domingo, 7 de novembro de 2021

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia publica posicionamento CONTRA os implantes hormonais de gestrinona



Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre o uso (e abuso) de implantes de gestrinona no Brasil.

Gestrinona é um hormônio esteroide progestágeno sintético derivado da 19- nortestosterona que possui propriedades androgênicas, antiestrogênicas e antiprogestogênica. Outra ação dela é inibir a liberação de gonadotrofinas pela hipófise.1


A gestrinona começou a ser estudada para tratamento da endometriose por via oral no final dos anos 70. O registro da gestrinona via oral para essa finalidade na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) foi feito em 1996 (Registro ANVISA nº 1112402040010 - GESTRINONA). Entretanto, não existem estudos de segurança e eficácia da gestrinona para tratamento de endometriose por uso parenteral, particularmente, por meio de implantes.1,2


A gestrinona também é um hormônio com ações anabolizantes e, por isso, está na lista de substâncias proibidas no esporte da World Anti-Doping Agency (WADA). Por seus possíveis efeitos androgênicos (como diminuição de massa gorda, aumento de massa muscular, aumento de libido), a gestrinona têm sido usada erroneamente por mulheres na busca de melhora da performance física e estética. Como atualmente não existe produção de gestrinona oral pela indústria farmacêutica no Brasil, o uso abusivo de gestrinona tem sido feito por meio de implantes hormonais (isolada ou associada a outros hormônios).3

Medicamentos contendo substâncias anabolizantes são sujeitos ao controle especial no Brasil. Atualmente existem 28 fármacos que compõem a Lista C5 da Portaria SVS/MS nº 344/1998. A dispensação em farmácias requer Receita de Controle Especial (RCE) em duas vias. E diferente de outras prescrições, essa receita médica deve conter o CPF do prescritor e o CID da doença do paciente. Entretanto, apesar do efeito anabolizante da gestrinona ser reconhecido internacionalmente (lista proibida da WADA), ela não está na atual Lista C5 de anabolizantes da ANVISA.3,4

Vale a pena ressaltar que a indicação de uso de derivados androgênicos em mulheres (incluindo a testosterona) é restrita a poucas situações, como o transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) em mulheres na pós-menopausa. Não existe indicação médica formal de uso de testosterona e outros derivados androgênicos (incluindo a gestrinona) para mulheres na pré-menopausa com TDSH.5,6

No Brasil, a utilização de implantes hormonais utilizando esteroides sexuais e seus derivados aumenta de forma avassaladora. Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem e de subdosagem. Os relatos de efeitos adversos associados ao uso de implantes de gestrinona e outros hormônios androgênicos em mulheres aumentam a cada dia: acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz, clitoromegalia. Outro ponto importante é a falta de rótulo e de bula completa destes implantes, deixando a paciente sem as devidas informações básicas sobre indicações aprovadas pela agência regulatória, posologia, interações medicamentosas, estudos de segurança e eficácia e efeitos adversos. 

O Bulário Eletrônico da ANVISA tem como objetivo facilitar o acesso rápido e gratuito pela população e profissional de saúde às bases de dados das bulas de medicamentos. Nesse momento, a gestrinona não se encontra no bulário eletrônico da agência.7,8

Recentemente, pesquisadores norte-americanos demonstraram que mulheres que utilizavam implantes hormonais tiveram uma incidência significativamente maior de efeitos colaterais do que aquelas que utilizavam hormônios aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA) e comercializados nas farmácias alopáticas, bem como apresentaram níveis supra fisiológicos significativamente mais altos de estradiol e testosterona durante o tratamento. É mais uma prova cabal dos riscos do uso de implantes hormonais customizáveis e da busca do seu efeito anabolizante.9

Implante de gestrinona não é uma opção terapêutica reconhecida e recomendada pela Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana), pela North American Menopause Society (Sociedade Americana de Menopausa – NAMS) e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). A justificativa é por não estar de acordo com a padronização de medicamentos hormonais, por não ter aprovação de uso pelas diferentes agências regulatórias em diversos países e, principalmente, por não existirem evidências científicas de qualidade referentes à eficácia e segurança dos implantes de gestrinona.10-14

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) vem a público informar que também não reconhece os implantes de gestrinona como uma opção terapêutica para tratamento de endometriose, rechaça veementemente o seu uso como anabolizante para fins estéticos e de aumento de desempenho físico, e conclama as autoridades regulatórias para incluir a gestrinona na lista C5 e aumentar a fiscalização do uso inadequado destes implantes hormonais no nosso país. 

Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2021.

CÉSAR LUIZ BOGUSZEWSKI - Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) -

ALEXANDRE HOHL - Presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (DEFAT- SBEM) -

Referências:

1. Fu J, Song H, Zhou M, Zhu H, Wang Y, Chen H, Huang W. Progesterone receptor modulators for
endometriosis. Cochrane Database Syst Rev. 2017 Jul 25;7(7):CD009881.

2. Registro ANVISA nº 1112402040010 – GESTRINONA. Disponível em:

3. Código Mundial Antidoping – Padrão Internacional. Lista Proibida, Janeiro 2020. Disponível em:

4. Lista C5 da Portaria SVS/MS nº 344/1998. Atualizada na RDC n° 188, de 13/11/2017. Disponível em:
5. Weiss RV, Hohl A, Athayde A, Pardini D, Gomes L, Oliveira M, Meirelles R, Clapauch R, Spritzer PM. Testosterone therapy for women with low sexual desire: a position statement from the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism.Arch Endocrinol Metab. 2019 Jul 18;63(3):190-198.

6. Davis SR, Baber R, Panay N, et al. Global Consensus Position Statement on the Use of Testosterone
Therapy for Women. J Clin Endocrinol Metab 2019;104:4660-4666.

7. Santoro N, Braunstein GD, Butts CL, et al. Compounded Bioidentical Hormones in Endocrinology Practice: An Endocrine Society Scientific Statement. J Clin Endocrinol Metab 2016; 101:1318-1343.

8. Bulário Eletrônico da ANVISA. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/sistemas/bularioeletronico

9. Jiang X, Bossert A, Parthasarathy KN, Leaman K, Minassian SS, Schnatz PF, Woodland MB. Safety
assessment of compounded non-FDA-approved hormonal therapy versus FDA-approved hormonal therapy in treating postmenopausal women.Menopause. 2021 May 10;28(8):867-874

10. An Endocrine Society Position Statement, 2019. Disponível em:

11. The 2017 hormone therapy position statement of The North American Menopause Society. Disponível em: https://www.menopause.org/docs/default-source/2017/nams-2017-hormone-therapy-positionstatement.pdf

12. FDA Statement on improving adverse event reporting of compounded drugs to protect patients.

13. Comissão Nacional Especializada de Climatério da FEBRASGO. Disponível em:

14. Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da FEBRASGO. Disponível em:


sábado, 6 de novembro de 2021

Mudanças na distribuição regional de gordura na menopausa - Mais do que aquilo que os olhos veem

Sabe-se que as alterações na distribuição de gordura relacionadas à menopausa aumentam o risco de eventos cardiometabólicos em mulheres. Greendale e colegas objetivaram esclarecer as mudanças na distribuição regional da gordura relacionadas à distribuição da gordura visceral, ginóide e andróide associada à menopausa em mulheres. Seu estudo, publicado no The Journal of Clinical Endocrinology, acompanhou 380 participantes do Estudo da Saúde da Mulher na Nação (SWAN) por 12 anos para compreender as mudanças na distribuição de gordura durante a pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa.

O estudo de Greendale encontrou diferenças étnicas na distribuição da gordura visceral, ginóide e andróide em mulheres brancas, negras e japonesas. A gordura visceral (que está associada ao aumento do risco cardiometabólico) aumentou em mulheres brancas e japonesas após a menopausa. Por outro lado, as mulheres negras tendem a apresentar uma diminuição da gordura visceral pós-menopausa, apesar do aumento da gordura corporal total em comparação com outros grupos étnicos. Isso sugere que a porcentagem de gordura visceral, em vez da gordura visceral total, pode ser um indicador mais importante da saúde cardiometabólica, e um mergulho mais profundo na avaliação da gordura visceral pode ser mais importante do que apenas a medição da gordura corporal total. Além disso, embora a gordura corporal total fosse menor nas mulheres japonesas, o aumento da gordura visceral pós-menopausa provavelmente as coloca em risco cardiometabólico aumentado após a menopausa.

A razão da circunferência cintura-quadril (RCQ), que tem sido usada há muito tempo como um marcador de obesidade central e, portanto, aumento da gordura visceral e aumento do risco cardiometabólico, não foi significativamente diferente nos diferentes grupos e ao longo do tempo neste estudo. Na verdade, as diferenças nos resultados relacionados à RCQ observados anteriormente podem ser apenas um substituto para o aumento da gordura visceral e diminuição da distribuição da gordura ginóide observada na menopausa.

No cenário clínico, este estudo explica alguns dos fatores que afetam os riscos cardiometabólicos pós-menopausa, explicando as alterações na distribuição regional da gordura, especificamente no que se refere à gordura visceral. Além disso, uma avaliação da distribuição da gordura visceral e do percentual de gordura visceral, em vez da gordura corporal total, é importante na avaliação dos riscos cardiometabólicos, especialmente em mulheres de aparência magra de descendência asiática. O conhecimento das diferenças étnicas na distribuição regional de gordura em todo o espectro de tempo da pré-menopausa à pós-menopausa é importante para direcionar as intervenções que podem reduzir esses riscos em mulheres na menopausa de diferentes origens étnicas.

As limitações do estudo incluem a falta de mulheres hispânicas e de outras etnias asiáticas devido à falta de dados disponíveis sobre esses grupos. O estudo também excluiu mulheres em terapia hormonal durante e após a menopausa. No futuro, determinar as mudanças na distribuição regional de gordura impactadas pela terapia hormonal e a diferença no risco cardiometabólico ampliaria o conhecimento na área de saúde da mulher relacionada à menopausa.

“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

O controle fisiológico da alimentação: sinais, neurônios e redes

Resumo

Durante os últimos 30 anos, a investigação da fisiologia dos comportamentos alimentares gerou uma literatura verdadeiramente vasta.  

Isso é alimentado em parte por um aumento dramático da obesidade e de suas comorbidades, que coincidiu com uma sofisticação cada vez maior das manipulações de base genética.  

Essas técnicas produziram resultados com um nível notável de especificidade celular - particularmente no nível de sinalização celular - e desempenharam um papel importante no avanço do campo. No entanto, colocar essas descobertas em um contexto amplo do cérebro que conecta sinais fisiológicos e neurônios ao comportamento e à fisiologia somática requer uma consideração completa das conexões neuronais;  um campo que também passou por uma revolução tecnológica extraordinária. Nosso objetivo é apresentar uma avaliação abrangente e equilibrada de como os sinais fisiológicos associados à homeostase energética interagem em vários níveis cerebrais para controlar os comportamentos alimentares. Um tema importante é que esses sinais envolvem conjuntos de redes neurais em interação por todo o cérebro, que são definidas por conexões neurais específicas. Começamos discutindo alguns conceitos fundamentais - incluindo aqueles que ainda geram um debate vigoroso - que fornecem as estruturas necessárias para a compreensão de como o cérebro controla o início e o término das refeições. Isso inclui: definições de palavras-chave, disponibilidade de ATP como a variável regulada central na homeostase energética, sinalização de neuropeptídeos, alimentação homeostática e hedônica e estrutura da refeição. Dentro deste contexto, discutimos modelos de rede de como as principais regiões do endencéfalo (ou telencéfalo), hipotálamo, rombencéfalo, medula, nervo vago e medula espinhal trabalham em conjunto com o trato gastrointestinal para permitir os eventos motores complexos que permitem aos animais comer em  diversas situações.

Caixa de chamada para médicos

O modo como os comportamentos alimentares são controlados por sistemas fisiológicos está no cerne da compreensão das etiologias das doenças metabólicas. Esta revisão aborda a maneira como os sinais fisiológicos do trato gastroinstestinal, tecido adiposo, pâncreas etc. envolvem conjuntos de redes neurais em interação localizadas por todo o cérebro para permitir os eventos motores complexos que levam os animais a comer. Uma compreensão mais profunda de como o cérebro é organizado para controlar os comportamentos alimentares em uma variedade de situações diversas deve ajudar a orientar futuras investigações sobre as condições em que a alimentação aberrante leva à doença.

“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Relatório da ONU sobre poluição plástica confirma necessidade de ação global urgente

Uma redução drástica do plástico desnecessário, evitável e problemático é crucial para enfrentar a crise global de poluição, de acordo com uma análise abrangente divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Acelerar a transição para energias renováveis, eliminar subsídios e adotar abordagens circulares ajudará a reduzir os resíduos plásticos na escala necessária, de acordo com o relatório Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica (From Pollution to Solution: A Global Assessment of Marine Litter and Plastic Pollution). 

O relatório mostra que a poluição plástica é uma ameaça crescente em todos os ecossistemas, de onde a poluição se origina até o mar. Mostra também que, embora tenhamos o conhecimento, precisamos da vontade política e da ação urgente dos governos para enfrentar esta crise crescente. 

O relatório alimentará as discussões na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA 5.2) em março de 2022, quando os países se reunirão para decidir o caminho a seguir para a cooperação global sobre esta questão.

O estudo destaca que a poluição plástica nos ecossistemas aquáticos cresceu consideravelmente nos últimos anos e deve dobrar até 2030, com consequências terríveis para a saúde, a economia, a biodiversidade e o clima. 

A análise, divulgada dez dias antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), enfatiza que o plástico também é um problema climático. Usando uma análise de ciclo de vida, estimou-se que em 2015 os plásticos estavam ligados à produção de 1,7 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e), e em 2050 este número deverá aumentar para aproximadamente 6,5 GtCO2e – 15% do orçamento global de carbono.

Os autores rejeitam a possibilidade de reciclagem como uma saída para esta crise e alertam para alternativas nocivas aos produtos de uso único, tais como plásticos de base biológica ou biodegradáveis, que atualmente representam uma ameaça química semelhante aos plásticos convencionais.

O relatório analisa falhas críticas do mercado, tais como preços baixos de matérias-primas fósseis virgens versus materiais reciclados; esforços mal articulados no gerenciamento formal e informal de resíduos plásticos; e a falta de consenso sobre soluções globais.

“Esta pesquisa fornece o argumento científico mais forte até hoje para responder à urgência, agir coletivamente e proteger e restaurar nossos oceanos e todos os ecossistemas afetados pela poluição em seu curso”, disse Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA.

“Uma grande preocupação é o destino dos microplásticos, aditivos químicos e outros produtos fragmentados, muitos dos quais são conhecidos por serem tóxicos e perigosos para a saúde humana, a vida selvagem e os ecossistemas. A velocidade com que a poluição oceânica está captando a atenção do público é encorajadora e é vital que aproveitemos este impulso para alcançar um oceano limpo, saudável e resiliente”, acrescentou Andersen.

O relatório destaca que o plástico representa 85% dos resíduos que chegam aos oceanos e adverte que até 2040, os volumes de plástico que fluem para o mar quase triplicarão, com uma quantidade anual entre 23 e 37 milhões de toneladas. Isto significa cerca de 50 kg de plástico por metro de costa em todo o mundo.

Como resultado, todas as espécies marinhas, desde plâncton e moluscos até aves, tartarugas e mamíferos, enfrentam riscos de envenenamento, distúrbios comportamentais, fome e asfixia. Corais, mangues e ervas marinhas também são sufocados por detritos plásticos que os impedem de receber oxigênio e luz.

O corpo humano também é vulnerável à contaminação por resíduos plásticos em fontes de água, que podem causar alterações hormonais, distúrbios de desenvolvimento, anormalidades reprodutivas e câncer. Os plásticos são ingeridos através de frutos do mar, bebidas e até mesmo sal comum, mas também penetram na pele e podem ser inalados quando suspensos no ar.

O lixo marinho e a poluição plástica também afetam a economia global. Os custos da poluição plástica no turismo, pesca, aquicultura e outras atividades, como a limpeza, foram estimados em US$ 6-19 bilhões em 2018. E projeta-se que até 2040 poderá haver um risco financeiro anual de US$ 100 bilhões para as empresas se os governos exigirem que elas cubram os custos da gestão de resíduos nos volumes previstos. 

Um aumento nos resíduos plásticos também pode levar a um aumento do descarte ilegal de resíduos a nível nacional e internacional.     

O relatório pede a redução imediata dos plásticos, incentiva a transformação de toda a cadeia de valor envolvida e indica que há necessidade de reforçar os investimentos em sistemas de monitoramento muito mais abrangentes e eficazes para identificar a origem, escala e destino do plástico, bem como o desenvolvimento de uma estrutura de risco, que atualmente não existe globalmente.

O estudo conclui que é necessária uma mudança para abordagens circulares, incluindo práticas de consumo e produção sustentáveis, o desenvolvimento e adoção rápida de alternativas pelas empresas, e uma maior conscientização do consumidor para encorajar escolhas mais responsáveis

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

8 exercícios para corredores fortalecerem os músculos do core

A estabilização é uma das chaves para a boa mobilidade física. E o fortalecimento dos músculos do core está entre práticas essenciais para alcançar esse objetivo. A região inclui abdômen, quadris e região pélvica – e é responsável pelo equilíbrio e pela adequação postural do tronco em qualquer movimento.

Como um centro de força, o core é um conjunto de estruturas que mantém a estabilidade e a flexibilidade da coluna lombar. Os músculos do core são ativados pelo sistema nervoso central e começam a trabalhar antes mesmo de o movimento se iniciar.

Quando fortalecidos e acionados adequadamente, eles dão suporte a diversas estruturas – como quadris, coluna, joelhos e tornozelos –, evitando o estresse nessas regiões. Diretamente ligado à distribuição do impacto, o core propicia um movimento mais controlado, seguro e econômico por parte do atleta.

Leia mais: baixe agora o e-book “Treinamento funcional: fáscia e relações biomecânicas entre cadeias musculares”

O treinamento desses músculos, assim, deve envolver todo o corpo – com exercícios dinâmicos que repliquem os deslocamentos da corrida.

Ainda que estabilização e mobilidade devam ser estudadas separadamente, o treinamento dos músculos do core fica completo quando as duas valências são trabalhadas juntas, pois elas são interdependentes.

Fortalecendo os músculos do core

Nesse sentido, preparamos uma lista de oito exercícios para fortalecimento do core. Confira:

1. Abdominal na barra
Indicado para pessoas que já tenham um bom nível de treinamento, pois uma força muscular insuficiente pode impedir a execução correta do exercício. O trabalho, aqui, fica mais concentrado na porção inferior do abdômen.

Ao levantar-se as pernas até a posição horizontal, os músculos anteriores do quadril acabam trabalhando mais do que os abdominais, que participam na elevação das pernas acima da linha do horizonte e dependem desse erguimento simultâneo do quadril.

O exercício é interessante para os corredores porque auxilia nos movimentos dos músculos das coxas.

2. Prancha abdominal
Fundamental para o trabalho dos músculos do core, a prancha é um exercício estático que trabalha principalmente os abdominais, em especial o reto abdominal e seus sinergistas.

Altamente funcional, a prancha abdominal usa da ação da gravidade na carga do exercício, acompanhando o nível de treinamento e fase de periodização para aumento do tempo de execução e redução do tempo de descanso.

3. Ponte (elevação pélvica)
A elevação pélvica é um movimento bastante usado nos treino de glúteos, estrutura que também faz parte do core. Eles ajudam na estabilização dos movimentos e na manutenção da postura adequada.

O exercício também foca nos músculos paravertebrais, de vital importância para o fortalecimento do core. Ele pode ser feito tanto de maneira dinâmica quanto estática. No movimento estático, entretanto, a ênfase maior será nos músculos lombares.

Também é possível executar o movimento com apenas um pé apoiado no solo, aumentando a necessidade de estabilização, ou com um bosu, criando maior instabilidade.

4. Rotação lateral na polia
A rotação lateral na polia tem como principal foco o desenvolvimento dos músculos abdominais laterais. Conhecidos como oblíquos, eles são fundamentais para a manutenção adequada da postura durante a corrida.

O exercício permite trabalhar com uma ampla variedade de cargas, adaptadas às necessidades do praticante.

Aos corredores, vale a regra: maior carga se o mesociclo de corrida estiver trabalhando com força, e menor carga e mais repetições se o trabalho for com resistência.

A rotação lateral na polia, porém, não é indicada para pessoas com problemas da coluna, como hérnia de disco.

5. Abdominal com rotação na polia alta
O trabalho nos músculos oblíquos e no reto abdominal é o principal foco desse exercício – altamente funcional para qualquer corredor. Aqui, como na rotação lateral na polia, é possível controlar a carga para usá-la de maneira específica em cada fase do treinamento.

6. Abdominal no banco declinado
Esse exercício aumenta a exigência de estabilização e força dos músculos do core, uma vez que, na porção final do movimento, não há apoio para o dorso. Assim, a prática é indicada para pessoas com bom controle muscular e que precisam fortalecer ainda mais a região central do tronco.

7. Flexão lombar no solo
Nos treinos para os músculos do core, os exercícios voltados aos músculos lombares são obrigatórios. A flexão lombar, por exemplo, trabalha tanto a coluna lombar quanto o tronco e as pernas.

A prática pode ser feita de maneira dinâmica, com movimentos contínuos, ou, dependendo do objetivo, o aluno pode ir até o ponto final da extensão e manter esta posição por um determinado tempo.

8. Abdominal remador
O abdominal remador trabalha as porções superior e inferior do abdômen de maneira direta. Por isso, é um movimento muito recomendado nos treinos de core. Multiarticular, o exercício desenvolve resistência muscular localizada.

sábado, 30 de outubro de 2021

O meu nutricionista

Eu brinco que todo Nutrólogo se quiser ter paz na vida precisa ter um Nutricionista para chamar de seu. Afirmo sem pestanejar: Ter um nutricionista ao meu lado foi o maior investimento que fiz em toda a minha vida profissional. Uma via de mão dupla, um auxilia o outro, a dar o seu melhor em prol do paciente. 

Exagero? Não !

Por volta de 2010 quando comecei a atender na parte de Nutrologia (diga-se de passagem sem ainda ser Nutrólogo e isso não é crime ou infração ética), iniciei meus atendimentos tendo que montar a dieta dos pacientes. Ficava 2 horas com o paciente no consultório, era muito cansativo não só para mim mas para o paciente. Ficava quase 1 hora fazendo cálculos diante do paciente (nunca me adaptei a nenhum software de cálculo dietético), tudo no manual. Um inferno ! Eu não ganhava nenhum centavo a mais por isso, na verdade perdia pacientes pois não conseguia atender mais que 5 por dia. Nunca achei correto o profissional montar a dieta longe do paciente. Dieta pra mim sempre foi: cara a cara e item por item negociado, pra depois o paciente não falar: "Mas isso eu não como !"

Em 2009 tinha conhecido a Carol Morais (uma nutricionista daqui de Goiânia) pelo Twitter. Acabamos nos tornando amigos e em 2010 após mudar 2 vezes de consultório em 6 meses, ela me convidou pra montar uma clínica. Criamos então a Clínica de Ecologia Médica e Nutricional. 

Carol fazia a parte da prescrição de dieta e eu a parte médica e de suplementação quando necessária. Assim foi por quase 2 anos. Dividir tarefas facilita muito nosso trabalho, principalmente quando o outro fala a mesma língua. A mesma coisa fiz em Brasília, quando comecei a atender na Clínica de Ecologia Médica do Dr. Edison Saraiva. Chamei a Isis Moreira (recém-formada) para trabalhar conosco e minha vida facilitou muito. 

Final de 2012 a Carol resolveu largar o consultório e aí sobrou pra mim. Eu precisaria arrumar um outro nutricionista ou teria que montar a dieta dos meus pacientes, algo infernal na minha concepção naquele momento. Tinha 4 empregos e ainda teria que montar a dieta. 

Então de 2013 a 2017 "paguei todos os meus pecados". Tentava parceria com vários Nutricionistas mas a maioria não se enquadrava no modo que eu gostava de trabalhar. Trabalhei em parceria com nove ao todo. Porém, vários pacientes queriam que eu montasse o plano e então meu martírio persistia. Piorou quando tirei o título no começo de 2018, pois as pessoas marcavam a consulta já tendo a certeza que o Dr. Frederico Lobo, médico Nutrólogo prescreveria uma dieta. 
 
A gota d'agua foi um dia que fiquei 3 horas com um paciente portadora de gota e terminei a dieta as 23:00. Quando olhei no relógio me deu um desespero, uma revolta e decidi que não montaria mais dieta. Nem que para isso eu precisasse pagar um nutricionista pra trabalhar comigo. Lembro como se fosse hoje, era uma sexta-feira, eu saindo da clínica quase meia noite, com fome, cansado, indignado, revoltado e com a sensação de estar em um beco sem saída. Chegando em casa tomei banho e pedi a Deus uma luz.

A luz veio através de uma discussão via instagram. De repente um acadêmico de nutrição ignorante começou a questionar as indicações de quando se procurar um Nutrólogo. Então, no meio da discussão apareceu um nutricionista recém-formado condenando o posicionamento do acadêmico. Era o Rodrigo Lamonier, meu nutricionista. 



Tive um insight, comecei a conversar com ele. Perguntei onde ele tinha feito Nutrição. Perguntei para 2 colegas professores da Faculdade de Nutrição da UFG. Então, Rodrigo foi fortemente recomendado. "Menino estudioso e de garra, pode chamar pra trabalhar contigo". 

Fiz a proposta pro Rodrigo. Expliquei que não queria mais montar a dieta. Que iria treiná-lo por 6 meses. Pagaria vários cursos, investiria pesado nele. Estava cansado de sair tarde do consultório. 

Por 3 meses ele me acompanhou no consultório, consultas e retornos. Quando vi que ele estava minimamente pronto para atender, soltei-o. Hoje ele atende praticamente todos os meus pacientes. 

O melhor investimento que fiz. Ganhei um afilhado, amigo, irmão, parceiro de profissão. Brinco que o "Rodriguinho" é meu braço direito e esquerdo. 

Resultado: agradeço a Deus pela luz rs. Rodrigo é luz na minha vida. Fez jus a tudo que fiz por ele. Brinco que ele me saiu melhor que a encomenda. Virou um estouro. Um dos meus maiores orgulhosos. Na minha opinião um dos melhores nutricionista do centro-oeste. Não é a toa que tornou-se o nutricionista de inúmeros amigos médicos e também parceiro desses profissionais. 

Acolhe todos de forma invejável, respeitoso, estudioso, habilidoso, curioso e tecnicamente EXCELENTE. Nesse meio tempo ele concluiu a graduação de Educação Física, fez uma pós-graduação de Nutrição Clínica na UFG e de Nutrição Esportiva. Já está pensando em outras pós-graduações, mestrado, doutorado, prova de título. Meu garoto pensa alto.

Nos próximos anos mudarei para Florianópolis/Joinville, ficarei em Goiânia e lá. Quem está treinando o futuro nutricionista (Márcio José de Souza) dos meus pacientes? Rodrigo obviamente. Não poderia existir professor melhor. 

Portanto, você leitor que atua na Nutrologia, faça um bom investimento, invista em um nutricionista para chamar de seu e você o nutrólogo dele. Pare de perder tempo executando algo (plano alimentar) que você não é o profissional mais habilitado para executar. Não há nada de errado em dividir funções e trabalhar em equipe. Quem ganha é o paciente. Nós médicos só existimos por conta dos pacientes. O paciente merece o melhor atendimento, a melhor conduta, o melhor acompanhamento, a melhor equipe. Ensino isso no e-book Tô na Nutro e agora?

Para conhecer mais o trabalho dele acesse: 
http://drrodrigolamonier.meucvm.com.br/

E para aqueles Nutricionistas que pensam que o Rodrigo irá "roubar' o seu paciente, temos a seguinte política: se o nutricionista me encaminhou o paciente, ele é do nutricionista. Eu e o Rodrigo apenas fazemos as recomendações (uma carta de recomendação que nós carimbamos) para o nutricionista de origem. A ética deve prevalecer sempre, por isso inúmeros colegas nutricionistas continuam me encaminhando pacientes.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Aquecimento global pode causar epidemia de doença renal crônica

A doença renal crônica, associada ao estresse provocado pelo calor, pode se tornar uma grande epidemia de saúde para milhões de trabalhadores em todo o mundo, se as temperaturas globais continuarem a aumentar nas próximas décadas.

Aula 04/11/21 com Dr. Thiago Hirose e Dr. Renato Zorzo

Mensalmente, nós no movimento Nutrologia Brasil organizamos aulas exclusivas para médicos, com temas relacionados à Nutrologia. Interessados no link basta me solicitem por direct no instagram




quarta-feira, 27 de outubro de 2021

[Conteúdo para Médicos] - COVID-19, Hiperglicemia e Diabetes de Início Recente

Resumo

Certas comorbidades crônicas, incluindo diabetes, são altamente prevalentes em pessoas com coronavírus 2019 (COVID-19) e estão associadas a um risco aumentado de COVID-19 grave e mortalidade. 

Elevações leves da glicose também são comuns em pacientes com COVID-19 e associadas a piores resultados, mesmo em pessoas sem diabetes. 

Vários estudos relataram recentemente diabetes de início recente associado à COVID-19. 

O fenômeno do diabetes de início recente após a admissão hospitalar tem sido observado anteriormente com outras infecções virais e doenças agudas. 

Os mecanismos precisos para o diabetes de início recente em pessoas com COVID-19 não são conhecidos, mas é provável que vários processos inter-relacionados complexos estejam envolvidos, incluindo diabetes não diagnosticado anteriormente, hiperglicemia de estresse, hiperglicemia induzida por esteróides e efeitos diretos ou indiretos da síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) na célula β. Há uma necessidade urgente de pesquisas para ajudar a orientar os caminhos de manejo desses pacientes. Tendo em vista o aumento da mortalidade em pessoas com diabetes de início recente, os protocolos hospitalares devem incluir esforços para reconhecer e gerenciar a hiperglicemia aguda, incluindo cetoacidose diabética, em pessoas admitidas no hospital. Não se sabe se o diabetes de início recente provavelmente permanecerá permanente, já que o acompanhamento a longo prazo desses pacientes é limitado. Estudos prospectivos do metabolismo no cenário da COVID-19 pós-aguda serão necessários para entender a etiologia, o prognóstico e as oportunidades de tratamento.

INTRODUÇÃO

A síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) que resulta na doença clínica coronavírus doença 2019 (COVID-19) foi relatada pela primeira vez em dezembro de 2019 Wuhan, China, e já ceifou mais de 2 milhões de vidas em todo o mundo.

Certas comorbidades crônicas, como hipertensão, doença cardiovascular, obesidade, diabetes e doença renal, são altamente prevalentes em pessoas com COVID-19.

Embora essas comorbidades não pareçam aumentar o risco de desenvolver COVID-19, elas estão associadas a um risco aumentado de um caso mais grave da doença, bem como de mortalidade.

HIPERGLICEMIA E DIABETES DE INÍCIO RECENTE ASSOCIADOS AO COVID-19

A hiperglicemia grave é comum em pacientes críticos, frequentemente vista como um marcador de gravidade da doença.

Vários estudos durante o curso da pandemia relataram que COVID-19 está associado à hiperglicemia em pessoas com e sem diabetes conhecido.

Um estudo de Wuhan de pacientes com COVID-19 hospitalizados, principalmente idosos, relatou que 21,6% tinham histórico de diabetes e, com base na primeira medição de glicose na admissão, 20,8% foram recentemente diagnosticados com diabetes (glicose de admissão em jejum >=7,0 mmol /  L e / ou HbA1c >=6,5%), e 28,4% foram diagnosticados com disglicemia (glicemia de jejum 5,6-6,9 mmol / L e / ou HbA1c 5,7- 6,4%).

Vários estudos relataram diabetes de início recente (que fenotipicamente poderia ser classificado como diabetes tipo 1 [DM1] ou diabetes tipo 2 [DM2]) como estando associado à presença de COVID-19 (Tabela 1).

Um estudo de Londres, Reino Unido, relatou 30 crianças com idades entre 23 meses e 16,8 anos com DM1 de início recente.

Destes, 70% apresentavam cetoacidose diabética (CAD), 52% com CAD grave e 15% com teste COVID-19 positivo.

Os autores concluíram que isso representou um aumento de 80% no DM1 de início recente durante a pandemia em comparação com os anos anteriores.

Além disso, também parece que a gravidade da apresentação de jovens com DM1 é aumentada.

Resultados conflitantes também foram relatados, no entanto, com dados de 216 centros de diabetes pediátricos na Alemanha, mostrando nenhum aumento no número de crianças diagnosticadas com DM1 durante os primeiros meses da pandemia.

No entanto, os mesmos centros relataram dados de 532 crianças e adolescentes com DM1 recém-diagnosticada e encontraram aumentos significativos na CAD e cetoacidose grave no diagnóstico durante o mesmo período.

Alguns estudos também observaram que a CAD e o estado hiperglicêmico hiperosmolar são incomumente comuns em pacientes com COVID-19 com diabetes conhecido.

Em um estudo chinês, 42 pacientes tinham COVID-19 e cetoacidose, e 27 não tinham diagnóstico prévio de diabetes.

Um estudo de Londres, Reino Unido, incluiu 35 pacientes com COVID-19 que apresentaram CAD (31,4%), CAD mista e estado hiperglicêmico hiperosmolar (HSS; 31,7%), HSS (5,7%) ou cetoacidose hiperglicêmica (25,7%).

No geral, 80% tiveram DM2.  Naqueles com DM2, a prevalência de CAD foi alta, indicando insulinopenia em pessoas com COVID-19.  

Além disso, 5,7% dos 35 pacientes com COVID-19 tinham diabetes diagnosticado de novo.

A CAD foi prolongada em pessoas com COVID-19 em comparação com relatos anteriores daqueles com DKA não – COVID-19 (35 h vs. 12 h), e eles tinham uma necessidade maior de insulina.

Outro estudo recente nos EUA com 5.029 pacientes (idade média de 47 anos) de 175 hospitais descobriu que os pacientes com COVID-19 tinham IMC mais alto, maior necessidade de insulina, tempo prolongado para resolução de CAD e mortalidade mais alta do que aqueles sem COVID-19.

Um estudo do Reino Unido relatou que as crianças apresentaram mais frequentemente com CAD do que durante o período pré-pandêmico (10% pré-pandêmico grave vs. 47% durante a primeira onda da pandemia) e tinham HbA1c mais alto (13% vs. 10,4%).

Vários estudos também relataram que o diabetes preexistente, bem como o diabetes recém-diagnosticado com uma primeira medição de glicose na admissão hospitalar, estão ambos associados a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas em pacientes hospitalizados com COVID-19.

Em uma revisão sistemática de 3.711 pacientes COVID-19 de 8 estudos (492 pacientes com diabetes de início recente), a prevalência combinada de diabetes de início recente foi de 14,4% (IC de 95% 5,9–25,8%) de um efeito aleatório  meta-análise.

De forma preocupante, o risco de mortalidade parece ser maior em pessoas com diabetes de início recente do que em pacientes com COVID-19 com diabetes conhecido.

Um estudo italiano com 271 pessoas admitidas com COVID-19, 20,7% das quais tinham diabetes preexistente, descobriu que a hiperglicemia estava independentemente associada à mortalidade (taxa de risco [HR] 1,80; IC 95% 1,03– 3,15).

O estudo também mostrou que pessoas com diabetes e hiperglicemia apresentavam piores perfis inflamatórios.

Em um estudo de Wuhan, China, os pacientes com diabetes recém-diagnosticado eram mais propensos a serem admitidos na unidade de terapia intensiva, requerem ventilação mecânica invasiva, têm uma alta prevalência de síndrome do desconforto respiratório agudo, lesão renal aguda ou choque, e têm as internações hospitalares mais longas.

O estudo também relatou dados que mostram que os níveis de glicose na admissão hospitalar em pessoas com diabetes recém-diagnosticada e naqueles com histórico de diabetes estavam ambos associados ao aumento do risco de mortalidade por todas as causas.

Pacientes com diabetes recém-diagnosticado tiveram uma mortalidade mais alta do que pacientes COVID-19 com diabetes conhecido, hiperglicemia (glicose de jejum 5,6-6,9 mmol / L e / ou HbA1c 5,7-6,4%) ou glicose normal (HR 9,42, IC 95% 2,18-40,7).

Este é um dos poucos estudos em que a HbA1c foi medida na admissão para determinar se o diabetes recém-diagnosticado estava presente em pacientes assintomáticos antes da admissão ou se aqueles que a desenvolveram o fizeram após a admissão.

TIPO DE DIABETES

Atualmente não está claro se o diabetes de início recente associado ao COVID-19 é do tipo 1, tipo 2 ou um subtipo complexo de diabetes.  

Embora no DM1 a deficiência de insulina seja geralmente o resultado de um processo autoimune, na infecção por SARS-CoV-2 pode ser devido à destruição das células b.  

Infelizmente, os estudos de anticorpos de células de ilhotas em pessoas com diabetes de início recente foram limitados a alguns relatos de caso.

Vários estudos relataram um alto número de incidentes de CAD em pessoas com e sem COVID-19, sugerindo um efeito direto da SARS-CoV-2 nas células B pancreáticas.  

Um estudo de pacientes hospitalizados com infecção por SARS-CoV-1 mostrou que a imunocoloração para a proteína da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) era forte em ilhotas pancreáticas, mas fraca em tecidos exócrinos.

No entanto, um estudo recente da Índia comparou diabetes de início recente em pacientes hospitalizados antes de COVID-19 com diabetes de início durante COVID-19 e encontrou parâmetros glicêmicos piores em diabetes de início recente durante COVID-19 e diabetes, mas nenhuma diferença nos sintomas, fenótipo ou níveis de peptídeo C.

MECANISMOS POTENCIAIS PARA DIABETES NOVOS

Os mecanismos precisos por trás do desenvolvimento de novos diagnósticos em pessoas com COVID-19 não são conhecidos, mas é provável que uma série de etiologias complexas e inter-relacionadas sejam responsáveis, incluindo deficiências no descarte de glicose e secreção de insulina, hiperglicemia de estresse, pré-admissão  diabetes e diabetes induzida por esteróides (Fig. 1).

Um artigo recente relatou um aumento no número de crianças admitidas em unidade de terapia intensiva pediátrica com DM1 de início recente com CAD grave e um aumento menor na incidência de DM1 de início recente.

No geral, 7/20 (35%) das crianças diagnosticadas em 2020 foram testadas para SAR-CoV-2, sendo todas negativas.

Os autores sugeriram que o aumento na incidência e na gravidade se deveu à apresentação alterada durante a pandemia, e não aos efeitos diretos do COVID-19.

Os dados atuais também sugerem uma relação bidirecional entre T2D e COVID-19 (24), mas não se sabe se existe uma relação bidirecional entre hiperglicemia e COVID-19 (fig. 2).

As seções a seguir fornecem discussões mais detalhadas de alguns dos mecanismos propostos para diabetes de início recente associado ao COVID-19.

• Diabetes pré-diagnosticado não diagnosticado

Uma razão para o diabetes de início recente é que esses pacientes podem ter tido diabetes não detectado antes da admissão, potencialmente como consequência do ganho de peso recente devido a mudanças no estilo de vida e piora da hiperglicemia principalmente devido ao auto-isolamento, distanciamento social, redução da atividade física e dietas pobres como resultado de problemas de saúde mental.

Por exemplo, uma pesquisa recente de 155 países mostrou que 53% dos indivíduos reduziram seu acesso preventivo e de nível de serviço para doenças não transmissíveis parcial ou totalmente.

Essas mudanças no estilo de vida podem levar à resistência à insulina, o que desencadeia ainda mais as vias inflamatórias, levando ao aparecimento de diabetes.

• Hiperglicemia de estresse e novo início de diabetes após doença aguda

O fenômeno da hiperglicemia e diabetes de início recente após admissão ao hospital com doença aguda não é novo e foi observado anteriormente durante o surto de SARS-CoV-1, onde diabetes de início recente sem uso de glicocorticoide na admissão também foi associado com aumento da mortalidade.

A hiperglicemia de estresse é um sinal de deficiência relativa de insulina, que está associada ao aumento da lipólise e aumento dos ácidos graxos livres circulantes vistos em doenças agudas, como infarto do miocárdio ou infecções graves.

Na COVID-19, a hiperglicemia de estresse pode ser ainda mais grave devido à tempestade de citocinas.

Estudos têm demonstrado que pacientes com diabetes recém-diagnosticado apresentam níveis mais elevados de marcadores inflamatórios, como proteína C reativa, velocidade de hemossedimentação e leucócitos.

A inflamação aguda observada na tempestade de citocinas pode piorar a resistência à insulina, com um estudo mostrando neutrófilos, dímeros-D e marcadores inflamatórios significativamente maiores naqueles com hiperglicemia do que naqueles com glicose normal.

Pessoas com obesidade também estão em risco de diabetes e desfechos graves relacionados ao COVID-19, com a adiposidade sendo um impulsionador do metabolismo da glicose prejudicado, respostas imunológicas e inflamação.

Estudos anteriores relataram hiperglicemia de estresse após várias condições agudas, incluindo infarto do miocárdio. No entanto, tem havido dificuldades na interpretação desses estudos devido às definições de variáveis ​​usadas para definir diabetes de início recente e hiperglicemia de estresse. Uma revisão sistemática de 15 estudos de pacientes admitidos com infarto do miocárdio sem diabetes com um nível de glicose na faixa de 6,1–8,2 mmol / L (110 a 148) foi associada a um risco 3,5 vezes (IC 95% 2,9–5,4) maior de morte do que aquele  para pacientes sem diabetes com menores concentrações de glicose.

Esta meta-análise também relatou que os valores de glicose na faixa de 8,0-10,0 mmol / L (144 a 180) na admissão foram associados a um risco aumentado de insuficiência cardíaca congestiva ou choque cardiogênico em pessoas sem diabetes e o risco de morte foi aumentado em 70% (risco relativo 1,7; IC 95% 1,2–2,4).

A hiperglicemia de estresse após o infarto do miocárdio também demonstrou estar associada a um risco aumentado de mortalidade intra-hospitalar em pacientes com e sem diabetes.

Outra revisão sistemática de 43 estudos, totalizando 536.476 pacientes, mostrou que a hiperglicemia de estresse estava associada ao aumento da mortalidade, admissão à unidade de terapia intensiva, tempo de internação hospitalar e ventilação mecânica.

Embora a hiperglicemia relacionada ao estresse em pacientes hospitalizados com doenças agudas ocorra em muitos ambientes, os dados relacionados ao diabetes de início recente devido ao SARS-CoV-2 parecem sugerir que a prevalência é desproporcional em comparação com os dados de populações admitidas com outras doenças agudas.

Vários estudos relataram hiperglicemia de estresse após doença aguda crítica;  entretanto, apenas alguns estudos acompanharam esses pacientes além da hospitalização para determinar se a hiperglicemia de estresse é transitória ou indicativa de início de diabetes.

Uma meta-análise de quatro estudos de coorte com 2.923 participantes incluiu 698 (23,9%) pessoas com hiperglicemia de estresse.

No acompanhamento mais de 3 meses após a alta hospitalar, 131 casos ou 18,8% das pessoas com hiperglicemia de estresse foram identificados com diabetes recém-diagnosticado, e a hiperglicemia de estresse foi associada a um aumento na incidência de diabetes (odds ratio [OR] 3,48; IC de 95% 2,02–5,98).

No entanto, três estudos definiram a hiperglicemia de estresse como glicose no sangue de >=7,8 mmol / L, (140 mg/dL) e um estudo de banco de dados a definiu como uma glicose de > 11,1 mmol / L. (200 mg/dL)

Além disso, o momento da medição da glicose não foi relatado em nenhum desses estudos.

• Infecções virais e diabetes de início recente

As infecções virais podem ter um efeito direto ou indireto no pâncreas.  

Estudos anteriores relataram inflamação aguda no pâncreas devido a outros vírus, como vírus da imunodeficiência humana, caxumba, sarampo, vírus do citomegalovírus, vírus do herpes simplex e vírus da hepatite.

Uma meta-análise de 24 estudos de caso-controle mostrou que a infecção por enterovírus foi significativamente associada à autoimunidade relacionada a DM1 (OR 3,7, IC de 95% 2,1–6,8) e DM1 clínico (OR 9,8, IC de 95% 5,5–17,4).

Outra meta-análise de 34 estudos mostrou que havia um risco significativamente aumentado de DM2 com infecção viral por hepatite C em comparação com indivíduos controle não infectados em ambos retrospectivos (OR 1,68, IC 95% 1,15-2,20) e prospectivos (OR 1,67, 95% CI 1,28-2,06) estudos.

O risco excessivo também foi observado em comparação com indivíduos controle infectados pelo vírus da hepatite B (OR 1,80, IC 95% 1,20-1,40).

Estudos com células de ilhotas humanas mostraram que os vírus cox-sackie B causam comprometimento funcional ou morte de células b.

A hiperglicemia aguda com infecção por coronavírus tem sido associada à ligação do coronavírus ao receptor ACE2 nas células das ilhotas pancreáticas.

Foi demonstrado que a expressão de ACE2 é maior no pâncreas do que nos pulmões e expressa tanto nas glândulas exócrinas quanto nas ilhotas do pâncreas, incluindo células b.

No entanto, a evidência para a expressão de ACE2 em células pancreáticas é conflitante, com estudos sugerindo a expressão de ACE2 em um subconjunto limitado de células b.

Dados de tecidos pancreáticos humanos identificaram a expressão de ACE2 no epitélio ductal pancreático e microvasculatura e concluíram que a infecção por SARS-CoV-2 de células endócrinas pancreáticas (incluindo células b) é improvável que seja um mecanismo central relacionado ao diabetes.

Alternativamente, as citocinas pró-inflamatórias e os reagentes de fase aguda devido ao COVID-19 podem causar diretamente inflamação e danos às células b pancreáticas.

Uma tempestade de citocinas em pessoas infectadas com SARS-CoV-2 é um estado patológico pró-trombótico altamente inflamatório que pode ter efeitos diretos e indiretos nas células B pancreáticas.

Um estudo de autópsia de três pacientes que morreram de COVID-19 na China relatou que elas tinham degeneração de ilhotas.

Um estudo de Wuhan com 121 pacientes com COVID-19 mostrou que mesmo os pacientes com COVID-19 leve tinham níveis aumentados de amilase e lipase (1,85%), embora pessoas com COVID-19 grave tivessem níveis muito mais altos (17%).

Alguns pacientes também apresentaram sintomas de pancreatite aguda.

Neste estudo, a tomografia computadorizada de pessoas com COVID-19 grave mostrou alterações no pâncreas que consistiam principalmente de aumento do pâncreas ou dilatação do ducto pancreático sem necrose aguda.

Um estudo recente de expressão de genes e proteínas em culturas de pâncreas humanas vivas e tecido pancreático post mortem de pacientes com COVID-19 observou que o SARS-CoV-2 pode infectar células pancreáticas e indicou que ilhotas endocrinas e células acinares e ductais exócrinas dentro do  o pâncreas permite a entrada do SAR-CoV-2.

Outro estudo relatou que o receptor SARS-CoV-2 e ACE2 e fatores de entrada relacionados são expressos nas células b pancreáticas, e em pacientes com COVID-19 eles infectam as células b, atenuam os níveis e secreção de insulina pancreática e induzem apoptose das células b.

• Hiperglicemia induzida por esteróides no hospital

A hiperglicemia induzida por esteróides é comum em pacientes hospitalizados. 

Estudos anteriores mostram que 53-70% dos indivíduos sem diabetes desenvolvem hiperglicemia induzida por esteróides.

Um estudo australiano com 80 pessoas hospitalizadas sem diabetes relatou que 70% dos indivíduos tiveram pelo menos uma medição de glicose no sangue de >=10 mmol / L (180 mg/dL). Uma meta-análise de 13 estudos mostrou que, no geral, 32,3% das pessoas desenvolveram hiperglicemia induzida por glicocorticóides e 18,6% desenvolveram diabetes.

O uso de esteróides, particularmente após a publicação do ensaio RECOVERY com o uso de dexametasona em pessoas admitidas no hospital com COVID-19, pode, portanto, também estar associado a um risco aumentado de desenvolver diabetes, o que, novamente, pode estar diretamente relacionado a anormalidades induzidas por esteróides com recuperação retardada ou embotada de dano celular.

GESTÃO DE PESSOAS COM DIABETES DE NOVO INÍCIO SEGUINDO COVID-19

Como os mecanismos precisos e a epidemiologia do diabetes de início recente relacionado ao COVID-19 não são conhecidos, é difícil orientar as vias de tratamento para esses pacientes.

No entanto, em vista do aumento da mortalidade em pessoas com diabetes de início recente e naquelas com glicose elevada na admissão, os protocolos do hospital devem incluir o manejo da hiperglicemia aguda.  

Também é imprescindível reconhecer o início do diabetes e controlar a CAD em pessoas internadas no hospital para melhorar os resultados.

Esses pacientes freqüentemente também requerem doses mais altas de insulina do que aqueles com doença aguda causada por outras condições ou CAD não-COVID-19.

Não se sabe se a admissão hospitalar para diabetes de início recente provavelmente permanecerá permanente, pois o acompanhamento de longo prazo desses pacientes é limitado.

Pessoas com hiperglicemia de estresse podem reverter para normoglicemia após a recuperação da doença aguda e, portanto, não podem ser classificadas como portadoras de diabetes ou necessitando de qualquer medicamento para baixar a glicose;  eles exigirão acompanhamento para determinar se o novo início de diabetes é de fato permanente.

Embora não haja dados sobre o acompanhamento de pessoas recém-diagnosticadas com diabetes relacionadas ao COVID-19, uma revisão sistemática de quatro estudos de coorte com acompanhamento de 3 meses relatou 18,8% com diabetes recém-diagnosticado naqueles que  foram diagnosticados com hiperglicemia intra-hospitalar.

No entanto, os estudos diferiram em suas definições de hiperglicemia de estresse, incluindo participantes e acompanhamento.

Em outro estudo prospectivo, 181 pacientes consecutivos admitidos com infecção miocárdica na Suécia com uma glicose de admissão de >=11,1 mmol / L (200 mg/dL) tiveram um teste de tolerância oral à glicose de 75 g 3 meses após a alta.

No geral, 35% e 40% dos pacientes, respectivamente, tinham tolerância à glicose diminuída na alta e 3 meses após a alta, e 31% e 25%, respectivamente, tinham novo início de diabetes.

Uma recente série de casos da Índia relatou que três indivíduos que tinham COVID-19 e desenvolveram diabetes de início agudo e CAD responderam inicialmente ao tratamento com fluido intravenoso e insulina.

Eles foram então transferidos para múltiplas doses de insulina subcutânea e, no acompanhamento de 4-6 semanas, todos tiveram a insulina interrompida e foram iniciados com agentes redutores de glicose orais.

Dois pacientes tiveram o anticorpo GAD medido e ambos foram negativos.

Embora o diabetes de início agudo recente com CAD em adultos normalmente indique DM1, esses dados de caso sugerem que esses pacientes tiveram uma insulinopenia transitória.

O diabetes persistente em pacientes com COVID-19 também pode estar relacionado a "COVID longo", também conhecido como síndrome pós-COVID-19 ou sequela pós-aguda de COVID-19 (PASC), definida como persistência dos sintomas além de 3 meses após a infecção.

Frequentemente afeta múltiplos sistemas de órgãos e estima-se que afete 10% dos pacientes com COVID-19.

O COVID longo é complexo devido a vários sintomas e fisiopatologia, mas pode ser devido a respostas imunológicas e inflamatórias observadas em muitas infecções virais agudas graves.

Os riscos de complicações cardiorrenais são altos em pessoas admitidas com COVID-19, e uma metanálise de 44 estudos mostrou que a prevalência de complicações cardiorrenais é alta em pessoas com COVID longo, com lesão cardíaca aguda ocorrendo em 15%,  tromboembolismo venoso em 15% e lesão renal aguda em 6%.

Como os fatores de risco para resultados ruins em pessoas com COVID-19 incluem obesidade, hiperglicemia e doenças cardiovasculares e renais, agentes redutores de glicose que melhoram a função metabólica sem ganho de peso seriam preferíveis para o manejo de longo prazo de pessoas após infecção aguda por COVID-19 e sintomas sustentados (ou seja, COVID longo).

As novas opções terapêuticas incluem inibidores do cotransportador 2 de sódio-glicose (SGLT2i) e agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1RAs), particularmente porque estudos de resultados cardiovasculares em pessoas com DM2 confirmaram benefícios sobre o peso, controle glicêmico e  eventos cardiovasculares, incluindo morte cardiovascular e resultados renais.

SGLT2i também demonstrou reduzir a hospitalização por insuficiência cardíaca e pode reduzir o risco de morte por causas não cardiovasculares.

No entanto, faltam dados para essas terapias no manejo de pacientes com COVID longo.

O estudo DARE-19 que investigou a segurança da dapagliflozina em pessoas internadas no hospital com COVID-19 foi relatado recentemente.

O estudo mostrou que os desfechos primários não foram alcançados, ou seja, aqueles para dapagliflozina, não preveniu disfunção orgânica (pulmonar, cardíaca ou renal) ou morte e não melhorou a recuperação clínica dentro de 30 dias após o início da medicação.

No entanto, a CAD foi repetida em dois pacientes com DM2 dos 625 pacientes no braço da dapagliflozina, com os eventos sendo não graves e resolvidos após a descontinuação da medicação do estudo.

Outros estudos terapêuticos estão em andamento com inibidores da dipeptidil peptidase 4, pioglitazona e o GLP-1RA semaglutida.

O acompanhamento de longo prazo de pacientes com COVID-19 e hiperglicemia será, portanto, necessário para determinar se eles ainda precisam de agentes redutores de glicose.

Um estudo recente da China relatou novo início de diabetes em 3,3% de 1.733 pessoas, 6 meses após a alta do hospital com COVID-19.

Outro estudo na Inglaterra com 47.780 pessoas que receberam alta hospitalar após admissão por COVID-19 mostrou 4,9% desenvolveram diabetes em um seguimento médio de 140 dias.

Outro estudo usando um banco de dados nacional de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA relatou uma carga maior de diabetes de início recente 6 meses após COVID-19.

No entanto, nenhum desses estudos relatou quaisquer detalhes adicionais sobre o diabetes de início recente, incluindo o tipo de diabetes.  

Hiperglicemia relacionada a COVID-19 e diabetes de início recente são descobertas novas e de grande interesse em todo o mundo.

No entanto, resta saber se a hiperglicemia associada ao COVID-19 está de fato associada a uma prevalência mais alta de diabetes de início recente após doença aguda e crônica.

O diagnóstico de diabetes deverá ser baseado em glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose 2 horas pós-teste ou HbA1c, conforme recomendado pelas diretrizes internacionais.

Estudos anteriores demonstraram que o início do diabetes está associado ao nível de hiperglicemia intra-hospitalar.  

Uma revisão sistemática de 18 estudos (111.078 pacientes) admitidos com doença aguda ou crônica relatou novo início de diabetes em 4% (IC 95% 2-7%), 12% (IC 95% 9-15%) e 28% (IC 95% 18–39%) dos pacientes com normoglicemia hospitalar, hiperglicemia leve e hiperglicemia grave, respectivamente.

Os estudos da meta-análise tiveram um seguimento médio de 3-60 meses, sem efeito significativo na incidência de diabetes.

Também será importante continuar a vigilância de longo prazo de pessoas com diabetes de início recente para garantir que seus fatores de risco sejam gerenciados e que alcancem um bom controle glicêmico, já que muitos também podem ter outros sintomas de COVID longo.

A hiperglicemia de estresse decorrente de doença crítica aguda também pode identificar pacientes que já apresentam alto risco de diabetes e, portanto, o diagnóstico precoce, as intervenções e o acompanhamento de longo prazo das complicações são essenciais para esses pacientes.

Resta saber se o rastreamento de todos após um diagnóstico de COVID-19 para diabetes e pré-diabetes identificaria um número significativo de pessoas ou se é custo-efetivo.

No entanto, pode haver um caso para isso, já que muitas diretrizes internacionais recomendam a triagem de populações de alto risco para diabetes e pré-diabetes e, se identificado, gerenciar pessoas com diabetes de acordo com as diretrizes internacionais ou intervenção no estilo de vida de pessoas com pré-diabetes.  

Em vista dos danos cardiovasculares e renais associados após o COVID-19, esses pacientes devem ter monitoramento regular dos fatores de risco cardiovascular e renal com vistas a um controle rígido dos fatores de risco.

Esses pacientes também podem se beneficiar de exames regulares para complicações microvasculares e macrovasculares.

RECOMENDAÇÕES DE PESQUISA FUTURA

O diabetes de início recente em relação ao COVID-19 é um fenômeno novo e oferece uma oportunidade de observar esses pacientes a longo prazo e realizar pesquisas que incluem abordagens epidemiológicas e intervencionistas.

Um grupo internacional de pesquisadores já estabeleceu um registro global de pacientes com diabetes relacionado ao COVID-19 de início recente, denominado Projeto CoviDIAB, e apresentará os resultados no futuro.

No entanto, outros programas internacionais de pesquisa colaborativa são urgentemente necessários para compreender a epidemiologia de doenças naturais do COVID-19.

As recomendações para estudos futuros devem incluir o seguinte:

• Estudos de coorte prospectivos multicêntricos acompanhando esses pacientes por vários anos para avaliar a trajetória de diabetes de início recente com COVID-19 e quantificar se os riscos de hiperglicemia relacionada à internação e diabetes de início de recente com COVID-19 são diferentes dos habituais  - início da diabetes.

• Investigação da fisiopatologia por meio de estudos transversais e prospectivos para avaliar a função das células B e a resistência à insulina em pessoas com COVID-19 relacionadas a diabetes de início recente.

 • Estudos experimentais de efeitos diretos de SARS-CoV-2 em células B pancreáticas e outros tipos de células de ilhotas.

• Avaliação dos marcadores inflamatórios para obter um entendimento completo do diabetes relacionado ao COVID-19 de início recente.

• Desenvolvimento e validação de métodos de rastreamento de diabetes em pessoas que desenvolveram hiperglicemia relacionada ao COVID-19.

• Modelagem de custo-efetividade da triagem direcionada de pessoas que seguem COVID-19.

• Avaliação de planos de gestão e modelos de atenção que possam ser adequados a este fenômeno.

• Determinação da prevalência e impacto do COVID longo em pessoas com diabetes de início recente.

• Comparações de resultados de longo prazo de pessoas com diabetes de início recente relacionado a COVID-19 com diabetes de início recente devido a outras doenças agudas (como outras infecções e infarto do miocárdio).

• Compreensão dos benefícios e da relação custo-eficácia do uso de diferentes opções terapêuticas, incluindo novas terapias como SGLT2i e GLP-1RAs.

CONCLUSÕES

Estudos publicados recentemente sugerem que COVID-19 está associado a diabetes de início recente; portanto, há potencial para identificar e gerenciar essas pessoas precocemente, com o objetivo de melhorar os resultados em longo prazo.

Se as concentrações elevadas de glicose (em uma faixa de não diabetes) ou diabetes de início recente é devido a respostas imunomediadas e inflamatórias, a efeito direto de SARS-CoV-2 nas células b, ou uma combinação complexa de mecanismos, não é conhecido.

A maioria dos estudos avaliou principalmente pacientes que foram hospitalizados com COVID-19 e não há dados ou há dados limitados sobre pacientes com doenças mais leves tratados na comunidade.

Também não há dados sobre os resultados de longo prazo de pessoas com diabetes e COVID-19 e seu risco de COVID longo.

O diabetes de início recente com infecção por SARS-CoV-2 também parece ser uma síndrome complexa associada a uma série de mecanismos fisiopatológicos e, uma vez que ainda estamos no meio de uma pandemia global de COVID-19, é provável que aumente ainda mais o número de pessoas em todo o mundo com novo início de diabetes.

Esforços internacionais precisam ser estabelecidos para estudar o diabetes de início recente associado a COVID-19 com acompanhamento de um grande número de pacientes.

“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde





terça-feira, 26 de outubro de 2021

O que os cientistas estão aprendendo sobre estrogênio e exercícios

Um estudo em ratos levanta questões intrigantes sobre as maneiras como os hormônios influenciam o cérebro e motivam o corpo a se mover.

O estrogênio pode alterar a atividade cerebral de maneiras que podem afetar a nossa atividade física, de acordo com um novo estudo notável em ratos que analisou DNA, hormônios e células cerebrais.  

Usando tecnologia avançada para localizar e reprogramar genes e neurônios específicos em animais vivos, o estudo descobriu que surtos de estrogênio desencadearam processos no cérebro de camundongos que levaram os animais - até mesmo os machos - a se tornarem mais ativos.

O estudo, que foi publicado recentemente na Nature, envolveu ratos. Embora os humanos compartilhem muitos dos mesmos hormônios, genes e neurônios relevantes, não somos ratos e ainda não podemos dizer se nossos cérebros e sistemas fisiológicos funcionam da mesma maneira. Mas as descobertas podem abrir caminhos intrigantes de investigação sobre por que as mulheres tantas vezes se tornam inativas após a menopausa, quando o estrogênio desaparece. Os resultados também destacam como o cérebro e os processos biológicos internos trabalham juntos para desempenhar um papel inesperado e substancial no fato de o corpo se levantar e se mover ou permanecer quase imóvel.

• Movendo-se e acasalando-se

Por quase um século, desde um famoso estudo de 1924 envolvendo ratos, os cientistas sabem que as fêmeas de mamíferos tendem a ser mais ativas fisicamente logo antes de ovular, quando também são mais receptivas sexualmente. Esse comportamento faz sentido evolucionário, uma vez que as fêmeas provavelmente precisam estar à caça de um parceiro. Nas décadas seguintes, os pesquisadores começaram a especular que o estrogênio deve desempenhar um papel impulsionador nesse comportamento, com estudos subsequentes indicando que as oscilações diárias das fêmeas de laboratório normalmente aumentariam e diminuiriam em conjunto com seus níveis de estrogênio.

Mas como o estrogênio, que controla principalmente a ovulação e outros aspectos da reprodução, pode influenciar a atividade física? Esse quebra-cabeça fisiológico recentemente chamou a atenção de Holly Ingraham, a Professora de Fisiologia da Universidade da Califórnia, San Francisco, que tem um interesse de pesquisa de longa data na fisiologia e metabolismo das mulheres. Ela e seus colaboradores se perguntavam se o estrogênio poderia de alguma forma moldar a atividade genética no cérebro, que então ativaria as células cerebrais de forma a colocar em movimento, digamos, o próprio movimento.

Para investigar essa possibilidade, os cientistas primeiro reuniram uma multidão de ratos fêmeas adultas saudáveis ​​e bloquearam quimicamente a absorção de estrogênio em alguns deles, enquanto rastreavam o quanto todos os animais se moviam. Quase imediatamente, os animais sem estrogênio tornaram-se visivelmente mais sedentários do que as outras fêmeas, confirmando que o estrogênio de alguma forma afeta a atividade física.

• Encontrando as células de movimento

Em seguida, os pesquisadores examinaram a atividade de uma série de genes nos cérebros dos animais, observando que um, em particular, bombeava com entusiasmo proteínas extras quando os cérebros dos animais eram banhados em estrogênio, mas ficava quase quieto quando o estrogênio estava ausente.  

Este gene, melanocortina-4, ou Mc4r, já havia sido associado em pessoas à ingestão de alimentos e à regulação do peso corporal. Mas os cientistas agora adivinharam que também pode ser a ponte entre o estrogênio e o impulso de ser fisicamente ativo, uma ideia que eles substanciaram usando técnicas de mapeamento genético de alta tecnologia refinadas por uma das autoras do estudo, Jessica Tollkuhn, professora assistente da Cold Spring  Harbor Laboratory School of Biological Sciences em Cold Spring Harbor, NY

Essas técnicas mostraram, em tempo real, a ligação do estrogênio aos genes Mc4r em certos neurônios, especialmente aqueles em uma parte do cérebro do rato envolvida no gasto de energia. Essas células cerebrais também compartilham conexões com outros neurônios em outras partes do cérebro que controlam a velocidade com que os animais se movem.  

Tomados em conjunto, esse experimento mostrou que o estrogênio dispara um determinado gene que ativa certas células cerebrais que, então, deveriam estimular um animal a se mover.

Mas os cientistas ainda não tinham visto esses genes e neurônios em ação, então, como aspecto final do estudo, eles usaram uma técnica sofisticada conhecida como quimiogenética para galvanizar diretamente os neurônios relevantes em ratos fêmeas que foram criados para não produzir estrogênio. Antes fisicamente lentos, esses ratos agora exploravam, levantavam-se, brincavam e corriam muito mais do que antes.

Da mesma forma, quando os cientistas usaram uma forma da tecnologia de edição de genes CRISPR para estimular a atividade do gene Mc4r nos cérebros das fêmeas, os camundongos se tornaram quase duas vezes mais ativos do que antes, uma onda física que persistiu por semanas. Até camundongos machos se moviam mais quando sua atividade do gene Mc4r era aumentada pelo CRISPR, embora não tanto quanto as fêmeas peripatéticas.

Esses resultados destacam a "complexidade do comportamento da atividade física", disse Ingraham, e como a disposição de se mover espontaneamente - ou não - para qualquer animal provavelmente envolve uma interação intrincada entre genética, endocrinologia e neurologia, junto com a deliberação consciente.

O estudo também levanta a possibilidade intrigante de que o "momento do exercício, para ter seu impacto mais benéfico para as mulheres, pode ser ajustado considerando as mudanças no ambiente hormonal", incluindo as mudanças hormonais da menopausa, disse a Dra. Tamas Horvath,  professor de neurociência e obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutivas na Escola de Medicina de Yale e presidente do departamento de medicina comparada da escola.

“Claro, todas essas observações em ratos precisam ser confirmadas para operar em nós, humanos,” disse o Dr. Horvath, que não esteve envolvido na pesquisa atual. “No entanto, o fato de esse mecanismo ser encontrado em uma parte antiga do cérebro sugere que será aplicável para a maioria dos mamíferos, incluindo humanos.”

'Conhecimento é poder'

 Dr. Ingraham concordou.  "Presumimos que este circuito também esteja funcionando em humanos", disse ela e, se sim, o novo estudo e qualquer pesquisa subsequente relacionada poderia ajudar a explicar, em parte, por que a inatividade é tão comum em mulheres após a menopausa e também oferece alguns  estratégias potenciais para superar a atração pela lassidão.  O aumento dos níveis de estrogênio em mulheres mais velhas, por exemplo, pode, em teoria, encorajar mais movimento, embora a terapia de reposição de estrogênio continue sendo um assunto complicado por causa dos riscos elevados de câncer e outros problemas de saúde.

 O estudo sugere, no entanto, que poderia, eventualmente, ser possível contornar o estrogênio e recriar seus efeitos com novas terapias que visariam diretamente o gene Mc4r ou os neurônios relevantes no cérebro das pessoas e imitar os efeitos do estrogênio sem o próprio hormônio.  Quaisquer avanços médicos estão anos no futuro, disse o Dr. Ingraham.

 Já, no entanto, investigando "a inter-relação entre hormônios e atividade física em mulheres, este estudo tem implicações significativas para pesquisas em humanos que estudam o ciclo menstrual e os anticoncepcionais hormonais e também a menopausa", disse Paul Ansdel, professor de fisiologia do exercício na Universidade de Northumbria  na Inglaterra, que não participou do estudo, mas estudou extensivamente a menstruação e o desempenho físico.  “Sabemos a importância de se exercitar mais tarde na vida para promover e manter a saúde”, continuou ele, “então o desafio para nós agora é entender as melhores maneiras de permanecer ativo durante a grande transição hormonal que é a menopausa.”

“Conhecimento é poder”, concluiu a Dra. Ingraham. Ela observou que, como muitos de nós estamos vivendo mais agora, entender melhor por que - e se - escolhemos nos mudar pode ajudar a tornar esses anos mais saudáveis. Por exemplo, sabendo que a biologia pode nos direcionar para o sofá se formos mulheres e envelhecemos, poderíamos usar rastreadores de condicionamento físico ou diários de treinamento para nos ajudar a comparar nossas atividades ano a ano. Ou apenas avaliar honestamente se somos tão ativos agora quanto gostaríamos de ser, seja qual for nossa idade (ou sexo). O cérebro é um órgão complexo e nossas motivações para exercícios são variadas e profundas, mas sempre temos a opção de “decidir ser ativos”, disse Ingraham, para fazer a escolha de nos levantar e nos mover.

“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde