quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Pular café da manhã e efeito no metabolismo energético e no ritmo diurna da glicemia de jovens saudáveis

As atuais estratégias terapêuticas para a obesidade se concentraram principalmente no desequilíbrio entre gasto energético e consumo de energia, mas o tempo das refeições também foi estudado como um fator que controla o peso corporal. A refeição consumida após um jejum noturno, ou seja, café da manhã, é frequentemente descrita como “a refeição mais importante do dia”, e acredita-se que contribua para uma boa saúde e nutrição, fornecendo nutrientes essenciais no início do dia.

Revisões sistemáticas, incluindo uma metanálise, sugerem que é globalmente observada uma associação positiva entre pular o café da manhã e estar com sobrepeso ou obesidade, independentemente das diferenças culturais entre os países. O efeito térmico dos alimentos após o café da manhã é maior do que após o almoço e o jantar, e isso sugere a possibilidade de que o gasto energético acumulado durante 24h (gasto energético de 24 horas) seja afetado pelas diferenças nos hábitos alimentares diários: tomar café da manhã ou pulando o café da manhã. No entanto, estudo anterior não observou nenhum efeito de pular o café da manhã no gasto energético de 24 horas, e outro estudo relatou um ligeiro aumento no gasto energético de 24 horas após o pulo do café da manhã em comparação com um padrão de três refeições. Tomados em conjunto, os resultados dos estudos de calorimetria estritamente controlada não enfatizaram a ligação epidemiológica entre pular o café da manhã e aumentar o peso corporal.

O desalinhamento das refeições com o relógio biológico está associado a um maior risco de obesidade e diabetes tipo 2. Os efeitos de pular o café da manhã no perfil de glicose de 24 horas foram avaliados usando um sistema de monitoramento contínuo de glicose (CGMS), mas os resultados são inconsistentes; a glicose média de 24 horas foi aumentada ao pular o café da manhã em estudo anterior, enquanto a curva glicêmica em 24 horas em outro estudo não foi diferente entre pular o café da manhã e três refeições. Na tentativa de obter uma melhor compreensão da dinâmica glicêmica, métodos avançados de análise de séries temporais foram desenvolvidos. A análise de flutuação diluída (DFA) da dinâmica glicêmica revelou que reduzir e interromper o tempo sentado com atividade intermitente de intensidade de luz pode desempenhar um papel na manutenção do controle glicêmico. É possível, portanto, que os efeitos de pular o café da manhã na dinâmica glicêmica em uma condição de vida livre possam ser diferentes daqueles observados quando um indivíduo permanece em uma câmara metabólica.

Uma maneira plausível de esclarecer os efeitos de pular o café da manhã no metabolismo energético e no controle glicêmico é avaliar os efeitos de pular repetidamente no café da manhã, em vez dos efeitos de um único incidente de pular o café da manhã.

OBJETIVOS DO ESTUDO

A hipótese do estudo foi de que pulos repetidos no café da manhã e comportamento sedentário afetam o metabolismo energético e a flutuação glicêmica. Observe que o período de intervenção da refeição de 6 dias como o período limite superior do CGMS. Assim, o objetivo do estudo foi esclarecer a influência de 6 dias consecutivos de pular o café da manhã no metabolismo energético e no controle glicêmico de jovens saudáveis ​​do sexo masculino, além de alterar a composição corporal como desfechos secundários.

MÉTODOS

Dez homens jovens participaram de 2 ensaios (com ou sem café da manhã) que duraram 6 dias consecutivos, ambos foram realizados com uma semana de intervalo com um desenho repetido de medidas. Durante a intervenção da refeição, a glicemia de cada indivíduo foi medida usando o sistema de monitoramento contínuo de glicose. Se o café da manhã era ignorado, os participantes faziam grandes refeições no almoço e no jantar, de modo que a ingestão de energia em 24 horas era idêntica à da condição de 3 refeições. Às 22h, do quinto dia, os indivíduos entraram em uma câmara respiratória do tamanho de uma sala, onde permaneceram por 33 horas, e foram instruídos a realizar um comportamento sedentário.

RESULTADOS

Os níveis de glicose foram semelhantes entre as 2 refeições durante os primeiros 5 dias de intervenção, mas a glicemia às 23h foi maior na condição de pular o café da manhã do que na condição de 3 refeições. Pular o café da manhã elevou a resposta glicêmica pós-prandial após o almoço no primeiro dia de intervenção. No sexto dia, não houve diferenças significativas no gasto energético de 24 horas e na oxidação do substrato. Quando os indivíduos permaneceram em uma câmara metabólica, o nível de atividade física diminuiu significativamente, a estabilidade glicêmica deteriorou-se levemente e a glicemia média ao longo de 24 h foi maior no ensaio de pular o café da manhã do que no ensaio de 3 refeições.

CONCLUSÕES

O estilo de vida sedentário e o pulo repetido no café da manhã causaram flutuações anormais de glicose, enquanto o metabolismo energético de 24 horas permaneceu inalterado.

Registro de Ensaio Clínico: Este estudo foi registrado em http://www.umin.ac.jp/english/ como UMIN000032346.

Am J Clin Nutr 2019; 110: 41–52.

O estudo: http://abran.org.br/new/wp-content/uploads/2019/09/abran_artigo_27092019.pdf

Fonte: http://abran.org.br/2019/09/27/existe-relacao-entre-pular-o-cafe-da-manha-e-aumentar-o-peso-corporal/

Uma Lei para alertar sobre os riscos do uso excessivo de telas na infância


Iniciativa é da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS). Assim como a indústria do cigarro passou a ser obrigada a alertar sobre os riscos do tabagismo com dizeres nas embalagens, fabricantes de celular poderão, em breve, ter a obrigação de dispor de um alerta nos seus equipamentos. O objetivo é informar os males que o uso excessivo de telefones celulares, televisão e tablets causam no desenvolvimento da criança.

A iniciativa é da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) e a proposta será apresentada em forma de Projeto de Lei pelo deputado estadual Pedro Pereira. A intenção é fazer um projeto de lei para que, em todas as embalagens de dispositivos eletrônicos vendidos, tenha uma etiqueta com a recomendação de um uso moderado - principalmente durante a infância. A medida permitirá orientar a sociedade sobre os perigos do uso excessivo e indicar qual é o tempo máximo ideal que as crianças podem ficar expostas a essas tecnologias.

O anúncio oficial do Projeto de Lei será feito no primeiro dia de atividades do 39º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP) que acontece de 9 a 12 de outubro na FIERGS, reunindo cerca de sete mil participantes, em Porto Alegre (RS).

Justificativa

Os benefícios e prejuízos das tecnologias é um foco de atenção de todos os profissionais que lidam com as questões da saúde durante a infância e a adolescência. Estudos científicos comprovam que a tecnologia influencia comportamentos através do mundo digital, modificando hábitos na infância que podem causar prejuízos e danos à saúde física e mental dos jovens, com impacto em diversos aspectos.

A neurociência comprovou, através de exames de Ressonância Magnética, que o uso excessivo de telas prejudica o desenvolvimento cerebral das crianças. Por isso, elas não devem ser expostas de forma precoce a dispositivos eletrônicos.

Por outro lado, o celular tornou-se uma alternativa fácil aos pais, já que poupa o esforço que eles fariam com brincadeiras ou contando histórias, por exemplo. Tendo acesso a vídeos, cores e canções que ajudam na distração das crianças, os responsáveis passaram a usar esse artifício desde muito cedo, em bebês de poucos meses, o que prejudica o período da aquisição da linguagem e da estrutura psíquico-social, que ocorre principalmente nos dois primeiros anos de vida. É claro que é necessário conviver com os avanços da tecnologia e saber tirar proveito deles, mas não se pode esquecer que, durante o processo de formação da criança, é muito importante que ela receba estímulos através de canções de ninar, histórias contadas pelos pais e brincadeiras que gerem algum tipo de interação, pois é essa troca de estímulos que vai fazer com que o seu desenvolvimento seja saudável.

É comprovado que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos prejudica a qualidade do sono: crianças e adolescentes que ficam muito tempo conectados dormem menos e dormem mal. O contato com as telas dentro de uma ou duas horas antes de dormir induz à insônia e à dificuldade de iniciar o sono, isso é decorrente do alto estímulo visual que a luz azul provoca. A baixa qualidade do sono, por sua vez, provoca outros problemas de saúde, como a obesidade, alterações de humor (ansiedade e depressão), déficit de atenção e diminuição do rendimento escolar.

O tempo que jovens e crianças dedicam às telas suprime o tempo que eles poderiam ter dedicado a atividades lúdicas, esportivas e de interação com outras pessoas. Isso é um fator que provoca o sedentarismo, que, junto à obesidade, contribui para o surgimento de futuras doenças cardiovasculares e diabetes.

Evidências científicas mostram que o tempo de conexão excessivo das crianças e da família afetam a convivência, o diálogo e as suas relações interpessoais, alterando a qualidade do vínculo e a dinâmica familiar - pontos que são muito importantes para o desenvolvimento saudável de uma criança. Inclusive existem pesquisas em que crianças afirmaram achar que os pais preferem o celular a elas, causando um sentimento de carência e exclusão por serem deixadas de lado.

Além de todos os danos que os dispositivos eletrônicos podem causar à saúde, existem também os impactos causados pelos conteúdos das mídias. Alguns conteúdos mais violentos podem estimular condutas agressivas, antissociais e autolesivas. Também existem evidências científicas sobre a relação do uso excessivo de redes sociais com depressão e problemas de autoestima.

Portanto, é muito importante que os pais saibam dos impactos que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos tem no desenvolvimento das crianças e, a partir disso, possam controlar da melhor forma o tempo que seus filhos ficam conectados às telas.

Helena Muller
Cristina Targa Ferreira
Sergio Amantea
Diretoria SPRS

Os efeitos de uma dieta baseada em vegetais ricos em inulina na saúde intestinal e no comportamento nutricional


Efeitos de uma dieta baseada em vegetais ricos em inulina na saúde intestinal e no comportamento nutricional em humanos saudáveis

Por vários anos, a microbiota intestinal tem sido apontada como um ecossistema atraente que desempenha um papel fundamental na fisiologia do hospedeiro. Alterações da composição intestinal microbiana têm sido associadas a uma ampla variedade de condições, como obesidade, diabetes tipo 2, doença inflamatória intestinal, autismo e distúrbios comportamentais. Na dieta, alguns carboidratos não digeríveis, chamados prebióticos, são fermentados pela microbiota intestinal, conferindo assim benefícios potenciais à saúde. Foi demonstrado que a suplementação dietética com frutanos purificados do tipo inulina (ITFs) exerce efeitos positivos na saúde em humanos, como melhora da permeabilidade intestinal, diminuição da massa gorda, aumento da produção de peptídeos de incretina no intestino que atuam na saciedade e melhora no controle do apetite. No entanto, pouco se sabe sobre o efeito da ITF no comportamento e no apetite, ao considerar o consumo de vegetais naturalmente ricos em ITF. Além disso, dados recentes sugerem que a fermentação da fibra alimentar pode levar ao desconforto intestinal, principalmente em pacientes com síndrome inflamatória intestinal.

Surpreendentemente, apenas alguns estudos tentaram analisar o impacto de prebióticos que ocorrem naturalmente em produtos alimentícios na composição e função da microbiota intestinal e na tolerância gastrointestinal. Os ITFs ocorrem principalmente nas raízes das plantas, como alcachofra-girassol , alho-poró ou cercefi, onde atuam como um polímero de armazenamento e de preservação do estresse.

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste estudo, foi desenvolvido um protocolo para uma intervenção dietética diária que durou 2 semanas com vegetais ricos em ITF para atingir uma ingestão mínima de pelo menos 9 g ITF/d em voluntários saudáveis. O objetivo do estudo foi avaliar o efeito da intervenção nutricional na composição e atividade da microbiota intestinal, ingestão de nutrientes, comportamento relacionado a alimentos e sintomas gastrointestinais. A composição da microbiota intestinal estava relacionada aos sintomas gastrointestinais. Também foi avaliada a persistência dos efeitos 3 semanas após a conclusão da intervenção alimentar.

MÉTODOS

Um único grupo de estudos composto por 26 indivíduos saudáveis. Durante duas semanas, os participantes foram instruídos a aderir a uma dieta controlada baseada em vegetais ricos em ITF (fornecendo uma ingestão média de 15 g ITF/d). Foram organizados três dias de teste: antes e após a intervenção nutricional e três semanas após o retorno à dieta habitual. Foram avaliados a ingestão de nutrientes, comportamento alimentar, composição da microbiota fecal, fermentação microbiana e sintomas gastrointestinais.

RESULTADOS

As principais modificações microbianas durante a intervenção foram uma proporção aumentada do gênero Bifidobacterium, um nível reduzido de Clostridiales não classificados e uma tendência para diminuir as Oxalobacteraceae. Essas alterações foram revertidas três semanas após a intervenção. Os voluntários mostraram maior saciedade, um desejo reduzido de comer alimentos doces, salgados e gordurosos e uma tendência para aumentar as atitudes hedônicas em relação a alguns vegetais ricos em inulina. Apenas episódios de flatulência foram relatados durante a intervenção na dieta, enquanto o desconforto intestinal, inversamente associado ao Clostridium cluster IV e Ruminococcus callidus, foi melhorado ao final da intervenção.

CONCLUSÕES

Um maior consumo de vegetais ricos em ITF permite um aumento substancial de fibras alimentares bem toleradas, o que por sua vez pode melhorar o comportamento relacionado aos alimentos. Além disso, leva a modificações benéficas da composição e função da microbiota intestinal.

Este estudo está registrado em clinictrial.gov como NCT03540550. Am J Clin Nutr 2019; 109: 1683–1695.


terça-feira, 27 de agosto de 2019

Proteína de origem vegetal relacionada a maior longevidade

Maior consumo de proteínas à base de plantas - como as encontradas em cereais e leguminosas - está associado com menor risco de mortalidade, de acordo com um estudo observacional no JAMA Internal Medicine.

 Aproximadamente 70.000 pessoas com idade entre 40 e 69 anos no Japão completaram questionários de frequência alimentar.

Durante um seguimento médio de 18 anos, 18% morreram.

 Maior ingestão de proteína vegetal foi associada com menor risco de mortalidade (razão de risco para quintis 2-5: 0,84-0,89). 

Um padrão semelhante foi observado para mortalidade cardiovascular, mas não para mortalidade relacionada ao câncer.

Em contraste, o aumento da ingestão de proteínas totais ou baseadas em animais não foi associado à mortalidade.

A troca de 3% da energia da proteína animal pela proteína vegetal resultou em menor risco de mortalidade total, cardiovascular e relacionada ao câncer. 

As reduções de risco foram ainda maiores quando substituímos as carnes processadas por vegetais

Os autores dizem que a falta de uma associação entre proteína animal e mortalidade pode ser porque o consumo animal é geralmente menor no Japão do que nos EUA, e a principal proteína animal é o peixe.

Eles concluem: "Nosso estudo sugere que incentivar dietas com maior ingestão de proteína baseada em vegetais pode contribuir para a saúde e a longevidade a longo prazo"

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Guia dos Disruptores Endócrinos

Foi lançado durante o Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia de 2019, o Guia aos Disruptores Endócrinos em português. 

O guia consiste em uma iniciativa conjunta da Endocrine Society e o IPEN, que é uma rede global composta por 700 organizações não-governamentais. 

A apresentação do Guia foi feita na manhã desta quinta-feira, na conferência Global Health Impacts of Exposure do Tendcrine-Disrupting Chemicals, realizada pela Dra. Michele Andrea La Merril (USA), uma das autoras.

Para que o material fique disponível para todos os sócios, população e imprensa,  Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia liberou o arquivos em PDF para ser baixado gratuitamente: Guia dos Disruptores Endócrinos: https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/ipen-intro-edc-v1_9h-pt-print.pdf

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Documentário What the health


A postagem abaixo foi extraída do facebook do Dr. Bruno Halpern, médico endocrinologista. Achei interessante pois com o advento da internet, redes sociais, youtube e netflix, muita informação em saúde circula e quem é leigo não consegue distinguir o que tem realmente evidência científica, daquilo que não passa de achismo. Ou indo mais além, extrapolações de estudos in vitro para a saúde humana. 

Quem me acompanha e me segue nas redes sociais desde 2009 sabe que já fui vegetariano e uma boa parcela dos meus pacientes no consultório são vegetarianos. Que o motivo pelo qual sou a favor do vegetarianismo é exclusivamente ambiental. Acredito que a redução do consumo de carnes pode sim auxiliar a reduzir os impactos ambientais e minimizar o sofrimento animal. 

Nutricionalmente não vejo superioridade da dieta vegetariana à dieta onívora ( a qual sigo hoje). Ambas tem riscos se não tiverem equilíbrio. A vegetariana com os riscos nutricionais (B12, Ferro) e a Onívora com o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, caso tenha excesso de carboidratos simples, gorduras saturada, gordura trans, alimentos industrializados. 

Acredito que a pessoa deva seguir a dieta que te faz bem e não lesa a própria saúde. É possível ter uma dieta vegetariana equilibrada desde que se faça suplementação de B12. Tenho centenas de pacientes que assim o fazem e estão bem do ponto de vista metabólico. 

O que não concordo é com o fanatismo e xiitismo de alguns grupos de vegetarianos. Muito menos com utilizar dados fakes ou baixo nível de evidência científica para fazer terrorismo e tentar "converter" onívoros. Isso é errado. Ninguém muda ninguém, ao longo desses anos tenho percebido isso claramente na prática clínica. 

Abaixo a tradução do Dr. Bruno Halpern do texto do profissional da saúde Ted Kyle do Site https://conscienhealth.org/

Att

Dr. Frederico Lobo
Médico Nutrólogo
CRM-GO 13192 | RQE 11915

Sobre o documentário What the Health

Muito cuidado com alguns documentários sobre saúde que, passando em uma rede de streaming conhecida, podem parecer de alta credibilidade. E nem sempre é assim. No caso do “What the health” trata-se de um manifesto vegano, com evidências que não passam nem no mais básico escrutínio científico. 

👉Ted Kyle, do @conscienhealth apontou alguns erros que o tornam um “auto de fé” #vegano e não um documentário científico.

1 - Não, carnes processadas não são tão perigosas como o cigarro. Apesar da OMS ter colocado os processados como provavelmente carcinogênicos, o consumo excessivo pode aumentar em 16% o risco de câncer de cólon. Cigarro aumenta a prevalência de diversos cânceres na ordem de 4000%.

2 - Ovos não são perigosos como o cigarro! Cigarro matará, direta ou indiretamente, dois em cada 3 fumantes. Ovo está muito distante disso e o consumo moderado é nutritivo e seguro. Inclusive, o #colesterol que comemos não é a principal fonte de produção de colesterol no nosso corpo.

3 -Leite não causa câncer. Há diversas metanálises (compilações de estudos) que mostram de maneira clara que essa relação não existe. E evidências indiretas ligam o #leite #iogurte e derivados a um risco reduzido de obesidade, diabetes e risco cardiovascular.

4 - Peixes não irão te "envenenar". Infelizmente, é verdade que peixes em topo de cadeia alimentar (cação, peixe espada e um pouco menos o atum), podem conter maior quantidade de mercúrio e por isso de fato se recomenda moderação no consumo desses peixes (não mais de 1 vez por semana). Porém, outros peixes continuam sendo muito saudáveis, com gorduras benéficas (embora ômega3 em quantidades benéficas seja difícil de encontrar em peixes no Brasil).

👉Ted Kyle termina seu texto dizendo:
"Quando as linhas entre fatos, presunções e opiniões se confudem, a ciência se torna política. A propaganda (que tem um viés proposital de persuasão) invade o documentário. What the health é mais propaganda que documentário. Uma opção individual por uma dieta vegana pode ser uma opção saudável e pode ajudar a reduzir a pressão que estamos fazendo na Terra. Porém, propaganda corrompe mesmo causas nobres."


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Vigitel Brasil 2018

O Vigitel, Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, é realizado desde 2006, em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal e apresenta dados epidemiológicos da população brasileira.

A atualização com dados do ano de 2018 acaba de ser publicada. Entre as informações, podemos destacar os índices de obesidade que chegaram a 19,8% da população, sendo 18,7% entre homens e 20,7% entre as mulheres. Além disso, a pesquisa demonstra que apenas 33,9% da população consome quantidade igual ou maior que 5 porções de frutas ou hortaliças por dia.

Link: https://nutritotal.com.br/pro/wp-content/uploads/sites/3/2019/08/vigitel-brasil-2018.pdf

Livro - Além da Nutrição - ABRAN 2019



A  ABRAN publicou uma obra intitulada “Além da Nutrição: O impacto da nutrição materna na saúde das futuras gerações”. 

O livro foi escrito com muita cautela, todo embasado em evidências robustas e aceitas na comunidade cientifica, trazendo as principais informações sobre os benefícios da suplementação durante as fases de planejamento, gestação e amamentação.

O livro é fruto do trabalho realizado por renomados profissionais da saúde, com o reconhecimento científico da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e apoio da Bayer.

Link para download. Clique aqui. 

domingo, 18 de agosto de 2019

Quem pode se denominar Nutrólogo ?

Somente quem fez residência ou foi aprovado na prova de titulo de Nutrologia. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Gases intestinais

Talvez uma das queixas mais frequentes no meu consultório seja essa: Gases e distensão abdominal. Há anos venho me aprofundando no estudo desse sintoma, elaborando protocolos de investigação e tratamento em conjunto com outros Nutrólogos e a participação de amigos nutricionistas.

É uma queixa muito comum e muitas vezes negligenciada por alguns profissionais: médicos e nutricionistas. E muitas vezes por pura ignorância acreditam que dar probióticos pode melhorar o quadro, quando na verdade pode é piorar.

Nos últimos 3 anos é raro um dia que não atendo alguém com essa queixa. Brinco que virou o meu feijão com arroz no consultório.

Abaixo posto um vídeo de um amigo (Dr. Joffre Rezende Neto) que esclarece de forma clara e didática as principais causas de gases e distensão abdominal.

O nutrólogo geralmente é capacitado para investigar o sintoma e instituir um tratamento adequado de acordo com a etiologia. Só depois que o paciente apresenta um diagnóstico (que somente o profissional médico pode dar) encaminhamos para o Nutricionista.


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Déficit de micronutrientes pode ser muitas vezes o único sinal de doença celíaca

Em muitos casos, os adultos com doença celíaca não diagnosticada apresentam deficiências nutricionais como o único sinal da doença. Os médicos costumam procuram por sinais típicos como perda de peso inexplicável ou magreza extrema. Mas os sinais característicos da doença celíaca podem ser baixos níveis de vitaminas e outros micronutrientes, segundo um estudo recentemente publicado no Proceedings da Mayo Clinic.

“As pessoas têm ideias preconcebidas de como é a doença celíaca. Elas esperam ver pacientes que, por causa da má absorção de nutrientes e da diarreia, fiquem magros com muitas deficiências. Entretanto, observamos muitos pacientes que não perderam peso (e muitos que estão com sobrepeso), mas que ainda apresentam deficiências de micronutrientes. Ao mesmo tempo que eles não estão perdendo calorias, também não estarão absorvendo alguns nutrientes vitais.”, explicou o coautor do estudo, Joseph Murray, professor de medicina da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, nos Estados Unidos.

Baixos níveis de nutrientes

De acordo com o estudo, isso significa que os médicos precisam estar atentos a baixos níveis de certos micronutrientes, em particular de ferro, vitamina D e zinco. Como muitos pacientes não fazem exames de sangue regulares, eles podem apresentar fadiga, sintoma clássico de falta de ferro no organismo.

“É um sintoma muito comum. As pessoas chegam e dizem que não têm a energia que costumavam ter, seja durante exercícios ou atividades diárias. Isso mostra que elas podem ser deficientes em ferro devido à doença celíaca oculta”, diz Joseph Murray.

O procedimento inicial é realizar um exame de sangue. “Se isso voltar positivo, significa que o paciente precisa ser encaminhado para um especialista gastrointestinal, uma vez que é preciso ter certeza para chegar a um diagnóstico que exigirá tratamento ao longo da vida”, destaca o médico.

Joseph Murray suspeita que até 50% dos adultos com doença celíaca não são diagnosticados porque não apresentam perda de peso e outros sinais e sintomas considerados típicos da doença. Ou também porque eles se colocaram em uma dieta sem glúten, que pode distorcer os resultados do exame de sangue.

Metodologia

Joseph Murray e seus colegas estudaram 309 adultos recém-diagnosticados com doença celíaca entre 2000 e 2014. Os pacientes foram selecionados por idade com os participantes do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), um banco de dados representativo nos Estados Unidos.

Quando os pesquisadores compararam os pacientes celíacos recém-diagnosticados com os participantes do NHANES, encontraram algumas grandes diferenças nos níveis de nutrientes. O zinco foi deficiente em 59,4% daqueles com celíaca versus 33,2% dos controles e o cobre ficou baixo em 6,4% dos pacientes celíacos versus 2,1% dos controles. Já o ácido fólico ficou baixo em 3,6% dos pacientes celíacos versus 0,3% dos controles e, por fim, a vitamina B12 ficou baixa em 5,3% dos pacientes celíacos versus 1,8% dos controles.

Entre os pacientes celíacos, o nível de ferro ficou baixo em 30,8%, mas não houve controles com medidas de ferro para comparações. E, ao contrário dos pressupostos tradicionais sobre celíacos e magreza, a perda de peso foi observada em apenas 25,2% dos pacientes diagnosticados com a enfermidade.

Conclusões do estudo

Joseph Murray espera que o novo estudo sirva de alerta para que os médicos da atenção primária possam notar deficiências nutricionais em seus pacientes. Ele os adverte para lembrar que “só porque alguém está acima do peso não significa que eles não tenham doença celíaca”.

Autora: Úrsula Neves - Jornalista carioca. Diretora executiva do Digitais do Marketing, colunista de cultura e maternidade dos sites Cabine Cultural e Feminino e Além, respectivamente.


Epidemia de obesidade atinge populações da América Latina e do Caribe

As populações da América Latina e do Caribe estão sendo vítimas de uma epidemia de obesidade. Os dados são da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Ao mesmo tempo, aumenta também o número de pessoas que apresenta casos de má nutrição alimentar na região.  

“A obesidade afeta quase 25% da população e 60% dos habitantes têm sobrepeso na América Latina e no Caribe”, destaca o relatório “Perspectivas agrícolas 2019-2028”, redigido pelas duas instituições.

O documento aponta que o “triplo ônus da má nutrição, uma mescla de subalimentação, obesidade e falta de micronutrientes, cria um problema de saúde pública cada vez mais grave. E o fenômeno parece seguir avançando, especialmente para os setores mais pobres da população, as mulheres, as populações autóctones, as pessoas de ascendência africana e as crianças”.

Taxas comparáveis a países ricos

As taxas de sobrepeso e de obesidade na América Latina e no Caribe, claramente superiores ao nível médio mundial há mais de 40 anos, são comparáveis à dos países de alta renda.

Atualmente, a região fica na segunda posição na classificação mundial, atrás somente da América do Norte. Ao mesmo tempo, apesar do excedente na produção agrícola e alimentar na América Latina, a quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar aumentou pelo terceiro ano consecutivo.

No entanto, mais do que a disponibilidade dos alimentos, o custo para os consumidores pobres é o que explica a agravamento da situação, de acordo com os analistas.

“A América Latina e o Caribe vivem uma verdadeira epidemia de sobrepeso e obesidade. Contudo, diferentemente dos países desenvolvidos, é improvável que esses países tenham condições econômicas de lidar com as epidemias de doenças causadas pela obesidade, que provavelmente ocorrerão caso a enfermidade não seja fortemente e prontamente combatida”, destaca Flávio Cadegiani, mestre e doutor em Endocrinologia Clínica pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM).  

Ainda segundo o especialista, a América Latina passou a apresentar uma epidemia de obesidade quando deixou de priorizar a alimentação local e se rendeu às grandes redes de fast-food e de alimentos ultraprocessados. 

“Ao contrário do que inicialmente se imaginaria, a coexistência entre insegurança alimentar e obesidade não é necessariamente um paradoxo. Na verdade, é uma sequência natural do desenvolvimento humano. Na maior parte das populações, a alimentação farta e descontrolada é um ode ao acúmulo para pessoas que já viveram períodos de insegurança alimentar. Somente com a estabilização do provimento de comida por, ao menos, uma a duas gerações que a abundância e o entendimento cultural do pensamento de “quanto mais se comer melhor” passará a perder força. Aconteceu assim com os imigrantes europeus pós-guerra, que imigraram para a América (inclusive no Brasil). A cultura da obesidade como a beleza a ser atingida é um fator de atração que ainda tem força em determinadas populações da África, por exemplo”, analisa Cadegiani.

Recomendações
O documento aponta algumas iniciativas de políticas públicas como a limitação da publicidade de alimentos e bebidas processados, assim como rótulos nutricionais detalhados nas embalagens, medida implementada pelo Chile, o imposto sobre os alimentos vinculado à saúde no México e a lei sobre alimentação nas escolas no Brasil.

Na opinião de Cadegiani, primeiramente os médicos precisam entender que a obesidade trata-se de uma doença real, grave, de grande componente genético, metabólico. E que seus portadores não são pessoas mais fracas, pois a atração por alimentos mais calóricos é mais intensa e a facilidade de armazenamento é maior. Ou seja, não se trata de uma doença em que se falar para o paciente “fechar a boca” vai trazer qualquer efeito positivo.

“Devido à grande epidemia e à altíssima prevalência, não somente os médicos especialistas, mas todos os médicos, incluindo médicos de família, têm que saber lidar e tratar (inclusive do ponto de vista medicamentoso), e saber encaminhar, somente quando necessário, para cirurgia bariátrica. É necessário um treinamento médico maciço no Brasil e uma cobrança maior com uma abordagem mais proativa dos médicos para prevenir o aparecimento de mais de 200 doenças decorrentes da obesidade em milhões de pessoas”, enfatiza o especialista em Endocrinologia.

Uma abordagem mais consciente pode ajudar nesta difícil missão, principalmente, em relação aos pacientes. As informações sobre alimentação e estilo de vida saudável devem vir após a ampla conscientização do que é obesidade e do que ela pode causar, uma vez que os indivíduos precisam entender as razões de comer menos alimentos muito calóricos, ultraprocessados, e com grande teor de carboidratos refinados e de gorduras más.

“A mensagem de que ‘sim, nós entendemos o quanto é difícil comer saudável em face da ampla oferta de alimentos que trazem prazer instantâneo e aliviam sentimentos, mas estamos aqui para ajudar efetivamente’ precisa sempre estar junto às campanhas de conscientização sobre a obesidade. E, claro, oferecer caminhos efetivos e verdadeiramente acessíveis àqueles que necessitam de ajuda”, defende Cadegiani.

Autora: Úrsula Neves
Jornalista carioca. Diretora executiva do Digitais do Marketing, colunista de cultura e maternidade dos sites Cabine Cultural e Feminino e Além, respectivamente.

Referências: https://nacoesunidas.org/onu-ve-epidemia-de-obesidade-na-america-latina-e-caribe/

terça-feira, 16 de julho de 2019

Adolescentes mais pobres estão mais obesos, mas ainda desnutridos, indica pesquisa da Fiocruz

A investigação é a primeira no Brasil que observa fatores socioeconômicos associados a desnutrição e obesidade.

Mesmo obesos, adolescentes brasileiros ainda possuem traços de desnutrição, conforme mostra um estudo publicado na edição mais recente da revista PLOS One, uma das mais renomadas na área de saúde do mundo. Os pesquisadores encontraram a presença das duas condições especialmente nos estudantes de escola pública, que ainda apresentaram um aumento dos índices de excesso de peso nos últimos anos. A investigação, realizada por pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), é a primeira no Brasil que observa fatores socioeconômicos associados a desnutrição e obesidade. “Poucos são os estudos que trazem estes desfechos nutricionais apresentados de forma simultânea”, enfatizou a pesquisadora Júlia Uzêda.

A dupla carga de má nutrição, quando a desnutrição e obesidade se apresentam simultaneamente, afeta uma parcela pequena dos estudantes (menos de 1%). No entanto, a condição demonstra que nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas de vida vem acompanhada de maior qualidade nutricional.

“Nas últimas décadas, inclusive em economias em desenvolvimento, como o Brasil, formas de má nutrição aparentemente antagônicas, como a desnutrição e a obesidade, têm passado a coexistir no mesmo indivíduo. A dupla carga é um evento raro e ainda pouco investigado, sendo este o primeiro estudo a avaliar sua prevalência e fatores socioeconômicos associados em um subgrupo da população brasileira”, explica pesquisador do Cidacs Natanael Silva, também integrante do estudo.

Sobrepeso

De acordo com os pesquisadores, houve aumento de sobrepeso entre os adolescentes de todos os níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a desnutrição, revelada pela baixa estatura. Segundo o estudo, os adolescentes oriundos de escolas privadas têm maior chance de desenvolver excesso de peso em relação aos estudantes da escola pública. No entanto, explica Uzêda, “essa diferença entre os grupos foi sendo reduzida”. Entre 2009 e 2015, enquanto o índice de adolescentes com excesso de peso na rede privada permaneceu inalterável (28,7%), a taxa entre os da rede pública aumentou de 19% para 23,1%.

A pesquisa utilizou dados da primeira (2009) e da mais recente (2015) edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), inquérito que investiga doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros. O grupo comparou os índices nutricionais de estudantes de 13 a 17 anos, separando entre aqueles que apresentam somente sobrepeso ou baixa estatura e aqueles que apresentam as duas condições.

Números

Para esta investigação, foram selecionadas informações socioeconômicas desses adolescentes, como escolaridade da mãe, raça, sexo e tipo de unidade escolar dos adolescentes. Em 2009, responderam ao Pense 31.823 meninas e 27.814 meninos. Já em 2015, o Pense trouxe 5.317 meninas e 5.453 meninos. No primeiro momento, 140 garotas (0,5%), apresentavam tanto sobrepeso quanto desnutrição, entre os meninos essa taxa foi de 0,3% (74 indivíduos).

Ainda em 2009, quando separado o grupo que apresentou os dois desfechos de saúde, de forma indistinta do sexo, e diferenciando entre estudantes de escola pública e privada, essa simultaneidade aparece em 29 estudantes do ensino particular (0,2%) contra 185 do público (0,4%). Isto é, a dupla carga é maior entre estudantes da rede pública. Em 2015, a taxa de dupla carga aumentou entre os estudantes de escola privada enquanto os de escola pública continuou estável – foram encontrados 7 alunos da rede privada (0,3%) e 30 da rede pública (0,4%) com essa condição. E com relação ao sexo, as meninas ainda são maioria: 0,4% (20) apresentaram a condição contra 0,3% (17) do sexo masculino.

Fatores

“Esses achados demonstram que a obesidade tem crescido e vem atingindo cada vez mais a população menos favorecida socioeconomicamente”, comenta o pesquisador Natanael Silva. “O aumento do excesso de peso nesse grupo deve-se provavelmente a melhora das condições socioeconômicas e especialmente a fatores, como o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e a maior exposição a ambientes obesogênicos”.

Um dos fatores que foi associado à dupla carga de má nutrição é escolaridade da mãe dos estudantes. Os filhos de mulheres que completaram a educação primária revelaram melhores índices de nutrição, apresentando a metade da taxa de dupla carga do que os estudantes cujas mães não finalizaram essa etapa.

Uzêda frisa que “existem fatores que não foram analisados neste estudo, como o consumo alimentar e, principalmente, a qualidade dos alimentos ingeridos”, mas que as informações encontradas já podem servir para que políticas públicas se foquem na qualidade da nutrição

Para especialistas, investir em agricultura urbana melhoraria a alimentação e reduziria a poluição

Para especialistas, investir em agricultura urbana melhoraria a alimentação e reduziria a poluição, já que com alimentos sendo produzidos mais próximos dos consumidores a logística de transporte e do consumo de combustíveis mudaria drasticamente

As primeiras cidades surgiram, entre outros motivos, por causa da produção de alimentos. Foi o excedente dessa produção que deu origem às grandes civilizações antigas. Entretanto, conforme as cidades foram se modernizando, a agricultura passou a se afastar cada vez mais dos grandes centros urbanos.

Para entender como isso afeta as grandes cidades ainda hoje, e como a produção local de alimentos pode melhorar a vida urbana, o Momento Cidade reuniu especialistas para responder à pergunta: Como é possível produzir alimentos na cidade?

Conforme explica André Biazoti, formado em Gestão Ambiental pela USP em Piracicaba e pesquisador na área, a “agricultura urbana é um conceito multidimensional que envolve diversas realidades, diversas práticas, diversas formas de se conceber uma agricultura dentro de um espaço urbano”.

De acordo com Biazoti, atualmente a produção que pode ser feita nas áreas da cidade é bem diversa, indo desde a produção alimentar e a produção animal até a produção de flores, de plantas ornamentais ou mesmo de madeira.

Para Gustavo Nagib, doutorando da pós-graduação em Geografia Humana da USP e autor do livro Agricultura Urbana como Ativismo na Cidade de São Paulo, publicado em 2018 pela Annablume Editora, é preciso diferenciar os diferentes tipos de agricultura que existem na cidade.

“Existe a agricultura que é voltada para a produção, geração de renda, abastecimento e a agricultura que é voltada para a socialização, a pedagogia, no sentido da sensibilização da educação ambiental na cidade, da reocupação dos espaços públicos da cidade; a produção agrícola é importante como ferramenta de socialização e reocupação do espaço público”, esclarece Nagib.

Para ambos os especialistas, é crucial que instituições como as universidades pesquisem o assunto e entendam o impacto da agricultura urbana nas grandes cidades.

Já para Thais Mauad, professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP e coordenadora do Grupo de Estudos de Agricultura Urbana do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, investir em agricultura urbana traria diversas vantagens para a população que vão desde a melhoria na alimentação até a redução da poluição, já que com alimentos sendo produzidos mais próximos dos consumidores a logística de transporte e, consequentemente, o consumo de combustíveis, mudariam drasticamente.

Para ela, a Prefeitura pode ajudar a incentivar os trabalhadores que já produzem na cidade. “Um dos problemas que essas pessoas têm é falta de apoio técnico, e a Prefeitura tem poucos agrônomos. Outra coisa, por exemplo, é que a Prefeitura pode disponibilizar terrenos (para plantio)”, explica a docente.

Dentre as inúmeras vantagens de se incentivar a produção local de alimentos, os pesquisadores destacam que um maior número de áreas verdes nas cidades ajudaria no controle do aumento da temperatura, da umidade e resultaria também na melhora da qualidade do ar.

Substâncias presentes nas comidas prejudicam a absorção de medicamentos

Alguns alimentos, quando ingeridos durante tratamento com determinados medicamentos, podem oferecer riscos à efetividade do fármaco e à saúde do paciente. Moacyr Luiz Aizenstein, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, explica que tal interferência está diretamente ligada à absorção do remédio, já que há substâncias em certas comidas que prejudicam esse processo.

Para evitar tais riscos, deve-se tomar os medicamentos sempre em jejum, ou seja, uma hora antes ou após as refeições, com exceção apenas de remédios danosos para a mucosa gástrica, como anti-inflamatórios. Entre os exemplos dados pelo pesquisador, há o uso de antibióticos junto ao leite. O cálcio pode interferir no formato da tetraciclina e bloquear sua absorção no organismo.

Aizenstein também comenta sobre o efeito do consumo de bebidas alcoólicas com a medicação. O álcool pode deprimir o sistema imunológico e retardar a reação de combate do corpo. Além disso, o professor alerta para a importância dos profissionais de saúde instruírem seus pacientes, o que auxiliaria no tratamento final.

Obesidade infantil: medidas drásticas são necessárias para conter a ingestão de refrigerantes

Duas das principais entidades médicas americanas reivindicam impostos mais altos para os refrigerantes e a proibição de publicidade da bebida, na esperança de desencorajar as crianças a consumi-los.

Em um comunicado conjunto, a Academia Americana de Pediatria e a Associação Americana de Cardiologia endossaram uma série de recomendações que, segundo as entidades médicas, poderão ajudar a reduzir as taxas de diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares, bem como a crescente epidemia de obesidade.

Segundo os autores do comunicado, “os profissionais de saúde vêm tentando e fracassando no intento de restringir a ingestão de refrigerantes, apenas por meio da educação e das escolhas individuais.  Assim como as mudanças nas políticas públicas foram necessárias e eficazes na redução do consumo de tabaco e álcool, precisamos de mudanças nas políticas públicas que ajudem a reduzir o consumo de refrigerantes entre crianças e adolescentes”.

A taxa de obesidade infantil triplicou desde a década de 1970, afetando uma em cada cinco crianças nos EUA, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças. A obesidade infantil é hoje a principal preocupação de saúde entre os pais, nos EUA, superando o abuso de drogas e o tabagismo. E após a infância, a obesidade continua a atormentar mais de um terço dos adultos norte-americanos. Os especialistas alertam que essa proporção só crescerá entre as gerações mais jovens, pois muitos fatores contribuem para isso: pouca atividade física e aumento no consumo de junk food e de refrigerantes.

“O consumo de muito açúcar tem sido associado a vários problemas de saúde como asma, cáries, aumento dos níveis de colesterol ruim (LDL) e aumento do risco de pressão alta e doenças cardíacas”, explica o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.

Nos EUA, as crianças consomem uma média de 30 litros de refrigerantes por ano, o equivalente a cerca de meia banheira cheia de açúcar. Embora o consumo de refrigerante tenha diminuído no país, crianças e adolescentes ainda somam às suas dietas cerca de 143 calorias por dia, provenientes dos refrigerantes.

A Associação Americana de Cardiologia recomenda que as crianças não consumam mais do que seis colheres de chá de açúcar ou 100 calorias por dia. “Para as crianças, a maior fonte de açúcar adicionado frequentemente não é o que comem, é o que bebem. Como pediatra, sei bem que os refrigerantes representem riscos reais e evitáveis ​​à saúde das crianças, incluindo cárie dentária, diabetes, obesidade e doenças cardíacas”, diz o pediatra.

É por isso que, entre muitas recomendações, as duas entidades médicas americanas pedem que os legisladores aumentem o preço dos refrigerantes em nível local, estadual e federal, via cobrança de impostos.

Em março de 2015, Berkeley, na Califórnia, tornou-se a primeira cidade do país a impor um imposto de 1% sobre os refrigerantes. Um ano após a introdução do imposto, as vendas caíram 9,6%, enquanto as vendas nas áreas vizinhas aumentaram 6,9%, segundo um estudo de 2017. As vendas de água aumentaram 15,6%, após o aumento dos impostos e as vendas de outras bebidas não tributadas, como chás sem açúcar, leite e sucos de frutas também aumentaram.

Desde então, várias cidades dos EUA estão seguindo esse exemplo, incluindo São Francisco, Oakland e Albany, na Califórnia; Filadélfia, Pensilvânia; Boulder, Colorado; Condado de Cook, Illinois; Portland, Oregon; e Seattle, Washington. Segundos os autores do estudo, o aumento de impostos é uma ótima medida, pois ele realmente diminui o consumo de refrigerantes.

A indústria dos refrigerantes

A indústria de refrigerantes gastou bilhões de dólares fazendo campanha contra os impostos e tentando influenciar a pesquisa a ser mais favorável aos refrigerantes. “Apoiamos pais que querem menos açúcar nas dietas de seus filhos, produzindo mais bebidas com menos ou nenhum açúcar. Hoje, 50% de todas as bebidas vendidas contêm zero açúcar. Buscamos, ainda, reduzir as calorias em 20% até 2025″, diz o comunicado da Associação Americana de Bebidas.

Restrições e proibições

Mas as entidades médicas querem muito mais. No comunicado conjunto, elas também incluíram a exigência de que a quantidade de açúcar adicionada aos refrigerantes seja exibida nos rótulos nutricionais e cardápios dos restaurantes, e que o leite e a água sejam as opções padrão de bebidas nos cardápios infantis. Também estão pedindo regulamentações federais que reduzam a quantidade de publicidade de junk food na TV, on-line e em outdoors.

Vários estudos mostram que crianças negras e hispânicas veem uma parcela desproporcional de anúncios de refrigerantes em comparação com seus pares brancos. Enquanto isso, 26% dos jovens hispânicos e 22% dos jovens negros são obesos, em comparação com 14% dos jovens brancos.

Alguns profissionais de saúde reivindicam proibições generalizadas semelhantes à forma como os anúncios de cigarro foram banidos do rádio e da televisão, em 1971, enquanto outros propuseram legislação para acabar com a dedução fiscal federal do refrigerante para crianças.

A declaração conjunta vem na esteira de um estudo divulgado pela Escola de Saúde Pública de Harvard, que descobriu que o consumo de refrigerantes e bebidas esportivas estava associado a um risco 30% maior de morte prematura entre adultos dos EUA.

“Beber água no lugar de refrigerante é uma escolha saudável que pode contribuir para a longevidade. O refrigerante diet pode ser usado para ajudar os consumidores frequentes de bebidas açucaradas e os diabéticos a reduzirem seu consumo, mas a água é a melhor e mais saudável escolha”, orienta Moises Chencinski.

Materiais de plástico e restos de cigarro representam mais de 90% dos resíduos encontrados no ambiente marinho brasileiro

Vale a pena ler a reportagem em: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/08/materiais-de-plastico-e-restos-de-cigarro-representam-mais-de-90-dos-residuos-encontrados-no-ambiente-marinho-brasileiro/

terça-feira, 9 de julho de 2019

Estudo da USP mostra a importância de manter massa muscular para longevidade

Pesquisadores da USP analisaram dados de 839 idosos com 65 anos ou mais para analisar como a quantidade de músculos influencia na longevidade de cada um. Eles concluíram que o risco de mortalidade foi quase 63 vezes maior entre as mulheres com pouca massa muscular. Entre os homens com menos massa muscular, a chance de morrer foi 11,4 vezes maior.

As primeiras medidas foram anotadas entre 2005 e 2007. Quatro anos depois, 132 dos voluntários haviam morrido. Desses, 43,2% faleceram por problemas no coração . Entre os homens, 20% morreram, enquanto entre as mulheres, 13%. De modo geral, os participantes que morreram eram mais velhos, faziam menos exercícios , tinham diabetes e doenças do coração.

— Quando a gente viu as causas de morte, cerca de 40% foram devido a doenças cardiovasculares , por insuficiência cardíaca. Há dois fatores por trás disso. O primeiro é que o sujeito que vai ter uma doença cardíaca tem menos músculos porque qualquer doença crônica é uma inflamação. E a inflamação diminui a produção muscular— explica Rosa Maria Rodrigues Pereira, professora da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora da pesquisa. — Em qualquer doença crônica você acaba produzindo menos músculos. Isso acontece também em doenças reumatológicas e diabetes, por exemplo. O segundo fator é que a atividade física é boa para a atividade cardiovascular.

Alimentação: carne, feijão e grão de bico ajudam a manter a massa muscular
A médica explica que a perda de massa muscular acontece naturalmente após os 40 anos, e pode passar despercebida com o ganho de peso de gordura. Estima-se que,  após os 50 anos, entre 1% e 2% da massa muscular seja perdida anualmente. Entre os fatores que podem acelerar o fenômeno estão sedentarismo , dieta pobre em proteínas , doenças crônicas e hospitalização.

Para recuperar a massa muscular perdida, a médica Maria Rodrigues indica uma rotina de exercícios físicos e uma dieta rica em proteínas .

— Não estamos falando aqui de dietas “low carb”, em que a pessoa aumenta demais o consumo de carne. O importante é que você tenha uma boa ingestão de proteínas, que podem ser tanto de origem animal quanto vegetal. É importante, a partir dos 60 anos, continuar comendo peixe, ovo, carne e frango. Ou proteínas de origem vegetal: feijão, grão de bico, lentilha e amêndoas, por exemplo. E a atividade física, com musculação, com pesos, que é uma coisa boa para aumentar a massa muscular.

Quase metade dos brasileiros perde músculos a partir dos 80 anos
O estudo foi feito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). Os cientistas avaliaram a quantidade de músculos que cada pessoa tinha nos braços e nas pernas, além da quantidade de gordura nas camadas abaixo da pele e entre os órgãos vitais. 

O grupo desenvolveu uma equação para determinar, com base nas características estatísticas da população estudada, quais indivíduos poderiam ser considerados com massa muscular abaixo da média. Cerca de 20% das pessoas que participaram da pesquisa tinham massa muscular abaixo da média.

A perda músculos associada ao envelhecimento é conhecida como sarcopenia. Dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia indicam que 46% dos brasileiros acima de 80 anos sofrem disso.

Os voluntários que participaram da pesquisa da USP foram examinados por uma técnica conhecida como densitometria por emissão de raios X de dupla energia. Rápido e indolor, o exame não requer nenhum preparo especial e é realizado com baixa intensidade de exposição aos raios X. Esse tipo de densitometria fornece as informações de massa óssea, magra e de gordura do corpo inteiro ou de partes específicas, expressas em porcentagem da massa total. O equipamento foi adquirido com auxílio da Fapesp.

Ministério da Agricultura proíbe venda de seis marcas de azeite

Azeite de oliva de seis marcas foram proibidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de serem vendidos no Brasil, após a fiscalização encontrar produtos fraudados e impróprios ao consumo. Os produtos das marcas Oliveiras do Conde, Quinta Lusitana, Quinta D’Oro, Évora, Costanera e Olivais do Porto devem ter os produtos recolhidos dos supermercados de todo o país até a próxima segunda-feira.

Caso a medida não seja cumprida, os comerciantes serão advertidos e posteriormente denunciados ao Ministério Público Federal, para eventual responsabilização criminal. Eles também podem receber multas de R$ 5 mil por ocorrência com acréscimo de 400% sobre o valor comercial dos azeites. 

As fraudes foram encontradas em oito estados, como Alagoas e Santa Catarina. Foram analisadas 19 amostras do Oliveiras do Conde; oito do Quinta Lusitana e duas da marca Évora. Da Costanera e Olivais do Porto, foram encontrados rótulos em uma fábrica clandestina, em Guarulhos, São Paulo. Os responsáveis pelas marcas são Rhaiza do Brasil Ltda, Mundial Distribuidora e Comercial Quinta da Serra Ltda.

Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) do Ministério, Glauco Bertoldo, a proibição aconteceu após uma operação realizada no início de maio, pela Delegacia de Polícia de Guarulhos (Demacro – PC/SP), que descobriu uma fábrica clandestina de azeites falsificados.
No local, os policiais encontraram uma mistura de óleos, sem a presença de azeite de oliva. “Atualmente, o azeite de oliva é o segundo produto alimentar mais fraudado do mundo, perdendo apenas para o pescado”, alerta o diretor. Glauco Bertoldo adverte que a adulteração e falsificação de azeite de oliva, além de ser fraude ao consumidor, é crime contra a saúde pública.

O Ministério alerta para que o consumidor desconfie de azeites mais baratos, pois podem ser fruto de fraudes. Glauco ressalta, ainda, que o verdadeiro azeite de oliva tem preço a partir de R$ 17, enquanto os falsificados custam em média entre R$ 7 e R$ 10.

Reducitarianismo: uma opção para quem deseja reduzir o consumo de carne vermelha

Lançado na Europa mapa do envenenamento de alimentos no Brasil

Em exposição crônica aos agrotóxicos, brasileiro corre mais risco de morte e desenvolvimento de doenças

Um ousado trabalho de geografia que mapeou o nível de envenenamento dos alimentos produzidos no Brasil foi lançado em maio, em Berlim, na Alemanha, país que contraditoriamente sedia as maiores empresas agroquímicas do mundo. Quem estava presente no lançamento do atlas Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia ficou perplexo com a informação sobre o elevado índice de resíduos agrotóxicos permitidos em alimentos, na água potável, e que, potencialmente, contamina o solo, provoca doenças e mata pessoas. A obra, que já foi publicada no Brasil, é de autoria da geógrafa Larissa Mies Bombardi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O Brasil é campeão mundial no uso de pesticidas na agricultura, alternando a posição dependendo da ocasião apenas com os Estados Unidos. O feijão, a base da alimentação brasileira, tem um nível permitido de resíduo de malationa (inseticida) que é 400 vezes maior do que aquele permitido pela União Europeia; na água potável brasileira permite-se 5 mil vezes mais resíduo de glifosato (herbicida); na soja, 200 vezes mais resíduos de glifosato, de acordo com o estudo, que é rico em imagens, gráficos e infográficos. “E como se não bastasse o Brasil liderar este perverso ranking, tramita no Congresso nacional leis que flexibilizam as atuais regras para registro, produção, comercialização e utilização de agrotóxicos”, relata Larissa.

A pesquisadora explica que o lançamento do atlas na Europa se deu pelo fato de a Alemanha sediar a Bayer/Monsanto e a Basf, indústrias agroquímicas que respondem por cerca de 34% do mercado mundial de agrotóxicos. A Monsanto, recentemente incorporada ao grupo Bayer, é a líder mundial de vendas do glifosato, cujos subprodutos têm sido associados a inúmeras doenças, incluindo o câncer e o Alzheimer. “Queríamos promover discussão sobre a contradição de sediarem indústrias que controlam toda a cadeia alimentar agrícola – das sementes, agrotóxicos e fertilizantes – e serem rigorosos quanto ao uso de mais de um terço dos pesticidas que são permitidos no Brasil. Eles são corresponsáveis pelos problemas gerados à população porque vendem e exportam substâncias sabidamente perigosas, porém, proibidas em seu território”, diz.

Intoxicação e suicídios

Segundo a geógrafa, as perdas não se limitam à contaminação de alimentos e dos cursos d’água. O atlas traz informações de que, depois de extensa exposição aos agrotóxicos, ocorrem também casos de mortes e suicídios associados ao contato ou à ingestão dessas substâncias.

Entre 2007 e 2014, o Ministério da Saúde teve cerca de 25 mil ocorrências de intoxicações por agrotóxicos. O atlas mapeia as regiões mais afetadas: dos Estados brasileiros, durante o período da pesquisa, o Paraná ficou em primeiro lugar, com mais de 3.700 casos de intoxicação. São Paulo e Minas Gerais ficaram na segunda colocação, com 2 mil. Das 3.723 intoxicações registradas no Paraná, 1.631 casos eram de tentativas de suicídio, ou seja, 40% do total. Em São Paulo e Minas gerais o porcentual foi o mesmo. No Ceará, houve 1.086 casos notificados, dos quais 861 correspondiam a tentativas de suicídio, cerca de 79,2%. Os mapas de faixa etária mostram que 20% da população afetada era composta de crianças e jovens com idade até 19 anos. Segundo Larissa, no Brasil, há relação direta entre o uso de agrotóxicos e o agronegócio. Em 2015, soja, milho e cana de açúcar consumiram 72% dos pesticidas comercializados no País.

O atlas Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia, em português, foi lançado no Brasil em 2017 e traz um conjunto de mais de 150 imagens entre mapas, gráficos e infográficos que abordam a realidade do uso de agrotóxicos no Brasil e os impactos diretos deste uso no País. A pesquisa que deu origem à publicação teve o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Em Berlim, o lançamento aconteceu na sede do ENSSER (European Network of Scientists for Social and Environmental Responsability), rede europeia sem fins lucrativos que reúne cientistas ativistas responsáveis ambiental e socialmente, em Glasgow, Escócia. O suporte financeiro para o lançamento do atlas na Europa foi da FFLCH e da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.

Estados Unidos provavelmente banirão agrotóxico com ação neurotóxica e é um dos mais vendidos no Brasil

Clorpirifós, inseticida de uso caseiro e em plantações diversas, tem riscos neurológicos comprovados; corte americana determinou que agência reguladora dos EUA proíba o uso. Para ler mais acesse: 

terça-feira, 2 de julho de 2019

Amazônia: garimpos jogam ‘uma Brumadinho’ a cada 20 meses no Tapajós

Já faz alguns anos que a Amazônia passa por mais uma corrida do ouro, só que desta vez “moderna”, como dizem os locais pró-garimpo. Não pelas preocupações socioambientais crescentes, mas pelo uso de máquinas que substituem parte daquele formigueiro de gente que víamos no passado por um formigueiro mecanizado. São os chamados “PCs”, retroescavadeiras hidráulicas que avançam de forma insana e avassaladora abrindo crateras sobre a floresta.

O artigo é de Caetano Scannavino, Empreendedor social, morador da Amazônia e coordenador do Projeto Saúde e Alegria.

No mais, os garimpos continuam como nos tempos do Velho Oeste, mercuriais e febris por ouro, com governos coniventes, leis próprias, sempre em nome do desenvolvimento como única alternativa para sobrevivência econômica, pouco importando se estão em áreas proibidas como terras indígenas (TIs) ou unidades de conservação (UCs).

Só no território Yanomami são mais de 10 mil garimpeiros cavando a floresta, assoreando rios, contaminando águas, corrompendo indígenas, chamando violência, prostituição, armas e drogas.

Já na bacia do Tapajós, vindos dos garimpos ilegais dentro das Flonas (Florestas Nacionais) e Terras Munduruku, são despejados por ano mais de 7 milhões de toneladas de sedimentos – o equivalente a um Brumadinho a cada 20 meses.

O mercúrio é um desses rejeitos. Ele é metilado no fundo dos rios, quando então pode ser dissolvido nas células dos peixes que vão alimentar as pessoas. Segundo o Dr. Erik Jennings, médico neurologista que atua no Tapajós, existem vários estudos que apontam níveis mercuriais bastante altos nos índios Munduruku (medidos através do cabelo).

“Disso não temos mais dúvidas. O que falta agora são os estudos clínicos, examinando bem a parte neurológica das pessoas, para se ver a consequência que eles já estão tendo. A intoxicação mercurial atinge o sistema nervoso deixando as pessoas sem concentração, reduz a memória, a coordenação, causa déficit de inteligência e tremores incontroláveis. E as crianças geradas por mães contaminadas também terão consequências devastadoras em seus cérebros. Então, temos um grave problema social aí. Sem plena capacidade cognitiva, o mercúrio tira das pessoas a capacidade de competir e sobreviver numa sociedade de forma justa.”

Se já estava ruim nos governos anteriores, tende a piorar ainda mais com um presidente que quer liberar o garimpo em terras indígenas. A tática é deixar os índios à mercê dos garimpeiros ilegais, sem as devidas medidas protetivas ao mesmo tempo que fecham as torneiras dos serviços assistenciais, colapsando a atenção básica, a segurança alimentar… Sem opções, alguns indígenas acabam induzidos a buscar apoio junto aos próprios garimpeiros, estabelecendo acordos e/ou se envolvendo diretamente nas atividades extrativas. Com isso, pressionam para dividi-los, abrindo as portas para a entrada de novos invasores. É perverso.

Até agora, pouco se ouviu sobre políticas que diversifiquem as cadeias produtivas, reduzam a dependência do ouro e incentivem a transição para economia da floresta em pé. Ao invés de premiar a garimpagem legal coibindo as ilegalidades para que as boas práticas predominem, o governo quer acabar com elas legalizando-as. O discurso presidencial é pelo alívio da fiscalização e multas por crimes ambientais – isso no país onde já reina a impunidade com menos de 5% delas quitadas.

E assim será enquanto continuarmos com a visão estreita de progresso e desenvolvimento, literalmente entregando o ouro, se contentando com pouco quando se poderia ganhar muito mais, em todos os sentidos.

A cultura econômica que se criou é de país vira-lata, com alguns poucos se apropriando da riqueza que é de todos, cometendo crimes ambientais em cascata, lucrando sem pagar impostos, inclusive quebrando quem quer fazer a coisa certa, sufocados pela concorrência desleal. E ainda deixam a conta do estrago para o Estado, ou seja, para você pagar.

Toda essa ilegalidade acontece a vista de todos, Ibama, ICMBio, Funai, PF… E até de quem aqui me lê, se assim desejar, bastando uma visita ao Google Maps.

O ouro continua falando mais alto do que a fiscalização e a punição. Anos e anos de exploração tornaram os municípios dourados reféns de uma economia movida por práticas predatórias e pela “livre negociação armada”, onde o garimpo elege e governa, em todas as esferas.

Projetos de mineração estão sendo liberados dentro de UCs pela ANM (Agência Nacional de Mineração) em conluio com as Secretarias Municipais de Meio Ambiente. Além de proibidos, não contam com estudos sérios de impacto e os devidos processos de licenciamento ambiental. Só nas Flonas de Itaituba 1 e 2, região do Tapajós que se sobrepõe às terras Munduruku, há 11 lavras já para exploração (mais 166 requerimentos) e 20 autorizações para pesquisa (mais 30 pedidos) – apenas em 2015, para Itaituba 2, a ANM concedeu 6 autorizações para garimpos de diamante e ouro.

“Para cada quilo legal, 10 saem ilegais”, disse Eugenio Viana, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia de Itaituba/PA, em reportagem para a Agência Pública.

Questionar isso não é ser contra o desenvolvimento, mas contra esse modelo que compromete tudo e todos para favorecer só alguns. Se fosse bom, depois de tanto ouro extraído, municípios áureos como Itaituba ou Jacareacanga já deveriam ter asfalto 100%, rede de esgotos, água tratada, energia estável, internet banda larga, escolas e hospitais de primeira.

Só que não, por exemplo, dentre os nossos 5,5 mil municípios, Itaituba está no andar de baixo, ocupando o 4377º lugar no ranking IFDM, enquanto Jacareacanga é o 7º pior e menos desenvolvido do país (IFDM – Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).

Isso não é legal…

Produto químico (triclosam) em pastas dentais ligado a osteoporose em mulheres

Um produto químico denominado Triclosan,  utilizado como agente antibacteriano em vários produtos de higiene pessoal, há algum tempo vem sendo taxado de disruptor endócrino. Ou seja, uma substância com potencial para desregular o sistema endócrino.

Este químico pode ser encontrado em diversos produtos de higiene pessoal como sabonetes, pasta de dentes, desinfetantes para as mãos e colutórios. A exposição ao triclosan pode ainda suceder através de água contaminada.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Escola de Saúde Pública de Hangzhou, na China, propôs-se analisar a associação entre as concentrações de triclosan na urina e a densidade mineral óssea e osteoporose em mulheres adultas. Para isso, analisaram dados recolhidos de uma sondagem à saúde e nutrição nos EUA, entre 2005 e 2010, e que incluía 1.848 mulheres com 20 ou mais anos de idade.

Foi observado que a presença de concentrações de triclosan na urina está negativamente associada à densidade mineral óssea e positivamente associada à prevalência de osteoporose. A evidência foi mais forte em mulheres na pós-menopausa do que nas que se encontravam na pré-menopausa.

“Estudos em laboratório demonstraram que o triclosan poderá ter potencial para afetar a densidade mineral óssea negativamente em linhas celulares ou em animais. Contudo, pouco se sabe sobre a relação entre o triclosan e a saúde óssea humana”, comentou Yingjun Li, autor correspondente do estudo.

Fonte: https://www.medscape.com/viewarticle/914888?src=soc_fb_190627_mscpedt_news_mdscp_triclosan&faf=1

75% dos casos dos transtornos psiquiátricos em adultos começam na infância

Um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com escolas públicas de São Paulo e do Rio Grande do Sul, mostra que 80% dos estudantes com algum transtorno mental — como por exemplo ansiedade, fobias, déficit de atenção, hiperatividade ou esquizofrenia — não recebem tratamento médico nem psicológico. Os pesquisadores realizaram uma série de exames de neuroimagem, além de avaliações genéticas e psiquiátricas em 2.511 alunos com idades entre seis e 12 anos. Destes, 652 apresentaram pelo menos um transtorno mental, mas apenas 20% haviam recebido algum tipo de tratamento.

O psiquiatra Guilherme Polanczyk, um dos responsáveis pelo estudo, diz ser uma ameaça silenciosa, embora o tratamento primário (sem a necessidade de um especialista) baste na maioria dos quadros. A atenção é necessária de qualquer maneira, pois grande parte das condições é crônica, em 75% dos casos persistem até a vida adulta. “As instituições de ensino têm um papel-chave na identificação e intervenção quando há transtornos mentais. Nessa fase, a criança desenvolve habilidades sociais, empatia, capacidade de resolver problemas, autocontrole, cruciais para a vida adulta”, argumenta o pesquisador do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) para o Jornal da USP no Ar.

Recursos no Brasil são escassos na educação, bem como no atendimento psicológico, segundo Polanczyk. “Nos Estados Unidos e na Europa, serviços de saúde mental estão na escola, assim os sintomas são encontrados com prontidão”, diz o psiquiatra. “Os transtornos podem se apresentar em diferentes condições: ansiedade, medo, fobia, ataques de pânico, depressão. E em outras formas menos frequentes, apesar de encontrados em amostras de adolescentes, como déficit de atenção, transtornos comportamentais, bipolar, obsessivo-compulsivo e esquizofrenia”, aponta. Os colégios deveriam não apenas trabalhar na prevenção, como promover a saúde mental.

O docente comenta que não existem dados representativos da população brasileira, mas que a pesquisa indica uma importante pista. Ele diz que “13% das crianças apresentaram transtorno clínico, outras 20% subclínico, que acontece quando há sintoma, no entanto, não ultrapassam a barreira diagnóstica, e 80% daquelas com o problema não receberam nenhum tratamento”. Um indicativo preocupante, já que a amostragem do ensaio está localizada em São Paulo e Porto Alegre — dois ricos centros urbanos. “No interior e estados mais pobres, as taxas de tratamento devem ser ainda menores”, estima Polanczyk.

O especialista estuda esse problema no Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência (INPD), cujo  site pode ser acessado neste link. “ Lá, cientistas de várias universidades, USP e Unifesp entre elas, desenvolvem projetos de pesquisa e transmissão do conhecimento para a comunidade. Muita coisa já poderia e deveria ser aplicada, inclusive”, finaliza

Comissão Nacional Especializada de Climatério da Febrasgo se posiciona sobre implante de gestrinona (chip da beleza)


A Comissão Nacional Especializada de Climatério da Febrasgo entende que não há dados publicados na literatura médica a respeito da eficácia e da segurança do implante em questão. No presente momento, não há, disponível no mercado brasileiro, implante hormonal aprovado pela Anvisa, exceto o implante anticoncepcional composto por etonogestrel. A Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo desaconselha o uso de quaisquer tratamentos, hormonais ou não, que não possuam aprovação pela Anvisa.

A gestrinona foi estudada sob administração por via oral e para tratamento da endometriose, portanto, não existindo estudos referentes ao seu uso parenteral, em especial, por meio de implantes. Pela ausência de estudos de longa duração no tocante à sua real eficácia e, em especial, no que tange à sua segurança, ainda, não havendo estudos ou citações na literatura científica sobre uso da gestrinona como Terapia hormonal do Climatério, a Comissão não pode recomendar o uso de tais implantes.

Várias entidades médicas desaprovam o emprego de medicações feitas em farmácias de manipulação, sem aprovação de órgãos reguladores – como FDA (americano), EMEA (europeu), ANVISA. Sobre o uso de medicamentos manipulados (como é o caso deste implante), a Sociedade Internacional de Menopausa (IMS), deste modo, posicionou-se em 2016: 

“A prescrição de terapia hormonal manipulada não é recomendada devido à falta de controle de qualidade e supervisão regulatória associada a esses produtos, juntamente com a falta de evidência de segurança e eficácia.

As mulheres que solicitam terapia hormonal manipulada devem ser encorajadas a considerar produtos regulados contendo hormônios estruturalmente idênticos aos produzidos no corpo. Estes estão disponíveis em uma ampla gama de doses e vias de administração”.

A Sociedade Americana de Menopausa (NAMS), no ano de 2017, emitiu, em sua última declaração sobre medicamentos manipulados, o que segue:

“Terapias hormonais manipuladas são preparadas por um farmacêutico usando a prescrição de um provedor e podem combinar múltiplos hormônios (estradiol, estrona, estriol, de-hidroepiandrosterona [DHEA], testosterona, progesterona), usar combinações ou formulações não testadas e não aprovadas, ou serem administradas em vias de administração não padronizadas (não testadas), como implantes subdérmicos”.

 Esse é o caso do implante da gestrinona, como segue:

"O hormônio manipulado apresenta problemas de segurança, como regulamentação e monitoramento governamentais mínimos, superdosagem ou subdosagem, presença de impurezas ou falta de esterilidade, falta de eficácia científica e dados de segurança, e falta de um rótulo descrevendo os riscos!".

Também, em 2017, a Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana) publicou seu posicionamento em atinência aos hormônios manipulados:

“A Endocrine Society está preocupada com o fato de os pacientes estarem recebendo informações potencialmente enganosas ou falsas sobre os benefícios e riscos dos hormônios manipulados. Portanto, a Sociedade apoia a regulamentação e supervisão da FDA de todos os hormônios, independentemente da estrutura química ou do método de fabricação. Isso deve incluir, mas não se limitar:

  • Pesquisas de pureza e precisão de dosagem.
  • Notificação obrigatória por fabricantes de medicamentos de eventos adversos.
  • Um registro de eventos adversos relacionados ao uso de preparações hormonais.
  • Inclusão de informações uniformes para os pacientes, como advertências e precauções, no acondicionamento de produtos hormonais”.

Dessa maneira, o implante de gestrinona não é uma opção recomendada pela Comissão Nacional Especializada de Climatério da Febrasgo por não obedecer a padronização de medicamentos hormonais comercializados no Brasil, por não ter aprovação pela ANVISA e, ainda, por não haver publicações de dados referentes à sua eficácia e segurança na literatura científica médica. 

Referências

  1. Baber RJ, Panay N, Fenton the IMS Writing Group. 2016 IMS Recommendations on women’s midlife health and menopause hormone therapy,Climacteric2016;19(2):109-50,DOI:3109/13697137.2015.1129166
  2. The 2017 hormone therapy position statement of The North American
  3. Menopause Society Menopause: The Journal of The North American Menopause Society 2017; 24(7):728-53DOI: 10.1097/GME.0000000000000921 ß 2017 by The North American Menopause Society
  4. Huntley AL. Compounded or confused? Bioidentical hormones and menopausal health. Menopause Int. 2011;17:16-18.
  5. Bhavnani BR, Stanczyk FZ. Misconception and concerns about bioidentical hormones used for custom-compounded hormone therapy. J Clin Endocrinol Metab 2012;97:756-9.
  6. Endocrine Society – Position Statement, 2017. Available https://www.endocrine.org/-/media/endosociety/files/advocacy-and-outreach/position-statements/2017/position_statement_compound_bioidentical_hormone_therapy.pdf?la=en


Pós-graduação não confere título de especialistas