terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Manual de Obesidade da ANS

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou, no Hotel Vila Galé, na Lapa/Rio de Janeiro, o Manual de Diretrizes para o Enfrentamento da Obesidade na Saúde Suplementar Brasileira. O material foi divulgado no Seminário de Enfrentamento do Excesso de Peso e da Obesidade na Saúde Suplementar, promovido pela ANS.
A Dra. Maria Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), que responde pelo Departamento de Obesidade da SBEM, foi uma das palestrantes do Seminário.
A endocrinologista participou da mesa que destacou as propostas práticas de abordagem do excesso de peso na saúde suplementar. Durante a apresentação foram discutidas a regulação do balanço energético, a importância do diagnóstico nutricional e a abordagem do paciente com obesidade.
Dra. Maria Edna explicou que a obesidade é uma doença crônica, como diabetes e hipertensão, e não tem cura, nem mesmo com a cirurgia bariátrica. Por isso, a especialista enfatiza a importância do diagnóstico nutricional. “Esse diagnóstico do paciente é tão simples de ser feito. Basta a verificação do IMC. Uma das primeiras recomendações da OMS é a obrigatoriedade da verificação do estado nutricional da criança abaixo de cinco anos. Essa orientação deve ser estendida para todas as faixas etárias. Recomenda-se que o cálculo do IMC seja feito em todos os pacientes que procuram assistência médica.”
De acordo com o documento, a verificação do IMC do paciente é uma das ferramentas mais importantes na prevenção e tratamento precoce da obesidade. A partir dos dados do IMC é possível desenvolver estratégias para prevenir a doença. “A ideia é intervir precocemente no surgimento da doença, o que ajuda a reduzir a morbimortalidade, os custos e melhorar a qualidade de vida do paciente. Não é necessário deixar chegar ao IMC 40 para tentar a cirurgia. O paciente precisa ser monitorado desde jovem porque a tendência do IMC é subir até os 65 anos.”
Outro ponto em debate no Seminário foi a criação de Centros de Referências. Segundo a especialista, o Manual destaca a importância da formação destes locais para que o paciente possa receber uma abordagem especializada e dentro das recomendações científicas.
Acesse no link abaixo o manual completo:

Obesidade infantil aumenta com o uso de dispositivos eletrônicos com telas, alertam médicos europeus

A cintura das crianças vem aumentando de tamanho proporcionalmente ao tempo que passam assistindo televisão ou usando computadores, smartphones e tablets, de acordo com médicos europeus.

Nos últimos 25 anos, a incidência da obesidade aumentou rapidamente entre as crianças e os adolescentes europeus, segundo a declaração de consenso realizada pela European Academy of Pediatrics e pelo European Childhood Obesity Group, e publicada on-line em 22 de novembro na Acta Paediatrica.

Praticamente uma em cada cinco crianças e adolescentes na Europa é obesa ou encontra-se acima do peso, de acordo com um estudo feito em 2017 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), observaram os autores.

Atualmente, 97% das famílias europeias têm televisão em casa, 72% têm computador, 68% contam com acesso à internet e 91% têm telefones celulares, revela a declaração.

Isso estimulou o aumento do tempo em frente às telas dos dispositivos eletrônicos, o que contribui para noites mal dormidas, piores hábitos alimentares e sedentarismo – tudo isto pode facilitar o ganho de peso das crianças, afirmaram os autores.

"O efeito da comunicação de massa se mostrou grande sobre a saúde das crianças; pode afetá-las fisiologicamente, além de ter repercussões sobre o desempenho sociocultural e o bem-estar psicológico", disse o autor principal da declaração, Dr. Adamos Hadjipanayis, pesquisador na European University Cyprus, em Nicósia, e secretário geral da European Academy of Pediatrics.

"Há evidências de fortes vínculos entre os níveis de obesidade nos países europeus e a exposição aos meios de comunicação eletrônicos na infância", afirmou o Dr. Hadjipanayis por e-mail.

Os pais são parte do problema, ponderaram o Dr. Hadjipanayis e equipe.


Apesar de as crianças passarem cada vez mais tempo em frente às telas, os pais demonstram pouca preocupação com o que seus filhos fazem na internet, ou com o tempo que gastam usando tablets, smartphones e computadores, destaca a declaração.

Outro problema é a publicidade de alimentos, que consegue fazer a cabeça das crianças para querer e exigir mais junk food, o que as torna mais resistentes a comer frutas e vegetais, segundo a declaração. As crianças tendem a ingerir grande parte das suas calorias diárias enquanto assistem televisão, momento no qual as propagandas exercem maior influência sobre as preferências alimentares delas.

A solução é aumentar a vigilância, dizem os autores.

"Quando o tempo que passam em frente à televisão diminuir, os respectivos pesos também o farão", afirmou Dr. David Hill, presidente do American Academy of Pediatrics (AAP) Council on Communications and Media, e pesquisador da University of North Carolina School of Medicine, em Chapel Hill.

"A publicidade de alimentos parece dominar essa relação, em contraste com a redução das atividades físicas. O sono também é uma grande preocupação", disse Dr. Hill, que não participou da declaração, por e-mail.

"A exposição às telas antes de dormir interfere na duração e na qualidade do sono; noites mal dormidas favorecem a obesidade."

A American Academy of Pediatrics tem dicas para os pais lidarem com o acesso às mídias on-line, indicou o Dr. Hill.

O bom-senso deve prevalecer, afirmou Dra. Jennifer Emond, pesquisadora da Geisel School of Medicine no Dartmouth College, em Lebanon, New Hampshire, que não participou da elaboração e da redação da declaração.

"Restrinja o tempo de acesso diário às mídias, proíba o uso no quarto, e se certifique da qualidade das mídias com as quais as crianças têm contato", orientou a Dra. Jennifer por e-mail.

"Sobre as mídias sociais, os pais devem ter acesso às contas dos filhos nos sites de redes sociais, a fim de monitorar a interação das crianças neste espaço – o retorno destas medidas é maior do que apenas o de promover um peso saudável".


Pais de crianças que passam muitas horas on-line e em frente a diferentes tipos de telas devem preferir reduzir o uso dessas mídias gradativamente, para que as mudanças sejam mais eficazes, disse Erica Kenney, pesquisadora na Harvard T.H. Chan School of Public Health, em Boston, que não esteve envolvida na declaração.

"Se os pais concluem que os filhos passam algo em torno de sete horas diárias em frente às telas, algo bastante comum hoje em dia, e de repente tentam reduzir este tempo para duas horas, há muitas chances de isso dar errado", afirmou Erica por e-mail.

"É possível que a introdução gradativa de regras que colaborem para esta redução funcione melhor".

Acta Paediatrica 2017.

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6501893#vp_1

O paradoxo da obesidade é uma ilusão na doença cardiovascular?

A obesidade não parece estar associada a uma melhor sobrevida em pessoas com doença cardiovascular incidente, argumentando contra a existência de um “paradoxo da obesidade” para doença cardiovascular (DCV) em tais casos, mostrou um grande estudo de coorte longitudinal dos EUA que começou em 1992.[1]

Por outro lado, houve um efeito protetor “forte e significativo” da obesidade em pessoas com DCV estabelecida – que é insuficiência cardíaca, doença cardíaca isquêmica ou acidente vascular cerebral (AVC) – quando entraram no estudo. Isso pode sugerir que a aparência de um paradoxo da obesidade é limitada à doença prevalente, afirmam os pesquisadores.

Juntos, os resultados sugerem que as afirmações de um paradoxo da obesidade na DCV podem, em grande parte, ser resultado de viés estatístico, de acordo com o artigo publicado em 29 de novembro de 2017 no periódico PLOS One.

“A perda de um paradoxo da obesidade ao mudar de casos prevalentes para incidentes, e o peso antes do diagnóstico no mesmo conjunto de dados, sugerem que os modelos de prevalência apresentam vieses por fatores como perda de peso relacionada à doença e sobrevida seletiva”, disse a autora principal, Virginia W. Chang (NYU College of Global Public Health, Nova York, NY), ao Medscape.

“Há uma literatura provocativa e interessante sugerindo que a obesidade pode ser protetora, ou reduzir o risco de morte em comparação com o peso normal em pessoas com doença cardiovascular”, explicou a Dra. Virginia, “embora a obesidade seja, antes de tudo, um fator de risco importante para se ter DCV”.

O assunto é difícil de estudar “porque, uma vez que você tem doença cardiovascular, as pessoas mais doentes tendem a perder peso, o que pode artificialmente fazer com que a obesidade pareça protetora. A relação torna-se confusa neste cenário”, disse a pesquisadora.

“Você também pode ter a situação na qual pessoas obesas com doença mais grave morrem mais cedo, restando uma população de obesos mais selecionada, que é mais saudável. Isso significa que se pode observar um benefício de sobrevida por ser obeso, mas nada disso aponta para obesidade como fator causal oferecendo qualquer tipo de proteção”, disse ela.

“Dado que muitas doenças resultam em perda de peso no final da vida, a ideia de que a reserva catabólica extra possa prolongar a sobrevida faz sentido intuitivo. Existem também explicações relacionadas a vários processos inflamatórios e neuro-hormonais”, ressaltou.

“No entanto, apesar da plausibilidade dessas hipóteses, não encontramos evidências de um paradoxo da obesidade ao usar métodos menos susceptíveis a vieses”.

O estudo analisou a associação entre obesidade e mortalidade em pessoas com DCV, comparando casos de doença incidente e prevalente no mesmo conjunto de dados.

Eles usaram dados do Health and Retirement Study, uma pesquisa longitudinal em curso, e nacionalmente representativa de adultos dos EUA com 50 anos ou mais. Iniciado em 1992, o estudo envolve questionários de mais de 30 mil pessoas para solicitações ao Medicare,  seguro de saúde pago pelo governo dos Estados Unidos a pacientes idosos.

Ao avaliar a DCV prevalente, Virginia e equipe usaram os pesos atuais dos pacientes; ao estudar a doença incidente, eles usaram pesos dos pacientes antes do diagnóstico.

Um paradoxo forte e significativo da obesidade foi observado em pacientes com doença cardiovascular existente. O risco de morte foi 18% a 36% menor para pessoas com índice de massa corporal (IMC) de 30 a 34,9 em comparação com as de peso normal.

No entanto, em modelos de doença incidentes das mesmas condições dentro do mesmo conjunto de dados, não houve indicação de benefício de sobrevida para a obesidade.

“Se a obesidade é protetora e, ainda assim, nós pedimos aos pacientes que percam peso, podemos involuntariamente provocar um efeito negativo. Mas não encontramos evidências que embasem isso”, disse ela.

“Nossos resultados não justificam reavaliação de diretrizes em busca de um potencial paradoxo da obesidade”.


O estudo foi financiado por Clinical Translational Research Award da American Diabetes Association e do National Institute on Aging. Os autores declararam não ter relações financeiras relevantes.

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6501858?src=soc_fb_171229_mscpmrk_portpost_6501858_obesidadeilusaocardio

Clube de Revista: Lactentes com alergia à proteína do leite de vaca apresentam níveis inadequados de vitamina D?

Lactentes com alergia à proteína do leite de vaca apresentam níveis inadequados de vitamina D?
Este estudo transversal envolveu 120 crianças de até dois anos, sendo um grupo de 59 lactentes com alergia à proteína do leite de vaca (APLV), e outro grupo de controle composto por 61 lactentes saudáveis, atendidos em ambulatórios de um hospital universitário da Universidade Federal de Pernambuco (UFP).

Os autores aplicaram um questionário e aferiram os níveis de vitamina D por meio do teste 25(OH)D, considerando inadequados os níveis menores que 30 ng/ml. Foi considerada deficiência quando o resultado foi inferior a 20 ng/ml, insuficiência quando entre 21-29 ng/ml e suficiência quando igual ou superior a 30 ng/ml.

Os lactentes com APLV, quando comparados com os saudáveis, apresentaram uma menor média do nível de vitamina D (30,93 X 35,29 ng/ml; p = 0041) e maior frequência de deficiência (20,3% X 8,2%; p = 0,049). Maior frequência de níveis inadequados de vitamina foi observada em crianças com APLV que estavam em aleitamento materno exclusivo/predominante (p = 0,002). A frequência de um status inadequado de deficiência de vitamina D foi semelhante entre os grupos (p = 0,972).

Os autores concluíram que menores níveis de vitamina D foram observados em lactentes com APLV, especialmente naqueles em aleitamento materno exclusivo/predominante, que configura esse como como um possível grupo de risco para deficiência dessa vitamina.

Destaque-se que nenhuma das crianças do estudo fazia uso de suplementação vitamínica, e apenas nove mães de crianças com APLV (15,3%) e quatro mães de crianças saudáveis (6,6%) relataram ter feito suplementação de vitamina D durante o período gestacional.

Ao analisar a relação da exposição solar com os níveis de vitamina D nessa pesquisa foi verificado que a exposição solar adequada não assegurou níveis suficientes de vitamina D.

Concluem também os autores que mesmo em regiões ensolaradas , principalmente em bebês em aleitamento materno exclusivo, se avalie a suplementação vitamínica de rotina.

O desenho do estudo não permitiu estabelecer a existência de uma relação causal entre deficiência de vitamina D e o surgimento da alergia.

O fato de as mães das crianças com APLV em aleitamento materno exclusivo fazerem dieta de exclusão de leite de vaca e derivados, sem suplementação de vitamina D, pode estar relacionado à deficiência.

As principais causas da deficiência de vitamina D são a ingestão usual  abaixo dos níveis recomendados; exposição solar limitada; deficiência  da conversão renal da vitamina D para a forma ativa, ou má absorção induzida por medicamentos como fenobarbital, hidantoína, carbamazepina, valproato, rifampicina, isoniazida e corticosteroides.

A APLV está entre os fatores de risco para alterações na mineralização óssea, que incluem também dietas deficientes em vitamina D, hábitos de vida inadequados, baixo peso, uso de corticosteroides, e vegetarianismo puro, entre outros.

Alguns estudos, como o presente, sugerem uma maior frequência de hipovitaminose D em crianças com APLV, apesar desse grupo não estar relacionado na recomendação de rastreioi para deficiência de vitamina D, o que valoriza ainda mais o trabalho apresentado.

Referência
Silva, C.M.; Silva, S.A.; Antunes, M.M.C.; Silva, G.A.P.; Sarinho, E.S.C.; Brandt, K.G. J Pediatr (Rio J). 2017;93(6):632-638.

Fonte: Medscape Brasil

Microbioma intestinal e o desenvolvimento cognitivo infantil: o que dizem as evidências

Adoro esse tema e ele me faz rir, já que há pouco tempo atrás muitos profissionais que falavam sobrem microbioma eram ridicularizados. Talvez seja uma das áreas dentro da Nutrição com mais estudos sendo publicado.

Estudos realizados com roedores indicam que os microrganismos que habitam o intestino influenciam o desenvolvimento neurológico. Um novo artigo publicado na revista Biological Psychiatry investigou essa associação em bebês.

Para esse estudo, o primeiro feito com humanos, pesquisadores testaram se a composição microbiana está associada a desfechos cognitivos usando as Escalas de Aprendizagem Precoce de Mullen ao 1 ano de idade, e a volumes cerebrais reduzidos usando ressonância magnética estrutural aos 1 e 2 anos de idade. Foram coletadas 89 amostras fecais de 89 bebês de 1 ano.

A análise identificou três grupos de lactentes definidos por sua composição bacteriana; os escores de Mullen aos 2 anos diferiram significativamente entre eles. Uma maior diversidade alfa foi associada a menores escores na escala geral, na de recepção visual e na de linguagem expressiva aos 2 anos.

As análises de neuroimagens, feitas com ressonância magnética estrutural, mostraram efeitos mínimos do microbioma intestinal nos volumes cerebrais aos 1 e 2 anos.

Pelos achados, os pesquisadores concluíram que o microbioma intestinal pode influenciar o desenvolvimento cognitivo infantil. Mais estudos em humanos devem ser realizado para confirmar e entender esses resultados.

Artigo original: Infant Gut Microbiome Associated With Cognitive Development. Alexander L. Carlson, Kai Xia, M. Andrea Azcarate-Peril, Barbara D. Goldman, Mihye Ahn, Martin A. Styner, Amanda L. Thompson, Xiujuan Geng, John H. Gilmore, Rebecca C. Knickmeyer. Biol Psychiatry. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.biopsych.2017.06.021

Fonte: https://pebmed.com.br/microbioma-intestinal-e-o-desenvolvimento-cognitivo-infantil-o-que-dizem-as-evidencias/amp/?utm_source=facebook&utm_medium=postsmm&utm_conten+t=post&utm_campaign=dizem

Ficar sem dormir e sua relação com a sensibilidade à insulina

A privação do sono pode aumentar o risco de adoecimento e morte. Um novo estudo investigou a diminuição da sensibilidade à insulina observada após a restrição do sono e se ela é acompanhada por mudanças na expressão de proteína-quinase B (PKB) no músculo esquelético.

Dez jovens saudáveis participaram desse estudo randomizado, que submeteu os indivíduos a duas etapas: duas noites de sono habitual e duas noites de sono restrito a 50% da duração habitual no ambiente doméstico. A tolerância à glicose e a sensibilidade à insulina foram avaliadas por um teste oral após a segunda noite de cada etapa. Amostras de tecido muscular esquelético foram obtidas para determinar a atividade PKB.

Os achados mostraram uma diminuição da sensibilidade à insulina em homens jovens saudáveis após apenas duas noites de privação de sono (p = 0,013), aumentando as chances de diabetes. Alterações na atividade PKB no músculo esquelético observadas foram inconclusivas. Para os autores, mais estudos devem ser realizados para examinar quaisquer mudanças potenciais.

Você sabia? ‘60% dos brasileiros dormem entre 4 e 6 horas por dia’

Artigo original: Skeletal muscle insulin signaling and whole-body glucose metabolism following acute sleep restriction in healthy males. Physiol Rep, 5 (23), 2017, e13498 || https://doi.org/10.14814/phy2.13498

Fonte: https://pebmed.com.br/privacao-do-sono-e-sua-relacao-com-a-sensibilidade-a-insulina/amp/?utm_source=facebook&utm_medium=adssmm&utm_conten+t=post&utm_campaign=sono

Razões para a epidemia de obesidade por Dr. Bruno Halpern


Na edição recém publicada de um importante jornal médico da área de obesidade, o "Obesity", há três artigos que tentam colocar sob perspectiva as razões para a epidemia de obesidade. Um fala sobre a alimentação, um foca em exercício, e um foca em razões não óbvias (sono ruim, poluição, termoneutralidade, uso de medicações, parada do cigarro, entre outras, que vou discutir em outra postagem).

Mas gostaria de focar agora no artigo sobre alimentação, não por acaso do Kevin Hall, que acho um dos mais geniais pesquisadores na área de obesidade. Hall discute que, embora adoramos achar culpados únicos (antigamente era a gordura, agora é carboidrato), o real culpado é o excesso de calorias como um todo. Vou fazer um pequeno resumo do artigo dele.

Quem é o culpado?

1 -É a proteína (ou a falta dela)?

Alguns pesquisadores acreditavam que nossa fome tivesse a ver com o quanto de proteína comemos. Se comemos pouca, o organismo continuaria procurando fontes de energia até repor a necessidade básica. Portanto, poderíamos engordar por ter dieta hipoprotéica. Porém, alguns estudos com dieta hipoprotéica não demonstraram um aumento óbvio no consumo. Além do mais, a quantidade de proteína na dieta não diminuiu em paralelo com o aumento da obesidade (figura A).

2 - É a gordura?

Existem sim modelos experimentais sugiram que a gordura possa ser culpada pelo ganho de peso por: 1- ter densidade energética maior (isso é, mais calorias para o mesmo número de gramas que outros nutrientes) 2 - dar muito pouca saciedade 3- gerar menos gasto energético para ser digerida 4- o corpo não ser bom em usar a gordura que comemos como fonte imediata de energia; além do mais, estudos de superalimentação com excesso de gorduras mostra um ganho de peso desproporcional. E epidemiologicamente, o consumo de gorduras aumentou nas últimas décadas (figura B).
Porém, recomendações para reduzir o consumo de gorduras não foram efetivas em reduzir o ganho de peso na população e dietas muito baixas em gorduras não levam a perdas de peso maiores comparadas com outras dietas.

3 - É o carboidrato?

Nos últimos anos, entrou na moda culpar o carboidrato, baseado no modelo "insulina-carboidrato", muito divulgado na mídia pelo jornalista Gary Taubes, principalmente, que sugere que o excesso de carboidratos aumenta a secreção de insulina e que isso leva o excesso calórico a ser armazenado como gordura, enquanto o cérebro não recebe nutrientes e mantém os sinais de fome constantes e reduza o gasto energético.
Esse modelo é facilmente refutado por diversos modelos experimentais supercontrolados em humanos, que não encontram diferenças significativas em perda de massa gorda e gasto energético com dietas com diferentes nívies de carboidratos e secreção de insulina.
Porém, é bastante plausível que o aumento no consumo de carboidratos refinados (como o açúcar) contribua para a epidemia de obesidade, por aumentar o excesso de calorias consumidos.

4- É o excesso de calorias?

Modelos experimentais mostram que, quanto maior a disponibilidade de alimentos em um meio, maior o consumo calórico. A disponibilidade de alimentos nos EUA aumentou de 2 a 3 vezes mais que o suficiente para explicar o ganho de peso da população. Inclusive, esse excesso de disponibilidade é o responsável pelo grande aumento no desperdício alimentar, que também aumentou 50% per capita (figura C - é interessante esse modelo, que mostra que o excesso de disponibilidade aumenta o consumo, mas que este "extravasa" e leva a mais desperdício também).
Fora dos EUA, o aumento da disponibilidade é suficiente também para explicar o ganho de peso populacional, em ao menos 80% das nações.
Portanto, sim, o excesso de calorias é provavelmente o maior responsável pelo aumento da obesidade.

5- É a qualidade da alimentação?

Somente focar nas calorias pode mascarar uma complexidade muito maior referente à alimentação e ganho de peso.
O aumento da disponibilidade de alimentos tem muito a ver com questões econômicas de maximização de matérias-primas baratas (milho, soja) para uma indústria de produtos baratos, convenientes, altamente processados. Esses produtos possuem sal, açúcar, gordura e aditivos feitos para terem propriedades "supernormais", que aumentam o consumo pela palatabilidade.
Ter acesso contínuo a comida em cafés, restaurantes, coffee-breaks, etc, também aumenta o consumo, pela disponibilidade e redução do trabalho de cozinhar em casa.

Portanto, o que essa revisão mostra é que não podemos encontrar um único macronutriente culpado, como muitos gostam de fazer e entender que todo o ambiente que vivemos é muito propenso ao ganho de peso.
Como já disse em outras postagens, não podemos modificar o ambiente em que vivemos, mas podemos modificar nossos ambientes próprios, tendo menor disponibilidade de alimentos pouco saudáveis dentro de casa e evitar que toda atividade de lazer seja vinculada à comida.

Fica uma dica: evitar comer ultraprocessados e alimentos pouco saudáveis no dia-a-dia dão muito mais liberdade e menos culpa para que possamos ter um maior prazer alimentar em momentos que realmente importam (um bom restaurante, uma confraternização, um almoço/jantar de família), etc. Comer bem não significa não ter prazer, muito pelo contrário.

Autor: Dr Bruno Halpern

2018

Caros seguidores,

2018 começa com algumas boas notícias e vários projetos. A primeira novidade é que estou aguardando o resultado da prova de título de Nutrologia, realizada no dia 13/12/2017 em São Paulo. Caso eu seja aprovado poderei me intitular Especialista em Nutrologia. O resultado só sairá com 60 dias úteis após a data da prova, ou seja, 10/03/2018. Dos 60 pontos necessários fiz 74,5, portanto espero ser aprovado. Após a aprovação ainda não poderei me intitular nutrólogo. Deverei esperar o Certificado da Associação Médica Brasileira, o que dura em média 3 meses. Aí então levo o mesmo ao Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás e adquiro um número de Registro de Qualificação de Especialista (RQE), só ai então posso me intitular nutrólogo.

Vocês veem que é toda uma burocracia para se conseguir um título. Portanto quando forem consultar com um profissional, procurem investigar no site do conselho se o mesmo é realmente especialista. Só é especialista quem tem esse RQE.

Ser pós-graduado sem título não confere ao profissional o título de especialista. Não se deixe enganar por profissionais que usurpam títulos alheios. Isso é anti-ético, é vergonhoso. Ao longo de 3 anos estudei muito para prestar a prova. Resolvi mais de 500 questões e as cataloguei. Fiz mais de 600 páginas de resumos, sendo 312 em powerpoint na forma de flashcards. Tirei quase 2 meses parar estudar das 05:30 às 23:00. Utilizei suplementos para melhorar a memória. Adotei uma alimentação específica para potencializar a memorização. Abri mão de muita coisa. E o que vejo é, a maioria dos profissionais titulados em Nutrologia, que passaram nos últimos 4 anos passaram por um processo semelhante, de muita dedicação.

Torçam por mim !

A segunda novidade é que criei no blog uma parte destinada a profissionais da saúde, no caso médicos e estudantes de medicina. Nessa parte há mais de 40 resumos de Nutrologia, que já estão publicados dentro do blog, mas só forneço acesso mediante comprovação que é estudante de medicina ou médico.

A terceira novidade é que estou criando um site que será um Portal de Nutrologia, com uma vasta biblioteca desde o ciclo básico ao ciclo clínico. Destinada principalmente ao estudantes de Medicina que querem aprender mais sobre Nutrologia Médica. Afinal poucas universidades possuem a cadeira de Nutrologia, o que é uma vergonha. Mas mudaremos esse cenário.

Quarta novidade é que agora o Ambulatório de Nutrologia do Centro de Atendimento Ambulatorial de Aparecida de Goiânia tornou-se Serviço de Nutrição e Nutrologia. Temos agora duas nutricionistas atendendo diariamente, os meus pacientes, com isso fico restrito apenas a parte médica, promovendo assim atendimento compartilhado. Sendo o nosso serviço o único do Centro-oeste.

Desejo a todos um Excelente 2018, cheio de saúde, vitalidade, bem-estar. Continuem visitando o blog e mandando sugestões de temas.

Abraço

Dr. Frederico Lobo - Médico, clínico geral (por enquanto rs) - CRM-GO 13.192


quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Feliz Natal e Boas festas


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

“Não ganho massa muscular ou estou com a libido bem baixa – posso repor testosterona?”

É crescente o número de mulheres em nossos consultórios se queixando da dificuldade em ganhar massa muscular ou com diminuição da libido e culpam a falta de testosterona por esses problemas.
Muitas vezes, chegam na consulta solicitando a dosagem da testosterona ou já com o resultado em mãos demonstrando nível baixo ou indetectável, e, nesses casos, querem discutir como será feita a reposição do hormônio (gel, implante subcutâneo ou injetável).
O que essas pacientes precisam saber é que vários fatores podem estar associados a essas queixas, como: genética, alimentação, atividade física, sono, medicações, doenças associadas, estresse…
Além disso, o método atual de dosagem de testosterona é destinado para homens, pois eles possuem níveis 3-10x maiores que o das mulheres. Por isso, em mulheres, a testosterona baixa não é confiável e só é recomendada a sua dosagem em casos suspeitos de excesso desse hormônio (exemplo Síndrome dos Ovários Policísticos – SOP).
Devemos alertar que reposição de testosterona pode acarretar sérios riscos à saúde (irreversíveis ou não): acne; excesso de pelos (hirsurtismo); queda de cabelo; engrossamento da voz; aumento do clitóris; dislipidemia; aumento da gordura visceral; aumento do risco de hipertensão arterial, diabetes e câncer (mama e endométrio).
Os consensos das sociedades Americana e Europeia de endocrinologia se posicionam contrários à dosagem rotineira de testosterona em mulheres e contra-indicam o uso de testosterona com finalidades estéticas.
Por isso, não arrisque sua saúde com tratamentos não aprovados e comprometedores. A avaliação do endocrinologista é importante na busca de patologias que possam estar agravando suas queixas, assim como orientar para uma qualidade de vida adequada.
Autora: Dra. Taciana Borges, Endocrinologista, CRM 16820

Fonte: http://endocrinologiape.com.br/?p=3602

Cirurgia metabólica para diabetes: saiba o que a SBEM tem a dizer sobre o assunto

Há alguns dias a cirurgia metabólica para tratamento do diabetes, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, vem sendo comentada na imprensa. A SBEM e a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) participaram de vários debates com o Conselho Federal de Medicina e reforçam a necessidade de cautela.

Leia na íntegra o comunicado enviado para imprensa assinado pelo Dr. Alexandre Hohl Vice-presidente da SBEM Nacional.


Nota para Imprensa

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, junto de outras Sociedades médicas de cirurgia, participaram durante mais de um ano de discussões na câmara técnica do Conselho Federal de Medicina, em Brasília.

O assunto era a Cirurgia Metabólica em paciente com Diabetes mellitus e Índice de Massa Corpórea entre 30 e 35. A SBEM não é contrária a cirurgia, e acredita que existem pacientes que podem ser beneficiados com ela.

Porém, ainda há poucos estudos científicos com pacientes exatamente dentro desse IMC, acompanhados por muito tempo.

Isso levanta várias questões científicas e clínicas a respeito da indicação de cirurgia e o acompanhamento dos casos, especialmente o que fazer 5 ou 10 anos após o procedimento caso o resultado seja negativo.

 Está claro que a indicação dessa cirurgia só poderia ser feita por um médico endocrinologista, que é o único especialista com conhecimento suficiente para tentar responder as perguntas que os trabalhos científicos ainda não responderam de maneira clara e precisa.

A cirurgia nunca deve ser indicada por um cirurgião que não tem conhecimento clínico na área do Diabetes Mellitus e só deveria ser realizada por cirurgiões muito experientes em cirurgia Bariátrica.

Outro ponto importante é que, tanto a cirurgia bariátrica quanto a cirurgia Metabólica não retiram a necessidade de dieta e atividade física como tratamento.

Todo paciente precisa ser muito bem informado disto, pois se ele não adere ao tratamento clínico (não toma os medicamentos corretamente, não cuida da alimentação e não faz exercícios físicos), fazer uma cirurgia Metabólica simplesmente não resolverá a situação.

Além dessas questões científicas e clínicas, os custos também precisam ser discutidos. Faltam remédios no Sistema Único de Saúde para tratar Diabetes mellitus. Essa cirurgia será paga pelo SUS?

A SBEM acredita que é preciso ter medicamentos orais, injetáveis e insulinas de qualidade na rede pública de tratamento antes de ter cirurgia Metabólica no SUS.

Isso, porque a maior parte dos pacientes com diabetes não terá indicação dessa cirurgia, mas precisará de remédios e insumos para tratar a doença.

Dr. Alexandre Hohl 
Vice-presidente da SBEM Nacional
Presidente da Comissão Científica da SBEM


Fonte: http://www.sbemsp.org.br/para-o-publico/noticias/148-cirurgia-metabolica-para-diabetes-saiba-o-que-a-sbem-tem-a-dizer-sobre-o-assunto

Uso de 'chip' hormonal para ficar em forma preocupa médicos

Um "chip" promete dar um empurrãozinho na busca pelo corpo em forma e definido. Os implantes de gestrinona –hormônio sintético feminino– vêm ganhando adeptas "fit" e preocupando associações médicas pelo uso hormonal para questões estéticas.

O implante em questão tem, como função inicial, a contracepção e até mesmo a interrupção da menstruação. O "chip" de gestrinona, entretanto, acabou ganhando uma função a mais, que o levou inclusive a ficar popularmente conhecido como "chip da beleza".

O potencial do dispositivo no ganho de massa muscular e na eliminação de celulite foram responsáveis pela fama do "chip".

Por cinco anos, Jéssica Brum, 29, foi fisiculturista, até que decidiu abandonar a atividade por questões de saúde. "Eu tive quase tudo. Já desmaiei, já fiquei com taquicardia, tive muita espinha, aumento de pelos e ficava muito irritada", diz, ao citar o resultado do uso de anabolizantes.

"Quando parei de competir, fiquei mais dois anos 'trincada'. No primeiro ano de curso na faculdade eu já aumentei o peso e o corpo não ficou mais definido", conta Brum, agora estudante de nutrição.

Após exames e liberação médica, Brum optou pelo implante para manter o corpo mais bombado e também para "atender" a cobrança das redes sociais. "Depois que parei as competições perdi muitos seguidores", diz. "As pessoas queriam saber o motivo de não estar mais definida, de não postar mais fotos de biquíni."

Brum afirma ter também uma motivação profissional. Segundo ela, quando se tornar uma nutricionista, "as pessoas vão julgar [seu trabalho] pela imagem postada nas redes sociais".

Para a jornalista e atriz Deborah Albuquerque, 32, a mãozinha nos treinamentos também pesou na decisão de aderir ao "chip da beleza", mas a contracepção e níveis hormonais baixos foram as questões centrais. Após a realização de exames, a jornalista ganhou seu "chip" na última quarta (1º).

"Eu não vivo do meu corpo", diz, ressaltando não ser uma modelo fitness. "Sou muito mais focada em como vou entrar para a novela do que ver como vai ficar meu abdômen."

CUIDADOS

Segundo Dolores Pardini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), contudo, para a maioria das mulheres, a questão da contracepção não é levada em conta quando o assunto é o "chip da beleza"; a busca é por massa muscular.

"Nós não somos contra o implante de gestrinona em si. O problema ocorre quando a indicação não é bem realizada, feita em academias. Eu já tive pacientes que o professor da academia falou para colocar", afirma Pardini, vice presidente do departamento de endocrinologia feminina e andrologia da Sbem.

A especialista afirma que para a colocação de um implante como o de gestrinona são necessários orientação médica e exames para verificar o estado de saúde.

Há contraindicação, por exemplo, para pessoas obesas, com hipertensão e tendência à acne.

Além disso, entre os possíveis efeitos colaterais do implante estão aumento de pelos, acne e do colesterol, além de queda de cabelo.

"Hoje precisamos primeiro falar dos riscos para o paciente, para ele não achar que só há benefícios em alguma prática", afirma César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), que diz que inicialmente a gestrinona era usada para o tratamento da endometriose –de forma geral, doença na qual o endométrio se encontra fora do útero.

Segundo José Maria Soares, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a pressão por estética é perigosa para a sociedade. "Imagina uma paciente que faz algo em busca de um corpo mais firme e acaba perdendo cabelo."

Além da falta de regulamentação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o nome do produto é outro ponto que incomoda o presidente da Febrasgo.

"É muito sedutor. A palavra 'chip', sendo que não é um 'chip' mesmo, dá um tom de modernidade e a beleza é uma busca das pessoas hoje", afirma.

A falta de controle de doses e dos hormônios usados preocupa os ginecologistas Soares e Rodrigo Bonassi, da Febrasgo.

Fernandes afirma que a indicação de um implante hormonal manipulado não é algo proibido ou negativo. Contudo, diz que o ginecologista deve deixar claro para a paciente a motivação para a decisão e o motivo de não indicar métodos mais consagrados e respaldados pela literatura científica, como pílula, DIU (Dispositivo Intrauterino) e até mesmo o outro implante hormonal disponível no mercado, à base de etonogestrel.

"É algo muito inseguro para validarmos e aceitarmos como uma prática que possa ser usado por todas as mulheres", afirma Fernandes.

Como funciona o "chip da beleza"
Implante subcutâneo libera hormônios periodicamente

EFEITOS
- Contracepção
- Interrupção da menstruação
- Aumento da libido
- Tratamento da endometriose
- Aumento de massa muscular

POSSÍVEIS EFEITOS ADVERSOS
- Aumento de oleosidade
- Acne
- Aumento de pelos
- Queda de cabelo

CONTRAINDICADO PARA PESSOAS COM
- Doenças cardíacas
- Problemas com colesterol
- Diabetes


Fonte: https://www.febrasgo.org.br/noticias/item/244-uso-de-chip-hormonal-para-ficar-em-forma-preocupa-medicos

domingo, 10 de dezembro de 2017

Excesso de sal prejudica a flora intestinal, mostra estudo

Os malefícios do consumo excessivo de sal, principalmente o surgimento de problemas cardíacos, são atestados pela ciência. Uma equipe de pesquisadores da Alemanha decidiu investigar os efeitos da substância com outro foco: a flora intestinal. Em experimentos com ratos, identificaram que uma dieta rica em sódio não só reduz a quantidade de bactérias na microbiota, como propicia o surgimento de doença inflamatória e cardiovascular. Os achados foram publicados na última edição da revista britânica Nature.

 “Uma vez que todos comemos sal todos os dias, em cada refeição, ficamos surpresos com o fato de que ninguém ainda havia feito essa pergunta simples: o sal pode afetar os micróbios intestinais, já que ele atinge o intestino?”, conta ao Correio Dominik Muller, autor principal do estudo e pesquisador do Centro Max-Delbrück de Medicina Molecular. Para esclarecer essa dúvida, Muller e sua equipe compararam amostras fecais de ratos alimentados com uma dieta com quantidade normal de sódio e de roedores que seguiram um regime com alto teor de sódio.
Os investigadores colheram e analisaram as amostras das cobaias diariamente, durante três semanas. A partir do 14º dia, descobriram redução significativa de espécies microbianas na flora de roedores alimentados com sal em excesso. Por meio de técnicas de sequenciamento de DNA e análises computacionais, identificaram as bactérias Lactobacillus murinus, do gênero Lactobacillus, como o grupo mais atingido. “Como esse grupo de bactérias também é conhecido por afetar o sistema imunológico, resolvemos nos aprofundar nele e desvendar os detalhes envolvidos em sua redução”, relata Muller.

Em uma nova etapa de testes com roedores, observou-se que a administração de Lactobacillus murinus reduziu a quantidade de células TH17, relacionadas à hipertensão, e impediu o agravamento de encefalomielite autoimune experimental, um modelo de inflamação do cérebro relacionada ao excesso de sal. “Curiosamente, descobrimos que o Lactobacillus atuou como um tipo de inibidor de TH17 em camundongos, algo que nos surpreendeu bastante”, ressalta o líder do estudo.

Na terceira fase da pesquisa, a equipe contou com a participação de um pequeno grupo de humanos nas intervenções. Dessa forma, os investigadores descobriram que o aumento da ingestão de sal reduziu a sobrevivência intestinal de múltiplas espécies de Lactobacillus, aumentou a quantidade de células TH17 e a pressão arterial.

Apesar de otimistas com os resultados, os cientistas acreditam que mais estudos com humanos são necessários a fim de comprovar a relação das bactérias Lactobacillus murinus com os problemas inflamatórios e cardiovascular. “Precisamos analisar um número maior de pacientes para confirmar essa suspeita, esse é um dos nossos planos. Realizaremos ensaios clínicos maiores, controlados com placebo, que analisarão o efeito de bactérias do gênero Lactobacillus sobre a pressão arterial e a polarização com as células TH17”, adianta Muller. “Essa função imunomoduladora pode ser interessante para tratar doenças inflamatórias, o que poderá trazer ganhos na área médica”, complementa.

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/excesso-de-sal-prejudica-flora-intestinal-mostra-estudo/

Álcool: até o consumo moderado aumenta o risco de câncer, de acordo com estudo

Sabemos que o tabagismo aumenta o risco de diversos tipos de câncer. Mas e o consumo de bebidas alcoólicas? De acordo com uma nova pesquisa publicada no periódico científico Journal of Clinical Oncology, até mesmo o consumo moderado do álcool eleva os riscos de câncer de esôfago e câncer de mama, entre as mulheres.

Falta de conhecimento

Especialistas da Sociedade de Clínica Oncológica Americana (ASCO, sigla em inglês) fizeram um questionário com cerca de 4.000 adultos sobre os fatores de risco para o câncer com os quais estavam familiarizados.

Aproximadamente uma em cada três pessoas identificaram o álcool como um possível causador da doença. “A mensagem sobre os efeitos do álcool é mais sutil. Não é como o cigarro, que nós dizemos ‘nunca fume’, e sim ‘beba menos se quiser reduzir os riscos de câncer‘”, disse Noelle LoConte, professora da Universidade de Wisconsin e principal autora da pesquisa, ao The New York Times.

Álcool e câncer

Além do questionários, os pesquisadores revisaram cerca de 120 estudos recentes sobre o assunto e concluíram que 5,5% dos casos de câncer recém-descobertos e 5,8% das mortes pela doença no mundo podem estar associados ao álcool.

Até mesmo aqueles que bebem socialmente, o equivalente ao consumo moderado do álcool (uma dose diária – uma lata de cerveja, por exemplo – para mulheres e duas para homens), tiveram um risco duas vezes maior do que aqueles que não o consomem nunca.

De fato, a revisão mostrou que o consumo alcoólico possui um papel causal em diversos casos de câncer de boca, esôfago, cordas vocais, fígado, cólon e, em mulheres, câncer de mama. Para elas, apenas uma dose de bebida alcoólica pode elevar o risco do câncer de mama. Os estudos mostraram que o álcool pode aumentar o risco nas fases pré e pós-menopausa em 5% e 9%, respectivamente.

Consumo pesado

Evidentemente, o  consumo pesado – definido como oito ou mais doses por semana para mulheres e 15 ou mais para homens, incluindo o beber pesado episódico, quando a pessoa bebe todas as doses em apenas um evento – oferece riscos muito maiores.

De acordo com os estudos, essas pessoas correm um risco cinco vezes maior de desenvolver câncer de boca e esôfago do que os que não bebem, quase três vezes maior de sofrer de câncer nas cordas vocais e na laringe, duas vezes maior de vir a desenvolver câncer de fígado, além de câncer de mama e colorretal.

“Quanto mais você bebe, maiores os riscos”, disse Clifford Hudis, chefe executivo da ASCO. “Quando você olha para esses dados, é clara a relação do álcool, é uma reação ‘dose-risco’ bastante linear.”

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/alcool-ate-o-consumo-moderado-aumenta-o-risco-de-cancer-de-acordo-com-estudo/

Ingestão diária de nozes e amendoim reduz em 21% as complicações do coração

Seguir uma dieta equilibrada é importante para manter a saúde do coração. E se ela englobar o consumo de nozes diversas e amendoim, pode se tornar ainda mais benéfica. Ao analisar dados de mais de 200 mil pessoas, pesquisadores dos Estados Unidos observaram que comer esses alimentos regularmente reduz as chances de surgimento de doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral (AVC) em até 21%. Detalhes do trabalho foram divulgados recentemente na revista Journal of the American College of Cardiology.

Os investigadores destacam que estudos haviam demonstrado que o consumo frequente de nozes específicas, como as castanhas, está associado à redução de fatores de risco cardiovascular, incluindo a dislipidemia — elevação de colesterol no sangue —, o diabetes tipo 2 e a síndrome metabólica. Mas a ingestão variada desses frutos e a combinação deles com o amendoim ainda não haviam sido avaliadas.

“Portanto, nosso objetivo principal foi olhar com mais atenção para o consumo conjunto de vários tipos de nozes, como amêndoas, avelãs, pistache etc. Incluímos também o amendoim, que, na verdade, é uma leguminosa, mas tem ácidos graxos e nutrientes semelhantes às nozes”, explica ao Correio Marta Guasch-Ferre, pesquisadora do Departamento de Nutrição na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo.

Guasch-Ferre e colegas analisaram dados de 210 mil pessoas — homens e mulheres participantes de um grande projeto científico que tiveram dados diversos sobre saúde coletados ao longo de 32 anos por meio questionários aplicados a cada dois anos. No caso dessa pesquisa, foram usadas informações sobre histórico médico, estilo de vida e condição geral de saúde. No período estudado, os pesquisadores documentaram 14.300 casos de doenças cardiovasculares, incluindo 8.390 casos de doença doença arterial coronariana e 5.910 de AVC.

De uma forma geral, comer cinco porções semanais de nozes, amendoins e outros tipos de sementes foi vinculado a um risco 14% menor de surgimento de doenças cardiovasculares e 20% menor de se apresentar complicações fatais atribuídas ao endurecimento das artérias. Considerando apenas o consumo de nozes, observou-se que indivíduos que têm o hábito de comê-las ao menos uma vez por semana têm o risco 19% menor de sofrerem complicações cardíacas e 21% menor de ter doença arterial coronariana, quando comparados aos participantes que não comiam esse alimento. Já os participantes que comiam amendoim duas ou mais vezes por semana apresentaram o risco 13% menor de ter doenças cardiovasculares em geral e 15% menor, de doença arterial coronariana.

“As nozes são ricas em gorduras saudáveis (ácidos graxos insaturados), fibras, minerais, vitaminas e vários outros contatos bioativos, como antioxidantes, o que pode, em parte, explicar seus efeitos benéficos para a saúde cardiovascular, principalmente se consumidas em conjunto”, ressalta Guasch-Ferre. Os pesquisadores não encontraram evidências de associação entre o consumo total de nozes e o risco de AVC, mas ressaltam que, pelos dados, comer amendoim e nozes está inversamente associado ao risco de surgimento do derrame, ou seja, quanto maior a ingestão, menor as chances de surgimento do popular derrame.

Segundo a investigadora, alguns mecanismos que podem estar subjacentes às associações detectadas por ela e a equipe são vantagens conhecidas desses alimentos. “Sabemos que as nozes melhoram os lipídios no sangue, atenuam os processos inflamatórios e melhoram a tolerância à glicose e os traços relacionados ao diabetes. Todos esses são fatores de risco para doenças cardiovasculares”, lista.
Guasch-Ferre ressalta ainda que, apesar de as nozes serem um alimento denso em energia, não há evidências científicas que apoiem associações entre o consumo regular delas e o aumento de peso. “Na verdade, foram associadas com menor ganho de peso e menor risco de obesidade, provavelmente porque podem aumentar a saciedade e a plenitude, o que potencialmente pode reduzir o consumo de lanches insalubre”, complementa.

Segundo Fausto Stauffer, coordenador de Cardiologia do Santa Lúcia Norte, em Brasília, e diretor de pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia no DF (SBC-DF), a quantidade de nozes a ser consumida para uma dieta saudável varia de 28g a 30g. “Um mix de oleaginosas, consumidas pelo menos cinco vezes na semana”, detalha. “Apesar de ainda precisarmos saber mais sobre o tema, a Sociedade Americana de Cardiologia já recomenda o consumo dessas nozes desde 2013 como uma forma de prevenção de problemas cardíacos.”
O médico destaca que os resultados da pesquisa norte-americana reforçam os ganhos que podem ser proporcionados à saúde pelo consumo de nozes e amendoim. “A relação entre esses alimentos e doenças cardiovasculares nós já conhecíamos, mas esse trabalho utiliza três grandes avaliações para dar ainda mais validade a essa proteção. Vemos que a melhor maneira de consumir esses alimentos é como um mix, que englobe diversos tipos dessas oleaginosas. Esse estudo confirma o que pesquisas pequenas já defendiam e o que temos adotado também como recomendação dentro dos consultórios”, destaca

Outros hábitos

Para Stauffer, mais estudos sobre o tema são necessários, porque podem existir fatores, além do consumo de nozes e amendoim, que funcionem como protetivos. “Como analisamos pessoas que têm uma vida saudável, que se alimentam de forma nutritiva, pode ser que outros elementos desses hábitos estejam envolvidos nos resultados. Por isso é importante continuar tentando entender essa relação, esclarecer bem esse tema”, explica.
Apesar de não ter mostrado na pesquisa, Guasch-Ferre acredita que os maiores benefícios da ingestão de nozes e amendoim para a saúde cardiovascular são alcançados através de uma combinação de vários fatores ligados ao estilo de vida. “Por exemplo, seguir dietas com grandes quantidades de alimentos vegetais e redução de alimentos de origem animal e incluir a ingestão de diferentes tipos de nozes como uma substituição de outros alimentos pouco saudáveis, como a carne vermelha. Aliado a isso adotar a atividade física moderada, não fumar e ter um baixo consumo de álcool, dentre outros”, lista.
A investigadora ressalta que, por se tratar de um estudo observacional, baseado em respostas a questionários, a pesquisa não tinha a intenção de provar causas e efeitos entre os dois fatores. Ela e a equipe darão continuidade ao trabalho, dando foco, por exemplo, na análise genômica (ligada à expressão de genes) da relação entre esses alimentos e o efeito protetivo cardiovascular. “Queremos também investigar mais as diferenças entre a preparação das nozes e entender o efeito da manteiga de amendoim, que se mostra como um elemento positivo para saúde cardíaca”, adianta Guasch-Ferre.
Fatais

A doença cardíaca coronariana se caracteriza pelo acúmulo de placas nas artérias coronarianas, levando ao estreitamento delas e à consequente dificuldade de fluxo sanguíneo. Casos graves dessa complicação, também chamada de doença isquêmica do coração, podem levar ao infarto. O AVC, popularmente conhecido como derrame, se dá por bloqueio do fluxo sanguíneo ou hemorragia no tecido cerebral, sendo uma das principais causas de incapacidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/ingestao-diaria-de-nozes-e-amendoim-reduz-em-21-as-complicacoes-do-coracao/

Vitamina D pode prevenir a Artrite Reumatoide, mostra estudo

A artrite reumatoide é uma doença autoimune que causa inflamação crônica, geralmente nas articulações. Por atacar o próprio sistema imunológico, a sensibilidade do organismo à vitamina D, que possui efeitos anti-inflamatórios, pode cair. No entanto, a suplementação pode ajudar a prevenir a doença e possivelmente, em doses maiores, beneficiar quem já sofre dela, segundo um novo estudo publicado no periódico científico Journal of Autoimmunity.

O estudo

Pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, analisaram amostras de sangue e fluido das articulações de 15 pacientes, entre 40 e 85 anos, com artrite reumatoide. Esse é o primeiro estudo do gênero a utilizar células do sistema imune retiradas tanto do sangue quanto do líquido sinovial de pessoas com artrite.

“Diferente dos trabalhos anteriores, isolamos diferentes tipos de células do próprio local da inflamação para determinar se as células específicas do sistema imunológico tinham a mesma sensibilidade para a vitamina D”, explicou Martin Hewison, um dos autores do estudo.

Prevenção

Com base nos resultados, os cientistas concluíram que manter os níveis de vitamina D saudáveis pode ajudar a prevenir a artrite reumatoide, assim como outras doenças inflamatórias. No entanto, para quem já sofre da doença, é improvável que somente a suplementação ofereça algum benefício, pois as células imunes já não são mais sensíveis à vitamina.

Possível tratamento

Por outro lado, os pesquisadores acreditam que a vitamina pode ser reposta em doses maiores ou que a nova descoberta pode levar ao desenvolvimento de um novo tipo de tratamento, uma correção para a falta de sensibilidade à vitamina.

“Nossos achados foram inesperados, pois inicialmente achamos que as células das articulações inflamadas responderiam tão bem à vitamina D quanto as células do sangue”, disse Karim Raza, principal autor da pesquisa. “Dessa forma, doses mais altas da vitamina podem ser necessárias ou, quem sabe, um novo tratamento com foco na reação à vitamina pode ser a solução.”

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/vitamina-d-pode-prevenir-artrite-reumatoide-mostra-estudo/

POSICIONAMENTO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE DIETAS ISENTAS DE GLÚTEN PARA FINS DE EMAGRECIMENTO

Cereais são parte fundamental da alimentação do ser humano, sendo fonte importante de energia, proteínas, lipídeos, vitaminas, minerais e fibras. Dentre eles, três podem ser destacados, trigo, centeio e cevada, por possuírem um tipo especial de substância denominada glúten. Trata-se de um complexo proteico insolúvel formado especialmente na fase de hidratação das proteínas do cereal (gliadinas e gluteninas), necessária à obtenção das massas e de outras preparações culinárias.

Existem situações já bastante estudadas em que se deve orientar o paciente a retirar o glúten da alimentação. Dessas, a mais conhecida é a doença celíaca, quadro em que a mucosa intestinal sofre importante processo inflamatório quando exposta a essa proteína. Existem também os processos de sensibilidade ao glúten não celíaca e alergia ao trigo que também se beneficiam da exclusão desse complexo proteico.

Recentemente, em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, tem-se disseminado a ideia de que dietas sem glúten podem ser usadas para fins de emagrecimento. À parte de evidências científicas para essa prática, que não existem, é possível que a origem seja o fato de que, ao se retirar da alimentação os alimentos à base dos cereais que contém glúten (principalmente o trigo, que é muito utilizado no preparo de vários alimentos altamente prevalentes na alimentação habitual), a ingestão energética total seja reduzida.

Entretanto, é sabido que o planejamento alimentar para o paciente que precisa emagrecer não deve, em geral, conter restrições alimentares genéricas, mas sim ser individualmente planejado, respeitando-se aspectos pessoais, sociais e culturais. A eliminação pura e simples do glúten pode levar a prejuízo à saúde. E nesse caso em particular, a ausência de estudos comprovando a eficácia dessa prática, contraindica seu uso.

Sendo assim, a Associação Brasileira de Nutrologia posiciona-se CONTRÁRIA à utilização de dietas isentas de glúten para fins de emagrecimento e orienta a que a exclusão do glúten da alimentação seja realizada somente para os pacientes com enfermidades que justifiquem essa prática como forma de tratamento.

Fonte: http://abran.org.br/para-profissionais/posicionamento-oficial-da-associacao-brasileira-de-nutrologia-sobre-utilizacao-de-dietas-isentas-de-gluten-para-fins-de-emagrecimento/

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Uso de Testosterona por mulheres

Por Dra. Ruth Clapauch – A reposição de testosterona em mulheres, antigamente prescrita para tratar uma suposta “síndrome de deficiência androgênica”, deixou de ser realizada após inúmeros posicionamentos, recentemente reunidos em um consenso de diferentes sociedades médicas europeias e americanas [1]. Este documento estabelece que:

  • Os métodos de dosagem de testosterona disponíveis atualmente foram feitos para homens, que têm valores de testosterona 3 a 10 vezes superiores aos das mulheres. Esses métodos não conseguem dosar de forma confiável valores mais baixos, normais para as mulheres
  • Em situações em que haja uma base fisiopatológica para o baixo nível de testosterona, como em mulheres ooforectomizadas, por exemplo, não há sintomas ou sinais clínicos característicos que possam ser atribuídos à diminuição da testosterona, como cansaço, redução de massa muscular ou libido prejudicada em relação às demais mulheres.

No entanto, devido a seus efeitos estimuladores, a testosterona vem sendo usada em homens e mulheres em doses farmacológicas, elevando os níveis séricos nas mulheres para além de 100 ng/dL, acima da faixa de referência (estes, sim, dosáveis, pois se aproximam dos masculinos), apesar de não haver qualquer recomendação nem estudos conclusivos acerca de benefícios e riscos a longo prazo.

Os objetivos dessa prática não aprovada são:

  • Estéticos: aumento de massa muscular, com transformação de parte da gordura em músculos (efeito bem conhecido do doping atlético)
  • Energéticos: redução de cansaço, maior capacidade de fazer exercícios
  • Comportamentais: excitação, humor menos deprimido
  • Sexuais: aumento de libido.

Esse uso, porém, envolve diversos riscos. Em uma revisão recente incluindo 35 estudos randomizados com 5.035 mulheres [2] que usaram doses ligeiramente suprafisiológicas, observou-se redução significativa de HDL-colesterol e aumento de LDL-colesterol, acne e hirsutismo.
Com níveis maiores foram descritos queda de cabelos e engrossamento da voz, geralmente irreversíveis.

A testosterona sabidamente aumenta a gordura visceral em mulheres, o que está associado a maior resistência insulínica e risco aumentado de diabetes. Além disso, há aumento do hematócrito, risco de policitemia e maior viscosidade sérica, retenção de líquidos e elevação da pressão arterial.
Outra preocupação é que a testosterona se aromatiza em estrógenos, o que pode estimular receptores na mama e no endométrio e potencialmente aumentar o risco de proliferação e câncer.

É também importante mencionar o impacto da testosterona no fígado e a susceptibilidade que determinados indivíduos podem ter a tumores hepáticos.

Portanto, não há estudos que garantam a segurança do uso de testosterona em mulheres, e não há dose segura.

Referências bibliográficas

  • Wierman ME, Arlt W, Basson R et al. Androgen therapy in women: a reappraisal: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3489-510.
  • Elraiyah T, Sonbol MB, Wang Z et al. Clinical review: The benefits and harms of systemic testosterone therapy in postmenopausal women with normal adrenal function: a systematic review and meta-analysis. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3543-50.

Sobre o autor: Ruth Clapauch é PhD em Biociências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Medicina (Endocrinologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Visitante da UERJ. Orientadora de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (FISCLINEX) da UERJ, grau 7 da Capes. Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Endocrine Society. Presidente da Comissão de Educação Médica Continuada e Vice-Presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM.

Fonte: http://genmedicina.com.br/2017/03/27/uso-de-testosterona-em-mulheres-dra-ruth-clapauch/

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Revisão sistemática comprova não haver benefício da dieta cetogênica no combate ao câncer

Pesquisadores alemães apresentaram no último congresso europeu de nutrição (ESPEN, Holanda) uma revisão sistemática de 500 estudos clínicos sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer publicados entre 1980 e outubro de 2016. A conclusão é que em nenhum deles foi observada diminuição da progressão tumoral nem melhora na qualidade de vida dos pacientes submetidos a esse tipo de restrição alimentar. O tema também foi discutido no Fórum de Nutrição e Oncologia realizado na I Semana Brasileira da Oncologia, no Rio de Janeiro, em outubro.

“Em torno de 30% a 40% dos pacientes oncológicos que nos procuram no consultório querem a dieta cetogênica porque acreditam que ela vá curar o câncer”, revela a Dra. Georgia Silveira de Oliveira, nutricionista, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenadora do Fórum. “É uma fantasia preocupante”, avalia. A especialista alerta que, além de nenhum impacto na sobrevida, a deficiência nutricional muitas vezes leva à perda de massa muscular em um curto período de tempo, o que compromete o tratamento da doença.

A dieta cetogênica foi documentada pela primeira vez em 1911. O interesse pelo seu uso ganhou força em 1990, quando houve resultados positivos no manejo de pacientes com um tipo de epilepsia intratável até então. Em 2005 e 2008, foram publicados os primeiros ensaios controlados e aleatorizados no campo da epilepsia e começaram a ser explorados os mecanismos, a eficácia, a segurança e as ações terapêuticas da dieta cetogênica para outras doenças, como o câncer.

Obstáculos na pesquisa

Entre os 500 trabalhos encontrados pelos alemães, há revisões sistemáticas e meta-análises, estudos controlados randomizados, estudos controlados não aleatorizados, estudos não controlados (monitoramento de processos, estudos não controlados antes e depois, séries de análises temporais), estudos observacionais, séries de casos e estudos de caso. Nenhum deles teve um projeto metodológico rigoroso, conforme os autores. A maioria avaliou apenas a viabilidade, a qualidade de vida e a adesão do paciente à dieta cetogênica isocalórica.

A própria adesão dos pacientes mostrou-se um grande problema: somente 37% dos pacientes que seguiram a dieta ou 20% de todos os pacientes incluídos nesses 500 ensaios conseguiram aderir às recomendações dietéticas durante todo o período de estudo. “Os trabalhos são limitados pelo tamanho da amostra e pela falta de homogeneidade do tipo, localização e estágio do câncer e, portanto, os resultados não podem ser comparados”, afirmam os investigadores.

Segundo os autores da revisão sistemática, a baixa taxa de aceitação da restrição alimentar pelos pacientes aponta para seus próprios efeitos negativos sobre a qualidade de vida, que muitas vezes podem ser erroneamente atribuídos às terapias convencionais ou à progressão do câncer.

Contramão das diretrizes

A Dra. Georgia ressalta que todas as modalidades de dieta isocalórica vão na contramão das diretrizes nutricionais para pacientes com câncer seguidas no mundo inteiro. As contraindicações são numerosas. Os efeitos colaterais sobre coração, fígado, rim, pâncreas e ossos devem ser avaliados cuidadosamente em paciente oncológicos com comorbidades ou em uso de medicamentos que possam sobrecarregar esses órgãos (por exemplo, regimes de cisplatina).

De acordo com a nutricionista, não há estudo em andamento no Brasil sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer. Nos Estados Unidos e na Europa, existem alguns. “O mecanismo é tão imaturo e tem se mostrado tão perigoso que inviabiliza um estudo bem desenhado, com grupo-controle, que seria o ideal em termos de evidência científica”, diz. “O paciente que faz esse tipo de dieta fica muito vulnerável, o que pode tornar o câncer mais oportunista e agravar os seus sintomas, inclusive a dor.”

Fonte:

http://sboc.org.br/noticias/item/1113-revisao-sistematica-comprova-nao-haver-beneficio-da-dieta-cetogenica-no-combate-ao-cancer

Gastrofísica - O que é e qual sua aplicabilidade ?




Ultimamente alguns profissionais da área da saúde, em especial nutrólogos e endocrinologistas estão sendo questionados por pacientes sobre conceitos de Gastrofísica.

Amada ou odiada, a gastronomia molecular tem sido um dos mais influentes movimentos alimentares da última década. Mas, como o conceito está um pouco gasto, uma nova abordagem científica (com um nome novo misturando comida e ciência) vem ganhando força: a Gastrofísica. 

O conceito de gastrofísica foi criado pelo professor de psicologia experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Prof. Dr. Charles Spence, no seu livro “Gastrophysics: The New Science of Eating by Charles Spence“. 


No livro ele defende a teoria de que se sentir satisfeito após uma refeição tem muito mais a ver com a sua mente, do que com o que está no prato. A gastrofísica estuda os fatores que influenciam as escolhas alimentares. Não só por que gostamos de comer carne de gado e não insetos, mas também as razões que nos levam a pagar mais por um prato ou uma garrafa de vinho. 

Spence aponta que somos bem suscetíveis a fatores em nada relacionados ao sabor. A nossa percepção do sabor pode mudar de acordo com vários fatores. O aroma e a nossa total apreciação da comida são influenciados por todos os sentidos (sim, até mesmo pela audição), da mesma forma que o nosso humor e expectativas.

Spence e seus gastrofísicos contemporâneos, que trabalham em áreas que vão da psicologia, da neurociência e das ciências sensoriais ao marketing, à economia comportamental e ao design – não falam sobre o “gosto de” uma refeição. Em vez disso, dizem o “sabor de”, porque sabem que o gosto, que tecnicamente só acontece na língua, é uma parte insignificante do efeito global.

Grande parte dos achados de Spence e de seus colegas fazem sentido instintivo, como o que revela que a comida colocada no prato de forma bagunçada não terá o gosto tão bom como aquela organizada perfeitamente ou artisticamente. 

E que grande parte desse corpo de conhecimentos foi usado pela Grande Indústria para manipular os consumidores desde a década de 1930, quando os fabricantes da 7-Up já sabiam que quanto mais amarela a lata, mais cítrico o sabor da bebida.  Ou que quanto mais arredondado (o produto ou o seu logotipo) mais doce ou quanto mais pontudo mais amargo.

A luz ambiente, por exemplo, pode alterar o julgamento sobre o gosto do vinho. Talheres pesados fazem a comida parecer mais gostosa. A consequência direta é que, ao se manipular fatores assim, é possível levar alguém a achar que insetos são gostosos. 

E esse não é um exemplo fictício: a equipe de Spence está de fato trabalhando na percepção humana sobre o sabor dos artrópodes. No futuro, diante de um cenário em que animais como frangos e porcos seriam insuficientes, o consumo dos bichinhos nojentos pode ser necessário. “Há indícios de que precisaremos seguir rumo a uma dieta em que eles sejam importantes fontes de proteínas”, disse Spence ao site da Revista GOSTO, após voltar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde realizou uma série de jantares.

Uma das conclusões é que o ângulo de posicionamento da comida no prato pode levar os clientes a gostar mais dele e, consequentemente, pagar um valor maior.

No seu livro The Perfect Meal: The Multisensory Science of Food and Dining (ainda sem título em Português) lançado no ano passado, ele dá algumas dicas:

1. Quem janta sozinho come menos. A gente ingere 35% mais alimentos com a companhia de uma pessoa e 75% com três pessoas ou mais. A variedade também incentiva a comer demais. Uma bacia de M&Ms multicoloridos vai terminar mais rápido do que uma tigela com os mesmos doces, mas de uma cor só.

2. A cor é mais importante que o gosto. Num teste com enólogos, Spence serviu um vinho branco tingido de vermelho e colocou ambos – original e o alterado – para degustação. Resultado: a percepção sobre cada vinho mudou completamente, apesar de se tratar de exatamente a mesma bebida. Analisaram também a influência da cor do prato sobre o consumo de alimentos. Ocorre que pratos vermelhos são um meio de reduzir a ingestão de alimentos. O fato parece estar relacionado ao menor contraste entre a comida e o prato. Também foi demonstrado que a iluminação azul desencoraja excessos alimentares. Você pode argumentar que essas estratégias são semelhantes às que cobrem a sua comida com quantidades intragáveis ​​de sal. Quem quer um prato cheio de comida sem gosto?

3. Comida cara tem gosto melhor. Os gastrofísicos gostam do artifício e têm demonstrado que, se pagamos mais por um vinho, vamos achá-lo mais saboroso. O peso também implica qualidade. Se nos são dados talheres pesados, vamos gostar mais do alimento (por exemplo, um iogurte será percebido como sendo mais cremoso), pensaremos ser de qualidade superior e estaremos mais dispostos a pagar mais por ele. Mesmo o som ambiente em restaurantes pode elevar a conta: música clássica faz com que os comensais escolham as opções mais caras do menu, enquanto a música alta aumenta as vendas de refrigerantes.

4. Segure o prato nas mãos. Aqui vai uma curiosidade sobre seu cérebro: ele não faz uma distinção entre o peso do alimento e o da louça que você está usando na hora de comer. O que isso significa? Que ao segurar o prato em suas mãos, sua mente entende que a refeição que você está prestes a fazer é substancialmente mais pesada. Aí, ela assume, por conta própria, que você está consumindo uma quantidade maior de alimento – mesmo que a realidade não seja exatamente essa.

5. Concentre-se na comida. Algo já dito pelo pessoal que estuda Mindful eating (Download gratuito do meu Ebook sobre o temaMindful eating - Comer consciente). 
Quanto mais você se envolver com sua refeição, mais satisfeito fica. “Usar o tato, a visão, o olfato, o paladar e a audição na hora de comer faz com que você sinta menos fome com o passar das horas”, confirma Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. É que nosso cérebro só decide que está na hora de parar de comer depois que teve tempo de aproveitar todas essas sensações.

6. Chame a sobremesa de doce. A dica pode soar um pouco estranha, mas Spence jura que funciona. Não custa tentar: em vez de saborear aquele pedaço de torta de maçã, experimente apreciar a torta “doce” de maçã. Quando a sobremesa recebe a nomenclatura, sua mente acaba sentindo como se estivesse trapaceando na dieta e acionando aquele famoso sistema de recompensa.

7. Imagine-se comendo o que quiser. Só o ato de pensar em devorar aquele bolo de chocolate já é suficiente para matar a vontade. “Comer mentalmente é uma das melhores estratégias para evitar a compulsão”, conta Zilli. E a tática também tem um efeito positivo no longo prazo: quanto mais você visualizar o prato sendo devorado, menos vontade você sentirá de realmente consumi-lo.

8. Aperte o play. Ouvir música durante a refeição pode ajudá-la a comer com mais calma. “Mas isso só vale para canções tranquilas e suaves, como as clássicas, que relaxam o organismo”, diz o especialista. Então, enquanto estiver sentada à mesa, evite as faixas agitadas: elas estimulam uma mastigação mais rápida, o que aumenta a quantidade de alimentos que você acaba ingerindo em uma só sentada.

9. Filme ou programas tristes te fazem comer mais. O professor Brian Wansink da Cornell Brand and Food Lab é um dos gastrofísicos famosos. Assistindo a filmes tristes, sua equipe recentemente percebeu o drástico aumento do descontrole alimentar. Espectadores assistindo filmes tristes mastigam 55% mais pipoca do que aqueles que assistem Comédias. Da mesma forma, comer na frente da TV é uma má ideia, porque você simplesmente não percebe seu corpo lhe informar que está cheio.

10. Quem decide ganha. Se você costuma sentir que fez a escolha errada em um restaurante, então saiba que: quem escolhe primeiro tende a gostar mais da comida ou da bebida. Os que escolhem depois tendem instintivamente a rejeitar o que já foi escolhido (fenômeno psicológico chamado de “necessidade de unicidade”) e acabam optando por algo que normalmente não escolheriam.

Fontes:

  • https://www.theguardian.com/commentisfree/2015/jun/03/change-way-you-eat-gastrophysics-mealtimes
  • https://www.portalgosto.com.br/chales-spence-gastrofisica/
  • https://pogatec.com.br/5-dicas-da-gastrofisica-para-perder-peso/


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Alimentação Consciente, Mindful eating, Atenção plena

Muita gente tem mandado e-mail pedindo dicas de livros sobre Atenção plena, Comer Consciente, Mindful eating. Resolvi então elaborar um post com algumas dicas de livros. Além de informar que tenho um e-book sobre o tema, com várias técnicas de mindful eating.

Deixo sempre claro para meus pacientes de nutrição comportamental não é para todos e que infelizmente há pacientes que necessitam sim de restrição alimentar, por ter alguma doença de base. Porém é uma estratégia super válida, que tem se mostrado muito eficaz principalmente quando se visa restaurar uma relação de paz com a comida. É visível a redução da ansiedade e nível de estresse dos pacientes obesos que são submetidos a esse tipo de método.

Dicas de livros sobre Comer consciente
  • O peso das dietas - Dra. Sophie Deram
  • Mindful Eating - Filomena Nascimento 
  • Atenção Plena: Mindfulness - Mark Williams e Danny Penman
  • Armadilhas da Dieta - Judith S. Beck 
  • A Armadilha das Dietas - Jason Lillis 
  • Liberte-Se da Fome Emocional - Geneen Roth 
  • Você tem fome de quê ? Confiança e Viver com Leveza - Deepak Chopra
  • E Foram Magros e Felizes Para Sempre? - Elisabeth Wajnryt
  • Atenção Plena. Mindfulness - Padraig Omorain 
  • Mente Magra, Corpo Magro - Melinda Boyd 
  • Nutrição Comportamental - Marle Alvarenga e Manoela Figueiredo
  • Descobrindo o Prazer Além da Comida - Geneen Roth
  • Mulheres Comida e Deus - Geneen Roth


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Estudo PURE e sua polêmica

Essa semana foi publicado em um dos mais antigos e renomados periódicos médicos (The Lancet) dois estudos. Um deles bastante polêmico, visto que profissionais que defendem ingestão de gordura em grandes proporções, usaram o mesmo para justificar suas condutas. De forma sensacionalista, e mostrando ignorância plena sobre epidemiologia, tais profissionais saíram alastrando pelas redes sociais que o tal estudo correlacionava ingestão de carboidrato com aumento da mortalidade cardiovascular e por outras causas.

Mas no mundo científico temos bons profissionais e pessoas que realmente sabem interpretar dados epidemiológicos. Vários colegas então prepararam posts sobre o tema e destrinchando o artigo. Mostrando para as pessoas que nada do que foi publicado é novidade. E o melhor, mostrando para seus leitores que esse tipo de profissional que demoniza um macronutriente em detrimento de outro na verdade está agindo de má fé aos olhos da ciência. Querendo mostrar que a dieta que ele aplica é superior as outras.

Então vamos às várias postagens. Ao final dos posts há o link para os dois estudos.

VISÃO 1: Dr. Guilherme Artioli - Professor, Doutor, pela USP. Pesquisador na área de nutrição esportiva.

Parece que esse estudo já está sendo distorcido para justificar algumas ideias e condutas... Publicado ontem, foram analisados ~135 mil adultos de 35-70 anos, de 18 países em 5 continentes, acompanhados por até 9 anos, totalizando ~5800 mortes e ~4800 eventos cardiovasculares. Algumas considerações:

- consumo maior de carboidratos (e, portanto, menor de gordura) foi associado com mortalidade total (28% maior risco) e por causas não-cardiovasculares (36% maior risco);

- maior consumo de carboidratos (e, portanto, menor de gordura) não foi associado mortalidade cardiovascular, tampouco com menor risco de eventos cardiovasculares;

- essa associação ocorreu quando se compara o quinto da população que mais consome carboidrato com o quinto que menos consome carboidrato (77% vs. 45% do total de energia consumida). No 3º quintil (consumo médio de 60% de CHO), já não há mais risco aumentado;

- a figura abaixo mostra com clareza que o aumento do risco de mortalidade começa a partir dos 60% de carboidratos;

- esses dados não dão nenhum suporte a dietas low-carb ou very low-carb. Esses dados apoiam a ideia de que reduzir o consumo de CHO pode ser benéfico para aqueles que consumem MUITO carboidratos em sua dieta;

- o consumo de carboidrato na população deste estudo foi bastante alto – bem acima do que muitos outros estudos costumam mostrar. Isso pode explicar a associação entre CHO e mortalidade;

- embora o estudo não tenha diferenciado a fonte de carboidrato (alimentos integrais e fontes de fibras vs. açúcares e CHO refinado/industrializado), me parece prudente que, caso necessário, qualquer redução de CHO comece pela redução dos industrializados, dos açúcares e dos refinados (e não de frutas, e etc). De qualquer modo, o estudo é populacional, e não dá subsídios para recomendações individuais. Aconselhar-se com um profissional ainda é o melhor a fazer;

- a principal mensagem do estudo está no contraponto feito às atuais recomendações POPULACIONAIS para consumo de gordura e gordura saturada. O estudo não viu aumento de risco com consumo de gordura total acima de 30%, e de gordura saturada acima de 10%, além de ter encontrado redução de risco com consumo de mono- e poli-insaturadas. Tema esse que, por sinal, a Fabiana Benatti tinha acabo de discutir no nosso blog do Ciência informa.

Abraços,

Dr. Guilherme Artioli

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VISÃO 2: Dr. Mateus Severo - Médico, endocrinologista, Doutor em Endocrinologia pela Universidade Federal de Santa Maria. Pesquisador.

O que é melhor para saúde: gordura ou carboidrato?

Sem sombra de dúvida, o melhor é ter bom senso! O assunto é polêmico e novas evidências chegam  a cada dia. No entanto, a leitura da literatura científica deve ser criteriosa. Ler apenas o título ou o resumo de um artigo não melhora em nada a assistência ao paciente. Além disso, pode contribuir para propagação de desinformação e do terrorismo nutricional. Dito isto, vamos dar uma olhada no estudo PURE, publicado no periódico médico The Lancet, em agosto de 2017.

O estudo PURE avaliou o quanto a composição da nossa alimentação é responsável por desfechos adversos como morte ou problemas cardiovasculares. Para fazer isso, os pesquisadores selecionaram pessoas entre 35 e 70 anos de idade em 18 países (incluindo o Brasil) e aplicaram questionários para saber o que essa turma comia. Mais de 130 mil indivíduos foram acompanhados por cerca de 7 anos. Após as devidas análises, os pesquisadores perceberam que o maior consumo de carboidratos aumentou o risco de morte por qualquer causa em 28%. Já o maior consumo de gordura, independente do tipo, se associou com um risco 23% menor de morrer por qualquer causa. Nem carboidratos nem gorduras foram culpados por problemas cardiovasculares. A exceção foi que o risco de acidente vascular encefálico, popularmente conhecido como “isquemia” ou “AVC”, foi menor nos indivíduos com maior consumo de gordura saturada. Olhando superficialmente, comer um monte de gordura e pouco carboidrato seria a melhor opção para saúde. Será mesmo?

Primeiramente, é importante definir o que foi o “maior consumo” tanto de gordura quanto de carboidratos. No caso dos carboidratos, a ingestão associada a aumento no risco de morte foi de 67,7% do total de calorias. No caso das gorduras, a ingestão máxima foi de 35,3%. Em outras palavras, a ingestão de carboidratos deletéria estava acima do considerado apropriado para as diretrizes (45 a 65%) e a ingestão de gordura estava dentro do considerado apropriado (20 a 35%). Ou seja, o abuso na ingestão de carboidratos pode ser parte do problema.

Quando falamos de carboidratos, falamos de açúcar, pães, massas, mas também falamos de cereais integrais, frutas e vegetais. O problema é que o estudo não faz essa diferenciação! Será que o aumento da mortalidade no grupo que consumiu mais carboidratos foi por que as pessoas comeram mais arroz integral, ou será que foi por que beberam mais refrigerante? Essa é uma informação essencial que não foi reportada. Além disso, muitas das fontes de carboidratos refinados são produtos processados, que muitas vezes costumam também conter sódio e gordura trans em excesso, dois vilões conhecidos. No entanto, esta informação também não é disponibilizada pelo estudo.
Assim como as fontes de carboidratos não são adequadamente reportadas, as de gordura também não são. Ao contrário do que possa parecer, o estudo não avaliou apenas óleos vegetais, banha ou manteiga. Avaliou a composição da dieta como um todo. Alimentos que consumimos diariamente, mesmo quando preparados sem óleo/azeite/banha, possuem gordura naturalmente (carne, peixe, queijo, castanhas, cereais, iogurte…) ou adicionada (diversos alimentos processados). Em outras palavras, podemos ter duas dietas com a mesma quantidade de gorduras e carboidratos, muito diferentes uma da outra, uma saudável e outra nem tanto.

Aliás, sabemos que nossa alimentação varia dia após dia, semana após semana, ano após ano. O estudo aplicava o questionário alimentar em intervalos de 3 anos. Será mesmo que todo paciente manteve exatamente o mesmo padrão durante todo este período? Será que alguns pacientes não modificaram suas dietas, para um consumo menor de gorduras justamente por terem um risco maior de problemas de saúde? Será que as pessoas que consumiam mais gordura não se permitiam a isso por serem mais saudáveis? São questões que os próprios autores do trabalho reconhecem não ter conseguido responder.

Por fim, este estudo definitivamente não dá respaldo a dietas com restrições extremas de carboidratos ou abusivas em gorduras (very low carb e cetogênicas), já que os participantes não comeram menos de 42% de carboidratos, nem mais do que 38% de gordura.
Em resumo, gorduras não são as vilãs que se pregava em outros tempos, desde que consumidas dentro de um padrão alimentar e de atividade física equilibrado. Já o consumo abusivo de carboidratos, especialmente refinados ou vindos de alimentos altamente processados, pode sim trazer prejuízos à saúde. Ou seja, como dito antes, o melhor é optar pelo bom senso!

Fonte:
1- Associations of fats and carbohydrate intake with cardiovascular disease and mortality in 18 countries from five continents (PURE): a prospective cohort study. August, 2017. The Lancet.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
www.facebook.com/drmateusendocrino

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VISÃO 3: Anne Karolina Paiva - Nutricionista clínica daqui de Goiânia

Sobre o novo assunto do momento: estudo do The Lancet. Já recebi inúmeros prints de posts de algumas pessoas que eu considero bem insanas... Eles estão comemorando algo que eu não consigo entender, visto que pelo jeito ninguém sabe ler estudo científico. Farei algumas considerações que achei importantes, por ora:

1- Quando ele fala em alto consumo de carboidrato, considera uma ingestão acima de 60% da energia diária vinda de carbo por dia. E não é novidade alguma saber que esse fato traz risco para a saúde, principalmente de indivíduos sedentários e daqueles que direcionam o seu consumo apenas para carboidratos simples. Então, me poupem. Ninguém precisa parar de comer farinha branca e nem pão francês. As pessoas precisam aprender sobre EQUILÍBRIO, MODERAÇÃO!

2- A partir desse estudo é possível criar hipóteses importantes para que outros estudos sejam feitos. E não pegar os achados dele como verdade incontestável e dizer que todo mundo que come carboidrato vai morrer antes que o resto. Não deixem ninguém vender dieta "low carb", "no carb", "paleo", "cetogênica" e outras como essas com o argumento desse estudo.

3- Inclusive os autores do mesmo estudo deixam bem claro que os resultados não oferecem suporte para dietas de baixíssimas concentrações de carboidratos, visto que eles são importantíssimos para a saúde.

4- Os achados de associação entre maior consumo de gorduras e menor risco cardiovascular ainda não é conclusivo. Até porque o que eles mostram como consumo maior de gorduras gira em torno de 35%, o que já era preconizado por alguns órgãos de saúde. O que foi visto é que não é uma boa ideia trocar o consumo de gorduras por carboidratos, por exemplo. Ou seja: é preciso equilíbrio entre todos os macronutrientes.

5- Vamos esperar um pouco mais para opinar sobre uma maior ingestão de gorduras saturadas (que eu acredito que, se mudar a recomendação, não vai ser para quantidades absurdas), até porque saber que gorduras mono e poliinsaturadas são ótimas para saúde não é novidade, né?

6- Pelo amor de Deus, vamos usar estudos importantes como esse para abrir a mente e não para vender charlatanismo e transtorno.

Anne Karolina Paiva

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VISÃO 4: Profissional da Educação física e Estudante de Medicina da UFRJ - Samir Khalil

O PURE, estudo que propôs avaliar a associação do consumo de #carboidratos e #lipídeos com as #doenças cardiovasculares e mortalidade sacudiu a área da #saúde e o mundo #fitness.
Farei apenas algumas observações aqui para Reflexão:

1) Mesmo com falhas e alguns equívocos, o estudo não é um ruim ao meu ver. Muito pior do que o estudo são as atitudes de certos profissionais que usaram desse #artigo com várias limitações de fácil percepção para justificar medidas nutricionais radicais que não são sustentadas por estudos de maior evidência, como estudos que utilizam modelos clínicos e revisões sistemáticas com meta-analise.

2) O estudo, mesmo não dizendo forma direta, mostra por meio de seus dados algo comprovadamente conhecido: Ingestão exagerada carboidratos traz riscos. Mas como saber o que é exagero? O #exagero é melhor analisado de forma comparativa, ou seja, fazendo uma análise do tipo: Percentual de energia do VET oriundo do consumo de carboidratos de forma bruta x Percentual de energia do VET oriundo do consumo de carboidratos encontrados nas Evidências de maior peso. Logo, devemos confrontar o valor bruto com os valores da Evidência para melhor avaliar o exagero e não apenas restringir a análise ao valor bruto em comparação aos outros #macronutrientes. Se comparar de modo "mais adequado", como o proposto, irá observar que o consumo elevado de #carbo, 77% da energia do VET, retrata um aumento de quase 50% em relação à maioria dos protocolos dietéticos, os quais preconizam valores entre 50 e 55% da energia do VET. Ou seja, um exagero em relação à Evidência e não um exagero cego como muitos analisam de forma equivocada.

3) O estudo não discriminou as fontes de carboidratos consumidas e sabemos que o consumo de carboidratos #refinados e muito processados aumentam o risco #cardiovascular. Assim, como o consumo de #industrializados é grande mundialmente, perdemos a precisão para essa análise.

4) Consumir 30 a 35% de gorduras não é sinônimo de alta Ingestão de #gorduras, inclusive está dentro de padrões bem aceitáveis.

Baseando nos dados e não em sua conclusão, esse artigo suporta melhor a ideia do #equilíbrio nutricional do que a do #radicalismo.

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VISÃO 5: Dr. Gustavo Duarte Pimental - Nutricionista e Doutor em Nutrição. Professor da Universidade Federal de Goiás. Pesquisador.

Um recente estudo publicado no The Lancet avaliou mais de 135 mil pessoas e mostrou que:

O MAIS ALTO consumo de carboidratos (77,2% das calorias totais provenientes dos carboidratos) foi associado com maior risco relativo de morte total quando comparado a BAIXA ingestão de carboidratos (46,6% das calorias totais provenientes dos carboidratos).

Meus comentários:

- Leiam o estudo inteiro antes de criticar!

- Veja que o risco foi aumentado apenas quando foi comparado os extremos de ingestão de carboidratos, ou seja, a mais baixa com a mais alta ingestão.

- Observe que consumir carboidratos na qtde de 45-55% (pode variar) não aumentará o seu risco de morte!

- É óbvio que a alta ingestão de carboidratos (principalmente dos refinados), tais como do açúcar que é adicionado nas preparações, doces, bombas de chocolate, etc aumentará sua chance de morte total ou por doença cardiovascular.

- Observe que em momento algum o estudo falou de low-carb.

- Sobre as gorduras, eu deixarei para falar em outro post!

Amanhã é o dia do nutricionista e sabe qual é a minha maior tristeza? Ver ex alunos e "profissionais" da área dizendo que comer qualquer qtde de carboidrato vai te matar.

- Parem de acreditar em "profissionais" que usam erroneamente as informações científicas, ou seja, parem de aplaudir aqueles que querem justificar o injustificável.

Fonte: Dehghan, et al. The Lancet. 2017.

http://www.thelancet.com/…/lan…/PIIS0140-6736(17)32252-3.pdf


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sozinho, exercício não emagrece, mas aumenta músculo e limita fome


Reportagem bem interessante publicada na folha de São Paulo. Corrobora com aquilo que ha anos falo para os meus pacientes obesos. Principalmente no SUS (ambulatório de Nutrologia que coordeno), onde muitos não possuem condição de pagar uma academia e acham que isso é fator limitante para o processo de emagrecimento.

Deixo claro que o efeito da atividade física é baixo na eliminação de gordura. PORÉM, ela tem um efeito quase medicamentoso promovendo:

  • Redução da pressão arterial
  • Aumento da taxa metabólica basal mesmo que pequeno
  • Aumento da massa magra
  • Aumento da densidade mineral óssea evitando osteoporose
  • Aumento da produção de beta-endorfinas com redução dos níveis de estresse e ansiedade
  • Melhora da produção de testosterona e GH
  • Redução dos níveis de cortisol
  • Melhora do sono
  • Redução do apetite (EM ALGUNS PACIENTES, pois outros referem o contrário)
  • Manutenção do peso eliminado