terça-feira, 31 de julho de 2018

Alimentos crus ou cozidos ?


Texto publicado no instagram pela Dra. Ana Paula Pujol


✅Sempre ouvimos falar que é melhor consumir vegetais crus🥦do que cozidos🍲.

❗Porém, alguns nutrientes são mais bem absorvidos quando o alimento é submetido ao calor. É o caso do tomate 🍅 , por exemplo. O calor 🔥faz com que o licopeno – substância que dá o tom avermelhado e tem uma potente ação antioxidante – seja mais bem absorvido pelo corpo.💁🏻‍♀

✅O betacaroteno da cenoura 🥕 também. Quando a cenoura é cozida, o carotenoide, que é excelente para pele e cabelos, é mais bem aproveitado pelo organismo.🤗

✅O espinafre🍃quando cozido reduz o teor de oxalato e taninos substâncias que interferem na absorção de nutrientes como ferro, cálcio, zinco, fósforo.

✅O brócolis 🥦 quando consumido cru ou minimamente cozido concentra mais glicosinalatos que podem auxiliar na prevenção do câncer, atuar como antioxidante e auxiliar nos processos de destoxificação. Quando cozido, confere maior aproveitamento de carotenoides como luteína, zeaxantina e betacaroteno.

✅A beterraba crua tem mais nitrato, a substância que ajuda no desempenho no exercício e cozida concentra mais flavonoides.

💚Por isso, a sugestão é: varie o consumo de vegetais 🥗entre crus e cozidos! No caso na cenoura e espinafre, prefira cozimento “al dente” no vapor. O tomate é melhor que seja cozido sem casca e sem semente por no mínimo 15 minutos. Adicione um pouco de gordura como azeite de oliva. O preparo do brócolis está descrito em um post anterior #preparodobrócolis.


‼️Lembre-se de preferir vegetais da época, de produtores locais e sempre que possível, orgânicos!💚

Fontes: 

  • J. Agric. Food Chem., 2002, 50 (10), pp 3010–3014
  • J. Agric. Food Chem. , 2008 , 56 (1), pp. 139–147
  • J. Agric. Food Chem. , 2000 , 48 (4), pp 1315–1321
  • Pol. J. Food Nutr. Sci. 2003, Vol. 12/53, SI 1, pp. 170–174
  • Food Science and Biotechnology, v. 25, n. 1, p. 79-84, 2016.
  • Nigerian Journal of Basic and Applied Sciences, v. 24, n. 1, p. 35-40, 2016.
  • Journal of Culinary Science & Technology, v. 14, n. 1, p. 1-12, 2016
  • Food chemistry , v. 197, p. 466-473, 2016.

Melatonina por Dr. Bruno Halpern

A melatonina, ao contrário do que muitos pensam, não é o “hormônio do sono”, mas sim a “expressão hormonal da noite”. Em todas as espécies, a melatonina é produzida à noite, seja a espécie diurna ou noturna, e sua função é sincronizar o nosso relógio biológico interno com o relógio do meio ambiente (Basta pensar que, desde o surgimento da vida, há bilhões de anos, existe algo que se repete com regularidade: um dia seguido de uma noite, e todos os organismos vivos evoluíram e se adaptaram com essa certeza. A luz elétrica, porém, com menos de dois séculos de existência, interferiu com essa biologia básica e sua presença à noite confunde nossos ritmos internos, reduzindo a secreção noturna de melatonina e desregulando nosso relógio biológico, que fica "confuso", sem saber se é dia ou noite.

Não é difícil imaginar que isso traz consequências para o organismo: vários estudos sugerem que trabalhadores noturnos tem mais risco de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e mesmo cânceres; mas não é preciso trabalhar à noite: somente a exposição à luz noturna já se associa a risco de ganho de peso e doenças metabólicas, segundo alguns estudos. Trago aqui três figuras simples, que me foram fornecidas pelo Dr. José Cipolla-Neto, um dos maiores pesquisadores do mundo nesse assunto, que co-orienta minha tese de doutorado, que trata indiretamente sobre isso.



As figuras apenas mostram de maneira esquemática nossa produção de melatonina diária e como a luz no início da noite atrasa sua secreção e, mais interessante, como um pouco de luz durante toda a noite (como ocorre com aparelhos de TV mesmo desligados que contém uma luz embaixo, ou relógios digitiais, etc), podem também interferir com a secreção do hormônio.

Concluo dizendo que a espécie humana é uma espécie diurna, feita para trabalhar e se alimentar preferencialmente durante o dia e descansar à noite. Ao invertermos esse ritmo, ou prolongarmos o trabalho para noite, corremos o risco de diversos problemas de saúde. Fiquem atentos! #melatonina #sono #obesidade #endocrinologia

Fonte: Facebook do Dr. Bruno Halpern - https://www.facebook.com/DrBrunoHalpern/

Não há comprovação científica de que multivitamínicos beneficiem saúde do coração

Muito interessante esse estudo. Vai de encontro com o que defendo há quase 1 década: uso de polivitamínicos e multiminerais (PVM) deve ser restringido a grupos de risco para deficiências (bariátricos, gestantes, doenças de má-absorção).

Sempre explico para meus pacientes que a utilização de PVM pode ser arriscada, já que tudo dependerá do solo local (ex. solo do cerrado é rico em cobre, manganês, alumínio) e da dieta base do indivíduo. Sendo assim, muitas vezes o produto pode ser deletério, já que há um risco de ingestão excessiva de determinado micronutriente e com isso afetar a absorção de outros. 

Portanto a dica que dou é: NÃO  se automedique !

Além disso uma coisa que os estudos tem mostrado há quase uma década, é que muitas vezes um nutriente parece ser benéfico para algumas doenças, mas quando pesquisadores estudam as formas sintéticas elas parecem não mostrar os benefícios creditados. Exemplo clássico: ômega 3 e saúde cardiovascular. 

Há estudos mostrando bons desfechos clínicos com a utilização de ômega 3 encapsulado, assim como há meta-análises mostrando o contrário. Porém a grande maioria dos estudos que correlacionam ingestão (in natura = peixes, oleaginosas) e risco cardiovascular, mostram benefício. Ou seja, in natura pelo menos de acordo com os estudos mais recentes, tem se mostrado muito superior. 

Não há comprovação científica de que multivitamínicos beneficiem saúde do coração

O uso de suplementos multivitamínicos e minerais não previne infarto do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou morte por doença cardiovascular, apontou a revisão de uma meta-análise abrangente feita com pesquisas relevantes.

"A lição é simples: não há evidências científicas de que os suplementos multivitamínicos e minerais beneficiem a saúde cardiovascular. Esperamos que o nosso artigo contribua para resolver a controvérsia sobre o uso de suplementos multivitamínicos e minerais para a prevenção da doença cardiovascular", declarou ao Medscape o primeiro autor do estudo, Dr. Joonseok Kim, da University of Alabama em Birmingham (EUA).

O estudo foi publicado on-line em 10 de julho no periódico Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes.

"Quase metade dos adultos americanos toma suplementos vitamínicos e minerais, mas poucos benefícios foram comprovados", disse a Dra. JoAnn Manson, chefe da medicina preventiva no Brigham and Women's Hospital, e professora de medicina na Harvard Medical School, ambos em Boston, Massachusetts (EUA). A Dra. JoAnn não participou do estudo.

"No que se refere a multivitamínicos e doenças cardiovasculares, especificamente, nem estudos observacionais nem ensaios clínicos randomizados revelam benefícios claros para a prevenção primária ou secundária", disse a Dra. JoAnn ao Medscape.

"É importante ressaltar que os médicos devem ser claros ao dizer aos pacientes que suplementos vitamínicos nunca substituirão uma alimentação saudável e balanceada, o que contribui muito para a saúde vascular. Além disso, os micronutrientes dos alimentos são mais bem absorvidos pelo organismo do que os suplementos", alertou.

Dr. Kim e colaboradores fizeram uma revisão sistemática e uma meta-análise de 18 estudos com mais de dois milhões de adultos (média de idade de 57,8 anos), com uma média de acompanhamento de 11,6 anos. Destes, 11 estudos foram feitos nos Estados Unidos, quatro na Europa e três no Japão. Apenas cinco estudos especificaram a dose e o tipo de suplemento multivitamínico e mineral utilizado.

No geral, não houve associação entre o uso de suplementos multivitamínicos e minerais e a mortalidade por doença cardiovascular, informaram os pesquisadores.

Também não houve vínculo entre suplementos multivitamínicos e minerais e doença cardiovascular ou mortalidade por doença coronariana nos subgrupos pré-determinados categorizados por média de acompanhamento; média de idade; tempo de uso dos suplementos; sexo; tipo de população; exclusão de pacientes com história de doença coronariana; e ajuste por alimentação, tabagismo, prática de atividades físicas e centro do estudo.

O uso de suplementos multivitamínicos e minerais pareceu estar associado a menor risco de incidência de doença coronariana (risco relativo, RR, de 0,88; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,79 a 0,97). No entanto, esta associação não permaneceu significativa na análise de subgrupos agrupados de ensaios clínicos randomizados (RR = 0,97; IC de 95%, de 0,80 a 1,19).

"Tem sido excepcionalmente difícil convencer as pessoas, inclusive os pesquisadores em nutrição, a reconhecer que os suplementos multivitamínicos e minerais não previnem doença cardiovascular", disse o Dr. Kim em um comunicado à imprensa.

"Espero que os resultados do nosso estudo contribuam para reduzir o frenesi em torno dos suplementos multivitamínicos e minerais, e incentive as pessoas a usarem métodos comprovados para reduzir o próprio risco de doença cardiovascular – como comer mais frutas e legumes, fazer exercícios e evitar o tabaco".

A American Heart Association não recomenda o uso de suplementos multivitamínicos e minerais na prevenção de doença cardiovascular.

"Prática plausível, porém inútil"

No editorial que acompanha o estudo, a Dra. Alyson Haslam e o Dr. Vinay Prasad, ambos da Oregon Health & Science University, em Portland (EUA), observaram que as práticas em biomedicina costumam ser adotadas porque "apelam às nossas esperanças e por existir plausibilidade biológica".

No caso dos multivitamínicos, faz sentido que algumas vitaminas possam reduzir o risco de doença cardiovascular, por serem anti-inflamatórias ou, mais amplamente, por melhorarem a saúde e o bem-estar. No entanto, neste caso, parece que o não fazem, assim sendo, o uso de multivitamínicos para doença cardiovascular entra para a lista de práticas plausíveis, porém inúteis em cardiologia", concluíram.

Embora as doses dos multivitamínicos tendam a ser moderadas e, provavelmente, mais seguras do que as altas doses dos suplementos alimentares separadamente, "não são completamente isentas de risco para todos os pacientes", afirmou a Dra. JoAnn ao Medscape.

Por exemplo, os suplementos alimentares podem interagir com alguns medicamentos, como a vitamina K e a varfarina, interferir nos resultados de alguns exames laboratoriais, como a dosagem dos níveis de biotina e troponina, e também causar efeitos colaterais, como sintomas digestivos, em alguns pacientes, explicou.

"Assim, a suplementação multivitamínica de rotina não é recomendada para a população em geral, embora uma abordagem direcionada seja apropriada em certos momentos da vida e para os grupos de alto risco", disse a Dra. JoAnn.

Alguns exemplos de momentos pertinentes são durante a gestação, quando a suplementação com ácido fólico e vitaminas do pré-natal apresenta resultados positivos, e na meia-idade ou para os idosos – destes, alguns podem se beneficiar da suplementação de vitamina B12, vitamina D e/ou cálcio. Os grupos de alto risco, como as pessoas com síndromes de má absorção, dietas restritivas, osteoporose, anemia perniciosa e degeneração macular relacionada à idade, bem como as pessoas que fazem uso prolongado de metformina ou inibidores da bomba de prótons, também podem se beneficiar dos suplementos alimentares, afirmou.

A Dra. JoAnn também observou que o Physicians' Health Study II, um ensaio clínico randomizado em larga escala sobre multivitamínicos para homens, revelou que esses suplementos podem reduzir discretamente a incidência de câncer. Este resultado está sendo estudado mais profundamente no ensaio clínico COSMOS, que está testando se os multivitamínicos, com ou sem flavonoides do cacau, podem reduzir o risco de câncer e de doença cardiovascular em homens e mulheres idosos.

"Os resultados do COSMOS são esperados para daqui a dois anos, portanto, fiquem atentos", recomendou a Dra. JoAnn.

Os autores declararam não receber financiamento externo nem possuir conflitos de interesse relevantes. O Dr. Vinay Prasad recebeu royalties por seu livro Ending Medical Reversal e remuneração por contribuições ao Medscape.




Agrotóxicos desregulam perigosamente os nossos hormônios


Excelente reportagem, feita com informações fornecidas por quem entende do tema, a Dr. Tânia Bochega, endocrinologista e professora da USP.

Vale a pena ler: https://luciahelena.blogosfera.uol.com.br/2018/07/17/agrotoxicos-desregulam-perigosamente-os-nossos-hormonios/

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Afinal, o que é a Nutrologia e o que faz um nutrólogo ?


Nutrologia pode ser definida como uma especialidade médica que estuda a fisiopatologia, o diagnóstico e tratamento das doenças nutricionais. Compreende-se por Doença Nutricional, qualquer patologia que tem como agente primário etiológico algum nutriente, seja ele excesso ou déficit.
O início da Nutrição médica ou Nutrologia Médica começou em 1932 com o médico Josué de Castro que estudou problemas relacionados a nutrição no Brasil, influenciado pelo Nutrólogo argentino Pedro Escudeiro (o pai da Nutrição médica na América Latina). Dr. Josué foi responsável pelo primeiro estudo de inquérito alimentar no Brasil. Foi criador do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS, 1940), da Comissão Nacional de Alimentação (CNA, 1945). Criou e dirigiu o Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil por 10 anos. Foi diretor cientifico dos Arquivos Brasileiros.
Um outro pioneiro na área de Nutrição médica no Brasil é o Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira. Ele foi um dos responsáveis pelo reconhecimento da importância e da necessidade do ensino da Nutrição clínica no ensino médico e desde a década de 50 atua em nosso país. Em 1956 criou a divisão de Nutrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (HCFMUSP-RP)
A Nutrologia apesar de parecer uma especialidade nova no Brasil, já tem mais de 45 anos, no Brasil sendo representada pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Uma associação médica que foi criada em 1973 no Rio de Janeiro pelos médicos Prof. Dr. José Evangelista (in memorian) e Dra. Clara Sambaquy Evangelista (in memorian).
É importante salientar que o termo Nutrologia, proposto pelo Prof. Dr. José Evangelista, e aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB), tem também as denominações correspondentes como: Nutrologia Médica, Nutrologia Funcional, Nutrição Médica, que são sinônimos e representam por definição e analogia o termo Nutrologia.
Posteriormente vários médicos deram continuidade ao projeto do casal Evangelista, dentre eles o Prof. Dutra e seus “discípulos” da divisão de Nutrologia do HCFMUSP-RP.
Dr. Hélio Vanuchi:
Dr. José Ernesto dos Santos:
Dr. Júlio Sergio Marchini:
Dr. Fernando Bahdur Chueire:
Dra. Vivian Marques Miguel Suen:
Dra. Selma Freire

Porém só em 1978, a Nutrologia foi reconhecida como Especialidade Médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelo Conselho Nacional de Residência Médica (CNRM).
Atualmente o presidente da ABRAN é o Prof. Dr. Durval Ribas Filho, médico, endocrinologista e Nutrólogo.
Muitos profissionais ligados à área de Nutrição médica não se intitulam nutrólogos, nem são filiados ou titulados à ABRAN, mas merecem o nosso reconhecimento pelos feitos na área, dentre esses profissionais temos:
Prof. Dr. Dan Waitzberg (GANEP): Médico cirurgião e profº associado do deptº de Gastroenterologia da FMUSP, Coordenador do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia Digestiva – Metanutri da FMUSP, Coordenador da Comissão de Nutrologia do Complexo Hospitalar Hospital das Clinicas da FMUSP. Diretor do Ganep Nutrição Humana.
Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar-Nascimento (UFMT): Médico, especialista em Cirurgia do aparelho digestivo. Mestre e doutor em Gastroenterologia Cirúrgica pela UNIFESP. É responsável pelo grupo de pesquisa Nutrição e Cirurgia da UFMT e pelo projeto ACERTO (www.projetoacerto.com.br).
Prof. Msc. Maria de Lourdes Teixeira da Silva (GANEP): Médica, especialista em nutrição parenteral e enteral (BRASPEN), Mestre em Gastroenterologia e diretora do GANEP.
Dr. Antônio Carlos L. Campos (UFPR): Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coordenador do Programa de Pós-graduação em Clínica Cirúrgica da Universidade Federal do Paraná. Ex-Presidente da SBNPE e da FELANPE.
Prof. Dra. Isabel Correia (UFMG): Médica e professora de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. Coordenadora do grupo de Nutrição do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG.
Dra. Maria Cristina Gonzales (UCPEL): Médica, especialista em Gastroenterologia e Nutrição enteral e parenteral (BRASPEN). Professora Titular no Programa de Pós-graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas, RS. Professora Colaboradora no Programa de Pós-graduação em Nutrição e Alimentos da Universidade Federal de Pelotas, RS. Editora do BRASPEN Journal.
Dra. Melina Castro (BRASPEN): Médica, especialista em Nutrologia pela Faculdade de Medicina da USP. Doutora pela Faculdade de Medicina da USP. Coordenadora da EMTN do Hospital Mario Covas – Faculdade de Medicina do ABC. Coordenadora da Pós-graduação de Terapia Nutricional em doentes graves do Hospital Israelita Albert Einstein.
Dr. Paulo Cesar Ribeiro (BRASPEN): Médico cirurgião geral. Especialista em Proctologia, Medicina Intensiva e Nutrição enteral e parenteral (BRASPEN).  Mestre em Cirurgia Geral pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Responsável pelo Serviço de Terapia Nutricional Artificial do Hospital Sírio Libanês.
Dr. Rodrigo Costa (BRASPEN): Médico, especialista em Clínica médica, Nefrologia, Medicina intensiva e Nutrologia. Coordenador da EMTN do Hospital de Urgências de Goiânia. Professor do Comitê de Terapia Nutricional da AMIB.
Dr. Haroldo Falcão (BRASPEN): Médico, especialista em Medicina intensiva e Nutrologia (ABRAN). Professor do Comitê de Terapia Nutricional da AMIB.
Dr. Diogo Toledo (BRASPEN): Médico intensivista e especialista em Nutrição enteral e parenteral (BRASPEN). Presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN). Coordenador do Comitê de Terapia Nutricional da AMIB.
ABRAN realizou o 1º. Curso Nacional de Atualização em Nutrologia (CNNutro) em 2003. O mesmo nos primeiros anos ocorreu na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Nos últimos anos, o CNNUTRO vem sendo realizado em São Paulo-SP. Atualmente a ABRAN promove também o Curso Nacional de Nutrição enteral e parenteral (CNNEP). Para maior intercâmbio entre os afiliados e o público interessado em Nutrologia, a ABRAN criou o Nutro News (NN), um informativo trimestral e a Revista Científica de Nutrologia (International Journal of Nutrology), de distribuição gratuita para os afiliados. Anualmente promove o Congresso Brasileiro de Nutrologia (CBNutrologia) e jornadas regionais de Nutrologia.
GANEP que é uma instituição aberta para médicos que atuam na área de nutrição médica e para nutricionistas possui uma pós-graduação em Nutrição clínica, Residência Médica no Hospital da Beneficência Portuguesa e organiza anualmente um congresso, o GANEPÃO.
BRASPEN é a entidade responsável por emitir os títulos na área de atuação em Nutrição Parenteral e Enteral. Organiza vários cursos em todo o país e anualmente tem o seu congresso nacional.
No Brasil a Especialidade relacionada à Nutrição médica é a Nutrologia. Porém há áreas de atuação dentro da Nutrologia. São elas:
  • Nutrição Parenteral e Enteral
  • Nutrição Parenteral e Enteral Pediátrica
  • Nutrologia Pediátrica
No Brasil há pouco mais de 1600 Nutrólogo titulados. Nos últimos 5 anos a Especialidade cresceu exponencialmente, porém poucos ainda são nutrólogos verdadeiramente, ou seja, titulados e registrados no CFM. Quando um profissional se intitula algo sem possuir o título, ele está cometendo infração ética perante o Código de Ética Médica que rege a medicina. Portanto, antes de se consultar com um profissional que se diz Nutrólogo, verifique se o mesmo é, realizando uma pesquisa simples no site do CFM ou dos CRMs regionais.
Acho importante salientar que na atualidade alguns profissionais estão levando a uma deturpação do que é realmente a Nutrologia. Pessoas confundindo terapias como Ortomolecular, Anti-aging, Nutriendocrinologia ou Medicina Integrativa com a Nutrologia.
Estas terapias até podem utilizar de elementos da Nutrologia e terem sua base calcada em fundamentos nutrológicos, mas a Nutrologia não incorpora na sua prática clínica ou hospitalar nada destas áreas, que sequer são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina.
Mas afinal, o que faz um nutrólogo ?
O Nutrólogo é o médico habilitado e capacitado para diagnosticar, acompanhar e tratar todas as doenças que sejam de cunho nutricional ou que a ingestão alimentar pode influenciar no prognóstico.
A Nutrologia estudapesquisa e avalia os malefícios decorrentes da ingestão ou déficit de um determinado nutriente. Baseado nessa premissa, a Nutrologia aplica esse conhecimento para a avaliação de nossas necessidades orgânicas, visando a manutenção da saúde e redução de risco de doenças, assim como o tratamento das manifestações de deficiência ou excesso de nutrientes.
O acompanhamento do estado nutricional do paciente e a compreensão da fisiopatologia das doenças diretamente relacionadas com os nutrientes permitem ao médico Nutrólogo atuar no diagnósticoprevenção e tratamento destas doenças, contribuindo na promoção de uma vida saudável, com melhor qualidade de vida.
Nossa abrangência engloba:
  • O diagnóstico e tratamento das doenças nutricionais (que incluem as doenças nutroneurometabólicas de alta prevalência nos dias de hoje como a obesidade, a hipertensão arterial e o diabetes mellitus), utilizando de todo um arsenal propedêutico (investigativo) e terapêutico: solicitação e avaliação de exames complementares, prescrição de medicações, vitaminas, minerais, ácidos graxos, antioxidantes, quando necessários.
  • A identificação de possíveis “erros” alimentareshábitos errôneos de vida ou estados orgânicos que estejam contribuindo para o quadro nutricional do paciente, já que as interrelações entre nutrientes-nutrientes, nutrientes-medicamentos e de mecanismos regulatórios orgânicos são complexas, podendo levar ao padecimento do organismo.
  • O esclarecimento ao paciente, de que existem doenças nutricionais, decorrentes de alterações nos nutrientes. Desde condições mais simples, como anemia ferropriva e carência de vitamina A, até condições mais complexas, como: obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, vários tipos de câncer, anorexia nervosa, osteoporose. Elucidar para o paciente quais são as substâncias benéficas e maléficas presentes nos alimentos, de modo que ele mesmo saiba fazer as suas escolhas alimentares para viver mais e melhor.
  • Tratamento de pacientes gravemente enfermos ou internados em hospitais, a fim de se combater a desnutrição principalmente intra-hospitalar.
Baseado nisso, em quais estabelecimentos um médico Nutrólogo poderia atuar? Em quais áreas poderia adentar?
Para fins didáticos, prefiro subdividir a Nutrologia em Nutrologia clínica e Nutrologia Hospitalar.
Nutrólogo que atua em Nutrologia clínica geralmente exerce suas atividades dentro de serviços ambulatoriais/consultório, atendendo situações que não necessitam de intervenção emergencial. Ex: médico Nutrólogo que trabalha com obesidade em ambulatório no sistema público ou em consultório privado. Eu sou um Nutrólogo clínico. 
Já a Nutrologia hospitalar, como o próprio nome diz, englobará atuações dentro do âmbito hospitalar. Ou seja, pacientes internados em enfermarias ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A Nutrologia hospitalar geralmente utiliza dentro do seu arsenal terapêutico, de fórmulas enterais (via sonda ou gastrostomia/jejunostomia) ou formulações parenterais (via endovenosa).
Dentre as áreas que o Nutrólogo pode atuar, além da hospitalar temos:
  • Nutrologia pediátrica
  • Nutrologia geriátrica
  • Nutrologia esportiva
  • Nutrologia oncológica
  • Nutroterapia no paciente cirúrgico
  • Nutroterapia materno-fetal
  • Nutroterapia de doenças hepáticas,
  • Nutroterapia de doenças gastrintestinais,
  • Nutroterapia de doenças renais,
  • Nutroterapia de doenças pulmonares,
  • Nutroterapia de doenças cardíacas e vasculares,
  • Nutroterapia de doenças neurológicas,
  • Nutroterapia de doenças reumatológicas,
  • Nutroterapia de doenças osteomusculares,
  • Nutroterapia de doenças ginecológicas,
  • Nutroterapia de doenças hematológicas,
  • Nutroterapia de doenças alérgicas.
Ou seja, o Nutrólogo pode atuar em todas as áreas da medicina, já que existe uma interface entre a maioria das doenças e aspectos nutricionais.


Quais doenças e situações nutrólogos tratam ?
  1. Pacientes saudáveis que deseja melhorar hábitos dietéticos e salutares de vida.
  2. Pacientes saudáveis que desejam realizar check up nutricional, para detecção de falta ou excesso de nutrientes. 
  3. Pacientes críticos e internados em Centros de Terapia Intensiva (CTIs), necessitando de suporte nutricional para melhorar o prognóstico e evitar complicações (ex. sarcopenia) após a alta.
  4. Pacientes restritos ao leito hospitalar e que necessitam de suporte nutricional adequado.
  5. Pacientes que serão ou foram submetidos a cirurgias.
  6. Orientações nutrológicas para pacientes oncológicos (os mais diversos tipos de câncer).
  7. Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral (pela boca) e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral ou por via endovenosa (na veia).
  8. Pacientes com gastrostomia ou jejunostomia.
  9. Magreza constitucional (baixo peso), em todas as fases da vida.
  10. Sobrepeso.
  11. Obesidade em todos os seus graus: em todas as fases da vida.
  12. Preparo pré-cirurgia bariátrica.
  13. Acompanhamento pós-cirurgia bariátrica.
  14. Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP).
  15. BulimiaAnorexiaSíndrome do Comer NoturnoVigorexiaOrtorexia: aspectos nutrológicos. O acompanhamento psiquiátrico é indispensável
  16. Aspectos nutricionais da ansiedade, depressão, insônia (ou seja, o psiquiatra faz a parte dele e o nutrólogo busca déficits nutricionais ou intoxicação por substâncias que possam estar interferindo no agravamento da doença).
  17. Intolerância à glicose.
  18. Diabetes mellitus tipo 2  e tipo 1.
  19. Dislipidemias: hipercolesterolemia (aumento do colesterol) e hipertrigliceridemia (aumento do triglicérides).
  20. Síndrome metabólica: Obesidade acompanhada de hipertensão, aumento da circunferência abdominal ou dislipidemia.
  21. Esteatose hepática não-alcóolica (gordura no fígado).
  22. Alergias alimentares.
  23. Intolerâncias alimentares (lactose, frutose, rafinose e sacarose).
  24. Anemias carenciais (por falta de ferro, de vitamina B12, de ácido fólico, cobre, zinco, complexo B, vitamina A).
  25. Pacientes vegetarianosveganosovolactovegetarianoscrudivoristas.
  26.  Constipação intestinal (intestino preso).
  27. Diarreia aguda ou crônica.
  28. Síndrome do Intestino Curto.
  29. Dispepsias correlacionadas à ingestão de alimentos específicos (má digestão).
  30. Alterações da Permeabilidade intestinal (leaky Gut), Disbiose intestinal.
  31. Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO).
  32. Síndrome do intestino irritável.
  33. Orientações nutrológicas em Doença de crohn e Retocolite ulcerativa.
  34. Aspectos nutrológicos da Fibromialgia.
  35. Pacientes portadores de Fadiga ou Fadiga crônica.
  36. Acompanhamento nutrológico pré-gestacional e gestacional (preparo pré-gravidez e pós-gravidez para retornar ao peso anterior e fazer suplementações necessárias).
  37. Infertilidade (aspectos nutrológicos).
  38. Orientações nutrológicas para cardiopatas (Insuficiência coronariana, Insuficiência cardíaca, Arritmias, Valvulopatias, Hipertensão arterial).
  39. Orientações nutrológicas para pneumopatas (Enfisema, Asma, Fibrose cística).
  40. Orientações nutrológicas em Hiperuricemia (aumento do ácido úric0), Gota.
  41. Orientações nutrológicas em Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.
  42. Orientações nutrológicas e tratamento de pacientes com sarcopenia (baixa quantidade de músculo).
  43. Orientações nutrológicas e tratamento de pacientes com osteoporose ou osteopenia.
  44. Orientações nutrológicas para portadores de doenças autoimunes (artrite reumatóide, lúpus, Hipotireoidismo/tireoidite de hashimoto, psoríase, vitiligo, doença celíaca).
  45. Orientações nutrológicas em portadores de HIV em tratamento com antirretrovirais.
  46. Orientações nutrológicas para hepatopatas (Varizes esofagianas, Hipertensão portal, insuficiência hepática, Ascite, cirrose hepática).
  47. Orientações nutrológicas para nefropatas (Insuficiência renal aguda, insuficiência renal crônica, glomerulonefrites, litíase renal).
Autor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 115195
Face: Dr. Frederico Lobo
YouTube: Dr. Frederico Lobo

sexta-feira, 6 de julho de 2018

O que não é Nutrologia?


Todos os dias no consultório é a mesma história para os pacientes:

Paciente ACHANDO que foi a um nutrólogo e na verdade o médico não é especialista: lembrando que só é especialista em Nutrologia ou quem fez a residência ou tem o título. Se não tem, não é NUTRÓLOGO.A maioria dos que se dizem nutrólogos não o são. Para saber se o profissional é nutrólogo basta entrar no site do Conselho  de Medicina e buscar o nome do profissional: http://www.cremego.org.br/index.php?option=com_medicos

Paciente ACHANDO que Nutrologia é sinônimo de Ortomolecular, Medicina Quântica, Homeopatia, Medicina Integrativa (conceito que conseguiram deturpar), Chips hormonais, Anabolizantes, Excesso de suplementos, Doses cavalares de vitaminas e minerais. A Associação Brasileira de Nutrologia emitiu um documento em 2017 mostrando que isso não faz parte do roll de procedimentos nutrológicos.

Alguns médicos deturpam a Nutrologia e fazem leigos e outros médicos acharem que Nutrologia é aquilo que eles praticam. A Nutrologia é uma especialidade séria e que no momento sofre um processo de desmoralização por parte de alguns profissionais. .

Quer saber o que é NUTROLOGIA de verdade? www.nutrologogoiania.com.br

Montei uma pequena biblioteca descrevendo: O que é Nutrologia. A história da Nutrologia no Brasil. O que não é Nutrologia. Diferença entre Nutrólogo e Nutricionista...Endócrino...Médico do esporte. Vários textos mostrando como a Nutrologia pode auxiliar no tratamento de várias doenças.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Ingestão de sal pode causar comprometimento cerebral independente de hipertensão

Aumento do sal, diminuição da função cognitiva

A grande ingestão de sal pode ter uma repercussão surpreendente na memória e no funcionamento cognitivo, independentemente do seu efeito sobre a pressão arterial, de acordo com um estudo com modelo animal publicado no periódico Nature Neuroscience.[1]

Depois de apenas algumas semanas, ratos alimentados com uma dieta rica em sódio apresentaram redução importante do fluxo sanguíneo para regiões do cérebro associadas ao aprendizado e à memória. Os ratos tiveram dificuldade de construir um ninho e lutaram para encontrar o caminho para sair de labirintos, visto que essa diminuição do fluxo sanguíneo parece comprometer tanto a cognição quanto a memória espacial.

Os pesquisadores – uma equipe da Weill Cornell Medicine, de Nova York – alimentaram os ratos com o equivalente a cerca de 6.000 mg de sal por dia com uma dieta humana. Em comparação, os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA recomendam que os norte-americanos limitem a ingestão de sal a cerca de 2.300 mg por dia, como parte de um plano de alimentação saudável.[2] De acordo com a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, a maioria de nós come quase 50% mais do que isso.

Embora a hipertensão, associada à ingestão elevada de sal, possa levar ao aumento do risco de acidente vascular cerebral e a demência[3], o primeiro autor, Dr. Costantino Iadecola, médico e diretor do Feil Family Brain and Mind Research Institute e Anne Parrish Titzell Professor of Neurology na Weill Cornell Medicine, não acredita que isto seja o que causou o declínio cognitivo observado no estudo.

“Essa foi a surpresa”, disse o pesquisador. “Verificamos que alimentar os ratos com uma dieta com alto teor de sal (8 a 16 vezes a dieta normal), o que corresponde aos mais altos níveis de consumo de sal nos seres humanos, é o que resulta na disfunção cognitiva. Os efeitos nocivos do sal sobre o cérebro são independentes do aumento da pressão arterial. Portanto, é a alta ingestão de sal na alimentação por si só que prejudica a função cerebral”.

O Dr. Iadecola acrescentou que há evidências na literatura corroborando a ideia de que estes resultados também se aplicam aos seres humanos.[4]

“Estudos epidemiológicos citados no nosso artigo demonstraram uma ligação significativa entre a ingestão de excesso de sal na alimentação e a doença cerebrovascular, o declínio cognitivo e a demência”, disse o pesquisador.

Resposta imunitária e o eixo intestino-cérebro

Os pesquisadores descobriram que os ratos que ingerem uma dieta rica em sal montaram uma resposta imunitária intestinal que aumentou os níveis de leucócitos. Isto teve um impacto negativo em outras células imunitárias, ao mesmo tempo aumentando a proteína interleucina-17 (IL-17), que diminui os níveis de uma substância fundamental para a saúde circulatória, o óxido nítrico.[4]

“Este efeito decorre do acúmulo no intestino de uma classe especial de linfócitos denominada células TH17, que produzem grandes quantidades de IL-17”, disse o Dr. Iadecola.

“A IL-17 entra na circulação sanguínea e compromete as células endoteliais no cérebro, que revestem os vasos sanguíneos cerebrais, e suprime a produção de óxido nítrico. A perda do óxido nítrico diminui a oferta de sangue para o cérebro e causa lesão neuronal, o que levará ao comprometimento cognitivo”.

O autor acrescentou que as bactérias do intestino também podem desempenhar um papel nesta reação imunitária mediada pelo sal, porque um estudo humano anterior havia observado o efeito direto delas sobre os linfócitos no intestino.[5]

Segundo o Dr. Iadecola, a conexão intestino-cérebro também pode ser prejudicada por outros fatores, como a gordura saturada, o açúcar e os adoçantes artificiais.

“Essa é uma possibilidade, mas ainda precisa ser determinado se esses fatores alimentares são prejudiciais ao serem absorvidos no intestino, entrarem na circulação e agirem diretamente nos vasos sanguíneos do cérebro, ou por induzirem uma resposta imunitária que resulta em efeitos nocivos, como descobrimos que é definitivamente o caso do sal na alimentação”, explicou.

Inibidor reverte o efeito

Para determinar que foram os altos níveis de IL-17 induzidos pelo sal, e não a hipertensão, que causaram o declínio cognitivo, Dr. Iadecola e colaboradores administraram para os ratos que comiam a dieta com alto teor de sal uma substância denominada inibidor Y27632 ROCK. Esta substância diminuiu os níveis da IL-17, o que fez com que os ratos voltassem a apresentar comportamento e cognição quase normais.

Por mais que isto possa ser promissor, existe uma diferença importante entre administrar essa substância para ratos ou para os seres humanos, de acordo com o Dr. Iadecola.

“Não sabemos se os danos nos seres humanos que têm consumido grande quantidade de sal na alimentação durante toda a vida são irreversíveis, comparado a apenas algumas semanas dos ratos”.

Sal a menos também poderia ser um problema
De acordo com o Dr. Michael Harrington, diretor de neurociência na Huntington Medical Research Institutes, em Pasadena, Califórnia, "o grupo de estudos Nowak[6] ] com humanos idosos foi feito com dosagens do sódio sérico e, embora os resultados sejam distorcidos em relação ao que seria a distribuição normal da população, eles mostram que níveis muito baixos ou muito altos de sódio no sangue não são bons para a função cognitiva e também se correlacionam à piora da função cognitiva”.

Entretanto, o Dr. Harrington ficou fascinado com as conclusões do estudo. “O grupo de ratos do Dr. Iadecola tem essa intrigante conexão intestino-cérebro, na qual o aumento do sal alimentar no intestino causa lesões aos capilares cerebrais por mediação imunológica, resultando em deterioração cognitiva. É incrivelmente interessante como a fisiologia mecanicista ficando um pouco fora de controle pode causar danos cerebrais”.

Isso reforça o arcabouço de pesquisas mostrando que a alimentação é um fator poderoso que influencia a saúde cognitiva. “Sabemos que uma dieta saudável é essencial para alguém com demência conseguir manter uma boa qualidade de vida e também evitar a perda de peso corporal, um efeito colateral comum do tratamento da demência, bem como das doenças neurológicas subjacentes”, disse Deborah R. Gustafson, PhD, professora do Departamento de Neurologia da State University of New York.

Deborah acredita que moderar a ingestão de sal é aconselhável, nem que seja apenas para prevenir o declínio cognitivo relacionado com a hipertensão. “Como a ingestão elevada de sal na alimentação está associada à hipertensão, pelo menos entre as pessoas sensíveis ao sal, então a maior ingestão de sal poderia estar associada a problemas cognitivos. Os dados observacionais são muito sistemáticos para a associação entre o risco de hipertensão na meia-idade com a demência”.

De acordo com um artigo de 2010 no American Journal of Hypertension[7], as lesões da substância cerebral causadas pela hipertensão de longa data estão associadas ao comprometimento cognitivo.

Dr. Iadecola conclui que, embora o papel pleno do sal na doença de Alzheimer e no declínio cognitivo esteja apenas começando a ser descoberto, “doenças específicas à parte, acredito que moderar a ingestão de sal é uma prática necessária para manter o cérebro saudável e evitar doenças cerebrais, especialmente nas populações em risco, como as pessoas com fatores de risco cardiovascular (diabetes, hipertensão, etc.), esclerose múltipla e doença inflamatória intestinal”.

Transtornos alimentares: comuns em todas as idades, sexos e etnias

Os transtornos alimentares atingem as pessoas de todas as idades, sexos e grupos étnicos/raciais, e estão associados a um comprometimento psicossocial significativo, revela uma nova pesquisa.

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 35.000 adultos nos Estados Unidos e descobriram que as mulheres tinham probabilidade significativamente maior de terem transtornos alimentares do que os homens, e os brancos tinham maior probabilidade de ter anorexia nervosa do que os seus homólogos negros não-hispânicos e hispânicos.

Por outro lado, as chances de ter bulimia nervosa não diferiram significativamente por raça/etnia, e menos negros não-hispânicos do que entrevistados hispânicos e brancos tinham transtorno de compulsão alimentar durante a vida.

Todos os três transtornos estão associados a importante comprometimento psicossocial.

"Embora os transtornos alimentares possam não ser tão prevalentes quanto alguns outros transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade, ou transtornos do uso de álcool e drogas, esses quadros são comuns, são encontrados entre homens e mulheres de vários grupos étnicos/raciais, e ocorrem durante toda a vida", disse ao Medscape a primeira autora Tomoko Udo, PhD, professora-assistente do Departamento de Políticas, Gerenciamento e Comportamento em Saúde, University at Albany School of Public Health, em Nova York (EUA).

"O transtorno de compulsão alimentar, um novo diagnóstico 'formal' do DSM-V (do inglês Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition), é importante de ser rastreado e identificado, posto que está associado a risco significativamente maior de obesidade, e que todos os transtornos alimentares estão associados a deficiências de funcionamento psicossocial e, portanto, representam um importante problema de saúde pública", disse Tomoko, falando não só por si, mas também em nome do coautor do trabalho, Carlos M. Grilo, PhD.

O estudo foi publicado on-line em 17 de abril no periódico Biological Psychiatry.

Novas estimativas de prevalência
"Existem poucos dados populacionais representativos em nível nacional sobre a prevalência dos transtornos alimentares" nos Estados Unidos, escreveram os autores.

Estudos anteriores utilizaram os critérios do DSM-IV para avaliar a prevalência dos transtornos alimentares. Além disso, a prevalência dos transtornos alimentares entre grupos étnicos/raciais foi calculada por meio do agrupamento de dados provenientes de várias amostras diferentes.

"São necessários dados de amostras de grande escala de representação nacional avaliados por meio de entrevista diagnóstica para atualizar as estimativas de prevalência dos transtornos alimentares nos EUA", acrescentam.

Isto é particularmente necessário por causa da atualização dos critérios diagnósticos dos transtornos alimentares no DSM-V. As mudanças determinaram que o transtorno de compulsão alimentar é um diagnóstico formal e diminuiu a frequência da compulsão alimentar para o diagnóstico de transtorno de compulsão alimentar.

"Acreditamos que era importante obter novas estimativas de prevalência em uma amostra maior e representativa, especialmente porque o DSM-V fez várias alterações nos critérios de diagnóstico dos transtornos alimentares em relação ao DSM-IV", disse Tomoko.

"Muitos médicos e pesquisadores esperavam maiores estimativas do que as encontradas nos estudos preliminares como resultado do 'relaxamento' dos critérios diagnósticos dos transtornos alimentares", observou a professora.

O estudo em tela utilizou dados do 2012-2013 National Epidemiologic Survey Alcohol and Related Conditions (NESARC-III). Um total de  36.309 pessoas com ≥ 18 anos de idade foram avaliadas por entrevistas diagnósticas administradas por leigos.

Os entrevistados deram informações sociodemográficas (idade, sexo, etnia, escolaridade e renda).


Informaram também a altura e o peso, que foram utilizados para calcular o índice de massa corporal (IMC).

O NIAAA Alcohol Use Disorder and Associated Disabilities Interview Schedule–5 (AUDADIS-5) foi utilizado para avaliar anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar. Os dados continham a idade de início e a idade no momento do episódio mais recente.

O AUDADIS também foi usado para avaliar a deterioração da socialização decorrente dos transtornos alimentares. Os fatores avaliados foram a interferência nas atividades diárias normais, sérios problemas de convívio com os outros, e sérios problemas para cumprir as próprias responsabilidades.

Transtornos alimentares mais comuns
Os pesquisadores criaram grupos para o diagnóstico específico dos transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar) fundamentados nos critérios do DSM-5, usando as respostas ao NESARC-III para as perguntas relevantes ao AUDADIS-5, e adaptando a pontuação dos dados variáveis do NESARC-III para criar as categorias diagnósticas do estudo em pauta.

As estimativas da prevalência de transtornos alimentares durante toda a vida mostraram que a anorexia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar são os tipos de transtorno alimentar mais comuns, com prevalência de 0,80% (erro padrão = 0,07%) e 0,85% (erro padrão = 0,05%). A prevalência de bulimia nervosa foi de 0,28% (erro padrão = 0,03%).

As estimativas da prevalência de 12 meses da anorexia nervosa, da bulimia nervosa, e do transtorno de compulsão alimentar, foram de 0,05% (erro padrão = 0,02%), 0,14% (erro padrão = 0,02%) e 0,44% (erro padrão = 0,04%), respectivamente.

Dentre os 0,22% de participantes que informaram transtornos alimentares concomitantes (ou seja, ter um diagnóstico específico de dois ou mais transtornos alimentares durante a vida), 0,01% informaram anorexia nervosa com bulimia nervosa, 0,02% informaram anorexia nervosa com transtorno de compulsão alimentar, 0,13% informaram bulimia nervosa com transtorno de compulsão alimentar, e 0,05% informaram ter os três transtornos alimentares.

Para todos os três transtornos alimentares, as prevalências de diagnósticos durante toda a vida e em 12 meses foram significativamente maiores entre as mulheres do que entre os homens, com estimativas não ajustadas de 1,42%, 0,46% e 1,25% para as mulheres vs. 0,12%, 0,08% e 0,42% para os homens de anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar, respectivamente.

Houve também diferenças significativas na prevalência entre as etnias/raças da anorexia nervosa durante toda a vida; as odds ratios (ORs) ajustadas foram significativamente menores entre os participantes negros não hispânicos e hispânicos em comparação com os entrevistados brancos não hispânicos.

No entanto, a OR ajustada de 12 meses de anorexia nervosa foi significativamente menor entre os hispânicos do que entre os entrevistados brancos não-hispânicos. Não houve casos de anorexia nervosa em 12 meses entre os entrevistados negros não-hispânicos.

Embora a prevalência de bulimia nervosa durante a vida e a prevalência em 12 meses não tenham diferido significativamente por raça/etnia, as ORs ajustadas do transtorno de compulsão alimentar durante a vida foram significativamente menores entre os negros não-hispânicos do que entre os entrevistados brancos não-hispânicos.

Não houve diferenças raciais para o transtorno de compulsão alimentar em 12 meses, nem o nível de escolaridade foi significativamente associado à prevalência de transtornos alimentares.

Por outro lado, as categorias de renda mais elevadas foram associadas a um aumento significativo da probabilidade de anorexia nervosa durante toda a vida.

Após o ajuste por idade, sexo, etnia/raça e nível de escolaridade, a anorexia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar foram mais prevalentes entre os grupos mais jovens do que entre as pessoas com 60 anos de idade ou mais.

Não "aumentar o caráter patológico"
Todos os transtornos alimentares foram associados a altos índices de comprometimento da função psicossocial.

Para os diagnósticos durante toda a vida, os índices de comprometimento da função social foram significativamente maiores entre as pessoas com bulimia nervosa por toda a vida (61,4%) e transtorno de compulsão alimentar por toda a vida (53,7%) em comparação às pessoas com anorexia nervosa (30,7%).

Por outro lado, a única diferença psicossocial significativa no diagnóstico em 12 meses foi para a bulimia nervosa. Os entrevistados com bulimia nervosa referiram maior dificuldade de conviver com os outros do que aqueles com transtorno de compulsão alimentar.

Para os diagnósticos durante toda a vida, bem como de 12 meses, as pessoas com anorexia nervosa tiveram índice de massa corporal (IMC) atuais significativamente mais baixos do que aquelas com bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar. Para os diagnósticos durante toda a vida, bem como de 12 meses, aqueles com bulimia nervosa tiveram um IMC atual significativamente mais baixo do que aqueles com transtorno de compulsão alimentar.

Além disso, as pessoas com anorexia nervosa durante toda a vida tinham significativamente maior probabilidade de estar abaixo do peso ou de ter um peso normal, quando comparadas às pessoas com transtorno de compulsão alimentar durante toda a vida. Além disso, a probabilidade delas de ter excesso de peso ou obesidade foi significativamente menor quando comparadas às pessoas com transtorno de compulsão alimentar durante toda a vida, que por sua vez foram associadas a um aumento significativo da probabilidade de obesidade e obesidade mórbida.

Os autores observam que as estimativas de prevalência obtidas "estão em desacordo com o ponto de vista dos críticos do DSM-V, que usaram o transtorno de compulsão alimentar como uma ilustração do aumento do caráter patológico".

Tomoko reconheceu estar "surpresa" com as descobertas.

"Pensamos que poderíamos ver aumento da prevalência em todos os transtornos alimentares decorrentes das mudanças nos requisitos diagnósticos, particularmente maior aumento da bulimia nervosa e do transtorno de compulsão alimentar, que não observamos. E, de fato, nossas estimativas tanto para a bulimia nervosa quanto para o transtorno de compulsão alimentar foram mais baixas do que os estudos anteriores e do que esperávamos".

Necessidade de rastrear melhor
Comentando o estudo para o Medscape, a nutricionista Kendrin Sonneville, professora-assistente de ciências nutricionais e professora-assistente de pesquisa do Center for Human Growth and Development, University of Michigan School of Public Health, em Ann Arbor (EUA), que não participou do trabalho, disse que "estudos como este, realizado em uma amostra nacional, ajudam a compreender quem está sofrendo com transtornos alimentares e quem pode não estar recebendo ajuda para seu transtorno alimentar".

A "mensagem mais importante" é que "pessoas de todas as idades, gênero e raças/grupos étnicos são atingidas pelos transtornos alimentares" e "vivenciam uma deterioração importante, e muitos sofrem durante muito tempo", disse a comentarista.

Kendrin instou os médicos e os sistemas de saúde a "identificarem estratégias para detectar os transtonos alimentares mais precocemente". A comentarista observou que a detecção e o encaminhamento para tratamento precoces são "necessários para melhorar a saúde e diminuir o sofrimento das pessoas com transtornos alimentares".

Tomoko acrescentou: "Acreditamos que nosso estudo destaque a complexidade da avaliação e do reconhecimento dos transtornos alimentares, enquanto documenta as repercussões clínicas deles, e em termos de saúde pública".

Como o tratamento com os especialistas em transtornos alimentares "não é tão facilmente acessível em muitas comunidades, como o é para outros transtornos psiquiátricos e clínicos, a melhora do acesso ao atendimento é uma prioridade importante para os sistemas de saúde", disse a pesquisadora.

O trabalho de Carlos M. Grilo foi subsidiado em parte pelos National Institutes of Health. O Dr. Carlos M. Grilo declarou não possuir conflitos de interesses relevantes. Os conflitos de interesse dos coautores estão listados no artigo original. Tomoko Udo e Kendrin Sonneville revelaram não possuir conflitos de interesse relacionados com o tema.

Biol Psychiatry. Publicado on-line em 17 de abril de 2018.




Posicionamento da SBEM em Relação ao Projeto de Lei 6.299/2002 (PL do veneno)

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia emite um posicionamento contra o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados que propôs modificações no sistema de regulação dos agrotóxicos. A SBEM está preocupada com os riscos provocados pela decisão.  

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia em Relação ao Projeto de Lei 6.299/2002


Em 25 de junho de 2018 a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o texto que propõe modificações no sistema de regulação de agrotóxicos, seus componentes e afins. As alterações propostas flexibilizam essa regulação, negligenciando os riscos à saúde e ao meio ambiente que o uso indiscriminado destes compostos pode causar.

Propõe-se, nesse texto, a substituição do termo “agrotóxico” por “produto fitossanitário e de controle ambiental” com a clara intenção de passar a idéia de uma falsa inocuidade desses produtos para a população. Esta eufemização pode induzir ao uso indiscriminado pelo agricultor, causando contaminação ou intoxicação.

Outra alteração importante foi a exclusão definitiva da lista de produtos que contenham ingredientes ativos de agrotóxicos, porém de uso não agrícola, a exemplo dos inseticidas. Essa medida representa uma banalização do uso destes produtos e outra negligência em relação à exposição humana.

A proposta de relaxamento do controle sanitário deste PL é confirmada quando se deixa a cargo do Ministério da Agricultura a análise e deliberação sobre os pleitos de registros de “produtos fitossanitários” para os órgãos de saúde e meio ambiente. Produtos com “risco aceitável” passam a ser permitidos e apenas aqueles com “risco inaceitável” podem ser proibidos. Esta medida é absurda e tendenciosa, pois além de retirar o poder de avaliação de órgãos com competência técnica para as referidas análises (a exemplo da ANVISA que aponta uma lista de 9 agrotóxicos proibidos devido ao potencial cancerígeno, de desregulação endócrina, de mutagênese e danos no aparelho reprodutor) coloca a população em risco.

A literatura médica apresenta mais de 600 estudos demonstrando o potencial dos agrotóxicos de interferir nos sistemas endócrinos, especialmente no desenvolvimento dos sistema reprodutivo masculino na exposição intra-útero. Vale ressaltar aqui que as principais janelas de vulnerabilidade á exposição dos desreguladores  endócrinos são a fase fetal, a infância e a adolescência e que as possíveis alterações epigenéticas causadas pela exposição aos agrotóxicos podem ser transmitidas para as futuras gerações.

Em suma, baseada no “Princípio da Precaução” diante do potencial risco à saúde, a SBEM se posiciona veemente contra esta proposta de relaxamento do controle do uso de agrotóxicos, considerando grande irresponsabilidade e descompromisso com a saúde da população.

Dr. Fábio Trujilho
Presidente da SBEM Nacional - 2017/2018

Dra. Elaine Frade 
Presidente da Comissão de Desreguladores Endócrinos - 2017/2018