terça-feira, 5 de junho de 2018

A precoce introdução de alimentos complementares na alimentação infantil

Sobrepeso e obesidade correspondem à problemas primários de saúde infantil em países de alta renda. Dentre os múltiplos determinantes da obesidade infantil identificados, a alimentação tem sido apontada como importante etiologia e potencialmente modificável.  A amamentação tem sido associada à proteção contra o sobrepeso infantil, contudo, há ainda debate se tal proteção ocorre devido ao fato dessas mães serem menos obesas. 

Outro fator importante corresponde ao momento de introdução de alimentos complementares. Tem sido sugerido que a precoce introdução de alimentos complementares (< 3-4 meses de idade) está associada a maior risco de sobrepeso e obesidade. Além do momento de introdução, o conteúdo proteico desses alimentos complementares também merece destaque. Prévios estudos mostraram que a alta ingestão de proteína (até 12meses de idade) foi associada ao aumento de risco de obesidade infantil.

O estudo de Morgen e colaboradores objetivou examinar se algumas variáveis (duração da amamentação, tempo de introdução de alimentos complementares, e ingestão proteica) presentes aos 18 meses de idade estavam associadas com índice de massa corpórea (BMI) e com sobrepeso aos 7 e 11 anos de idade [Morgen et al. Breastfeeding and complementary feeding in relation to body mass index and overweight at ages 7 and 11 y: a path analysis within the Danish National Birth Cohort. The Am J Clin Nutr, 107(3):313-22, 2018; https://doi.org/10.1093/ajcn/nqx058].

Para tal, crianças que participaram do Danish National Birth Cohort foram acompanhadas até a idade de 7 e 11 anos. Foram registradas informações sobre alimentação, ingestão proteica aos 18 meses de idade.  Além disso, foram coletados índice ponderal ao nascimento e BMI (aos 5 e 12 meses e aos 7 e 11 anos). Análise específica foi usada para avaliar os efeitos diretos e indiretos da alimentação infantil no escore z do índice de massa corpórea (BMIz) nas crianças com idade de 7 (n = 36.481) e 11 anos (n = 22.047). Análises de regressão logística examinaram as associações com sobrepeso.

Os resultados mostraram que a duração do aleitamento não foi associada ao índice de massa corpórea [escore z do índice de massa corpórea (BMIz)]. A precoce (< 4 meses de idade) introdução de alimentos complementares não foi associada a alto BMIz nas crianças com 7 anos, mas foi associada a maior (0,069) BMIz (95% CI: 0,021; 0,117; P = 0,005) e a maior risco de sobrepeso (OR 1,44; 95% CI: 1,04; 2,00; P = 0,03) nas crianças com 11 anos. A ingestão de proteína originada de produtos lácteos (por 5g/dia) foi associado ao maior BMIz aos 7 anos apenas (OR: 0.,12; 95% CI: 0,003; 0,021; P = 0.,07). A ingestão de proteína originada de carne e peixe (por 2g/dia) foi associada a maior (0,010) BMIz (95% CI: 0,004; 0,017; P = 0.,03) aos 7 anos, a maior (0,013) BMIz (95% CI: 0.005, 0.020; P = 0.002) aos 11 anos e maior probabilidade (OD) de sobrepesos aos 7 anos (OR: 1,07; 95% CI: 1,03; 1,10; P < 0,001), mas não nas crianças com 11 anos.

Os autores concluíram que a maior ingestão de proteínas derivadas de carne e peixe foi associada ao maior índice de massa corpórea (BMIz) e ao maior risco de sobrepeso na infância. Tais resultados não muito expressivos em termos absolutos, podem ter impacto populacional. A precoce introdução de alimentos complementares pode estar associada ao BMIz e ao sobrepeso na infância tardia. Ausência de associações consistentes foram encontradas entre a duração do aleitamento, ingestão de produtos lácteos e BMIz infantil e sobrepeso.

Fonte: http://abran.org.br/sem-categoria/a-precoce-introducao-de-alimentos-complementares-na-alimentacao-infantil/

3 documentários com Ernst Götsch – O Guru da Agrofloresta


É preciso preservar, mas é possível regenerar. O agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch é prova de que a agricultura regenerativa pode ser um caminho de desenvolvimento para o país. Estabelecido em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia desde os anos 80, vem desenvolvendo técnicas de recuperação de solos. O equivalente a 480 campos de futebol foi recomposto, dos quais 350 se transformaram na primeira Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) da Bahia. 

Além da colheita agrícola, observou-se que a fazenda desenvolveu seu próprio microclima, 14 nascentes de água foram recuperadas e a fauna repopulou o lugar. A partir do experimento – chamado de agricultura sintrópica –, Götsch elaborou um conjunto de princípios e técnicas para integrar produção de alimentos e regeneração natural de florestas que tem sido adaptado a diferentes regiões e climas nos últimos 30 anos.

Götsch explica em seu texto “Homem e Natureza, Cultura na Agricultura: “Observe o que a natureza faz, aprende com ela e tenta copia-la! Por exemplo, se tu queres cultivar feijão e milho, planta também a cana e umas laranjeiras, além de muitas outras espécies. Isto significa plantá-las todas juntas, ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Nesse consórcio de milho, feijão e outras espécies, cabe ainda, por exemplo, bananeiras, capim elefante, mandioca, inhame, pimenta malagueta, sapoti, leucena, mulungu, sapucaia, mangueira e ainda pimenta do reino nas árvores altas do futuro.”

“Cada espécie contribuirá para completar o consórcio e para que todas as outras prosperem melhor. Nenhuma delas cresce ou produz menos devido à presença das demais, pelo contrário, cada uma depende da outra para conseguir chegar ao estágio de desenvolvimento ótimo.”

Segundo Götsch, seu objetivo maior é mostrar que não existe terra ruim, mas interações inadequadas. “É claro, consigo mostrar melhor esse fato se pegarmos um lugar degradado. Fica mais fácil de compreender o potencial da terra”, explica. Tanto que seus princípios podem ser utilizados em diversos ecossistemas. “Amazônia, Cerrado, Altiplano Boliviano, Caatinga, eu vi que todos esses lugares podem ser um paraíso quando bem trabalhados”, diz.

Abaixo, três documentários que mostram como Ernst Götsch, agricultor e pesquisador suíço, tem recuperado nos últimos 30 anos terras degradadas, transformando-as em ecossistemas ricos. E mais: produzindo alimentos.

1- Vida em Sintropia: https://vimeo.com/146953911
Um curto documentário, genial, sobre o maravilhoso trabalho de Ernst Gotsch em “Agricultura Sintrópica”. Como esse documentários este grande senhor conseguiu transformar 1200 hectares de área desértica num oásis de vida e abundância de alimentos, num equilíbrio perfeito entre agricultura de larga escala e o eco-sistema, ao ponto de ter mudado o clima (!!!) e solo da sua propriedade!! Haja esperança na humanidade. Sim, é possível. Vamos espalhar  a sua semente e juntos podemos fazer a diferença!!

Documentário realizado por Felipe Pasini, Ilana Nina e Monica Soffiatti. “Neste Chão Tudo Dá – semeando conhecimento e colhendo resultados” é um registro informal realizado durante uma viagem pela Bahia sobre o trabalho e o pensamento do agricultor e pesquisador Ernst Gotsch. Além disso, ainda conhecemos a vida de agricultores que conseguiram aumentar a qualidade de vida de suas famílias através da prática agroflorestal.
O título do documentário é muito feliz em lembrar da primeira definição oficial dada ao Brasil, na carta de Pero Vaz de Caminha (escriba de Pedro Álvarez Cabral) ao então Rei de Portugal: “é uma terra em que se plantando, tudo dá”.

3- Abundância: https://vimeo.com/48481368
Documentário filmado no Workshop de Agrofloresta com Ernest Gotsch, organizado pela Cooperativa Sitio, em Mangualde, Portugal, sobre o conhecimento e filosofia por trás deste modo de agricultura sustentável e o interesse que suscita em tantas pessoas.

Para refletir:  Ernst faz um breve comentário sobre o sistema opressivo e totalitário em que vivemos.

O que é o 'ikigai', o segredo japonês para um vida longa, feliz e saudável

Você sabe por que se levanta pela manhã? Se consegue responder a isso, então, você já encontrou seu ikigai, um conceito japonês antigo que pode ser a chave para uma vida longa, feliz e saudável.

Não existe uma tradução direta para o termo. O mais próximo que se pode chegar é a descrição feita por Ken Mogi, autor do livro "Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz" (Astral Cultural, 2018).

"Ikigai é a sua razão de viver", diz o neurocientista japonês. "É o motivo que faz você acordar todos os dias."

O conceito vem de Okinawa, um grupo de ilhas ao sul do Japão com uma população de moradores centenários bem acima da expectativa de vida média, mesmo para os padrões japoneses.

Muitos acreditam que o ikigai é o segredo de sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, como explica Mogi, e a ideia representada por ele está se espalhando para outras partes do mundo.

Segundo o autor, é "muito importante identificar as coisas que você gosta de fazer e que te dão prazer, porque elas dão propósito à vida e levam a uma existência longa e feliz".

"E não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que você quer fazer com ela", afirma.

O ikigai também é algo muitas vezes relacionado à vitalidade.

"É a felicidade que vem de sempre ter algo para fazer, de estar ocupado", diz Francesc Miralles, que, junto com Héctor García, escreveu "Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz" (Intrínseca, 2016).

A ideia por trás disso é que, "se você encontra algo que dê sentido à sua vida, isso o faz seguir em frente e o mantém motivado", diz Miralles.

Como achar seu 'ikigai'?
Não é difícil, segundo Mogi. Você pode começar por algo simples como beber uma xícara de café pela manhã.

"Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e grandes metas que a vida acaba se tornando intimidadora. O legal do ikigai é que você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida."

Ser fácil de começar é um dos fatores que levam cada vez mais pessoas de fora do Japão a se interessarem pelo conceito, e alguns livros já foram publicados sobre o assunto.

"Qualquer um pode partir do que está ao seu alcance e começar a sentir-se bem e a experimentar os benefícios que isso traz antes de, gradualmente, evoluir para objetivos maiores."

Mas todo esse bem-estar em potencial depende de um pequeno detalhe: encontrar um ikigai.

E se você não sabe o que mexe com você?
"Você precisa observar a si mesmo", recomenda Mogi.

"Parta do zero, olhe-se no espelho: que tipo de pessoa é você? Pense no passado e no que te dá prazer. Isso te dará uma pista. Como neurocientista, eu acredito que as coisas que nos dão prazer são reflexos do tipo de pessoas que nós somos."

Mas ampliar seu horizonte para objetivos maiores pode ser mais complexo. "Se você não sabe o que quer da vida, comece fazendo uma lista do que você não quer, quais situações te deixam desconfortável ou infeliz, quais atividades prefere evitar", aconselha Miralles.

"Você pode descobrir que há várias coisas que te deixam feliz: aprender coisas novas, cuidar do jardim, ajudar outras pessoas, resolver problemas, fazer música... ou vender coisas, falar em público."

Miralles admite que encontrar um ikigai não é sempre um processo simples. "Há pessoas que sabem o que querem ser desde a infância, mas a maioria de nós não sabia o que queria."

E há o peso do cotidiano: "Vamos à escola, buscamos emprego, lidamos com obrigações e pagamos contas... e, com isso, podemos nos distanciar de nossos impulsos naturais".

Para ajudar a encontrar sua paixão, o escritor sugere seguir o conselho do cientista da computação e palestrante motivacional Randy Pausch (1960-2008): "Resgate seus sonhos de infância. Quais eram? Desenhar por horas? Dançar? Correr? Pense em quando era pequeno e no que te deixava feliz e você não faz mais".

"A beleza do ikigai é que é algo muito pessoal", diz Mogi. "Não é algo dado a você, de forma passiva. Você precisa explorar sua mente e cultivar seu ikigai."

Isso torna-se muito importante em sociedades como a japonesa, que podem ser vistas como bastante homogêneas, afirma Mogi, "porque cada pessoa tem seu ikigai, e isso vira uma forma de celebrar as diferenças individuais".

Quantos 'ikigais' você pode ter?
Há muitas formas de ter prazer. Na verdade, é importante ter vários ikigais, dos mais simples aos mais ambiciosos.

"A maioria das religiões só acreditam em um Deus. Mas, no Japão, acreditamos que há 8 milhões de deuses", diz Mogi.

"Isso influencia como os japoneses veem o ikigai: não acreditamos que há só uma coisa importante, não perseguimos apenas um objetivo, pode haver milhares de coisas diferentes que podem nos dar prazer."

Mogi dá um exemplo como isso se aplica em sua vida prática. "Meu ikigai menor é correr 10 km em Tóquio todos os dias. Mas, como cientista, minha maior alegria é ter ideias novas e, talvez, dar uma contribuição para o mundo. Isso também é meu ikigai".

Há alguma prova de que o 'ikigai' funciona?
Mogi está convencido de que sim, e aponta estudos realizados pela Universidade Toho, em Tóquio, que investigam o sentido e significado da vida e sua correlação com a taxa de mortalidade em idosos.

De acordo com estudos realizados com idosos que levam um estilo de vida equilibrado, há uma correlação entre longevidade e ter uma razão de viver: seu sistema imunológico - e, em especial, um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo - atua melhor, ajudando a mantê-los saudáveis por mais tempo.

Em uma outra pesquisa, a neuropsicóloga americana Patricia Boyle, do Centro Rush para Mal de Alzheimer, em Chicago, acompanhou 900 idosos que corriam o risco de desenvolver demência em um período de sete anos.

Ela concluiu que aqueles com uma boa noção de seu propósito de vida tinham 50% menos chances de ficar doentes.

"O cérebro humano tem uma habilidade incrível de regular as funções do corpo. Em alguns casos, pode se curar por conta própria, como demonstrado pelo efeito placebo", afirma Mogi.

"Se você acha seu ikigai, as pequenas coisas que dão significado à vida podem te ajudar a preservar sua saúde por mais tempo."

Quem são os mestres do 'ikigai'?
Quando Francesc Miralles e Héctor García visitaram Ogimi, um vilarejo de Okinawa, eles chegaram à mesma conclusão sobre a relação entre a longevidade e o ikigai.

Ogimi tem 3 mil habitantes e está no Livro Guinness dos Recordes por ter a população mais velha do mundo. Também é um epicentro do ikigai.

Não é uma surpresa, portanto, que Okinawa seja conhecida como a "Terra dos Imortais".

As pessoas dessa região do Japão tiram proveito do clima subtropical, têm uma dieta rica em frutas e vegetais, moram em comunidades onde se valorizam os laços pessoais e se mantêm ativas fisicamente por toda a vida.

Miralles e García se interessaram pela "história do vilarejo de centenários, onde tantas pessoas vivem além dos 100 anos". "Queríamos descobrir o porquê disso", diz Miralles.

"Como parte de nosso trabalho de campo, perguntamos aos idosos de Ogimi o motivo de estarem sempre alegres, por que cuidavam uns dos outros, o que os fazia ter laços tão fortes uns com os outros... e uma palavra era mencionada com frequência: ikigai."

Um dos aspectos que diferenciam o ikigai de simplesmente ter um hobby é que não se trata de obter uma gratificação instantânea. É algo que impulsiona a pessoa rumo ao futuro e a faz seguir em frente.

Miralles diz que há outros lugares do mundo com condições de vida semelhantes às de Ogimi, mas não com a mesma proporção de moradores centenários. Então seria o ikigai o segredo da longevidade? "Acredito que essa seja a diferença."

Expectativa de saúde x expectativa de vida
Outro fator que diferencia os centenários de Okinawa é sua expectativa de saúde maior - eles permanecem saudáveis por quase toda a sua longa vida.

O Estudo Centenário de Okinawa é uma pesquisa contínua com essa população feita por uma equipe internacional de médicos que coleta dados sobre o tema desde 1975.

Ele revela que os idosos desta região japonesa não têm apenas uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo em relação a uma série de doenças crônicas ligadas ao envelhecimento, mas uma das maiores expectativas de saúde do planeta.

Fazendo o 'ikigai' funcionar para você
É claro que nem todos nós podemos levar uma vida idílica em Okinawa, "mas todos podemos 'criar nossa Okinawa' onde estamos", segundo Miralles.

Ele destaca que, ainda que essa região seja bem diferente do resto do país, outras partes do Japão adaptaram o conceito às suas vidas, mesmo em ambientes urbanos.

Para trazer o ikigai para sua vida você não precisa se mudar, mas apenas entender a essência do conceito e torná-lo parte do seu cotidiano.

"O ikigai pode te servir de apoio sem que seja necessária a aprovação de outras pessoas para isso", diz Ken Mogi.

"Trata-se de descobrir o que te faz feliz. Não é preciso que outras pessoas te avaliem e te premiem por isso."

Então, se você quiser ter uma vida longa e saudável, vale a pena tentar descobrir seu ikigai. "Não é apenas bem-estar. O Ikigai também é uma esperança para o futuro", afirma o neurocientista japonês.

Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/o-que-e-o-ikigai-o-segredo-japones-para-um-vida-longa-feliz-e-saudavel.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1

EMBRAPA lança e-book sobre cultivo de hortas em pequenos espaços

Uma das publicações mais baixadas entre os títulos disponibilizados para downloads no portal da Embrapa, o livro “Horta em Pequenos Espaços” ganhou mais um atrativo e pode ser lido também na versão digital (e-book), em formato e-pub. Primeira publicação da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) a receber esse tratamento, o livro eletrônico pode ser baixado gratuitamente na página da Unidade.

Além de contemplar um público leitor conectado e interessado em ações interativas, esse formato torna o conteúdo mais acessível a alguns públicos que não teriam acesso ao livro físico, a exemplo das pessoas com dificuldades visuais. Existem tecnologias disponíveis que transformam informações escritas na plataforma e-pub em áudio.

O acesso a essa plataforma exige, fundamentalmente, a instalação de um aplicativo leitor de e-pub no smartphone ou tablet – Há vários e diferentes aplicativos disponíveis no Google Play e no Apple Store, bastando pesquisar o termo ‘e-pub’.

Após a instalação do leitor, o próximo passo é fazer o download do e-book “Horta em Pequenos Espaços” no dispositivo móvel.

MESMO CONTEÚDO, NOVA PLATAFORMA

Dividido em quatro capítulos, o livro aponta – em linguagem simples e objetiva – os passos básicos relacionados às diferentes etapas de cultivo: plantio, manejo e manutenção das hortas em pequenos espaços, ou os denominados espaços alternativos para o cultivo como pneus, garrafas pet, canos de PVC, baldes e latas.

Para a supervisora do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias (SPAT) Flávia Clemente, que divide a edição técnica do “Horta em Pequenos Espaços” com a analista Lenita Haber, da área de Transferência de Tecnologia, a nova plataforma só traz ganhos, “em todos os sentidos”.

“Vejo como muito positivo esse formato, tanto no que diz respeito ao modo operacional para reduzir custos de impressão, quanto na maneira mais plena e acessível de as informações serem disponibilizadas, além de aumentar a amplitude da marca Embrapa”, acentua a supervisora, para quem “a nova ferramenta se adapta ao novo conceito de leitura ao acompanhar o processo evolutivo da comunicação digital”.

Para fazer o download do material completo acesse https://bit.ly/1E55dYt

Para mais informações sobre o tema, acesse o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da Embrapa através do endereço www.embrapa.br/fale-conosco/sac/.

Via Embrapa – Anelise Macedo / CI Orgânicos

Embrapa Hortaliças
hortaliças.imprensa@embrapa.br
Telefone: (61) 3385-9110

6 programas de saúde pública do Brasil considerados referência no mundo

Vale a pena ler: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2018/06/05/6-programas-de-saude-publica-do-brasil-considerados-referencia-no-mundo.htm

terça-feira, 22 de maio de 2018

CFM alerta: Pós-graduação não garante obtenção de título de especialista

A simples existência de um curso de pós-graduação lato sensu, ainda que reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), não habilita o médico se anunciar como especialista, tendo somente valor acadêmico. Apenas duas formas podem levar o médico a obter a  especialização: 

  1. por meio de uma prova de títulos e habilidades das Sociedades de Especialidades filiadas pela Associação Médica Brasileira; 
  2. e/ou por residência médica reconhecidas pela Comissão Nacional de Residência Médica. 

O alerta é feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) que debateu o assunto em Sessão Plenária  em Brasília. “O CFM está atento a propagandas de alguns cursos de pós-graduação que induzem interpretação equivocada”, afirmou o presidente da entidade.

A Plenária do CFM ressaltou que o médico somente poderá anunciar especialidade quando estiver registrado o título no Conselho Regional de Medicina em que estiver inscrito.

Seguem algumas perguntas e respostas importantes:

1. Fiz pós-graduação lato sensu em área que não é considerada especialidade médica pelo CFM. Posso anunciá-la?
R: Não. Por terem potencial para confundir o paciente, esses títulos não devem ser anunciados.

2. Tenho pós-graduação em geriatria, mas não possuo o título de especialista. Posso inserir a palavra "geriatria" em meu carimbo?
R: Não. Para se apresentar como geriatra ou profissional de geriatria é preciso ter o título de especialista em geriatria, adquirido por meio do programa de residência médica ou por
avaliação de sociedade de especialidade reconhecida pelo CFM. O paciente deve ter absoluta clareza sobre a formação do médico que o atende.

3. Sou psiquiatra. A medicina do sono é uma área de atuação da psiquiatria. Não tenho título de sociedade relacionado a esta área, mas fiz pós-graduação lato sensu neste campo. Posso anunciá-la, já que esta área do conhecimento tem relação com a minha especialidade?
R: Não. Para anunciar-se como profissional de determinada área de atuação faz-se necessário ter título adquirido por meio do programa de residência médica ou por avaliação de sociedade de especialidade reconhecida pelo CFM. Adicionalmente, este
título deve ser registrado no CRM local. 

4. Sou cardiologista e fiz um mestrado em psiquiatria. Posso fazer referência a esse título no material de meu consultório de cardiologia, nos cartões de visita e em outras peças de
publicidade e papelaria?
R: Não. A resolução o impede associar títulos acadêmicos à sua especialidade médica quando não são da mesma área. O CFM entende que o anúncio desse título confunde o paciente. Esse tipo de anúncio induz o paciente a crer, por exemplo, que o mestrado torna o profissional um psiquiatra ou cardiologista mais habilitado, o que não é verdade. De qualquer modo, você pode anunciar todos os títulos que possui relacionados à sua
especialidade. Eles só precisam ser previamente registrados no CRM local.

5. Os treinamentos que realizei, mas que não resultaram em título acadêmico, relacionados com minha especialidade, podem ser anunciados?
R: Sim. Antes de anunciá-los, no entanto, você deve registrá-los no CRM local.


Saiba mais com a Resolução CFM nº 1634/2002:
(http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2002/1634_2002.htm).

domingo, 20 de maio de 2018

Luz como disruptor endócrino


A iluminação noturna é uma marca do mundo moderno, mas devemos lembrar que a eletricidade tem pouco mais de um século e nos milhões de anos anteriores de vida humana na Terra estávamos sujeitos a um ritmo diário preciso, com luz solar durante o dia e escuridão noturna.

Nesse sentido, será que a exposição à luz noturna não causa também perturbações no nosso metabolismo? E a resposta é: sem dúvida nenhuma. 
A conseqüência mais conhecida da presença de luz noturna é a redução da secreção de melatonina, um hormônio que sinaliza ao nosso corpo que é noite. Essa redução pode levar a distúrbios do sono, mas há vasto campo de pesquisa mostrando, em animais, que essa perturbação circadiana e redução da melatonina leva a alterações metabólicas como ganho de peso, resistência à insulina, diabetes tipo 2 e outras complicações. Em humanos, há menos dados, mas há sim evidências que pessoas expostas a excesso de iluminação tem saúde metabólica pior.

Uma das hipóteses seria que a melatonina ajuda nosso corpo a realizar a lipólise (quebra de gordura) e aumenta o gasto energético por aumentar nossa gordura marrom, uma gordura que usa energia para fazer calor, mais ativa durante o frio, para nos proteger, mas que possa se ativar em outras condições. Esse é o tema da minha tese de doutorado, que estou para concluir e pretendo em breve trazer novidades. Vou também discutir outros aspectos relacionados ao tema nas próximas semanas. Mas independentemente disso, o tema é muito fascinante e mostra como há muitas outras razões além do "comer muito e se exercitar pouco" na causa da obesidade.

Atenção: isto não significa que usar melatonina emagrece; esse pode ser tema de outra postagem --> apenas que a perturbação do nosso ritmo diário, em que a redução da melatonina é uma das características, pode ser uma causa de ganho de peso no longo prazo! 
Para quem se interessa, coloco um artigo sobre o assunto no link, em inglês.


Autor: Dr. Bruno Halpern

Fiocruz divulga nota contra flexibilização de lei sobre agrotóxicos

Em Nota Pública, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) se posiciona de forma contrária ao Projeto de Lei 6299/02, que trata do registro de agrotóxicos no país, com votação prevista no Congresso Nacional nesta terça-feira (8/5). Para a Fundação, o projeto visa alterar em profundidade o Marco Legal sobre o tema (lei 7.802/1989), que negligencia a promoção da saúde e a proteção da vida, e configura uma desregulamentação que irá fragilizar o registro e reavaliação desses produtos no Brasil. A proposta significa um retrocesso que põe em risco a população, em especial grupos populacionais vulnerabilizados como mulheres grávidas, crianças e os trabalhadores envolvidos em atividades produtivas que dependem da produção ou uso desses biocidas.

A instituição vem produzindo pesquisas que evidenciam os impactos negativos dos agrotóxicos para a saúde, o ambiente e a sociedade. A Fiocruz ressalta que o cenário de enormes vulnerabilidades sociais e institucionais existentes na maioria dos territórios onde há uso de agrotóxicos, que interferem diretamente na ocorrência dos casos de intoxicação, constitui uma situação verdadeiramente preocupante, e que pode ter repercussões graves e irreversíveis para gerações atuais e futuras.

Confira a nota na íntegra:

Nota pública contra a flexibilização da legislação de agrotóxicos
A expansão das commodities agrícolas impulsionou o mercado de agrotóxicos no Brasil, que hoje configura-se como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. O uso desses biocidas representa um grave problema de saúde pública devido tanto à toxicidade dos produtos quanto às enormes vulnerabilidades socioambientais e político-institucionais que o país enfrenta.

As recentes mudanças na conjuntura política no país impuseram uma série de medidas na seguridade social, observadas principalmente a partir das perdas de direitos presentes na reforma trabalhista realizada sem um amplo debate junto à sociedade brasileira e também pela ameaça de uma reforma previdenciária, realizadas para atender aos interesses do grande capital. É neste bojo que se coloca a retomada da pauta das mudanças no marco legal de registro de agrotóxicos no país, cujas alterações propostas foram agrupadas em um conjunto de projetos de lei denominado “Pacote do Veneno”, capitaneado pelo agronegócio e que busca flexibilizar o registro de agrotóxicos ao alterar em profundidade a lei 7.802/1989, negligenciado a promoção da saúde e proteção da vida.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem como missão institucional promover a saúde e o desenvolvimento social, gerar e difundir conhecimento cientifico e tecnológico e ser um agente de cidadania, sendo pautada pelo compromisso ético de produção de uma ciência crítica e engajada em defesa da saúde e do ambiente. Historicamente, a instituição vem produzindo pesquisas que evidenciam os danos relacionados ao uso dos agrotóxicos para a saúde, o ambiente e a sociedade, demonstrando claramente seus impactos. Do mesmo modo, a Fiocruz tem divulgado notas públicas evidenciando estes impactos e alertando para o risco do uso de agrotóxicos. Assim, a Fiocruz não pode se eximir de posicionar-se publicamente diante de situações que representem a negação de seu compromisso ético e institucional, e mesmo do própria conhecimento científico.

Nesse contexto, a Fiocruz se coloca contrária ao Projeto de Lei 6.299/2002, com votação prevista para 8 de maio de 2018 no Congresso Nacional e que, se aprovado, irá fragilizar o registro e reavaliação de agrotóxicos no país, que hoje tem uma das leis mais avançadas no mundo no que se refere à proteção do ambiente e da saúde humana.

As principais mudanças propostas incluem:

•    A mudança do nome “agrotóxicos” pelas expressões “defensivo fitossanitário” e “produtos de controle ambiental” em uma estratégia que oculta as situações de risco ao comunicar uma falsa segurança desses produtos químicos;

•    A centralização do poder decisório sobre a regulação dos agrotóxicos no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). De acordo com as alterações propostas, caberá ao Mapa a análise toxicológica e ecotoxicológica para a aprovação de registro de produtos, hoje atribuições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Também caberá ao órgão o estabelecimento de diretrizes para reduzir os impactos dos agrotóxicos sobre o ambiente e a saúde humana, dentre outras funções. Com as mudanças estes órgãos passarão a ter papel meramente consultivo, em uma estratégia que suprime a atuação reguladora do Estado ao deixar decisões que deveriam ser técnicas nas mãos do mercado;

•    A inserção da análise de risco, permitindo que produtos que hoje têm o registro proibido em função do perigo que representam – como aqueles que causam câncer, mutações, desregulações endócrinas e más-formações congênitas – passem a ter o registro permitido se o risco for considerado “aceitável”, banalizando o risco.

As alterações propostas representam um retrocesso que põe em risco a população, em especial grupos populacionais vulnerabilizados como mulheres grávidas, crianças e os trabalhadores envolvidos em atividades produtivas que dependem da produção ou uso desses biocidas. Somando-se a isso o cenário de enormes vulnerabilidades sociais e institucionais existentes na maioria dos territórios onde há uso de agrotóxicos, que interferem diretamente na ocorrência dos casos de intoxicação, tem-se uma situação verdadeiramente preocupante, e que pode ter repercussões graves e irreversíveis para gerações atuais e futuras, com custos de curto, médio e longo prazo.

A regulação de agrotóxicos não pode ser tratada de forma simplista, com a proposição de mudanças voltadas para atender aos interesses do mercado. A falsa justificativa de que é preciso “dar celeridade aos processos de registro” trata as avaliações hoje conduzidas como burocracias desnecessárias que representam entraves à economia, sendo esse um entendimento equivocado e perigoso que pode trazer prejuízos incomensuráveis para a saúde, o ambiente e a sociedade. Ao invés de resolver a precarização técnica e humana da estrutura reguladora, propõem sua desregulação. É preciso que haja rigor no processo de avaliação e que sejam ofertados aos órgãos competentes, tais como a Anvisa e o Ibama, condições adequadas de trabalho – materiais e pessoais – para que o processo de avaliação e registro de agrotóxicos possa ser conduzido com todo o rigor necessário para a proteção da vida e a defesa de um ambiente equilibrado.

A Fiocruz reafirma seu compromisso de defender o ambiente e a saúde, compreendendo que os interesses econômicos jamais podem se sobrepor aos de defesa da vida.”

Declínio da fertilidade masculina. Um caso ainda pouco estudado de suicídio ecológico; análise de Luiz Marques (IFCH/Unicamp)

A revista Nature ecology & evolution acaba de publicar um trabalho intitulado “Suicídio ecológico em micro-organismos” [I]. O artigo lembra que, ao lado de interações sociais positivas nas quais cada indivíduo beneficia-se das ações coletivas de seus pares, constata-se também o seu inverso:
“Organismos podem, da mesma forma, mostrar interações negativas ao mudar o meio ambiente em maneiras que lhes são prejudiciais, por exemplo, por depleção dos recursos ou por produção de subprodutos tóxicos”.
Os autores observam nesse trabalho que, quando uma população de uma espécie de bactéria de solo, a Paenebacillus, é alimentada de modo a permitir reprodução ilimitada, essas bactérias “modificam o pH ambiente em tal grau, que essa alteração leva a uma rápida extinção de toda a população, um fenômeno que chamamos suicídio ecológico”.
O artigo já recebeu um número muito grande de citações. Além disso, por suas óbvias relações com o comportamento de nossa espécie, teve forte impacto também fora do círculo estrito dos especialistas em microbiologia. Ele foi repercutido, por exemplo, por um artigo na revista Cosmos, no qual se lê: “como os humanos são hoje bem conscientes, transformar o meio ambiente pode ter efeitos colaterais negativos. A poluição gerada pelos humanos ameaça os ecossistemas e espécies por todo o globo e está inclusive alterando o clima do planeta”. O artigo do The New York Times explicita já em seu título a semelhança desse comportamento bacteriano com o nosso: “Uma população que polui a si mesma até a extinção (e não se trata de nós)” [II]. E no Brasil o título do artigo de Fernando Reinach a respeito desse trabalho encerra todo um programa: “Compreender o suicídio ecológico das bactérias pode sugerir maneiras de evitar a nossa própria extinção” [III].
Espécie ou sociedade capitalista?
Esse paralelismo entre nós e algumas espécies de micro-organismos, sublinhado pelos três artigos acima citados, teria um fundamento biológico? Em outras palavras, pode-se identificar no comportamento dos homens, como espécie, uma propensão para o suicídio ecológico? Talvez sim, dada a sua agressividade ímpar no reino animal, exercida contra outras espécies e contra si própria. Não é, contudo, neste espaço que essa imensa questão, talvez sem resposta, poderia ser discutida. O que é possível, em todo o caso, afirmar é que a racionalidade a partir da qual o capitalismo estrutura a sociedade, impondo-lhe uma concepção redutora e mercadológica das relações entre o homem e seu habitat, é fortemente indutora de suicídio ecológico. Ao potenciar e glorificar o comportamento predador e o ganho sobre a “presa” (seja essa “presa” o trabalhador, o consumidor, o outro empresário, a sociedade como um todo, as outras espécies ou os ecossistemas em geral), o capitalismo age como um mecanismo de retroalimentação positiva das pulsões agressivas da espécie humana, que se traduzem, no limite, numa dinâmica sistêmica de suicídio ecológico.
As três vias do suicídio ecológico
A agressividade expansionista do sistema capitalista, seja ele de tipo “liberal” ou autoritário, é responsável pela corrida armamentista que levou, com o desenvolvimento dos pesticidas industriais, às armas químicas na Primeira Guerra Mundial e, com o desenvolvimento da física, às armas nucleares na segunda. É bom lembrar que o modelo insuperável de sociedade capitalista “liberal”, os EUA, foi o único país a ter usado duas vezes a arma nuclear, e contra a população civil, no Japão em 1945, embora ciente de que este estava militarmente derrotado e já vinha buscando a mediação de Stalin para oferecer aos aliados uma rendição “honrosa” [IV]. A luta travada, desde então, pelas corporações e por seus Estados pelo controle das fontes de energia e dos mercados globais jamais permitiu considerar como remota a eventualidade de uma guerra nuclear. Mas por três outras vias a lógica da acumulação de capital e da concentração do consumo revela-se ecologicamente suicida. À medida que avançamos no século, essas três vias mostram-se sempre menos imprevisíveis que a ameaça nuclear.
A primeira via é o colapso das florestas e da biodiversidade em geral. A FAO State of the World forests 2012 informa que, dos 60 milhões de km2 de florestas que cobriam há poucos milênios o planeta, 38% foram completamente removidas, 57% estão fragmentadas ou degradadas, restando apenas 15% de florestas ainda intocadas pelos homens. Como afirma Michael Williams no epílogo de sua clássica síntese de 2000 sobre o desmatamento: “Quase tanta floresta foi derrubada no passado quanto nos últimos cinquenta anos”, o que equivale a dizer que entre 1950 e 2000 os homens suprimiram mais florestas que em toda a sua história até 1950 [V]. Os dados dos satélites analisados pelo Global Forest Watch mostram que apenas entre 2000 e 2012 as florestas do mundo perderam outros 2,3 milhões de km2. Dado que, como alertam a FAO, a ciência básica e o mais elementar bom senso, os homens não podem viver sem florestas, continuar desmatando na escala e ritmo impostos pelo carnivorismo galopante, pelo agronegócio e pelo Big Food internacional demonstra um comportamento inequivocamente suicida.
O segundo comportamento ecologicamente suicida acusa-se na emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa, sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, que está alterando a química da atmosfera e aquecendo o clima do planeta. Aqui basta uma imagem para entendermos o nível de risco existencial a que a dinâmica expansiva do capitalismo global está expondo a humanidade e outras espécies: a curva de Keeling, que mede desde 1958 as concentrações atmosféricas de CO2.

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Figura 1 – Evolução das concentrações atmosféricas de CO2 de 1958 a abril de 2018 no Observatório de Mauna Loa, no Havaí. Scripps Institution of Oceanography (University of California, San Diego).


A aceleração descrita por essa curva sempre mais íngreme é flagrante e os números a confirmam. Em 1880, as concentrações atmosféricas de CO2 eram de 280 partes por milhão (ppm). Oitenta anos depois, em 1960, elas haviam subido apenas 30 ppm, ultrapassando então 310 ppm. Mas menos de 60 anos depois, essas concentrações deram um salto de 100 ppm, ultrapassando 410 ppm durante todo o mês de abril de 2018. E continuamos a subir essa escada do nosso patíbulo ecológico, agora a uma taxa de 2,5 ppm por ano. Para piorar ainda mais o que já é espantoso, continuamos em plena aceleração. Como afirma Ralph Keeling, diretor do programa de monitoramento das concentrações atmosféricas de CO2 no Scripps Institution of Oceanography: “Essa taxa está aumentando. Na década de 2010 as concentrações estão subindo mais rapidamente que durante a década de 2000” [VI]. Mantida a taxa de aumento de 2,5 ppm/ano (desprezando, portanto, o fator aceleração), chegaremos em 450 ppm nos próximos 15 anos, isto é, no primeiro quinquênio dos anos 2030 e ultrapassaremos 500 ppm na década de 2050. A comunidade científica em peso adverte sobre as consequências graves, talvez gravíssimas, dessa trajetória. Como afirmava o IPCC já há mais de dez anos (2007, AR4): “Qualquer alvo de estabilização do CO2 acima de 450 ppm está associado a uma probabilidade significativa de disparar um evento climático de larga escala” [VII]. Em outras palavras, estamos colocando ano após ano mais balas no tambor de nossa roleta russa. Essa é a mais simples definição de um comportamento de suicídio ecológico.

Declínio da fertilidade masculina
Além das crescentes emissões de gases de efeito estufa, outras formas de poluição química do ambiente e dos organismos pelas corporações constituem por certo a terceira via pela qual se patenteia o comportamento ecologicamente suicida das corporações, consentido por nossas sociedades abúlicas. Nos EUA, por força de uma lei de 1976 (Toxic Substances Control Act, TSCA), a Agência de Proteção Ambiental (EPA) havia inventariado entre 1978 e 1982 aproximadamente 62 mil substâncias químicas industriais. Esse controle legal (TSCA) cobria os produtos gerados pela indústria química dos EUA (mas NÃO cobria aditivos colocados nos alimentos, medicamentos, cosméticos, munições, pesticidas e tabaco). Entre 1982 e 2012, a EPA recebeu o registro legal preliminar (“Premanufature Notification”) de outras 22 mil novas substâncias químicas (“new chemicals”). “Por isso, o Inventário da EPA contém agora cerca de 84 mil substâncias químicas com autorização para serem comercializadas” [VIII]. A indústria química é um dos setores industriais do capitalismo global mais danosos para os seres vivos. Seu poder de se manter acima de qualquer controle sanitário espelha-se nas cifras de uma estimativa do PNUMA: o volume global de vendas de substâncias químicas aumentou desde 1975 de US$ 171 bilhões para US$ 4,1 trilhões em 2013.
As megacorporações banham hoje as pessoas, as sociedades e, em geral, a biota planetária numa sopa química industrial de muitas dezenas de milhares de substâncias cujos efeitos diretos são desconhecidos, sem falar na combinatória das interações entre elas. Isso posto, a poluição química é a hipótese de etiologia sempre mais recorrente e mais plausível, e mesmo mais provável, de várias patologias, disfunções e distúrbios neurocomportamentais que vêm acometendo nossas sociedades. Uma dessas disfunções, que começa agora a ser mais estudada, é o declínio da fertilidade masculina.
Desde os anos 1990 surgiram os primeiros alertas consistentes, mostrando que a quantidade e a qualidade dos espermatozoides haviam começado a declinar. Embora não se tenha ainda certeza sobre as causas desses declínios, que devem ser múltiplas, os trabalhos apontam convergentemente para os perturbadores endócrinos, substâncias que interferem no funcionamento normal dos hormônios humanos. Joëlle Le Moal, epidemiologista do Institut national de Veille sanitaire (InVs), na França, afirma, por exemplo, a respeito do declínio da fertilidade masculina, que “a hipótese de perturbações endócrinas é forte, dados os produtos químicos globalmente difusos no meio ambiente aos quais a população é exposta por todas as vias possíveis, seja pela alimentação, seja pelo ar” [IX].
Mais recentemente, uma meta-análise com dados de 42.935 homens, assinada por oito cientistas coordenados por Hagai Levine, confirmou a consistência de trabalhos anteriores, estabeleceu novos e mais confiáveis resultados e fortaleceu ainda mais a hipótese ambiental [X]:
“[o declínio na] contagem de espermatozoides foi plausivelmente associado a múltiplas influências ambientais e de estilo de vida, tanto na fase pré-natal quanto na vida adulta. Em particular, perturbações endócrinas causadas por exposições a substâncias químicas ou o tabagismo maternal durante janelas críticas de desenvolvimento reprodutivo masculino podem desempenhar um papel na vida pré-natal, enquanto mudanças de estilo de vida e exposição a pesticidas podem ter importância na vida adulta”.
A revisão sistemática de Hagai Levine e colegas
O objetivo dessa revisão é avaliar os trabalhos que reportam dados sobre a contagem total (total sperm count, TSC) e a concentração por mililitro (sperm concentration, SC) dos espermatozoides no sêmen, segundo dois grupos geográficos: os países industrializados ou “Western countries” [XI] e “outros”, i.e., países da América do Sul, África e Ásia). Essa revisão não foca na qualidade morfológica e na motilidade dos espermatozoides, outros fatores intervenientes na fertilidade masculina. Fatores susceptíveis de criar algum viés estatístico (potential confounders) foram devidamente controlados e ajustados. Os resultados obtidos estampam-se na Figura abaixo.

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Figura 2 – (a) Concentração média de espermatozoides por mililitro (milhão/ml) e (b) contagem total de espermatozoides no sêmen em milhões, entre 1973 e 2011.| Fonte: Hagai Levine et al., « Temporal trends in sperm count: a systematic review and meta-regression analysis”. Human Reproduction Update, 2017, pp. 1-14, figura 3.

O gráfico da esquerda (a) mostra a redução da concentração média de espermatozoides por mililitro (milhão/ml). Observam-se aqui declínios entre homens dos países industrializados (Western), seja no grupo de homens não selecionados por problemas de fertilidade, ou outros vieses [XII] (Unselected Western, linha preta), seja entre homens férteis sempre dos países industrializados (Fertile Western, linha verde), com um declínio mais íngreme entre os homens do primeiro grupo (Unselected Western). Usando estimativas de 99 milhões de espermatozoides por ml em 1973, chega-se a 47,1 milhões/ml em 2011, um declínio de 52,4%, a uma taxa de declínio de 1,4% ao ano no primeiro grupo (Unselected Western, linha preta).
O gráfico da direita (b) mostra a redução da contagem total de espermatozoides no esperma. Observam-se aqui declínios ainda mais íngremes entre homens dos países industrializados não selecionados por problemas de fertilidade ou outros vieses (Unselected Western, linha preta): de estimativas de 337,5 milhões em 1973, passa-se a 137,5 milhões em 2011, um declínio de 59,3% a uma taxa de declínio de 1,6% ao ano.
De outro lado, não foram constatadas tendências significativas na contagem total (total sperm count, TSC) e na concentração por mililitro (sperm concentration, SC) dos espermatozoides no sêmen, nos dados coletados nos países da América do Sul, Ásia e África. Pode-se explicar tal discrepância por duas razões. A primeira, discutida pelos autores, é um conhecimento mais lacunar e menos temporalmente abrangente dos dados, haja vista o número muito menor e mais recente de estudos sobre infertilidade masculina feitos nesses paísesb [XIII].
A segunda razão, não aventada nesse trabalho, parece-me desempenhar um papel ao menos tão importante quanto a primeira: a menor exposição das populações desses países “subdesenvolvidos” a esses compostos químicos, cujos impactos sobre a fertilidade ocorrem por vezes já em período pré-natal e só são constatáveis muitos anos depois. De fato, nos anos 1970 – 1990, as sociedades dos países do Sul eram ainda menos urbanizadas, sua agricultura era menos intensamente sujeita a fertilizantes industriais e a agrotóxicos e, sobretudo, era muito menor seu contato cotidiano com substâncias químicas usadas em grande escala nos produtos de uso corrente nos países industrializados: polímeros, pesticidas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), bisfenol-A, ftalatos, retardantes de chamas brominados, compostos perfluorados e outros perturbadores endócrinos fortemente suspeitos de serem ingredientes importantes nas causas da infertilidade masculina prevalente nesses países. Se essa segunda razão for correta, a rápida urbanização desses países nos últimos 25 anos e sua exposição mais recente em escala como produtores e/ou consumidores desses produtos intoxicantes deverá se refletir em declínios futuros de suas taxas de fertilidade.
É claro que o declínio da fertilidade masculina constatado nos países industrializados não condena (ainda) esses países a cenários terminais, tal como o imaginado pelo romance The Children of Men de P. D. James (1992) e o filme homônimo de Alfonso Cuarón (2006), que retratam em 2027 uma sociedade imersa no caos gerado, entre outros fatores, por um colapso absoluto da fertilidade humana. Se tomarmos por referência os limiares de fertilidade definidos por D. S. Guzick e colegas num estudo de 2001, esses países estão ainda muito distantes de um estado coletivo de infertilidade ou de subfertilidade, como mostra a tabela abaixo.

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Zonas e limiares de fertilidade, indeterminação e subfertilidade relativos a três variáveis: concentração de espermatozoides (milhão/ml), motilidade (%) e morfologia (% de normalidade)

Fonte: D. S. Guzick, J. W. Overstreet, P. Factor-Litvak, C.K. Brazil, S.T. Nakajima, C. Coutifaris et al., “Sperm morphology, motility, and concentration in fertile and infertile men”. New England Journal of Medicine, 2001, pp. 1388-1393, reproposto em Amir S. Patela, Joon Yau Leong, Ranjith Ramasamya, “Prediction of male infertility by the World Health Organization laboratory manual for assessment of semen analysis: A systematic review”, Arab Journal of Urology, 16, 1/III/2018, Tabela 3.
Lembre-se que, como visto no gráfico acima (Figura 2), as concentrações de espermatozoides nos dados coletados em homens não selecionados dos países industrializados (Unselected Western) haviam caído mais da metade (52,4%) em pouco menos de 40 anos (de 99 milhões de espermatozoides por ml em 1973 para 47,1 milhões/ml em 2011), a uma taxa de declínio de 1,4% ao ano neste grupo. Portanto, em 2018, mantida essa taxa, esse número já deve estar por volta 42,6 milhões/ml. Mantida essa taxa, nos próximos 40 anos, ele deve cair novamente pela metade, isto é, para 24 milhões/ml, colocando esses países já bem próximos da zona de subfertilidade masculina, de modo que, mantida essa rota, a infertilidade masculina, ao menos nos países industrializados, poderá deixar no horizonte do próximo meio século de ser ficção científica.
O problema do declínio da fertilidade hoje
O problema, entretanto, não reside no futuro, mas já no presente. Segundo Hagai Levine e colegas, na revisão acima citada (p. 9), “uma alta proporção de homens dos países industrializados com concentrações abaixo de 40 milhões/ml é particularmente preocupante dada a evidência de que a contagem de espermatozoides abaixo desse limiar é associada com uma menor probabilidade mensal de concepção”. Além disso, esse declínio implica problemas de saúde não atinentes à esfera da reprodução. “O declínio na contagem dos espermatozoides”, concluem os autores, “pode ser considerado como ‘o canário na mina de carvão’ para a saúde masculina no transcorrer de toda a vida”. Por exemplo, níveis reduzidos de espermatozoides no sêmen são preditores de diversas condições patológicas e são correlacionados com uma maior incidência de câncer nos testículos e com malformações genitais, como criptorquidias e hipospádias [XIV], além de atrasos da puberdade e em níveis totais mais baixos de testosterona, problemas cujas ocorrências também vêm aumentando percentualmente nos últimos decênios.
As megacorporações direta ou indiretamente ligadas à produção e ao consumo de combustíveis fósseis, o agronegócio global e a imersão da biosfera na grande sopa química em que os organismos vão se degradando fornecem os traços distintivos de nossa civilização tóxico-industrial. São esses traços – mas também e sobretudo nossa identificação com  a concepção capitalista das relações homem-natureza e nosso descaso pelas gerações futuras – as vias fundamentais pelas quais o comportamento da humanidade se aproxima sempre mais do suicídio ecológico.
O que nos difere, entretanto, do comportamento bacteriano é o fato de que os micro-organismos não estão conscientes da armadilha da expansão/poluição em que terminarão por cair. Nós, ao contrário, estamos cada vez mais conscientes da insustentabilidade crescente de nossas escolhas de sociedade. A ciência, a reflexão filosófica e política e a indignação moral em face da crescente desigualdade social nos fazem cada vez mais conscientes de que avançamos numa trajetória suicida de colapso socioambiental. Essa consciência é, de um lado, um agravante, porque continuamos a nos comportar como micro-organismos, mas é também um motivo de esperança, porque a percepção do perigo crescente nos obriga a uma mudança radical ao mesmo tempo em nossas relações sociais e em nossas relações com a natureza, uma mudança de paradigma civilizacional e sem paralelo histórico, a única capaz de nos afastar a tempo do suicídio ecológico.

[I] Cf. C. Ratzke, J. Denk, J. Gore, “Ecological suicide in microbes”Nature ecology & evolution, 16/IV/2018.
[II] Cf. Stephen Fleischfresser, “Self-destructive microbe species can commit ‘ecological suicide’. Cosmos, 17/IV/2018.
[III] Cf. Natalie Angier, “A population that pollutes itself into extinction (and it’s not us)”. The New York Times, 30/IV/2018; Fernando Reinach, O Estado de São Paulo, 5/V/2018.
[IV] Cf. Peter Kuznick & Oliver Stone, The Untold History of the United StatesSimon & Schuster, 2012; Peter Kuznick, “The Atomic Bomb didn’t end the war”, U.S. News, 27/V/2016.
[V] Cf. Michael Williams, Deforesting the Earth, 2000, Epilogue: “Almost as much forest was cleared in the past as has been cleared in the last 50 years”.
[VI] Citado por Chris Mooney, “Earth’s atmosphere just crossed another troubling climate change threshold”. The Washington Post, 3/V/2018: “The rate has been increasing, with the decade of the 2010s rising faster than the 2000s. (…)“We’re just moving further and further into dangerous territory.”
[VII] IPCC Fourth Assessment Report (2007), Working Group II: Impacts, Adaptation and Vulnerability: “Any CO2 stabilisation target above 450 ppm is associated with a significant probability of triggering a large-scale climatic event”. 
[VIII] Cf. “Identifying and Reducing Environmental Health Risks of Chemicals in Our Society: Workshop Summary”. (Roundtable on Environmental Health Services, Research and Medicine: Board on Population Health and Public Health Practice. Institute of Medicine. Washington (DC) National Academic Press, 2/X/2014.
[IX] Cf. Paul Benkimoun, “Chute spectaculaire de la qualité du sperme”. Le Monde, 6/XII/2012; “Alerte sur le sperme”. Le Monde, 6/XII/2012
[X] Cf. Hagai Levine et al., « Temporal trends in sperm count: a systematic review and meta-regression analysis”. Human Reproduction Update, 2017, pp. 1-14.
[XI] Western abrange neste estudo os EUA, Europa, Austrália e Nova Zelândia.
[XII] Homens que a princípio não conheciam sua condição de fertilidade.
[XIII] Levine et al. (cit. p. 8): “As in prior analyses, we saw no significant declines for studies from South America, Asia and Africa, which may, in part be accounted for by limited statistical power and an absence of studies in unselected men from these countries prior to 1985”.
[XIV] A criptorquidia ou criptorquia ocorre quando um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal na fase final da gestação. A hipospádia é um defeito congênito caracterizado pela disposição do meato uretral na face inferior do pênis e não na extremidade da glande.
Luiz Marques é professor livre-docente do Departamento de História do IFCH /Unicamp. Pela editora da Unicamp, publicou Giorgio Vasari, Vida de Michelangelo (1568), 2011 e Capitalismo e Colapso ambiental, 2015, 2aedição, 2016. Coordena a coleção Palavra da Arte, dedicada às fontes da historiografia artística, e participa com outros colegas do coletivo Crisálida, Crises SocioAmbientais Labor Interdisciplinar Debate & Atualização(crisalida.eco.br).