sábado, 8 de julho de 2017

Alergia a um tipo de noz não condena todas as nozes

Para a maioria das crianças com alergia a nozes outras oleaginosas e sementes podem ser introduzidas na dieta, com administração controlada e supervisão, particularmente quando as crianças são menores, mostram os resultados do estudo prospectivo ProNut (NCT01744990).

Antigamente recomendava-se aos pacientes com alergia a nozes que evitassem todas as oleaginosas, mas os resultados deste estudo sugerem que isso nem sempre é necessário, e que pode até levar ao agravamento da alergia. Estas descobertas também vão de encontro à crença de que a alergia a amendoim e a nozes é sempre concomitante, bem como a alergia a caju e a pistache.

"Todas as 32 crianças com alergia alimentar a pistache tinham alergia a castanha de caju, mas seis crianças alérgicas a caju toleravam bem o pistache", disse a médica pesquisadora Dra. Helen Brough, consultora em alergia pediátrica do Guy's and St. Thomas' NHS Foundation Hospital e professora sênior do King's College London.

E "observamos o agrupamento de outras alergias a nozes, principalmente entre a noz, a pecã e a avelã", explicou a Dra. Helen no congresso de 2017 da European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI).

A melhor prevenção e conduta nos casos de alergia a nozes já tem um fluxo estabelecido há anos, especialmente após a publicação do estudo LEAP (do inglês Learning Early About Peanut) (N Engl J Med. 2015;372:803-813) e do estudo de acompanhamento LEAP-ON (N Engl J Med. 2016;374:1435-1443). Ambos demonstraram que a introdução precoce do amendoim pode evitar o aparecimento da alergia a ele.

A Dra. Helen e colaboradores planejaram seu estudo para determinar a real coexistência da alergia a amendoim e nozes e a sementes de gergelim. Os pesquisadores também queriam avaliar a viabilidade da administração segura de nozes, das precauções relacionadas com a introdução segura das nozes, do uso de diagnóstico por identificação de componentes específicos para identificar a alergia a nozes e a sementes de gergelim, e da qualidade de vida após a introdução segura de nozes na dieta de uma criança.

Embora a equipe não tenha completado a análise de dados, os resultados preliminares sobre a melhora da qualidade de vida das crianças "parecem promissores", disse a Dra. Helen ao Medscape.

Estudo multicêntrico ProNut

O estudo multicêntrico ProNut foi feito com crianças dos seis meses aos 16 anos de idade que apresentaram reação alérgica sistêmica mediada pela imunoglobulina E a alguma noz no ano anterior. Todos os participantes tiveram um valor preditivo positivo para a alergia à noz-índice (ou semente ) – amêndoa, castanha-do-pará, castanha de caju, avelã, macadâmia, amendoim, pecã, pinhão, pistache, noz ou semente de gergelim – acima de 95%.

Dos 133 participantes do estudo, 50 eram de Londres (Reino Unido), 42 eram de Genebra (Suíça) e 41 eram de Valência (Espanha).

O estudo embasa com alguns dados sólidos o que as pessoas estão começando a pensar que seja a abordagem mais favorável.

A distribuição de gênero foi semelhante nos três grupos, mas a mediana de idade foi menor em Londres do que em Genebra e em Valência (4,0 vs. 5,5 vs. 7,0 anos, respectivamente). Além disso, haviam mais crianças menores de seis anos em Londres do que em Genebra e em Valência (60% vs. 50% vs. 44%, respectivamente).

Tabela 2. Coocorrência de alergia a nozes ( = 293)

Mais crianças em Londres do que em Valência tinham história de doença atópica (78,0% vs. 14,6%) e tiveram doença atópica ao início do estudo (62,0% vs. 7,3%).

Durante três meses, as crianças foram submetidas à administração controlada e sequencial de 11 nozes e sementes, com até três nozes por visita. Houve 98 resultados positivos da administração alimentar entre as 50 crianças londrinas, 94 entre as 42 crianças genebrinas e 64 das 41 crianças valencianas.

No grupo de Londres, 52% das crianças tinham monoalergia e 48% tinham outras alergias concomitantes. Em Genebra e em Valência, no entanto, apenas 33% das crianças eram monoalérgicas e 67% eram alérgicas a pelo menos dois tipos de nozes ou sementes.

A idade menor do grupo de Londres provavelmente contribuiu para o maior índice de monoalergia, explicou a Dra. Helen, porque o índice de monoalergia foi de 69% em crianças de dois anos ou menos, e nenhuma das outras crianças de Londres de dois anos ou menos tinha alergia a mais de mais de três tipos de nozes.

A epidemiologia das alergias a nozes foi significativamente diferente entre as crianças de Genebra e de Valência, possivelmente por diferenças de idade, dieta e exposição ambiental a nozes, apontou a Dra. Helen.

Tabela 1. Prevalência de alergia por centro do estudo ProNut (N = 133)



Noz ou sementeLondres, %Genebra, %Valência, %
Amendoim27187
Caju12217
Pistache10177
Avelã121312
Noz131030
Pecã10625
Gergelim640
Macadâmia445
Castanha-do-pará432
Amêndoa123
Pinhão122


Dentre as quase 300 alergias a nozes dos participantes do estudo, a coocorrência foi significativa para muitas combinações de nozes.

Tabela 2. Coocorrência de alergia a nozes ( = 293)
Combinação de nozesValor de P
Noz e pecã< 0,0001
Pistache e caju< 0,0001
Macadâmia e avelã< 0,0001
Avelã, noz, macadâmia e pecã< 0,0001
Semente de gergelim e pinhão< 0,001
Noz e amendoim< 0,01
Pecã e amendoim< 0,01
Castanha-do-pará e macadâmia< 0,01
Avelã e amendoim< 0,05
Castanha-do-pará e amendoim< 0,05
Castanha-do-pará e noz< 0,05
Pinhão e macadâmia< 0,05
Amêndoa e macadâmia< 0,05
Semente de gergelim e avelã< 0,05
Sementes de gergelim e macadâmia< 0,05
Semente de gergelim e castanha-do-pará< 0,05
Amêndoa e pinhão< 0,05


Embora apenas 2,8% das crianças alérgicas ao pistache não fossem alérgicas ao caju, o inverso não foi verdadeiro: 16,7% das crianças alérgicas a caju não eram alérgicas a pistache. Da mesma forma, embora 6,1% das crianças alérgicas a pecã não fossem alérgicas a nozes, 29,5% das crianças alérgicas a nozes podiam comer pecã em segurança.

Por causa do risco de coocorrência de alergia a nozes e pecã em Valência, a administração controlada e segura às 11 nozes e sementes só foi possível em Londres e em Genebra.

"Na Espanha, devido à gravidade das reações às nozes de alguns participantes, as nozes não foram administradas de modo controlado", disse a Dra. Helen ao Medscape. A gravidade dos quadros de alergia a nozes foi uma surpresa para nós, acrescentou a pesquisadora.

"Para mim, a mensagem mais importante do estudo ProNut é que precisamos pensar na alergia a nozes e qual pode ser a apresentação da alergia a nozes", explicou Dra. Helen. "Não é algo que eu tenha previsto, porque muitas vezes você obtém resultados mais baixos no teste de alergia a nozes, mas na verdade as crianças podem ter reações alérgicas muito graves. Essa foi uma das minhas experiências com a mão na massa, e isso também vale para a pecã".

A noz é a maior responsável pela alergia a oleaginosas nos Estados Unidos, disse o Dr. Hugh Sampson, médico e professor de pediatria no Mount Sinai Hospital, de Nova York, que apresentou um resumo sobre alergia ao amendoim nesta mesma sessão.

"A coisa mais importante é este diferencial entre a alergia a caju e a pistache, e também a alergia a nozes e a pecã, disse Dr. Sampson ao Medscape.

"Até hoje, se eu tivesse um paciente com alergia a nozes, provavelmente não tentaria a administração controlada da pecã, mas agora, claramente, existe um subconjunto indicando que seria bom fazer isso".

Em geral, esses novos dados são valiosos para os médicos cuja prática clínica busca dar sentido à mudança de evidências relacionadas com a alergia a nozes, explicou.

"O estudo embasa com alguns dados sólidos o que as pessoas estão começando a pensar que seja a abordagem mais favorável", explicou o Dr. Sampson. "Esperemos que ocorra a introdução de outras nozes, e acho que um dos pontos de vista da Dra. Helen é que isso é algo que temos de observar cedo".

Como ocorreu no estudo LEAP, esses novos dados "nos incentivam a colocar algumas dessas nozes na dieta mais cedo, para tentar evitar o aparecimento da alergia a nozes", disse o Dr. Sampson.
A Dr. Helen Brough informa receber financiamento de pesquisa das empresas ThermoFisher Scientific, Stallergenes e Meridian Foods; honorários de consultoria da empresa Mead Johnson Nutrition; e trabalhar no setor de palestras ou receber honorários de Allergy Therapeutics, Nutricia Advanced Medical Nutrition e Nutricia Early Life Nutrition. O Dr. Hugh Sampson informa receber honorários de consultoria da empresa Allertein Therapeutics no desenvolvimento de uma terapia para alergia a amendoim; e ser funcionário da DBV Technologies.

European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) Congress 2017: Resumo 0124, apresentado em 20 de julho de 2017.

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501352

Pais mais participativos podem ajudar a reduzir o risco de obesidade infantil

A crescente participação do pai na criação dos filhos está relacionada com uma menor probabilidade de que estas crianças se tornem obesas aos quatro anos de idade, sugerem novos dados.
A Dra. Michelle S. Wong, médica e doutoranda do Departament of Health Policy and Management na Johns Hopkins School of Public Health, em Baltimore, Maryland, e colaboradores, analisaram esta correlação usando dados do Early Childhood Longitudinal Study-Birth Cohort .

Este estudo de coorte acompanhou um grupo representativo nacional com cerca de 10.700 crianças nascidas em 2001 nos Estados Unidos até o segundo ano do ensino fundamental.

De acordo com os pesquisadores, quando o pai ajudou mais frequentemente com tarefas como vestir, escovar os dentes e dar banho, os filhos tiveram uma probabilidade 33% menor de se tornarem obesos entre dois e quatro anos de idade (odds ratio = 0,67; P < 0,05).

E o aumento de um nível na frequência com que os pais levaram os filhos para caminhar ou brincar ao ar livre foi associado a uma diminuição de 30% na obesidade (odds ratio = 0,70).
Os resultados foram publicados on-line em 21 de junho, no periódico Obesity.

Maior envolvimento paterno pode ser benéfico para a saúde infantil

Todos os pais viviam em casa com os filhos, em famílias formadas por dois pais heterossexuais, mas não eram os cuidadores primários. Os pais do estudo trabalhavam em média 46 horas por semana, e as mães, em média, 18 horas por semana.

Os pesquisadores ressaltam que as intervenções contra a obesidade tipicamente têm como alvo as mães, e esses novos achados sugerem que o maior envolvimento do pai na puericultura possa beneficiar ainda mais a criança.

Por exemplo, "os pais disseram se sentir negligenciados durante as consultas dos filhos com o pediatra", escrevem os autores.

E direcionar apenas às mães as ações de culinária saudável ​​pode contribuir para o menor conhecimento dos pais sobre opções saudáveis de alimentos e de estilo de vida .

"Em comparação às mães, os pais podem preparar refeições menos nutritivas e ser complacentes com petiscos, ou com um tempo mais longo diante de uma tela ao cuidarem dos filhos", dizem a Dra. Michelle e colaboradores.

No entanto, mesmo quando os pais tiveram um papel aumentado na tomada de decisões, tais como na escolha de alimentos, este aumento não teve efeito sobre a probabilidade de obesidade.
Os pesquisadores dizem que estudos adicionais sobre o quanto cada pai está envolvido, e a natureza do envolvimento, podem esclarecer como as intervenções podem ser mais benéficas.
Pesquisas anteriores observaram que o envolvimento do pai na criação dos filhos aumentou três vezes entre 1965 e 2011.

"Há evidências crescentes da importância do envolvimento do pai na criação dos filhos, em outras áreas do desenvolvimento infantil, e nosso estudo sugere que também possa haver benefícios para a saúde da criança", disse a Dra. Michelle em um comunicado à imprensa.
Uma das limitações do estudo é a de que o envolvimento na criação e a influência na tomada de decisões foram informados pelos próprios pais, e não houve validação externa. Além disso, o estudo abrangeu apenas casais com os dois pais, portanto, permanece incerto se os resultados seriam iguais em famílias com apenas um pai ou uma mãe.

Este trabalho foi financiado pela Agency for Healthcare and Quality e pelo National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases dos National Institutes of Health. Os autores informaram não possuir conflitos de interesse relevantes ao tema.

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501358

Probióticos revelam-se promissores nos casos de depressão leve a moderada

Os probióticos podem ser eficazes na redução dos sinais e sintomas depressivos nucleares nos pacientes que nunca se trataram e apresentam uma forma leve a moderada do transtorno depressivo, sugerem os resultados de um novo estudo-piloto.

Os pesquisadores liderados por Caroline Wallace, doutoranda da Queen's University,emKingston (Canadá), descobriram que os transtornos do humor, a anedonia e os distúrbios do sono foram significativamente reduzidos com a terapia probiótica após apenas quatro semanas, com manutenção dos resultados na oitava semana.

Estas descobertas são de particular interesse porque os probióticos não estão associados a nenhum dos efeitos adversos dos antidepressivos atuais, e podem ser usados com segurança por períodos prolongados.

Esses resultados, dizem os pesquisadores, "sugerem que os probióticos podem ser eficazes no alívio dos sinais e sintomas depressivos, como as alterações do humor, a anedonia e a qualidade do sono".
No entanto, eles reconhecem que a natureza aberta do estudo significa que "esses achados são sujeitos a vieses; por isso há indicação de realizar outros estudos com cegamento". Já existem planos de realizar um ensaio controlado randomizado maior com o objetivo de resolver estas limitações.
Resultados de estudos pré-clínicos e clínicos sugerem que os probióticos melhoram os sinais e sintomas da depressão. A hipótese é que os efeitos sejam mediados pelo eixo intestino-cérebro, diminuindo a inflamação e aumentando os níveis de serotonina.

Para avaliar a eficácia dos probióticos em pacientes com depressão que nunca foram tratados, os pesquisadores realizaram um estudo-piloto com Probio'Stick, um suplemento probiótico que associa duas cepas diferentes sabidamente ativas no eixo intestino-cérebro ― o Lactobacillus helveticus R0052 e o Bifidobacterium longum R0175.

O estudo-piloto com oito semanas de intervenção e um único braço aberto teve a participação de dez pacientes com diagnóstico de transtorno depressivo maior, na vigência de um episódio depressivo.
Após um período inicial de triagem, os participantes foram avaliados quanto a uma série de sinais e sintomas clínicos da depressão, como humor, anedonia, ansiedade e distúrbios subjetivos do sono, ao início do estudo e na segunda, quarta e oitava semanas usando o protocolo Canadian Biomarker Integration Network.

Foram avaliados os marcadores moleculares de inflamação e dosados os níveis de triptofano e serotonina. Os pacientes foram submetidos à avaliação polissonográfica para aferição do sono objetivo.

Primeiros dias

No pôster apresentado no 13th World Congress of Biological Psychiatry a Dra. Caroline apresentou dados de cinco pacientes (média de idade de 21,2 anos), sendo quatro deles mulheres.
Nas amostras pareadas no teste t, os sinais e sintomas do humor pela Montgomery-Åsberg Depression Rating Scale melhoraram significativamente com a terapia probiótica, de uma pontuação média inicial de 24,4 para 14,0 na quarta semana e 11,0 na oitava semana.



sábado, 20 de maio de 2017

Cansaço, indisposição, fadiga e fadiga crônica - Quando procurar um médico ? Parte I

Segundo a literatura, 9 em cada 100 pessoas sentiram, sentem ou irão sentir algum cansaço excessivo por mais de 6 meses ao longo de suas vidas. A maioria das pessoas com fadiga, exaustão, estafa e esgotamento tem seus níveis de atividade geral bastante prejudicado.

Muitos desses indivíduos possuem quadro depressivo associado, mesmo que em níveis discretos. A maioria tem tem o sono não reparador e devido ao seu estado geral, maior dificuldade em lidar com estresse do cotidiano.

Nunca imaginei que a queixa "CANSAÇO" fosse se tornar a queixa mais comum no meu consultório. Lembro de no terceiro ano de faculdade, ao estudar sintomas na disciplina de Semiologia, vários livros colocavam o sintoma "Cansaço" como sintoma inespecífico. Hoje vejo que a medicina deve esmiuçar mais o tema, já que são inúmeras variáveis relacionadas ao sintoma. Eu até brinco que deveria cobrar o dobro do valor da consulta, já que a investigação é minuciosa, demorada e gasto o dobro do tempo quando comparado aos outros sintomas que atendo.

Antes de discorrer sobre o tema, faz-se necessário diferenciar os termos, apesar de não existir consenso na literatura e existir uma linha tênue entre eles.

Cansaço ou fadiga normal: Consiste em um estado FISIOLÓGICO de prostração, no qual há uma redução do nível de energia, podendo o quadro ser composto por: indisposição, rebaixamento momentâneo do humor, fraqueza muscular, cansaço mental. Geralmente dura algumas horas, variando de acordo com o limiar do indivíduo. Habitualmente o que percebemos é que o quadro de resolve quando o paciente descansa , alimenta-se e tem sono reparador. Via de regra, no cansaço não há doenças específicas associadas. Ocorre principalmente após atividade físicas ou atividades intelectuais intensas (neurastenia). É normal ficar cansaço após 1 dia inteiro de trabalho.  A fadiga física ou cansaço limita os movimentos do corpo, ou seja, tem um papel fisiológico de proteção, afinal impede as pessoas de ultrapassarem os próprios limites e prejudicar músculos, tendões, ossos. Para o Dr. Gregorie Cozon (um dos maiores pesquisadores do tema), o termo cansaço é sinônimo de "fadiga normal" e pode atingir qualquer pessoa. Muitas vezes o paciente adentra ao consultório com a queixa de "cansaço" e na verdade o que ele apresenta é fadiga ou vice-versa. Isso ocorre pela dificuldade do paciente em explicar o que realmente sente, pela dificuldade de qualificar o sintoma, afinal é uma sensação individual, pessoal, subjetiva. Homens muitas vezes tendem a subestimar o sintoma. Inúmeras vezes atendi adultos do sexo masculino que tinham fadiga realmente patológica e não apenas o cansaço que eles acreditavam ter. É importante frisar que a progressão nas atividades físicas levam o organismo a uma melhor tolerância aos esforços e consequentemente a um melhor condicionamento físico. A mesma coisa ocorre em atividades intelectuais.

Preguiça: Muitos pacientes confundem fadiga com preguiça. A preguiça consiste é uma propensão voluntária a não realizar esforços. Na fadiga a a incapacidade é involuntária.  Mas existe uma relação entre os termos. Percebo que muitas vezes a fadiga patológica inibe a vontade da pessoa, levando a um estado de preguiça. Assim como também vejo a preguiça ocasionando uma falta de condicionamento físico (cardiopulmonar, muscular) ou intelectual, isso gera uma fatigabilidade excessiva, levando o paciente a ter uma incapacidade real de realizar determinados esforços. Isso pode levar a um ciclo que se perpetua, difícil de se romper. Nós médicos temos dificuldade para diferenciar ambos os quadros com exatidão e com isso o paciente acaba se sentindo incompreendido.

Fadiga: A grande maioria das doenças apresentam algum grau de fadiga. Esse estado de fraqueza geral, que não tem correlação com esforço físico ou trabalho intelectual é chamado de fadiga patológica, astenia ou fraqueza orgânica. Nesse caso o paciente apresenta os mesmos sintomas do cansaço, porém com duração maior e com um agente causal. Ou seja, geralmente está associado a doenças específicas: anemias, depressão, alergias, doenças cardíacas, doenças pulmonares, doenças autoimunes, Síndrome de apnéia obstrutiva do sono, câncer, HIV, doenças infecciosas. O curso natural da fadiga é o caminhar para um quadro de estafa. É importante salientar que muitas vezes o paciente apresenta alguma doença que gera fadiga intensa porém o mesmo não a relata, pois não a percebe. Isso se deve a limiar da fadiga, que varia de acordo com parâmetros individuais. Por isso alguns se sentem mais ou menos fatigados. Esse limiar também ocorre quando se trata de recuperação. Alguns se recuperam logo no início do tratamento da doença de base, outros melhoram após uma boa noite de sono, enquanto outros após se alimentar e descansar.



quinta-feira, 4 de maio de 2017

Pensar que é gordo aumenta propensão a ganho de peso, por Dra. Sophie Deram



Uma pesquisa recente que seguiu jovens durante 11 anos mostrou que adolescentes com peso normal mas que pensam ser gordos são mais propensos a ganhar peso, especialmente as meninas.

“Ver-se gorda, mesmo não sendo, pode realmente fazer com que os jovens com peso normal se tornem obesos quando adultos", disse Koenraad Cuypers, um pesquisador da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.

A pesquisa, que analisou a relação entre pesos reais e pesos percebidos em adolescentes, observa que uma das explicações pode ser a adoção de atitudes não saudáveis na tentativa de perder peso. Os jovens que se veem gordos, muitas vezes, mudam os seus hábitos alimentares, pulando refeições, ou fazendo dietas, por exemplo, para perder peso. Essa variação de atitude pode gerar um ganho de peso ao longo do tempo. Dietas muitas vezes causam mais problemas do que resolvem. Não só a maioria das pessoas ganha de volta o peso que perdeu com dietas, mas elas também reduzem o metabolismo e alteram os hormônios de tal maneira que a perda de peso se torna cada vez mais difícil. Isso também pode despertar um eventual transtorno alimentar (ex: comer compulsivamente como resultado da privação).

As meninas de hoje sofrem mais estresse psicossocial do que as suas mães quando eram adolescentes, na tentativa de alcançar um corpo ideal que se fez mais magro ao longo dos anos.

"As normas de peso para a sociedade devem ser alteradas para que os jovens tenham uma visão mais realista do que é normal” continua Cuypers. “As escola deveriam conversar com as crianças sobre o que são formas normais do corpo, e mostrar que todos os corpos são bonitos. Em paralelo, é importante que a midia deixe de apresentar o corpo super magro como o ideal perfeito, porque não é!”

É normal e saudável para uma menina ganhar peso e gordura durante a puberdade: tornar-se uma mulher não é engordar mas sim ganhar curvas e feminidade. Antigamente, essa transformação era o orgulho da menina. Hoje, infelizmente, é encarado cada vez menos como um acontecimento normal e desejável.

A puberdade é um momento de grande transformação: meninos e meninas antes da puberdade tem aproximadamente a mesma taxa de gordura no corpo (% de massa gorda), e com a puberdade a produção de hormônios muda isso. É fisiológico e saudável que as meninas ganhem curvas e massa gorda, pois é neste tecido gorduroso que o corpo vai conseguir sintetizar os hormônios femininos e armazenar energia para uma eventual futura gravidez. Ao mesmo tempo, os meninos ganham massa muscular, em parte pelo fato da secreção de testosterona.

“É injusto!”, me falou uma paciente adolescente. Não é injusto! É a vida e essa vida é maravilhosa! Da mesma maneira que não é injusto o fato do que o seu irmão nunca engravidará ou amamentará o filho dele. É normal e é assim.

Pode parecer difícil ajudar a sua filha a aceitar o seu corpo quando há tantas forças culturais dizendo que ela precisa ser mais magra, mais bonita, mais “perfeita”.

Se você não tiver certeza por onde começar, pergunte-se sobre a sua alimentação e seu peso e o exemplo que você passa para sua filha. O exemplo é a melhor maneira de ensinar hábitos de vida saudáveis. É importante conversar com a sua filha e ajudá-la em casa a não entrar na espiral do efeito sanfona de perda e ganho de peso. Deixe o meio ambiente da casa o mais saudável possível porque o mundo exterior é realmente dificil de mudar.

A seguir, uma lista de 10 dicas de atitudes positivas sobre comida, peso e imagem corporal para a família toda!

1. Seja um exemplo com uma atitude alimentar equilibrada e evite fazer dietas ou comentários sobre ser gordo ou engordar.

2. Forneça uma variedade de alimentos nutritivos e saudáveis em casa. Faça bolinhos deliciosos e lanches que fornecem nutrientes de qualidade. É importante comer com prazer. Prazer não quer dizer excesso! Coma às vezes pizza e sorvete de creme para ensinar a moderação ao invés de eliminação.

3. Concentre-se na saúde, não no peso. Se a perda de peso vier como uma consequência de atitudes saudáveis, então ótimo, mas a perda de peso como principal foco está fadada ao fracasso. Fale de saúde ou do que é saudável.

4. Eduque sobre a alimentação saudável de uma maneira geral, sem virar especialista em Nutrição. Todos os nutrientes são importantes.

5. Foque a respeito do que comer, e não a respeito do que não comer.

6. Ensine a respeitar e responder aos sinais de fome/saciedade.

7. Fale positivamente sobre o alimento e o seu corpo.

8. Ensine que as dietas não funcionam e dê exemplos. Livre-se de todas as balanças e discuta como elas não são importantes. É normal ter uma variação de peso nesta fase da puberdade.

9. Demonstre que as escolhas alimentares devem ser feitas a partir de um balanço de desejo, apetite e equilíbrio alimentar.

10. Converse com a sua filha sobre alimentação-conforto, alimentação-estresse e alimentação-tédio, para ajudá-la a identificar e evitar esses comportamentos na maioria das vezes.

Fontehttp://gentabrasil.blogspot.com.br/2012/09/acreditar-que-se-e-gordo-engorda.html

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Poluição do ar e o aumento do risco de diabetes tipo 2 em crianças

Altos níveis de poluição do ar podem aumentar o risco de diabetes tipo 2 em algumas crianças latino-americanos, de acordo com um estudo publicado na revista Diabetes.

Pesquisadores com sobrepeso ou obesos acompanharam 314 crianças hispânicas no condado de Los Angeles. As crianças tinham entre 8 e 15 anos de idade quando o estudo começou, e nenhuma delas tinha diabetes.

Os pesquisadores descobriram que as concentrações elevadas de dióxido de azoto e diâmetro aerodinâmico de partículas com menos de 2,5 estavam associados com um declínio mais rápido da sensibilidade à insulina e diminuição da sensibilidade à insulina aos 18 anos, independente da adiposidade. A equipe também descobriu um declínio mais rápido no índice de disposição e de um índice de disposição mais baixo em 18 anos associados à exposição ao dióxido de azoto.

O conceito habitual é de que o aumento do diabetes é o resultado de um aumento na obesidade, devido à expectativa de vida sedentários e dietas altamente calóricas. Este novo estudo mostra que a poluição do ar também contribui para o risco do tipo 2 diabetes.

Fonte: Diabetes 2017 Jan; DOI:10.2337/db16-1416

Os primeiros 1000 dias de vida por Dr. Thiago Hirose

Olá mamães e futuras mamães!

Hoje, a ideia é falar de um conceito que está sendo cada vez mais divulgado e estudado com relação à parte da alimentação e prevenção de doenças do futuro: Os mil primeiros dias de vida e programação metabólica.

O que seria isto? Primeiramente, temos que definir o que são os mil primeiros dias de vida: quando há a união do óvulo com o espermatozóide, dizemos que houve a fecundação, ou seja, o início da formação do bebê. Em média, da fecundação até o nascimento, a gestação dura 9 meses ou 270 dias. Do nascimento até os 2 anos de idade, a criança vive 730 dias (1 ano tem 365 dias e, portanto, 2 anos equivalem a 730 dias). Portanto, somando os 270 dias da gestação mais os 730 dias dos 2 primeiros anos de vida, temos os mil primeiros dias de vida.

E qual a relação destes mil primeiros dias de vida com programação metabólica? Novamente uma explicação - o que é programação metabólica? Sabemos que somos compostos de genes que podem ou não manifestar inúmeras doenças (pressão alta, diabetes, obesidade, câncer, dentre outras.); porém, o que se sabe hoje, é que fatores externos podem sim modificar não o gene em si, mas o produto dele. Um exemplo bem fácil para explicar isto: eu produzo carro com a carroceria da cor azul, é a única cor que tenho na minha fábrica. Uma pessoa compra meu carro, leva para casa mas não gosta da cor - ela compra uma tinta vermelha e pinta o carro de vermelho. Ou seja, de fábrica era um carro azul mas a pessoa usou um fator externo (tinta) para mudar a cor do carro. Esta influência de fatores externos no produto final é a chamada EPIGENÉTICA.

Desta forma, podemos ver que uma pessoa, por exemplo, que não carregue genes que possam causar uma obesidade por exemplo, de acordo com situações externas, ela pode sim ser obesa. Fica um recado importante: não basta culparmos apenas a genética se a pessoa é magra ou não e se aparece tal doença ou não, temos que juntar vários dados para ver o causador daquele problema.

E isto vale para as "doenças do adulto" - pressão alta, diabetes, problemas de colesterol, câncer, síndrome metabólica - NA INFÂNCIA! Pois é, atualmente a incidência de crianças e adolescentes com excesso de peso e "doenças do adulto" está cada dia aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil. E por que isto está ocorrendo? Os dois principais motivos são: 1) Alimentação inadequada, com baixa ingesta de fibras, alta ingesta de alimentos calóricos (açúcares, gorduras, doces, refrigerantes, etc) e 2) Sedentarismo, com pouca atividade física, muito tempo na frente da TV/tablet/computador, etc.

E qual a relação dos mil primeiros dias de vida com este assunto? Os estudos mostram que, por conta da epigenética, este período dos mil dias são cruciais para a prevenção das "doenças do adulto" - claro que isto pode ocorrer também em fases mais tardias da vida, mas os mil primeiros dias de vida sofrem influência muito grande do ambiente externo na prevenção ou aparecimento destas doenças. O que pode influenciar nisto?


  • Aleitamento materno exclusivo diminui a chance de obesidade e síndrome metabólica, ao contrário das fórmulas infantis e o leite de vaca tradicional (estes últimos apresentam um teor calórico-protéico maior que o leite materno); 
  • Uso de antibióticos na gravidez e durante os dois primeiros anos de vida alteram a microbiota intestinal. Aqueles microorganismos que ficam no intestino e protegem o corpo de doenças; 
  • Tipo de parto, o parto vaginal deixa a criança em contato com a microbiota boa, protetora das doenças; 
  • Quantidade de peso ganho pela mãe na gravidez; 
  • Prematuridade; 
  • Peso ao nascer, entre outros.

Então podemos ver que não é só a genética, mas o contexto todo que faz com que o indivíduo aumente ou não a chance de ter determinada doença. Quando falamos em fatores de risco, não quer dizer necessariamente que a pessoa terá tal doença, mesmo uma pessoa totalmente sem fatores de risco pode ter câncer, por exemplo; mas o fator de risco faz com que a chance de manifestar determinada doença seja maior.

Agora, um detalhe importante: sabemos bem que o leite materno é o principal alimento para o bebê, que deve ser dado exclusivamente até os 6 meses de idade e, a partir daí, introduz-se novos alimentos ao leite materno, complementando a alimentação diária da criança. Usa-se a fórmula apenas em situações específicas. Mas uma criança que esteja amamentando em seio materno pode algum dia ter excesso de peso? A resposta é: SIM! Por incrível que pareça, sim. A chance é menor, mas existe. Por que ocorre isto? Ou por ingestão excessiva de leite materno mas, principalmente, outra causa fundamental é a dieta materna. Eu disse anteriormente que uma alimentação com alto teor calórico-protéico aumenta a chance da pessoa ter excesso de peso. Caso a mãe faça este tipo de alimentação, estas calorias e proteínas a mais passam sim para o leite materno, e este fica com um maior teor de calorias e proteínas, provocando aumento excessivo de peso. Desta forma, na amamentação ao seio materno, cuidado mamães com a própria alimentação para não prejudicar o crescimento e desenvolvimento do bebê.

Portanto, vamos pensar sempre no estilo de vida saudável desde a gravidez, e após o nascimento dos nossos filhos, para que eles possam ter uma boa saúde, evitar as "doenças do adulto" na própria infância, e aumentar a qualidade e expectativa de vida deles.


Obrigado e até a próxima!

Dr. Thiago Santos Hirose - CRM 126.047 (SP) / 69.449 (MG)
Pediatra e endocrinologista infantil
Fan page: Thiago Santos Hirose - Endocrinologia
Instagram: @drthiagosantoshirose

Dieta rica em fibras pode auxiliar no combate aos efeitos da gota em ratos

Uma dieta rica em fibras introduzida em camundongos pela professora Angélica Thomaz Vieira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), reduziu, nesses animais, a resposta inflamatória induzida por cristais de ácido úrico, o que indica benefícios para o tratamento da artrite gotosa e alívio de seus sintomas, como dor intensa, inchaço e vermelhidão nas articulações. Se não for tratada, essa enfermidade genética pode provocar sérias restrições na qualidade de vida dos doentes.

Desenvolvida em modelo animal, a pesquisa mostra evidências de que dietas ricas em fibras ou ácidos graxos de cadeia curta promovem a prevenção da inflamação induzida pelo aumento de cristais de ácido úrico na articulação do joelho. Os camundongos tratados com uma dieta rica em fibra ou ácidos graxos de cadeia curta apresentaram melhor resposta à inflamação.

Os animais foram alimentados durante 14 dias com dieta enriquecida de um tipo de fibra solúvel (Pectina) muito encontrada na casca de frutas cítricas e alguns legumes. Foi feita uma avaliação da inflamação no joelho dos camundongos logo depois da indução da gota, que se deu com a injeção de cristais de ácido úrico no local, e outra16 horas após esse procedimento. Nos animais que consumiram fibras, observou-se uma redução nos sinais clínicos e nas inflamações na comparação com outros camundongos não submetidos a esse tipo de alimento.

"Os tratamentos resultaram na resolução da resposta inflamatória, prevenindo a lesão e disfunção tecidual – alteração no tecido que o impede de exercer suas funções e que pode provocar o desenvolvimento de outras doenças –, melhorando, inclusive, sinais clínicos como a dor", esclarece Angélica Thomaz.

Com esse trabalho, ela recebeu os prêmios Thereza Kipnis, da Sociedade Brasileira de Imunologia, e Pemberton, de incentivo a pesquisas direcionadas à saúde e ao bem-estar da sociedade, promovido pela Coca-Cola. A pesquisadora, que iniciou o estudo ainda no doutorado, foi orientada pelo professor Mauro Teixeira.

Metabólitos

A pesquisa também avalia a importância das substâncias resultantes do metabolismo das bactérias do intestino, os metabólitos, na redução da doença. Eles podem atingir a corrente sanguínea e provocar a morte programada de neutrófilos – tipo de célula/glóbulo branco do sistema imune – diretamente relacionados com a inflamação na gota.

"Compreendendo a maneira como os alimentos interagem com a nossa ­microbiota, será possível propor dietas ou estratégias bioterapêuticas que poderão ajudar pessoas com doenças inflamatórias diversas, promovendo, assim, sua saúde e bem-estar", afirma a pesquisadora, lembrando que a incidência de gota tem crescido em países com dieta alimentar assentada na chamada fast food, alimentação com baixo teor de fibras e alto teor de gordura.

Embora congênita, a gota tem na comida um importante fator de potencialização. Com base na compreensão do processo que associa alimentação com redução da resposta inflamatória, os pesquisadores do ICB pretendem desenvolver estratégicas bioterapêuticas de reorganização das bactérias da microbiota – grupo de bactérias benéficas hospedadas no intestino humano – por meio de dietas ricas em fibras, probióticos e pós-bióticos.

As conclusões do estudo desenvolvido pela professora Angélica Thomaz Vieira estão descritas no artigo Dietary fiber and the short-chain fatty acid acetate promote resolution of neutrophilic inflammation in a model of gout in mice, publicado no Journal of Leukocyte Biology, em janeiro deste ano.

Doença dos reis

Conhecida há mais de quatro mil anos, a gota era chamada de doença dos reis, porque as cortes organizavam festas ricas em carnes e álcool, dois importantes fatores de risco para a inflamação.

A artrite gotosa é uma doença reumatológica, inflamatória e metabólica que atinge as articulações, como dedos dos pés, joelhos, cotovelos ou tornozelos. Ela afeta principalmente os homens – incidência 20 vezes superior à das mulheres em 95% dos casos – a partir dos 50 anos. Mulheres são afetadas geralmente após a menopausa.

Uma das causas da gota reside no fato de algumas pessoas nascerem sem um mecanismo enzimático responsável pela excreção do ácido úrico pelos rins. A produção excessiva de ácido úrico pelo organismo, em decorrência de um "defeito" enzimático, ou o uso de medicamentos, como diuréticos e o ácido acetilsalicílico, também podem levar à diminuição da excreção renal do ácido úrico. A maioria dos casos de artrite gotosa é provocada por falhas na eliminação ou na produção do ácido úrico. Não há tratamento definitivo, e a alimentação adequada pode amenizar os efeitos da doença.

Fonte: https://www.ufmg.br/online/arquivos/047183.shtml

Posicionamento brasileiro sobre testes nutrigenéticos

Ha 3 anos fiz um post sobre testes nutrigenéticos, no qual eu afirmava ainda não existir consenso na comunidade científica sobre os mesmos. Porém muitas vezes devemos deixar os preconceitos de lado e estudar o tema. Ano passado me interessei pelo tema e resolvi pesquisar sobre tais exames. Acabei descobrindo que aqui na UFG tem um grupo de pesquisas, coordenado pela Dra. Maria Aderusa Horst, uma profissional séria e que tem como linha de pesquisa o tema de genômica nutricional.

Como a mesma já trabalhou junto ao laboratório Centro de Genomas de São Paulo, resolvi fazer o exame que eles comercializam. Tive uma experiência boa porém a impressão que tenho é que ainda há muita coisa para ser descoberta. Ou seja, não é hora ainda de solicitar tais exames para os pacientes. Primeiro pelo alto custo ( acima de R$ 1600,00), segundo por ser um terreno ainda certo. A maior crítica que tais exames recebem é com relação o impacto real dos polimorfismos detectados. Muitas vezes há genes ainda não estudados que ativam ou silenciam outros genes. Ou seja, muitas vezes os polimorfismos apresentado não terá importância tão grande na saúde do paciente, pois há genes mais importantes.

Mas é sempre bom estudar e aprender com gente séria e ética. Abaixo o posicionamento escrito por 3 pesquisadores na área. O link para o posicionamento completo está ao final do post.

Att

Dr. Frederico Lobo - Médico, clínico geral - CRM-GO 13192

Posicionamento brasileiro sobre testes nutrigenéticos

A convite da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), as doutoras Cristiane Cominetti e Maria Aderuza Horst, coodenadoras do Grupo de Pesquisa em Genômica Nutricional - FANUT/UFG e o doutor Marcelo Macedo Rogero, coordenador do Laboratório de Genômica Nutricional e Inflamação - FSP/USP redigiram o primeiro posicionamento brasileiro sobre testes de nutrigenética.

📚O posicionamento é baseado em análise crítica da literatura científica a respeito da Genômica Nutricional e sua aplicação clínica por meio dos testes de nutrigenética. A Genômica Nutricional é um termo amplo que compreende a Nutrigenômica, a Nutrigenética e a Epigenômica Nutricional, as quais se referem ao modo que o ambiente, os nutrientes e os genes interagem e a maneira que estes são capazes de alterar o fenótipo, como por exemplo, o risco de doenças. 💡

📖Os conceitos básicos de Genômica Nutricional podem ser resumidos em:
📓Nutrientes e fatores alimentares atuam no genoma humano de modo direto e indireto na alteração da expressão ou estrutura de genes;
📓Sob certas circunstâncias e em casos individuais, a alimentação pode ser um fator crítico para o desenvolvimento de algumas doenças;
📓Alguns genes regulados pela alimentação são susceptíveis a desempenhar funções no desenvolvimento, incidência, progressão e/ou gravidade das doenças crônicas não transmissíveis;
📓A intensidade com que a alimentação influencia o equilíbrio entre saúde e doença pode depender da individualidade genética;
📓Intervenções baseadas nas necessidades nutricionais, no estado nutricional e no genótipo podem ser utilizadas como estratégia de prevenção e tratamento de doenças.

📌Os nutricionistas e profissionais de saúde devem estar aptos a interpretar os testes de nutrigenética e a utilizá-los como base para a definição de condutas profissionais.

O posicionamento está disponível na íntegra pelo link:
https://nutrirejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s41110-017-0033-2

Doze dicas

.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Quero ser nutrólogo, como proceder?


Definitivamente a Nutrologia se tornou a especialidade "da moda". Isso vem acontecendo já tem cerca de 15 anos. Muitos querem se intitular Nutrólogos mas não querem pagar o preço para utilizar o título. Elaborei um e-book chamado Quero ser Nutrólogo, voltado para estudantes de Medicina e uma versão paga  médicos que querem seguir o caminho da Nutrologia. 

As dúvidas mais comuns:
1) Onde cursar Nutrologia?
2) Fazer residência de clínica médica e depois de Nutrologia OU partir para pós-graduação?
3) Quais as pós-graduações de Nutrologia do Brasil ? Você está ciente que nenhuma pós-graduação das tradicionais te dá direito a prestar a prova de título, somente as com carga horária de residência?
4) Quais os pré-requisitos para prestar a prova de título? Qual o grau de dificuldade da prova? Pq menos de 20% é aprovado na prova?
5) Como é o mercado da Nutrologia?
6) Quais os prós e contras da Nutrologia ?

Tenho um e-book específico sobre isso, chama: Quero ser Nutrólogo - Para acadêmicos de Medicina e médicos recém-formados. Para comprar acesse http://www.provadetitulodenutrologia.com.br/ 

Caso esteja querendo começar a estudar Nutrologia, eu te aconselho a comprar o meu e-book: Tô na Nutro e agora. Disponível em http://www.provadetitulodenutrologia.com.br/ 

Se você procura material preparatório para a prova de título, eu te aconselho o meu e-book: Metodologia de estudo para a prova de título. Disponíveis em http://www.provadetitulodenutrologia.com.br

Temos o curso de Nutrologia básica para acadêmicos de Medicina, com duração de 2 anos. 100% EAD, 100% gratuito. Mais de 100 horas de aula. https://movimentonutrologiabrasil.com.br/?page_id=44










Autor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 115195
Face: Dr. Frederico Lobo
YouTube: Dr. Frederico Lobo


quinta-feira, 30 de março de 2017

Gases intestinais por Dr. Mauricio Bravim

Todos nós produzimos gases intestinais e eles precisam ser eliminados. A quantidade produzida varia de pessoa para pessoa e existe uma quantidade que podemos classificar como "normal", aquela que não causa desconforto ou não gera nenhum tipo de problema ao paciente.

Os gases que encontramos nos órgãos do sistema digestivo – esôfago, estômago, intestino delgado e grosso – chegam até eles de duas formas:


  1.  Quando engolimos ar (aerofagia); 
  2. Quando ingerimos alimentos que são fermentados pelas bactérias da microbiota intestinal. 


O que é aerofagia?

O ato de engolir ar é conhecido como aerofagia e é uma das principais causas do acúmulo de gases no estômago. É normal engolirmos certa quantidade de ar quando ingerimos alimentos. Os alimentos podem ser sólidos ou líquidos, principalmente quando comemos ou bebemos muito rápido, conversamos enquanto nos alimentamos, mascamos chicletes, fumamos e quando aparelhos ortodôntico ou dentaduras não estão devidamente encaixados na arcada dentária.

Eructar (arrotar) é uma das formas mais comuns de eliminar os gases estomacais. O gás que não é eliminado por meio do arroto vai para o intestino delgado onde é parcialmente absorvido. O restante se dirige para o intestino grosso para ser liberado na forma de flatus, por meio do reto.

Como os gases são produzidos no nosso organismo?

Os gases são produzidos quando o alimento é digerido naturalmente por bactérias que colonizam o intestino grosso. Essas bactérias atuam sobre carboidratos como açúcares, amido, celulose e fibras que podem ser encontradas em muitos alimentos.

Qual é a quantidade que produzimos desses gases?

A quantidade e tipo de gás produzido depende das bactérias que podem ser encontradas no intestino grosso. Há uma seleção exclusiva de bactérias para cada indivíduo. Um tipo de alimento pode servir como substrato para produção de gases em um certo indivíduo e em outro não.

Quais são os sintomas mais comuns provocados pelo excesso de gases?
Eructação, náuseas, borborigmo (ruídos pelo deslocamento dos gases), flatulência e inchaço abdominal.

Quais são os principais gases que produzimos?

Hidrogênio, metano, dióxido de carbono, oxigênio e nitrogênio.

Quais os alimentos que mais provocam gases?

A maioria dos alimentos que contém carboidratos. Gorduras e proteínas produzem poucos gases, mas algumas proteínas podem intensificar o seu odor.

Quais os carboidratos são responsáveis pela produção de gases?

●Rafinose – o feijão e a vagem contêm grande quantidade desse carboidrato. Ele está presente em menor quantidade no repolho, couve, brócolis, aspargos, outros vegetais e alguns grãos.

●Lactose – é o carboidrato encontrado no leite e em seus derivados – queijo, sorvete, iogurte e molhos para salada. Muitas pessoas, principalmente os afrodescendentes e asiáticos, produzem menos lactase, enzima responsável pela digestão da lactose. Quanto mais velha a pessoa, a produção de lactase em seu organismo diminui progressivamente.

●Frutose – esse carboidrato está presente diversas frutas, cebola, alcachofra e vários outros legumes. A frutose é também usada para adoçar refrescos e sucos de fruta.

●Sorbitol – esse carboidrato pode ser encontrado nas frutas (maçã, pera, pêssego, uva e ameixa). É também usado como adoçante artificial em doces e chicletes sem açúcar.

●Amidos - incluindo a batata, cereais, macarrão e trigo produzem gases. O arroz é um único alimento rico em amido que não favorece a produção de gases.

●Fibras - As fibras são ricas em carboidratos e não são digeridos pelo intestino delgado e isso faz com que cheguem ao cólon (intestino grosso) praticamente intactas. No cólon, bactérias fermentam estas fibras, provocando o aumento de gases.

Quais as diferenças entre fibra solúvel e insolúvel?

A fibra solúvel se dissolve em água e se transforma em uma espécie de gel. Ela pode ser encontrada no farelo da aveia, cevada, nozes, grãos como ervilha e na grande maioria das frutas.

Metilcelulose é uma fibra semissintética. Ela é solúvel e também forma um gel, porém não fermenta. O gel absorve líquido e adiciona volume (massa) às fezes.

Já a celulose é um exemplo de fibra insolúvel e pode ser encontrada em legumes, sementes e grãos, na raiz de alguns vegetais, farelo de trigo e milho.

Quais são os problemas causados pela ingestão inadequada de fibras?

A solubilidade e a fermentação de cada tipo de fibra influenciam em sua ação no nosso aparelho digestivo. Uma proporção adequada entre fibras solúveis e insolúveis pode diminuir os efeitos colaterais e ajudar no funcionamento intestinal. O aumento súbito da ingestão de fibras pode causar sintomas gastrointestinais. Esta ocorrência de sintomas varia de acordo com a quantidade ingerida de fibras, da microbiota intestinal do indivíduo e pelo tipo de fibra. Por isso, frente a necessidade de suplementos de fibras, o médico pode indicar diferentes tipos de produtos.

Qual é o tratamento mais indicado?

Para controlar o desconforto causado pelo excesso de gases é preciso que o paciente evite a aerofagia, mude sua dieta e tome medicamentos. O paciente também deve evitar carboidratos e vegetais que fermentam, como por exemplo, feijão, vagem, brócolis, repolho, couve e alguns açúcares como sorbitol que pode ser encontrado nos chicletes, em doces e alguns sucos industrializados. Aqueles que são intolerantes à lactose devem evitar leite e seus derivados ou utilizar a lactase.

O que acontece quando ingerimos bebidas com álcool?

O álcool pode alterar o odor dos gases produzidos.

Qual melhor abordagem para o controle dos gases intestinais?

Tente manter uma dieta saudável e identifique os alimentos que podem lhe causar sintomas por aumento da produção de gases ou que afete o odor dos gases. Testes respiratórios para intolerância à carboidratos ajudam na definição da dieta, evitando restrições desnecessárias. A dieta indicada é sempre individualizada, pois depende de quanto este ou aquele alimento interfere na produção de gases.

A presença de disbiose (alteração da microflora intestinal) pode ser diagnosticada também pelo teste respiratório e indicar o controle deste supercrescimento bacteriano no intestino delgado, quando houver algum distúrbio.

Atividade física facilita a eliminação de gases, evitando a retenção.

Existem medicamentos que podem ajudar a diminuir os sintomas. Enzimas que ajudam na digestão, como a lactase, quebra a lactose e permite o consumo de leite e seus derivados.

Dimeticona ajuda a romper bolhas de gás que estão no estômago e assim elas podem ser expelidas através da eructação. Este medicamento não atua nos gases intestinais.

Qual a ação da lactase (Lactosil®) sobre a lactose?

Se acrescentarmos a lactase(Lactosil®) ao leite antes de beber ou se a tomarmos imediatamente antes de comer, diminuiremos muito a possibilidade de sintomas desencadeados por estes produtos lácteos.

Qual o tratamento recomendado para pacientes com problemas crônicos?

Evitar chicletes, especialmente dietéticos, cigarro, comer devagar e checar com seu dentista próteses ou aparelhos mal ajustados.

Atenção!!

Principais alimentos mais interferem no aumento dos gases:

●Feijão e vagem;

●Vegetais (alcachofra, aspargos, brócolis, repolho, couve, couve-flor, pepino, pimentão, cebola, rabanete, aipo cenoura);

●Grãos, sementes e farelos de cereais devem ser consumidos de forma moderada;

●Bebidas com gás podem ser consumidas após ficaram abertas por horas para reduzir a quantidade de gás carbônico;

●Leite e seus derivados, exceto com o uso de lactase (Lactosil®);

●Alimentos que contém sorbitol, como alimentos dietéticos, doces e chicletes;

●Vinho e cerveja.

Quais alimentos principais responsáveis pela formação de odor?

Álcool, aspargos, feijão, vagem, repolho, couve, frango, café, pepino, ovo, peixe, alho, nozes, cebola, ameixa, rabanete e alimentos defumados.

Quais alimentos interferem menos na produção de gases?

Carne, aves, peixe, ovos, vegetais (alface, tomate, abobrinha, quiabo), algumas frutas (uva, cereja, banana, mamão), pão sem glúten e arroz.

Atenção!!

Cada organismo reage de maneira distinta em diferentes indivíduos, ou seja, não existe um padrão, mas seu médico pode ajudá-lo. Siga as orientações prescritas. O sucesso depende de você.

www.clinicacemad.com.br

segunda-feira, 27 de março de 2017

Posicionamento oficial da Associação Brasileira de Nutrologia sobre óleo de coco

Obtido a partir da polpa do coco fresco maduro (espécie Cocos nucifera L.), o óleo de coco é composto por ácidos graxos saturados (mais de 80%) e ácidos graxos insaturados (oléico e linoléico). Os ácidos graxos saturados caprílico, láurico e mirístico possuem entre 6 e 12 átomos de carbono e por isso são chamados de ácidos graxos de cadeia média. Os demais ácidos graxos saturados são capróico, cáprico, palmítico e esteárico. As gorduras láuricas, como o óleo de coco, são resistentes à oxidação não enzimática e, ao contrário de outros óleos e gorduras, apresentam temperatura de fusão baixa e bem definida. Em virtude de suas propriedades físicas e resistência à oxidação, o óleo de coco é muito empregado no preparo de gorduras especiais para confeitaria, sorvetes, margarinas e substitutos de manteiga de cacau [1, 2].

Considerando-se que o óleo de coco tem sido divulgado, especialmente na imprensa leiga, como integrante de uma dieta preventiva para doenças crônicas, como quadros neuro-degenerativos, obesidade e dislipidemia, bem como para outras funções tais como imunomodulação e tratamento antimicrobiano, a Associação Brasileira de Nutrologia considera que deve se posicionar sobre o assunto:

Quando o óleo de coco é comparado a óleos vegetais menos ricos em ácido graxo saturado, recente revisão mostrou que ele aumenta o colesterol total (particularmente o LDL-colesterol) o que contribui para um maior risco cardiovascular [3].

Tem sido reportado que o óleo de coco possui atividade antibacteriana, antifúngica, antiviral e imunomoduladora, porém tais estudos são predominantemente experimentais, notadamente in vitro, não havendo estudos clínicos demonstrando esse efeito. Assim, faltam ainda evidências suficientes para recomendar o óleo de coco como agente antimicrobiano ou imunomodulador [4].

Até o momento, não existem estudos clínicos que tenham abordado o efeito de óleo de coco na função cerebral de indivíduos saudáveis ou portadores de alteração cognitiva [5]. Enfatiza-se também que não existem evidências clínicas de que o óleo de coco possa proteger ou atenuar doenças neuro-degenerativas, como a doença de Alzheimer [6].

Um número muito pequeno de estudos, com resultados controversos, tem relatado os efeitos do óleo de coco sobre o peso corporal em seres humanos. Estudo observacional de populações de ilhas do Pacífico consumindo grandes quantidades de cocos revelou que os Tokelauanos, que consumiam quantidades mais elevadas de coco (63% de energia derivada do coco versus 34% na dieta de Pukapukan), eram mais pesados e tinham pregas de pele subescapulares maiores [7].

Em um ensaio controlado randomizado, 40 mulheres (20-40 anos) foram instruídas a consumir diariamente 30 mL de óleo de coco ou de soja (placebo) por 12 semanas. Os grupos também foram instruídos a caminhar por 50 minutos por dia e a seguir um padrão alimentar saudável, e ambos os grupos consumiram aproximadamente 10% menos calorias do que no início. Apenas o grupo de óleo de coco apresentou circunferência de cintura reduzida no final do estudo (redução de 1,4 cm) e uma tendência ao aumento de insulina circulante. Embora os autores tenham usado recordatório alimentar de 24 horas no início e no final do período de estudo, as quantidades exatas de óleo de coco consumido pelos indivíduos não foram precisadas [8]. Examinando pequena amostra (13 mulheres e 7 homens) com 24-51 anos e índice de massa corporal médio de 32,5 kg/m2, prévio estudo (sem grupo controle) mostrou que o consumo de óleo de coco virgem (30 mL/dia/4 semanas) foi associado a redução da circunferência da cintura (2,61 ± 2,17 cm) em indivíduos do sexo masculino [9]. Examinando o efeito na saciedade, pequeno estudo (n=18) mostrou que não existe efeito de uma refeição rica em ácidos graxos de óleo de coco sobre o apetite ou ingestão alimentar [10].

No geral, não existem evidências suficientes para concluir que o consumo de óleo de coco leva à redução de adiposidade.

Sendo assim, considerando-se inclusive a robusta associação entre consumo de ácidos graxos saturados e o risco de doenças cardiovasculares e a ausência de grandes estudos bem controlados relativos ao óleo de coco em humanos,

a ABRAN recomenda que:


  1. o óleo de coco não deve ser prescrito na prevenção ou no tratamento da obesidade;
  2. o óleo de coco não deve ser prescrito na prevenção ou no tratamento de doenças neuro-degenerativas;
  3. o óleo de coco não deve ser prescrito como nutriente antimicrobiano;
  4. o óleo de coco não deve ser prescrito como imunomodulador.

Associação Brasileira de Nutrologia

Referências:

[1] Martins JS, Santos JCO. Estudo comparativo das propriedades de óleo de coco obtido pelos processos industrial e artesanal. Blucher Chemistry Proceedings vol 3, 2015.

[2] Marina AM, Che Man YB, Nazimah SAH, Amin I. Chemical Properties of Virgin Coconut Oil. J Am Oil Chem Soc 86:301–7, 2009.

[3] Eyres L, Eyres MF, Chisholm A, Brown RC. Coconut oil consumption and cardiovascular risk factors in humans. Nutr Rev 74(4):267-80, 2016

[4] DebMandal M, Mandal S. Coconut (Cocos nucifera L.: Arecaceae): in health promotion and disease prevention. Asian Pac J Trop Med 4(3):241-7, 2011.

[5] Lockyer, S, Stanner S. Coconut oil–a nutty idea?. Nutrition Bulletin, 41(1), 42-54, 2016

[6] Fernando WMADB, Martins IJ, Goozee KG, Brennan CS, Jayasena V, Martins RN. The role of dietary coconut for the prevention and treatment of Alzheimer’s disease: potential mechanisms of action. Br J Nutr, 114(1), 1-14, 2015.

[7] Prior IA, Davidson F, Salmond CE, Czochanska Z. Cholesterol, coconuts, and diet on Polynesian atolls: a natural experiment: the Pukapuka and Tokelau island studies. Am J Clin Nutr, 34(8), 1552-61, 1981.

[8] Assunção ML, Ferreira HS, Santos EAF, Cabral Jr R, Florêncio MMT. Effects of dietary coconut oil on the biochemical and anthropometric profiles of women presenting abdominal obesity. Lipids, 44:593–601, 2009

[9] Liau KM, Lee YY, Chen CK, Rasool AHG. An open-label pilot study to assess the efficacy and safety of virgin coconut oil in reducing visceral adiposity. ISRN Pharmacology, doi:10.5402/2011/949686, 2011.

[10] Poppitt SD, Strik CM, MacGibbon AKH, McArdle BH, Budgett SC, McGill AT. Fatty acid chain length, postprandial satiety and food intake in lean men. Physiol Behav, 101:161–7, 2010.

Fonte: http://abran.org.br/sem-categoria/posicionamento-oficial-da-associacao-brasileira-de-nutrologia-respeito-da-prescricao-de-oleo-de-coco/

sábado, 11 de março de 2017

Orientação sobre sucos: dar ou não à criança? Por Dra. Kelly Marques

Uma palavra sobre os sucos:

Muitas mamães me perguntam em relação aos sucos: Dar ou não? A partir de que idade? Qual a quantidade? Fiz uma coletânea das recomendações de diretrizes nacionais e internacionais e artigos, tomei a liberdade de resumi-las aqui para vocês, e colocar as que considero mais relevantes e pertinentes. As referências estão ao final do post. Espero que ajude!

 Recomendações dos principais órgãos:

 Sociedade Brasileira de Pediatria – Brasil

  • Os sucos naturais devem ser evitados, mas se forem administrados que sejam dados no copo, de preferência após as refeições principais, e não em substituição a estas, em dose máxima de 100 mL/dia, com a finalidade de melhorar a absorção do ferro não heme presente nos alimentos como feijão e folhas verde-escuras.

 Academia Americana de Pediatria – EUA

  •  Sucos não oferecem benefícios nutricionais para crianças menores de 6 meses e não devem ser oferecidos para as mesmas. (Veja os posts sobre benefícios do aleitamento materno e introdução alimentar).
  • A fruta in natura deve ser oferecida em preferência ao suco. Sucos não oferecem nenhum benefício maior do que a fruta in natura para crianças maiores de 6 meses.
  • Suco de fruta 100% natural pode ser parte de uma dieta saudável quando consumido como parte de uma dieta balanceada. Sucos de fruta artificiais ou de “caixinha” não são equivalentes ao suco de fruta natural e não são recomendados.
  • Sucos não devem ser dados em mamadeiras, ou em recipientes de fácil transporte, de forma a estimular a sua ingesta ao longo do dia todo (o objetivo não é esse!)
  • Não oferecer sucos na hora de dormir.
  • Sucos não são apropriados para o tratamento de desidratação e diarreia.
  • Consumo excessivo de sucos pode estar associado com diarréia, flatulência, distensão abdominal e cárie dentária, além de subnutrição.
  • Sucos não pasteurizados podem conter bactérias (Escherichia coliSalmonella e Cryptosporidium), responsáveis por doenças.
  • A ingesta de suco deve ser limitada a 120 a 180ml por dia em crianças de 1 a 6 anos, e para crianças de 7 a 18 anos, de 200 a 350 ml, ou 2 copos por dia.
  • Em crianças consideradas malnutridas, com diarreia crônica, flatulência excessiva, dor abdominal e má digestão o pediatra deve avaliar a criança e determinar a quantidade de suco consumida.
  • cárie dentária pode estar diretamente relacionada com a quantidade de suco ingerida, sem os cuidados necessários.

 Health Canada – Canadá 

Não recomenda sucos no primeiro ano. Depois de 1 ano, orientam dar suco de forma limitada e não oferecer bebida adoçadas. Se a criança estiver com sede, ofereça água a ela.

 National Health and Medical Research Council – Austrália  

  • Sucos são desnecessários e não se recomenda para crianças menores de 1 ano de idade.
  • Bebidas adoçadas estão associadas com cáries dentárias.
  • Chás e outras bebidas não tem benefícios conhecidos para a criança e podem ser potencialmente perigosos.
 National Health Service (NHS) – Reino Unido
  •  Bebês abaixo de 6 meses não devem receber sucos de fruta.
  • Sucos de fruta diluídos (uma parte de suco para 10 partes de água) podem ser oferecidos à criança com as refeições após os 6 meses. Gente eu coloquei isso aqui, mas por favor, não entendam mal! Não é para dar suco diluído como forma de refeição ou porção de frutas, seria mais como uma “água com gostinho” com o objetivo de hidratar (quando for dar água pode ser dessa forma…).
  • Dica: dar água diluída com suco de fruta natural e frutas sempre in natura!
  • Sucos in natura podem ser dados após as refeições para reduzir o risco de cárie, em pequena quantidade.

 O problema do excesso de suco

  • Excesso de suco pode levar a anemia e malnutrição (com excesso de açúcares e falta de outros nutrientes, como proteínas, carboidratos e vitaminas). Nessa situação imagine aquele bebê que se adapta perfeitamente ao suco, e acaba ficando “preguiçoso” para mastigar e comer outro alimento sólido, substituindo suco pelas refeições do dia. Nesse caso, o bebê pode ter dificuldade de ganhar peso, e ter falta de vários nutrientes importantes.
  • O excesso de suco pode danificar o esmalte do dente, levando a cárie dentária, principalmente quando oferecida na mamadeira.
  • Excesso de suco pode provocar gases e diarréia.
  • O consumo de mais de 350ml de suco por dia está associado a baixa estatura e obesidade.
  • Sucos de fruta podem conter sorbitol e uma grande quantidade de frutose, que pode causar cólicas no bebê, pela produção de gases.
  • Os açúcares podem causar problemas futuros pois mais tardiamente as crianças tem dificuldade de reduzir o carboidrato da dieta, incluído esses açúcares.
  • Sucos têm alto índice glicêmico e crianças que ingerem grandes quantidades de suco tem risco de obesidade no futuro. É só pensarmos quantas laranjas precisamos para fazer 120ml de suco em média. Provavalmente 2 laranjas. E quantos bebês comeriam 2 laranjas inteiras assim, de uma vez?

 Minha opinião como pediatra…

Prefiro a fruta in natura. Porque? A fruta in natura proporciona uma experiência muito mais interessante da criança com o alimento, com diferentes sensações: cor, cheiro, paladar, textura. Os sucos perdem isso. Além disso, as fibras são perdidas no processo de produzir o suco, bem como as vitaminas.
O suco “enche” a criança, mas não necessariamente é mais nutritivo. A tendência ainda é usar mamadeira para dar o suco (apesar de o indicado serem os copinhos de transição ou mesmo copos adaptados para criança), o que pode levar ao desmame.
Enfim, ao invés de nos perguntarmos porque não dar o suco, a pergunta deveria ser: porque dá-los à criança? Existe alguma vantagem? Espero tê-los convencido…Ah! Nem preciso dizer que isso se refere aos sucos in natura ok? Os de caixinha nem pensar!

 Conclusões…

  •  A recomendação é que se dê suco para crianças acima de 1 ano, e ainda assim, numa quantidade limitada.
  • A ingesta de suco excessiva pode contribuir para o desmame, principalmente quando oferecida na mamadeira.
  • Quando oferecida na mamadeira, principalmente à noite, pode contribuir para o surgimento de cáries.
  • A água pode ser dada no copinho junto com suco natural diluído, como forma de hidratação e nunca como substituição da fruta in natura, na proporção de 1:10 (1 parte suco para 10 partes de água)
Tudo isso só sobre suco, quanta informação! Espero ter esclarecido bem esse assunto, que tem causado muita dúvida nas mamães.  Continuem mandando suas duvidas e experiências aqui no blog, obrigada pela participação de vocês!
Para seguir o blog e receber as novidades por email, basta clicar no botão “seguir” no site. Siga também no Facebook (ative o receber notificações, para receber aviso dos posts novos) e instagram (@pediatriadescomplicada).
 Um abraço,
 Dra. Kelly Oliveira
Referências bibliográficas:
The Use and Misuse of Fruit Juice in Pediatrics. Pediatrics 2001;107;1210. Committee on Nutrition. Disponível on-line em: http://pediatrics.aappublications.org/content/107/5/1210.full.html
photo credit: http://www.simplebites.net/wp-content/uploads/2012/09/Clara-peach.jpg

É Assim Que Se Aprende Endocrinologia! por Dr. Rafael Reinehr

Como se forma um endocrinologista?

Quando você vai ao Endocrinologista, e ele solicita alguns exames, estabelece um diagnóstico e lhe sugere um tratamento, por trás dele existem 10 anos de estudo e aperfeiçoamento (6 anos na Faculdade de Medicina, 2 anos na residência de Medicina Interna e 2 anos na residência de Endocrinologia e Metabologia). Somente os estágios de residência (4 anos), exigem cerca de 11.500 horas de dedicação entre atendimentos ambulatoriais, pacientes internados, realização de procedimentos, rounds de discussão de pacientes e casos clínicos, estudos e plantões, muitos plantões!

Além disso, é importante lembrar que  para fazer Medicina, é necessário um concurso público. Para fazer Medicina Interna, mais um concurso público, com funil bem mais apertado. E para fazer Endocrinologia ainda mais um concurso público, com pouquíssimas vagas, onde somente os melhores entram.

Somente quem realiza residência médica em Endocrinologia e Metabologia ou é aprovado em uma prova anual de proficiência em Endocrinologia que tem direito ao RQE – Registro de Especialista, um número que deve estar presente em toda e qualquer publicidade e carimbo do médico. Fique atento(a)!

E um “nutriendocrinologista”?

Enquanto isso, vemos proliferar pelo Brasil uma onda de “cursos de formação” de “nutriendocrinologistas”, especialistas em “modulação hormonal”, criadores de síndromes inexistentes como “fadiga adrenal” e “hipotireoidismo com hormônios normais”, que são claramente atraídos pela existência de um público que está sempre em busca de algo novo e que não tem, necessariamente, a criatividade suficiente para se defender de pessoas cuja maior preocupação é não a saúde das pessoas mas aquela do seu próprio bolso.

Estes cursos de formação, alguns deles “aprovados pelo MEC” (pois tem o número suficiente de doutores que o MEC exige, entre outros parâmetros), são criados para beneficiar em primeiro lugar aqueles que os ministram (já que são cobrados altos valores para garantir a participação) e muitas vezes são realizados à distância, com um encontro presencial mensal. Para entrar? Basta pagar. Nenhuma seleção pública.

No outro dia, vi uma postagem de uma profissional da saúde se vangloriando de ter concluído um destes cursos, realizado por um “proeminente” médico, conhecido por sua visão polêmica em assuntos como “óleo de côco”, colesterol, dieta do hCG, no qual ela havia realizado 360 horas e havia sido certificada como “nutriendocrinologista”, palavra que em verdade não significa NADA, pois não é área de atuação reconhecida nem pelo MEC, nem pelo CFM, nem pela SBEM nem por nenhuma entidade internacional médica ou de saúde.



Como ocorrem os desvios éticos?

O que acontece a seguir? O próximo passo é começar a alimentar seu blog e Instagram com conteúdos relacionados à Nutrição e Endocrinologia, exaltando a sua “pós-graduação realizada em tal instituto ou com Dr. X”. O leitor incauto não consegue facilmente discernir entre alguém que realmente conhece a fundo todos os meandros e implicações endocrinológicas e metodológicas (o Médico Endocrinologista) daquele formado em cursos de final de semana (o “nutriendocrinologista”). Como nos lembra o doutor em Psicologia Moral Jonathan Haidt, nosso cérebro tende a se afixar primariamente às aparências e depois busca justificativas racionais para aceitá-las, ao invés de primariamente buscar discernir com cuidado sobre aquilo que se apresenta perante aos nossos olhos.

Assim, fica um alerta: se você realmente se preocupa com a sua saúde, busque ir além da superficialidade da internet. Descubra se o médico com o qual você está se consultando realmente dedicou – e continua dedicando – boa parte da vida para bem cuidar de você.

Descubra se o médico é um especialista de verdade

Entre na página do Conselho de Medicina do seu Estado, coloque o nome do médico que você quer saber mais (ou o CRM dele) e descubra se ele tem registro de especialista – ou se ele está enganando você com falsas promessas.

Por exemplo, as páginas dos Conselhos Regionais de Medicina do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina são as seguintes:



Na figura abaixo:

“Isso é com que se parece aprender Endocrinologia”

“Assim a 17-alfa-hidroxilase age na progesterona que se torna 17-alfa-hidroxi-progesterona que pode ou receber a 21-hidroxilase para se tornar 11-desoxicortisol ou receber 17,20-liase para se tornar a androstenediona”

“Eu estou confuso”

“Oh, desculpe! É um pouco complicado no começo. Mas eu trouxe comigo este diagrama que vai ajudar!”



Uma excelente jornada em busca do seu médico de confiança!

Glossário:

RQE: O RQE nada mais é que o Registro de Qualificação de Especialista. Trata-se de uma certificação, criada pelo Conselho Federal de Medicina, que tem a função de deixar claro quando um profissional da saúde é especialista em alguma área. Após a criação do RQE, tornou-se vedado aos médicos a auto divulgação como especialista, ainda que tenham sido aprovados no Exame de Título de Especialista. O RQE é emitido pelo Conselho Regional de Medicina de cada Estado. Para os médicos, o RQE é essencial para transmitir aos pacientes mais segurança e credibilidade, pois através dele fica comprovada a sua capacidade de especialização em sua área, reconhecida pelo CRM. Para os pacientes: antes de se consultar com qualquer profissional de medicina que se denomine especialista, cheque se o mesmo possui RQE. Trata-se de uma maneira simples e eficaz de evitar fraudes e profissionais despreparados.

hCG: Gonadotrofina Coriônica Humana, utilizada sem embasamento científico adequado como auxiliar no processo de emagrecimento. Existem estudos demonstrando que seu uso pode ser deletério à saúde. Vide http://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/posicionamento_oficial_hcg_sbem_e_abeso.pdf

CFM: Conselho Federal de Medicina – Regulamenta o Exercício da Medicina no Brasil – http://portal.cfm.org.br

CRM: Conselho Regional de Medicina – todo Estado tem o seu, monitora e regulamenta a atividade dos médicos em nível estadual

MEC: Ministério da Educação e Cultura

SBEM: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (http://endocrino.org.br) – Entidade Associativa que reúne médicos endocrinologistas de todo país, organiza eventos científicos e promove o esclarecimento da população quanto a assuntos relacionados à Endocrinologia e Metabologia e suas sub-especialidades.

domingo, 5 de março de 2017

“Ficou fácil culpar o glúten por todos os problemas do intestino”

Abaixo uma reportagem que a revista Saúde publicou. Há 5 anos venho falando a respeito disso. Desde 2012 percebi que vários dos pacientes que referiam ter sintomas quando ingeriam alimentos com glúten, não apresentavam reações ao consumir tabule (que leva trigo). Após esses anos, novos estudos sobre Sensibilidade Não-Celíaca ao Glúten (SNCG) foram surgindo e alguns autores começaram a postular que o problema talvez não seja o glúten em si.

A maioria dos pacientes que alegam ter SNCG referem sintomas geralmente quando ingerem farinha de trigo refinada, alguns com a integral. Isso nos leva a pensar que o problema possa estar durante o refino. Outro ponto interessante é: teoricamente a aveia não contém glúten, sendo que o glúten que pode ser encontrado nela, geralmente é por contaminação cruzada, já que ela é manipulada no mesmo maquinário em que o trigo. Na prática percebo que a grande maioria dos pacientes que referem ter SNCG nada apresentam quando ingerem aveia.

Vale a pena ler a reportagem. Acredito que novos estudos surgirão nesse área, na tentativa de eximir o glúten da fama de vilão.

att

Dr. Frederico Lobo
Médico - CRM-GO 13192

“Ficou fácil culpar o glúten por todos os problemas do intestino”

Na terceira e última entrevista de nossa série sobre o glúten, conversamos com o gastroenterologista Peter Gibson, professor da Universidade Monash, na Austrália. O pesquisador ficou conhecido ao publicar os primeiros experimentos sobre a existência da sensibilidade não celíaca ao glúten, nos anos de 2011 e 2013. Na entrevista, ele fala sobre a possibilidade de o problema não ser provocado pela proteína, mas por outras substâncias presentes no trigo.

A reportagem de capa da edição de fevereiro da revista SAÚDE é justamente sobre a polêmica que envolve a proteína presente em grãos como o trigo, o centeio e a cevada. Ela está disponível nas bancas de todo o país e em versão digital para compra e download no iba, na App Store e no Google Play.

Plantas como o trigo sofreram modificações genéticas que podem impactar a saúde humana?

As mais diferentes variedades de trigo foram desenvolvidas para suportar condições extremas, como a seca, e ainda assim promover aumento da produção. Isso levou a mudanças na composição do grão, como maiores quantidades de carboidrato, já que essa vantagem é utilizada pela própria planta para crescer diante de situações nada favoráveis. Além disso, o trigo com mais glúten faz um pão melhor. Logo, espécies com teores elevados dessa proteína foram privilegiadas na agricultura. Não se sabe, porém, se essa característica tem algum efeito na saúde do ser humano. As melhorias no plantio do trigo trouxeram grandes benefícios ao mundo, uma vez que ele é uma das maiores fontes de energia e nutrientes que temos. Mais do que isso, essas modificações contribuíram para melhorar a saúde das pessoas, pois ajudaram a combater a desnutrição.

A sensibilidade não celíaca pode estar relacionada a outros elementos além do glúten?

O trigo tem uma série de componentes e muitos deles estão relacionados à indução de sintomas. Ficou muito fácil culpar o glúten por todos os problemas do intestino. Carboidratos de difícil absorção, também presentes no trigo, podem desencadear a síndrome do intestino irritável. Mas há pessoas que são sensíveis ao glúten ou a outras proteínas presentes no trigo. Sem contar que existe uma série de alergias relacionadas ao grão que também precisam ser consideradas.

Esse campo de pesquisa sobre a sensibilidade não celíaca ainda é muito recente? Ou já temos confirmações sobre seus mecanismos?

Nós estamos conduzindo quatro grandes estudos. Neles, recrutamos voluntários que responderam bem a uma dieta sem glúten e reintroduzimos a proteína na alimentação em metade do grupo. Nas quatro pesquisas, nós encontramos uma porção de indivíduos que desenvolveu sintomas por causa do glúten, mas, em outra parte, os incômodos não estavam relacionados ao componente em si. O que podemos concluir é que efeitos induzidos pelo glúten especificamente são bastante incomuns. Os trabalhos atuais levam a entender que cerca de 90% dos pacientes com alimentação sem glúten se sentem bem por outros motivos, e não pela exclusão da proteína em si.

Como diagnosticar a sensibilidade não celíaca?

A única maneira seria realizar estudos controlados, em que nem os voluntários, nem os cientistas, saibam quem está ingerindo a proteína e quem não está. Mesmo se tivéssemos essa possibilidade, os resultados são de difícil interpretação, especialmente quando a resposta do indivíduo está relacionada a um fator psicológico. Por enquanto, não sabemos como realizar o diagnóstico. Quando entendermos o mecanismo fisiológico do problema, nós conseguiremos detectar a sensibilidade com precisão.

As estatísticas dizem que 1% da população tem doença celíaca e 5% manifesta a sensibilidade não celíaca. Porém, um terço das pessoas diz querer retirar o glúten da rotina. Como interpretar esse conflito estatístico?

Nós ainda não sabemos quantas pessoas realmente têm a sensibilidade não celíaca. Conhecemos, porém, os 15% da população com síndrome do intestino irritável. Inclusive, uma grande proporção deles desenvolvem sintomas relacionados à ingestão de determinados alimentos, mas nunca procuraram o médico para saber o que está acontecendo. Reduzir a ingestão de trigo pode ajudar pelo menos 70% das pessoas que fazem parte deste grupo. Não por causa do glúten, mas porque eles deixarão de consumir um importante exemplar dos carboidratos de difícil digestão, conhecidos pela sigla FODMAPs.

Fonte: http://saude.abril.com.br/alimentacao/ficou-facil-culpar-o-gluten-por-todos-os-problemas-do-intestino/