quarta-feira, 2 de março de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Reavaliação do tecido adiposo humano

Introdução

O tecido adiposo é um órgão subestimado e incompreendido.  

Capaz de mais do que dobrar em massa e depois retornar à linha de base, o tecido adiposo branco (WAT) continua a desempenhar um papel essencial no desenvolvimento dos seres humanos.

O WAT armazena eficientemente energia suficiente para nos libertar da busca constante de comida, permitindo que dediquemos nossos esforços físicos e mentais para a construção da civilização.

O tecido adiposo marrom (BAT) consome glicose e triglicerídeos, gerando calor.

Um órgão projetado para a termogênese sem tremores, o BAT permitiu que os mamíferos prosperassem na atual era Cenozóica.  

Uma vez considerada fisiologicamente irrelevante em humanos adultos, a ativação a longo prazo do BAT foi hipotetizada para contribuir para amplos benefícios à saúde em tecidos tão diversos quanto os sistemas gastrointestinal, cardiovascular e musculoesquelético.  

Destacando os desenvolvimentos dos últimos 5 a 10 anos, esta revisão discute as duas principais facetas do tecido adiposo humano: seus papéis funcionais relacionados ao armazenamento de triglicerídeos, bem como seu excesso na obesidade, e seus papéis fisiológicos complementares e de longo alcance no sistema endócrino.

• Estrutura e distribuição de depósitos de tecido adiposo

Muitas pessoas estão confiantes de que sabem o que é a gordura: um apêndice corporal indesejado que se esforçam para reduzir ao longo de suas vidas.

Para aqueles que lutam para perder peso, a gordura é muitas vezes uma fonte de sofrimento, não de maravilha.  

Entre os profissionais médicos, ela foi desconsiderada na medida em que a gordura tem merecido pouca atenção nos currículos e nem figura nos atlas de anatomia.

Felizmente, as últimas três décadas testemunharam uma revolução em nossa compreensão e perspectiva sobre esse tecido.

A gordura não é uma entidade; é uma coleção de depósitos de tecido adiposo relacionados, mas diferentes, anatômicos e funcionais.

Derivado principalmente do mesoderma, o WAT humano começa a se desenvolver no segundo trimestre da gravidez e, ao nascimento, os depósitos viscerais e subcutâneos estão bem estabelecidos.

O BAT surge pela primeira vez durante o final do segundo trimestre e protege os recém-nascidos do frio à medida que desenvolvem a capacidade de tremer.

Em adultos magros, todo o depósito de WAT varia de 20 a 30 kg em mulheres (30 a 40% da massa corporal total) e 10 a 20 kg em homens (15 a 25% da massa corporal total).

A massa gorda pode ser estimada rapidamente e em muitas pessoas com o uso de métodos de baixo custo, como pinças de dobras cutâneas, circunferência da cintura ou índice de massa corporal (IMC).

As avaliações são mais precisas com análise de bioimpedância e absorciometria de raios X de dupla energia, e cálculos muito precisos podem ser realizados por meio de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM).

As quantidades relativas e a distribuição de BAT em humanos adultos são previsivelmente influenciadas pela escala alométrica.  

Camundongos adultos, um modelo comum para estudos de fisiologia de vertebrados, pesam de 20 a 50 g, e o BAT é de 2 a 5% de sua massa corporal.

Os seres humanos são três ordens de grandeza maiores, então nossa menor proporção de área de superfície para volume e maior isolamento do músculo e do WAT reduzem a necessidade de termogênese do BAT.  

A distribuição do BAT humano adulto também é muito mais restrita, encontrada apenas em certos depósitos anatômicos no pescoço, ombros, tórax posterior e abdome.  

Uma característica unificadora é que esses depósitos drenam diretamente para a circulação sistêmica e podem levar a uma distribuição mais rápida de sangue aquecido para o resto do corpo.

A quantificação do BAT ativo é um desafio e depende de imagens não invasivas de corpo inteiro com o uso de tomografia por emissão de pósitrons – TC ou RM.

A massa de BAT máxima detectável em humanos parece ser de aproximadamente 1 kg, e em adultos de 20 a 50 anos de idade, varia de 50 a 500 g, ou 0,1 a 0,5% da massa corporal total e 0,2 a 3,0% do adiposo total.  

A quantidade de BAT também varia de acordo com o sexo, e tem associação inversa com idade e IMC.

Conforme discutido abaixo, quanto mais massa de BAT pode ser aumentada em humanos e se uma proporção maior pode afetar o equilíbrio energético ou a saúde metabólica ainda precisam ser determinados.



O tecido adiposo desempenha um papel central na distribuição de energia.

Todos os alimentos consumidos pelos mamíferos consistem em apenas três macronutrientes: carboidratos, proteínas e gorduras.

Embora as refeições individuais possam ter proporções muito variadas desses três combustíveis, o corpo humano é capaz de flexibilidade metabólica, que é a capacidade das mitocôndrias de alterar sua preferência de substrato por gordura em comparação com a oxidação de carboidratos.

Pesquisas recentes mostraram que mitocôndrias disfuncionais levam à resistência à insulina no músculo esquelético, não por causa da flexibilidade prejudicada em resposta à disponibilidade de substrato, mas por causa de uma diminuição geral na oxidação do substrato.

Portanto, a superalimentação de qualquer um dos macronutrientes – carboidratos, proteínas ou gorduras – acaba levando a um balanço energético positivo e ganho de peso.  

A contribuição da composição de macronutrientes para o gasto energético e o desenvolvimento de obesidade e doenças metabólicas é uma área de debate ativo.

A função primária do WAT é armazenar energia na forma de triglicerídeos, mas existem diferenças fisiológicas substanciais e clinicamente relevantes entre os vários depósitos de WAT.

Os riscos metabólicos para a saúde são, portanto, devidos tanto à localização do excesso de armazenamento de triglicerídeos quanto à massa gorda total do corpo.  

O WAT é comumente separado em gordura visceral e gordura subcutânea, que conferem efeitos metabólicos negativos e neutros ou positivos, respectivamente.

A gordura visceral pode ser dividida em várias regiões distintas com diferentes riscos metabólicos.

As localizações dos depósitos WAT e BAT são mostradas na Figura 1.

Com base na anatomia microscópica e na fisiologia celular, é mais apropriado referir-se à gordura como tecido adiposo, pois é composto por vários tipos celulares distintos.  

Existem os próprios adipócitos, mas também a fração vascular do estroma – fibroblastos, sangue e vasos sanguíneos, macrófagos e outras células imunes e tecido nervoso.  

Formas relativamente recentes de tecnologia envolvendo sequenciamento de RNA de célula única e de núcleo único, que estão se tornando parte integrante do mapeamento de tecidos e sua complexidade, identificaram vários subtipos de células que desempenham papéis críticos na regulação da adipogênese, termogênese e comunicação interorgânica.

Além disso, as várias proteínas e proteoglicanos na matriz extracelular desempenham um papel ativo na função de WAT e BAT.

Muitas características dos depósitos de tecido adiposo, como localização, tamanho e comportamento metabólico, são influenciadas pela origem genética e pelo sexo.

Além disso, o tecido adiposo é um órgão dinâmico.

A crença amplamente difundida de que os humanos nascem com todas as células de gordura que jamais terão, que são capazes apenas de aumentar ou diminuir, agora é entendida como incorreta.

O uso inovador da marcação isotópica permitiu aos pesquisadores medir a nova adipogênese.

Esses estudos mostraram que a adipogênese continua ao longo da vida, com uma taxa média de renovação de 8% ao ano, indicando uma reposição completa dos adipócitos no organismo a cada 15 anos.

Para perspectiva, essa taxa é semelhante à dos osteócitos e mais rápida do que a renovação de muitos cardiomiócitos.

As células precursoras de adipócitos, conhecidas como pré-adipócitos, estão presentes na fração vascular do estroma e no tecido perivascular, que são capazes de autorrenovação.

O crescimento dos adipócitos vem tanto da hipertrofia, o aumento do tamanho das células, quanto da hiperplasia, o aumento do número de células.

O equilíbrio entre hipertrofia, hiperplasia, fibrose e lipólise no WAT visceral e subcutâneo está associado a diferentes riscos de progressão para disfunção fisiológica.

A diversidade e capacidade recém-descobertas levaram ao reconhecimento de que o tecido adiposo de mamíferos é um órgão “policromático”.

Além dos brancos e marrons, existem distintos adipócitos termogênicos, denominados “beige/brite”, que possuem características de adipócitos brancos e marrons, e adipócitos rosa no tecido mamário, bem como gordura na medula óssea e na derme, cada um com  um papel fisiológico distinto.

• Função e Comunicação

O WAT tem três funções macroscópicas comumente compreendidas e relacionadas.

Ele armazena calorias dos alimentos, cria uma camada de isolamento térmico e fornece proteção mecânica, o que é importante para resistir a infecções e lesões.

A insulina é o principal fator de absorção e armazenamento de combustível, sendo o tecido adiposo responsável por 5% da captação de glicose mediada por insulina em adultos magros e 20% naqueles obesos.


Até três décadas atrás, esses papéis fisiológicos eram tudo o que a maioria das pessoas considerava quando pensava em WAT, mas as descobertas de hormônios derivados de adipócitos brancos, como leptina e adiponectina, deixaram claro que WAT também é um órgão endócrino.

Além desses hormônios, os adipócitos e os outros tipos de células residentes produzem dezenas de outras adipocinas que afetam a fisiologia local e distante, como fator de necrose tumoral pró-inflamatório α (TNF-α), proteína quimiotática de monócitos 1 e o hormônio sexual estrogênio.

O WAT como órgão mesodérmico comunica seu estado funcional nos níveis autócrino, parácrino e endócrino.

Por exemplo, a gravidez requer um suprimento suficiente de energia a longo prazo, e o TAB (WAT) é essencial para o bom funcionamento do sistema reprodutivo, que inclui a secreção de hormônios reguladores e sexuais e a lactação.

Muito pouco WAT (TAB) como visto na anorexia nervosa e lipodistrofias, interrompe a menstruação.  

Demasiado WAT leva à puberdade precoce.

O WAT também usa sinalização interorgânica para coordenar o armazenamento e o consumo de nutrientes com o fígado e o músculo esquelético.

A descoberta da leptina há três décadas anunciou uma nova era na medicina da obesidade, mas não como originalmente previsto.

A leptina não induz saciedade, mas níveis baixos de leptina sinalizam baixos estoques de energia e fome.  

Pessoas com obesidade têm resistência à leptina, de modo que a administração exógena não leva à supressão do apetite ou perda de peso, exceto em pessoas com deficiência congênita de leptina, o que é extremamente raro.

Vários estudos sobre os efeitos da leptina levaram a novos insights sobre o controle da ingestão de alimentos pelo hipotálamo e outras regiões do cérebro.

A adiponectina regula o metabolismo da glicose e dos lipídios e promove um perfil metabólico antiaterogênico, antiinflamatório e sensibilizador da insulina.

Os avanços na compreensão do tecido adiposo como um órgão endócrino têm sido apoiados pela identificação de espécies não sinalizadoras de peptídeos que têm efeitos locais e sistêmicos.

Lipídios bioativos, como o ácido 12,13-dihidroxi-9Z-octadecenóico (12,13-diHOME) e o ácido 12-hidroxieicosapentaenóico (12-HEPE) são liberados pelo BAT e estimulam a captação de glicose e ácidos graxos no BAT e no músculo, apoiando assim  termogênese.

O BAT também libera microRNAs exossomais que podem regular a expressão gênica em outros tecidos, como o fígado.

O WAT e, mais recentemente, o BAT foram identificados como componentes integrais e reguláveis ​​do metabolismo das lipoproteínas e dos ácidos biliares.

As lipoproteínas ricas em triglicerídeos, na forma de quilomícrons de uma refeição, e a lipoproteína de muito baixa densidade derivada do fígado entregam suas cargas lipídicas ao WAT e BAT.  

Estudos em roedores mostraram que a ativação prolongada do BAT leva a alterações na homeostase do colesterol hepático, no metabolismo dos ácidos biliares e na composição do microbioma.

Mais de uma década após a descoberta do BAT como um tecido funcional em humanos adultos, há evidências nascentes sugerindo que a ativação do BAT também pode diminuir o risco de aterosclerose e impulsionar o consumo de glicose e lipídios pelo músculo esquelético.

Tanto o WAT quanto o BAT participam da imunomodulação, supressão e ativação do sistema imunológico, e cada tecido libera seu perfil distinto de mediadores do sistema complemento.

A obesidade leva a citocinas pró-inflamatórias derivadas de WAT, como TNF-α, interleucina-1β, interleucina-6 e interferon-γ.

Esses compostos ativam e recrutam macrófagos, que podem aumentar de menos de 10% a quase 40% do número total de células no tecido adiposo.

As células dendríticas e as células B se unem para induzir a expansão das células T CD4 e CD8.

Uma consequência importante da resultante resistência à insulina dos adipócitos e ativação dos macrófagos é o aumento da liberação de ácidos graxos, que, em última análise, conduz a gliconeogênese hepática e a hiperglicemia.

Em contraste, o BAT é particularmente resistente à inflamação induzida pela obesidade e, em modelos de roedores, descobriu-se que o BAT expressa altos níveis de ligante 1 de morte programada, que reduz a ativação das células T e pode melhorar a sensibilidade à insulina.

• Obesidade como complicação de muito Tecido Adiposo Branco WAT

As pandemias de sobrepeso e obesidade afetam mais de 70% da população dos EUA e devem aumentar sua prevalência nos próximos 30 anos.

Paralelamente, houve um aumento de condições relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2, puberdade precoce, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer.

Ainda mais preocupante é a observação de que as taxas de obesidade estão aumentando muito mais rapidamente entre crianças do que entre adultos e que crianças obesas são mais propensas a se tornarem adultos obesos com alto risco de complicações graves de saúde (Figura 3).

Respostas adequadas às sequelas clínicas e sociais dessas tendências exigem uma compreensão mais precisa dos efeitos específicos dos diferentes depósitos de WAT e BAT.  

As avaliações atuais em populações adultas e pediátricas geralmente usam o IMC exclusivamente, o que, no mínimo, requer ajustes para idade, sexo e origens genéticas e étnicas.

O IMC não pode fornecer informações sobre a distribuição de WAT ou as predisposições de depósitos específicos para sua fisiopatologia distinta ou a probabilidade de uma resposta a terapias direcionadas.

No futuro, será particularmente importante realizar grandes estudos de tendências epidemiológicas que vão além do IMC e incorporem outras estimativas da distribuição dos depósitos de WAT, incluindo a circunferência da cintura, a fim de entender melhor o papel da distribuição de WAT na doença metabólica relacionada à obesidade.  

Embora seja correto atribuir o aumento das taxas de obesidade ao armazenamento excessivo de triglicerídeos no WAT, esse quadro é muito simplista e impede o desenvolvimento de estratégias de tratamento.

Desde o início da pandemia de obesidade na década de 1970, as principais causas contribuintes e sua influência individual permanecem desconhecidas.

Os papéis do tamanho das porções, classes específicas de alimentos, ingredientes específicos e mudanças nos padrões de atividade estão sendo investigados.

Concomitantemente, é útil conceituar a obesidade como uma doença do cérebro que se manifesta como excesso de TAB (WAT) e TAB disfuncional.  

Estudos mostraram os ciclos perniciosos que aceleram o desenvolvimento da obesidade quando a pessoa começa a ganhar peso.

A região hipotalâmica do cérebro é de interesse crescente porque integra vários sinais fisiológicos do corpo, os transmite para diferentes regiões do cérebro e coordena a regulação de diversos processos, incluindo temperatura corporal e alimentação.  

Estudos em roedores mapearam as vias neuronais que interpretam os sinais da alimentação e do próprio TAB em relação à sua massa e, em seguida, integram esses sinais em mensagens homeostáticas e hedônicas, que interpretam a disponibilidade de estoques de energia e o significado emocional de alimentos específicos, respectivamente.

Além do WAT, a obesidade também interrompe a capacidade do hipotálamo de estimular o gasto de energia do BAT.

A obesidade não pode ser vista simplesmente como uma falha de força de vontade.

Em vez disso, é uma interação complexa entre centenas de genes, demandas socioeconômicas e tomada de decisão pessoal que, em última análise, leva a um aumento de longo prazo na ingestão calórica média em relação ao gasto de energia.

As conexões entre a obesidade, suas complicações metabólicas e influências genéticas tornaram-se mais estabelecidas por meio de estudos de associação genômica.  

Esses estudos populacionais globais em larga escala identificaram novos loci genéticos no sistema nervoso central, indicando um componente potencialmente genético de aspectos do estilo de vida, bem como resistência à insulina, ligando a obesidade central à desregulação metabólica e, em última análise, ao risco de doença cardiovascular.

No entanto, é fundamental apreciar a distinção entre a hereditariedade da obesidade e o efeito de qualquer gene.

As influências genéticas na obesidade são substanciais, até 70% com base em estudos envolvendo populações de origem predominantemente européia, mas esse forte efeito não deve ser mal interpretado como significando que existe um único “gene da gordura”.

Atualmente, apenas 20% de toda a variação fenotípica na obesidade pode ser explicada pelos milhares de loci identificados até agora.  

Adicionando mais complexidade é o efeito da epigenética – mudanças hereditárias, mas reversíveis na função do gene que não envolvem o próprio código de DNA.

A obesidade e até mesmo os componentes dietéticos podem ter efeitos fenotípicos profundos.  

Esforços estão agora sendo focados em como os mecanismos pelos quais os genes e as vias fisiológicas associadas afetam os desequilíbrios energéticos de curto e longo prazo e as complicações de saúde subsequentes.

Como o excesso de tecido adiposo leva à doença? Como nenhuma outra célula, os adipócitos brancos são adeptos do aumento e podem inchar de um diâmetro de 30 a 40 μm a mais de 100 μm, um aumento de volume por um fator de mais de 10. 

Começando no início da idade adulta, os adultos magros dos EUA gastam o  próximas décadas desafiando seus adipócitos ganhando em média 0,5 kg (1,1 lb) por ano, com aumentos de peso ainda maiores entre os com sobrepeso e obesos, colocando uma enorme demanda nos depósitos de WAT para armazenar triglicerídeos na quinta e sexta décadas de vida.

A localização anatômica e a genética determinam em grande parte o aumento proporcional no tamanho e número de adipócitos e as respostas fisiológicas.

Por exemplo, pessoas cujos depósitos subcutâneos mantêm adipócitos menores têm menos complicações metabólicas.

Além disso, em pessoas geneticamente predispostas à lipólise mediada por catecolaminas prejudicada, os adipócitos brancos tornam-se muito grandes, uma situação exacerbada pela incapacidade genética de recrutar novos adipócitos.

À medida que a obesidade progride, a diferenciação dos pré-adipócitos torna-se disfuncional, levando à redução da sinalização da insulina, captação de glicose e liberação de adiponectina pelos adipócitos maduros.

Em última análise, o crescimento e a expansão hipertrófica do WAT restringem a capacidade do oxigênio de se difundir dos capilares para os adipócitos.

Essa hipóxia constitui um alerta vermelho biológico para as células, alterando a expressão de mais de 1.000 genes e desencadeando uma série de respostas interconectadas que acabam levando à resistência local tanto à insulina quanto à sinalização adrenérgica, aumento da inflamação e dano celular.

A falha do tecido adiposo em continuar se expandindo leva ao transbordamento e subsequente deposição de triglicerídeos por todo o corpo, com acúmulo ectópico no fígado e no músculo esquelético.

A extensão dessa lipotoxicidade é um importante determinante do desenvolvimento de desregulação metabólica, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Esse meio leva à disfunção do sistema imunológico e acredita-se que contribua para o aumento da morbidade e mortalidade por doenças infecciosas, atualmente destacadas pelos preocupantes relatórios epidemiológicos sobre pessoas com obesidade e doença por coronavírus 2019. 

A obesidade também está associada a um risco aumentado de muitos tipos de câncer, incluindo câncer de mama, útero, ovário, esôfago, estômago, cólon ou reto, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim, tireóide e meninges, bem como mieloma múltiplo, mas os mecanismos precisos ainda não são claros.

Três agentes causadores identificados até agora são hiperinsulinemia, fatores liberados durante a inflamação crônica e aumento da produção de estrogênio.

Dada a extensão dos distúrbios, a questão que surge é se o excesso de triglicerídeos armazenados é sempre benigno.

Foi postulado um fenótipo obeso metabolicamente saudável, que tem sido associado a vários aspectos da função dos adipócitos, como a liberação de adipocinas específicas.  

Se as pessoas obesas que são metabolicamente saudáveis ​​estão, no entanto, em um caminho inexorável para a doença metabólica ainda não foi determinado.

• Tratamentos para sobrepeso e obesidade

Existem três maneiras de alcançar um balanço energético negativo líquido: reduzir o consumo de alimentos, reduzir a absorção de nutrientes e aumentar o gasto energético.

Todos os três finalmente convergem para o objetivo comum de reduzir o teor de triglicerídeos WAT.

A farmacoterapia voltada para essas diferentes vias tem sido extensivamente revisada.

Vários tratamentos atualmente aprovados pela Food and Drug Administration para o tratamento da obesidade envolvem diretamente os tecidos adiposos.

Por exemplo, os agonistas do receptor do peptídeo 1 do tipo glucagon, como a liraglutida, causam perda de peso por meio da inibição do apetite e são ainda mais eficazes com o exercício, mas seus efeitos benéficos também podem ser mediados pela estimulação da lipólise do WAT e da termogênese do BAT.

Potenciais novas terapias com foco no tecido adiposo incluem bimagrumab, um inibidor do receptor de activina tipo II, que reduz a massa de WAT enquanto aumenta o crescimento do músculo esquelético.

A abordagem mais eficaz para a perda de peso que também resulta em melhorias metabólicas é a cirurgia bariátrica.

Embora essas operações reduzam as complicações da obesidade por meio de múltiplos mecanismos, grande parte da eficácia se deve à profunda perda de massa de WAT.

Os estudos atuais estão determinando os mecanismos pelos quais a perda de peso é alcançada, os efeitos adversos a longo prazo e a durabilidade das várias intervenções cirúrgicas.

Há também a abordagem direta de remover o tecido adiposo, mas, como sugerido acima, a ressecção do depósito de tecido adiposo errado pode piorar o efeito metabólico.

A lipoaspiração não cosmética de gordura subcutânea não leva a perda de peso a longo prazo ou melhora da saúde.

Além disso, é essencial reter pelo menos um mínimo de tecido adiposo.  

As síndromes lipodistróficas associadas à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e os medicamentos usados ​​para tratá-la, bem como síndromes genéticas mais raras, mostraram que muito pouco WAT leva a disfunção metabólica lipotóxica e disfunção reprodutiva por deficiência de leptina.

Em certas circunstâncias, é até benéfico aumentar a massa de tecido adiposo.

As tiazolidinedionas são medicamentos que tratam o diabetes ativando o receptor nuclear PPAR-γ (receptor γ ativado por proliferador de peroxissoma) e aumentando o número de adipócitos menores e mais responsivos à insulina que podem armazenar triglicerídeos com mais segurança.

Ao induzir hiperplasia em vez de hipertrofia, as tiazolidinedionas levam a uma melhora paradoxal no perfil metabólico do paciente enquanto aumentam a massa de adipócitos.

A ativação do BAT a longo prazo poderia ajudar a tratar a obesidade ou doenças metabólicas relacionadas?  

Em roedores, a resposta é inequivocamente sim, mas em humanos, a resposta ainda não foi determinada.

Como já discutido, os humanos têm proporcionalmente menos BAT do que mamíferos menores, mas os humanos contemporâneos podem ter ainda menos BAT do que o necessário para atender às suas necessidades fisiológicas e metabólicas.

A massa de BAT diminui drasticamente com o aumento da temperatura ambiente, e o envelhecimento também parece induzir a atrofia de BAT, aumentando a possibilidade de que humanos contemporâneos que criam um ambiente termoneutro estejam diminuindo artificialmente sua massa de BAT e sua contribuição para o equilíbrio energético e a saúde metabólica.

Mesmo a limitada BAT presente em adultos parece ter um efeito clínico substancial, porque estudos retrospectivos e prospectivos mostram uma associação inversa entre a atividade da BAT e o IMC.  

Além disso, um estudo recente mostrou que pessoas com BAT tinham níveis mais saudáveis ​​de glicose no sangue, triglicerídeos e lipoproteínas de alta densidade do que pessoas sem BAT.

Aqueles com BAT apresentaram menor prevalência de doenças cardiometabólicas, como diabetes tipo 2, dislipidemia, doença arterial coronariana, doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão.

Ensaios clínicos são necessários para determinar os resultados da ativação do BAT a longo prazo, uma vez que estudos em roedores sugerem que a ativação do BAT pode levar à ingestão alimentar compensatória ou, o contrário, à supressão do apetite.

Os estudos clínicos prospectivos iniciais mostraram que o tratamento a longo prazo com agonistas dos receptores β3-adrenérgicos aumenta a massa do BAT e o escurecimento do WAT e está associado a melhorias na sensibilidade à insulina e fatores de risco cardiometabólicos.

• Conclusões

A abordagem mais arriscada do tecido adiposo humano é descartar sua importância.

O WAT está no centro da pandemia de obesidade e sua resposta ao excesso de calorias afeta todos os sistemas orgânicos, com efeitos profundos na morbidade e mortalidade em todo o mundo.

A última década, e particularmente os últimos 5 anos, viu um crescimento explosivo em nossa compreensão do tecido adiposo, com trabalhos que reconhecem o WAT e o BAT humanos como órgãos que possuem diversidade anatômica, funcional e genética.

No futuro, a gordura será idealmente apreciada pelo que é, um tecido policromático, tão relevante e influente quanto outros órgãos para a manutenção da saúde humana.

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Estratégias para driblar os 4 tipos de fome

A fome fisiológica é a fome real de comida. Falo que é aquela fome do pescoço para baixo. Na qual o "estômago" apresenta um vazio e podemos até ter hipoglicemia, por necessidade de glicose. 
Estratégia: Observar o seu nível de fome, já que ela é real. Em uma escala de 0 a 10, onde zero é sem fome e 10 é muita fome. Não aguarde chegar no 9 ou 10 para se alimentar. Quando a fome surgir, já se alimente, com alimentos com boa densidade nutricional (bom teor de vitaminas, minerais, proteínas, fibras).

A fome emocional falamos que é aquela ligada ao afeto, na qual buscamos anestesiar sentimentos, sensações, emoções e que após o consumo de algum alimento, sentimos um bem-estar. 
Estratégia: Primeiro detecte quais fontes de prazer não relacionadas a alimentação você possui Liste. Aí ao longo da semana vá incluindo esses prazeres. Exemplo: atividades, ler livro, ver filme/séries, passear com amigos, receber massagem. Além disso comer com atenção plena pode te auxiliar na percepção do comer emocional. Há diversas técnicas de mindufl eating. 

Fome social é aquela na qual se come por influência do meio. Brinco que é a fome por influência do algoritmo do instagram, você vê um post com um determinado prato/alimento e desperta-se a vontade de comer aquilo.
Estratégia: o algoritmo é traiçoeiro. Quanto mais você vê perfis de comida, mais perfis semelhantes ele te mostrará. Então evite esses perfis. Se é a fome social por estar em uma festa/bar vendo os amigos comendo, sugiro que não saia de casa com a fome na escala 9 ou 10. Se o consumo for inevitável, principalmente se for para socializar (e não há nada de errado nisso), sugiro que aplique as técnicas de mindful eating. Respeite a sua fome, mas também respeite os sinais de saciedade e pare de ingerir quando perceber que já está satisfeita.

A fome específica é a vontade de comer um alimento específico ou gosto específico. Ex. doce final da tarde.
Estratégia: quando eu acompanhei o pessoal do Comedores Compulsivos Anônimos aprendi com eles que as "fissuras" vinham na forma de onda. Ou seja, se você ficasse parado, só observando, sem agir (comer) a força da onda diminuiria. Nesse caso essa fica fica sendo a melhor estratégia. Como não é fome física, ela tende a desaparecer rapidamente. Brinco que se for uma vontadezinha, ela passará. Porém, se é uma vontade grande, muito grande, aí te sugiro satisfazer a vontade, mas com uma porção menor que a habitual e utilizando técnicas de mindful eating. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915

Estratégias que podem te ajudar a ter mais adesão ao tratamento para emagrecer



Ao longo dos anos, percebemos que o tratamento da obesidade tende a ser fadado ao fracasso se alguns cuidados não forem tomados. 

Para exemplificar isso, a gente faz algumas perguntas:
1) Quantas pessoas no seu círculo social, que você viu perder uma quantidade considerável de gordura e sustentaram até hoje esse emagrecimento?
2) Quantos emagreceram somente com dieta e atividade física e sustentaram após 5 anos essa perda de peso?
3) Quantos perderam e foi por cirurgia bariátrica?
4) Quantos emagreceram e foi devido a uma combinação de dieta, atividade física e uso de medicação?

Menos de 10% dos pacientes conseguem perder peso somente com dieta e atividade física e sustentar essa perda de peso ao longo de 5 anos. 

Isso nos mostra o quanto a obesidade é uma doença CRÔNICA, COM FORTE COMPONENTE GENÉTICO E AMBIENTAL, COM VÁRIAS CAUSAS (MULTIFATORIAL), RECIDIVANTE e com inúmeros fatores que perpetuam o processo e favorecem o reganho de peso. 

Mas se há casos de sucesso, devemos olhá-los com mais atenção e analisar a razão do sucesso. E a prestação de contas é um dos determinantes desse sucesso.

Prestação de contas? Sim e nada tem a ver com contabilidade. Dividimos essa prestação de contas em 2 tipos: a interna e a externa. 

Prestação de contas: INTERNA

Nela agimos por nós mesmos. Ela diz respeito a formas objetivas que temos de avaliar o nosso resultado (emagrecimento). Há 3 formas de prestação de contas interna:

1) Vigilância: o paciente necessita se pesar ou fazer bioimpedância para avaliar de forma objetiva como está progredindo (há pacientes que geralmente pioram quanto se pesam, mas via de regra a maioria realmente precisa). 

Há uma vertente dentro da Nutrição comportamental que condena a pesagem, porém os estudos de Terapia cognitivo comportamental mostram justamente o contrário. A vigilância contínua promove melhores desfechos.

Mesmo que balança não represente a realidade exata do seu peso, em um período de 15 dias dá para se ter uma noção de como você está indo. Atenção aos períodos pré e pós-menstruais. Atenção também à constipação intestinal (intestino preso).

2) Rastreamento de calorias: caloria não é tudo, mas a estratificação (estimativa) da ingestão de calorias é fundamental no processo de emagrecimento. 

Não consideramos o rastreamento calórico (recordatório alimentar) uma estratégia universal, porém,  nossa prática clínica percebemos que auxilia bastante, principalmente para aquele paciente que "acha" que está seguindo o plano alimentar. 

Há trabalhos também que validam a utilização desses recordatórios alimentares, para fins de aumentar a adesão ao tratamento.

Algumas perguntas devem ser feitas durante análise do recordatório:

1º - Estimar o quanto você está ingerindo no dia e proporção dos macronutrientes.
2º - Determinar onde você está "errando" e as comorbidades associadas a esse "erro". Falo erro com aspas, pois, as vezes, errada foi a estratégia adotada pelo médico para o seu caso. Temos que normalizar que em tratamento de obesidade muitas vezes não acertamos de primeira o melhor tratamento. E/ou muitas vezes teremos que alternar as estratégias terapêuticas. 
  1. Está fazendo mais refeições livres além das ofertadas pelo nutricionista? 
  2. Como está o padrão alimentar?
  3. Está beliscando? 
  4. Está hiperfágico?
  5. Está tendo quantos episódios de compulsão alimentar por semana? Será que precisaremos entrar com medicação e/ou pedir uma avalição psiquiátrica?
  6. Está tendo episódios de compensação alimentar: tais como jejum, dietas restritivas, detox, vômitos, uso de laxantes ou diuréticos, exercícios físico extenuante na tentativa de compensar episódios de compulsão?
  7. Como está a sua relação com a comida? Está gerando mais ansiedade e favorecendo um comer transtornado?
  8. Está fazendo psicoterapia?
  9. Quais momentos do dia tende a ingerir mais calorias e com isso sabotar o que foi proposto?
  10. Há fome emocional? 
  11. Há apetite para algum alimento específico? 
  12. Qual o sentimento predominante nos momentos em que tem compulsão e/ou ingere aquilo que não estava dentro do programado com o Nutri.
3º - Mostrar o quanto você conseguiu reduzir de calorias se comparado ao que ingeria antes. Às vezes o paciente não está perdendo peso na balança e fica desanimado, mas quando se compara ao que ele era antes do tratamento, detectamos um grande avanço. Principalmente no que se trata de volume e qualidade das refeições. Por isso, o reconhecimento de avanços é importante.

3) Estabelecer metas de exercícios e cumprir essas metas, sendo realista. 

A gente orienta aos nossos pacientes que essas metas de início podem até não serem ambiciosas, mas o feito é melhor que o perfeito. E o feito por 20 minutos sempre será melhor que o nada feito. 

Prestação de contas: EXTERNA

É aquela prestação de contas na qual o outro vai te validar. O outro vai te analisar. O outro vai te falar se você teve ou não um bom resultado e/ou se está progredindo, estacionado o regredindo no processo.

a) Profissionais: Nutrólogo, Nutricionista, Endocrinologista: ter pessoas que olharão/acompanharão seu resultado. Os estudos mostram que esse tipo de prestação de conta aumenta as chances de sucesso em um processo de emagrecimento. 

Por isso, orientamos que no tratamento da obesidade as consultas devem ser mais periódicas com o nutricionista. O ideal é de 15 em 15 dias. Ter alguém fiscalizando a evolução geralmente promove melhores desfechos de acordo com alguns estudos. 

Se o paciente está indo bem, ele tende a ficar mais motivado e se ele está indo mal, a gente revisa a estratégia adotada. Como dissemos acima, as vezes erramos na estratégia escolhida. As vezes precisamos alternar as estratégias. 

b) Blog: há estudo mostrando que os pacientes que escreveram blog relatando o processo tem melhores resultados que aqueles não fizeram. Que tal escrever um blog e ali falar das suas dificuldades, colocar as fotos das suas refeições. Postar seu progresso. Há milhões de pessoas nesse barco e com certeza alguém gostará de te acompanhar. 

c) Grupos de whatsApp em que um estimula o outro: um adendo, abominamos grupos de desafios. Uma coisa é um grupo em que as pessoas possuem o mesmo objetivo (que é perder peso) e um estimula o outro. 

Outra coisa, bem nociva por sinal (iatrogênica na verdade), são grupos de competição (desafios), no qual a perda de peso é estimulada de forma errada, pois não leva em conta que as pessoas possuem individualidade biológica, histórias de vida diferentes, realidades financeiras diferentes, constituição familiar diferentes.

Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade

Ação da insulina para inibir a ingestão de alimentos: está tudo na sua cabeça?

A insulina é um sinal chave que participa da resposta à disponibilidade de nutrientes, ajustando o uso de energia periférica para manter a homeostase da energia e da glicose.

No entanto, sua função neuroendócrina se estende além da regulação dos níveis circulantes de glicose.

Estudos em humanos usaram a administração intranasal de insulina para definir seus efeitos no sistema nervoso central (SNC) versus periféricos.

Estudos anteriores em humanos mostraram que a insulina suprime a atividade do estriado ventral e altera a comunicação entre o estriado ventral e a área tegmental ventral (VTA) de uma maneira que implicava, mas não podia verificar, a inibição da dopamina.

No estriado ventral (núcleo accumbens), neurotransmissores individuais e suas respectivas vias de sinalização neuronal governam diversos aspectos do comportamento alimentar, incluindo motivação, recompensa antecipatória e consumatória e abordagem alimentar.

Assim, a pesquisa que define o efeito da insulina em neurotransmissores específicos no corpo estriado tem o potencial de informar nossa compreensão das ações centrais da insulina para modular o comportamento alimentar em humanos. O estudo de Kullman et al investiga as interações da insulina com a sinalização da dopamina no corpo estriado e na rede mesocorticolímbica estendida à qual pertencem as regiões estriatais.

Kullman e colegas realizaram um estudo cruzado, cego e rigorosamente projetado do efeito da administração de insulina intranasal versus placebo nos resultados de neuroimagem multimodal em 10 homens jovens e saudáveis.

Visando o estriado dorsal e ventral, eles mediram o potencial de ligação da dopamina por meio de [11C]raclopride e tomografia por emissão de pósitrons (PET), que muda proporcionalmente à disponibilidade de locais de ligação nos receptores de dopamina 2 e 3 (D2/D3).

Eles encontraram maior potencial de ligação tanto no estriado ventral quanto no dorsal após a administração de insulina intranasal em comparação ao placebo.

Os autores interpretam os achados como evidência de que a atividade dopaminérgica dentro do corpo estriado foi reduzida pela insulina intranasal.

Concomitantemente com a imagem PET, foram adquiridos exames de ressonância magnética funcional em repouso em série.

Estes foram analisados ​​usando 2 medidas calculadas: uma que estimou a atividade neural e uma segunda que avaliou a conectividade funcional.

As análises se concentraram em regiões do sistema mesocorticolímbico (um circuito altamente conservado que governa comportamentos motivados), incluindo o VTA, estriado dorsal (caudado e putâmen), hipotálamo lateral, córtex pré-frontal medial e estriado ventral.

Os resultados mostram menor atividade estriatal 15 e 30 minutos após a administração de insulina do que o placebo.

Em análises correlacionais, eles descobriram que indivíduos com maiores diferenças no potencial de ligação entre as condições também tinham maiores diferenças na atividade neural – achados limitados à região estriada ventral e ao ponto de tempo pós-insulina de 15 minutos.  

Essa correlação relaciona a magnitude da supressão da dopamina pela insulina com as reduções na sinalização estriatal ventral.

No ponto de tempo pós-insulina de 45 minutos, a magnitude do efeito da insulina no potencial de ligação foi associada a aumentos na conectividade entre pares regionais específicos dentro do sistema mesocorticolímbico que incluía o VTA, estriado ventral, córtex pré-frontal e hipotálamo lateral.

Os autores concluem que a insulina atua centralmente para reduzir a sinalização dopaminérgica no corpo estriado, o que pode modular a atividade neuronal localmente e a conectividade entre as principais regiões que regulam o comportamento motivado e os aspectos recompensadores da ingestão de alimentos.

Embora realizado em uma pequena amostra, o estudo de Kullman et al está de acordo com um grande corpo de evidências pré-clínicas e acumulando estudos em humanos, de que a insulina tem atividade anorexígena no cérebro.

O estudo implica reduções na sinalização dopaminérgica estriatal como um dos mecanismos neuroendócrinos de ação da insulina em humanos.

A sinalização da dopamina estriatal ventral pode desempenhar um papel específico no aumento do impulso para identificar e obter alimentos.  

Além disso, indivíduos com maior disponibilidade de receptores D2/D3 estriados dorsais – como visto com a administração de insulina em Kullman et al – exibem inibição mais rápida das respostas motoras e maior ativação frontoestriatal durante a inibição da resposta.

Assim, um papel da insulina pode ser atuar como um sinal de feedback negativo para o SNC em resposta à disponibilidade de nutrientes com efeitos resultantes que suprimem a motivação para a alimentação, facilitam a autorregulação e reduzem a atividade direcionada à obtenção de alimentos.

As descobertas complementam extensas investigações que revelam como a exposição a nutrientes no intestino produz sinais de saciedade para reduzir a ingestão de alimentos.

Especificamente, esses dados sugerem que os hormônios derivados do intestino e a insulina circulante representam fontes potencialmente redundantes de feedback negativo sobre a ingestão de energia com sobreposição em suas vias efetoras do SNC.

Por exemplo, a presença de nutrientes no intestino estimula a liberação de sinais de saciedade, incluindo peptídeo-1 semelhante ao glucagon, que atua no VTA em roedores para alterar a sinalização da dopamina.

Ao contrário da insulina, os sinais de saciedade derivados do intestino requerem a entrada de aferências vagais e esplâncnicas do intestino.  

Curiosamente, existem vias paralelas que fornecem sinais de feedback positivos do intestino para o cérebro para promover a ingestão de alimentos.

Este processo, denominado “apetição” por Sclafani, é separado e complementar ao sistema de saciedade e não está sob a regulação da entrada vagal intestinal.

Por exemplo, a liberação de dopamina estriatal induzida pela infusão intragástrica de glicose está envolvida no condicionamento do apetite doce – a oxidação da glicose é necessária e provavelmente não é dependente de insulina.

Em outras palavras, parecem existir caminhos paralelos que usam a dopamina no aprendizado e no estabelecimento de associações de recompensa-pista com alimentos específicos com base no conteúdo de nutrientes e são distintos daqueles que governam o equilíbrio energético e a saciedade relacionada à refeição.  

Este último pode envolver insulina, nutrientes e outros hormônios da saciedade.

Uma limitação notável da metodologia de Kullman e colegas é que ela não reproduz essa fisiologia porque a insulina intranasal foi fornecida em jejum.

No entanto, os resultados destacam que a disponibilidade de nutrientes é um sistema endócrino no qual o comportamento é a saída regulada.

A pesquisa implica, além disso, que são necessárias ferramentas clínicas para detectar, diagnosticar e tratar anormalidades nesse ciclo de feedback endócrino-comportamental.  

Por exemplo, pesquisas anteriores sugerem que a resistência à insulina é acompanhada por deficiências na ação central da insulina para inibir a atividade mesolímbica, mas faltam ferramentas comprovadas para avaliar e diagnosticar a disfunção.

Da mesma forma, monitorar os efeitos colaterais da administração de insulina exógena, como aumento do desejo de comer, comportamento de busca de alimentos ou falta de saciedade, fica atrás de nossas medidas cada vez mais detalhadas do efeito da titulação de insulina na glicose periférica.

Sem meios para monitorar esse sistema de maneira baseada em evidências, podemos deixar de detectar sintomas de apetite e comportamento alimentar quando eles surgirem.

Isso representa uma oportunidade perdida de intervir antes do ganho de peso clinicamente significativo.

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Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

Aumento do turismo residencial no mundo é uma tendência é positiva para o meio ambiente

Nos últimos anos, as viagens internacionais e de longa distância ganharam espaço na vida de muita gente. Entretanto, o que as pessoas não sabem é que o uso de aviões e carros para isso é prejudicial ao meio ambiente. Algo que pode mudar nos próximos meses, com a tendência do turismo residencial em alta por todo o mundo. Um artigo feito recentemente mostra que alguns grandes centros, como Nova York e Tóquio, estão observando os moradores das cidades explorarem mais pontos turísticos da região, evitando viagens que podem causar mais poluição.

Segundo uma reportagem do canal alemão DW, os aviões são responsáveis por cerca de 5% das mudanças climáticas que acontecem no mundo. Esse é um número alto, principalmente que menos de 10% da população mundial usa esse meio de transporte. Ou seja, estamos falando de algo que causa prejuízo ao meio ambiente, mesmo sendo utilizado por poucas pessoas. O problema é que nos últimos anos esse número cresceu, com as viagens aéreas ficando mais acessíveis.

De 2020 para cá, por conta da crise que afetou o mundo, as viagens de avião perderam espaço e o turismo viu uma nova tendência de viagem surgir. O levantamento feio pelo site de caça-níqueis da Betway mostra isso com números, e faz uma comparação entre Nova York e Tóquio. A cidade norte-americana, por exemplo, teve quase 20 milhões de turistas locais em 2021. Um número que deve atingir os 30 milhões neste ano, inclusive pelas iniciativas da própria região para aumentar isso.

O artigo mostra também que essa sempre foi uma tendência de Nova York, que costuma chamar mais a atenção de pessoas que moram próximas do estado. Isso é importante para diminuir o impacto de uma viagem internacional, quando um brasileiro sai de São Paulo, por exemplo, para visitar o Empire State Building. Essa mudança é essencial para o meio ambiente, e a esperança é que ela continue assim pelos próximos anos, mesmo após o fim da crise na área da saúde.

Pouco acessível para todos

Apesar dessa tendência positiva, ainda existem alguns problemas com essa tendência de turismo residencial. Em Nova York, uma visita ao Museu Guggenheim não sai por menos de US$ 25, um valor que não é acessível para qualquer um. Para um final de semana turístico, um morador da Big Apple vai gastar mais de US$ 280. Ou seja, isso ainda é um empecilho para que as pessoas possam aproveitar a cidade norte-americana, mesmo morando na região.

Em entrevista ao blog da Betway, o brasileiro Gustavo Ventura explica que em alguns pontos da cidade é quase impossível encontrar preços baixos. “Na alimentação se gasta geralmente de US$ 30 a US$ 40 por refeição. Claro que existem opções mais baratas, mas nos centros turísticos sempre é mais caro”, afirma o paulista que mora em Nova York desde 2021. Isso faz com que muitas atividades fiquem inacessíveis, o que pode prejudicar essa tendência de turismo residencial.

Apenas como comparação, os restaurantes em Tóquio oferecem preços bem acessíveis. Com apenas US$ 14 é possível se alimentar em pontos turísticos da capital japonesa. É uma prova de que é possível cobrar pouco em um centro urbano importante. Aliás, um morador da região pode curtir um final de semana com US$ 122, menos que a metade do gasto por alguém em Nova York. Essa diferença explica muito o problema que estamos falando.

Iniciativas pró meio ambiente

A busca por maior sustentabilidade em viagens não depende apenas dessa nova tendência do turismo, mas também de ações de grandes empresas. Algo que tem acontecido, principalmente quando falamos de companhias aéreas. Os aviões comerciais mais modernos são menos poluentes, e prometem ficar ainda mais limpos no futuro. São atitudes assim que podem ajudar o meio ambiente.

Outra discussão que tem ganhado força na Europa é o maior uso de trens para viagens longas. Os turistas poderiam ter passagens mais acessíveis, e assim trocariam um avião por um trem. Uma substituição importante, pois esse meio de transporte pode ser até 50% mais limpo que o outro.

A reportagem feita pela Betway mostra que a tendência atual é de um turismo residencial, seja no Japão, nos Estados Unidos ou até mesmo no Brasil. Algo que ajuda não apenas a economia dos turistas, mas também o meio ambiente. Quanto menos uso de carros e aviões acontecer, melhor para o planeta

Curcumina pode auxiliar na redução da Doença Renal Crônica

Diversas são as estratégias utilizadas para auxiliar na prevenção do desenvolvimento da Doença Renal Crônica, em especial seu quadro característico de inflamação prolongada. 

Um estudo recente sugere ainda uma nova intervenção: a suplementação de curcumina, componente ativo do açafrão. Vamos entender melhor essa relação?

A Doença Renal Crônica (DRC) é uma condição patológica decorrente da perda progressiva da função renal, com alto risco de mortalidade cardiovascular.

Entre os fatores patogênicos para a progressão da DRC e a ocorrência de suas principais complicações, a inflamação e o estresse oxidativo têm desempenhado um papel importante, sendo considerados grandes fatores de riscos para aumento da morbidade e da mortalidade.

Há indícios que a microbiota intestinal muda consistentemente ao longo da DRC, induzindo uma carga metabólica que pode aumentar ainda mais o risco cardiovascular dos pacientes. Além disso, os metabólitos derivados da microbiota, tais como p-cresil sulfato (PCS) e indoxil sulfato (IS), podem contribuir para diminuir a função renal e piorar ainda mais a doença.

Sendo assim, uma das possibilidades de modular o quadro inflamatório sistêmico da DRC é a atuação na composição da microbiota intestinal. Mas como?

Intervenções direcionados à modulação das espécies que habitam o trato gastrointestinal têm sido sugeridas, especificamente através da suplementação de probióticos/prebióticos ou nutracêuticos. Dentre estes, a curcumina demonstrou propriedades anti-inflamatórias significativas.

A partir daí, o estudo piloto italiano analisado neste artigo buscou observar os potenciais benefícios da suplementação oral de curcumina-fosfolipídio em indivíduos com Doença Renal Crônica Leve.

Pessoas com DRC usaram curcumina por 6 meses

De fevereiro de 2018 a fevereiro de 2019, foram recrutados 24 pacientes com Doença Renal Crônica em estágio leve, maiores de 18 anos e que não estavam em tratamento hemolítico.

Para o grupo controle, foram selecionados 20 voluntários saudáveis, a partir dos mesmos critérios do grupo anterior, exceto pela presença da DRC ou qualquer outra doença relacionada ao rim.

Os pacientes com a doença seguiram orientações nutricionais e foram suplementados com 500mg curcumina contendo 100 mg de curcuminóides, duas vezes ao dia, por período de 3 ou 6 meses. O estudo buscou analisar as principais alterações conforme a passagem do tempo, que se dividiu em T0 (momento inicial), T1 (após três meses) e T2 (após seis meses).

Após estes períodos, foram coletados parâmetros clínicos, medidas de composição corporal, hábitos alimentares e amostras de fezes e sangue.

Os parâmetros investigados foram: estado nutricional e ingestão alimentar, inflamação e estresse oxidativo, toxinas urêmicas e microbiota intestinal.

Efeitos da suplementação sobre a inflação e outros parâmetros de saúde

Ingestão alimentar e estado nutricional: No início do estudo, foi fornecido aconselhamento nutricional aos pacientes com DRC, com objetivo de relembrar a importância da diminuição da ingestão de proteínas, sódio, fósforo e potássio. Os resultados mostraram a diminuição na ingestão de calorias, carboidratos, proteínas e fibras, além de fósforo e potássio. A análise de bioimpedância mostrou também uma diminuição significativa na massa gorda e uma tendência crescente na massa livre de gordura no primeiro trimestre.

Inflamação: A suplementação de curcumina resultou em um efeito anti-inflamatório e redutor das citocinas plasmáticas, em particular da proteína quimiotática de monócitos (MCP-1), que costuma ser super expressa em pacientes com DRC, aumentando a inflamação através do recrutamento de macrófagos.  Após seis meses de suplementação, o fitossomo de curcumina também induziu uma redução nos níveis plasmáticos de IL-4 (interleucina moduladora de respostas imunes) e IFN-y (citocina que contribui para a progressão da disfunção renal). O efeito anti-citocinas pró inflamatórias da curcumina já havia sido demonstrado anteriormente em diferentes condições patológicas, tais como hepatite B e osteoartrite. 

Estresse oxidativo: Em relação à análise da peroxidação lipídica, houve uma diminuição de 18% de TBARS (subproduto da peroxidação) após 3 meses do início do estudo, e uma diminuição de 25% ao final dos 6 meses de suplementação com o fitossomo de curcumina.

Toxinas urêmicas: As duas principais toxinas urêmicas que contribuem para a progressão da doença renal e aumento dos riscos cardiovasculares são o indoxil sulfato (IS) e o p-cresil sulfato (PCS). Embora não tenha sido observado uma diminuição significativa, houve uma tendência de redução para os níveis de PCS total e livre. Em relação à IS, notou-se estabilidade. É válido salientar que, normalmente, há um aumento nos níveis de toxinas urêmicas à medida que os danos renais pioram, mas isso não foi observado após a suplementação. Dessa forma, a observação de estabilidade pode ser considerada um resultado positivo.

Microbiota intestinal: Após 6 meses de suplementação de curcumina, a diversidade alfa foi mais elevada em grupos com Doença Renal Crônica em suplementação, quando comparados ao grupo controle. Vale relembrar que os pacientes com a doença seguiram orientações nutricionais específicas, enquanto o grupo controle estava em uma dieta livre.

Em resumo, houve presença significativamente maior de:
Família Lachnospiraceae 
Família Lactobacillaceae 
Família Prevotellaceae

Enquanto isso, houve uma presença significativamente menor de:
Família Enterobacteriaceae (e gênero Shigella)
Família Bacteroidaceae 
Filo Verrucomicrobia
Gênero Lachnoclostridium
 
Conclusão 

A partir dos resultados apresentados, ficam sugeridos os benefícios promissores do uso de curcumina para a Doença Renal Crônica, principalmente na redução da inflamação.  Além disso, nenhum efeito adverso foi observado no grupo de pacientes suplementados, o que corrobora com o bom perfil de segurança deste fitossomo, mesmo após administração prolongada.

As limitações do estudo apresentado dizem respeito ao pequeno tamanho da amostra e alta taxa de abandono. Desse modo, outros estudos são necessários para evidenciar o potencial benefício da curcumina na DCR, especialmente ensaios controlados por placebo.

Para conferir o estudo na íntegra: https://www.mdpi.com/2072-6643/14/1/231

Referência: PIVARI, Francesca et al. Curcumin Supplementation (Meriva®) Modulates Inflammation, Lipid Peroxidation and Gut Microbiota Composition in Chronic Kidney Disease. Nutrients, v. 14, n. 1, p. 231, 2022.

Autor: Natália C Lopes

O aumento da prevalência de obesidade nas capitais

Em 2006 o Ministério da saúde iniciou uma pesquisa denominada Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico). Ocorre anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. 

As entrevistas ocorrem via inquérito por telefone, realizado anualmente em amostras da população adulta (>18) residente em domicílios com linha de telefone fixo. Quais temas o Vigitel aborda? 

Os indicadores avaliados pelo Vigitel estão dispostos nos seguintes assuntos: 
  • Tabagismo;
  • Excesso de peso e obesidade;
  • Consumo alimentar;
  • Atividade física;
  • Consumo de bebidas alcoólicas;
  • Condução de veículo motorizado após consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas;
  • Autoavaliação do estado de saúde;
  • Prevenção de câncer;
  • Morbidade referida. 
A duração média para responder ao questionário é de 12 minutos. Importante destacar, também, que algumas perguntas realizadas não são diretamente sobre saúde, mas são muito importantes para serem relacionadas com a situação da saúde da população.

No Vigitel de 2020, a prevalência de obesidade nas capitais ficou da seguinte maneira, conforme a figura abaixo.


E o que isso nos fazer refletir ?

Que a obesidade tem se tornado cada vez mais prevalente nas capitais brasileiras. Em 2020, foram registrados 21,5% dos adultos com obesidade, contra 20,3% em 2019. Manaus (24,9%), Cuiabá (24%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram a incidência de obesidade nas capitais. E o que preocupa a ciência é que até 2011, nenhuma capital tinha uma prevalência de obesidade acima de 20%, enquanto em 2020 o Vigitel levantou 16 capitais com prevalência de obesidade acima de 20%. 

Quais fatores estão envolvidos ?

Há quem acredite que isso tenha piorado com a pandemia. Sim, estamos em uma pandemia há 2 anos mas a prevalência já vinha aumentando. A pandemia pode ter exacerbado o que já vinha piorando. E falar de fatores de riscos, gatilhos em obesidade é bem complexo.

Centenas de fatores podem estar relacionados mas na nossa reflexão hoje abordaremos temas pouco discutidos e que geram uma grande contribuição.

A poluição ambiental
O estresse crônico
A violência
O sedentarismo

A princípio esses gatilhos parecem desconectados, mas a medida que se analisa de forma "sociológica" percebemos uma inter-relação entre eles. 

A poluição ambiental engloba tanto a poluição do ar (obviamente maior em capitais) quando poluição do solo, poluição sonora, poluição visual. 

A poluição do ar está relacionada a piora de várias patologias (Alzheimer, doenças pulmonares, cardiovasculares, alérgicas) e também obesidade. Mecanismos ainda não bem elucidados mas acredita-se que seja por disrupção endócrina e/ou exacerbaçao da inflamação subclínica. 

A poluição do solo inclui também a poluição da água. Metais tóxicos, poluentes orgânicos persistentes (POPs), disruptores endócrinos. Ou seja, substâncias que de forma direta ou indireta podem ocasionar doenças, exacerbar outras e com isso alterar a parte endócrina. Tema há décadas negligenciado no Brasil e que na Europa ganha cada vez mais força. 
 
A poluição sonora assim como a poluição visual favorecem uma hiperativação do eixo pituitária-adrenal e com isso elevação crônica e persistente dos níveis de cortisol e noradrenalina. O que de forma indireta poderiam influenciar os adipócitos, desbalanço nos níveis de hormônios relacionados ao apetite (Grelina) e saciedade e gasto energético (leptina). 

O estresse crônico pode ter inúmeros fatores causais:
Trânsito
Desigualdade social
Violência
Apreensão quanto ao futuro
Menor contato com a natureza
Menor tempo disponível para lazer
Alta carga de trabalho
Redução do número de horas de sono

Tudo isso interage e favorecem hiperativação do eixo pituitária-adrenal. Ou seja, elevação crônica do cortisol. 

Combina-se a tudo isso, um maior sedentarismo, influenciado pela violência, distância entre pontos dentro das cidades, transporte público precário e/ou ineficaz, comodidade. 

Os fatores acima ainda facilitam o consumo de alimentos ultraprocessados: cereja do bolo!

Ou seja, os fatores que vem favorecendo maior prevalência da obesidade nas capitais são inúmeros. Enquanto autoridades sanitárias não se atentarem a isso, veremos os índices subirem. Com consequente estrangulamento do sistema público/privado de saúde. 

Autores:
Dr. Frederico Lobo - CRM 13192, RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.

Fontes:

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Calorias no rodízio de comida japonesa


Pergunta frequente de consultório e no meu instagram @drfredericolobo "Dr, em um rodízio de comida japonesa, quais sushis e sashimis devo escolher?"

Sente-se à mesa pois rodízio é um capítulo à parte na Nutrologia e quando se trata de rodízio de comida japonesa é um sub-capítulo rs. Então sente-se.

Mas antes de explicar, sugiro que você me siga no instagram: @drfredericolobo para mais informações de qualidade em Nutrologia e Medicina. Lá, posto principalmente nos stories, informação de qualidade e no feed, junto com meus afilhados postamos sobre vários temas.



Primeira dica: Pra que rodízio? Que mentalidade é essa na qual você decide comer uma grande variedade de pratos devido o preço que pagou. Não seria melhor ir a um bom restaurante de comida japonesa e pedir e montar um combinado de 20 ou 30 peças? Apreciá-las calmamente, sentir a textura dos peixes,  do arroz, a acidez, a temperatura, o sabor, a gordura e as notas dos peixes. Contenção de danos, eu tentei, mas o leitor quer ir ao rodízio. Então vamos com as outras dicas.


Segunda dica: Cuidado com o sódio do shoyu. Opte-se sempre pelo shoyu light. Tem bem menos sódio, mas ainda assim tem sódio, ou seja, em excesso pode elevar a pressão arterial em indivíduos predispostos. Além disso pode favorecer maior retenção hídrica (inchaço). A função do shoyu é realçar o sabor do peixe. Não está ali para ser usado indiscriminadamente e sim para ser pincelado no peixe. Muito shoyu deturpa o sabor de peixes mais nobres. Então, moderação. 


Terceira dica: tarê (molho em japonês): ele é doce, tem uma combinação de água, sal, soja, milho, açúcar, corante caramelo e conservador sorbato de potássio, sake, xarope de glicose, amido modificado, acidulante, ácido láctico,  glutamato monossódico (pra realçar o sabor). Ou seja, tem açúcar e também tem sódio. Resumindo: ainda pode elevar a sua glicemia. Cuidado diabéticos. Cuidado também com as calorias. 1 colher de sopa fornece cerca de 290mg de sódio e 24kcal. Não precisa afundar a peça no tarê.

Quarta dica: Atenção às calorias.  


Se for comer sashimi (apenas as fatias cruas): opte por peixes  e frutos do mar mais magros, ou seja, com menor quantidade de gordura:  badejo,  garoupa, robalo, tilápia. 

Peixes com maior teor de gordura e que você deve ficar atento às quantidades: anchova, arenque, atum, cavala, salmão, sardinha, tainha. São ricos em ômega 3 e por isso devem ser incorporados à nossa rotina. 


As pessoas tendem a pensar que pelo sashimi não ter carboidrato, eles não são calóricos. Com isso exageram. Cada peça oferece cerca de 20 a 25kcal, mas e se você ingerir 15 sashimis, aí já terá ingerido cerca de 300kcal. Atenção também à digestão, já que a proteína estando crua, tem uma digestão mais lenta. Se você exagera, pode ficar empachado e passar mal. Gestantes com IgG negativo para toxoplasmose devem evitar alimentos crus como peixes. 


Se for comer sushi, o cuidado deve ser redobrado, pois além dos frutos do mar, o sushi acompanha o shari, que é o arroz com vinagre. Sim, aquele arroz japonês especial, para dar liga e ficar grudadinho depende da presença de açúcar e vinagre. Atenção diabéticos! E cada pecinha terá em torno de 30 a 35kcal no caso de peixe branco, polvo e camarão, e 40-45kcal nas peças com salmão ou atum. Quer comer o sushi? Ok, mas coma também sashimi para alterar a carga glicêmica da refeição e com isso a sua glicemia não elevar tanto.


Quinta dica: cuidado com as preparações quentes. Geralmente são fritas: empanados, hot roll, hot philadelphia, guyoza, rolinho primavera, shimeji na manteiga e abacaxi, tempurá. Lembre-se 1grama de gordura fornece 9kcal. 

Entendeu como é fácil alcançar 1.000kcal em um rodízio ?

Se quer aprender mais sobre culinária japonesa, um grande amigo (Yuri Rocha) tem um destaque em seu instagram @eatnicely só sobre o assunto. Vale a pena. 


Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13192 | RQE 11915
CRM-SC 32949 RQE 22416 
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e profissional da Educação física
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica Nutróloga e especialista na área de atuação de Nutrição enteral e parenteral
Márcio José de Souza - Graduado em Educação física e graduando em Nutrição.

Calorias das cervejas