quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Escândalo do Mediterrâneo e a Mito das Dietas


Os autores do PREDIMED Trial acabam de fazer uma retratação (retraction) referente à publicação original do trabalho em 2013 no New England Journal of Medicine. Na retratação os autores reconhecem violações no processo de randomização e retiram o artigo (withdraw).

O PREDIMED testou a eficácia da dieta do mediterrâneo (rica em azeite de oliva, avelãs, nozes, amêndoas, peixe, frutas, vegetais), tendo como grupo controle a recomendação de uma dieta saudável (evitar excesso de gordura saturada e incentivo para frutas e vegetais). O estudo concluiu que a dieta do mediterrâneo reduzia o risco de eventos cardiovasculares de forma expressiva (redução relativa do risco de 30%).

Naquela época, publicamos neste Blog nossa análise crítica do PREDIMED, apontando alto risco de viés de desempenho e “imprecisão tendenciosa”, induzida pela interrupção precoce baseada em resultado positivo (truncamento), em momento de poucos desfechos. 

Ademais, nos parecia inverossímil a magnitude do tamanho do efeito das nozes com azeite de oliva: 30% de redução relativa de risco, equivalente a estratégias farmacológicas ou invasivas de prevenção cardiovascular. 

Em paralelo ao nosso post, submetemos a crítica como Carta ao Editor do NEJM, porém nossa correspondência foi rejeitada em 2013.

As raras críticas ao estudo passaram despercebidas frente ao entusiasmante resultado e a dieta do mediterrâneo passou a ser cortejada. Quanto a mim, passei a usar o PREDIMED em aulas como exemplo de estudo com baixo valor preditivo positivo.

Cinco anos depois, somos surpreendidos com esta retratação e retirada bombástica.

Mais surpreendente, no entanto, foi o NEJM aceitar a republicação de uma nova versão do trabalho, após suposta exclusão dos pacientes não randomizados. Versão esta que mantém o mesmo resultado inverossímil e os mesmos problemas apontados por nós em época que não tínhamos ideia das grosseiras violações na randomização. 

O risco é que a nova versão do PREDIMED (publicada no mesmo dia que a versão antiga foi retirada) seja vista como uma confirmação dos resultados positivos. Fica claro que precisamos aprofundar essa discussão. Enviei novamente uma carta ao editor do NEJM, intitulada “still, too good to be true”, que está em processo de análise. 

Esta postagem pretende contar a interessante história de investigação estatística que descobriu a farsa do PREDIMED, discutir porque o resultado do PREDIMED é inverossímil, e porque tendemos a acreditar religiosamente em grandes benefícios do estilo alimentar.

O Detetive Estatístico

Tudo surgiu quando o compulsivo estatístico Carlisle avaliou 5.000 trabalhos randomizados e procurou por diferenças estatisticamente significantes entre dois grupos de alocação, publicando sua análise no Anaesthesia

Nas revistas modernas não mais se expõe na Tabela 1 o valor de P da comparação de características entre grupos de pacientes alocados randomicamente. Isto porque não há sentido estatístico no valor de P, pois sendo uma alocação aleatória, qualquer diferença entre os dois grupos se deveria ao acaso. Portanto, espera-se que todos os valores de P sejam próximos a 1.0, principalmente em um grande estudo de 7.500 pacientes como é o caso do PREDIMED.

A presença de alguma diferença muito significativa sugere que houve violação da randomização. O autor do estudo encontrou valor de P muito significativo em 11 artigos do NEJM. Destes, todos os trabalhos conseguiram se justificar (erro de digitação ou erro da análise de Carlisle), exceto o PREDIMED. Foi então que seus autores reconheceram que houve problema de randomização: foram incluídos na dieta do mediterrâneo 425 indivíduos simplesmente por morarem na mesma casa de pacientes randomizados e 467 outros pacientes foram alocados de acordo com centro pesquisador e não individualmente randomizados.

A gravidade desse erro quebra a confiabilidade do estudo, e aumenta o potencial impacto de vieses subliminares como os que havíamos levantado há 5 anos. Se já não dava para confiar, agora então fica muito mais questionável. Mesmo assim, os autores foram presenteados com a oportunidade de republicar o estudo após exclusão destes pacientes, mantendo o mesmo resultado positivo, na mesma inverossímil magnitude.


Por que o PREDIMED é Inverossímil

Enquanto estudos observacionais mostram animadores resultados de hábitos de vida na promoção da saúde, quando devidamente testados em estudos intervencionistas randomizados, o impacto de hábitos supostamente saudáveis torna-se inexistente ou de magnitude frustrante. É o caso das evidências contrárias ao efeito do exercício na perda de peso ou na redução de risco cardiovascular (controversas postagens desse Blog), assim como ausência de efeito cardiovascular de uma dieta mais rigorosa em pacientes com diabetes (Look AHEAD Trial). 

A princípio, estas afirmações parecem improváveis. Mas se pensarmos mais a fundo, perceberemos que estes resultados negativos fazem sentido. Se intervenções mais “agressivas” como drogas ou procedimentos possuem em geral modesto tamanho de efeito (condutas comprovadamente benéficas são raramente benéficas do ponto de vista individual), imaginem uma modificação nutricional. 

A ilusão que faz acreditarmos no grande benefício da dieta sofisticada (mais saudável, mais natural, mais mediterrânea ou qualquer coisa da moda) vem do fato de que dietas muito ruins são muito prejudiciais. Mas erramos quando confundimos fator de risco alimentar (dieta calórica o suficiente para promover obesidade mórbida, dieta riquíssima em gordura saturada) com fator de proteção alimentar (ilusório). 

Ioannidis publicou no International Journal of Epidemiology uma revisão sobre estudos com mínimos tamanhos de efeito. Nesta revisão, o tipo de estudo mais prevalente dentre esses mini-tamanhos de efeito foram os de nutrição. Mesmo quando se demonstra um benefício em ensaio clínico randomizado, este efeito é mínimo. Isto reforça a lógica de considerar inverossímil os 30% de redução relativa do risco do PREDIMED. 

Inverossímil significa baixa probabilidade pré-teste da hipótese ser verdadeira. Considerando que o teste (PREDIMED) tem alto risco de viés, seu valor em aumentar esta baixa probabilidade pré-teste é pequeno. Esta sequência condicional de probabilidade (bayesiana) resulta em baixo valor preditivo positivo do PREDIMED.

Fica a questão do porquê, mesmo depois da descoberta da farsa que promoveu um resultado de baixíssimo valor preditivo positivo, o NEJM concorda em republicar um trabalho, agora com valor preditivo positivo ainda mais baixo. Este é o “Rosebud” do PREDIMED, um mistério que pode guardar consigo um significado maior.


A Crença em Dietas Peculiares

É forte a crença no efeito mágico da alimentação, representada por dietas com restrições ou ofertas peculiares. Muitas destas dietas trazem consigo o rótulo de naturais. Mas na verdade é antinatural fantasiar o alimento de remédio, não comer o que nos dá vontade e apenas ingerir o que nos faria bem de acordo com conceitos teóricos. 

Não foi pensando em alimentação natureba que o homo sapiens sobreviveu enquanto espécie. Ao longo de 180.000 anos de coletador-caçador, o homem comia o que tinha vontade dentre o que estava disponível. Portanto, biologicamente somos feitos para comer o que queremos.

Infelizmente não podemos mais fazer isso, pois há grande disponibilidade de alimentos sedutores com alta concentração de calorias. Por isso, precisamos ser artificialmente restritivos, o que é difícil por não ser um dom biológico. 

Sendo difícil criar regras alimentares, precisamos focar no que sabemos ser de fato necessário: não exagerar na quantidade de alimentos, principalmente os calóricos, uma conduta de plausibilidade extrema (o paradigma da quantidade). No entanto, parece que há um desvio quando o foco passa a ser no paradigma da qualidade da dieta, que carece de respaldo científico. 

Procurar racionalizar as calorias é uma coisa, inventar modas artificiais de dietas com grandes especificidades sob a premissa de que isso trará grande benefício para a saúde é outra coisa. 

Mas vamos às razões que nos fazem acreditar em dietas. 

Conforto cognitivo é o primeiro viés responsável pela crença na alimentação. Entendo que para leitores entusiastas de dieta, meu texto lhes tira da zona de conforto. Quando somos apresentados a ideias diferentes, somos obrigados a refletir, reavaliar, reconhecer falhas de pensamento. Como isso é trabalhoso, mais fácil é reagir contra a reflexão.

Em segundo lugar, há nossa necessidade de segurança perceptível, que em boa parte obtemos por condutas fantasiosas, já que risco zero (viés do risco zero) é uma utopia.

Em terceiro lugar, há a ilusão de validade, viés descrito por Kahneman como “confiança por coerência”. A coerência da história é suficiente para acreditarmos, sem muitas vezes percebermos o baixo nível de evidência que respalda a ideia. Como há hábitos ruins que fazem muito mal (engordar 50 Kg, fumar, beber em demasia), parece coerente que hábitos bons fariam muito bem. Fácil de se confundir. 

Finalmente, para validar nossa crença, o mundo está repleto de exemplos de pessoas que se alimentam muito bem e são de fato saudáveis. Aliás, quando fazemos comparações epidemiológicas (observacionais), pessoas cuja alimentação é rica em vitaminas, vegetais e mais outras coisas boas de fato têm menor incidência de doenças cardiovasculares e câncer. O problema é que as mesmas pessoas que comem as supostas coisas boas são as que não comem as coisas ruins ou que comem em menor quantidade, não fumam, etc. É o viés de confusão.

Portanto, o mundo não randomizado é uma máquina de viés de confirmação no que diz respeito a hábitos de vida. A única forma de esclarecer a questão é randomizar os pacientes. E a melhor forma de manter a crença intocada é fazer um estudo grande, chamá-lo de randomizado, mas na verdade violar grosseiramente a randomização. 

E, por trás de todos esses vieses cognitivos, há o viés da lealdade (allegiance bias), quando o resultado de um estudo é construído de forma a se adequar às preferências dos pesquisadores. É a lealdade às suas crenças. Meus amigos sabem que me sou um tanto metódico com alimentação, cultivo meu próprio estilo pessoal. Mas não posso generalizar meu gosto, passando ao usar o que pratico como uma recomendação médica baseada em evidências. Seria uma lealdade excessiva às minhas próprias escolhas pessoais.

No campo individual, crença tem seu papel. No campo coletivo, conceitos devem ser norteados por evidências empíricas de qualidade metodológica adequada. É neste ponto que dietas peculiares perdem sua magia e se tornam apenas modismos sem base em evidências. 
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Conceitos Discutidos 

- Viés de desempenho
- Estudo truncado reduz precisão e veracidade do estudo
- O valor do valor de P na tabela 1: identificar pseudo-randomização
- Malefício da alimentação ruim não é o mesmo que benefício de alimentação peculiar
- Valor preditivo positivo de um estudo (análise bayesiana)
- Vieses cognitivos: conforto cognitivo, segurança perceptível, viés de confirmação, viés de lealdade.


Opinião: onde estamos errando no diagnóstico da obesidade?

Muito interessante essa reflexão do Dr. Fabiano M. Serfaty, médico endocrinologista. Mas mais importante que o diagnóstico é sabermos onde estamos errando no tratamento da obesidade. Nunca tivemos um mundo falando tanto de dieta, fazendo tantas dietas... e mesmo assim a obesidade tem se tornado uma pandemia. 

Opinião: onde estamos errando no diagnóstico da obesidade? por Dr. Fabiano Serfaty

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é uma condição médica na qual se tem acúmulo de tecido adiposo em excesso, o que pode gerar impacto negativo na saúde do indivíduo, levando à redução da esperança de vida e ao aumento dos problemas de saúde[1].

A maneira mais utilizada para se avaliar e definir o grau de obesidade é por meio da avaliação do índice de massa corporal (IMC), embora este não seja sensível à composição e à distribuição de gordura[2,3,4]. O IMC é calculado pela divisão do peso em kg pela altura em metros elevada ao quadrado (kg/m²). As classificações para os níveis de IMC adotadas pela OMS e pelos National Institutes of Health (NIH) dos EUA para indivíduos caucasianos, hispânicos e negros são[1,5]:

Abaixo do peso: <18 div="" kg="" m2="">
Peso normal: ≥ 18,5 a 24,9 kg/m2
Sobrepeso: ≥25,0 a 29,9 kg/m2
Obesidade: ≥ 30 kg/m2
Obesidade Grau I: 30,0 a 34,9 kg/m2
Obesidade Grau II: 35,0 a 39,9 kg/m2
Obesidade Grau III: ≥40 kg/m2

Limitações da utilização IMC

O IMC apresenta importantes limitações, podendo superestimar o grau de obesidade em indivíduos com grande massa muscular[6]. Os idosos, por sua vez, tendem a ter menor densidade óssea, maior risco de sarcopenia e massa corporal magra reduzida, portanto, podem pesar menos que os adultos mais jovens da mesma altura. De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, no idoso, o IMC normal varia de > 22 a < 27 kg/m2. Além disso, existem variações na composição corporal entre diferentes grupos populacionais. Os negros, por exemplo, apresentam maior densidade corporal e massa magra em comparação com os brancos. Já em populações asiáticas, para que se tenha a redução do risco de eventos cardiovasculares é necessário que os níveis de IMC estejam no limite inferior da normalidade.

Por outro lado, a obesidade de peso normal, definida como a combinação de IMC normal e alto teor de gordura corporal, está associada ao aumento do risco de mortalidade por uma série de causas. Vários estudos demonstraram que o IMC não reflete, de fato, o conteúdo real de gordura corporal, causando erros no diagnóstico de sobrepeso ou obesidade[7,8].

O IMC é o melhor parâmetro?

Embora a obesidade, definida pelo IMC, influencie o risco cardiovascular, este parâmetro apresenta importante limitações na previsão da mortalidade cardiovascular. Nos últimos anos vários estudos demonstraram que outros índices de avaliação da adiposidade têm sido cada vez mais associados a um maior risco cardiometabólico dos pacientes. Devido à “epidemia” global da obesidade, o interesse na eficácia da utilização destes parâmetros está aumentando tanto para adultos quanto para crianças em muitos países e em diferentes grupos étnicos.

Circunferência abdominal

A circunferência abdominal é uma maneira de medir a obesidade abdominal, que fornece informações que o IMC não é capaz de fornecer. Segundo recomendações da OMS, a medida da circunferência deve ser aferida na região mais estreita do abdome ou no ponto médio entre o rebordo costal inferior e a crista ilíaca. Ela deve ser medida com uma fita flexível colocada em plano horizontal. Os pacientes com obesidade abdominal, também chamada de adiposidade central, obesidade visceral ou androide, apresentam maior risco de desenvolver diabetes, doenças cardíacas, câncer, apneia obstrutiva do sono, acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e doença hepática gordurosa não alcoólica[7,8,9].

Existe, de fato, uma variabilidade étnica nos valores da circunferência da cintura que preveem um risco cardiovascular aumentado. Por exemplo, os japoneses americanos e índios do sul da Ásia têm maior gordura total e gordura visceral, por isso podem apresentar maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 para o mesmo nível IMC que os brancos. Em mulheres asiáticas, uma circunferência da abdominal ≥80 cm e em homens asiáticos um valor ≥ 90 cm são considerados anormais.

O diagnóstico da obesidade abdominal é de extrema importância na estratificação de risco cardiovascular, por isso é de fundamental associar a medida da cintura abdominal ao IMC durante exame físico do médico. A técnica é simples e fácil de executar, além de ser de baixo custo, e de demostrar uma boa associação com a adiposidade visceral[8,9,10,11,12].

De acordo com o National Cholesterol Education Program (NCEP) /Adult Treatment Panel III (ATP-III), os valores de ponto de corte específicos para sexos associados ao aumento do risco cardiovascular são: ≥ 102 cm em homens e ≥ 88 cm em mulheres[13]. Pela International Diabetes Federation (IDF), a obesidade abdominal é utilizada como critério diagnóstico para síndrome metabólica de acordo com a seguinte classificação:

homens brancos de origem europeia e negros: ≥ 94 cm;
homens sul-asiáticos, ameríndios, chineses e japoneses: ≥ 90 cm;
mulheres brancas de origem europeia, negras, sul-asiáticas, ameríndias, chinesas e japonesas ≥ 80 cm.[13]

Relação cintura-quadril

A medição da relação cintura-quadril não oferece nenhuma vantagem sobre a circunferência da cintura sozinha, é frequentemente usada por clínicos, e atualmente não é recomendada como parte da avaliação rotineira da obesidade por American Heart Association (AHA)/American College of Cardiology (AC )/The Obesity Society (TOS). Atualmente, a OMS reconhece como ponto de corte para aumento de risco cardiovascular uma relação cintura-quadril > 0,8 em mulheres e > 0,9 em homens. Entretanto, estas estimativas são derivadas de populações predominantemente caucasianas, e por isso existem dúvidas sobre a aplicabilidade destes ponto de corte nestes valores em populações não caucasianas.

De fato, a circunferência da cintura e uma relação cintura quadril demonstraram em vários estudos serem melhores do que o IMC para identificar os indivíduos com maior risco de desenvolver doenças relacionadas a aterosclerose. Em qualquer nível de IMC, o risco de desenvolvimento de doença cardiovascular, tanto em homens quanto em mulheres, é diretamente proporcional ao aumento da gordura abdominal[14,15,16].

Relação cintura-estatura

Independentemente da idade e do sexo, a relação cintura-estatura é uma maneira simples de se avaliar o risco metabólico de um paciente. Um valor ≥ 0,5 é um indicador significativo de risco, podendo ser traduzido na mensagem “mantenha sua cintura em menos de metade da sua altura.”[17,18]. Alguns estudos classificam como pontos de corte:

Baixo risco: <0 div="">
Risco elevado:  ≥0,5 e <0 div="">
Risco muito elevado: ≥ 0,6.[17]

Em termos de custo e eficácia, a medição do IMC necessita de balanças para pesagem, assim como um estadiômetro para medir a altura. Já a relação cintura-estatura requer uma fita métrica e um estadiômetro. Tendo em vista que uma fita métrica é mais barata e mais portátil do que as balanças de pesagem, a relação cintura-estatura pode também apresentar um custo benefício melhor do que o IMC[17,18].

De acordo com uma extensa meta-análise publicada na Obesity Reviews compreendendo adultos de diversos grupos étnicos, a relação cintura-estatura é um parâmetro antropométrico clínico superior à circunferência abdominal e ao IMC para a detecção de fatores de risco cardiometabólicos, tanto no sexo masculino quanto no feminino[19].

Vários estudos prévios já demonstraram que a relação cintura-estatura é um parâmetro útil e confiável para avaliar a gordura abdominal, especialmente a visceral, que esta associada ao desenvolvimento de uma série de fatores de riscos cardiometabólicos[20,21,22,23,24,25,26,27,28,29].

Em uma outra recente meta-análise, que avaliou crianças e adolescentes, a relação cintura-estatura mostrou ser um bom preditor de risco cardiometabólico, sendo em alguns estudos melhor que o IMC e a medição da cintura abdominal. O autor desta meta-análise sugere, inclusive, o uso de rotina da relação cintura-estatura em vez do IMC e da cintura abdominal para a identificação mais simples e precoce das crianças e dos adolescentes com fatores de risco cardiovascular[30,31].

Devido a limitações claras do IMC, a relação cintura-estatura é considerada por muitos autores o melhor indicador clínico de risco para a saúde, pois pode ser usado na infância, na vida adulta, assim como em todo o mundo e em todos os grupos étnicos[17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,30,31]. É importante frisar que, geralmente, crianças menores de cinco anos não são contadas em estudos populacionais[17].

Como definir melhor a obesidade?

A estimativa da composição da gordura corporal vem sendo estudada em diversas populações ao redor do mundo, mas a precisão destas estatísticas ainda é prejudicada pela variedade dos diferentes métodos indiretos de avaliação da composição corporal[31]. Os limites padrões acima de 25% e 35% de gordura são utilizados classicamente como definição de obesidade em homens e mulheres, respectivamente[32].

A adiposidade visceral pode ser medida com precisão por tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), e com menor precisão por dupla absorciometria de raios-x de energia (DEXA).      Como exemplo desta mensuração, a TC define a obesidade visceral como > 130 cm2 [32,33].

Estudos de imagens realizados em grandes coortes, como o Framingham Heart Study e o Jackson Heart Study, demonstraram que o aumento da adiposidade visceral, associado ao excesso de deposição de gordura ectópica, estão significativamente ligados a um aumento significativo do desenvolvimento de anormalidades metabólicas e de doenças cardíacas, sendo esta relação independente da quantidade de tecido adiposo total ou subcutâneo presente[34,35].

A bioimpedância é mais utilizada na prática clínica e mede a água corporal, fornecendo uma medida validada da massa gorda corporal e da massa livre de gordura. O exame se baseia na altura, no peso e no sexo específico de cada paciente para, deste modo realizar a análise da composição corporal dele[36,37,38].

Além do IMC, outros índices antropométricos de avaliação da adiposidade têm sido cada vez mais associados a um maior risco cardiometabólico e precisam ser levados em consideração na prática clínica, assim como na avaliação e na estratificação de risco do paciente. Embora a pesagem hidrostática, a composição corporal por absorciometria com raios-X de dupla energia (DEXA), a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) proporcionem uma medida mais precisa da distribuição da gordura corporal, elas são geralmente reservadas como ferramentas de pesquisa devido ao custo adicional e ainda não estão disponíveis para uso em larga escala na prática clínica[39,40].

Ponto de vista

Definir a obesidade com base apenas na altura e no peso, por meio do IMC, é simplificar uma doença multifatorial e complexa, que precisa ser encarada com seriedade por todos os setores da sociedade. São necessários todos os esforços possíveis para o diagnóstico precoce e a elaboração de medidas públicas e individuais, que ajudem e tratem o paciente obeso, que sofre com tanto preconceito. É preciso agir ativamente e rapidamente para combater a “epidemia” global de obesidade com toda dedicação profissional possível, unindo forças, para realizar medidas públicas e também pessoais, avaliando, escutando, entendendo e individualizando cada paciente na sua essência.

Alimentação ricas em frutos do mar podem auxiliar a engravidar

A crença popular de que ostras têm poderes afrodisíacos pode conter um certo grau de verdade. O estudo prospectivo LIFE (do inglês, Longitudinal Investigation of Fertility and the Environment) recrutou 501 casais que planejavam engravidar, e mostrou que os que consumiram duas ou mais porções de frutos do mar toda semana fizeram mais sexo e engravidaram mais rápido do que aqueles que comeram frutos do mar com menos frequência.

Após um ano, 92% dos casais com dieta rica em frutos do mar tinham concebido comparado com 79% dos casais com dietas que continham menos peixes e mariscos, de acordo com Audrey J. Gaskins, da Harvard T.H. Chan School of Public Health, em Boston (EUA), e colegas.

Além disso, a diminuição significativa do tempo para engravidar entre casais que comeram mais frutos do mar não parece ser completamente explicada pelo aumento da atividade sexual, segundo o artigo de Audrey e colegas, publicado on-line em 23 de maio no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.

Estudos prévios sugeriam que o maior consumo de frutos de mar poderia melhorar a quantidade e a qualidade do esperma, reduzir o risco de anovulação, beneficiar a ovulação e o funcionamento do ciclo menstrual, e melhorar a qualidade do embrião e o início do desenvolvimento dele.

“Observamos uma associação positiva entre o consumo de frutos do mar e a frequência de relação sexual (FRS), confirmando a crença popular nas propriedades afrodisíacas dos frutos do mar”, escrevem Audrey e colegas. “O consumo de frutos do mar pelos dois parceiros foi associado com maior frequência de relações sexuais e fecundidade.”

Os resultados mostraram que quando ambos parceiros comeram frutos do mar no mesmo dia, eles tiveram 39% mais chance de ter relações sexuais do que casais que não comeram frutos do mar no mesmo dia.

Além disso, casais que consumiram oito ou mais porções de peixe ou mariscos no mês tiveram taxas de fecundidade 61% maiores que casais que consumiram uma ou menos porções de frutos do mar no mesmo período. (A taxa de fecundidade foi 47% maior quando apenas o homem comeu esta quantidade de frutos do mar no mês, e 60% maior quando apenas a mulher o fez). Esta vantagem se estabilizou ao redor de 14 a 16 porções no mês.

Estes achados demonstram a necessidade de aconselhamento para os casais tentando engravidar sobre a importância da dieta na fertilidade, dizem os autores do estudo.

“Nossos resultados reforçam a importância da dieta não apenas para mulheres, mas para os homens durante o planejamento da gravidez, e sugerem que ambos devem incorporar frutos do mar em suas dietas para obter o máximo de benefício na fertilidade”, disse Audrey em um comunicado divulgado pela Endocrine Society.

Os pesquisadores lembram que frutos do mar são a fonte primária de ácidos-graxos ômega-3 de cadeia longa marinhos, que estão relacionados com marcadores de fecundidade tanto em homens quanto em mulheres. Contudo, peixes e mariscos podem conter substâncias tóxicas.

Nos Estados Unidos, cerca de 50% das grávidas, e as mulheres que estão tentando engravidar não comem as duas a três porções recomendadas de frutos do mar na semana, destacam os autores do estudo.

“Pesquisas futuras que avaliam especificamente o potencial de dano associado ao consumo de peixes predatórios são necessárias. Estes peixes tendem a conter maiores níveis de substâncias químicas e mercúrio existentes no ambiente”.

Em janeiro de 2017, a US Food and Drug Administration (FDA) e a Environmental Protection Agency (EPA) recomendaram o consumo de não mais do que três porções de frutos do mar por semana para grávidas e mulheres tentando engravidar. Estes guias, publicados para limitar a exposição fetal ao metil-mercúrio, podem não considerar o potencial benefício reprodutivo da ingestão de frutos do mar, dizem Audrey e colegas. O estudo atual preenche “esta lacuna”.

Neste estudo, 501 casais do Texas e de Michigan que estavam planejando uma gravidez e participaram do estudo LIFE 2005-2009 foram seguidos por 12 meses ou até a confirmação da gravidez. Os participantes registraram o consumo de porções de aproximadamente 115 g de peixe ou mariscos, incluindo atum enlatado, peixes, crustáceos e mariscos provenientes de fontes locais ou desconhecidas. Os participantes do estudo também preencheram um diário sobre a frequência de relações sexuais.

O estudo mostrou que o consumo de frutos do mar tanto por homens quanto por mulheres estava independentemente associado com a FRS, com uma associação um pouco mais forte para homens. Para os homens que comeram frutos do mar nove ou mais vezes por mês, a FRS foi 22,9% maior quando comparada à dos homens que comeram frutos do mar duas vezes ou menos no mês (p = 0,007).

Quando ambos parceiros comeram frutos do mar nove ou mais vezes por mês, a FRS aumentou em 21,9% quando comparada à de casais que comeram menos peixe.

Houve também uma diferença absoluta de 13% na incidência de infertilidade entre os casais que comeram frutos do mar com frequência e os que não comeram.

Este estudo teve o apoio do Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development e do National Institute of Environmental Health Sciences. Audrey J. Gaskins e os coautores do estudo declararam não possuir nenhum conflito de interesses relevante.

J Clin Endocrinol Metab. Publicado em 23 de maio de 2018

quarta-feira, 13 de junho de 2018

20% dos peixes do sexo masculino nos rios do Reino Unido agora é ‘transgênero’ devido ao descarte de produtos químicos

Vinte por cento dos peixes do sexo masculino testados em rios ingleses são agora “transgênero” ou “intersex”, com características femininas e masculinas, devido a produtos químicos descartados das famílias do Reino Unido.

Pesquisas do professor Charles Tyler , fisiologista de peixes e eco toxicologista da Universidade de Exeter, mostraram que os peixes de água doce masculinos exibem traços “feminizados”, demonstrando comportamento “feminino” e até produzindo ovos.

Os produtos químicos que causam esses efeitos incluem ingredientes na pílula anticoncepcional e subprodutos de agentes de limpeza, plásticos e cosméticos.

Alguns peixes do sexo masculino reduziram a qualidade do esperma e exibiam um comportamento menos agressivo e competitivo, geralmente associado à atração de fêmeas da espécie, o que os torna menos propensos a produzir com sucesso.

O professor Charles Tyler explica que os descendentes e os netos dos peixes transgêneros podem ser mais sensibilizados aos efeitos desses produtos químicos nas exposições subsequentes.

Mais de 200 produtos químicos, presentes nas estações de tratamento de esgoto, foram identificados com efeitos similares a estrogênio. Alguns não só criam peixe “transgênero”, mas também afetam a fisiologia dos peixes de maneiras surpreendentes.

Drogas como antidepressivos também estão alterando o comportamento natural dos peixes.

“Estamos mostrando que alguns desses produtos químicos podem ter efeitos muito mais amplos para a saúde nos peixes que esperávamos. Usando peixes transgênicos especialmente criados que nos permitem ver as respostas a esses produtos químicos nos corpos de peixes em tempo real, por exemplo, mostramos que os estrogênios encontrados em alguns plásticos afetam as válvulas no coração “, disse o professor Tyler.

Ele acrescenta: “Outras pesquisas mostraram que muitos outros produtos químicos, que são descarregados através de obras de tratamento de esgoto, podem afetar peixes, incluindo drogas antidepressivas que reduzem a timidez natural de algumas espécies de peixes, incluindo a maneira como eles reagem aos predadores”.

Pesquisa revela que contaminação de rios e mares por poluentes químicos reduz populações de peixes

A contaminação de rios e mares de várias partes do mundo está provocando a feminilização de peixes. Isso porque os poluentes químicos têm alto nível de estrogênio – o hormônio sexual feminino produzido nos ovários. Segundo especialistas, há cerca de 100 mil tipos de poluentes químicos no ambiente. De forma regular, pelo menos 30 mil são despejados na natureza. Produtos farmacêuticos como anticoncepcionais, veterinários, cosméticos, de higiene, limpeza e agrotóxicos estão na lista.

O assunto foi discutido no 11º Simpósio Internacional de Fisiologia da Reprodução (ISRPF), realizado com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM). No evento, o pesquisador Charles Tyler, da University of Exeter, na Inglaterra, explicou como os poluentes impactam a vida selvagem, mais especificamente os peixes – grupo mais exposto à contaminação das águas.

Segundo ele, os poluentes ferem ou mutilam o sistema reprodutivo dos peixes, impactando o tamanho das populações, podendo provocar a extinção ou perda local. “O que se vê é que esses poluentes têm um nível muito alto de estrogênio, e isso tem causado uma feminilização da população, mas ainda não dá para dizer que é isso que está fazendo extinguir”, ressaltou Tyler.

A maioria desses estudos é feita nos Estados Unidos, Europa e Austrália. As pesquisas na bacia amazônica estão começando. “Não há dúvida de que temos problema de poluição na Amazônia, mas não se sabe se o problema aqui é tão grande quanto já é na Europa”, afirmou o pesquisador inglês.

Ele explicou que o sistema de rios da Amazônia amplia a capacidade de diluição dos poluentes. “É muito provável que os problemas que percebemos na Europa e no resto do mundo também ocorram na Amazônia. Agora, o nível e o grau de impacto ainda estão por ser estudados.”

quinta-feira, 7 de junho de 2018

O seu médico é realmente Nutrólogo ?

Será que o seu médico realmente é Nutrólogo ?
Via de regra no Brasil só se pode intitular especialista em uma área médica no Brasil quem:
1 – Fez residência médica credenciada no MEC
2 – Tem título de especialista registrado no Conselho Federal de Medicina (CFM).

O médico que fez residência de Nutrologia, após concluí-la vai ao Conselho Regional de Medicina do seu estado(CRM) portanto o Certificado de conclusão da residência e registra-se como Nutrólogo, recebendo do CRM um número de Registro de Qualificação de Especialista (RQE), podendo então se intitular Nutrólogo.

No caso dos que foram aprovados na prova de título, basta levar o título ao CRM e pedir o RQE.
Mas e aí, como saber se o meu médico é ou não Nutrólogo?
Basta entrar no site do CFM ou no link: https://portal.cfm.org.br/busca-medicos/

Digitar o nome do médico, o estado e procurar. Se ao ver o nome do seu médico e não estiver especificado o RQE e a Especialidade que ele está registrado, provavelmente, o seu médico não é titulado. Procure um que seja especialista.

Em Goiânia, até o presente momento (Junho de 2018), temos apenas 59 Nutrólogos titulados, ou seja, apenas 59 profissionais são Verdadeiramente Nutrólogos. 

A lista está na imagem abaixo (clique nela para aumentar) e os dados foram extraídos do site do Conselho Regional de Medicina de Goiás.

terça-feira, 5 de junho de 2018

A precoce introdução de alimentos complementares na alimentação infantil

Sobrepeso e obesidade correspondem à problemas primários de saúde infantil em países de alta renda. Dentre os múltiplos determinantes da obesidade infantil identificados, a alimentação tem sido apontada como importante etiologia e potencialmente modificável.  A amamentação tem sido associada à proteção contra o sobrepeso infantil, contudo, há ainda debate se tal proteção ocorre devido ao fato dessas mães serem menos obesas. 

Outro fator importante corresponde ao momento de introdução de alimentos complementares. Tem sido sugerido que a precoce introdução de alimentos complementares (< 3-4 meses de idade) está associada a maior risco de sobrepeso e obesidade. Além do momento de introdução, o conteúdo proteico desses alimentos complementares também merece destaque. Prévios estudos mostraram que a alta ingestão de proteína (até 12meses de idade) foi associada ao aumento de risco de obesidade infantil.

O estudo de Morgen e colaboradores objetivou examinar se algumas variáveis (duração da amamentação, tempo de introdução de alimentos complementares, e ingestão proteica) presentes aos 18 meses de idade estavam associadas com índice de massa corpórea (BMI) e com sobrepeso aos 7 e 11 anos de idade [Morgen et al. Breastfeeding and complementary feeding in relation to body mass index and overweight at ages 7 and 11 y: a path analysis within the Danish National Birth Cohort. The Am J Clin Nutr, 107(3):313-22, 2018; https://doi.org/10.1093/ajcn/nqx058].

Para tal, crianças que participaram do Danish National Birth Cohort foram acompanhadas até a idade de 7 e 11 anos. Foram registradas informações sobre alimentação, ingestão proteica aos 18 meses de idade.  Além disso, foram coletados índice ponderal ao nascimento e BMI (aos 5 e 12 meses e aos 7 e 11 anos). Análise específica foi usada para avaliar os efeitos diretos e indiretos da alimentação infantil no escore z do índice de massa corpórea (BMIz) nas crianças com idade de 7 (n = 36.481) e 11 anos (n = 22.047). Análises de regressão logística examinaram as associações com sobrepeso.

Os resultados mostraram que a duração do aleitamento não foi associada ao índice de massa corpórea [escore z do índice de massa corpórea (BMIz)]. A precoce (< 4 meses de idade) introdução de alimentos complementares não foi associada a alto BMIz nas crianças com 7 anos, mas foi associada a maior (0,069) BMIz (95% CI: 0,021; 0,117; P = 0,005) e a maior risco de sobrepeso (OR 1,44; 95% CI: 1,04; 2,00; P = 0,03) nas crianças com 11 anos. A ingestão de proteína originada de produtos lácteos (por 5g/dia) foi associado ao maior BMIz aos 7 anos apenas (OR: 0.,12; 95% CI: 0,003; 0,021; P = 0.,07). A ingestão de proteína originada de carne e peixe (por 2g/dia) foi associada a maior (0,010) BMIz (95% CI: 0,004; 0,017; P = 0.,03) aos 7 anos, a maior (0,013) BMIz (95% CI: 0.005, 0.020; P = 0.002) aos 11 anos e maior probabilidade (OD) de sobrepesos aos 7 anos (OR: 1,07; 95% CI: 1,03; 1,10; P < 0,001), mas não nas crianças com 11 anos.

Os autores concluíram que a maior ingestão de proteínas derivadas de carne e peixe foi associada ao maior índice de massa corpórea (BMIz) e ao maior risco de sobrepeso na infância. Tais resultados não muito expressivos em termos absolutos, podem ter impacto populacional. A precoce introdução de alimentos complementares pode estar associada ao BMIz e ao sobrepeso na infância tardia. Ausência de associações consistentes foram encontradas entre a duração do aleitamento, ingestão de produtos lácteos e BMIz infantil e sobrepeso.

Fonte: http://abran.org.br/sem-categoria/a-precoce-introducao-de-alimentos-complementares-na-alimentacao-infantil/

3 documentários com Ernst Götsch – O Guru da Agrofloresta


É preciso preservar, mas é possível regenerar. O agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch é prova de que a agricultura regenerativa pode ser um caminho de desenvolvimento para o país. Estabelecido em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia desde os anos 80, vem desenvolvendo técnicas de recuperação de solos. O equivalente a 480 campos de futebol foi recomposto, dos quais 350 se transformaram na primeira Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) da Bahia. 

Além da colheita agrícola, observou-se que a fazenda desenvolveu seu próprio microclima, 14 nascentes de água foram recuperadas e a fauna repopulou o lugar. A partir do experimento – chamado de agricultura sintrópica –, Götsch elaborou um conjunto de princípios e técnicas para integrar produção de alimentos e regeneração natural de florestas que tem sido adaptado a diferentes regiões e climas nos últimos 30 anos.

Götsch explica em seu texto “Homem e Natureza, Cultura na Agricultura: “Observe o que a natureza faz, aprende com ela e tenta copia-la! Por exemplo, se tu queres cultivar feijão e milho, planta também a cana e umas laranjeiras, além de muitas outras espécies. Isto significa plantá-las todas juntas, ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Nesse consórcio de milho, feijão e outras espécies, cabe ainda, por exemplo, bananeiras, capim elefante, mandioca, inhame, pimenta malagueta, sapoti, leucena, mulungu, sapucaia, mangueira e ainda pimenta do reino nas árvores altas do futuro.”

“Cada espécie contribuirá para completar o consórcio e para que todas as outras prosperem melhor. Nenhuma delas cresce ou produz menos devido à presença das demais, pelo contrário, cada uma depende da outra para conseguir chegar ao estágio de desenvolvimento ótimo.”

Segundo Götsch, seu objetivo maior é mostrar que não existe terra ruim, mas interações inadequadas. “É claro, consigo mostrar melhor esse fato se pegarmos um lugar degradado. Fica mais fácil de compreender o potencial da terra”, explica. Tanto que seus princípios podem ser utilizados em diversos ecossistemas. “Amazônia, Cerrado, Altiplano Boliviano, Caatinga, eu vi que todos esses lugares podem ser um paraíso quando bem trabalhados”, diz.

Abaixo, três documentários que mostram como Ernst Götsch, agricultor e pesquisador suíço, tem recuperado nos últimos 30 anos terras degradadas, transformando-as em ecossistemas ricos. E mais: produzindo alimentos.

1- Vida em Sintropia: https://vimeo.com/146953911
Um curto documentário, genial, sobre o maravilhoso trabalho de Ernst Gotsch em “Agricultura Sintrópica”. Como esse documentários este grande senhor conseguiu transformar 1200 hectares de área desértica num oásis de vida e abundância de alimentos, num equilíbrio perfeito entre agricultura de larga escala e o eco-sistema, ao ponto de ter mudado o clima (!!!) e solo da sua propriedade!! Haja esperança na humanidade. Sim, é possível. Vamos espalhar  a sua semente e juntos podemos fazer a diferença!!

Documentário realizado por Felipe Pasini, Ilana Nina e Monica Soffiatti. “Neste Chão Tudo Dá – semeando conhecimento e colhendo resultados” é um registro informal realizado durante uma viagem pela Bahia sobre o trabalho e o pensamento do agricultor e pesquisador Ernst Gotsch. Além disso, ainda conhecemos a vida de agricultores que conseguiram aumentar a qualidade de vida de suas famílias através da prática agroflorestal.
O título do documentário é muito feliz em lembrar da primeira definição oficial dada ao Brasil, na carta de Pero Vaz de Caminha (escriba de Pedro Álvarez Cabral) ao então Rei de Portugal: “é uma terra em que se plantando, tudo dá”.

3- Abundância: https://vimeo.com/48481368
Documentário filmado no Workshop de Agrofloresta com Ernest Gotsch, organizado pela Cooperativa Sitio, em Mangualde, Portugal, sobre o conhecimento e filosofia por trás deste modo de agricultura sustentável e o interesse que suscita em tantas pessoas.

Para refletir:  Ernst faz um breve comentário sobre o sistema opressivo e totalitário em que vivemos.

O que é o 'ikigai', o segredo japonês para um vida longa, feliz e saudável

Você sabe por que se levanta pela manhã? Se consegue responder a isso, então, você já encontrou seu ikigai, um conceito japonês antigo que pode ser a chave para uma vida longa, feliz e saudável.

Não existe uma tradução direta para o termo. O mais próximo que se pode chegar é a descrição feita por Ken Mogi, autor do livro "Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz" (Astral Cultural, 2018).

"Ikigai é a sua razão de viver", diz o neurocientista japonês. "É o motivo que faz você acordar todos os dias."

O conceito vem de Okinawa, um grupo de ilhas ao sul do Japão com uma população de moradores centenários bem acima da expectativa de vida média, mesmo para os padrões japoneses.

Muitos acreditam que o ikigai é o segredo de sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, como explica Mogi, e a ideia representada por ele está se espalhando para outras partes do mundo.

Segundo o autor, é "muito importante identificar as coisas que você gosta de fazer e que te dão prazer, porque elas dão propósito à vida e levam a uma existência longa e feliz".

"E não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que você quer fazer com ela", afirma.

O ikigai também é algo muitas vezes relacionado à vitalidade.

"É a felicidade que vem de sempre ter algo para fazer, de estar ocupado", diz Francesc Miralles, que, junto com Héctor García, escreveu "Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz" (Intrínseca, 2016).

A ideia por trás disso é que, "se você encontra algo que dê sentido à sua vida, isso o faz seguir em frente e o mantém motivado", diz Miralles.

Como achar seu 'ikigai'?
Não é difícil, segundo Mogi. Você pode começar por algo simples como beber uma xícara de café pela manhã.

"Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e grandes metas que a vida acaba se tornando intimidadora. O legal do ikigai é que você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida."

Ser fácil de começar é um dos fatores que levam cada vez mais pessoas de fora do Japão a se interessarem pelo conceito, e alguns livros já foram publicados sobre o assunto.

"Qualquer um pode partir do que está ao seu alcance e começar a sentir-se bem e a experimentar os benefícios que isso traz antes de, gradualmente, evoluir para objetivos maiores."

Mas todo esse bem-estar em potencial depende de um pequeno detalhe: encontrar um ikigai.

E se você não sabe o que mexe com você?
"Você precisa observar a si mesmo", recomenda Mogi.

"Parta do zero, olhe-se no espelho: que tipo de pessoa é você? Pense no passado e no que te dá prazer. Isso te dará uma pista. Como neurocientista, eu acredito que as coisas que nos dão prazer são reflexos do tipo de pessoas que nós somos."

Mas ampliar seu horizonte para objetivos maiores pode ser mais complexo. "Se você não sabe o que quer da vida, comece fazendo uma lista do que você não quer, quais situações te deixam desconfortável ou infeliz, quais atividades prefere evitar", aconselha Miralles.

"Você pode descobrir que há várias coisas que te deixam feliz: aprender coisas novas, cuidar do jardim, ajudar outras pessoas, resolver problemas, fazer música... ou vender coisas, falar em público."

Miralles admite que encontrar um ikigai não é sempre um processo simples. "Há pessoas que sabem o que querem ser desde a infância, mas a maioria de nós não sabia o que queria."

E há o peso do cotidiano: "Vamos à escola, buscamos emprego, lidamos com obrigações e pagamos contas... e, com isso, podemos nos distanciar de nossos impulsos naturais".

Para ajudar a encontrar sua paixão, o escritor sugere seguir o conselho do cientista da computação e palestrante motivacional Randy Pausch (1960-2008): "Resgate seus sonhos de infância. Quais eram? Desenhar por horas? Dançar? Correr? Pense em quando era pequeno e no que te deixava feliz e você não faz mais".

"A beleza do ikigai é que é algo muito pessoal", diz Mogi. "Não é algo dado a você, de forma passiva. Você precisa explorar sua mente e cultivar seu ikigai."

Isso torna-se muito importante em sociedades como a japonesa, que podem ser vistas como bastante homogêneas, afirma Mogi, "porque cada pessoa tem seu ikigai, e isso vira uma forma de celebrar as diferenças individuais".

Quantos 'ikigais' você pode ter?
Há muitas formas de ter prazer. Na verdade, é importante ter vários ikigais, dos mais simples aos mais ambiciosos.

"A maioria das religiões só acreditam em um Deus. Mas, no Japão, acreditamos que há 8 milhões de deuses", diz Mogi.

"Isso influencia como os japoneses veem o ikigai: não acreditamos que há só uma coisa importante, não perseguimos apenas um objetivo, pode haver milhares de coisas diferentes que podem nos dar prazer."

Mogi dá um exemplo como isso se aplica em sua vida prática. "Meu ikigai menor é correr 10 km em Tóquio todos os dias. Mas, como cientista, minha maior alegria é ter ideias novas e, talvez, dar uma contribuição para o mundo. Isso também é meu ikigai".

Há alguma prova de que o 'ikigai' funciona?
Mogi está convencido de que sim, e aponta estudos realizados pela Universidade Toho, em Tóquio, que investigam o sentido e significado da vida e sua correlação com a taxa de mortalidade em idosos.

De acordo com estudos realizados com idosos que levam um estilo de vida equilibrado, há uma correlação entre longevidade e ter uma razão de viver: seu sistema imunológico - e, em especial, um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo - atua melhor, ajudando a mantê-los saudáveis por mais tempo.

Em uma outra pesquisa, a neuropsicóloga americana Patricia Boyle, do Centro Rush para Mal de Alzheimer, em Chicago, acompanhou 900 idosos que corriam o risco de desenvolver demência em um período de sete anos.

Ela concluiu que aqueles com uma boa noção de seu propósito de vida tinham 50% menos chances de ficar doentes.

"O cérebro humano tem uma habilidade incrível de regular as funções do corpo. Em alguns casos, pode se curar por conta própria, como demonstrado pelo efeito placebo", afirma Mogi.

"Se você acha seu ikigai, as pequenas coisas que dão significado à vida podem te ajudar a preservar sua saúde por mais tempo."

Quem são os mestres do 'ikigai'?
Quando Francesc Miralles e Héctor García visitaram Ogimi, um vilarejo de Okinawa, eles chegaram à mesma conclusão sobre a relação entre a longevidade e o ikigai.

Ogimi tem 3 mil habitantes e está no Livro Guinness dos Recordes por ter a população mais velha do mundo. Também é um epicentro do ikigai.

Não é uma surpresa, portanto, que Okinawa seja conhecida como a "Terra dos Imortais".

As pessoas dessa região do Japão tiram proveito do clima subtropical, têm uma dieta rica em frutas e vegetais, moram em comunidades onde se valorizam os laços pessoais e se mantêm ativas fisicamente por toda a vida.

Miralles e García se interessaram pela "história do vilarejo de centenários, onde tantas pessoas vivem além dos 100 anos". "Queríamos descobrir o porquê disso", diz Miralles.

"Como parte de nosso trabalho de campo, perguntamos aos idosos de Ogimi o motivo de estarem sempre alegres, por que cuidavam uns dos outros, o que os fazia ter laços tão fortes uns com os outros... e uma palavra era mencionada com frequência: ikigai."

Um dos aspectos que diferenciam o ikigai de simplesmente ter um hobby é que não se trata de obter uma gratificação instantânea. É algo que impulsiona a pessoa rumo ao futuro e a faz seguir em frente.

Miralles diz que há outros lugares do mundo com condições de vida semelhantes às de Ogimi, mas não com a mesma proporção de moradores centenários. Então seria o ikigai o segredo da longevidade? "Acredito que essa seja a diferença."

Expectativa de saúde x expectativa de vida
Outro fator que diferencia os centenários de Okinawa é sua expectativa de saúde maior - eles permanecem saudáveis por quase toda a sua longa vida.

O Estudo Centenário de Okinawa é uma pesquisa contínua com essa população feita por uma equipe internacional de médicos que coleta dados sobre o tema desde 1975.

Ele revela que os idosos desta região japonesa não têm apenas uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo em relação a uma série de doenças crônicas ligadas ao envelhecimento, mas uma das maiores expectativas de saúde do planeta.

Fazendo o 'ikigai' funcionar para você
É claro que nem todos nós podemos levar uma vida idílica em Okinawa, "mas todos podemos 'criar nossa Okinawa' onde estamos", segundo Miralles.

Ele destaca que, ainda que essa região seja bem diferente do resto do país, outras partes do Japão adaptaram o conceito às suas vidas, mesmo em ambientes urbanos.

Para trazer o ikigai para sua vida você não precisa se mudar, mas apenas entender a essência do conceito e torná-lo parte do seu cotidiano.

"O ikigai pode te servir de apoio sem que seja necessária a aprovação de outras pessoas para isso", diz Ken Mogi.

"Trata-se de descobrir o que te faz feliz. Não é preciso que outras pessoas te avaliem e te premiem por isso."

Então, se você quiser ter uma vida longa e saudável, vale a pena tentar descobrir seu ikigai. "Não é apenas bem-estar. O Ikigai também é uma esperança para o futuro", afirma o neurocientista japonês.

Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/o-que-e-o-ikigai-o-segredo-japones-para-um-vida-longa-feliz-e-saudavel.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1

EMBRAPA lança e-book sobre cultivo de hortas em pequenos espaços

Uma das publicações mais baixadas entre os títulos disponibilizados para downloads no portal da Embrapa, o livro “Horta em Pequenos Espaços” ganhou mais um atrativo e pode ser lido também na versão digital (e-book), em formato e-pub. Primeira publicação da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) a receber esse tratamento, o livro eletrônico pode ser baixado gratuitamente na página da Unidade.

Além de contemplar um público leitor conectado e interessado em ações interativas, esse formato torna o conteúdo mais acessível a alguns públicos que não teriam acesso ao livro físico, a exemplo das pessoas com dificuldades visuais. Existem tecnologias disponíveis que transformam informações escritas na plataforma e-pub em áudio.

O acesso a essa plataforma exige, fundamentalmente, a instalação de um aplicativo leitor de e-pub no smartphone ou tablet – Há vários e diferentes aplicativos disponíveis no Google Play e no Apple Store, bastando pesquisar o termo ‘e-pub’.

Após a instalação do leitor, o próximo passo é fazer o download do e-book “Horta em Pequenos Espaços” no dispositivo móvel.

MESMO CONTEÚDO, NOVA PLATAFORMA

Dividido em quatro capítulos, o livro aponta – em linguagem simples e objetiva – os passos básicos relacionados às diferentes etapas de cultivo: plantio, manejo e manutenção das hortas em pequenos espaços, ou os denominados espaços alternativos para o cultivo como pneus, garrafas pet, canos de PVC, baldes e latas.

Para a supervisora do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias (SPAT) Flávia Clemente, que divide a edição técnica do “Horta em Pequenos Espaços” com a analista Lenita Haber, da área de Transferência de Tecnologia, a nova plataforma só traz ganhos, “em todos os sentidos”.

“Vejo como muito positivo esse formato, tanto no que diz respeito ao modo operacional para reduzir custos de impressão, quanto na maneira mais plena e acessível de as informações serem disponibilizadas, além de aumentar a amplitude da marca Embrapa”, acentua a supervisora, para quem “a nova ferramenta se adapta ao novo conceito de leitura ao acompanhar o processo evolutivo da comunicação digital”.

Para fazer o download do material completo acesse https://bit.ly/1E55dYt

Para mais informações sobre o tema, acesse o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da Embrapa através do endereço www.embrapa.br/fale-conosco/sac/.

Via Embrapa – Anelise Macedo / CI Orgânicos

Embrapa Hortaliças
hortaliças.imprensa@embrapa.br
Telefone: (61) 3385-9110

6 programas de saúde pública do Brasil considerados referência no mundo

Vale a pena ler: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2018/06/05/6-programas-de-saude-publica-do-brasil-considerados-referencia-no-mundo.htm

terça-feira, 22 de maio de 2018

CFM alerta: Pós-graduação não garante obtenção de título de especialista

A simples existência de um curso de pós-graduação lato sensu, ainda que reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), não habilita o médico se anunciar como especialista, tendo somente valor acadêmico. Apenas duas formas podem levar o médico a obter a  especialização: 

  1. por meio de uma prova de títulos e habilidades das Sociedades de Especialidades filiadas pela Associação Médica Brasileira; 
  2. e/ou por residência médica reconhecidas pela Comissão Nacional de Residência Médica. 

O alerta é feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) que debateu o assunto em Sessão Plenária  em Brasília. “O CFM está atento a propagandas de alguns cursos de pós-graduação que induzem interpretação equivocada”, afirmou o presidente da entidade.

A Plenária do CFM ressaltou que o médico somente poderá anunciar especialidade quando estiver registrado o título no Conselho Regional de Medicina em que estiver inscrito.

Seguem algumas perguntas e respostas importantes:

1. Fiz pós-graduação lato sensu em área que não é considerada especialidade médica pelo CFM. Posso anunciá-la?
R: Não. Por terem potencial para confundir o paciente, esses títulos não devem ser anunciados.

2. Tenho pós-graduação em geriatria, mas não possuo o título de especialista. Posso inserir a palavra "geriatria" em meu carimbo?
R: Não. Para se apresentar como geriatra ou profissional de geriatria é preciso ter o título de especialista em geriatria, adquirido por meio do programa de residência médica ou por
avaliação de sociedade de especialidade reconhecida pelo CFM. O paciente deve ter absoluta clareza sobre a formação do médico que o atende.

3. Sou psiquiatra. A medicina do sono é uma área de atuação da psiquiatria. Não tenho título de sociedade relacionado a esta área, mas fiz pós-graduação lato sensu neste campo. Posso anunciá-la, já que esta área do conhecimento tem relação com a minha especialidade?
R: Não. Para anunciar-se como profissional de determinada área de atuação faz-se necessário ter título adquirido por meio do programa de residência médica ou por avaliação de sociedade de especialidade reconhecida pelo CFM. Adicionalmente, este
título deve ser registrado no CRM local. 

4. Sou cardiologista e fiz um mestrado em psiquiatria. Posso fazer referência a esse título no material de meu consultório de cardiologia, nos cartões de visita e em outras peças de
publicidade e papelaria?
R: Não. A resolução o impede associar títulos acadêmicos à sua especialidade médica quando não são da mesma área. O CFM entende que o anúncio desse título confunde o paciente. Esse tipo de anúncio induz o paciente a crer, por exemplo, que o mestrado torna o profissional um psiquiatra ou cardiologista mais habilitado, o que não é verdade. De qualquer modo, você pode anunciar todos os títulos que possui relacionados à sua
especialidade. Eles só precisam ser previamente registrados no CRM local.

5. Os treinamentos que realizei, mas que não resultaram em título acadêmico, relacionados com minha especialidade, podem ser anunciados?
R: Sim. Antes de anunciá-los, no entanto, você deve registrá-los no CRM local.


Saiba mais com a Resolução CFM nº 1634/2002:
(http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2002/1634_2002.htm).

domingo, 20 de maio de 2018

Luz como disruptor endócrino


A iluminação noturna é uma marca do mundo moderno, mas devemos lembrar que a eletricidade tem pouco mais de um século e nos milhões de anos anteriores de vida humana na Terra estávamos sujeitos a um ritmo diário preciso, com luz solar durante o dia e escuridão noturna.

Nesse sentido, será que a exposição à luz noturna não causa também perturbações no nosso metabolismo? E a resposta é: sem dúvida nenhuma. 
A conseqüência mais conhecida da presença de luz noturna é a redução da secreção de melatonina, um hormônio que sinaliza ao nosso corpo que é noite. Essa redução pode levar a distúrbios do sono, mas há vasto campo de pesquisa mostrando, em animais, que essa perturbação circadiana e redução da melatonina leva a alterações metabólicas como ganho de peso, resistência à insulina, diabetes tipo 2 e outras complicações. Em humanos, há menos dados, mas há sim evidências que pessoas expostas a excesso de iluminação tem saúde metabólica pior.

Uma das hipóteses seria que a melatonina ajuda nosso corpo a realizar a lipólise (quebra de gordura) e aumenta o gasto energético por aumentar nossa gordura marrom, uma gordura que usa energia para fazer calor, mais ativa durante o frio, para nos proteger, mas que possa se ativar em outras condições. Esse é o tema da minha tese de doutorado, que estou para concluir e pretendo em breve trazer novidades. Vou também discutir outros aspectos relacionados ao tema nas próximas semanas. Mas independentemente disso, o tema é muito fascinante e mostra como há muitas outras razões além do "comer muito e se exercitar pouco" na causa da obesidade.

Atenção: isto não significa que usar melatonina emagrece; esse pode ser tema de outra postagem --> apenas que a perturbação do nosso ritmo diário, em que a redução da melatonina é uma das características, pode ser uma causa de ganho de peso no longo prazo! 
Para quem se interessa, coloco um artigo sobre o assunto no link, em inglês.


Autor: Dr. Bruno Halpern

Fiocruz divulga nota contra flexibilização de lei sobre agrotóxicos

Em Nota Pública, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) se posiciona de forma contrária ao Projeto de Lei 6299/02, que trata do registro de agrotóxicos no país, com votação prevista no Congresso Nacional nesta terça-feira (8/5). Para a Fundação, o projeto visa alterar em profundidade o Marco Legal sobre o tema (lei 7.802/1989), que negligencia a promoção da saúde e a proteção da vida, e configura uma desregulamentação que irá fragilizar o registro e reavaliação desses produtos no Brasil. A proposta significa um retrocesso que põe em risco a população, em especial grupos populacionais vulnerabilizados como mulheres grávidas, crianças e os trabalhadores envolvidos em atividades produtivas que dependem da produção ou uso desses biocidas.

A instituição vem produzindo pesquisas que evidenciam os impactos negativos dos agrotóxicos para a saúde, o ambiente e a sociedade. A Fiocruz ressalta que o cenário de enormes vulnerabilidades sociais e institucionais existentes na maioria dos territórios onde há uso de agrotóxicos, que interferem diretamente na ocorrência dos casos de intoxicação, constitui uma situação verdadeiramente preocupante, e que pode ter repercussões graves e irreversíveis para gerações atuais e futuras.

Confira a nota na íntegra:

Nota pública contra a flexibilização da legislação de agrotóxicos
A expansão das commodities agrícolas impulsionou o mercado de agrotóxicos no Brasil, que hoje configura-se como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. O uso desses biocidas representa um grave problema de saúde pública devido tanto à toxicidade dos produtos quanto às enormes vulnerabilidades socioambientais e político-institucionais que o país enfrenta.

As recentes mudanças na conjuntura política no país impuseram uma série de medidas na seguridade social, observadas principalmente a partir das perdas de direitos presentes na reforma trabalhista realizada sem um amplo debate junto à sociedade brasileira e também pela ameaça de uma reforma previdenciária, realizadas para atender aos interesses do grande capital. É neste bojo que se coloca a retomada da pauta das mudanças no marco legal de registro de agrotóxicos no país, cujas alterações propostas foram agrupadas em um conjunto de projetos de lei denominado “Pacote do Veneno”, capitaneado pelo agronegócio e que busca flexibilizar o registro de agrotóxicos ao alterar em profundidade a lei 7.802/1989, negligenciado a promoção da saúde e proteção da vida.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem como missão institucional promover a saúde e o desenvolvimento social, gerar e difundir conhecimento cientifico e tecnológico e ser um agente de cidadania, sendo pautada pelo compromisso ético de produção de uma ciência crítica e engajada em defesa da saúde e do ambiente. Historicamente, a instituição vem produzindo pesquisas que evidenciam os danos relacionados ao uso dos agrotóxicos para a saúde, o ambiente e a sociedade, demonstrando claramente seus impactos. Do mesmo modo, a Fiocruz tem divulgado notas públicas evidenciando estes impactos e alertando para o risco do uso de agrotóxicos. Assim, a Fiocruz não pode se eximir de posicionar-se publicamente diante de situações que representem a negação de seu compromisso ético e institucional, e mesmo do própria conhecimento científico.

Nesse contexto, a Fiocruz se coloca contrária ao Projeto de Lei 6.299/2002, com votação prevista para 8 de maio de 2018 no Congresso Nacional e que, se aprovado, irá fragilizar o registro e reavaliação de agrotóxicos no país, que hoje tem uma das leis mais avançadas no mundo no que se refere à proteção do ambiente e da saúde humana.

As principais mudanças propostas incluem:

•    A mudança do nome “agrotóxicos” pelas expressões “defensivo fitossanitário” e “produtos de controle ambiental” em uma estratégia que oculta as situações de risco ao comunicar uma falsa segurança desses produtos químicos;

•    A centralização do poder decisório sobre a regulação dos agrotóxicos no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). De acordo com as alterações propostas, caberá ao Mapa a análise toxicológica e ecotoxicológica para a aprovação de registro de produtos, hoje atribuições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Também caberá ao órgão o estabelecimento de diretrizes para reduzir os impactos dos agrotóxicos sobre o ambiente e a saúde humana, dentre outras funções. Com as mudanças estes órgãos passarão a ter papel meramente consultivo, em uma estratégia que suprime a atuação reguladora do Estado ao deixar decisões que deveriam ser técnicas nas mãos do mercado;

•    A inserção da análise de risco, permitindo que produtos que hoje têm o registro proibido em função do perigo que representam – como aqueles que causam câncer, mutações, desregulações endócrinas e más-formações congênitas – passem a ter o registro permitido se o risco for considerado “aceitável”, banalizando o risco.

As alterações propostas representam um retrocesso que põe em risco a população, em especial grupos populacionais vulnerabilizados como mulheres grávidas, crianças e os trabalhadores envolvidos em atividades produtivas que dependem da produção ou uso desses biocidas. Somando-se a isso o cenário de enormes vulnerabilidades sociais e institucionais existentes na maioria dos territórios onde há uso de agrotóxicos, que interferem diretamente na ocorrência dos casos de intoxicação, tem-se uma situação verdadeiramente preocupante, e que pode ter repercussões graves e irreversíveis para gerações atuais e futuras, com custos de curto, médio e longo prazo.

A regulação de agrotóxicos não pode ser tratada de forma simplista, com a proposição de mudanças voltadas para atender aos interesses do mercado. A falsa justificativa de que é preciso “dar celeridade aos processos de registro” trata as avaliações hoje conduzidas como burocracias desnecessárias que representam entraves à economia, sendo esse um entendimento equivocado e perigoso que pode trazer prejuízos incomensuráveis para a saúde, o ambiente e a sociedade. Ao invés de resolver a precarização técnica e humana da estrutura reguladora, propõem sua desregulação. É preciso que haja rigor no processo de avaliação e que sejam ofertados aos órgãos competentes, tais como a Anvisa e o Ibama, condições adequadas de trabalho – materiais e pessoais – para que o processo de avaliação e registro de agrotóxicos possa ser conduzido com todo o rigor necessário para a proteção da vida e a defesa de um ambiente equilibrado.

A Fiocruz reafirma seu compromisso de defender o ambiente e a saúde, compreendendo que os interesses econômicos jamais podem se sobrepor aos de defesa da vida.”