acima, no há hormônios, como a leptina, grelina, adiponectina, que auxiliam na saciedade e no metabolismo e também no desenvolvimento e crescimento de diversos órgãos, desde o intestino até o cérebro.
Pois é, como vocês podem ver, o LM é um alimento rico, vivo e essencial. Mas a sua alimentação e estilo de vida pode influenciar em diversos aspectos da sua composição.
Como turbinar o seu leite? Assunto para o post de amanhã.
Fonte: http://www.pediatradofuturo.com.br/parte-2-qual-composicao-do-leite-materno-e-como-melhorar/

Amamentação – Parte 3 – Leite Materno: como turbinar?

Como você já viu nos posts anteriores, o leite materno é produzido sob demanda, é um alimento vivo e que se transforma de acordo com as fases e necessidades do bebê.
Pensávamos até certo tempo atrás que a composição não variava muito com a dieta materna, mas estudos recentes desbancaram essa teoria.
De acordo com a quantidade e qualidade da dieta materna, podem ocorrer variações importantes nos seus constituintes.
E o pior é que basta o menino chorar mais um pouquinho, que todo mundo começa a te aperrear para mudar a alimentação, tirando exatamente tudo o que é importante para uma boa composição do teu leite, como as fontes de vitaminas, minerais e gorduras boas.
Aí te dizem:
– Comer peixe amamentando? Nem pensar! É carregado! Mas torta de chocolate pode!
E aí sou eu (o pediatra) e o bebê que choramos!
Então, vamos turbinar o leite materno?
Antes de mais nada, esse é um momento crucial para um nutricionista te ajudar, pois somente ele tem a autorização legal para prescrever o cardápio.
Só vou listar aqui algumas regrinhas gerais, ok?
Regra geral 1: coma alimentos com densidade nutricional!
Peixes e frutos do mar: salmão, algas, mariscos e sardinhas. Olho na qualidade e procedência!!!
Carnes: carne de boi, porco, cordeiro, frango e carnes de órgão, como o fígado (uma vez por semana).
Frutas e hortaliças: tomate, frutas vermelhas (se o bolso deixar), repolho, couve, alho e brócolis.
Sementes e castanhas: amêndoas, nozes, chia e linhaça.
Outros: ovos, aveia, tubérculos (batata doce, cará), quinoa, e chocolate com alto teor de cacau (70% ou mais).
A lista é enorme: o importante é não restringir mas qualificar.
Evite ao máximo os ultra-processados. Sei que você sempre vai ter uma tortinha à mão e umas lembrancinhas para os glutões que vem visitar a bebê, mas resista sempre que possível!
Regra 2: saiba quais vitaminas e minerais têm sua quantidade variável no leite de acordo com a alimentação
Vitamina B1 (Tiamina) – peixe, porco, sementes, castanhas e pão.
Vitamina B2 (Riboflavina) – queijo, amêndoas, castanhas, carne vermelha, peixes do mar e ovos.
Vitamina B6 – sementes, castanhas, peixe, frango, porco, bananas e frutas secas.
Vitamina B12 – mariscos, fígado, peixes do mar, caranguejo e camarão.
Colina – ovos, fígado de boi, fígado de frango, peixes do mar e amendoim.
Vitamina A – batata doce, cenoura, folhosos verdes escuros, carnes de órgãos e ovos.
Vitamina D – óleo de fígado de bacalhau, peixes do mar, alguns cogumelos e alimentos fortificados (laticínios)
Selênio – castanha do Brasil/Pará (uma só), frutos do mar, peixe, trigo integral e sementes.
Iodo – algas desidratadas, bacalhau, leite e sal iodado.
Incluir esses alimentos na sua alimentação vai aumentar a quantidade dos elementos no leite materno e seu bebê vai agradecer.
Além disso, os ácidos graxos essenciais que você consome (comendo animais marinhos por exemplo), fará com que a quantidade de ômega-3, especialmente DHA e ARA, subam no leite materno.
Esses são elementos essenciais para o desenvolvimento cerebral e visual do bebê. Se sua nutricionista e pediatra perceberem que sua dieta é deficiente, eles podem ser suplementados.
Regra 3: saiba quais são as fontes de outros minerais importantes, cujo consumo não altera muito a composição do leite (mas devem fazer parte da dieta materna!)
Folato: feijões, lentilhas, folhosos verdes, aspargos e abacate!
Cálcio: leite, iogurte, queijo, folhosos verdes e leguminosas.
Ferro: carne vermelha, porco, frango, frutos do mar, feijões, hortaliças verdes e frutas secas.
Cobre: frutos do mar, grãos integrais (verdadeiros!!!), nozes, feijões, carnes de órgãos e batata.
Zinco: ostras (cuidado com a qualidade!), carne vermelha, frango, feijões, nozes e laticínios.
Se você não comer esses alimentos em quantidade suficiente, o corpo vai usar suas reservas para não prejudicar a composição do leite. Por isso, se não comer bem e com qualidade, vai se sentir fraca!
Se não for possível comer alguns alimentos, é importante que seu médico e nutricionista prescrevam suplementos, mas essa é uma situação especial. Em geral, a nutrição deve vir da Comida de Verdade!
Regra 4: o que consumir com moderação
Algumas coisas precisam de moderação, mas não estão proibidas. Exemplo:
Cafeína – cerca de 1% da cafeína que você consome é transferida para o leite materno. Quantidades pequenas de cafeína não causam danos, em torno de 2 xícaras médias por dia.
Álcool – o ideal é não consumir álcool, pois ele vai para o leite materno e o bebê demora muito mais para metabolizar. Seu corpo leva de 1-2 horas para “limpar” da corrente sanguínea o equivalente à uma taça pequena de vinho, uma lata de cerveja ou uma dose de destilados. Portanto, em uma situação excepcional onde você queira ingerir uma taça de vinho, por exemplo,espere pelo menos 2 horas para oferecer o seio após ingerir.
Leite de vaca – cerca de 2-6% dos bebês podem desenvolver alergia à proteína do leite de vaca (APLV), mesmo em aleitamento materno exclusivo. Não tomar leite de vaca não evitará a APLV, mas caso exista essa suspeita, a dieta da mãe precisará estar 100% restrita para verificar o diagnóstico e durante o tratamento.
E aí, aprendeu como turbinar seu leite materno? Se gostou, compartilhe!
No próximo post, tudo de bom que o leite materno faz para a saúde do teu bebê.
Fonte: http://www.pediatradofuturo.com.br/leite-materno-como-turbinar/

Amamentação – Parte 4 – O que evita no bebê

Como você já deve ter lido e aprendido nos posts anteriores, o leite materno é um alimento completo para as necessidades do seu bebê.
Mas ele não é somente a nutrição perfeita pra ele, pois também tem impacto na saúde à curto, médio e longo prazo.
A cada dia essa lista abaixo aumenta, mas já passou dos dedos de uma mão. Seguem abaixo os benefícios do LM (leite materno) pro seu bebê:
– seus anticorpos, como por exemplo a Imunoglobulina A, protegem o bebê, formando uma camada protetora nas vias aéreas (nariz e garganta) e no trato digestório.
Por isso mesmo, nem sempre que você fica resfriada o seu bebê pega. Afinal, você pode até dar a doença, mas também está dando a proteção.
– redução nos episódios de otites: 3 ou mais meses de aleitamento exclusivo podem reduzir o risco em 50%e qualquer período de amamentação reduz em 23%.
– redução nos episódios de infecções respiratórias: o aleitamento exclusivo por mais de 4 meses reduz o risco de hospitalização por essas doenças em 72%.
– redução no risco de gripes e resfriados: bebês em AM exclusivo por 6 meses, tem um risco 63% menor de ter infecções sérias nas vias aéreas superiores.
– redução no risco de infecções intestinais: redução de 64%, mesmo após a cessação da amamentação.
– o leite materno reduz em 60% o risco de uma infecção grave dos prematuros, a enterocolite necrotizante.
– redução de 50% no risco de morte súbita no lactente.
– amamentar exclusivamente por pelo menos 3 a 4 meses, está ligado a cerca de 35% de redução do risco de asma, dermatite atópica e rinite.
– bebês que são amamentados no momento da primeira exposição ao glúten, tem um risco 52% menor de desenvolver doença celíaca.
– bebês amamentados tem 30% menos chance de desenvolver doença inflamatória intestinal.
– pelo menos 3 meses de amamentação reduz o risco de diabetes tipo 1 em 30% e diabetes tipo 2 em 40%.
Além de todas as doenças acima, o aleitamento promove um ganho de peso saudável. As taxas de obesidade em bebês amamentados são cerca de 15-30% menores, comparados aos bebês que tomam fórmula artificial.
Cada mês que dura o aleitamento, ocorre uma redução de 4% no risco de obesidade futura.
Seu bebê prematuro também terá chances reduzidas de problemas de desenvolvimento, se amamentado exclusivamente.
Como vocês podem ver, a lista é extensa e impressionante. Cabe a nós, profissionais de saúde e às famílias, dar todo o apoio e suporte à amamentação, até porque os benefícios não são somente para o bebê, mas também para a mãe.
Mas aí já é o assunto do post de amanhã.
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Fonte: http://www.pediatradofuturo.com.br/amamentacao-parte-4-o-que-evita-no-bebe/

Amamentação – Parte 5 – O que evita na mamãe

Nos posts anteriores, você aprendeu:
Como o leite materno é produzido.
Sua composição.
Como comer para turbiná-lo.
Benefícios do AM para o bebê.
Mas aí você faz todo o esforço do mundo, passa dias e noites insones e não ganha nada?
Primeiro, nem preciso falar do vínculo psicológico que esse momento proporciona. E isso ajuda tanto a mãe, quanto o bebê.
Mas não é só isso.
Benefícios do aleitamento materno para as mamães
1) Só para produzir o leite materno, você gasta em torno de 500 calorias por dia. Claro que com uma dieta desequilibrada isso se dilui no primeiro milk shake, hambúrguer gourmet #sqn e mega torta que comer.
Mas se comer direitinho, o “peso” da gestação vai embora rapidinho (rimou?!?!?).
2) Após o parto, o útero, que ficou enorme, precisa contrair e voltar a ficar do tamanho de um punho fechado no máximo. Essa involução ocorre sob o comando da ocitocina, que é liberada em grandes quantidades durante o trabalho de parto, reduzindo o risco de sangramentos e auxiliando as contrações.
Mas você que amamenta também continua a secretar ocitocina e o processo de involução uterina é mais acelerado. Sabe aquela sua amiga que ficou 6 meses de cinta?
3) Às vezes, a tristeza no pós-parto supera a felicidade de ser mãe. Aí vem a temida depressão puerperal. Cerca de 15% das puérperas podem ter.
A ocitocina também é chamada do hormônio anti-ansiedade. Como vimos, quem amamenta produz mais. Então, no fim das contas, quem amamenta tem menor risco de depressão pós-parto.
4) A amamentação reduz o risco de câncer de mama e de ovário em 28%. Cada ano de aleitamento reduz o risco de câncer de mama em 4,3%. Isso deve encorajar você a amamentar além dos dois anos de idade.
5) Ocorre também um risco menor de síndrome metabólica, que predispõe ao diabetes, problemas cardíacos e a obesidade grave. Também há um risco de 10-50% menor de desenvolver pressão alta, artrite e dislipidemias.
6) Seu bolso agradece. As fórmulas, além de não chegarem aos pés do LM, estão pela hora da morte…
Você viu acima todos os benefícios maternos de amamentar, mas infelizmente, há situações que a amamentação deve ser proibida ou postergada.
Outras vezes, a orientação de não amamentar está incorreta.
Esse será o assunto do próximo post. Depois da série, fique certa que saberá mais sobre amamentação que a maioria das suas amigas.
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Fonte: http://www.pediatradofuturo.com.br/amamentacao-parte-5-o-que-evita-na-mamae/

Amamentação – Parte 6 – Quando não amamentar (e os mitos que te dizem)

Espero que você que está acompanhando a série de posts em homenagem à Semana Mundial de Aleitamento Materno 2016 já esteja bastante segura e motivada para amamentar.
Exclusivamente até os 6 meses e com outros alimentos até 2 anos ou mais.
Mas não é raro que eu receba no consultório mães frustradas por terem tido a amamentação contraindicada. Os motivos podem ser vários: um quadro infeccioso que demandou uso de antibióticos, um processo infeccioso atual ou por causa de alguma doença detectada no recém nascido.
Muitas vezes essa indicação está simplesmente incorreta! E é justamente para te ajudar a não deixar o aleitamento materno desnecessariamente, que escrevo esse novo post da série.
Primeiro, vamos falar sobre infecções, pois infelizmente ainda vejo mamães tendo alta da maternidade com a prescrição de antibióticos de rotina nos 7 dias posteriores à cirurgia.
Além de afetar a microbiota da mãe, isso afeta também a microbiota do leite materno, pois agora você já sabe que até no leite materno há micróbios do bem.
Mamães com infecção crônica ou infecção aguda
As únicas infecções que contraindicam o aleitamento materno são por HTLV1/HTLV2 e HIV.
No caso da mãe apresentar uma infecção mais grave – chamada septicemia – e estar internada em UTI, é recomendado ofertar leite humano de banco. Pelo menos até que as condições clínicas dela estejam mais estáveis.
Nas doenças respiratórias transmitidas por gotículas, como a Tuberculose na fase aguda, Coqueluche e Influenza/H1N1, está indicada que você ordenhe seu leite e tome precauções de contato respiratório até que o tratamento seja instituído e diminua o risco de transmissão (dependendo de cada doença).
Já para Hepatite B, fazer vacina e imunoglobulina no bebê e amamentar logo após.
Se for Herpes Simples, só atrasar o início da amamentação se houver lesões ativas no seio ou mamilo.
Fique atenta: não há contraindicação de amamentar no caso de Dengue, Zyka ou Chikungunya.
Quais são as doenças dos bebês que contraindicam a amamentação?
– Galactosemia clássica.
– Má absorção congênita de Glicose-Galactose (CGGM).
– Deficiência congênita de lactase.
– Fenilcetonúria e Doença da urina de Xarope do bordo.
E quando a mãe está doente ou tem alguma doença ou problema crônico?
Em casos selecionados de algumas doenças maternas, a amamentação poderá ser contraindicada ou postergada até melhora das suas condições clínicas.
A depressão grave pós-parto, a psicose puerperal e o distúrbio bipolar descompensado precisam de atenção!
Doenças cardíacas graves, como insuficiência cardíaca grave, se encaixam nesta situação. Assim como em portadores de esclerose múltipla severa.
Nas lactantes que passaram por cirurgia de mamoplastia redutora, pode haver dificuldades com a amamentação.
E quando a mãe está usando ou usou fármacos, drogas lícitas ou ilícitas?
Poucos fármacos contraindicam a amamentação. Normalmente está contraindicada a amamentação com o uso de:
Sedativos do grupo dos opióides (ex. morfina, codeína).
Alguns psicotrópicos e antiepilépticos (doxepina, zonisamida, por exemplo).
Os anticoncepcionais combinados de estrogênio/progesterona.
Isotretinoína (para acne).
Diversas drogas para tratamento do câncer.
Anti inflamatórios e 99% dos antibióticos são compatíveis com o aleitamento.
Uma lista completa de drogas e sua compatibilidade na gestação pode ser encontrada clicando aqui.
E no caso de drogas lícitas ou ilícitas?
Como você já leu no post sobre como turbinar o leite, o uso de álcool no aleitamento materno deve ser evitado. Além da passagem do álcool para o bebê, pode haver alteração do sabor do leite materno e diminuição da lactogênese (produção de leite).
Nesse estudo, a ingestão do equivalente a 1 lata de cerveja ou 1 taça de vinho chegou a reduzir a produção de leite em 23%!
“- Mas Dr. Flávio, e a tal da cerveja preta para aumentar a produção do leite?”
Essa respondo no último post da série, sobre mitos da amamentação, ok?
No caso do tabagismo, além dos efeitos na saúde materna, a nicotina passa através do LM, altera o sabor, reduz a produção de prolactina e está associado a um menor tempo de aleitamento. O passivo também!
Essa parte abaixo é para os profissionais de saúde que se deparam com uma gestante em trabalho de parto que consumiu drogas. Não é tão raro, infelizmente, e sempre fica a dúvida se deve liberar ou não o aleitamento.
Se houve uso de drogas ilícitas imediatamente antes do parto ou durante o aleitamento, a recomendação é suspender a amamentação pelos seguintes períodos:
Anfetamina e ecstasy: 24–36 horas.
Barbitúrico: 48 horas.
Cocaína, crack: 24 horas.
Etanol: 2-3 horas por dose ou até estar sóbria.
Heroína e morfina: 24 horas.
LSD: 48 horas.
Maconha: 24 horas.
Fenciclidina: 1–2 semanas
Há estudos que discutem esse assunto em maior profundidade, como este aqui de 2013 publicado no PubMed e este outro também de 2013 publicado no Clinics Obstetricts and Gynecology.
Resumindo…
Como você leu neste post, talvez muitos dos motivos que já te contaram que contraindicariam a amamentação não são baseados na ciência e peço que você compartilhe a informação correta e científica, para incentivar cada vez mais o aleitamento materno, mesmo quando a mãe ou o bebê tem algum tipo de problema.
Fonte: http://www.pediatradofuturo.com.br/parte-6-quando-nao-amamentar-e-os-mitos-que-te-dizem/

Parte 7 – 24 MITOS da amamentação que você precisa saber!

Esse é o último post da série de 7 que fiz essa semana em homenagem à Semana Mundial de Aleitamento Materno 2016.
Espero que possa ter te ensinado algo novo e estimulado as famílias a dar apoio cada vez maior a este ato tão importante para uma boa saúde das futuras gerações.
Vamos recapitular  o que falamos nesta série:
Post 1: Como é a produção do leite materno
Post 2: Qual a composição do leite materno
Post 3: Como turbinar seu leite
Post 4: Benefícios para o bebê
Post 5: Benefícios para a mamãe
Post 6: Quando não amamentar (e quais os mitos que te dizem)
Mas mesmo com toda a informação disponível, a amamentação muitas vezes é comprometida com mitos, preconceitos e atitudes negativas.
Como vocês sabem que gosto de desmistificar, compartilho a tradução desse texto publicado por Lisa Marasco, assistente de aleitamento.
Foi publicado no site da La Leche League International, uma organização que apoia, dá treinamento e consultoria para profissionais e famílias com problemas de amamentação.
24 Mitos comuns sobre amamentação
Mito 1 : Amamentar frequentemente leva à baixa produção de leite, contribuindo para o desmame.
Realidade: O suprimento de leite é otimizado quando um bebê saudável mama sob livre demanda, sempre que ele necessitar.
O reflexo de ejeção de leite funciona mais na presença de mais estímulo de sucção, que acontece quando você não limita as vezes que o seu bebê vai ao seio. A mama é fábrica (80%) e estoque (20%).
Referências:
De Carvalho, M. et al. Effect of frequent breastfeeding on early milk production and infant weight gainPediatrics 1983: 72:307-11.
Hill, P. Insufficient milk supply syndrome. NAACOG’s Clin Issues 1992; 3(4):605-12.
Klaus, M. The frequency of suckling: neglected but essential ingredient of breastfeeding. Ob Gyn Clin North Am 1987; 14(3):623-33.
Neifert, M. Early assessment of the breastfeeding infant. Contemporary Pediatrics October 1996; 6-9.
Lawrence R. Breastfeeding: A Guide for the Medical Professional, 4th ed. St. Louis: Mosby 1994; 188.
Salariya, F. et al. Duration of breastfeeding after early initiation and frequent feeding. Lancet 1978; 2(8100):1141-43.
Slaven, S. Harvey, D. Unlimited sucking time improves breastfeeding. Lancet 1981; 14:392-93.
Stuart-Macadam, P., Dettwyler, K. Breastfeeding: Biocultural Perspectives. Hawthorne, New York: Aldine de Gruyter, 1995; 129.
Woolridge, M. and Baum, J. Infant appetite-control and the regulation of the breast milk supply. Child Hosp Qtrly 1992; 3:113-19.
Mito 2: A lactante só precisa amamentar de 4 a 6 vezes ao dia para manter o suprimento de leite para o bebê.
 Realidade: Os estudos mostram que quando uma lactante amamenta precocemente e frequentemente, uma média de 10 vezes ao dia nas duas primeiras semanas, sua produção de leite é bem maior.
Seu bebê ganha mais peso e ela tende a manter a amamentação por um período mais longo. A produção do leite está relacionada diretamente com a frequência e o suprimento de leite diminui quando as mamadas são infrequentes ou limitadas.
Daly, S., Hartmann, R Infant demand and milk supply: Part 1 and 2. J Hum Lact 1995; 11(1):21-37.
De Carvalho, M. et al. Effect of frequent breastfeeding on early milk production and infant weight gainPediatrics 1983: 72:307-11.
De Coopman, J. Breastfeeding after pituitary resection: support for a theory of autocrine control of milk supply. J Hum Lact 1993; 9(1):35-40.
Riordan, I. and Auerbach, K. Breastfeeding and Human Lactation. Boston and London: Jones and Bartlett 1993; 88.
 Mito 3: Bebês mamam todo o leite que precisam nos primeiros 5 a 10 minutos.
Realidade: Enquanto muitos bebês mais velhos podem obter a maioria do leite nos primeiro 5 a 10 minutos, isso não pode ser generalizado para todos os bebês.
Recém-nascidos, que estão aprendendo a mamar e não são tão eficientes na sucção, frequentemente necessitam de mais tempo para mamar.
A habilidade de sugar também tem a ver com a o reflexo de ejeção materno, que varia entre as lactantes. Enquanto certas mães podem ejetar imediatamente, algumas podem não ser tão eficientes.
Algumas ejetam o leite em pequenas alíquotas, várias vezes na mesma mamada. Melhor do que tentar adivinhar como você funciona, é observar os sinais de saciedade do bebê como relaxamento de mãos e braços e auto-desprendimento.
Lucas, A., Lucas, P., Aum, J. Differences in the pattern of milk intake between breast and bottle-fed infants.Early Hum Dev 1981; 5:195.
Stuart-Macadam, P., Dettwyler, K. Breastfeeding: Biocultural Perspectives. Hawthorne, New York: Aldine de Gruyter, 1995; 129-37.
 Mito 4: A lactante deve espaçar as mamadas, para que seus seios tenham tempo para encher novamente de leite.
Realidade: Cada dupla mãe/bebê são únicos. O corpo de uma lactante está sempre produzindo leite. Suas mamas funcionam em parte como estoque, algumas armazenando mais que outras.
Quanto mais vazia estiver a mama, mais rápido o corpo produz leite para abastecê-las. Quanto mais cheias as mamas estiverem, mais a produção fica lenta. Se uma mãe fica forçadamente esperando que as mamas encham, seu corpo pode interpretar que está produzindo demais e reduzir a produção total.
 Daly, S., Hartmann, R. Infant demand and milk supply: Part 2. J Hum Lact 1995; 11(1):21-37.
Lawrence R. Breastfeeding: A Guide for the Medical Professional, 4th ed. St. Louis: Mosby 1994; 240-41.
Mito 5: Bebês precisam de 6 a 8 mamadas por dia até 2 meses de vida, 5 a 6 com 3 meses e não mais que 4 ou 5 aos 6 meses de idade.
Realidade: Um bebê em aleitamento materno exclusivo sob livre demanda, varia sua ingesta de acordo com o suprimento de leite da mãe e sua capacidade de armazenamento, bem como de acordo com as suas necessidades de desenvolvimento.
Surtos de crescimento e doenças podem mudar temporariamente seu padrão de alimentação. Estudos mostraram que bebês em AM sob livre demanda vão estabilizar o ritmo de amamentação em um padrão que se enquadra na sua necessidade.
Além disso, a ingesta calórica de uma bebê em AM aumenta no final da mamada. Dessa forma, colocar limites na frequência e no tempo pode levar à menor ingesta calórica do que a sua necessidade.
Daly, S., Hartmann, R. Infant demand and milk supply: Part 1. J Hum Lact 1995; 11(1):21-6.
Klaus, M. The frequency of suckling. Ob Gyn Clin North Am 1987; 14(3):623-33.
Lawrence R. Breastfeeding: A Guide for the Medical Professional, 4th ed. St. Louis: Mosby 1994; 253.
Millard, A. The place of the clock in pediatric advice: rationales, cultural themes and impediments to breastfeeding. Soc Sci Med 1990; 31:211.
Woolridge, M. “Baby-controlled breastfeeding: biocultural implications” in Stuart-Macadam, P., Dettwyler, K.Breastfeeding: Biocultural Perspectives. Hawthorne, New York: Aldine de Gruyter, 1995; 217-42.
Mito 6: É a quantidade de leite que o bebê ingere (quantitativo), e não o tipo, leite humano ou fórmula (qualitativo), que determina o intervalo das mamadas
Realidade: Bebês em aleitamento materno exclusivo tem esvaziamento gástrico mais rápido do que bebês em uso de leite artificial (1,5 horas versus 4 horas), devido ao menor tamanho das moléculas de proteína no leite materno.
Enquanto a quantidade ingerida é um fator que pode determinar a frequência de alimentações, o tipo de leite também é muito importante.
Estudos antropológicos com leite de mamíferos confirmam que bebês humanos tendem à amamentar frequentemente e sempre o fizeram ao longo de toda nossa evolução.
 Lawrence R. Breastfeeding: A Guide for the Medical Professional, 4th ed. St. Louis: Mosby 1994; 254.
Marmet, C., Shell, E. Breastfeeding Is Important. Encino, California: Lactation Institute, 1991:4.
Stuart-Macadam, P., Dettwyler, K. Breastfeeding: Biocultural Perspectives. Hawthorne, New York: Aldine de Gruyter, 1995; 129.
Mito 7: Nunca acorde um bebê para mamar.
Realidade: Enquanto a maioria dos bebês consegue indicar quando necessitam se alimentar, os recém-nascidos podem não acordar sozinhos com facilidade e devem ser acordados, se necessário, para comer pelo menos 8 vezes ao dia.
Isso pode acontecer por medicamentos que a mãe tomou no parto, medicações que a mãe esteja tomando, icterícia, traumatismos, chupetas e comportamento de recusa após pouca resposta à sinais de fome.
Além disso, mães que querem ter a vantagem da contracepção natural proporcionada pelo Aleitamento Materno Exclusivo, percebem que há um atraso no retorno do ciclo menstrual quando o bebê continua mamando no período noturno.
American Academy of Pediatrics Policy Statement on Breastfeeding and the use of Human Milk. Pediatrics1997; 100(6):1035-39.
Klaus, M. The frequency of suckling: neglected but essential ingredient of breast-feeding. Ob Gyn Clin North Am 1987; 14(3):623-33.
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Mito 8: O metabolismo de um bebê é desorganizado ao nascimento e requer a implantação de uma rotina alimentar para estabilizar essa desorganização.
 Realidade: Rotina só vale para o ritual do sono noturno e não para a amamentação. Ao longo do tempo o bebê vai se adaptando ao ritmo familiar e adquirindo um padrão de horário e frequência, espaçando a alimentação.
Mas isso ocorre aos poucos, a rotina do sono envolve o período noturno, mas sempre que o bebê acordar dando sinais de fome, deve ser alimentado.
Mohrbacher, N., Stock, J. BREASTFEEDING ANSWER BOOK. Schaumburg, Illinois: LLLI, 1997; 24-29.
Sears, W. The Fussy Baby. LLLI 1985;12-13.
Mito 9: : Lactantes sempre devem oferecer os dois seios na mamada
Realidade: É mais importante deixar o bebê terminar o primeiro seio, mesmo que signifique não mamar no outro seio na mesma mamada.
O leite posterior é obtido gradualmente enquanto o seio é drenado. Alguns bebês, se mudados prematuramente de seio, podem se fartar no leite anterior dos dois seios, que é menos calórico.
Nesta situação pode não obter quantidades equilibradas de leite anterior e posterior, resultando em um bebê irritado e pouco ganho de peso.
Nas primeiras semanas, muitas mães oferecem ambos os seios na mamada, mas nesse caso pode ser um facilitador para aumentar a produção.
Mohrbacher, N., Stock, J. BREASTFEEDING ANSWER BOOK. Schaumburg, Illinois: LLLI, 1997; 25.
Stuart-Macadam, P., Dettwyler, K. Breastfeeding: Biocultural Perspectives. Hawthorne, New York: Aldine de Gruyter, 1995; 129.
Woolridge, M., Fisher, C. Colic, “overfeeding” and symptoms of lactose malabsorption in the breastfed baby: a possible artifact of feed management? Lancet 1988; II(8605):382-84.
Woolridge, M. et al. Do changes in pattern of breast usage alter the baby’s nutritional intake? Lancet336(8712):395-97.
Mito 10: Se um bebê não está ganhando peso, pode ser devido à baixa qualidade do leite materno. O mito do leite fraco.
Realidade: Estudos mostraram que mesmo mulheres desnutridas são capazes de produzir leite materno em quantidade e qualidade suficientes para suprir o crescimento do bebê.
Na maioria dos casos, o ganho de peso está relacionado à baixa ingesta de leite ou por um problema de saúde do bebê.
Mohrbacher, N., Stock, J. BREASTFEEDING ANSWER BOOK. Schaumburg, Illinois: LLLI, 1997; 116-32.
Wilde, C. et al. Breastfeeding: matching supply with demand in human lactation. Proc Nutr Soc1 1995; 54:401-06. 
Mito 11: A baixa produção de leite é comumente causada por estresse, cansaço e/ou pouco líquido ou alimento na dieta materna 
Realidade: A causa mais comum de problemas no suprimento de leite materno são as mamadas infrequentes ou pega ou posição do bebê inadequada.
Ambas são normalmente devido à orientações inadequadas à lactante. Problemas de sucção no bebê também podem impactar na produção do leite materno.
Estresse, cansaço e má nutrição são causas raras de falha no suprimento de LM porque o corpo tem mecanismos de sobrevivência extremamente desenvolvidos para proteger a amamentação durante períodos de suprimento insuficiente de alimentos para a mãe.
Dusdieker, B., Stumbo, J., Booth, B. et al. Prolonged maternal fluid supplementation in breastfeeding.Pediatrics 1090; 86:737-40.
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Woolridge, M. Analysis, classification, etiology of diagnosed low milk output. Plenary session at International Lactation Consultant Association Conference, Scottsdale Arizona, 1995.
World Health Organization. Not enough milk. Division of Child Health and Development Update Feb 1995 21. http://www.who.ch/programmes/cdr/pub/newslet/update/updt-21.htm
Mito 12: A mãe deve tomar leite para produzir leite
Realidade: Uma dieta saudável, com hortaliças, frutas, gorduras boas, proteínas de qualidade e carboidratos de baixo índice glicêmico é tudo o que uma mãe necessita para ter os nutrientes adequados para a produção de LM.
Cálcio pode ser obtido por outras fontes que não dos leites/laticínios, como folhosos verdes escuros, peixes como a sardinha e nozes/sementes. Nenhum outro mamífero toma leite para produzir leite.
Behan, E. Eat Well, Lose Weight While Breastfeeding. New York: Villard Books, 1992; 145-46.
Mohrbacher, N., Stock, J. BREASTFEEDING ANSWER BOOK. Schaumburg, Illinois: LLLI, 1997; 377, 379.
Mito 13: A sucção não nutritiva não tem base científica.
Realidade: Lactantes experientes aprendem que os padrões de sucção e necessidades dos bebês variam. Enquanto alguns lactentes tem suas necessidades alcançadas durante a mamada, outros bebês necessitam de sucção adicional ao seio após a mamada, mesmo que não estejam mais famintos.
Bebês podem sugar ao seio quando estão sentido solidão, medo ou dor.
Riordan, J., Auerbach, K. Breastfeeding and Human Lactation. Boston and London: Jones and Bartlett, 1993; 96-97.
Lawrence, R. Breastfeeding: A Guide for the Medical Profession, 4th ed. St. Louis: Mosby, 1994; 432.
Mito 14: A mama não deve ser uma chupeta para o bebê.
Realidade: Confortar e atingir as necessidades de sucção ao seio é algo forjado pela natureza. Chupetas são literalmente um substituto materno quando esta não está disponível.
Outras razões para usar o seio como chupeta inclui um melhor desenvolvimento orofacial, uma amenorréia lactacional mais prolongada, evita a confusão de bicos e estimula um suprimento adequado de leite, terminando por aumentar as taxas de sucesso da amamentação.
American Academy of Pediatrics Policy Statement on Breastfeeding and the use of Human Milk. Pediatrics1997; 100(6):1035-39.
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Mito 15: Não existe confusão de bicos.
Realidade: A amamentação ao seio e por mamadeiras requerem diferentes habilidades motoras.
Bicos de silicone proporcionam um time de hiper-estímulo que os bebês podem introjetar ao invés do seio, que é mais suave. Como resultado, alguns bebês desenvolvem uma confusão de sucção e aplicam modos de sucção inapropriados ao seio quando estes trocam entre seio e mamadeira.
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Nipple Confusion – Overcoming and Avoiding This Problem. LLLI, 1992. Publication No.32.
Mito 16: Amamentação frequente pode causar depressão pós parto.
Realidade: Acredita-se que a depressão pós parto é causada pela flutuação hormonal após o nascimento e pode ser exacerbada pelo cansaço e pela falta de apoio social, pelo fato desta ocorrer mais frequentemente em mulheres que tem uma história de problemas antes da gestação.
Astbury, J. et al. Birth events, birth experiences and social differences in postnatal depression. Aust J Public Health.1994; 18(2):176-64.
Dunnewold, A. Breastfeeding and postpartum depression: is there a connection? BREASTFEEDING ABSTRACTS, LLLI, May 1996; 25.
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Mito 17: Amamentar sob livre demanda não aumenta o vinculo mãe-bebê.
Realidade: O caráter responsivo da amamentação sob livre demanda resulta na sincronização de ambos, levando à um vínculo melhorado.
Ainsworth, M. Infant-mother attachment. Am Psych 1979; 34(10):932-37.
Berg-Cross, L., Berg-Cross, G., McGeehan, D. Experience and personality differences among breast and bottle-feeding mothers. Psych of Women Qtrly 1979; 3(4):344-58.
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Temboury, M. et al. Influence of breastfeeding on the infant’s intellectual development. J Ped Gastro Nutr1994; 18:32-36.
Mito 18: Mães que colocam muitos os bebês no colo, os deixam mimados.
Realidade: Bebês que são mais acalentados choram por menos tempo durante o dia e exibem mais segurança à medida que amadurecem.
Anisfeld, E. et al. Does infant carrying promote attachment? An experimental study of the effects of increased physical contact on the development of attachment. Child Dev 1990; 61:1617-27.
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Mito 19: É importante que outros familiares alimentem o bebê, para criar vínculo.
Realidade: A alimentação não é o único método pelo qual os outros membros da família criam vínculo com o bebê. Acalentar, balançar, conversar, dar banho e brincar são muito importantes para seu crescimento, desenvolvimento e ligação com outras pessoas.
Heller, S. The Vital Touch: How Intimate Contact with Your Baby Leads to Happier, Healthier Development.New York: Henry Holt, 1997;54-55, 60-61.
Mito 20: A alimentação sob livre demanda tem um impacto negativo no relacionamento marido/mulher
Realidade: Pais maduros percebem que as necessidades do bebês são intensas, mas diminuem ao longo do tempo. Na realidade, o trabalho conjunto de criar um bebê pode servir para aproximar ainda mais o casal, à medida que estes vão se desenvolvendo.
Bocar, D., Moore, K. Acquiring the parental role: a theoretical perspective. LLLI Lactation Consultant Series.Unit 16. Garden City Park, New York: Avery, 1987.
Sears, W. BECOMING A FATHER. Schaumburg, Illinois: LLLI 1986; 29-50,119-29.
 Mito 21: Alguns bebês são alérgicos ao leite materno.
Realidade: O leite materno é a substância mais natural e fisiológica que o bebê pode ingerir.
Se um bebê tem sintomas relacionados à alimentação, normalmente é por uma proteína da dieta materna que passa pelo leite materno. Esse problema acaba quando se retira a proteína suspeita da dieta materna por um tempo e a amamentação pode continuar normalmente.
Hudson, I. et al. A low allergen diet is a significant intervention in infantile colic: results of a commmunity-based study. J Allergy Clin Immunol 1995; 96:886-92.
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Mito 22: A amamentação frequente causa obesidade na criança na infância.
Realidade: Estudos mostram que bebês que controlam seu padrão de amamentação e ingesta, tendem a tomar a quantidade adequada de leite. O leite artificial e a introdução muito precoce de sólidos e não o AME sob demanda, tem sido implicado em obesidade na infância.
Dewey, K., Lonnerdal, B. Infant self-regulation of breast milk intake. Acta Paediatr Scand 1986; 75:893-98.
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Mito 23: A amanetação deitado pode causar otites.
Realidade: Pelo fato do leite materno ser um alimento vivo e com anticorpos e imunoglobulinas, o bebê tem menor risco de desenvolver infecções no ouvido, não importando a posição em que é amamentado.
Aniansson, G. et al. A prospective cohort study on breastfeeding and otitis media in Swedish infants. Pediatr Infect Dis J 1994; 13:183-88.
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Mito 24: O leite materno não serve mais após 1 ano de idade, porque sua qualidade diminui após os 6 meses de idade.
Realidade: A composição do leite materno muda para atingir as necessidades do bebê à medida que ele cresce. Mesmo quando um bebê está comendo outros alimentos, o leite materno é a principal fonte de nutrição no primeiro ano de vida.
No segundo ano de vida ele se torna uma suplementação para a alimentação sólida. Além disso, o amadurecimento completo do sistema imunológico demora entre 2 e 6 anos.
O leite materno continua a complementar e impulsionar o sistema imune por todo o período que durar o aleitamento materno. Na hora da doença, muitas vezes o bebê recusa tudo, menos o leite materno.
American Academy of Pediatrics Policy Statement on Breastfeeding and the Use of Human Milk. Pediatrics1997; 100(6):1035-39.
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sábado, 6 de agosto de 2016

O que um retiro de 10 dias em silêncio me ensinou - Por Luccas Pereira

Uma das experiências mais impactantes da minha vida. Relato completo de um retiro de meditação (vipassana) de 10 dias em silêncio, meditando cerca 10 horas por dia.
Atenção relato completo da experiência de realizar um vipassana. Não entramos em detalhes da técnica, já que esta só deve ser ensinada por um professor devidamente atribuído para tal. No final deste relato apontamos links de onde você pode encontrar tais locais devidamente preparados.
Réveillon, época de se esbanjar com comidas diferentes, estourar champanhe, fogos de artifício, pular 7 ondas e dar muita festa, correto?
E se eu te disser que existem pessoas que passaram em silêncio, sem ver nem ouvir fogos de artifício, sem vestir roupa branca e sem dizer feliz ano novo a meia noite do dia 31 de dezembro? Você vai dizer: loucos. Pois é, existiam 100 loucos lá. Foi dessa forma que eu e mais 99 pessoas passamos o réveillon dessa vez. 50 homens e 50 mulheres que decidiram sair completamente da sua zona de conforto e passar a virada do ano de uma forma bem diferente.
Vipassana é uma técnica de meditação redescoberta por Buda (Gotama) há mais de 2.500 anos. Significa “ver as coisas como realmente são”, que busca erradicar o sofrimento humano por completo, trata-se de uma arte de viver.
Para aprender vipassana é necessário um curso completo de 10 dias! Sim, você dedicará 10 dias da sua vida, e, além disso, 10 dias em silêncio. O que é silêncio? É não falar absolutamente nada, e mais que isso, além da não fala oral, não pode se comunicar com gestos e nem olhares. Ou seja, você está cercado de pessoas a seu redor, mas não pode falar com elas. Isso é feito por diversos motivos que são explicados durante o curso, mas o principal é aquietar a mente. Se já é difícil se concentrar em silêncio, imagina no meio de uma tagarelice. Além disso em todos os templos do mundo, de todas as culturas, meditação e fala não combinam. Acredito que desde quando aprendemos a falar quando éramos crianças e por nossa vida toda, não ficamos 10 dias em silêncio, aliás, nem metade disso.
Preparação
A preparação para o retiro começa bem antes, 3 meses, faz a inscrição on-line e aguarda ser aceito. E acredite as vagas se esgotam no mesmo dia que as inscrições são abertas. Portanto para quem vai realizar o curso em dezembro, no mês de setembro você tem que planejar a sua vida para passar 10 dias sem telefone, internet e sem nenhuma conexão com o mundo. É preciso muito desapego. Fique tranquilo você pode informar um número de telefone do local do retiro para seus familiares, e caso aconteça algo urgente elas podem entrar em contato com o local do retiro e eles irão te informar.
Eu já tinha feito este curso anteriormente, também no réveillon. O curso tem o ano todo, porém no período de 26 de dezembro à 06 de janeiro é a única que conseguia ficar 10 dias fora, e é a data preferida das pessoas por conta de trabalho, a maioria das empresas param para recesso coletivo e por isso fica mais fácil para fazerem o curso. Também prefiro essa data pois no final do ano ficamos muito introspectivos, fazemos um balanço de nossa vida, o que conquistamos, e o que desejamos a frente.
Para mim nesta segunda vez, estava sendo mais difícil ainda. Agora minha esposa estava fazendo o curso pela primeira vez. Ficaríamos 10 dias nos vendo a distância, sem poder conversar ou aproximar-nos. Então é normal ficar preocupado, querer saber se o outro está bem ou não. Mais um apego para ser superado.
Estrutura do local
Fizemos o curso em um local chamado Dhamma Santi em Miguel Pereira – RJ. Existem centros espalhados no mundo todo. No Brasil também tem em outros locais. A estrutura física é excelente. Tudo limpo, organizado, bem construído, alimentação ovo lacto vegetariana com um cardápio muito equilibrado, quartos individuais ou coletivos e banheiros e vestuários masculinos e femininos e para a felicidade da minha esposa: com chuveiro quente! É de se surpreender toda essa estrutura, pois afinal estamos em uma serra, cercados por mata virgem.
Tudo funciona muito bem. Quem dera as empresas tivessem essa organização. Tudo é dividido por áreas e responsáveis. E acredite, tudo, absolutamente tudo, desde os 33 hectares do terreno até quem trabalha no local é realizado por meio de trabalho voluntário e doações! Ninguém, incluindo os professores ganham 1 centavo sequer. Eles estão lá por outra recompensa: ajudar outras pessoas assim como foram ajudados. Um aluno que conclui o curso pode servir (trabalhar) em outros cursos. Os estudantes ficam tão contentes com os resultados do curso e com o impacto causado em suas vidas, que desejam compartilhar, desejam que outros também tenham essa experiência, afinal como é dito no filme “Na natureza selvagem” (Into the wild) “a felicidade só é real quando compartilhada”.
Quem pode fazer
O curso pode ser feito por qualquer pessoa de qualquer idade (inclusive existem cursos para crianças), e já foi ministrado até em presídios com excelentes resultados, e que rendeu um documentário (link no final do texto), e claro que estejam bem de saúde e dispostas fisicamente, pois apesar de ser um curso de meditação é uma grande prova para o corpo, suportar 10 horas por dia meditando. É difícil para a coluna, pés, joelhos, etc. Mas engana-se quem acha que isso é só para os jovens, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas mais velhas, tanto homens quanto mulheres. E a maioria deles já tinha feito vários cursos. Isso é normal entre os estudantes, após concluir o curso conversei com vários e trocamos contatos, inúmeros estavam realizado o curso pela 4ª, 8ª, 10ª vez e assim vai.
A experiência
Posso confessar a vocês que não é fácil. E não é fácil pela primeira vez, não é fácil para quem faz pela segunda vez, e dizem que não é fácil para quem faz pela décima vez. Porém crescemos justamente nas dificuldades. Ao fazer um curso de vipassana você se supera a cada momento. Cada dia é diferente. Em alguns momentos sua meditação flui bem, em outros momentos você não consegue se concentrar, e às vezes você até pensa em ir embora! É preciso muita, muita determinação, isso é chamado de  Adhitthana – firme determinação. É falar para si mesmo: vou concluir não importa o que aconteça, seja a dor, tédio, calor, frio ou qualquer outra dificuldade. É falar para si mesmo a todo instante na meditação, não vou me levantar mesmo que minhas pernas doam. Esta mesma firme determinação que precisamos levar essa firme determinação para nossas vidas.
Nossa mente tenta arrumar diversas desculpas: ah estou com dor, está calor, fulano está se mexendo muito e está me atrapalhando, etc. É aí que superamos, é aí que nos mostramos forte e vencemos nossa mente.
Os alunos que já fizeram o curso uma vez ficam mais a frente, e os novos um pouco para trás. Isso é bom, pois servem de exemplo aos mais novos. Eu estava passando por alguns dias difíceis, de dor nas pernas, e quando olhava na fileira da frente tinha um senhor, aparentando cerca de 70 anos, e estava totalmente concentrado e imóvel. Ele chegava vagarosamente, andando cuidadosamente, se ajoelhava (cada um pode ficar na posição que preferir desde que mantenha a coluna ereta) e ficava imóvel por 30 minutos, 1 hora, 2 horas. Um exemplo! Ai eu pensava: E eu aqui reclamando. No final do curso fiz questão de conversar com ele, dizer que me inspirou muito nos momentos difíceis, mesmo sem saber seu nome, e nunca termos conversado, sua atitude me ajudou. E para minha surpresa descubro que ele estava no 26° curso! E com toda humildade disse: continua não sendo fácil.
Cada dia é uma nova experiência. As refeições e horários de meditação são avisados com o toque do sino. Nos primeiros dias, mal conseguia ouvir o sino, e tinha receio de perder a hora. Depois de alguns dias, o sino chegava a me incomodar de tão alto, parecia que estavam tocando na janela do meu quarto ou dentro do meu ouvido. Mas o volume sempre foi o mesmo, a diferença é que minha mente se tornou atenta a tudo. Percebi o quanto vivemos distraídos, e muitas vezes não percebemos as coisas que acontecem a nossa volta. Na sala de meditação, em total silêncio, é possível ouvir o engolir de saliva do seu colega ao lado. Você percebe sons que sempre estavam presentes, mas nunca conseguiu notar devido ao barulho externo, e devido ao barulho da sua mente.
Aprendemos humildade. Ficamos bravos quando a pessoa do nosso lado levanta e faz barulho e nos incomoda, mas em determinado momento precisamos ir ao banheiro e percebemos que por mais silenciosamente que levantemos, também vamos atrapalhar quem está do nosso lado.
Portanto ao realizar vipassana, além da maravilhosa técnica que você aprende você irá se conhecer mais, e aprender inúmeras outras coisas, que não cabe descrever aqui, afinal, para cada um é uma experiência diferente. Apenas vivendo você poderá comprovar.
Custo
Bom, a essa altura espero ter motivado você a conhecer esse curso. Espero ter colocado uma curiosidade em viver tudo isso. Comece a se planejar, não precisa de afobação, o curso tem o ano todo, programe-se com calma, o importante é ir. Então você deve estar se perguntando afinal quanto custa tudo isso, 10 dias de alimentação, hospedagem e curso. Aí vem a maior das surpresas. Lembra que te disse que todos que estão lá, incluindo os professores não são remunerados? Pois bem, o curso é pago com doações! Isso mesmo, você paga o quanto puder, sem limite mínimo nem máximo. Tem gente que doa pouco, tem gente que doa muito, tem gente que doa materiais, mantimentos, e tem gente que doa serviço. Cada um oferece o que pode! É isso que faz de tudo tão maravilhoso. E você deve pensar, ah mais isso não sobrevive. Pois bem é assim que esse local e inúmero outro vem fazendo e crescendo durante muitos e muitos anos. Provavelmente se eles cobrassem quantias absurdas ou estipulassem um preço não teriam sobrevivido por todo esse tempo.
A volta
Bom, claro que a volta ao “mundo real” é um pouco diferente. Ao sair à primeira coisa que estranhei foram os barulhos, carros, buzinas. Lá era tudo tão silencioso, ouvia os sons dos insetos, ouvia meu coração pulsando. Lá tudo funcionava bem, harmoniosamente, e aqui não é tudo assim. Temos nossos trabalhos, temos trânsito, etc. Como fica? É aí que entra a questão principal, técnica e prática devem caminhar juntas. Toda a filosofia do mundo não serve para  nada se não for aplicada. É no dia a dia que você vai se testar e ver os benefícios que o curso trouxe para a sua vida. Para mim demorou um tempo para tudo fazer sentido, não foi imediato. Quando terminei o primeiro curso não imaginava que voltaria tão rápido. Depois de um tempo que tudo fez sentido, e vi que precisava voltar e aprofundar na técnica.
Ao sairmos do Dhamma Santi pegamos um táxi e perguntamos para o motorista o que tinha acontecido no mundo nos últimos 10 dias. Afinal foram 10 dias desconectados, muita coisa deve ter acontecido, pensamos. E ele nos contou algumas coisas: “um acidente, aquela tragédia e outro escândalo”. Puxa, não mudou muita coisa. Ao ligar para a família, todos estavam bem e nada de muito diferente aconteceu. O que parecia um absurdo: 10 dias ausentes sem nenhum contato com o mundo externo, não foi tão absurdo assim.
Dê esse presente a você mesmo, permita-se viver uma experiência completamente diferente de tudo o que viveu até hoje. Ah, mas eu não tenho tempo, ah, mas eu não consigo ficar 10 dias sem falar, ah mais isso, ah mais aquilo… Vença as suas próprias objeções! Afinal para fazer vipassana, a superação começa muito antes da ida.
Que todos os seres sejam felizes!
Obs: Se você também já fez um curso de meditação vipassana conte a sua experiência nos comentários. Isso vai incentivar outras pessoas a participarem.
Links:
Site do local do retiro – Dhamma Santi
Datas do curso em Dhamma Santi (tem o ano todo, inscrições 3 meses antes dos cursos)

Fonte: http://desfruteavida.com.br/o-que-um-retiro-de-10-dias-em-silencio-me-ensinou/

quinta-feira, 28 de julho de 2016

A Nutrigenômica, a Nutrigenética e a Epigenética como meios para alcançar o potencial da nutrição, manter a saúde e prevenir doenças


A nutrição moderna centra-se na prevenção de doenças e manutenção da saúde. Entender como os diferentes meios de interação entre genes e dieta podem contribuir para alcançarmos este objetivo torna-se de fundamental importância. Este é um tema complexo, porém fascinante, sobre o qual ainda pouco conhecemos, mas que muito interesse tem despertado no mundo da Ciência.

As evidências sobre as interações entre genes e dieta são conhecidas pelos exemplos clássicos da intolerância à lactose e fenilcetonúria. No primeiro caso, foram descritas mutações no gene da lactase, uma enzima de secreção intestinal que catalisa a hidrólise da lactose em glicose e galactose. Estas alterações genéticas encontram-se associadas à incapacidade de digestão do leite e de seus derivados. No caso da fenilcetonúria, a deficiência genética da enzima fenilalanina-hidroxilase é responsável por debilidade mental e convulsões. Contudo, uma dieta pobre em fenilalanina pode diminuir os efeitos cerebrais da deficiência desta enzima. Entretanto, as possibilidades de interação aumentaram consideravelmente com os novos conceitos introduzidos, que precisam ser bem esclarecidos para um verdadeiro entendimento.

Vamos começar revendo o conceito de GENOMA: o conjunto de todas as moléculas de DNA de um determinado ser vivo. Nestas moléculas encontram-se os genes, que guardam as informações para a produção de todas as proteínas que caracterizam os seres.

Os primeiros relatórios do projeto de sequenciação do genoma humano foram publicados em 2001 nas revistas Nature e Science. Os trabalhos de pesquisa que eram até então realizados com apenas alguns genes ou proteínas, candidatos a estarem envolvidos em processos fisiológicos ou patológicos, passaram a avaliar dezenas de milhares de alvos, recorrendo a microchips ou a outras estratégias de análise de dados em larga escala. A relação entre nutrição, genética e genoma foram sendo cada vez mais evidenciadas.






A NUTRIGENÔMICA (ou Genômica Nutricional) surgiu neste contexto, estudando como alimentos, nutrientes e outros compostos bioativos ingeridos influenciam o genoma.

A Nutrigenômica pode ser subdivida em áreas específicas como PROTEÔMICA, METABOLÔMICA E TRANSCRIPTÔMICA, complementares entre si: alterações no RNA mensageiro (transcriptômica) e as proteínas correspondentes (proteômica) controlam o transporte de determinados nutrientes e metabólitos (metabolômica) no caminho bioquímico.

A capacidade das técnicas de Nutrigenômica para reunir informações detalhadas abriu novas possibilidades para explorar as sutis diferenças entre pessoas (que, a princípio, parecem muito semelhantes). Subgrupos dentro de uma população heterogênea podem responder de maneira diferente a uma intervenção dietética (como por exemplo, o consumo de um produto alimentício). Será possível no futuro identificar quais os grupos que se beneficiam (ou não) com o consumo de determinado produto.

Portanto, a Nutrigenômica permite estudar ao longo do tempo a influência da dieta na estrutura e expressão dos genes, favorecendo condições de saúde ou de doença.

Os estudiosos de Nutrigenômica têm que relacionar dados genéticos de indivíduos saudáveis ou doentes com a sua dieta para alcançarem as conclusões sobre as interferências da dieta na estrutura e expressão genética.

É importante entender bem a diferença entre Nutrigenômica e NUTRIGENÉTICA.

Não é difícil de se observar que os benefícios e malefícios da ingestão dos alimentos não são iguais para todo mundo. Ou seja, o grau de influência da dieta na saúde pode depender da constituição genética.  A própria escolha dos alimentos e o apetite certamente são influenciados pela constituição genética. Sabe-se, de fato, que as necessidades de alimentos, nutrientes e compostos bioativos variam de um indivíduo para o outro (particularmente devido aos molimorfirmos gênicos, principalmente os de nucleotídeo único – em inglês, single nucleotide polymorphism ou SNP, pronunciando-se snips) e influenciam o risco individual de doenças ao longo da vida.

A Nutrigenética estuda como a constituição genética de uma pessoa afeta sua resposta à dieta.

Vislumbra-se que os avanços tanto da Nutrigenômica como da Nutrigenética serão de fundamental importância para o estabelecimento de intervenções dietéticas personalizadas, com o objetivo de se reduzir o risco de doenças e promover a saúde.

As bases conceituais destas pesquisas, de acordo com Kaput e Rodriguez (Physiol Genomics 16: 166–177, 2004), podem ser assim resumidas:

1 – Os componentes da dieta comum atuam no genoma humano, direta ou indiretamente, alterando a expressão ou estrutura gênica.

2 – Sob certas circunstâncias, e em alguns indivíduos, a dieta pode ser um fator de risco sério para algumas doenças.

3 – Alguns genes regulados pela dieta (e suas variantes normais) provavelmente desempenham um papel no início, na incidência, na progressão e/ou na severidade de doenças crônicas.

4 – O grau pelo qual a dieta influencia o balanço entre os estados de saúde e a doença pode depender do componente genético individual.

5 – Intervenções dietéticas, baseadas no conhecimento do requerimento nutricional, do estado nutricional e do genótipo (isto é, nutrição individualizada), podem ser usadas para prevenir, atenuar ou curar doenças crônicas.

Temos ainda o conceito de EPIGENÉTICA a ser compreendido neste contexto. Definida como o estudo das mudanças na atividade do gene que não envolvam alterações na sequência do DNA, a Epigenética está recebendo cada vez mais atenção.

Fenômeno Epigenético: qualquer actividade reguladora de genes que não envolve mudanças na sequência do DNA (código genético) e que pode persistir por uma ou mais gerações.

A maioria das mudanças epigenéticas ocorrem em momentos específicos da vida de um ser humano, desde a fase intra-uterina, passando pelo desenvolvimento do recém-nascido, em seguida pela puberdade e na terceira idade. Envolvem modificações moleculares do DNA,  como a metilação do DNA e a acetilação de histonas (proteínas nas quais o DNA se enovela), e como tal, tem implicações no que se refere ao risco de doenças, tais como o câncer, obesidade e diabetes mellitus. Inclusive, a Epigenética teve início na década de 90 do século passado, quando foi observado que a metilação do gene de supressão tumoral p16 favorecia a ocorrência de determinados tumores e, tratando as moléculas de DNA com agentes desmetilantes, o gene voltava a ter a sua atividade de repressão tumoral.  Veja que modificar o epigenoma para prevenção de doenças é particularmente estimulante, pois as alterações epigenéticas são potencialmente reversíveis, ao contrário das mutações dos genes.

O termo “programação” (programming) foi cunhado para se referir às modificações permanentes na estrutura, fisiologia ou metabolismo de um órgão, favorecendo a manifestação de doenças ao longo da vida, devido a estímulos ou agravos durante um período crítico de desenvolvimento, como na vida intrauterina (fetal programming). Vários estudos estão em andamento, como o “Newborn Epigenetics Study” (NEST), um estudo prospectivo envolvendo mulheres e seus filhos, que está investigando como as diferenças no perfil epigenético global estão relacionadas a uma série de fatores, como a dieta materna e o uso de suplementos vitamínicos e minerais. Os dados iniciais deste estudo foram recentemente publicados no BMC Public Health (2011, 11:46).

A nutrição materna, tendo um papel essencial em relação à ocorrência de alterações epigenéticas que favorecem a ocorrência de doenças na fase adulta, merece toda a atenção: deve ser adequada em calorias, gorduras, proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais, seguindo-se as recomendações vigentes, para diminuição do risco de ocorrência de doenças no novo ser em formação.

Importante: certos fatores dietéticos podem afetar a estrutura do DNA (sem alterar a sequência dos genes), causando alterações epigenéticas que favorecem a ocorrência de doenças.

A compreensão do mecanismos nutrigenômicos, nutrigenéticos e epigenéticos são necessários para se compreender a variabilidade dos requerimentos nutricionais dos seres humanos e para se desenvolver biomarcadores eficazes, bem como para se determinar a disposição individual e a “programação” de um organismo para a ocorrência de determinadas doenças. Este conceito se aplica não somente aos estudos sobre dieta e alimentação, mas se estende às pesquisas da indústria farmacêutica.

No que se refere à indústria de alimentos, estes conhecimentos terão, sem dúvida, seu papel na alimentação personalizada, principalmente como um componente que colaborará para um padrão alimentar cada vez mais saudável. O desenvolvimento de alegações de saúde e nutrição (“claims”) para alimentos/suplementos passarão a ser direcionados a grupos específicos da população.

Em relação à nutrição personalizada, especificamente, embora a compreensão de como a nutrição afeta a expressão do gene seja importante (nutrigenômica), estamos apenas no começo da criação de um mapa detalhado da interação genes x dieta. Mesmo que a coleta de dados esteja se tornando mais fácil, ainda existem grandes desafios de como analisar e interpretar estes dados. A evolução tecnológica está acontecendo tão rapidamente que já se fala agora em análise dos genomas pessoais. Entretanto, ainda estamos há uma certa distância de compreensão da amplitude de impacto destas informações.

A integração da genômica (expressão), genética (predisposição) e epigenética (programação ou impressão) é uma “ciência emergente”, já que as ferramentas de análise do genoma ainda estão apenas começando a amadurecer, porém promissora, trazendo-nos enormes desafios.

Bibliografia consultada:

1- Nutrition Reviews. Vol. 68, Supplement 1, Pages S38–S47.

2 – Cancer Prev. Res. 2010, Vol. 3, pp. 1505-8

3 – Newborn Epigenetics STudy (NEST)

http://utmext01a.mdacc.tmc.edu/dept/prot/clinicaltrialswp.nsf/Index/2007-0845

4- BMC Public Health (2011, 11:46) http://www.biomedcentral.com/1471-2458/11/46

5 – Nutraingredients.com

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/a-nutrigenomica-a-nutrigenetica-e-a-epigenetica-como-meios-para-alcancar-o-potencial-da-nutricao-manter-a-saude-e-prevenir-doencas/

terça-feira, 26 de julho de 2016

A Geração Testosterona - Sobre os perigos da Reposição Hormonal indiscriminada

Pareceres de Sociedades médicas contra Terapia de Modulação hormonal ou uso de "hormônios bioidênticos"

Você pode acreditar na conversa de médicos que tentam te convencer que o uso de terapias com implantes hormonais,  hormônios bioidênticos manipulados ou que a reposição hormonal para combater o envelhecimento são tratamentos seguros. Você é livre para acreditar no que quiser. Mas eu prefiro acreditar nos pareceres oficiais das organizações abaixo. 

 

ANVISA - Agencia Nacional de Vigilância Sanitária,  órgão federal ligado ao Ministério da Saúde. Não utiliza o termo "Hormônio Bioidêntico" em suas legislações de registro de medicamentos.







A Resolução 1999/2012, aprovada pelo plenário do CFM - Conselho Federal de Medicina, determina a proibição dos métodos para prevenir ou interromper o envelhecimento. A proibição se baseia em extensa revisão de estudos científicos que concluiu pela inexistência de evidências científicas que justifiquem e validem a prescrição destas práticas

Entre as diferentes técnicas para deter o envelhecimento, a principal crítica do CFM se detém sobre a reposição hormonal, pois, de acordo com o CFM, a adoção destes métodos não gerou, até o momento, resultados confirmados por estudos científicos em grandes grupos populacionais ou de longa duração. 





O uso de implantes hormonais para fins estéticos não é recomendado pelo 
CREMESP - Conselho Regional de Medicina de São Paulo, informa a endocrinologista Ieda Therezinha Verreschi, membro da entidade : "O conselho não apoia o uso de hormônio em implante para melhorar o aspecto físico. Esse tratamento só aumenta a musculatura, "desfeminiliza" e cria pelos. Fica um "monstrinho" a criatura. É quase que uma medicação para uma fantasia", diz. 




SBEM - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, tem posição semelhante. "Não existem, até o momento, estudos com rigor científico que confiram credibilidade à prática", afirma o Dr. Alexandre Hohl Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) - Gestão 2015/2016.






Nos Estados Unidos,  o FDA (Federal Drug Administration)não aprova o uso de implantes hormonais e considera o termo "hormônio bioidêntico"como um mero jargão de marketing sem valor médico ou científico algum.






Comitê da Sociedade Americana de Obstetras e Ginecologistas para a Prática de Ginecologia e o Comitê de Prática de Medicina Reprodutiva da Sociedade Americana,apresentam as seguintes conclusões e recomendações:
  • Faltam evidências para suportar as alegações sobre as vantagens dos hormônios bioidênticos manipulados sobre os hormônios convencionais nas terapias da menopausa.
  • Hormônios manipulados trazem riscos para a saúde. Essas preparações possuem pureza e potência variada e faltam dados sobre sua segurança e eficácia.
  • Devido a biodisponibilidade e bioatividade variáveis, tanto a sub-dosagem como a superdosagem são possíveis.
  • Com base nos dados disponíveis as terapias com hormônios convencionais são preferenciais às terapias com hormônios manipulados. 


Sociedade Norte Americana da Menopausa tem alertado as mulheres sobre os riscos potenciais com os hormônios manipulados utilizados nas terapias com hormônios. E suporta o parecer do FDA e de outras organizações científicas que não recomendam o uso dessas substâncias.




Praticamente TODOS OS CONSELHOS DE GESTÃO DE TODAS AS MODALIDADES DE ESPORTES impõem restrições duríssimas para atletas que são pegos utilizando hormônios para melhorar seu desempenho. 

TRH no esporte profissional é considerado dopping.  Raras exceções são tratadas caso a caso, e somente se for comprovada a necessidade clínica do hormônio para tratamento de doenças que o atleta possua.



Os planos de saúde não dão cobertura  para as terapias com hormônios para fins estéticos ou para tratamentos anti-envelhecimentos.  

Os planos de saúde restringem sistematicamente estes tratamentos.  Um exemplo é a AETNA,  uma das maiores operadoras de planos de saúde americana.   Nas suas políticas está descrito:  "Foram demonstradas que as formulações de estradiol em implantes hormonais produzem concentrações variáveis e imprevisíveis de estrogênio, e não são aprovadas pelo FDA".

Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante,
mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso.

Bertold Brecht


Há muita informação na internet com supostos "estudos" que apenas listam referências sem contudo apresentar os links ou incluir os documentos. Ou que apresentam pareceres de organizações desconhecidas e sem credibilidade alguma. 

Nós colocamos à sua disposição as nossas fontes diretas de referência, em formato PDF, para quem quiser olhar, imprimir e analisar.

Agora cabe a você acreditar nessas pesquisas sérias ou cair na conversa fiada dos  "negociantes de medicina" e suas clínicas luxuosas que tentam te convencer através de anúncios na TV, revistas de estética,  websites, facebook, youtube e tantas outras ferramentas de marketing que as suas terapias absurdas a base de hormônios são seguras.  


sábado, 16 de julho de 2016

ATENÇÃO: Nutrólogos ou endocrinologistas não prescrevem Anabolizantes para fins estéticos


Os riscos do uso não médico (Handelsman, 2006) de esteróides anabolizantes androgênicos (EAA) é um tema recorrente em artigos científicos, jornais e revistas especializadas. No momento está ganhando notoriedade na mídia pois alguns médicos "instituíram" por conta própria a prescrição para fins estéticos.

Esse consumo tem sido relacionado a homens e mulheres jovens de variadas camadas sociais e padrões econômicos, que buscam obter rapidamente a musculosidade (hipertrofia e definição muscular) e a melhora do desempenho físico (efeito ergogênico).

Indubitavelmente, com a forte demanda, a fiscalização frouxa e com altos lucros falando mais altos, médicos turbinam os resultados graças a uma roleta-russa química na qual se destaca o abuso dos EAA.


A insatisfação com a imagem corporal tem sido descrita como uma das causas do abuso de EAA, exercendo considerável influência na motivação de homens jovens, que buscam um ideal de musculosidade, tomando por base modelos de corpo masculino sugeridos pela mídia, particularmente em publicações especializadas. É claramente um transtorno psiquiátrico. Vemos uma ascensão dos transtornos alimentares (Bulimia, anorexia, transtorno da compulsão alimentar periódica, vigorexia, ortorexia). A crença de que corpo bonito é um corpo sarado ou bombado, na maioria das vezes irreais pelos métodos convencionais, ou seja, quase sempre "esculpido por EAA", acaba sendo gatilho para esses transtornos alimentares e uso de EAA (com seus efeitos adversos).

Os danos provocados pelo uso indiscriminado de EAA são apontados em vários estudos (Bispo et al., 2009; Samaha et al., 2008; McCabe et al., 2007; Graham et al., 2006;).

Complicações funcionais cardíacas e hepáticas, bem como diversos tipos de câncer que podem levar à morte estão entre os efeitos adversos mencionados com maior frequência, seguidos de alterações psíquicas e comportamentais de indivíduos que abusaram de doses de EAA, envolvendo, em alguns casos, episódios de agressão e violência interpessoal (Thiblin, Pärklo, 2002).



Portanto, sob esta ótica, o consumo de substâncias ergogênicas, seja no âmbito esportivo ou amador, não é recomendado, por não compensarem os danos que traz para os indivíduos saudáveis. O uso de EAA é reservados para casos específicos. A  indicação  mais  precisa  da  terapia com EAA é quando a função endócrina dos testículos está deficiente. As principais indicações são:
  1. Hipogonadismo
  2. Caquexia: seja por HIV, Câncer, Doença pulmonar obstrutiva crônica, Miastenia gravis, 
  3. Para o tratamento de anemias causadas pela produção deficiente de eritrócitos; anemia aplástica congênita, anemia aplástica adquirida, a mielofibrose e as anemias hipoplásticas;
  4. Insuficiência renal cursando com desnutrição, sarcopenia e caquexia
  5. Sarcopenia
  6. Angioedema hereditário
  7. Grandes queimados
  8. Puberdade tardia

De acordo com a portaria Nº 344 de 12 de maio de 1998(DOU de 1/2/99), atualizada  pela  resolução RDC  nº  18/2015 da  Agência Nacional de Vigilância Sanitária  - ANVISA,  os esteróides  anabolizantes  são os seguintes:



É importante salientar que NENHUM Nutrólogo, Endocrinologista, Médico do Esporte ou qualquer médico tem aval do Conselho Federal de Medicina e respectivas sociedades médicas para prescrever anabolizantes com finalidade estética ou efeito ergogênico. O uso deve ser reservado para doenças. Prescrição para outros fins não é ensinado nas residências ou pós-graduações de Nutrologia ou Endocrinologia. Portanto se o seu médico te prescreveu com essa finalidade, ele cometeu uma infração ética, podendo receber processo ético-profissional pelo Conselho Regional de Medicina.

#AnabolizantesSoParaDoentes
#AnabolizantesParaFinsEsteticos
#BombaTôFora

Vamos para as comprovações LEGAIS dessa proibição:
1) Antes de PROIBIÇÃO por parte do CFM, existe desde 2000 uma Lei federal na qual obriga as farmácias a reterem por 5 anos as receitas de anabolizantes. "A receita de que trata este artigo deverá conter a identificação do profissional, o número de registro no respectivo conselho profissional (CRM ou CRO), o número do Cadastro da Pessoa Física (CPF), o endereço e telefone profissionais, além do nome, do endereço do paciente e do número do Código Internacional de Doenças (CID), devendo a mesma ficar retida no estabelecimento farmacêutico por cinco anos." Portanto se necessita de CID, subentende-se perante a justiça que a finalidade não é estética e sim em decorrência de alguma doença. Link para a lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9965.htm

A lei é confirmada na Cartilha para prescrição, elaborada pelo CFM: http://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/cartilhaprescrimed2012.pdf
Como nesse caso há uma quebra do sigilo médico (pois informará a doença do paciente através do número do CID 10) recomenda-se, embora seja dever legal, que o médico obtenha autorização por escrito do paciente para divulgar o diagnóstico.

2) Resolução CFM Nº 1.999/2012 que trata sobre a
 "A falta de evidências científicas de benefícios e os riscos e malefícios que trazem à saúde não permitem o uso de terapias hormonais com o objetivo de retardar, modular ou prevenir o processo de envelhecimento."
"CONSIDERANDO que é vedada ao médico a prescrição de medicamentos com indicação ainda
não aceita pela comunidade científica;"
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária realizada em 27 de setembro de
2012,
"RESOLVE:
Art. 1º A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, ou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados."
Portanto, de acordo com o CFM, se não há déficit de um hormônio, com comprovação laboratorial e quadro clínico, esse hormônio não deve ser prescrito. Ou seja, finalidade estética é proibida pelo Conselho Federal de medicina. Link para a resolução: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf

3) Parecer do CFM sobre Modulação hormonal bioidêntica e fisiologia do envelhecimento. Link para o parecer: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2012/29_2012.pdf

4) Parecer do CFM sobre Prescrição de anabolizantes e hormônio de crescimento para
ganho de massa muscular em atletas. Link para o parecer: http://old.cremerj.org.br/anexos/ANEXO_PARECER_CFM_19.pdf


Autores:

Dr. Frederico Lobo (Médico de Goiânia - GO) @drfredericolobo
Dra. Natalia Jatene (Endocrinologista de Goiânia - GO) @dra.nataliajatene
Dr. Ricardo Martins Borges (Nutrólogo de Ribeirão Preto – SP, mestre em medicina pela FMRP – USP) @clinicaricardoborges,
Dra. Tatiana Abrão (Endocrinologista e Nutróloga de Sorocaba – SP) @tatianaabrao,
Dr. Daniella Costa (Nutróloga de Uberlândia – MG) @dradaniellacosta,
Dr. Mateus Severo (Endocrinologista de Santa Maria – RS, Mestre em Ciências Médicas – Endocrinologia pela UFRGS e doutorando em Ciências médicas – Endocrinologia pela UFRGS) @drmateusendocrino,
Dr. Pedro Paulo Prudente (Médico do esporte  e Acupunturista em Goiânia - GO) @vivamelhorsemdor
Dra. Patrícia Salles (Endocrinologista de São Paulo – SP, mestre em Endocrinologia pela FMUSP), @endoclinicdoctors,
Dra. Camila Bandeira (Endocrinologista de Manaus – AM) @endoclinicdoctors,
Dra. Flávia Tortul (Endocrinologista de Campo Grande – MS) @flaviatortul,
Dr. Reinaldo Nunes (Endocrinologista e Nutrólogo de Campos – RJ, mestre em endocrinologia pela UFRJ) @drreinaldonunes.


Bibliografia:







Bispo, M. et al. Anabolic steroid-induced cardiomyopathy underlying acute liver failure in a young bodybuilder. World J. Gastroenterol., v.15, n.23, p.2920-2, 2009.

Graham, M.R. et al. Homocysteine induced cardiovascular events: a consequence of long term anabolic androgenic steroid (AAS) abuse. Br. J. Sports Med., v.40, n.7, p.644-8, 2006.

Handelsman, D.J. Testosterone: use, misuse and abuse. Med. J. Aust., v.185, n.8, p.436-9, 2006.

McCabe, S.E. et al. Trends in non-medical use of anabolic steroids by U.S. college students: results from four national surveys. Drug Alcohol Depend., v.90, n.2-3, p.243- 51, 2007.

Samaha, A.A. et al. Multi-organ damage induced by anabolic steroid supplements: a case report and literature review. J. Med. Case Rep., v.2, n.340, 2008. Disponível em: www.jmedicalcasereports.com/content/2/1/340>

Thiblin, I.; Pärklo, T. Anabolic androgenic steroids and violence. Acta Psychiatr. Scand., v.106, suppl. 412, p.125-8, 2002.